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Página 1 de 8 
 
DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO 
Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com 
efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida. 
§ 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em 
estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do pagamento, 
cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo 
de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa. 
§ 2º Decorrido o prazo do § 1º, contado do retorno do aviso de recebimento, sem 
a manifestação de recusa, considerar-se-á o devedor liberado da obrigação, 
ficando à disposição do credor a quantia depositada. 
§ 3º Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, 
poderá ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-
se a inicial com a prova do depósito e da recusa. 
§ 4º Não proposta a ação no prazo do § 3º, ficará sem efeito o depósito, podendo 
levantá-lo o depositante. 
O pagamento constitui modalidade de extinção das obrigações. Há 
casos, contudo, em que o devedor não consegue pagar ou obter a respectiva quitação 
do credor. Para tais casos, “previstos em lei”, concebeu-se a ação de consignação em 
pagamento, que possibilita ao devedor ou ao terceiro o depósito de determinada 
quantia ou coisa devida, com efeito de pagamento. Vale lembrar que nosso sistema 
permite que não só o devedor pague a dívida, mas também terceiros (interessados ou 
não, conforme se depreende do art. 304 e do seu parágrafo único do CC). 
Por meio da ação de consignação, o autor (devedor ou terceiro) 
pretende ver extinta uma determinada obrigação de pagar ou de entrega de coisa. O 
cumprimento da obrigação dá-se por meio do depósito (a consignação) do valor ou da 
coisa devida, que equivale ao adimplemento. O autor requer que seu depósito tenha o 
mesmo efeito liberatório que teria o pagamento. 
O que extingue (ou não) a dívida é o depósito, a própria consignação. 
A sentença, nesse contexto, limita-se a declarar se o depósito realizado preenche (ou 
não) os requisitos legais para considerar extinta a obrigação, daí sua indisfarçável 
natureza preponderantemente declaratória. 
As obrigações de fazer (ou de não fazer) ficam, pois, excluídas a 
priori do âmbito da ação consignatória, pois não se pode depositar tal tipo de obrigação, 
que, aliás, nem cabe no conceito de “quantia ou de coisa devida”. 
■ Hipóteses de cabimento 
O NCPC preocupa-se com o processo da consignação em pagamento e 
não propriamente com as situações em que ele é cabível. Tanto assim que 
o caput refere-se aos “casos previstos em lei” para abrir a via da consignatória. 
Página 2 de 8 
 
