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ANÁLISE AMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE ANÁLISE DO CICLO DE VIDA

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ANÁLISE AMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO RIO GRANDE DO 
SUL USANDO A METODOLOGIA DE ANÁLISE DO CICLO DE VIDA 
 
* Preferência por apresentação na forma de pôster 
 
Michel Brondani1, Jonas Schmidt Kleinert2, Jacson Douglas Rodrigues Trindade2, 
Ronaldo Hoffmann3 
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PPGEPro) - UFSM 
(mbbrondani@gmail.com, Telefone: (55) 96461144) 
2
Acadêmico do curso de graduação em Engenharia Química - UFSM 
3
Professor do Departamento de Engenharia Química e do PPGEPro - UFSM 
 
Resumo 
 
 Com a introdução do biodiesel na matriz energética nacional, é importante a 
realização de uma análise ambiental e energética de sua produção para identificar 
potenciais danos ambientais e avaliar se o processo é energeticamente viável. A Análise do 
Ciclo de Vida (ACV) e a Análise da Eficiência Energética são metodologias que auxiliam na 
elucidação das análises referidas e foram utilizadas no estudo da produção de biodiesel no 
Rio Grande do Sul (RS) a partir da delimitação da fronteira do sistema do “berço ao portão”. 
Os resultados da ACV demonstraram que herbicidas, diesel e fertilizantes são responsáveis 
por maiores danos ambientais na etapa agrícola, enquanto que na etapa de extração do 
óleo de soja e refino do óleo de soja a utilização de óleo diesel culminou em maiores danos 
na maioria das categorias de impacto. Na transesterificação, além do diesel, o metóxido de 
sódio e metanol causam danos ambientais consideráveis. Comparando o processo como 
um todo, a etapa de maior impacto ambiental foi a agrícola. Também se comprovou a 
renovabilidade do biodiesel e a eficiência energética de seu processo de produção, pois 
resultou em 2,42 unidades de energia útil para cada unidade de energia consumida. 
 
Palavras-chave: Biodiesel, Análise do Ciclo de Vida, Eficiência Energética. 
 
1. Introdução 
 
 É irrefutável que o planeta é diretamente dependente de recursos naturais não 
renováveis, como por exemplo, o petróleo, principal fonte energética utilizada nos dias de 
hoje. Mas, seu caráter finito, a disparidade da distribuição das reservas e o fato de emitir 
gases de efeito estufa em demasia são causas de preocupações governamentais. Aliado a 
isso, a instabilidade de preço do barril de petróleo é motivo de apreensão, visto o que 
ocorreu no ano de 1973 com a chamada “crise do petróleo” em que o preço do barril atingiu 
níveis exorbitantes. 
 Esses fatores fomentaram o estudo, desenvolvimento e aplicação de energia 
renovável à matriz energética de uma gama de países. No Brasil, a partir do ano de 2004, 
com a criação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) buscou-se a 
interação otimizada entre fatores ambientais, econômicos e sociais com a introdução do 
biodiesel1 na matriz energética nacional, de acordo com o MDA (2013). 
 A produção de biodiesel em larga escala já é uma alternativa renovável consolidada 
na matriz energética brasileira. A soja (fonte de triglicerídeo), o metanol (álcool reagente) e o 
metilato de sódio (catalisador) são as principais matérias-primas usadas no processo de 
transesterificação2, em especial no Rio Grande do Sul (RS), segundo Brondani (2012). 
 Ainda que menos poluente, as fontes renováveis de energia não são isentas da 
possibilidade de impactos ambientais. A produção de biodiesel que é apresentada como 
uma “fonte limpa” de energia pode apresentar impactos ambientais relacionados ao seu 
processo agrário, sua produção industrial e seu uso em motores. 
 Portanto, torna-se necessário a análise de seu processo como um todo, pois 
consome energia e matérias-primas que podem estar ligados a poluição ambiental. Uma 
ferramenta propícia para esse tipo de avaliação é a Análise ou Avaliação do Ciclo de Vida 
(ACV) ou do inglês Life Cycle Assessment (LCA). 
 Em um estudo referente ao ciclo de vida de um biocombustível, a delimitação da 
fronteira do sistema abordado é de fundamental importância, sendo realizada a partir de 
duas perspectivas: as fronteiras físicas do sistema produtivo e os níveis de regressão dos 
fluxos energéticos e/ou mássicos considerados. 
 As fronteiras físicas fazem referência às etapas do ciclo de vida do produto, com 
seus processos característicos. De acordo com Capaz (2009), a análise “do berço ao 
túmulo” (Cradle to Grave) abrange todo o ciclo de vida do produto, ou seja, desde a etapa 
de obtenção das matérias-primas usadas no processamento, até a disposição dos resíduos 
gerados pelo uso final. 
 A análise “do berço ao portão” (Cradle to Gate) considera apenas a etapa de 
obtenção da matéria-prima até o processamento do produto desejado, neste caso, a análise 
de biocombustíveis ficaria restrita apenas à etapa agrícola e à etapa industrial. Já, a “análise 
 
