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RELAÇÕES HUMANAS E ÉTICA

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 2 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO do CURSO 
UNIDADE I 
Breve Histórico da Ética 
O que é ética? 
Ética e conhecimento 
A ética moralista 
O princípio fundamental da ética 
Condições necessárias para uma escala de valores. 
UNIDADE II 
Fundamentos da Ética e Ética profissional 
UNIDADE III 
Código de Ética na Administração Pública 
• Das regras deontológicas 
• Dos principais deveres do servidor público 
• Das vedações ao servidor público 
• Das comissões de ética 
• 
UNIDADE IV. 
Moral além da Ética 
Ética na educação e educação da ética 
Ética do educador 
Educação para a ética 
A ética no campo da saúde 
Economia a serviço da ética 
Benefícios e prejuízos da ciência e da tecnologia 
A transdisciplinaridade 
A nova ética nas empresas e organizações 
 
 
 3 
Política, transpartidarismo e valores éticos. 
A transreligiosidade e seus valores 
Conflitos de valores no exercício do direito e da justiça 
A ética do quarto poder 
O meio ambiente como força propulsora dos valores éticos 
UNIDADE V 
As Relação Humanas 
A Comunicação 
O que é Relação Humana? 
Comunicação e Fala 
Unidade VI 
Individualista, Eu? 
 
- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
 
APRESENTAÇÃO 
 
ala-se muito em ética: na política, na economia, na educação, 
na administração, na medicina, na justiça etc. Mas quais são os seus 
fundamentos? 
 Os fundamentos da ética estão nos aspectos essenciais da 
natureza do ser humano, conhecidos e vivenciados pela consciência, 
a fim de se construir a dignidade de cada pessoa na comunidade e 
pela comunidade. 
 O aumento da consciência em relação à relevância da conduta 
ética, não significa que ela seja praticada, pois conflitos e dilemas 
éticos não faltam em nosso dia-a-dia. 
 Este Curso tem por objetivo colocar o leitor em contato com os 
fundamentos da ética, trazendo para o seu conhecimento as várias 
faces deste tema que envolve reflexão e debate. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I 
 
BREVE HISTÓRIA DA ÉTICA 
F 
 
 
 5 
 
As questões levantadas pelos filósofos gregos sobre o bem agir 
foram respondidas de formas diferentes no decorrer da história. 
Sócrates e seu discípulo Platão, considerados os primeiros a 
problematizarem a moral e assim, os iniciadores da Ética enquanto 
uma disciplina filosófica, faziam a seguinte pergunta: Como devemos 
viver para ter a vida boa, a felicidade? Uma resposta possível é a 
seguinte: O acesso à vida boa exige um viver virtuoso, ou seja, exige 
ações que realizem as virtudes. 
Para Sócrates É sujeito ético moral somente aquele que sabe o 
que faz, conhece as causas e os fins de sua ação, o significado de 
suas intenções e de suas atitudes e a essência dos valores 
morais....apenas o ignorante é vicioso ou incapaz de virtude, pois 
quem sabe o que é bem não poderá deixar de agir virtuosamente.” 
(Chauí, M. 2001. Convite à filosofia). 
Sócrates então traz para a discussão ética a noção de 
consciência moral o que implica na nossa capacidade de deliberar e 
escolher entre ações possíveis. Essa noção de consciência moral é 
importante porque manifesta a liberdade do agente humano: só é ética 
a ação consciente e livremente deliberada. Agir virtuosamente coagido 
por pressões externas não faz do agente um ser ético: a liberdade é 
condição necessária para a ação ética e, em decorrência, o agente 
deve responder por suas ações, ou seja, ser responsável por suas 
escolhas. 
A consciência moral, isto é, a faculdade de analisar a nossa 
própria conduta e emitir juízo de valor tem como suporte a nossa 
capacidade de diferenciar bem e mal: é assim que quando ‘agimos 
 
 
 6 
mal’ sentimos remorso e arrependimento e quando ‘agimos bem’ 
sentimos satisfação íntima. 
À consciência moral como dimensão do campo ético, Aristóteles 
acrescenta a vontade racional, ou seja, a consciência moral ao 
deliberar sobre a melhor ação para um agir virtuoso que deve ser 
orientado pela razão que conhece os meios necessários para realizar 
a virtude. 
De acordo com Aristóteles é no equilíbrio dos sentimentos e da 
conduta que se realiza a virtude. No quadro abaixo estão expostas as 
virtudes, suas deficiências e excessos, conforme ele propõe: 
 
Há elos que ligam os conceitos de Ética defendidos por Sócrates 
– a noção que basta saber o que é o Bem para praticá-lo e por 
Aristóteles – para quem o Bem equivale à moderação das paixões. Os 
dois estabelecem como fonte da Ética a noção de que a Felicidade – 
 
 
 7 
entendida no sentido mais amplo da eudaimonia – era o fim a ser 
alcançado pelos virtuosos. 
De acordo com Chauí (2001) a ética grega tem três aspectos 
principais: 
• O racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a 
razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade para ele; 
• O naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a 
natureza (o cosmos) e com nossa natureza (nosso ethos), que é parte 
do todo natural; 
A inseparabilidade entre ética e política: isto é, entre a conduta 
do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente na existência 
compartilhada com outros, encontramos liberdade, justiça e felicidade. 
 
O que é Ética? 
 
A palavra “ética” deriva do grego etos, que significa costume. 
Ética, em sentido etimológico, tem significado idêntico ao radical 
latino “mos”, do qual deriva a palavra moral. Ambos os vocábulos 
significam costume ou hábito. Tanto a moral como a ética, se referem 
à “teoria dos costumes”, às regras de conduta. A moral estabelece 
normas de conduta, normas éticas, destinadas a regular os atos 
humanos tendentes à consecução dos fins que ao homem são 
próprios. Ética é a ciência do que o homem deve ser em função 
daquilo que ele é. 
 A ética estabelece um dever, uma obrigação, um compromisso, 
onde o seu fundamento é o próprio homem, pois é da sua natureza 
que surge a fonte de seu comportamento. Isto acontece com todas as 
 
 
 8 
coisas: o agir depende do ser; cada coisa se comporta de acordo com 
os elementos que a compõem, formando sua unidade. 
 O que esperamos de um giz? Que ele escreva, pois é de sua 
natureza escrever. O que esperamos do sol? Que ele brilhe, pois isto 
é da sua natureza. Assim podemos dizer de tudo o que existe: em 
cada ser há um conjunto de energias para produzir determinadas 
ações. Acarretando como consequência certos deveres: o dever do giz 
é ser e agir como giz; o dever do sol é ser e agir como sol; ao 
contrário, o único mal do giz é não ser e não agir como giz e o único 
mal do sol é não ser e não agir como sol. 
 Igualmente vale para o ser humano: a única obrigação do 
homem é ser e agir como homem; como, ao contrário, o único mal do 
homem é não ser e não agir como homem. 
Voltando então à definição de ética, podemos dizer que esta, brota de 
dentro do ser humano, daqueles elementos que o caracterizam na sua 
essência como humano, diferenciando-o dos outros seres; ela exige 
antes a determinação de sua realidade ontológica para, a partir daí, 
estabelecer a forma de comportamento. 
 Qualquer situação específica da pessoa deve embasar-se na 
realização do fundamental; assim, o administrador, antes de ser 
administrador, ele é uma pessoa humana e só vai realizar-se como 
administradorna medida em que realizar-se como pessoa e o mesmo 
poderíamos afirmar de outras possibilidades: ser pai, professor, 
advogado, médico, atendente, exige antes de tudo, ser pessoa, ser 
gente, ser “homem”. 
 Deste modo, a construção da ética parte das exigências ou 
necessidades fundamentais da natureza humana; estas não são 
 
 
 9 
aleatórias, mas existem no ser humano, limitando-o e identificando-o 
para que ele possa descobrir-se a satisfazer o que lhe é solicitado 
para sua realização. 
 Portanto é uma questão ética o desenvolvimento das 
potencialidades humanas. Antes de o homem perguntar: O que devo 
fazer? Como devo me comportar? Deve perguntar: O que sou? Quais 
são minhas energias humanas que não podem ficar represadas, mas 
devem ser impulsionadas? Como descobrir isto? Da mesma maneira 
como descobre qualquer outra coisa: usando de sua racionalidade, 
através da qual descobre a essência dos metais, da eletricidade etc. e, 
a partir disto, estabelece para que servem. Assim, usando sua 
racionalidade, deve descobrir sua essência, seus valores e princípios 
universais, suas faculdades ou capacidades, determinando também 
como vivê-las. 
 Essas constatações mostram que o objetivo da ética é apontar 
rumos, descortinar horizontes para a realização do próprio ser 
humano; ela é a construção constante de um “sim” a favor do 
enriquecimento do ser pessoal; por isso a ética deve ser pensada 
como eminentemente positiva e não proibitiva. 
 Desta maneira, a ética não se torna uma imposição ou obrigação 
aleatória e até extrínseca ao ser humano: seus fundamentos e 
objetivos têm que ser assimilados ou conscientizados pelo indivíduo 
humano concreto. Por isso, a ética antecede códigos, normas ou leis e 
analisa a mesma validade destas para o ser humano. Podemos 
afirmar que a ética é a ciência que tem por objetivo a finalidade da 
vida humana e os meios para que isto seja alcançado. Em outras 
 
 
 10 
palavras, Ética é o caminho para a busca do aperfeiçoamento 
humano. 
 O que está em jogo na ética é o ser humano, é a pessoa em 
todas as suas dimensões; perfazendo, porém, uma unidade no seu ser 
e no seu dever. 
 