Nesse passo, é imperioso fazer uma rápida incursão no direito material 
para trazer as hipóteses contidas no art. 335 do Código Civil, que prevê justamente as 
situações em que “a consignação tem lugar”: 
“Art. 335 (…) 
I – se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou 
dar quitação na devida forma; 
II – se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição 
devidos; 
III – se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou 
residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; 
IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do 
pagamento; 
V – se pender litígio sobre o objeto do pagamento.” 
Analisando-se o conteúdo do mencionado artigo do Código Civil pode-
se dizer que as hipóteses de consignação em pagamento variam entre situações em que 
há recusa do credor (mora accipiens), previstas nos incisos I e II, e outras em que há 
incerteza sobre quem deva receber (incognitio), previstas nos incisos III e IV. 
Feito o esclarecimento a respeito das “hipóteses previstas na lei”, 
voltam-se os olhos para o processo de consignação. 
■ Consignação extrajudicial 
O § 1º esclarece que, se tratando de obrigação em dinheiro, poderá o 
devedor ou terceiro optar pelo depósito da quantia devida em estabelecimento 
bancário oficial no lugar do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso 
de recebimento, na qual lhe será conferido o prazo de dez dias para, querendo, 
manifestar sua recusa. Decorrido tal prazo – que será contado do retorno do aviso de 
recebimento – sem que haja a manifestação de recusa do credor, o devedor ficará 
liberado da obrigação e a quantia ficará à disposição do credor (§ 2º). 
Todo o procedimento a ser observado pela instituição financeira na 
consignação extrajudicial está disciplinado na Resolução n. 2.814, de 24.01.2001 do 
BACEN. 
Essa modalidade extrajudicial de consignação em pagamento somente 
tem cabimento quando se tratar de obrigação em dinheiro, porquanto processada 
perante estabelecimento bancário oficial no lugar do pagamento. Ademais, não é 
obrigatória, tanto assim que o artigo menciona que o devedor ou terceiro pode optar 
por essa modalidade. Dessa forma, não havendo interesse do devedor (ou do terceiro) 
pela via extrajudicial, poderá valer-se da ação judicial de consignação em pagamento, 
diretamente. 
Uma vez feita a opção pela via extrajudicial, se não houver a recusa 
expressa, ou seja, diante da anuência ou mesmo do silêncio do credor, a obrigação 
estará quitada, sem necessidade de uma ação judicial ulterior. Ocorrendo, porém, a 
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recusa – a qual terá que ser manifestada por escrito ao estabelecimento bancário – o 
devedor (ou o terceiro) poderá propor, dentro de um mês, a ação de consignação, 
instruindo a inicial com a prova do depósito feito extrajudicialmente e, bem assim, da 
recusa (§ 3º). Se, porventura, a ação não for proposta nesse prazo de até 30 dias, o 
depósito ficará sem efeito, podendo ser levantado pelo depositante. 
Assim, mediante a recusa escrita do credor, para que se possa 
aproveitar o depósito realizado extrajudicialmente, o devedor (ou o terceiro) deverá 
necessariamente ajuizar a ação judicial em até trinta dias. Por óbvio, é possível, 
posteriormente, a propositura de ação de consignação, mas, para tanto, o devedor 
deverá realizar um novo depósito. 
Por fim, um último esclarecimento. A Lei de Locações (Lei n. 8.245/91) 
nada diz a respeito da consignação extrajudicial e, diante do silêncio da lei específica, 
algumas dúvidas surgiram a respeito da possibilidade, ou não, do depósito extrajudicial 
de alugueres e encargos locatícios. A jurisprudência firmou entendimento quanto à 
possibilidade, com o que concordamos, até porque, nos termos da lei processual, é 
faculdade do devedor efetuar o depósito extrajudicial de qualquer prestação pecuniária, 
abrangendo-se também aquelas relativas a aluguel e encargos da locação. 
Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o 
devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada 
improcedente. 
Esse dispositivo, repetindo norma contida no art. 337 do Código Civil, 
prevê que a consignação deverá ser requerida no lugar do pagamento. A norma deve 
ser lida em conjunto com o art. 327, também do Código Civil, que trata do lugar do 
pagamento, verbis: “Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as 
partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da 
obrigação ou das circunstâncias. Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe 
ao credor escolher entre eles.” 
Dessa forma, a competência para o processamento da ação de 
consignação em pagamento é do foro onde deve ser efetuado o pagamento, pouco 
importando onde as partes possuem domicílio. A exceção a esta regra encontra-se na 
consignação relativa a alugueres de imóveis, regida pela Lei de Locação, na qual se 
observa que a competência é a do foro do lugar do imóvel. 
Com a consignação em pagamento, cessar-se-ão para o devedor, na 
data do depósito, osjuros, tratando-se de quantia, e os riscos, se o depósito recaiu sobre 
a “coisa devida”. Evidentemente, se o pedido da ação for julgado improcedente, o 
depósito não terá tido o condão de satisfazer a obrigação, não podendo ser reconhecido 
como pagamento e, portanto, o devedor continuará suportando os ônus decorrentes da 
mora. 
Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o 
devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as 
que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco) dias contados da data 
do respectivo vencimento. 
---------- 
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Quando a consignação versar sobre prestações periódicas, incidirá o 
dispositivo no art. 541. Não há necessidade de pedido expresso das parcelas vincendas 
na petição inicial da consignação em pagamento para depósito. Consignada uma das 
parcelas, as demais deverão ser depositadas, independentemente de autorização 
judicial, desde que em até cinco dias contados da data do respectivo vencimento, 
enquanto o processo estiver pendente. 
Questão interessante diz respeito à mora intercorrente. Imagine-se 
que o autor, no curso do processo, não deposita uma ou alguma das prestações 
periódicas ou o faz extemporaneamente, embora o depósito inicial tenha sido efetuado 
corretamente e dentro do prazo. O caso não implica a improcedência do pedido. A 
jurisprudência dominante compreende que “a falta de depósito oportuno das 
prestações subsequentes não afeta os depósitos feitos em tempo”, opinião que, a nosso 
ver, está em consonância com o texto legal, pois o autor “pode” (e não “deve”) continuar 
a consignar. 
Assim, no caso de procedência do pedido, a prestação ou as 
prestações consignadas, dentro do prazo, liberarão o devedor do pagamento. Contudo, 
as prestações depositadas fora do prazo (ou não realizadas), serão rejeitadas, não 
liberando o devedor da obrigação de pagá-las. De qualquer forma, uma vez ultrapassado 
o prazo de cinco dias do vencimento previsto nesse artigo, nada impede que o devedor 
lance mão de outro processo para consignar as prestações. 
Art. 542. Na petição inicial, o autor requererá: 
I - o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5 (cinco) 
dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese do art. 539, § 3º; 
II - a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação. Parágrafo 
único. Não realizado o depósito no prazo do inciso I, o processo será extinto sem 
resolução do mérito. 
A petição inicial da ação de consignação em pagamento deverá 
observar todos os requisitos gerais previstos nos arts. 319 e 320. Além disso, exige o art. 
542, dois requerimentos específicos e obrigatórios, quais sejam, o de depósito da 
quantia ou da coisa devida (inciso I) e a citação do réu para levantar o 
depósito ou oferecer contestação (inciso II). 
O primeiro dos requerimentos específicos (o de depósito da quantia 
ou da coisa) demanda uma análise imediata do juiz. A partir do seu deferimento, contar-
se-á o prazo de cinco dias para o autor fazê-lo, sob pena de extinção do processo sem 
resolução de mérito (parágrafo único). 
Quando a ação de consignação em pagamento decorrer da hipótese 
prevista no § 3º do art. 539 – ou seja, quando tentada a via extrajudicial, com recusa do 
credor – a petição inicial deverá ser instruída com a prova do depósito e da recusa. Trata-
se de requisito indispensável. Observe-se ainda que a ressalva contida no inciso I, in fine, 
corresponde à dispensa desse requerimento quando a ação tiver sido precedida da 
consignação extrajudicial. Isso porque o depósito já foi realizado anteriormente, daí a 
necessidade da petição inicial trazer a prova do depósito. 
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Art. 543. Se o objeto da prestação for coisa indeterminada e a escolha couber ao 
credor, será este citado para exercer o direito dentro de 5 (cinco) dias, se outro 
prazo não constar de lei ou do contrato, ou para aceitar que o devedor a faça, 
devendo o juiz, ao despachar a petição inicial, fixar lugar, dia e hora em que se 
fará a entrega, sob pena de depósito. 
Esse dispositivo traz a previsão de um incidente para escolha da coisa, 
quando a consignação tiver por objeto coisa indeterminada, e está diretamente 
relacionado com a previsão contida no art. 342 do Código Civil. 
Sobre o aspecto procedimental, é de se registrar que o credor deverá 
ser citado para, em cindo dias (caso não haja outro prazo previsto na lei ou no contrato), 
exercer seu direito de escolha ou para aceitar que o devedor (autor da consignatória) o 
faça. Diante da indeterminação do bem, cuja escolha recai sobre o credor, não há como 
se exigir que o autor da ação (devedor da obrigação) requeira o depósito da coisa sem 
que esta tenha sido definida. Se, no prazo previsto, o credor não fizer sua escolha, esta 
será devolvida ao devedor. 
No despacho inicial, o juiz deverá marcar lugar, dia e hora em que se 
fará a entrega, sob pena de depósito. Assim, citado o credor e feita a escolha, o devedor 
(autor da ação) saberá o que entregar no local, data e horário marcados. Não realizada 
a escolha pelo credor, devolve-se ao devedor a possibilidade de fazer a escolha para que 
no local, data e horário marcados, realize o depósito da coisa por ele escolhida. 
Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que: 
I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida; 
II - foi justa a recusa; 
III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; 
IV - o depósito não é integral. 
Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será admissível se o 
réu indicar o montante que entende devido. 
Como primeira observação, impõe-se dizer que, na ausência de outro 
prazo específico trazido pela lei, aplica-se a regra geral, de forma que o réu poderá 
contestar no prazo de 15 (quinze) dias. Uma vez contestada, a ação assume caráter 
ordinário não havendo diferenciação quanto ao seu procedimento. 
Esse dispositivo traz a previsão casuística das matérias de defesa 
alegáveis pelo réu, na tentativa de delimitar horizontalmente a cognição. A ideia é a de 
que os temas previstos nos incisos englobem toda a matéria de defesa possível. No 
entanto, não se pode entender tal rol como taxativo. Não se afasta, por exemplo, a 
possibilidade de oposição das objeções processuais. 
Eis as matérias elencadas no dispositivo: a) não houve recusa ou mora 
em receber a quantia ou a coisa devida (inciso I); b) foi justa a recusa (inciso II); c) o 
depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento (inciso III); d) o depósito 
não é integral (inciso IV). 
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A última das hipóteses mencionadas – a de que o depósito não é 
integral – diferentemente das demais, dá lugar a um procedimento diferenciado, 
permitindo ao devedor (autor da ação), quando possível, completar o depósito (art. 
545). Além disso, por força do parágrafo único, essa mesma alegação somente será 
admissível se o réu indicar o montante que entende devido, justamente para impedir 
esse tipo de afirmação de forma leviana. Como se vê, o próprio texto legal admitiu a 
possibilidade de pôr-se, na consignatória, a controvérsia sobre o quantum debeatur. 
A discussão que se coloca é saber se, mesmo quando for preciso 
discutir ou rever cláusulas contratuais ou mesmo realizar perícia, seria possível discutível 
o “quantum debeatur” em sede de ação consignatória. 
Em princípio, a ação de consignação não se presta a fornecer tutela 
tão ampla, devendo-se limitar aos casos em que a causa de pedir corresponde a uma 
recusa do credor em receber a quantia ou a coisa devida ou a incerteza sobre quem deva 
receber. Contudo, para que o juiz possa decidir a respeito da liberação da dívida, por 
vezes, haverá de examinar inúmeras questões, algumas inclusive de alta indagação, 
pertinentes à matéria de fato, à interpretaçãode cláusulas contratuais ou mesmo às 
normas legais. 
Por isso mesmo, a jurisprudência vem alargando o âmbito da ação de 
consignação, admitindo seu aforamento em qualquer caso em que se discuta a dívida e 
seu quantum, mesmo que para isso seja necessário até a realização de perícia técnica. 
O STJ, referendando essa tese, já se referiu expressamente à possibilidade de cumulação 
com o pedido de revisão de cláusulas contratuais, indicando que, nesses casos, deve ser 
adotado o procedimento ordinário. 
Como se observa, a cognição não pode ser limitada, sob pena de não 
se possibilitar a correta fixação do valor da dívida e seu quantum, obrigando o autor a 
ajuizar duas ações para se liberar da obrigação. Nesse contexto, pode o juiz examinar 
quantas questões sejam colocadas, admitindo-se a discussão a respeito do an e 
do quantum debeatur. 
De qualquer forma, o provimento judicial, na ação de consignação em 
pagamento, dada sua natureza declaratória, estará adstrito à declaração de liberação 
da dívida. As demais questões serão decididas incidenter tantum. Diferente será a 
situação se uma destas questões for prejudicial de mérito, abrangida pelo art. 503, 1º 
do NCPC. 
Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 
10 (dez) dias, salvo se corresponder à prestação cujo inadimplemento acarrete a 
rescisão do contrato. 
§ 1º No caso do caput, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa 
depositada, com a consequente liberação parcial do autor, prosseguindo o 
processo quanto à parcela controvertida. 
§ 2º A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre 
que possível, o montante devido e valerá como título executivo, facultado ao 
credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se 
necessária. 
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Esse dispositivo cuida, de forma mais detalhada, da hipótese de o réu 
alegar como defesa a insuficiência do depósito feito pelo autor. Quando isso ocorrer, 
faculta-se ao autor completá-lo, sempre que possível, ou seja, salvo se corresponder à 
prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato. 
Por força do § 1º, o valor (ou a coisa) depositado é considerado 
incontroverso e poderá ser levantado pelo réu, com a liberação parcial do autor, 
prosseguindo o processo somente quanto à diferença tida como controvertida. A norma 
visa ao aproveitamento da ação, possibilitando ao credor dispor do valor ou bem 
depositado imediatamente, sem necessidade de aguardar o seu final. 
O § 2º cuida da hipótese em que, proposta a consignação, o réu alegou 
a insuficiência do depósito e, nos dez dias que lhe foi conferido após a contestação, não 
o complementou, insistindo na expressão quantitativa declarada na inicial. Instaura-se, 
a partir daí, controvérsia sobre o montante devido, que será decidida por uma sentença, 
na qual, além de reconhecer a insuficiência do depósito, deverá, sempre que possível, 
determinar o montante devido. Não sendo possível a determinação da liquidez, o juiz 
deverá proferir uma sentença ilíquida. Essa decisão valerá como título executivo judicial 
em favor do réu, facultando-lhe, se líquida, instaurar o cumprimento da sentença nos 
próprios autos e, se ilíquida, a sua liquidação para posterior execução. Trata-se, como 
se vê, de uma ação de natureza dúplice. 
Art. 546. Julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e 
condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios. 
Parágrafo único. Proceder-se-á do mesmo modo se o credor receber e der 
quitação. 
Esse dispositivo só evidencia a natureza declaratória da sentença 
proferida na ação de consignação em pagamento. Julgado procedente o pedido 
formulado pelo autor, a sentença declarará a extinção da obrigação, condenando-se o 
réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios. É importante esclarecer que a 
extinção se dá mediante o depósito judicial realizado pelo autor. A sentença somente 
declara que houve a extinção da obrigação, como consequência do depósito. 
Por sua vez, o parágrafo único esclarece que quando o credor (réu da 
ação consignatória), ao invés de contestar, optar pelo levantamento do valor ou da coisa 
depositada, o efeito será o mesmo da procedência do pedido: o juiz proferirá sentença 
declarando a extinção da obrigação, condenando-o ao pagamento de custas e 
honorários advocatícios. 
Art. 547. Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o 
pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do 
crédito para provarem o seu direito. 
Esse dispositivo e o seguinte (art. 548) tratam da peculiar situação de 
dúvida subjetiva, ou seja, sobre quem deva legitimamente receber. É o caso previsto nos 
arts. 335, incisos IV e V, do Código Civil. 
Nessa hipótese, o autor deve requerer autorização para proceder 
imediatamente ao depósito e à citação dos possíveis titulares do crédito. Frise-se: esses 
Página 8 de 8 
 