1
 A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) por meio da portaria n° 
255/2003, define “biodiesel como sendo um combustível composto de mono-alquilésteres de ácidos 
graxos de cadeia longa, derivado de óleos vegetais ou gorduras animais e designado B100”. 
 
2
 A reação de transesterificação é o método mais utilizado para conversão em biodiesel, segundo 
Knothe et al. (2006) e Gupta et al. (2010), devido as brandas condições de operação. 
portão-portão” (Gate to Gate) é usada quando se pretende estudar processos mais 
específicos, considerando apenas uma etapa no ciclo de vida. 
 Conforme Cepa (2009), particularmente no estudo do ciclo de vida de combustíveis, 
pode ser utilizadas outras denominações, como a análise WTT (Well to Tank) que abrange o 
ciclo de vida do combustível entre a produção da matéria-prima e a disponibilização do 
produto final para o consumidor. Alguns autores usam esta análise até a obtenção do 
produto final, sem considerar a etapa de distribuição, denominada WTG (Well to Gate). 
 A análise TTW (Tank to Wheel) estuda apenas uso do combustível no automóvel, 
enquanto que a análise WTW (Well to Wheel) envolve todas as etapas do ciclo de vida de 
um combustível, desde sua produção até seu uso final, isto é, “do berço ao túmulo”. 
 Em relação aos níveis de regressão dos fluxos, Capaz (2009) diz que referem-se à 
extensão dos fluxos contabilizados dentro das fronteiras físicas do sistema. Os níveis de 
regressão podem ser classificados em: 
Nível 1: são considerados apenas os insumos de energia direta, aplicados ao processo, 
geralmente em termos de eletricidade e vapor. 
Nível 2: em adição ao nível 1, é considerado o aporte energético referente aos insumos 
indiretos. No sistema de produção de biocombustíveis, contabiliza-se neste nível, a energia 
embutida nos fertilizantes e defensivos, consumo de diesel e combustíveis usados nas 
caldeiras que produzem o vapor usado no processo, por exemplo. 
Nível 3: inclui-se a energia usada na produção de equipamentos de processo. 
Nível 4: inclui-se a energia usada na obtenção de matérias-primas para produção de 
equipamentos, insumos, etc. 
 Geralmente, em uma análise energética não se passa do terceiro nível de regressão, 
uma vez que a contribuição dos níveis mais elevados vai se tornando insignificante. 
 