Ética e Conhecimento 
Cada um de nós orienta seu comportamento por normas que 
considera apropriadas ou dignas de serem cumpridas. Normas 
aceitas e reconhecidas com as quais os indivíduos compreendem 
como devem agir. Assim, sua ação é o resultado de uma decisão 
refletida. 
 Todos os nossos atos e julgamentos, toda nossa prática 
pressupõe normas que apontam o que se deve fazer. Isso muda de 
um tempo para o outro, de uma sociedade para outra... Quando 
refletimos sobre essa variação, sobre o comportamento prático com 
seus juízos, entramos na esfera ética: se estamos preocupados com o 
que vamos fazer em dada situação, estamos diante de um problema 
moral. 
 Se nos propusermos a investigar essa moral, então o que temos é 
uma questão ética. 
 Definir uma intervenção, um campo de ação, o bem que se 
busca com um gesto, os conteúdos desse bem, é um problema de 
investigação ética. Definir os traços essenciais do comportamento 
moral de um determinado grupo (sua natureza, seus fundamentos, sua 
obrigatoriedade, sua extensão, sua legitimidade, a revelação dos 
interesses e das necessidades sociais...) não é um fazer especulativo, 
 
 
 11 
absoluto, universal; mas uma ação esclarecedora, explicativa, de uma 
realidade histórica. 
Portanto, um código de ética não se restringe ao normativo, não 
prescreve, nem recomenda um modo de agir: um fazer não é um 
conjunto de regras nem uma sequência de acasos, ele tem uma carga 
simbólica, um raciocínio moral, uma visão do mundo, alternativas, 
causas, efeitos, uma regularidade... 
 Não dá para reduzir um código de ética a um conjunto de 
normas, nem a expectativas ou ao problema da responsabilidade dos 
atos: cada um deve escolher entre duas ou mais alternativas e agir 
segundo a decisão tomada porque há liberdade de escolha. 
 O que interessa à ética é a investigação entre liberdade e 
responsabilidade. 
 Os conceitos com que a ética trabalha (liberdade, 
responsabilidade, valor, consciência, sociabilidade, as motivações 
internas, as obrigações, os direitos, as relações de trabalho, as 
coerções do modo de produção...) pressupõem uma busca de 
esclarecimento em lógica, linguística, antropologia social, economia 
política, psicologia, epistemologia, direito... 
 Embora um código de ética não tenha o mesmo sentido para 
todos, ele se torna necessário para articular interesses coletivos e 
pessoais. Ao nos darmos conta da existência dos diversos modos de 
ser, do sentido político de nossas ações, o código de ética representa 
um esforço de elevação da consciência e de inserção do indivíduo 
numa rede de relações mais ampla. 
 O cotidiano se caracteriza pela sua novidade, sua singularidade, 
uma certa imprevisibilidade. O código é um amparo de que dispomos 
 
 
 12 
nestes momentos. Confronta-se a reflexão dos atos morais às 
exigências práticas da situação singular. Surge o conflito que não terá 
decisão segura, mas orientada pelo código. 
 O código de ética não deve criar dependência de juízos, nem 
garantia de acerto ou “salvação”. Ele aponta o interesse comum, 
regulamenta a relação de pessoas, se apoia na autoridade de uma 
comunidade, formaliza a convivência sem exigir convicção e adesão 
íntima dos sujeitos, deve ser acatado voluntariamente, questionado, 
revisto e ampliado. 
 
A Ética moralista 
 
 A primeira forma de Ética se confunde com a Moral; é moralista 
e moralizante. Ela foi e está sendo rejeitada por grande parte da 
população mundial, sobretudo depois da descoberta por Freud do seu 
caráter neurotizante quando usada de modo repressivo, criando o 
recalque das pulsões pela entidade moralista por excelência: o 
superego. 
 Esta polícia interior, o superego rígido e repressivo, leva a 
condutas aberrantes e contraditórias, em geral inconscientes: 
 
• Em nome da paz, preparam a guerra. 
• Em nome da paz, cultivam a raiva e agridem os que estão 
com raiva. 
• Em nome da tolerância, ficam intolerantes em relação aos 
intolerantes, criticam as más-línguas e acabam sendo iguais a 
elas. 
 
 
 13 
• Em nome da igualdade, combatem os orgulhosos, julgando-se 
com isso superiores a eles, o que é em si sinal de orgulho. 
• Em nome do amor, criticam os que se mostram frios e 
insensíveis, e com isso mostram falta de sensibilidade e de 
compreensão, isto é, falta de amor. 
 
Por trás desses comportamentos está uma insuficiência de formação 
ética. A ética se manifesta sob forma moralista por vários fatores: 
 
ü A projeção, que consiste em descarregar nos outros as nossas 
próprias negatividades, a nossa sombra, como diria Jung. 
ü Esta projeção vem da imitação e introjeção da rigidez de pais e 
educadores que se mostraram maniqueístas, classificando as 
condutas humanas em duas categorias: o bem e o mal. E o mal 
é projetado sobre os outros, pois ninguém quer ficar com 
sentimento de imperfeição e culpa. 
ü As inúmeras punições de educadores e a sua permanente 
atitude de culpabilidade deixaram nas pessoas um sentimento 
de culpa do qual se livram procurando um bode expiatório. 
 
Amar os outros como a si mesmo implica conhecer, tolerar e 
transformar as suas próprias emoções destrutivas em vez de criticar 
os outros. Só assim podem nascer a verdadeira tolerância e 
compaixão. Mas para isto é preciso, em primeiro lugar, reexaminar e 
neutralizar as pressões excessivas da educação repressiva que se 
manifesta no superego reprimido e em seguida uma descoberta14 
importante: a de que este tipo de moral que compõe um superego 
reprimido era adquirido e não natural como se pensava. 
 Isto colocou em relevo o seu caráter artificialmente forjado pelo 
homem em função sobretudo das exigências sociais de ordem, 
disciplina e organização ou da obediência a uma Lei. Esta Ética 
moralizante é o fruto da imitação e introjeção dos valores de pais e 
educadores e de instruções religiosas de caráter intelectual. Ela ocupa 
a esfera das opiniões, às vezes das atitudes mais profundas, mas se 
revela muito frágil no nível do comportamento efetivo. 
 A ética moralista se baseia, na obrigação moral, na obediência à 
Lei, o que a coloca em relação estreita com o Direito. O Direito existe, 
em função da fragilidade dessa ética moralista. 
 Quando a moral é fraca, entram o conceito de delito e a 
consequente sanção legal. A ética moralista se fundamenta também 
na razão, no intelecto e na lógica do bem-estar social. 
O moralismo tem uma tendência absolutista e intolerante, pois se 
baseia em dogmas. Ele é maniqueísta: classifica todos os 
comportamentos como certos ou errados. Sua rigidez pode levar à 
negação de seus próprios valores através da violência ou mesmo do 
crime; o conceito de “guerra justa” se enquadra perfeitamente como 
uma das causas de conflitos sangrentos entre povos. 
O moralismo é também estático e rígido. Ele não evolui e não se 
adapta às situações peculiares. É um sistema fechado que deixa 
pouca margem a novas considerações. Sua aplicação é mecânica e 
automática, automatismo este que vem do condicionamento que leva 
ao cumprimento cego do dever e da obrigação. 
 
 
 
 15 
O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA ÉTICA 
 
 “É necessário fazer o bem e evitar o mal”. Pode ocorrer uma 
discrepância na compreensão concreta do que é bem, mas toda 
pessoa sabe que deve procurar o bem. 
 Mas o que é o bem? O bem é tudo aquilo que está de acordo 
com a natureza em geral e especialmente com a humana, perfazendo 
uma integridade ou harmonia no todo. 
Assim, pensar em progredir na profissão pode ser um bem 
enquanto favorece o encadeamento das próprias energias para 
melhorar de vida; namorar pode ser um bem enquanto favorece o 
equilíbrio afetivo da pessoa. “Na medida em que uma coisa está de 
acordo com a natureza é necessariamente boa” (Spinoza, 1996). 
 Além disto, o bem é baseado numa relação especial e 
constituída por esta entre duas ou mais realidades. Portanto, trabalhar 
pode ser um bem enquanto a pessoa se vê relacionada à produção de 
um valor e ao mesmo tempo melhora as relações com seus familiares, 
garantindo seu sustento; dar uma esmola pode ser um bem na medida 
em que mostra a relação de amor ao próximo. 
 E o mal, o que é? É uma negação, é falta de um bem, uma 
desarmonia causada num todo pela ausência de algo. Assim, matar 
outra pessoa é um mal porque priva alguém da vida, que é um bem; 
ser desonesto é um mal, porque tira algo de outrem; sonegar imposto 
é um mal, porque desvia um bem da posse de quem é de direito. 
 Todas as questões éticas, no fundo, se relacionam com esta 
pergunta: o que favorece ou não a natureza do ser humano? Assim, o 
bem e o mal, o certo e o errado, embora possam e devam ser 
 
 
 16 
determinados em si, concretamente exigem uma reflexão constante 
diante de novas situações. 
 