possíveis titulares não serão citados para levantar o depósito, mas sim para provar o seu 
direito, ou seja, a titularidade do seu crédito. É claro que aqueles que se julgam titulares 
do crédito, podem, querendo, também contestar, apresentando as situações previstas 
no art. 544 e outras porventura pertinentes ao seu crédito. 
A partir da citação desses possíveis titulares do crédito, o 
procedimento deverá obedecer o art. 548 seguinte. 
Art. 548. No caso do art. 547: 
I - não comparecendo pretendente algum, converter-se-á o depósito em 
arrecadação de coisas vagas; 
II - comparecendo apenas um, o juiz decidirá de plano; 
III - comparecendo mais de um, o juiz declarará efetuado o depósito e extinta a 
obrigação, continuando o processo a correr unicamente entre os presuntivos 
credores, observado o procedimento comum. 
Citados os possíveis titulares, abrem-se três possibilidades: (i) não 
comparece ninguém para reclamar o crédito; (ii) comparece apenas um pretendente ao 
crédito; e (iii) comparece mais de um pretendente. 
Se ninguém comparecer, o juiz deverá converter o depósito em 
arrecadação de coisas vagas (art. 746), declarando a extinção da obrigação. 
Comparecendo um único pretendente, segundo o dispositivo legal em 
comento, o juiz “decidirá de plano”. Essa decisão, é bom que se diga, diz respeito tão 
somente à titularidade da obrigação. Mas, mesmo assim, o juiz somente decidirá “de 
plano” se tiver elementos para tanto. Nada obsta que haja necessidade de aprofundar 
a cognição, inclusive com a designação de audiência, se for o caso. 
Comparecendo mais de um pretendente à consignação, o processo 
seguirá sem o autor, mas somente entre os interessados. Por decisão interlocutória, o 
autor é excluído do processo, com a extinção da obrigação, prosseguindo a demanda 
somente em relação aos credores, pelo rito ordinário. O réu sucumbente deve realizar 
o pagamento dos honorários advocatícios e custas processuais, além do reembolso dos 
honorários do autor. 
Art. 549. Aplica-se o procedimento estabelecido neste Capítulo, no que couber, 
ao resgate do aforamento. 
Segundo o art. 2.038 do CC, fica proibida a constituição de enfiteuses 
e subenfiteuses, subordinando-se as existentes até sua extinção, às disposições do 
Código Civil anterior (1916). 
 
Nos termos do art. 693 do CC/16, todos os aforamentos, salvo acordo 
entre as partes, são resgatáveis 10 (dez) anos depois de constituídos, mediante 
pagamento de um laudêmio. Pode ocorrer que o enfiteuta queira resgatar o aforamento 
pagando o laudêmio e o senhorio direto recuse-se a receber ou mesmo esteja em local 
incerto ou inacessível. Tais hipóteses abrem a via da consignação em pagamento que 
será aplicada, no que couber, para resolvê-las. 
Página 1 de 8 
 
 
AULA 03 (Ação de exigir contas) 
 
Considerações iniciais: o instrumento processual para exigir contas é 
uma ferramentaprevista desde o CPC/39 que, naquele diploma legal, estava inserida no 
grupo das chamadas ações cominatórias. Com a mesma estrutura, essa ferramenta 
processual também era prevista no CPC/73, com o nome de ação de prestação de 
contas, alocada entre os procedimentos especiais, pois, além de ser um procedimento 
com estrutura peculiar, tinha uma aplicação bastante específica. 
No CPC/15, esse instrumento foi alocado também no grupo dos 
procedimentos especiais e, por conta de restrições no âmbito de sua aplicação, o 
legislador entendeu por bem alterar a denominação para ação de exigir contas. 
Conceito e finalidade: destina-se essencialmente àquele que deseja 
buscar a prestação de contas forçada de terceiro que, por força de lei ou previsão 
contratual, está obrigado a fazê-la. 
No contexto do CPC/73, a ação de prestação de contas permitia não 
só que a parte obrigasse o terceiro a prestar as contas, mas, também, que esse terceiro 
pudesse utilizar o mesmo procedimento para prestar as contas devidas. Com esse 
cenário, a doutrina apontava que, no procedimento de prestação de contas, havia a 
possibilidade de viabilizar duas pretensões, quais sejam: uma de prestar as contas por 
parte daquele que era obrigado a fazê-la; e outra, de exigir a apresentação das contas 
por aquele que era obrigado (CPC/73, art. 914). 
 
CPC/73, art. 914. A ação de prestação de contas competirá a quem tiver: 
I - o direito de exigi-las; 
II - a obrigação de prestá-las. 
 
Na previsão do instituto no CPC/15, o âmbito de aplicação deste 
instrumento foi significativamente restringido, uma vez que só se prestará para exigir a 
prestação de contas pelo obrigado. Foi por essa restrição que, como dito acima, essa 
ferramenta processual teve seu nome alterado de ação de prestação de contas para 
ação de exigir contas. 
Na opinião do Professor Evaristo Aragão Santos, o motivo dessa 
alteração de denominação do instituto não se justifica, na medida em que, tanto no 
regime antigo, como no Novo Código, o titular do direito busca efetivamente a 
prestação de contas, e não apenas a sua exigência, razão pela qual não haveria sentido 
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a nova denominação. De qualquer modo, essa alteração serve para fixar a restrição de 
aplicação do instituto. 
Legitimação: comporá o polo passivo da ação de exigir contas aquele 
que, por força de previsão legal ou contratual, tem a obrigação de prestá-las. 
Nesse ponto, é importante observar que não será qualquer relação 
jurídica de direito material que dará ensejo ao ajuizamento dessa ação, mas apenas 
aquelas relações jurídicas que versarem sobre administração de bens ou de interesses 
de terceiros. Ou seja, numa relação jurídica de empréstimo ou de financiamento 
imobiliário, que não cuidam de administração de bens ou de interesse de terceiros, não 
haverá a possibilidade de postular a prestação de contas (v. STJ, REsp 1.293.558/PR). 
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE 
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. 
CONTRATOS DE MÚTUO E FINANCIAMENTO. INTERESSE DE AGIR. 
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. 1. Para efeitos do art. 543-C do CPC, firma-se a 
seguinte tese: "Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui 
interesse de agir para a ação de prestação de contas." 2. No caso concreto, 
recurso especial não provido. (STJ, REsp 1293558/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE 
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/03/2015, DJe 25/03/2015). 
 