2. Metodologia 
 
 Para a Análise do Ciclo de Vida do biodiesel no RS foram empregadas as 
recomendações dispostas na norma ISO 14040 (que certifica a aplicação da metodologia de 
ACV) em conjunto com a utilização do software SimaPro® para obtenção dos resultados. Em 
paralelo aplicou-se uma análise energética ao processo de produção estudado através da 
relação da razão energética entre a saída e a entrada de energia. 
 Inicialmente realizou-se o conhecimento e a descrição do processo de produção do 
biodiesel, consistindo na etapaagrícola, etapa de transporte, etapa industrial e por fim a 
fase de uso do mesmo, sendo imprescindíveis para conhecimento das entradas e saídas do 
processo como um todo. 
 O levantamento dos dados foi baseado na busca teórica em referências pertinentes 
sobre produção de biodiesel, enquanto que a aquisição de dados práticos foi através de 
questionário aplicado e coleta de dados in loco em vivência industrial por meio de visitas 
técnicas a duas indústrias produtoras de biodiesel do RS (devidamente autorizadas pela 
ANP) e dados coletados em órgãos especializados como a Emater. 
 De forma sucinta e de acordo com Ferrão (1998), Chehebe (1998) e a ISO 14040 
(2006) as etapas de uma ACV consistem: 
 Na definição do Objetivo e do Escopo: a definição do objetivo deve incluir, de 
forma clara, os propósitos pretendidos e conter todos os aspectos considerados relevantes. 
O escopo refere-se à aplicabilidade do estudo, ou seja, de onde os dados virão e onde os 
resultados serão aplicados. Deve-se, também, informar quem está realizando o estudo e a 
quem se destina e se os resultados serão de uso privado ou público. 
 Nesta etapa algumas considerações devem ser tomadas, como: o sistema a ser 
estudado, a definição dos limites do sistema, a definição das unidades de processo, o 
estabelecimento da unidade funcional do sistema e as hipóteses e limitações feitas. 
 Na Análise do Inventário: refere-se à coleta de dados e aos procedimentos de 
cálculo. As etapas da análise do inventário consistem em: preparação para a coleta de 
dados, coleta de dados, refinamento dos limites do sistema, determinação dos 
procedimentos de cálculo e procedimentos de alocação. 
 Na Avaliação de Impacto: deve ser composta, no mínimo, com os seguintes 
elementos: 
Seleção e definição das categorias: onde são identificados os grandes focos de 
preocupação ambiental, seleção do método e das categorias de avaliação de impacto. 
 Classificação: onde os dados do inventário são classificados e agrupados nas 
diversas categorias selecionadas (aquecimento global, acidificação, saúde humana, etc.). 
Caracterização: onde os dados do inventário atribuídos a uma determinada categoria 
são modelados de forma que os resultados possam ser expressos na forma de um indicador 
numérico para aquela categoria. 
 Na Interpretação: objetiva analisar os resultados, tirar conclusões, explicar as 
limitações e fornecer recomendações para um estudo do inventário do ciclo de vida ou uma 
análise completa do ciclo de vida. 
As etapas da ACV estão interligadas entre si e podem ser reavaliadas ao longo do 
estudo de modo a estarem em conformidade entre si. 
Portanto, para a ACV da produção de biodiesel no RS considerou-se que: 
Objetivo do estudo: quantificar e qualificar a produção, em larga escala, aplicando o 
método de ACV para avaliar os potenciais impactos ambientais associados à sua produção 
a partir da soja com uso de metanol como álcool reagente e de metilato de sódio como 
catalisador. O estudo visa, em paralelo, abordar a avaliação energética a partir da razão da 
energia final (presente no biocombustível) e o gasto energético (entrada de energia) para 
sua produção. 
Os resultados de tal esforço visam a obter maneiras pelas quais se possa 
aperfeiçoar o processo em um todo e volta-se, de maneira primordial e inicial, ao público 
acadêmico (estudantes, professores, pesquisadores, etc). 
Escopo do estudo: a unidade funcional é a produção de 1 tonelada de biodiesel, de 
modo que as estimações de matérias-primas e energia são referentes a tal produção. As 
fronteiras do sistema incluem a etapa agrícola e industrial, ou seja, é um estudo de análise 
“do berço ao portão” (Cradle to Gate) ou WTG (Well to Gate), mostrado na Figura 1. 
 
 
Figura 1 - Fronteiras do sistema. 
Fonte: Elaborado pelo autor. 
 
Algumas considerações foram adotadas para realização da ACV como a 
simplificação das entradas e saídas de cada etapa optando pela utilização das utilidades e 
matérias-primas de maior quantidade e importância, excluindo-se os processos de infra-
estrutura (uso e produção de equipamentos, cimento, etc). Esta suposição foi feita após o 
refino das informações e algumas simulações no software SimaPro®. Foram abordadas de 
forma simplificada as emissões da fase agrícola e industrial considerando-se somente a 
emissão de gases potencialmente agressivos ao meio ambiente, como os causadores do 
efeito estufa, chuva ácida e de doenças humanas. 
Informações e dados europeus contidos no banco de dados do software foram 
utilizados e a função do biodiesel adotada é para a geração de energia. 
Já, na análise da eficiência energética, não há uniformização na designação e 
definição de conceitos de eficiência. Em termos gerais, a eficiência energética é usada para 
identificar se houve ganho ou perda energética e é tradicionalmente exposta como: 
 
 
Eout
Ein
 (1) 
 
Onde: 𝐸𝑜𝑢𝑡 = representa a energia final contida no produto (no caso, o biodiesel), 
onde se podem considerar também os co-produtos do processo. 
𝐸𝑖𝑛 = representa a energia de entrada (no caso, as entradas de energia no sistema 
de produção). 
A Eficiência da Renovabilidade Energética (Energy Renewability Efficiency, ERE) 
permite caracterizar a renovabilidade de um recurso energético em termos de eficiência. A 
ERE mede a fração de energia final que foi obtida exclusivamente com base em recursos 
renováveis, sendo definida como: 
 
 ERE = 
(Efinal −Efóssil )
Efinal
 (2) 
 
Um biocombustível pode ser considerado renovável se 0 < ERE < 100 %. No caso 
limite de não haver utilização e/ou consumo de energia não renovável, o biocombustível 
seria completamente renovável (ERE = 100%). 
 