Condições necessárias para uma escala de valores éticos: 
 
• Ser suficientemente simples para que todo mundo possa 
compreendê-lo. 
• Ser prático e de aplicação à vida cotidiana, familiar e 
profissional. 
• Ser universal, isto é, ter aplicações claras e evidentes nas 
diversas áreas da cultura e atividade humana, mais 
particularmente a educação, a saúde, a cultura, a vida 
política, a filosofia, as artes, o direito, a vida religiosa, a 
economia, as organizações, a agronomia e o meio ambiente. 
• Permitir a qualquer pessoa se situar quanto aos seus próprios 
valores, dando uma visão clara do que lhe falta para ir 
adiante. 
• Levar em consideração a evolução do ser humano, partindo 
de sua vida instintiva ou pulsional até a transcendência. 
• Levar em conta a energia e a transformação no homem; isto 
é, considerar o homem um transformador de formas densas 
de energia para formas mais refinadas. 
• Permitir a distinção de etapas, fases claras da evolução. 
• Em dada fase, distinguir os valores construtivos e destrutivos. 
• Considerar o conflito e a contradição interna ou externa como 
um fator de despertar da consciência. 
 
 
 17 
• E, em fim, o que é essencial, expressar a realidade de uma 
ética natural, espontânea, sensível a uma educação para o 
despertar, em cada um, do verdadeiro sentido da nossa 
existência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE II 
 
FUNDAMENTOS DE ÉTICA E ÉTICA PROFISSIONAL 
 
 
 
 18 
Ética, em um sentido restrito, é a parte da Filosofia que tem 
como objeto de estudos a moral, ou seja, os valores e princípios que 
orientam, disciplinam, constrangem, motivam o comportamento 
humano. Aquilo que vale para cada um de nós, ou seja, que tem valor 
e fundamenta as nossas ações pode ser, por exemplo, a vida, a 
justiça, a dignidade do ser humano, a família, a honestidade, a 
responsabilidade. Esses valores norteiam as nossas ações tornando-
as morais, ou seja, conformes com um conjunto de valores aceitos 
como pertencentes à categoria do Bem, do Correto, do Certo. 
No entanto é fácil observar que Bem/Mal, Certo/Errado; 
Permitido/Proibido variam no tempo e no espaço, evidenciando que a 
moral não é universal e sim historicamente construída. 
 Como seres morais que agem fundamentados em valores, 
levantamos questões sobre o que é o Bem e o Mal, quais valores 
poderiam ser considerados universais e como funciona a historicidade 
dos valores. Esta reflexão sobre os valores é que compõe a parte da 
filosofia chamada Ética. 
Assim, a Ética é também chamada de Ciência da Moral e 
Filosofia Moral, pois está centrada no estudo dos valores e das 
normas que regulam a conduta e a interação dos humanos. Pode 
então ser definida como a parte da filosofia que trata da moral e das 
obrigações do homem, ou ainda como a reflexão sobre os atos 
humanos que se relacionam com o Bem. 
No nosso cotidiano estamos constantemente valorando as 
nossas ações e as dos outros. É então que as categorias certo/errado 
e bem/mal são utilizadas sem que, na maioria das vezes, 
questionemos os nossos critérios de valoração. Alguns filósofos, no 
 
 
 19 
entanto, estudam exatamente esta questão. Eles realizam uma 
reflexão teórica sobre o que caracteriza o bem agir, o que faz uma 
ação ser certa ou errada. Eles teorizam então os valores que 
fundamentam ou devem fundamentar as nossas ações para 
alcançarmos o bem viver. Algumas questões levantadas por 
estudiosos no assunto podem ajudar a compreender os objetivos 
desta reflexão filosófica: 
• Como uma norma moral pode adquirir validade universal? 
• Quais são os valores que devem nortear as ações humanas? 
• Por que os valores e os princípios morais variam nas 
diferentes sociedades? 
• Como posso adequar a liberdade da minha vontade às 
obrigações determinadas pela lei? 
• Como encontrar um equilíbrio entre a responsabilidade moral 
e os impulsos, desejos e inclinações que constituem a nossa 
condição? 
As palavras de Singer (Ética prática, p. 18-24) sobre o quê a 
Ética não é também podem ajudar a compreender a 
complexidade da reflexão sobre ética: 
“Não é “um conjunto de proibições particularmente 
respeitantes ao sexo” — “o sexo não levanta nenhuma 
questão ética específica”, emborapossa “envolver 
considerações sobre a honestidade, o respeito pelos outros, a 
prudência, etc; 
Não é um sistema ideal, nobre na teoria, mas inútil na prática 
— a finalidade do juízo ético é orientar a prática; 
 
 
 20 
Não é algo que apenas se torne inteligível no contexto da 
religião — podemos encontrar a origem da ética nas atitudes 
de benevolência e solidariedade para com os outros que a 
maioria das pessoas possui; 
Não é relativa ou subjetiva. Ao se referir, no segundo item 
acima, à relação entre as teorias éticas e a prática, Singer 
chama atenção para uma característica da ética que muitas 
vezes passa despercebida: ela ilumina a nossa prática e 
muitos exemplos atuais podem ser dados nas discussões 
envolvendo: 
• A legalização do aborto, 
• A negativa de participação na guerra, 
• A clonagem, 
• A pesquisa sobre célula tronco, 
• A diferenciação entre público e privado. 
As teorias éticas têm oferecido um conjunto de conhecimento 
que possibilita delimitar e compreender melhor os problemas 
envolvidos nessas questões. 
Ampliando o conceito, por extensão do sentido, a palavra ética é 
utilizada para qualificar ações que estão dentro da categoria do Bem, 
do Certo, do Permitido. É assim que, quando uma ação está 
fundamentada em um valor, como por exemplo ‘honestidade’, nós a 
consideramos ética. 
Mas, melhor seria se considerássemos éticas as ações de um 
agente consciente, (com capacidade para distinguir o certo e o errado, 
o bem e o mal), livre (capaz de escolher valores próprios, dando a si 
mesmo as suas regras de conduta) e responsável, (com capacidade 
 
 
 21 
para reconhecer-se como autor, distinguindo as consequências da sua 
ação e respondendo por elas) e que, além disso, realizasse virtudes 
(qualidades ou ações dignas do homem). É neste campo da virtude, 
da excelência, de se ser plenamente o que se é, que se inscreve a 
ética. 
 
MORAL, COSTUMES E ÉTICA 
 
Alguns autores não diferenciam Moral e Ética. No entanto, esta 
diferenciação é importante para a compreensão do conceito de ética. 
Podemos entender por Moral o conjunto de regras, princípios e 
valores aceitos pelo indivíduo ou por uma comunidade e que 
determinam o certo e o errado, o permitido e o proibido, o bem e o 
mal. A palavra é derivada do latim morus – costume, ou seja, a moral 
é aquilo que é costumeiro em um tempo e lugar, aceito e considerado 
válido por aqueles que a ela aderem. Devemos considerar que a moral 
é construída e dada a cada um de nós pelo processo de socialização. 
Mas como diz Chauí (2001) “... a simples existência da moral 
não significa a presença explícita de uma ética, entendida como 
filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize e 
interprete o significado dos valores morais.” 
De acordo com Chauí (2001) a ética grega tem três aspectos 
principais: 
• O racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a 
razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade; 
 
 
 22 
• O naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a 
natureza (o cosmos) e com nossa natureza (nosso ethos), que é 
parte do todo natural; 
• A inseparabilidade entre ética e política: isto é, entre a 
conduta do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente 
na existência compartilhada com outros, encontramos liberdade, 
justiça e felicidade. 
 
ÉTICA MODERNA 
 
A Ética teológica, característica da Idade Média, colocou uma 
questão que orientou a reflexão ética que se seguiu: Como conciliar o 
livre-arbítrio com a exigência de obediência às leis divinas? Ou seja, 
se o bem agir exige a autonomia do agente, o dever de seguir as leis 
da fé não instauraria uma heteronomia (normatização externa das 
condutas)? 
Os filósofos da Idade Moderna tentaram responder esta questão 
de diversas maneiras e a reflexão que eles empreenderam, influencia 
as discussões éticas até hoje. Vejamos dois desses autores: 
Rousseau: a concepção do homem como naturalmente bom, 
mas corrompido pela sociedade, principalmente pela ideia de 
propriedade privada, orientou a concepção ética desse autor. As leis 
religiosas não seriam uma heteronomia, mas uma recordação daquilo 
que já está na natureza humana, apesar de esquecido. Ser ético então 
seria realizar esta natureza intrinsecamente boa e a religião seria o 
caminho para este estado esquecido. 
 
 
 23 
Kant: A genialidade Kantiana está na sua busca pelo 
estabelecimento de valores universais e consequente laicização do 
pensamento ético. 
A lei de ouro defendida por Kant: - Age apenas segundo uma 
máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei 
universal. 
Para ele, a conduta ética deveria ser guiada pelo dever, sendo 
este um Imperativo categórico, ou seja, uma exigência de conduta 
moral à qual seria impossível não cumprir ao agirmos racionalmente. 
O agir ético seria então a conduta guiada pelo dever e o ‘certo’ não 
admite exceções, pois é sempre imperativo e não depende das 
circunstâncias, sejam quais forem as consequências. 
Agir por dever não é o mesmo que agir de acordo com o dever 
(como é o caso de não mentir para que acreditem sempre em mim): o 
dever é a necessidade de realizar uma ação unicamente por respeito a 
lei moral. Para Kant, a intencionalidade é um determinante importante 
para definir o valor ético de uma ação. Por exemplo, salvar uma 
criança de um perigo eminente só seria ético se o fizéssemos pelo 
dever. Se o fazemos por dó ou para receber a aprovação dos outros, a 
ação deixa de ser ética. 
Assim, no pensamento kantiano, a ética é um sistema de regras 
absolutas, que não admitem exceções e o valor ético das ações 
provém das intenções com que são praticadas. 
A conduta ética deve pois ser guiada por leis (dever) 
estabelecidas pela razão e devem ser respeitadas independente das 
consequências. 
 