Feita essa delimitação do âmbito de aplicação do procedimento, por 
consequência, é possível identificar o polo ativo da relação processual, pois, apenas nas 
relações jurídicas de administração de bens ou interesses de outrem, é que a parte terá 
a legitimidade para postular a prestação de contas. 
STJ, Súmula 259: “A ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular 
de conta-corrente bancária.”. 
 
Requisito específico da petição inicial: uma inovação importante 
prevista pelo CPC/15, inspirada no entendimento jurisprudencial contemporâneo do 
Superior Tribunal de Justiça (v. STJ, EDcl no AgRg no REsp 1275095/PR), diz respeito à 
necessidade de o autor especificar detalhadamente na petição inicial as razões pelas 
quais está exigindo as contas, prevista no art. 550, §1º, CPC/15. 
 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. 
OMISSÃO. SUPRIMENTO. CARÁTER INFRINGENTE.POSSIBILIDADE. 
EXCEPCIONALIDADE. CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE 
CONTAS. PEDIDO GENÉRICO. 
OCORRÊNCIA. 1. Cabíveis embargos de declaração para suprir omissão do 
acórdão. 2.Admite-se, excepcionalmente, que os embargos, ordinariamente 
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integrativos, tenham efeitos infringentes, desde que constatada a presença de 
um dos vícios do artigo 535 do Código de Processo Civil, cuja correção importe 
alterar a conclusão do julgado. 3. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o 
ajuizamento de ação de prestação de contas pelo titular da conta-corrente, 
independentemente do fornecimento pela instituição financeira de extratos 
detalhados, não pode conter pedido genérico, porquanto, ao menos, deve 
especificar o período e quais movimentações financeiras busca esclarecimentos, 
o que não ocorreu no presente caso. 4. Embargos de declaração acolhidos com 
efeitos infringentes. (STJ, EDcl no AgRg no REsp 1275095/PR, Rel. Ministro 
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/04/2016, DJe 
19/04/2016). 
 
Apesar de o referido dispositivo adotar conceito aberto com a palavra 
“detalhadamente”, cuja delimitação conceitual deverá ser devidamente preenchida 
pela jurisprudência, desde já é possível afirmar que a petição inicial estará efetivamente 
detalhada para ser admitida e processada quando o autor indicar o motivo e as razões 
pelas quais pretende a prestação de contas. 
 
Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a 
citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) 
dias. 
§1o Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas 
quais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa 
necessidade, se existirem. 
§2o Prestadas as contas, o autor terá 15 (quinze) dias para se manifestar, 
prosseguindo-se o processo na forma do Capítulo X do Título I deste Livro. 
§3o A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada 
e específica, com referência expressa ao lançamento questionado. 
§4o Se o réu não contestar o pedido, observar-se-á o disposto no art. 355. 
§5o A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as 
contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as 
que o autor apresentar. 
§6o Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5o, seguir-se-á o 
procedimento do § 2o, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 
(quinze) dias, podendo o juiz determinar a realização de exame pericial, se 
necessário. 
 
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Procedimento: o procedimento da ação de exigir contas é divido em 
duas grandes etapas, quais sejam: i) inicialmente, a cognição do órgão jurisdicional se 
concentrará no dever ou não de o réu prestar as contas; e ii) uma vez definida a 
existência do dever de prestação de contas, a cognição jurisdicional se voltará para as 
contas apresentadas pelo réu e apurará o saldo. 
Iniciado o procedimento, o réu será citado para apresentar sua 
contestação no prazo de 15 (quinze) dias ou, se, desde já reconhecer o dever de prestar 
as contas, nesse mesmo prazo poderá prestá-las. Poderá o réu, ainda, ficar silente, não 
contestando ou apresentando as contas, caso em que será facultado ao autorapresentá-las (art. 550, §5º). Nessa primeira fase, qualquer que seja a postura do réu, o 
juiz deverá encerrá-la por meio de um pronunciamento judicial de mérito que reconheça 
a necessidade ou não de prestação de contas. 
Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a 
citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) 
dias. 
(…) 
§5o A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as 
contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as 
que o autor apresentar. 
(...) 
 
Uma questão extremamente importante é a definição da natureza da 
decisão que põe fim à primeira fase da ação de exibir contas, principalmente para a 
definição de qual recurso será cabível. No regime anterior, o CPC/73 dispunha que as 
fases da ação de prestação de contas seriam encerradas por meio de sentença e, por 
conta disso, convencionou-se que o recurso cabível seria a apelação. No entanto, ainda 
no contexto do código anterior, a doutrina dizia que a sentença que colocava fim à 
primeira fase não poderia ser chamada de sentença propriamente dita, prevista no art. 
162, §1º, do CPC/73, mas, por uma questão de adequação do sistema, o recurso seria a 
apelação. 
CPC/73, art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias 
e despachos. 
§1º Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 
267 e 269 desta Lei. 
(...) 
 
No âmbito do CPC/15, essa discussão foi bastante elucidada, na 
medida em que é possível afirmar que a primeira fase do procedimento especial de 
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exigir contas será encerrada por meio de uma decisão interlocutória de mérito. Essa 
conclusão deriva, principalmente, da nova conceituação de sentença prevista no art. 
203, §1º. 
Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões 
interlocutórias e despachos. 
§1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença 
é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 
487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a 
execução. 
(...) 
 
Ou seja, o pronunciamento judicial que encerra a primeira fase da ação 
de exigir contas não põe fim ao procedimento, mas inicia efetivamente o procedimento 
de apresentação e julgamento das contas, razão pela qual não poderá ser classificado 
como sentença, mas, sim, como decisão interlocutória de mérito, impugnável por meio 
de agravo de instrumento. 
Todavia, esse pronunciamento que resolve a primeira fase poderá ser 
considerado sentença quando extinguir o procedimento por entender que o réu não 
tem o dever de apresentar as contas, restando, nessa situação, preenchidos os 
pressupostos de identificação do ato jurisdicional como sentença (encerrar o 
procedimento + conteúdo de mérito) que, portanto, seria recorrível por meio de 
apelação. 
Uma vez reconhecido o dever de o réu prestar as contas, iniciará, 
então, a segunda fase do procedimento, surgindo ao réu a possibilidade de adotar duas 
condutas: i) apresentar as contas pretendidas pelo autor; ou ii) ficar silente e não 
cumprir a determinação judicial de apresentar as contas. 
No regime anterior, o réu era instado a apresentar as contas no prazo 
de 48 (quarenta e oito) horas; ao passo que, no regime do CPC/15, o réu deverá 
apresentá-las no prazo de 15 (quinze) dias, conforme o §5º, do art. 550. 
 
Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a 
citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) 
dias. 
(…) 
§5o A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as 
contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as 
que o autor apresentar. 
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(...) 
 
O regime anterior, também, determinava que o réu apresentasse as 
contas de forma mercantil, previsão que não está contemplada no CPC/15 que, por sua 
vez, determina que as contas devam ser apresentadas de forma adequada, instruídas 
com os documentos justificados e com especificação de receitas, despesas, 
investimentos e saldo (art. 551, §2º). 
Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, 
especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se 
houver. 
(…) 
§2º As contas do autor, para os fins do art. 550, §5º, serão apresentadas na 
forma adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-
se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver, bem como 
o respectivo saldo. 
 