3. Resultados e Discussões 
 
 Para a produção de 1 tonelada de biodiesel, estimou-se: 
 Produtividade de grãos de soja: 3,2 ton/ha = 3.200 Kg/ha. 
 Porcentagem de óleo contido no grão da soja: 18% (PAULILLO, 2007) 
 Produtividade teórica de óleo de soja = 576 kg/ha. 
Considerou-se que 1.000 litros óleo de soja produzam 1.000 litros de biodiesel, 
sendo que em massa, 1 tonelada de biodiesel é produzida por 1.018 kg de óleo de soja 
(CAPAZ, 2009), com rendimento maior que 98%. No entanto, Penedo et al. (2008) 
estimaram que 1 tonelada de biodiesel é gerada a partir de 995,73 kg de óleo de soja. 
Adotando-se a média entre tais valores, tem-se uma quantidade de 1.006,87 kg de 
óleo de soja (ou 1.095,61 litros). Sabe-se que: 
 𝜌𝑏𝑖𝑜𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 = 880 𝐾𝑔/𝑚
3 
 𝜌ó𝑙𝑒𝑜 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑗𝑎 = 919 𝐾𝑔/𝑚
3 
A produtividade teórica de óleo é de 576 kg/ha ou 626,77 L/ha, portanto, para a 
produção de 1.006,87 kg de óleo de soja é necessário uma área referente a 1,75 ha. Com a 
produtividade estimada em 3,2 ton/ha, 1,75 ha produzem 5.600 kg de soja. 
As Tabelas 1, 2, 3, 4 e 5 expõem qualitativamente e quantitativamente os resultados. 
 
Tabela 1 - Etapa agrícola: quantificação das entradas e saídas. 
Produção: 5.600 kg de soja 
Área necessária: 1,75 ha 
Entradas Quantidade Quantidade (J) 
Adubo (fertilizante N,P e K) 525 kg 48,50E +08 
Fungicidas (Opera, Standak e Talstar) 3,80 kg 3,69E +08 
Herbicida Glifosato 5,25 L 2,70E +09 
Inseticidas (Dimilin e Permitrina) 0,75 kg 2,29E +08 
Calcário Dolomítico 2.625 kg 1,60E +09 
Água 2.625 L 1,30E +07 
Óleo combustível (Diesel) 87,50 L 3,27E +09 
Sementes 87,50 kg 2,93E +09 
Operações manuais 12,54 h 2,85E +07 
Energia solar 24.840 kWh 8,94E +10 
Equipamentos(aço e ferro) 437,50 kg 3,50E + 10 
Componentes do ar: combustão e fotossíntese (ar, O2, CO2, 
N2) 
1,16E +04 kg - 
Energia elétrica 59,50 kWh 2,14E +08 
Saídas Quantidade Quantidade (J) 
Grãos de soja 5.600 kg 1,11E +11 
Perda de solo 2.975 kg 8,06E +09 
Efluentes líquidos para o solo 1.627,50 L 8,03E +06 
Resíduos sólidos 1.620,00 kg - 
Emissões (CO, CO2, N2, NOx, VOC) 1.016,24 kg - 
 * Fator de conversão para base energética baseado em CAVALETT (2008). 
 