 
 
 24 
DEBATES SOBRE ÉTICA 
A teoria ética de Kant recebe várias críticas principalmente 
daqueles autores, chamados consequêncialistas, que defendem a 
ideia de que o valor ético de uma ação está nas suas consequências. 
Não há, portanto, leis éticas absolutas e a intencionalidade do agente 
não é importante: é ética a ação que traz as melhores consequências. 
Temos assim dois modos de responder à questão. O que faz 
uma ação ser boa?; aquele proposto por Kant ou aquele dos 
consequencialistas? parece que nenhum dos dois é suficiente para 
encerrar as indagações éticas. 
Kohlberg dá uma resposta parcial a esta questão ao defender a 
tese de que os indivíduos e sociedades vivenciam estágios sucessivos 
de desenvolvimento ético. Sua teoria tem fundamento nos estágios de 
desenvolvimento psicomotor de Piaget e explica a diversidade de 
valores dos indivíduos e grupos pela consideração de um progressivo 
desenvolvimento ético-moral. 
O quadro abaixo resume a proposta de Kohlberg: 
 
 
 25 
 
 
 26 
Os níveis de desenvolvimento moral propostos por Kohlberg têm 
orientado muitas pesquisas sobre o agir ético nos diversos segmentos 
da sociedade e servem também para uma avaliação da nossa 
conduta. 
Mais uma vez, o valor da autonomia, da liberdade e consequente 
responsabilidade e a procura por excelência na realização da nossa 
humanidade aparecem como balizas para a conduta ética. 
Talvez seja possível dizer que a nossa humanidade, a nobreza 
da nossa posição na natureza impõe a obrigação de resistir e nos 
esforçarmos para, como diz Tourraine, recusar em nós a parte que 
não pensa ou que só pensa em si, nos construindo como homens e 
mulheres dignos dessa humanidade. 
 
ÉTICA PROFISSIONALUm código é um conjunto de afirmações, descritivas ou 
normativas sobre um tema ou questão. Quando falamos de código de 
ética profissional estamos, portanto nos referindo a um conjunto de 
afirmações sobre o bem agir no campo profissional. 
Um código de ética profissional pode ser normativo ou descritivo. 
Ele será normativo quando é composto de normas explícitas sobre a 
conduta daqueles que exercem a profissão. 
O código de ética profissional é assim um instrumento para a 
tomada de decisão frente a dilemas éticos e orienta a conduta dos 
profissionais no exercício da profissão. 
 
 
 
 
 27 
Os códigos de ética profissional visam: 
• Estruturar e sistematizar as exigências éticas, orientando-as e 
disciplinando; 
• Estabelecer parâmetros dentro dos quais a conduta pode ou 
deve ser considerada regular sob o ângulo ético; 
• Amparar os interesses de outras pessoas no seu relacionamento 
com o profissional. (Camargo, 2004) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 28 
UNIDADE III 
 
CÓDIGO DE ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
 O Decreto n° 1.171, de 22 de Junho de 1994, aprovou o Código 
de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo 
Federal. 
 
DAS REGRAS DEONTOLÓGICAS 
 
Inicialmente, o Código de Ética do Servidor Público Civil do 
Poder Executivo Federal enumera uma série de regras pertinentes ao 
conjunto de princípios éticos, particularmente voltados à observância 
dos princípios da moralidade e probidade administrativa. As regras em 
questão não deixam de tratar, também, da necessidade de 
observância dos princípios da publicidade e da eficiência (itens I a 
XIII). 
I- A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos 
princípios morais são primados maiores que devem nortear o 
servidor público, seja no exercício do cargo ou função ou fora 
dele, já que refletirá o exercício da vocação do próprio poder 
estatal. Seus atos, comportamentos e atitudes serão 
direcionados para a preservação da honra e da tradição dos 
serviços públicos. 
 
II- O Servidor público não poderá jamais desprezar o elemento 
ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre 
o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o inconveniente, o oportuno 
 
 
 29 
e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o 
desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput § 4º, 
da Comissão Federal. 
 
III- A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção 
entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da ideia de que o 
fim é sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a 
finalidade, na conduta do servidor público, é que poderá 
consolidar a moralidade do ato administrativo. 
 
IV- A remuneração do servidor público é custeada pelos tributos 
pagos direta ou indiretamente por todos, até por ele próprio, e 
por isso se exige, como contrapartida, que moralidade 
administrativa se integre no Direito, como elemento indissociável 
de sua aplicação e de sua finalidade, erigindo-se, como 
consequência, em fator de legalidade. 
 
V- O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a 
comunidade deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio 
bem-estar, já que, como cidadão, integrante da sociedade, o 
êxito desse trabalho pode ser considerado como seu maior 
patrimônio. 
 
VI- A função pública deve ser tida como exercício profissional e, 
portanto, se integra na vida particular de cada servidor público. 
Assim, os fatos e atos verificados na conduta do dia a dia em 
 
 
 30 
sua vida privada poderão acrescer ou diminuir o seu bom 
conceito na vida funcional. 
 
VII- Salvo os casos de segurança nacional, investigações policiais 
ou interesse superior do Estado e da Administração Pública, a 
serem preservados em processo previamente declarado 
sigiloso, nos termos da lei, a publicidade de qualquer ato 
administrativo constitui requisito de eficácia e moralidade, 
ensejando sua omissão comprometimento ético contra o bem 
comum, imputável a quem a negar. 
 
VIII- Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la 
ou falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria 
pessoa interessada ou da Administração Pública. Nenhum 
Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o poder corruptivo 
do hábito do erro, da opressão ou da mentira, que sempre 
aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de 
uma Nação. 
 
 
IX- A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicado ao 
serviço público caracterizam o esforço pela disciplina. Tratar mal 
uma pessoa que paga seus tributos direta ou indiretamente 
significa causar-lhe dano moral. Da mesma forma, causar dano 
a qualquer bem pertencente ao patrimônio público, 
deteriorando-o, por descuido ou má vontade, não constitui 
apenas uma ofensa ao equipamento e às instalações ou ao 
 
 
 31 
Estado, mas a todos os homens de boa vontade que dedicaram 
sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e seus esforços 
para construí-los. 
 
X- Deixar o servidor público, qualquer pessoa à espera de solução 
que compete ao setor em que exerça suas funções, permitindo 
a formação de longas filas ou qualquer outra espécie de atraso 
na prestação do serviço, não caracteriza apenas atitude contra a 
ética ou ato de desumanidade, mas principalmente grave dano 
moral aos usuários dos serviços públicos. 
 
XI- O Servidor deve prestar toda a sua atenção às ordens legais de 
seus superiores, velando atentamente por seu cumprimento e, 
assim, evitando a conduta negligente. Os repetidos erros, o 
descaso e o acúmulo de desvios tornam-se, às vezes, difíceis 
de corrigir e caracterizam até mesmo imprudência no 
desempenho da função pública. 
 
 
XII- Toda ausência injustificada do servidor de seu local de trabalho 
é fator de desmoralização do serviço público, o que quase 
sempre conduz à desordem nas relações humanas. 
 
XIII- O servidor que trabalha em harmonia com a estrutura 
organizacional, respeitando seus colegas e cada concidadão, 
colabora e de todos pode receber colaboração, pois sua 
 
 
 32 
atividade pública é a grande oportunidade para o crescimento e 
o engrandecimento da Nação. 
 
 
DOS PRINCIPAIS DEVERES DO SERVIDOR PÚBLICO 
 
O Código de Ética enumera os deveres fundamentais do servidor 
público, tais como os de assiduidade, razoabilidade, zelo, dedicação, 
presteza, cortesia e o de urbanidade (item XIV). 
Há de se observar a abordagem ao dever de cumprir ordens, 
associado à necessidade de se resistir a pressões, mesmo que de 
superiores, para a prática de atos ilegais, imorais ou aéticos, inclusive 
com o exercício da representação quando da constatação da prática 
de atos que venham comprometer a Administração Pública. 
 