Na visão do Professor Evaristo Aragão Santos, essa mudança traz uma 
possibilidade de flexibilizar essa apresentação, de modo a permitir a devida adequação 
ao caso concreto. A doutrina já dizia que a expressão “forma mercantil” estaria 
tecnicamente equivocada, pois não existiria uma forma mercantil de apresentar as 
contas, sendo mais adequado, portanto, o uso da expressão “contábil”. A expressão 
“adequada” é melhor, na visão do Professor Evaristo Aragão Santos, uma vez que evita 
interpretações equivocadas sobre os termos “mercantil” ou “contábil”. 
Realizada a prestação de contas de forma adequada pelo réu, ao autor 
é permitido, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentar manifestação sobre as contas 
apresentadas, conforme o art. 550, §2º, do CPC/15. 
 
Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a 
citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) 
dias. 
(…) 
§2o Prestadas as contas, o autor terá 15 (quinze) dias para se manifestar, 
prosseguindo-se o processo na forma do Capítulo X do Título I deste Livro. 
(...) 
 
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Importante inovação está no §3º, do art. 550, que prevê que também 
essa impugnação apresentada pelo autor deverá ser fundamentada e específica, com 
referência expressa ao lançamento questionado; essa regra se justifica na medida em 
que, no regime antigo, o autor comumente apresentava impugnação com argumentos 
genéricos, deixando de indicar especificamente os motivos pelos quais entendia que as 
contas apresentadas deveriam ser rejeitadas, causando distorções no procedimento. 
 
Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a 
citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) 
dias. 
(…) 
§ 3o A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada 
e específica, com referência expressa ao lançamento questionado. 
(...) 
 
Portanto, ao impugnar as contas, o autor deverá indicar 
especificamente quais os valores que não concorda e os motivos de sua discordância, 
permitindo, dessa forma, que o réu possa se manifestar de maneira específica e 
qualificada sobre os pontos controvertidos das contas apresentadas, inclusive com 
apresentação de documentos para elucidar a questão. 
É importante mencionar, ainda, que o §1º do art. 551 do CPC/15 
permite que o juiz, de acordo com as peculiaridades do caso concreto, estabeleça prazo 
razoável para que o réu apresente documentos para elucidar os pontos impugnados e 
controvertidos pelo autor. 
Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-
se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver. 
§ 1o Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz 
estabelecerá prazo razoável para que o réu apresente os documentos justificativos 
dos lançamentos individualmente impugnados. 
(...) 
 
Exauridos os debates sobre as contas apresentadas, iniciará, então, a 
fase de julgamento das contas.Registre-se que o juiz, ao se debruçar sobre as contas apresentadas, 
não irá apenas analisar as contas propriamente ditas, mas, também, confrontá-las com 
a própria relação jurídica de direito material estabelecida entre as partes. Por outro 
lado, não será permitido ao juiz revisar ou alterar a relação jurídica estabelecida entre 
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as partes, devendo a cognição se restringir às contas apresentadas e ao confronto com 
os termos da relação jurídica firmada entre as partes. 
É importante que se diga que a cognição do juiz sobre as contas 
apresentadas e o confronto com a relação jurídica firmada entre as partes não se 
limitará ao instrumento contratual pactuado entre as partes, de modo que o juiz poderá, 
também, analisar outras situações e argumentos que gravitam em torno da relação 
jurídica que derivou o pedido de prestação de contas, como, por exemplo, a prática 
reiterada de alguma conduta pelas partes e que poderá ser incorporada na análise do 
juiz. 
Feita essa análise pelo julgador, presume-se que será verificado um 
valor como saldo das contas apresentadas, devendo, então, a sentença que resolver a 
segunda fase desse procedimento fazer a declaração e reconhecer a existência desse 
valor (art. 552). 
Art. 552. A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial. 
Isso quer dizer, portanto, que o julgador poderá concluir que o saldo 
será em favor tanto do autor como do réu, revelando-se o caráter dúplice desse 
procedimento. Daí é possível concluir que o réu não precisará necessariamente 
apresentar reconvenção para que seja reconhecido um saldo em seu favor. 
Contra esse pronunciamento judicial, por ter natureza de sentença, 
caberá recurso de apelação. 
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AULA 04 - DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS 
 