Tabela 2 - Etapa de transporte dos grãos: quantificação das entradas e saídas. 
Transporte: 5.600 kg de soja 
Caminhão de capacidade 10 ton - Distância média 139,82 km 
Entradas Quantidade Quantidade (J) 
Óleo diesel 55,93 L 2,09E +09 
Mão-de-obra 1,70 h 3,95E +06 
Componentes do ar para combustão (ar, O2, N2) 210,40 kg - 
Saídas Quantidade Quantidade (J) 
Emissões (CO, CO2, NO2, NOx, VOC) 248,851 kg - 
 * Fator de conversão para base energética baseado em CAVALETT (2008). 
Tabela 3 - Etapa de extração do óleo: quantificação das entradas e saídas. 
Entradas Quantidade Quantidade (J) 
Grãos de soja 5.600 kg 1,11E +11 
Energia elétrica 167,44 kWh 6,02E +08 
Hexano 7,62 kg 3,41E +08 
Mão-de-obra 1,125 h 2,56E +06 
Cimento para construção 1,44E +06 kg 5,40E +12 
Equipamentos (aço, ferro e metal) 51.000 kg 4,08E +12 
Componentes do ar para combustão (ar, O2, N2) 1.295,8 kg - 
Lenha 0,70 m
3
 4,50E +09 
Água 4,03 m
3
 2,00E +07 
Óleo combustível (Diesel) 119,33 L 4,45E +09 
Saídas Quantidade Quantidade (J) 
Óleo de soja bruto 1.006,87 kg 3,90E +10 
Farelo de soja 4.424,00 kg 6,60E +10 
Efluentes líquidos (carga orgânica, óleo, água) 4,03 m³ 2,00E +07 
Emissões (CO, NO2, NOx, VOC, SO2, CH4) 0,198 kg - 
 * Fator de conversão para base energética baseado em CAVALETT (2008). 
 
Tabela 4 - Etapa de refino do óleo: quantificação das entradas e saídas. 
Entradas Quantidade Quantidade (J) 
Óleo de soja bruto 1.006,87 kg 3,90E +10 
Energia elétrica 12,67 kWh 4,50E +07 
Óleo diesel 4,32 L 1,60E +08 
Lenha 0,70 m
3
 4,50E +09 
Mão-de-obra 1,28 h 2,90E +06 
Água 0,82 m
3
 4,05E +06 
Ácido fosfórico (H3PO4) 0,50 kg - 
Hidróxido de sódio (NaOH) 4,51 kg - 
Terra clarificante 3,52 kg - 
Cimento para construção 9,6E +05 kg 3,60E +12 
Equipamentos (aço, ferro e metal) 34.000 kg 2,70E +12 
Componentes do ar para combustão (ar, O2, N2) 46,64 kg - 
Saídas Quantidade Quantidade (J) 
Óleo de soja degomado 1.006,87 kg 3,98E +10 
Efluente líquidos 0,82 m
3 
4,05E +06 
Emissões (CO, NO2, NOx, VOC, SO2, CH4, CO2, N2) 50,24 kg - 
 * Fator de conversão para base energética baseado em CAVALETT (2008). 
Tabela 5 - Etapa de transesterificação do óleo: quantificação das entradas e saídas. 
Entradas Quantidade Quantidade (J) 
Óleo de soja degomado 1.006,87 kg 3,98E +10 
Óleo combustível (Diesel) 64,37 L 2,40E+09 
Metanol 188,28 L 3,01E +09 
Metilato de sódio 16,70 kg 6,52E +08 
Eletricidade 0,89 kWh 3,20E +06 
Água 514,51 m
3
 2,50E +09 
Mão-de-obra 0,68 h 1,55E +06 
HCl 8 kg - 
NaOH 4,21 kg - 
Lenha 0,70 m
3
 4,50E +09 
Cimento para construção 2,00E +05 kg 7,50E +11 
Equipamentos (aço, ferro e metal) 4470 kg 3,57E +11 
Componentes do ar para combustão (ar, O2, N2) 669,73 kg - 
Saídas Quantidade Quantidade (J) 
Biodiesel 1.000 kg 3,20E +10 
Glicerina 113,64 kg 1,38E +09 
Efluente líquidos 514,5 m
3 
2,50E +09 
Emissões (CO, NO2, NOx, VOC, SO2, CH4, CO2, N2) 753,93 kg - 
 * Fator de conversão para base energética baseado em CAVALETT (2008). 
 