XIV- São deveres fundamentais do servidor público: 
a) Desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo, função ou 
emprego público de que seja titular; 
 
 
b) Exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, 
pondo fim ou procurando prioritariamente resolver situações 
procrastinatórias, principalmente diante de filas ou de qualquer 
outra espécie de atraso na prestação dos serviços pelo setor em 
que exerça suas atribuições, com o fim de evitar dano moral ao 
usuário; 
 
 
 
 33 
c) Ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a integridade do 
seu caráter, escolhendo sempre,quando estiver diante de duas 
opções, a melhor e a mais vantajosa para o bem comum; 
 
d) Jamais retardar qualquer prestação de contas, condiçãoessencial da gestão dos bens, direitos e serviços da coletividade 
a seu cargo; 
 
e) Tratar cuidadosamente os usuários dos serviços aperfeiçoando o 
processo de comunicação e contato com o público; 
 
f) Ter consciência de que seu trabalho é regido por princípios 
éticos que se materializam na adequada prestação dos serviços 
públicos; 
 
g) Ser cortês,ter urbanidade, disponibilidade e atenção, respeitando 
a capacidade e as limitações individuais de todos os usuários do 
serviço público, sem qualquer espécie de preconceito ou 
distinção de raça, sexo, nacionalidade, cor, idade, religião, cunho 
político e posição social, abstendo-se, dessa forma, de causar-
lhes dano moral; 
 
h) Ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum temor de 
representar contra qualquer comprometimento indevido da 
estrutura em que se funda o Poder Estatal; 
 
 
 
 34 
i) Resistir a todas as pressões de superiores hierárquicos, de 
contratantes, interessados e outros que visem obter quaisquer 
favores, benesses ou vantagens indevidas em decorrência de 
ações imorais, ilegais ou aéticas e denunciá-las; 
 
j) Zelar, no exercício do direito de greve, pelas exigências 
específicas da defesa da vida e da segurança coletiva; 
 
k) Ser assíduo e frequente ao serviço, na certeza de que sua 
ausência provoca danos ao trabalho ordenado, refletindo 
negativamente em todo o sistema; 
 
l) Comunicar imediatamente aos seus superiores todo e qualquer 
ato ou fato contrário ao interesse público, exigindo as 
providências cabíveis; 
 
m) Manter limpo e em perfeita ordem o local de trabalho, seguindo 
os métodos mais adequados à sua organização e distribuição; 
 
 
n) Participar dos movimentos e estudos que se relacionem com a 
melhoria do exercício de suas funções, tendo por escopo a 
realização do bem comum; 
 
o) Apresentar-se ao trabalho com vestimentas adequadas ao 
exercício da função; 
 
 
 
 35 
p) Manter-se atualizado com as instruções, as normas de serviços 
e a legislação pertinentes ao órgão onde exerce suas funções; 
 
q) Cumprir, de acordo com as normas do serviço e as instruções 
superiores, as tarefas de seu cargo ou função, tanto quanto 
possível, com critério, segurança e rapidez, mantendo tudo 
sempre em boa ordem; 
 
r) Facilitar a fiscalização de todos os atos ou serviços por quem de 
direito; 
 
s) Exercer com estrita moderação as prerrogativas funcionais que 
lhe sejam atribuídas, abstendo-se de fazê-lo contrariamente aos 
legítimos interesses dos usuários do serviço público e dos 
jurisdicionados administrativos; 
 
t) Abster-se, de forma absoluta, de exercer sua função, poder ou 
autoridade com finalidade estranha ao interesse público, mesmo 
que observando as formalidades legais e não cometendo 
qualquer violação expressa à lei; 
 
 
u) Divulgar e informar a todos os integrantes da sua classe sobre a 
existência deste Código de Ética, estimulando o seu integral 
cumprimento. 
 
 
 
 
 36 
4- DAS VEDAÇÕES AO SERVIDOR PÚBLICO 
 
É vedado ao servidor público: 
 
a) O uso do cargo ou função, facilidades, amizades, tempo, posição e 
influências, para obter qualquer favorecimento, para si ou para outrem; 
 
b) Prejudicar deliberadamente a reputação de outros servidores ou de 
cidadãos que deles dependam; 
 
c) Ser, em função de seu espírito de solidariedade, conivente com erro 
ou infração a este Código de Ética ou ao Código de Ética de sua 
profissão; 
 
d) Usar de artifícios para procrastinar o exercício regular de direito por 
qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material; 
 
e) Deixar de utilizar os avanços técnicos e científicos ao seu alcance 
ou do seu conhecimento para atendimento do seu mister; 
 
f) Permitir que perseguições, simpatias, caprichos, paixões ou 
interesses de ordem pessoal interfiram no trato com o público, com os 
jurisdicionados administrativos ou com colegas hierarquicamente 
superiores ou inferiores; 
 
g) Pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de 
ajuda financeira, gratificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem 
 
 
 37 
de qualquer espécie, para si, familiares ou qualquer pessoa, para o 
cumprimento da sua missão ou para influenciar outro servidor para o 
mesmo fim; 
 
h) Alterar ou deturpar o teor de documentos que deva encaminhar 
para providências; 
 
i) Iludir ou tentar iludir qualquer pessoa que necessite do atendimento 
em serviços públicos; 
 
j) Desviar servidor público para atendimento a interesse particular; 
 
l) Retirar da repartição pública, sem estar legalmente autorizado, 
qualquer documento, livro ou bem pertencente ao patrimônio público; 
 
m) Fazer uso de informações privilegiadas obtidas no âmbito interno 
de seu serviço, em benefício próprio, de parentes, de amigos ou de 
terceiros; 
 
n) Apresentar-se embriagado no serviço ou fora dele habitualmente; 
 
o) Dar o seu concurso a qualquer instituição que atente contra a moral, 
a honestidade ou a dignidade da pessoa humana; 
 
p) Exercer atividade profissional aética ou ligar o seu nome a 
empreendimentos de cunho duvidoso. 
 
 
 
 38 
DAS COMISSÕES DE ÉTICA 
 
 Em todos os órgãos e entidades da Administração Pública 
Federal da administração direta, autárquica e fundacional, ou em 
qualquer órgão ou entidade que exerça atribuições delegadas pelo 
Poder Público, deverá ser criada uma Comissão de Ética (item XVI). 
 De acordo com o Decreto nº 6.029/2007, as Comissões de Ética 
de que trata o Decreto nº 1.171/2004 integram o Sistema de Gestão 
da Ética do Poder Executivo Federal. 
O Decreto nº 6.029/2007, que prevê, ainda, em seu art. 5º, que 
cada Comissão de Ética de que trata o Decreto nº 1171, de 1994, será 
integrada por três membros titulares e três suplentes, escolhidos entre 
servidores e empregados do seu quadro permanente, e designado 
pelo dirigente máximo da respectiva entidade ou órgão, para 
mandatos não coincidentes de três anos. 
 A comissão de ética tem, também a incumbência de fornecer aos 
órgãos competentes os registros sobre a conduta ética do servidor, 
para o efeito de instruir e fundamentar promoções e para todos os 
demais procedimentos próprios da carreira do servidor público (item 
XVIII). 
 A pena aplicável ao servidor público pela Comissão de É tica é a 
de censura, que será devidamente fundamentada e constará a ciência 
do servidor faltoso (item XXII). 
 Entende-se por servidor público, para fins de apuração do 
comprometimento ético, todo aquele que, por força de lei, contrato ou 
de qualquer ato jurídico, preste serviço de natureza permanente, 
temporária ou excepcional, ainda que sem retribuição financeira, 
 
 
 39 
desde que ligado direta ou indiretamente a qualquer órgão do poder 
estatal, como as autarquias, as fundações públicas, as entidades 
paraestatais, as empresas públicas e as sociedades de economia 
mista, ou em qualquer setor onde prevaleça o interesse do Estado 
(item XXIV). 
 Prevê, também o Decreto nº 6.029/2007, em seu art.7º, que 
compete às Comissões de Ética aplicar o Código de Ética profissional 
do servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, aprovado pelo 
Decreto nº 1.171, de 1994, devendo: 
a) Submeter à Comissão de Ética Pública propostas para seu 
aperfeiçoamento; 
b) Dirimir dúvidas a respeito da interpretação de suas normas e 
deliberar sobre casos omissos; 
c) Apurar, mediante denúncia ou de ofício, conduta em desacordo 
com as normas éticas pertinentes; e 
d) Recomendar, acompanhare avaliar, no âmbito do órgão ou 
entidade a que estiver vinculada, o desenvolvimento de ações 
objetivando a disseminação, capacitação e treinamento sobre as 
normas de ética e disciplina. 
 
Em seu art. 12, o Decreto nº 6.029/2007 disciplina que o processo 
de apuração de prática de ato em desrespeito ao preceituado no 
Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder 
Executivo Federal será instaurado, de ofício ou em razão de denúncia 
fundamentada, respeitando-se, sempre, as garantias do contraditório e 
da ampla defesa, pelas Comissões de Ética, que notificará o 
investigado para manifestar-se, por escrito, no prazo de dez dias. 
 
 
 40 
 Se a conclusão for pela existência da falta de ética, além das 
providências previstas no Código de Ética Profissional do Servidor do 
Poder Executivo Federal, as Comissões de Ética tomarão as seguintes 
providências, no que couber: 
 
I- Encaminhamento, de sugestão de exoneração de 
cargos ou função de confiança à autoridade 
hierarquicamente superior ou devolução ao órgão de 
origem, conforme o caso; 
Encaminhamento, conforme o caso, para a Controladoria- Geral da 
II- União ou unidade específica do Sistema de Correção 
do Poder Executivo Federal de que trata o Decreto 
nº5.480, de 30 de junho de 2005, para exame de 
eventuais transgressões disciplinares; e 
III- Recomendação de abertura de procedimento 
administrativo, se a gravidade da conduta assim o 
exigir. 
 
 XVI – Em todos os órgãos e entidades da Administração Pública 
Federal direta, indireta, autárquica e fundacional, ou em qualquer 
órgão ou entidade que exerça atribuições delegadas pelo poder 
público, deverá ser criada uma comissão de Ética, encarregada de 
orientar e aconselhar sobre a ética profissional do servidor, no 
tratamento com as pessoas e com o patrimônio público, competindo-
lhe conhecer corretamente de imputação ou de procedimento 
susceptível de censura. 
 
 
 
 41 
XVIII – À Comissão de Ética incumbe fornecer, aos organismos 
encarregados da execução do quadro de carreira dos servidores, os 
registros sobre sua conduta ética para o efeito de instruir e 
fundamentar promoções e para todos os demais procedimentos 
próprios da carreira do servidor público. 
 