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a 
que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela 
cujos pressupostos estejam provados. 
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número 
de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados 
no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação 
do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência 
econômica, da Defensoria Pública. 
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará os 
ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem 
encontrados. 
§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação 
prevista no § 1º e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-
se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do 
conflito e de outros meios. 
As disposições processuais aplicáveis às ações possessórias no NCPC 
não contêm, no geral, muitas mudanças relativamente ao tratamento dado ao tema 
pelo CPC/73. 
Como veremos nos comentários desenvolvidos a seguir, as alterações 
mais significativas dizem respeito ao tratamento expresso que o NCPC dá às situações 
envolventes de invasões coletivas, nas quais a multiplicidade de integrantes do polo 
passivo e o fato de serem estes, no mais das vezes, desconhecidos, produzem 
importantes impactos procedimentais nas ações possessórias. 
■ Fungibilidade aplicável às ações possessórias 
O art. 554 do NCPC estabelece a aplicação, às ações possessórias, do 
princípio da fungibilidade, vale dizer, caso a parte proponha uma ação de reintegração 
de posse, sendo o caso exigente de ação de manutenção de posse, deverá o órgão 
jurisdicional receber a demanda como de manutenção de posse fosse. Trata-se de 
disposição legal fortemente influenciada pelo princípio da instrumentalidade das 
formas, e quer nos parecer que tal se dá em virtude da aguda relevância que as questões 
atinentes à posse ostentam no cenário jurídico nacional. 
Em virtude da maior relevância que o ordenamento jurídico atribui a 
direitos como o direito à posse, não obsta à proteção possessória eventual equívoco 
incorrido pela parte ao propor uma ação possessória em lugar de outra. 
De se observar que, além do equívoco da parte na propositura da ação 
possessória, o dispositivo legal em apreço também se justifica em face de casos em que 
a situação se altera, normalmente evoluindo de ofensa de menos para mais grave: tal 
se dá, por exemplo, quando o cenário inicial invocado pela parte é de turbação (não se 
deu, ainda, a perda total da posse, ou a total interrupção de seu exercício, mas há atos 
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que impedem o pleno exercício da posse), porém evolui para cenário de esbulho (no 
decorrer da demanda, radicalizam-se atos agressivos à posse e esta é integralmente 
extraída do autor da ação). 
O que releva, portanto, é que se concede ao magistrado liberdade para 
atribuir ao caso a proteção possessória que se mostre adequada à defesa dos interesses 
do possuidor vítima de ilícito possessório, reintegrando-o ou mantendo-o na posse, 
independentemente de ter sido ajuizada a ação correta para o caso concreto (se de 
reintegração ou de manutenção de posse). 
Ainda acerca das ações possessórias, cumpre observar que, em 
demandas de tal natureza, apenas é passível de proteção a posse, vale dizer, não se 
admite discussão de direito real, o que apenas seria discutível em ação de caráter 
dominial (ações petitórias, como o é a ação reivindicatória de bem imóvel). Entende-se 
poder discutir domínio quando ambas as partes discutem a posse como decorrência de 
domínio. 
As ações possessórias subdividem-se em: (i) reintegração de posse 
(quando houver esbulho, isto é, perda total da posse), (ii) manutenção de posse (quando 
ocorrer turbação da posse, ou seja, atos de agressão à posse, porém se existir privação 
integral desta em detrimento do possuidor), e (iii) interdito possessório (quando não 
houver ocorrido, ainda, ato de agressão à posse, mas tal for iminente). 
■ Ações possessórias ajuizadas em caso de invasão coletiva 
Os §§ 1º a 3º do art. 554 contêm importantes inovações relativamente 
ao CPC/73: cuidam de uma realidade não contemplada na codificação atual (1973), qual 
seja, a das invasões coletivas e a dificuldade de citação dos réus em ações possessórias 
em que o polo passivo será formado por grande número de pessoas. 
O CPC atual (1973), não foi concebido como codificação destinada ao 
regramento de litígios coletivos, com grande número de integrantes dos polos ativo e 
passivo das ações. O CPC/73 destina-se precipuamente ao regramento de litígios 
individuais, nada mais. 
No campo das ações possessórias, tornaram-se relativamente 
frequentes as situações em que o número de invasores é elevado, exigindo-se no 
processamento de tais demandas algumas soluções que, ao longo dos tempos, foram 
sedimentando-se jurisprudencialmente. É o caso, por exemplo, da formação do polo 
passivo e da citação dos réus nas ações possessórias com múltiplos e desconhecidos 
réus (invasões coletivas). 
Coube, como dito, à jurisprudência a atividade de dissecação do 
problema, até que se chegou, notadamente por conta das invasões coletivas 
protagonizadas por movimentos sociais, à admissão, em hipóteses de invasões coletivas, 
da não individualização imediata (rectius, ao tempo da propositura da ação) de todos os 
réus, em se tratando de possessórias destinadas a evitar ocupações irregulares de 
caráter multitudinário. 
Ou seja: sendo a ação possessória ajuizada em face de invasão 
coletiva, em que é no mais das vezes impossível individualizar os réus que comporão o 
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polo passivo da demanda, poderá a ação ser ajuizada em face de réus indeterminados, 
os quais serão identificados quando da diligência citatória.10. 
E como se dará a citação destes réus de qualificação ignorada, comohabitualmente acontece nas situações de invasões coletivas? A citação deverá dar-se 
necessariamente por oficial de justiça, de acordo com o que dispõe o § 1º do art. 554 do 
NCPC, que deverá comparecer ao local da invasão uma única vez e citar os ocupantes ali 
encontrados, identificando-os na certidão de citação para que posteriormente 
componham, já individualizados e qualificados, o polo passivo da ação. 
Os ocupantes que não estiverem no local quando desta diligência 
citatória única, e os que estiverem, porém se recusarem a identificar-se, serão citados 
por edital, a teor do que dispõe o § 2º do art. 554 do NCPC. 
Nota-se a essência do dispositivo legal sob análise: será réu da ação 
possessória ajuizada em situação de invasão coletiva quem for identificado e citado no 
dia da única diligência de citação que se realizará, e os demais ocupantes da área 
considerar-se-ão citados por edital, ainda que não localizados pessoalmente ou não 
identificados (porque se recusaram, por exemplo) 
Em virtude de invasões coletivas cuidarem de direitos transindividuais 
(nos parece que a hipótese é de interesses individuais homogêneos por parte dos réus, 
em virtude de terem origem comum e pertencerem a um número determinável de 
pessoas), faz-se de rigor a intimação do Ministério Público, a atuação da Defensoria 
Pública em defesa dos economicamente hipossuficientes (§ 1º do art. 554 em análise). 
Em face de multiplicidade de réus e da possibilidade de grande parte 
deles ser citada de maneira ficta, por edital, deverá ser dada a mais ampla publicidade 
possível acerca da existência da ação e dos prazos processuais, podendo o juiz valer-se, 
a teor do art. 554, § 3.º, do NCPC, “de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação 
de cartazes na região do conflito, e de outros meios”. 
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: 
I - condenação em perdas e danos; 
II - indenização dos frutos. 
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária 
e adequada para: 
I - evitar nova turbação ou esbulho; 
II - cumprir-se a tutela provisória ou final. 
Além da proteção possessória em si, a ação poderá conter pedidos 
cumulados de condenação em perdas e danos, de indenização relativamente aos frutos 
do imóvel esbulhado ou turbado que o autor poderia haver percebido caso não 
houvesse ocorrido a violação à posse, e de todas as medidas necessárias à prevenção de 
novas turbações ou esbulhos e à concretização da tutela possessória provisória ou final. 
São passíveis de cumulação com o pleito de proteção à posse, por 
exemplo, a reparação dos provocados diretamente decorrentes dos atos de esbulho ou 
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de turbação (derrubada de cercas, muros), além dos lucros cessantes (o que o autor 
deixou de auferir em virtude da violação à posse praticada pelo réu, como rendas 
locatícias ou atinentes a outros negócios que poderiam ser realizados caso não houvesse 
ocorrido a violação da posse). 
Dentre as medidas destinadas à coibição de novos atos de violação à 
posse e à concretização da tutela provisória ou final concedidas na ação possessória, 
inclui-se a cominação de multa periódica, em caso de reiteração dos atos lesivos à posse, 
o desfazimento de modificações lesivas à posse para fins de asseguração do resultado 
prático da tutela possessória provisória ou final, de modo a se restituir o bem objeto do 
esbulho ou da turbação ao seu estado anterior à violação da posse, além de quaisquer 
outras providências que o órgão jurisdicional reputar necessárias, dado que o rol do art. 
555 do NCPC não é taxativo. 
A multa pecuniária destina-se à coibição da repetição de atos de 
violação da posse: poderá o órgão jurisdicional, verbi gratia, impor ao réu multa diária 
enquanto perdurar a violação à posse, ou multa por ato configurador de esbulho ou 
turbação. 
O pleito condenatório à reparação das perdas e danos decorrentes da 
violação à posse destina-se a indenizar o autor relativamente a todas as atividades 
prejudiciais que lhe houverem sido provocadas pelo violador da posse, tais quais 
danificações a prédios existentes no imóvel, destruição de bens e pertences, destruição 
de lavoura etc. 
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua 
posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos 
resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor. 
Diz o art. 556 do NCPC que o réu, citado para se defender em ação 
possessória, poderá deduzir, além da defesa, pedido de proteção possessória em face 
do autor, bem como a reparação dos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho. 
O procedimento das ações possessórias permite, ex lege, que o réu, 
além de resistir (contestar), formule pedido de proteção à sua posse, em desfavor do 