 Os resultados do Simapro® apresentam-se somente sob a forma de caracterização e 
o método de avaliação de impacto escolhido foi o Eco-indicador 99. 
 O resultado da etapa agrícola é apresentado na Figura 2. Os herbicidas contribuem 
visivelmente nas categorias de impacto do tipo carcinogênicos, radiação, camada de ozônio 
e minerais. Isso se deve as características cancerígenas de alguns herbicidas, seu potencial 
reativo e devido a seu processo de fabricação. 
 O diesel usado tem grande representatividade, principalmente, na categoria do tipo 
camada de ozônio e respiração orgânica devido ao seu grande uso no preparo e cultivo do 
solo e na colheita da soja, gerando emissões durante sua queima nos motores. Já, os 
fertilizantes ricos em nitrogênio contribuem fortemente no que diz respeito mudança 
climática, acidificação/eutrofização e combustíveis fósseis, pois seu potencial reativo na 
atmosfera, solo e água é elevado podendo causar a contaminação principalmente da água 
causando a mortandade de peixes pelo excesso de crescimento de algas e redução de 
oxigênio (eutrofização) e contribuir para o aumento do efeito estufa. Para sua produção o 
uso de combustíveis fósseis é elevado. 
 Podem-se reduzir tais consumos dessas matérias-primas a partir do aprimoramento 
de técnicas de plantio e do desenvolvimento tecnológico de insumos menos agressivos ao 
meio ambiente. 
 
Figura 2 - Etapa agrícola: Caracterização. 
 
 No que diz respeito à etapa de transporte dos grãos, como as entradas principais são 
mão-de-obra e diesel, as categorias de impacto foram afetadas apenas pelo consumo de 
diesel e sua queima no motor do caminhão. Não será apresentado resultado obtido no 
software por ser considerado desnecessário e um tanto óbvio. 
 A Figura 3 mostra o resultado para a etapa de extração do óleo de soja, sendo que o 
diesel usado representa a maior parcela em todas as categorias de impacto ambiental, pelo 
fato do processo ser amplamente mecanizado e dependente de tal combustível. 
 Focando no hexano, este atua de forma expressiva na categoria de carcinogênicos, 
respiração orgânica, mudança climática e combustíveis fósseis, fato que pode ser explicado 
por seu processo de exploração e por ter efeitos nocivos à saúde humana. 
 Seu uso poderia ser reduzido se utilizado um solvente menos agressivo, no entanto, 
fatores econômicos se sobressaem em detrimento de fatores ambientais. A mistura de outro 
solvente, menos agressivo, ao hexano poderia ser uma alternativa de redução de seu uso, 
mas carece de testes referentes à eficiência de extração do óleo contido no grão da soja. 
 Na Figura 4 e na Figura 5, estão apresentados os resultados da etapa de refino do 
óleo bruto de soja e da etapa de transesterificação do óleo de soja degomado, 
respectivamente. 
 
Figura 3 - Extração do óleo de soja bruto: caracterização. 
 
 O consumo de diesel influencia em maior parte da contribuição nas categorias do 
tipo respiração orgânica, radiação, camada de ozônio, ecotoxicidade, minerais e 
combustíveis fósseis na etapa de refino do óleo, fato análogo à etapa de extração do óleo 
bruto, pela dependência de tal combustível. Ainda na etapa de refino, o uso de ácido 
fosfórico contribui na maior parte para o impacto do tipo carcinogênicos e uso da terra, 
enquanto que o hidróxido de sódio evidencia-se mais fortemente na categoria de respiração 
inorgânica e acidificação/eutrofização. 
 Na etapa final (transesterificação do óleo de soja refinado), pode-se perceber que o 
diesel influencia em menos etapas (respiração orgânica, camada de ozônio e combustíveis 
fósseis). Ainda, o catalisador usado no processo (metóxido de sódio) possui parcela 
significativa nas categorias do tipo carcinogênicos, respiração inorgânica e radiação e o 
metanol (reagente usado em excesso) tem parcela expressiva em carcinogênicos, radiação, 
ecotoxicidade e acidificação/eutrofização. Na categoria uso da terra e minerais atua de 
forma muito mais influente, podendo haver relação com sua exploração. 
 O uso de etanol ao invés de metanol poderia reduzir os impactos, mas em relação ao 
custo se torna mais caro, por ser renovável etambém por requerer maior quantidade que o 
metanol. Dessa forma, uma análise criteriosa é necessária para optar pelo uso do etanol em 
relação ao metanol. 
 
Figura 4 - Refino do óleo de soja: Caracterização. 
 
 Por meio de simulações preliminares evidenciou-se que o uso de maquinários 
agrícolas representou a maior contribuição em todas as categorias de impacto na avaliação 
da etapa agrícola e a geração de efluentes representou a maior contribuição em todas as 
categorias de impacto na avaliação das etapas industriais, no entanto, para facilitar a 
comparação com as demais etapas do processo de produção de biodiesel optou-se por 
retirar da análise essas contribuições. 
 