XXII – A pena aplicável ao servidor público pela Comissão é a de 
censura e sua fundamentação constará do respectivo parecer, 
assinado por todos os seus integrantes, com ciência do faltoso; 
 
XXIV – Para fins de apuração do comprometimento ético, entende-se 
por servidor público todo aquele que, por força de lei, contrato ou de 
qualquer ato jurídico, preste serviços de natureza permanente, 
temporária ou excepcional, ainda que sem retribuição financeira, 
desde que ligado direta ou indiretamente a qualquer órgão do poder 
estatal, como as autarquias, as fundações públicas, as entidades 
paraestatais, as empresas públicas e as sociedades de economia 
mista, ou qualquer setor onde prevaleça o interesse do Estado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 42 
 
UNIDADE IV 
 
 
MORAL ALÉM DO ALCANCE 
 
 
 É inegável que a população mundial está passando por um 
momento de crise existencial. Uma rápida folheada nos jornais é o 
suficiente para constatar o óbvio: a cada dia há um sem número de 
reportagens denunciando a falta de ética e a perda de valores morais 
na sociedade. 
Da corrupção no Congresso “à falta de respeito às leis de 
trânsito; da superficialidade nos relacionamentos à manipulação de 
informações para justificar a invasão a um território inimigo, os 
exemplos são vastos e, infelizmente, contundentes. 
 O motivo para este cenário desalentador, segundo alguns 
estudiosos, estaria na falta de um conceito universal para o que é a 
ética, o que coloca em dúvida as suas possibilidades, virtudes e 
limites, estimulando, assim, sua fragmentação para diferentes 
segmentos. 
Haveria, portanto, uma ética diferente para a esfera política, 
outra para o ambiente empresarial, médico, universitário, e assim 
sucessivamente. Esta pluralidade teria reduzido todo o conceito da 
ética a uma competência específica de especialistas que possuiriam o 
sentido das regras, normas e valores e, em função disso, seriam os 
únicos com capacidade de julgar as ações dos demais. 
 Para a filósofa Marilena Chauí, enquanto na ética é a ideia do 
bem, do justo e do feliz que determina a autoconstrução do sujeito 
 
 
 43 
ético, a dispersão da moral, transformando-a em ideologia, levou o 
bem a ser apenas a ausência do mal – o que salientaria e sublinharia 
o sofrimento individual e coletivo, a corrupção política e policial que 
atinge a sociedade. 
Em outras palavras, a idelogia da ética reduz o presente a um 
instante imediato e mostra que as ideias modernas de racionalidade, 
sentido da história, abertura temporal do possível pela ação humana, 
objetividade e subjetividade teriam sido responsáveis por todo o mal 
do nosso presente, anulando a marca essencial do sujeito ético e da 
ação ética, que é a liberdade, observou a professora. 
 Esta discussão, embora recheada de exemplos atuais, não é 
recente, mas, ganhou uma atenção especial quando o filósofo 
Prussiano Immanuel Kant (1724-1804) colocou de cabeça para baixo 
os antigos pensamentos sobre ética e a existência humana, em voga 
desde os tempos de Platão. 
Até então, o objeto fundamental da ética estava baseado na 
reflexão sobre a felicidade e o bom viver. Para Kant, ao contrário, o 
fundamento da ética é o dever. Em sua opinião, a felicidade só poderia 
ser pensada como algo legítimo na medida em que ela estivesse 
subordinada à virtude. 
Por isso, a felicidade é algo que devemos almejar, sim, desde 
que sejamos virtuosos e merecedores, a partir de atitudes que não são 
determinadas por nenhuma outra coisa a não ser pelo respeito à lei do 
dever, explica o professor de Filosofia da UNICAMP, Oswaldo Giacoia 
Júnior. 
 Antes de Kant havia, também, uma fundamentação teológica da 
ética e da moral pela qual os acontecimentos estavam relacionados a 
 
 
 44 
uma ordem divina. Outros pensadores atribuíam os valores morais a 
uma espécie de legalidade da natureza, na qual a ordem moral seria 
uma espécie de duplicação da ordem do Cosmos, ou que as ações 
seriam determinadas de acordo com características de dano ou 
utilidade. 
 O fundamento da ética kantiana está baseado na capacidade 
humana de colocar objetivos e realizá-los permitindo assim que cada 
meta seja valorizada em termos do bem e mal. Ou seja, um homem, 
quando deseja viajar, realiza este querer a partir de uma determinada 
ação. 
Os animais, ao contrário, agem apenas por impulso. Além disso, 
Kant levou em conta a nossa capacidade de determinar regras, 
normas ou princípios para o nosso agir, por meio da deliberação do 
nosso querer, informa o professor da Unicamp. 
 Assim, Kant entende que a razão pura determina, por ela 
mesma, as regras que nos levarão a agir para realizar nosso desejo. 
Por isso, a vontade humana é igual à razão prática quando as leis do 
meu agir são atribuídas pela minha racionalidade como leis do ‘dever 
ser’, completa. Por isso, na visão Kantiana, a vontade humana é livre e 
cabe à razão racionalizar o que pode (ou deve) ser ou não feito. 
 Quando nós (enquanto seres racionais) determinamos a regra 
geral que pauta as nossas ações, fazemos uma livre determinação do 
nosso arbítrio. Se essa motivação for extraída da nossa sensibilidade, 
nossa ação é apenas uma inclinação da nossa natureza e não possui 
qualquer valor moral. Ao contrário, quando nossa ação é tomada a 
partir da representaçãodo nosso dever, ela poderá receber um valor 
moral. 
 
 
 45 
 De acordo com Giacóia, Kant consegue, assim, demarcar 
com clareza quais são os limites que a nossa razão tem para respeitar 
quando ela pretende dar respostas com sentido a determinados 
problemas formulados. Desta maneira, o filósofo coloca em evidência 
questões que seriam confrontadas pela sociedade séculos depois, 
como a perda de um conteúdo substantivo que antes era garantido 
pela visão teológica tradicional ou pela visão filosófica metafísica dos 
antigos pensadores. Ele foi o primeiro a reconhecer a abrangência e 
as possibilidades do pensamento racional, tanto do ponto de vista da 
extensão quanto dos seus limites. 
 Kant nega, então, o valor demonstrativo da metafísica 
tradicional e aponta a necessidade da distinção absoluta entre o 
conhecimento objetivo do que é e a crença ou certeza subjetiva no 
dever ser. Isso significa que, pelo pensamento kantiano, o dever pode 
expressar um simples cumprimento da lei. Mas, neste caso, o homem 
que se limita a cumprir a legislação para evitar a reprovação social ou 
uma possível punição, ainda não atingiu um patamar de moralidade 
autônoma. 
 O conceito de autonomia, para Kant, está relacionado à 
faculdade de se autodeterminar. Na sua visão, autonomia e liberdade 
são sinônimos, podendo ser entendidas como a capacidade que o 
homem tem de dar, a si mesmo, a lei do seu agir e do seu querer, que 
vale para todos os seres racionais, estejam eles neste ou em outro 
planeta”, diz Giacóia. 
 Na visão de Nietzche, filósofo prussiano de destaque, o 
Estado procura moldar os que se acham sob sua tutela, incutindo-lhes 
o orgulho da pátria, o respeito à bandeira, à educação cívica. 
 
 
 46 
 O partido político tenta formar os que a ele se filiam, 
infundindo-lhes a disciplina partidária e os deveres de militante. A 
igreja busca preparar os que a ela se agregam, impondo-lhes a 
aceitação dos dogmas, os mistérios da fé, a educação religiosa. 
 Os bons cidadãos, os partidários incondicionais e os fiéis 
convictos se limitam a cumprir ordens, executar tarefas, submeter-se a 
ditames. 
 A educação, seja ela familiar, cívica, política ou religiosa, 
aparece para Nietzche como um processo para tornar o educando 
semelhante ao educador. Esse é o princípio de toda a vida gregária: 
impedir as singularidades, abolir as diferenças, escreveu Scarlett. 
 A moralidade, por Nietzche, estava relacionada, portanto, 
também à obediência aos costumes, quaisquer que fossem eles. 
Afinal, os indivíduos habituam-se a certas maneiras de agir e pensar 
que são transmitidas de geração a geração. Esses costumes 
consolidam-se e tornam-se uma tradição que deve ser respeitada de 
forma absoluta, apresentado - se como uma autoridade que exige total 
submissão. 
 Diante dela não se deve pensar nem levantar a voz, revela 
Marton. Para se desfazer destes hábitos, é preciso disciplina, além de 
coragem para abandonar comodidades e renunciar à segurança. 
 As posições de Kant e Nieztche permitem compreender 
alguns dos dilemas mais importantes com os quais nos confrontamos 
hoje, como o problema da fundamentação dos juízos morais. Grande 
parte da discussão de ambos se trava a respeito da possibilidade da 
fundamentação racional dos juízos morais e quais são as razões e 
justificativas para afirmar que algo é bom ou mau. 
 
 
 47 
 Essa dúvida permanece nos dias atuais. A sociedade sofre 
as consequências da falta de ética nas relações. Vive-se um momento 
de terror mundial acentuado por crimes cometidos sem motivos 
aparentes. Aliado a isso, a corrupção política, a ausência de decoro 
político e a impunidade no mau exercício da profissão acentuam a 
crise existencial por que passa a humanidade. 
 A solução para este quadro, segundo os dois filósofos, 
passaria por um único caminho: o da educação – um dos poucos 
pontos em comum no pensamento de ambos. Para Kant, esta seria a 
garantia de transmissão da cultura e do progresso atingido por um 
grupo de indivíduos para a sociedade seguinte. 
 Para Nietzche, a educação levaria ao desenvolvimento 
integral e harmonioso de todas as capacidades humanas, desde que 
não ficasse restrita à profissionalização do indivíduo- uma medicação 
simples, se for levada em consideração a gravidade da crise em que 
se encontra a sociedade. 
 