autor, fazendo-o no corpo da própria contestação. 
Ressalte-se que o pedido dedutível pelo réu tem de ser de exclusivo 
caráter possessório. O pedido de proteção possessória formulado pelo réu, e 
eventualmente cumulado com perdas e danos, será resolvido conjuntamente com o 
pedido do autor, na mesma sentença, e serão também objeto de uma só instrução 
probatória. 
Ponderamos que a natureza dúplice das ações possessórias tornaria 
até mesmo dispensável a expressa previsão legal de que o réu poderá, em contestação, 
formular pretensão de proteção possessória. Com efeito, talvez o artigo sob análise faça 
sentido relativamente aos pedidos cumuláveis ao de proteção possessória (indenização 
por danos emergentes e lucros cessantes, por exemplo), porém nos parece uma 
redundância afirmar que o réu poderá pleitear proteção possessória em sede de 
contestação à ação possessória, dado que tal proteção pode derivar automaticamente 
da sentença caso a ação seja julgada improcedente. 
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De fato, as ações possessórias têm, conforme diversos entendimentos 
doutrinários, caráter dúplice, mas não em virtude de o réu poder formular pedido de 
proteção possessória em contestação por força do art. 556 em análise, porém em 
decorrência do fato de que, nas ações dúplices, qualquer das partes litigantes poderá, 
dada a própria natureza da discussão jurídica estabelecida (se a posse lícita é do autor 
ou é do réu), obter a tutela possessória, firmando-se quem é o legítimo possuidor, 
independentemente do fato de o vencedor integrar o polo ativo ou passivo da ação.11. 
A natureza das ações dúplices permite que qualquer das partes, 
independentemente de integrar o polo ativo ou passivo da demanda, experimente 
vitória judicial que lhe assegure o bem da vida. Araken de Assis define a questão com 
propriedade: “Do prisma material, é dúplice a ação, provocando o iudicium duplex, na 
qual a contestação do réu já basta à obtenção do bem da vida. Em geral, o autor pede e 
o réu somente impede; na actio duplex, o ato de impedir (contestação) já expressa um 
pedido contrário. Tal característica deriva do direito material posto em causa 
(rectius: mérito, pretensão processual ou objeto litigioso)”.12. 
Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao 
réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for 
deduzida em face de terceira pessoa. 
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a 
alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa. 
O art. 557 do NCPC estabelece vedação à propositura de ação petitória 
(destinada ao reconhecimento de domínio, como é o caso da ação reivindicatória) 
durante o curso de ação possessória. 
A vedação em questão justifica-se porque, no âmbito da ação 
possessória, não pode haver discussões sobre propriedade. Só se ambas as partes 
estiverem discutindo a posse com fundamento na propriedade. 
O fenômeno jurídico “posse” é distinto do fenômeno jurídico 
“propriedade”, e a primeira não decorre necessariamente da segunda,daí a intenção do 
legislador de, nas ações possessórias, restringir o debate a ser travado entre as partes 
ao tema “posse”, impedindo-se que os litigantes ajuízem ação entre si de caráter 
dominial tendo por objeto bem cuja posse é discutida. 
A parte final do caput do art. 557 do NCPC expressamente ressalva que 
tanto o autor quanto o réu da ação possessória não poderão estabelecer entre si 
discussão judicial de caráter dominial sobre o bem em disputa possessória, porém 
poderão fazê-lo com terceiro: “exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira 
pessoa”. 
A impossibilidade de ser proposta ação petitória durante a tramitação 
da ação possessória (de reconhecimento de domínio), ou mesmo de ser formulado 
pedido contraposto neste sentido, não quer dizer, no entanto, que nas possessórias será 
vedada qualquer discussão de fundo dominial: o que é defeso é que a discussão dominial 
(sobre propriedade ou outros direitos reais) componha a causa de pedir e seja o pedido 
deduzido na ação possessória, ou seja, a ação possessória não pode consistir em veículo 
para a definição jurisdicional da propriedade atribuível ao autor ou ao réu. 
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A discussão dominial, entretanto, pode ser entabulada 
incidentalmente (apenas incidentalmente, reitere-se) na ação possessória, como 
argumento tendente à demonstração da posse e, assim, obter-se a proteção possessória 
(por exemplo, o autor da ação possessória, mostrando-se dono do bem, comprova, 
também, ter a posse deste). 
O fenômeno jurídico “posse”, como se disse, é distinto da 
propriedade, podendo ou não desta decorrer. O parágrafo único do art. 557 do NCPC, 
de maneira acerta, dispõe que a proteção possessória reivindicada (reintegração ou 
manutenção) não será obstada pela mera alegação de propriedade ou de outro direito 
sobre a coisa. Há que se debater fundamentalmente a posse, que pode ser 
legitimamente exercida mesmo em face do proprietário do bem que, por alguma 
circunstância (legal ou contratual), não seja o legítimo possuidor. 
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as 
normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e 
dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. 
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o 
procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. 
O art. 558 sob análise traz importante disposição normativa acerca do 
regime legal aplicável às ações possessórias, levando-se em conta o momento de 
ocorrência da violação à posse. 
Se as ações de manutenção ou de reintegração de posse forem 
propostas dentro do prazo de ano e dia contado da turbação ou do esbulho, o respectivo 
processamento se dará conforme o regramento contido nos arts. 560 e ss. do NCPC e o 
procedimento será especial, cuja principal característica é a possibilidade de concessão 
de liminar possessória inaudita altera parte e sem necessidade de demonstração de 
urgência, de risco de dano irreparável ou de risco de difícil reparação ou de viabilidade 
jurídica da pretensão autoral; se as ações possessórias em questão forem propostas 
após o prazo de ano e dia contado da turbação ou do esbulho, o rito aplicável será o 
comum. 
De se observar que, mesmo obedecendo ao rito comum, a ação 
possessória não estará alijada da possibilidade de concessão de liminar. 
Com efeito, se proposta após ano e dia da turbação ou do esbulho, a 
ação possessória comportará pleito de medida liminar, porém a título de tutela de 
urgência ou de evidência (tutelas provisórias), sendo possível a concessão de 
reintegração ou manutenção de posse em caráter liminar, desde que verificada a 
presença dos requisitos autorizadores, particularmente o risco de dano irreparável e a 
viabilidade jurídica da pretensão (o que não se aplica à liminar possessória típica das 
ações possessória propostas em até ano e dia contados da turbação ou do esbulho). 
Por derradeiro, registre-se que as ações possessórias propostas em até 
ano e dia da violação ou do esbulho são chamadas de ações de “força nova”; as ações 
possessórias aforadas posteriormente a este prazo são denominadas de ações de “força 
velha”. 
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As ações possessórias de “força nova” comportam concessão de 
liminar demonstrando- se apenas a violação à posse legítima e o ajuizamento da ação 
em até ano e dia contados de predita violação; as ações de “força velha” comportam a 
concessão de tutela provisória (de urgência ou de evidência), preenchendo-se os 
requisitos respectivos. 
Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente 
mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso 
de sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 
5 (cinco) dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser 
depositada a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte 
economicamente hipossuficiente. 
Em caso de concessão da liminar de manutenção ou de reintegração 
de posse, o réu violador da posse será compelido a deixar o imóvel total ou parcialmente 
invadido. Não obstante, caso este mesmo réu demonstre que o autor da ação 
provisoriamente mantido ou reintegrado em sua posse (em virtude de decisão liminar) 
não dispõe de situação financeira suficiente à reparação de perdas e danos suportados 
pelo requerido caso este seja vitorioso na demanda (vale dizer, caso lhe seja assegurada 
a posse, julgando-se improcedente a ação possessória proposta pelo autor e revogando-
se a liminar), poderá ser pleiteada a prestação de caução por parte do requerente. 
A caução, que pode ser real ou fidejussória, tem por escopo preservar 
o réu relativamente aos danos eventualmente decorrentes da privação de posse que lhe 
foi liminarmente imposta e que, ao fim da ação, mostrou-se improcedente, dado o 
desfecho da ação desfavoravelmente ao autor. 
Necessário apontar que a prova da alegada inidoneidade financeira do 
autor deverá ser contundente, conclusiva, devendo ser necessariamente observado o 
contraditório relativamente à apuração da afirmação de insuficiência patrimonial do 
autor para fazer frente aos danos eventualmente suportados pelo réu. 
Apenas estará dispensado o autor da prestação de caução ora 
analisada em caso de demonstração, comprovada, de sua hipossuficiência econômica. 
Uma crítica merece ser expendida acerca do dispositivo legal sob 
comento: por que não há disposição no mesmo sentido benéfica ao autor, em caso de 
dar-se o oposto, ou seja, em caso de ser-lhe negada liminar possessória, restando o réu 
na posse do imóvel, e sobrevir sentença de procedência da ação possessória? Trata-se 
de questão que, delege ferenda, poderia ser merecedora de atenção por parte do 
legislador processual civil. 
SEÇÃO II 
DA MANUTENÇÃO E DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE 
Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e 
reintegrado em caso de esbulho. 
Como já apontamos nos comentários ao art. 554 do NCPC, as violações 
à posse podem ser integrais (há esbulho, ou interrupção integral do exercício da posse) 
ou parciais (há turbação, ou práticas que dificultam ou embaraçam o exercício pleno da 
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posse), caso em que caberá, respectivamente, ou ação de reintegração de posse, ou 
ação de manutenção de posse. 
Art. 561. Incumbe ao autor provar: 
I - a sua posse; 
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; 
III - a data da turbação ou do esbulho; 
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a 
perda da posse, na ação de reintegração. 
 