 
Figura 5 - Transesterificação do óleo de soja degomado: Caracterização. 
 A fim de descobrir qual das etapas contribui de forma mais impactante para o meio 
ambiente, foi realizada a comparação entre as etapas de produção do biodiesel. 
 Entre as 11 categorias de impacto contidas no método Eco-Indicador 99, a etapa 
agrícola (produção de grãos de soja) é responsável por maiores danos em 7 categorias de 
impacto, seguida da etapa de transporte dos grãos e transesterificação do óleo refinado de 
soja (conversão a biodiesel) com maiores danos em 2 categorias de impacto cada uma. 
 A etapa de refino do óleo de soja (óleo de soja degomado), no geral, foi a que menos 
impactou no meio ambiente, sendo inferior as demais em todas as categorias de impacto. 
No que se refere a análise da eficiência energética, fez-se algumas considerações e 
simplificações nos dados das Tabelas 1, 2, 3, 4 e 5 como a conversão para potencial 
energético (em Joule) para padronizar as unidades e a quantificação energética dos 
resíduos, efluentes e emissões foram desconsideradas, pois não implicam diretamente no 
cálculo da renovabilidade e da eficiência energética do processo, sendo consideradas 
perdas resultante da não conversão em energia útil (são perdas entrópicas do sistema). 
Para o ácido fosfórico, hidróxido de sódio e terra clarificante, não foi encontrado o 
fator de conversão energético e, portanto, não fizeram parte do cálculo. Crê-se que não 
influenciariam significativamente nos resultados tendo em vista a comparação com o valor 
energético de outras matérias-primas semelhantes. 
O fator de renovabilidade encontrado foi de 70,77 %, provando que o processo de 
produção de biodiesel no RS é renovável, pois se situa entre 0 < ERE < 100. 
A relação energética de 3,42, obtida para este estudo, significa que para cada 
unidade energética fóssil consumida é gerada 2,42 unidades de energia útil, resultando em 
maior produção energética do que em consumo energético. O resultado mostra-se 
compatível com os resultados denotados na Tabela 6, onde tais estudos se basearam na 
produção de biodiesel a partir da soja e usando metanol como reagente. 
 
Tabela 6 - Relação energética da produção de biodiesel de soja em rota metílica. 
Autor Relação 𝐄𝐨𝐮𝐭/𝐄𝐢𝐧 
CAPAZ (2009) 4,30 
SOARES et al. (2008) 3,21 
EPE (2005) 2,50 
SHEEHAN (1998) apud NETO et al. (2004) 3,20-3,40 
Presente estudo (2013) 3,42 
 
4. Conclusão 
 
Concluiu-se que na etapa agrícola o uso de herbicidas, diesel e fertilizante são os 
responsáveis por maiores danos ao meio ambiente, enquanto que na fase de transporte dos 
grãos ficou claro e evidente que o uso de diesel para abastecimento dos caminhões foi o 
fator que culminou em maiores danos em todas as etapas contidas no método Eco-Indicador 
99. 
Na etapa industrial, tanto na fase de extração quanto de refino do óleo a utilização de 
óleo diesel culminou em maiores danos na maioria das categorias de impacto. Destaca-se 
para a etapa de refino o uso de ácido fosfórico que possuiu maior porcentagem na categoria 
de carcinogênicos e uso da terra, enquanto que na transesterificação, salientam-se além do 
diesel, o metóxido de sódio e o metanol como matérias-primas causadoras de maiores 
danos ambientais. 
Comparando o processo como um todo, a etapa mais potencialmente danificadora 
ao meio ambiente foi a etapa agrícola, logo, em início, é indicado uma abordagem mais 
ousada na análise dessa etapa a fim de promover uma redução de seu potencial poluidor. 
 Avaliando apenas as etapas industriais, a transesterificação do óleo refinado possui 
maior potencial poluidor. 
Avaliando a questão da eficiência energética da produção de biodiesel no RS, 
encontrou-se renovabilidade no biodiesel e também eficiência energética na sua produção, 
já que são geradas 2,42 unidades de energia útil. 
Por fim, a aplicação da ACV é importante no intuito de identificar as etapas e fluxos 
potencialmente poluidores de um processo e colaborar na tomada de decisões visando 
minimização de impactos ambientais. Também, a ACV pode ajudar na valoração do produto. 
 
Referências 
 
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