 Para Kant, enquanto os Estados se ocuparem apenas com 
a guerra, esquecendo e abandonando seus cidadãos, afastando-os da 
educação e do desenvolvimento da racionalidade, haverá indivíduos 
civilizados, mas jamais moralizados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 48 
Ética na Educação e educação da Ética 
 
 As relações da Ética com a Educação apresentam dois aspectos 
diferentes e complementares: há de um lado a questão dos valores 
éticos na educação e, do outro, o da educação para a Ética. 
 Se o educador for um exemplo de valores e atitudes éticas 
ditando o seu comportamento efetivo com os seus alunos, ele já 
estará contribuindo para um despertar ético. 
 
Educação para a Ética - Além de ser um exemplo de comportamento 
ético, o educador precisa conhecer profundamente a si mesmo, o seu 
próprio processo evolutivo, as leis de transformação das energias 
através dos seus centros energéticos, pois assim saberá despertar a 
ética essencial em seus alunos. 
 Saberá mostrar-lhes o verdadeiro significado de suas 
necessidades de segurança, de prazer e de poder, ensinando - lhes a 
moderação a fim de que a energia possa fluir em direção à alegria de 
dar amor, de receber inspiração criativa, de conhecer e aprender a 
todo instante através da leitura do livro da vida e favorecer as 
condições do despertar da superconsciência através da experiência 
estética. 
 
A Ética no campo da Saúde 
 
 A saúde é antes de tudo um estado de harmonia e de equilíbrio, 
e não apenas ausência de doenças. Por isso mesmo, o profissional de 
saúde, seja ele médico, enfermeiro, assistente social, técnico em 
 
 
 49 
saúde, ou sanitarista, tal como o educador, precisa ser um exemplo de 
harmonia. Ora, a verdadeira harmonia resulta justamente da coligação 
dos valores éticos, estéticos e espirituais. 
Estes por sua vez resultam de uma boa circulação da energia 
vital através dos centros energéticos, permitindo a expressão benéfica 
das vibrações de amor, alegria e beleza e a inspiração constante da 
sabedoria. Por isso, o profissional de saúde é antes de tudo um 
educador. Neste nível de compreensão, é difícil separar saúde de 
educação. Mas assim mesmo, os profissionais da saúde têm questões 
peculiares de Ética, sobretudo quando lidam com doenças. 
O conflito entre motivações e valores está constantemente 
presente e desafia o profissional da saúde, mais particularmente o 
médico e o enfermeiro. Atender a um chamado no meio da noite ou a 
uma emergência no meio de uma refeição ou da convivência com 
entes queridos coloca em confronto amor altruísta com necessidades 
pessoais. 
 Tratar e curar exigem dedicação, abnegação, compaixão e amor. 
Muito mais que isso, a presença da energia amorosa é altamente 
benéfica e curativa. 
 Como cientista, o médico precisa cultivar a verdade, sabendo 
expressá-la com amor e discernimento, pois a verdade, através do 
poder de sugestão, pode reforçar a cura se for positiva ou pode matar 
se for uma notícia ruim, passada com falta de sensibilidade. O efeito 
placebo da sugestão mostra o quanto esse fator é importante. 
 Convém citar também a modéstia como indispensável não só 
para reconhecer os próprios limites e aceitar a colaboração de 
colegas, como para estimular a cooperaçãoativa do paciente. 
 
 
 50 
Economia a serviço da Ética 
 
 Dalai Lama, diz que a desigualdade econômica, especialmente a 
que existe entre as nações desenvolvidas e as em desenvolvimento, 
é a maior fonte de sofrimento neste planeta. Embora percam dinheiro 
a curto prazo, as grandes corporações multinacionais devem cessar a 
exploração das nações pobres. 
 Extrair os poucos e preciosos recursos que as nações possuem 
simplesmente para alimentar o consumismo no mundo desenvolvido é 
desastroso; se isso continuar sem controle, todos nós sofreremos as 
consequências. 
O fortalecimento de economias fracas e não-diversificadas é 
uma política sábia, tanto para a estabilidade política quanto 
econômica. Por mais idealista que pareça, o altruísmo, e não apenas 
a competição e o desejo de riqueza, deveria ser uma força propulsora 
dos negócios. 
 Altruísmo, amor e compaixão pareciam até agora incompatíveis 
com Economia. O manejo do dinheiro e dos recursos materiais era 
visto como algo puramente material sem qualquer relação com 
espiritualidade. Mas se olharmos mais de perto, o dinheiro pode ser 
colocado a serviço de todos os valores, tanto os construtivos quanto 
os destrutivos. 
 Pelo dinheiro pode-se aumentar a segurança, obter mais prazer 
e mais poder; com dinheiro podemos ajudar muitas pessoas a aliviar 
seus próprios sofrimentos e a evoluir; podemos estimular a criatividade 
e dar melhores condições para a inspiração; podemos dar bolsas de 
 
 
 51 
estudo e melhorar as condições da educação para conhecimento e 
sabedoria. 
Mas com o mesmo poder econômico podemos matar, causar dor 
e sofrimento, abusar do poder para nos impormos aos outros, 
estimular o ódio, impedir a criatividade e estimular a ignorância, 
impedindo ou atrasando o despertar de cada ser para a sabedoria e o 
amor universal. 
 A opção não depende da Economia, mas do senso de 
responsabilidade de cada economista quando participa da liderança 
dos negócios da humanidade. 
 
Benefícios e prejuízos da ciência e da tecnologia. 
A transdisciplinaridade 
 Quando a ciência se destacou da filosofia e das tradições 
espirituais, ela se separou também da ética. Ao desenvolver uma 
estrita “objetividade”, sem o perceber, assumiu uma posição de 
aceitação do que chamamos “fantasia da separatividade sujeito-
objeto”; ao procurar ser “objetiva”, a ciência eliminou o sujeito da 
observação e experimentação, o que aumentou mais ainda o caráter 
fantasioso de tal operação. 
 Afastada da Ética e eliminando todo sentimento do sujeito, a 
Ciência se tornou aos poucos fria, puramente racional e desligada de 
toda ordem de preocupação humanitária. 
As aplicações da ciência através da tecnologia fizeram com que 
esta seguisse os passos da primeira. Sem nenhuma preocupação 
 
 
 52 
ética ou simplesmente humanitária, a tecnologia se colocou a serviço 
de qualquer atividade, seja ela construtiva, neutra ou destrutiva. 
Ao mesmo tempo em que permite aliviar o sofrimento e a dor de 
muitos doentes, aumentar a rapidez e eficiência das comunicações 
entre pessoas e povos e incrementar o prazer do conforto, essa 
mesma tecnologia está levando a humanidade ao suicídio através da 
destruição da vida no planeta Terra. 
 A ciência e a tecnologia não podem ser separadas nem do ser 
humano que observa e experimenta, nem dos princípios éticos. Se 
quisermos salvar a vida neste planeta e temos pouco tempo para isso, 
precisamos mais do que nunca colocar a ciência e a tecnologia a 
serviço da Ética e dos valores universais. 
Segundo a “Declaração de Veneza” a ciência não pode mais 
assistir impassivelmente às aplicações irresponsáveis de suas 
descobertas e chegou o momento do desenvolvimento de uma 
transdisciplinaridade, em que preconiza o encontro complementar e 
não o oposto, entre ciência e as grandes tradições culturais da 
humanidade. 
 A ciência atual está a serviço de certos valores éticos, como a 
verdade e a honestidade na observação dita objetiva dos “fatos” 
científicos; mas, ao realizar isso, o cientista precisa fazê-lo com amor 
aos seus semelhantes, colocando seus conhecimentos a serviço da 
preservação e do desenvolvimento da qualidade de vida. 
 
A nova ética nas empresas e organizações 
As empresas e organizações são o veículo do uso das 
tecnologias tanto construtivas como destrutivas. Sob a influência de 
 
 
 53 
diversas pressões externas e internas, tais como associações de 
consumidores, pressões ecológicas governamentais e privadas, 
aparecimento dos bancos de desenvolvimento ético e do conceito de 
investimento ético, tenderão a crescer e evoluir as empresas que 
adequarem suas finalidades, serviços e produtos a serviço dos valores 
universais. 
 A nova cultura organizacional holística precisa atender aos 
interesses do homem, da sociedade e da natureza. Ela precisará se 
centrar no que chamamos de quatro ps: 
 
• A pessoa, isto é, o público interno; 
• O pessoal dirigente ou subalterno que trabalha na organização; 
• A produção de bens ou de serviços; 
• A plenitude ou a realização plena dos objetivos mencionados. 
 
Unindo Pessoa e Produção, isto é, havendo cooperação máxima 
entre o pessoal e a empresa, se obterá o máximo de produção através 
do máximo de participação. 
 A questão ética é a seguinte: produção e participação a serviço 
de quem e de quê? Pode-se obter o máximo de cooperação para 
fabricar cigarros, armas ou agrotóxicos, contribuindo assim para matar 
maior número de pessoas com um programa de qualidade visando a 
excelência: excelência para matar? Eis a questão ética. 
 A resposta a esta questão está no quarto p: a plenitude. Para o 
público interno, plenitude significa não só poder atender plenamente 
através do trabalho, a maioria dos centros energéticos de cada 
trabalhador, tais como segurança, poder, amor, inspiração, 
 
 
 54 
conhecimento e transcendência, mas ainda saber que o seu trabalho 
está a serviço de algo útil e, se possível, de valores universais. 
 Com isso nascerá uma nova motivação profissional. É bastante 
conhecida a história dos dois pedreiros que começaram um muro ao 
mesmo tempo. Passados alguns dias, o muro de um estava baixinho, 
enquanto o outro já estava numa escada para poder continuar. 
Intrigado, um psicólogo perguntou ao primeiro o que ele estava 
fazendo. Ele respondeu: “Estou ganhando o meu dinheiro colocando 
um tijolo em cima do outro.” O outro respondeu, com olhos brilhantes 
de felicidade: “Estou construindo uma catedral!” 
 A nova motivação profissional consistirá em desenvolver 
empresas em que a direção e o pessoal não terão mais tempo nem 
esforço a medir, porque terão consciência da importância de sua 
tarefa para os outros e para si mesmos. 
Terão a certeza de que a sua organização é um organismo vivo, 
com finalidades e tecnologias construtivas, isto é, a serviço da 
manutenção e desenvolvimento da vida, da Verdade, da Beleza e do 
Bem. Esta é uma questão de sobrevivência para as empresas e para a 
humanidade. 
 
Política, transpartidarismo e valores éticos 
 
 Há um clamor público reinvindicando Ética na política e nos 
políticos. No mundo inteiro acontecem escândalos provocados por 
faltas éticas de políticos. 
A imprensa exibe termos como: corrupção, vergonha, 
malversação do dinheiro público, formação de quadrilha, falsidade 
 
 
 55 
ideológica, desonestidade, compra de votos, abuso de poder, 
demagogia, promessas não cumpridas. 
 O que o público exige é que seus representantes eleitos sejam 
antes de tudo altruístas, dedicados à causa pública e honestos.O 
público exige fidelidade aos compromissos assumidos durante as 
campanhas ou depois e aos partidos e programas que lhes são 
próprios. Podemos procurar em nome de quais valores os partidos se 
unem e costumam votar a unanimidade. 
Todos os partidos procuram, no discurso, atender as exigências 
do povo, colocando mais ênfase nos fatores ligados à segurança, 
outros nos fatores ligados ao exercício do poder político e nas 
relações de poder do partido com o poder do governo. 
 Não há dúvida de que o que mais une e desune os políticos é o 
amor ao poder. Ora, se há uma profissão que necessita, por definição, 
de mais altruísmo é sem dúvida a de político. O grande desafio para 
um político é passar do amor ao poder ao poder do amor. 
 Ao fazer isso, ele será um exemplo de amor e fraternidade e 
restabelecerá a unidade da trilogia: liberdade, igualdade e 
fraternidade, condição para a existência de uma verdadeira 
democracia. 
 
A Transreligiosidade e seus Valores 
 
 Da mesma forma que existe a possibilidade de um 
transpartidarismo político, tudo indica que está se caminhando para 
definir uma transreligiosidade, isto é, a descoberta dos princípios e 
valores comuns a todas as religiões e tradições espirituais. 
 
 
 56 
Os encontros inter-religiosos estão se multiplicando, o que deu 
margem para a criação de muitas associações inter-religiosas 
nacionais e internacionais. 
 Nestes encontros e organismos, correntes religiosas e 
espirituais que se achavam separadas e às vezes se criticavam 
reciprocamente, passam a se conhecerem e descobrem que seus 
pontos comuns são muito maiores do que suas divergências. Aos 
poucos, estão se definindo denominadores comuns. 
Para o Dalai Lama, “o objetivo da religião não é construir belas 
igrejas e templos, e sim cultivar as qualidades humanas positivas, 
como tolerância, generosidade e amor”. 
Todas as religiões do mundo, não importa qual a sua visão 
filosófica, fundamentam-se primeiro e principalmente no preceito de 
que devemos reduzir nosso egoísmo e servir aos outros. Os 
praticantes das diversas religiões devem compreender que cada 
tradição tem imenso valor intrínseco e meios de proporcionar saúde 
mental e espiritual”. 
 Uma única religião, como um único tipo de alimento, não pode 
satisfazer a todos. De acordo com suas variadas disposições mentais, 
algumas pessoas se beneficiam de um tipo de ensinamento e outras, 
de outro tipo. Cada fé tem a capacidade de produzir pessoas 
excelentes e generosas, e as diversas religiões podem ter êxito nisso, 
apesar de seguirem frequentemente filosofias diferentes. 
 Assim, não há motivo para nos engajarmos em fanatismos 
religiosos e intolerâncias que causam divisões, há, sim, todos os 
motivos para acalentar e respeitar todas as formas de prática 
espiritual. 
 
 
 57 
 A existência de uma verdade suprema ligada a uma sabedoria 
dentro de cada um de nós, inseparável do amor, é um denominador 
comum que irá cada vez mais favorecer o entendimento entre as 
religiões e tradições espirituais. 
 
Conflitos de valores no exercício do direito e da justiça 
 
 O Direito e as leis criadas pelos homens existem porque o 
homem ainda não despertou dentro de si a Ética espontânea de um 
lado, e porque a Ética moralista se revelou insuficiente para conter a 
avalanche de tendências destrutivas. 
 Assim, o Direito é antes de tudo uma instituição Ética, e as leis 
jurídicas estão a serviço de valores tais como a verdade, o que implica 
julgamento de valor e dualidade “certo-errado” e “bem-mal”. Assim, a 
justiça está a serviço da verdade e do bem, além da defesa da ordem 
e dos costumes sociais. 
 A justiça tem também como valor ético a igualdade dos homens 
perante a lei jurídica. Não podendo fazer preferências, ela assegura as 
democracias, graças ao princípio de equidade ou equanimidade. A 
justiça defende também o princípio ético de liberdade, protege o direito 
individual de segurança, de desfrutar em liberdade dos prazeres da 
vida e de exercer determinados poderes dentro da sociedade. 
 
 
 
 58 
 
A Ética do quarto poder 
 Um dos poderes mais importantes e por isso mesmo mais 
perigoso na vida moderna é o poder da mídia. Jornais, revistas, rádio, 
TV, órgãos publicitários não se limitam à informação, mas de fato 
contribuem para formar a opinião pública, modificar a adesão a valores 
e por isso tem força para mudar o comportamento efetivo de cidadãos 
isolados ou mesmo de uma população inteira. O poder de comunicar é 
na realidade o de educar. Comunicar é educar e educar é comunicar. 
Por todas essas razões, o valor ético que vem em primeiro lugar 
no trabalho da mídia é o culto à verdade. Mesmo quando se trata de 
propaganda comercial, a verdade é preferível à mentira. Como disse 
Bernard Shaw: “Pode-se enganar a um o tempo todo; pode-se 
enganar alguns algum tempo; mas não se pode enganar a todos o 
tempo todo.” 
 Uma publicação recente da UNESCO sobre educação na mídia 
mostra uma preocupação essencial ao reconhecer o poder educativo 
da mídia, de colocá-la a serviço do princípio de igualdade. 
 E, mesmo que todo mundo tenha acesso a todos os meios de 
comunicação, resta ainda a questão do conteúdo da comunicação, de 
que “verdade” está sendo comunicada. 
 Estamos aqui tocando na questão ética mais séria: que valores 
estão sendo passados para as populações através da mídia? Qual o 
efeito da propaganda comercial num lar pobre? Ou de uma telenovela 
sobre os conflitos da classe A num lar classe C e vice-versa? Como 
repercutem os programas publicitários e os valores transmitidos pela 
 
 
 59 
propaganda comercial na família e na escola onde os valores culturais 
talvez sejam outros? 
Ao mesmo tempo em que se quer fixar o homem no seu meio 
ambiente, incutindo-lhe valores através da escola, a publicidade 
centrada na cidade é um convite para o homem do campo emigrar, o 
que em geral contribui para o aumento das favelas urbanas. 
Mas pode-se também dizer que isto é um meio, a médio ou 
longo prazo, de levar o conforto da cidade para o campo. De qualquer 
forma, já que a função ética da mídia é educar, tudo que falamos a 
respeito da Ética na educação vale para a mídia. 
 
O meio ambiente como força propulsora dos valores 
éticos 
 
 O meio ambiente “exige” de nossa parte uma Ética que consiste 
em respeitar as leis da biodiversidade, a integralidade da matéria e a 
programação da natureza. Toda interferência nossa tem seu preço, 
suas consequências, entre as quais o fim eventual de nossa 
existência. 
Assim, a natureza exige do homem e da sociedade toda gama 
de valores éticos, o que nos dá segurança, prazer, poder, desde que 
tenhamos a abertura suficiente para nos deixar embalar por sua luz e 
constatar que nunca fomos separados dela, isto é, que somos a luz do 
universo. Descobriremos então que somos os órgãos de sentido, de 
sentimento do pensamento do ser. 
 A ética essencial é cuidar, tratar, curar, acarinhar o nosso 
planeta, dar-lhe amor; é função de todos nós e também de empresas e 
 
 
 60 
organismos, substituir valores voltados para a exploração e para o 
hiperconsumo. 
 
Lazer e tempo livre: um freio aos valores destrutivos? 
 
Entre as atividades humanas, o tempo livre e o lazer são uma 
garantia de liberdade em relação à atividade produtiva imposta pelas 
exigências sociais. O lazer garante a heterogeneidade, a diversidade, 
a vida. 
 O tempo livre garante sobretudo a plenitude da expansão de 
todos os valores universais ligados à verdade, à beleza ao amor. 
 É claro que não convém opor trabalho a lazer.

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