■ Prova da posse 
Por primeiro, incumbe ao demandante demonstrar ser efetivamente 
possuidor do bem cuja posse afirma ser objeto de violação. A comprovação da posse, 
de forma documental ou oral em audiência de justificação, é necessária paraque, a um 
só tempo, demonstre-se interesse de agir (necessidade da tutela possessória) e se 
obtenha, no mérito, a proteção possessória objetivada. 
A prova da posse pode dar-se de diversas maneiras: documento 
comprobatório de aquisição de direitos sobre o imóvel (compromisso de compra e 
venda, instrumento de cessão de posse, contrato de locação etc.). Além de tais 
documentos, há outros elementos probatórios que sugerem o exercício da posse: 
comprovação de pagamento de contas e tributos incidentes sobre o imóvel (impostos 
prediais, contas de água, luz etc.), depoimentos pessoal ou testemunhal a serem 
colhidos em audiência de justificação etc. 
■ Prova da turbação ou o esbulho praticado pelo réu 
As violações à posse (esbulho ou turbação) também têm de ser 
provadas mediante acostamento aos autos de fotografias, documentos outros (atas 
notariais, por exemplo) ou depoimentos a serem colhidos em audiência de justificação. 
O registro em imagem da violação à posse também poderá ser tomado como elemento 
de prova, mormente por conta da facilidade que atualmente há relativamente à sua 
reprodução (um DVD contendo imagens do esbulho ou o da turbação pode ser 
facilmente examinável pelo órgão jurisdicional mediante exibição em computador). 
■ A data da turbação ou do esbulho 
Em atenção ao disposto nos arts. 558 e 562 do NCPC, atinentes, em 
leitura conjugada, à possibilidade de concessão de liminar possessória nas hipóteses em 
que a ação de manutenção ou de reintegração de posse houver sido proposta em até 
ano e dia contados da ocorrência da turbação ou do esbulho, mostra-se bastante 
relevante que o autor comprove quando ocorreu a violação à sua posse. Se a ação 
possessória for de “força velha” (proposta após ano e dia da ocorrência da violação à 
posse), descabe a liminar dos art. 558 e 562 do NCPC (cabendo apenas o pleito de tutela 
provisória de urgência ou de evidência, observados os requisitos respectivos); 
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a contrário sensu, se a ação for de “força nova” (proposta em até ano e dia contados da 
turbação ou do esbulho), caberá a liminar dos arts. 558 e 562 em questão. 
A prova da data da turbação ou do esbulho pode se dar mediante 
juntada de documentos aos autos ou em audiência de justificação. Quer nos parecer 
que a prova da data da posse mostra-se de mais fácil realização mediante oitiva de 
testemunhas em audiência de justificação, dada a natural dificuldade de documentar-
se a data de uma invasão. 
Por “data da turbação ou do esbulho” compreenda-se não 
necessariamente o dia em que estes ocorreram: se a data (o dia, o mês, o ano) não puder 
ser precisada, poderá ocorrer sua indicação por aproximação. 
■ A continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da 
posse, na ação de reintegração 
O inciso IV do art. 561 tem por objetivo impor ao autor da ação 
possessória a demonstração de que, em caso de (i) ação de manutenção de posse, deu-
se efetivamente sua hipótese de cabimento, a saber, a turbação, que se caracteriza pela 
prática de atos violadores da posse sem que o legítimo possuidor seja despojado 
integralmente do exercício da posse do bem, ou, (ii) em hipótese de ação de 
reintegração de posse, verificou-se o esbulho, consubstanciado na perda total da posse 
por parte do autor. 
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem 
ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, 
caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, 
citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. 
Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida 
a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos 
representantes judiciais. 
■ Concessão de liminar possessória 
O art. 562 ora comentado trata da concessão de liminar de 
reintegração ou de manutenção de posse: se suficientemente instruída a petição inicial, 
tomando-se por parâmetro as provas indicadas no art. 562 antecedente, a hipótese 
comportará a expedição de mandado liminar de proteção possessória. 
Uma das características mais marcantes de dita liminar possessória 
advém da possibilidade de ser concedida sem a oitiva a parte contrária (inaudita altera 
parte). Tal possibilidade em nada lesiona os princípios do contraditório e da ampla 
defesa, dado que o direito de oposição e de resistência do réu relativamente à liminar 
concedida apenas quedará diferido, postergado, especialmente porque a prévia ciência 
do requerido acerca do pedido de liminar poderá ocasionar a radicalização do cenário 
de violação à posse. 
Na hipótese de a petição inicial não estar aderida de elementos 
probatórios suficientemente sólidos, do que decorre a impossibilidade de formação de 
convencimento jurisdicional apto à concessão da liminar possessória de plano, deverá o 
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magistrado designar audiência de justificação com o fito de colher, se possível, provas 
orais conducentes à necessidade de concessão de liminar possessória. 
O mais notável aspecto diferenciador da liminar concedida após a 
audiência de justificação comparativamente à liminar concedida em virtude do exame 
dos documentos acompanhantes da petição inicial diz respeito ao caráter inaudita altera 
parte da segunda, dado que a primeira, por força de expressa disposição constante do 
art. 562, caput, do NCPC, decorrerá de audiência para a qual foi intimado o réu. 
A atuação do réu em dita audiência de justificação é delimitada pela 
circunstância de não ser possível a apresentação de contestação, o que ocorrerá 
apenas a posteriori, em virtude do disposto no art. 564 do NCPC. O réu, portanto, não 
poderá arrolar testemunhas, as quais poderão ser arroladas pelo autor (nada obstando, 
evidentemente, que sejam também inquiridas pelo requerido). 
Liminar possessória contra as pessoas jurídicas de direito público: não 
será deferida a manutenção ou a reintegração liminar, sem prévia audiência dos 
respectivos representantes judiciais. 
Há, no dispositivo legal, em apreço a clara intenção de preservar-se o 
interesse público, conferindo-se presunção de legalidade das atividades administrativas 
de modo que não seja possível a concessão de liminar possessória em face do Poder 
Público em caráter inaudita altera parte. Exige-se, por força deste parágrafo único do 
art. 562 do NCPC, a “prévia audiência” dos representantes judiciais das pessoas jurídicas 
de direito público, aqui entendidas como as integrantes da administração direta e 
indireta. 
Há que se atribuir literal interpretação à expressa “prévia audiência”: 
trata-se de locução significativa de prévia manifestação, não se confundindo, em 
absoluto, com a figura da contestação. A manifestação prévia do Poder Público quando 
de requerimentos de liminares possessórias em seu detrimento tem caráter bastante 
assemelhado ao das defesas prévias, que contestação não são. 
Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado 
de manutenção ou de reintegração. 
Após a realização da audiência de justificação, caso exista a formação, 
pelo magistrado, de convicção suficiente à concessão de liminar de reintegração ou 
manutenção liminar na posse em benefício do autor, será determinada a expedição do 
respectivo mandado, em caráter incontinenti. Trata-se de decisão reversível, mormente 
por conta de seu caráter inaudita altera parte, do que decorre que poderão ser 
carreados aos autos outros elementos de prova pelo réu que conduzam o órgão 
jurisdicional a convencimento distinto daquele derivado do juízo unilateral de cognição 
inerente à audiência de justificação prévia. 
Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de 
reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do 
réu para, querendo, contestar a ação no prazode 15 (quinze) dias. 
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Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para 
contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida 
liminar. 
Existindo pedido de proteção possessória em caráter liminar, a decisão 
inicial proferida na ação possessória encerrará juízos de (i) aferição, em cognição 
sumária, das condições da ação e dos pressupostos processuais e, ato contínuo, (ii) 
apreciação do pleito de concessão de medida liminar de manutenção ou reintegração 
de posse. 
Após a intimação do autor acerca da decisão inicial, e sendo 
determinada a citação do réu (concedida ou não a liminar possessória), preconiza o 
artigo em análise que “o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do 
réu para, querendo, contestar a ação no prazo de quinze dias”. A respeito dessa 
disposição legal, é necessário que os termos empregados pelo legislador sejam postos 
em seus devidos lugares: no ponto em que se lê “o autor promoverá a citação”, há que 
se entender que o autor promoverá todos os meios necessários para que seja ultimada 
comunicação do réu, fornecendo contrafé, custas de oficial de justiça, endereço correto 
do requerido etc., para que o órgão jurisdicional, este sim, empreenda o ato citatório. 
Os cinco dias para tal conduta do autor (promoção dos meios para que 
se efetue o ato citatório) são contados da respectiva intimação. 
Se, antes de apreciar o pedido de liminar possessória, o magistrado 
decidir pela designação de audiência de justificação, deverá para esta ser o réu 
necessariamente citado (art. 562 do NCPC). 
O réu citado para a ação possessória e intimado da realização da 
audiência de justificação não deverá comparecer a esta munido de contestação, dado 
que o prazo para apresentação de defesa fluirá apenas a partir da intimação das partes 
acerca do deferimento ou indeferimento da liminar, o que se dará após a realização da 
audiência em apreço. 
Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação 
afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de 
apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de 
mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 
2º e 4º. 
§ 1º Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a 
contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, 
nos termos dos §§ 2º a 4º deste artigo. 
§ 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a 
Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de 
gratuidade da justiça. 
§ 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se 
fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional. 
§ 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, 
de Estado ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do 
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litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre 
seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o 
conflito possessório. 
§ 5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel. 
 
■ O caput do art. 565 do NCPC: dificuldades de interpretação 
O art. 565 do NCPC foi originalmente inserido no Projeto de CPC 
quando de sua tramitação na Câmara dos Deputados, e dizia respeito às ações 
possessórias coletivas (isto é, ajuizadas em face de invasões coletivas) de força nova, 
com pleito de concessão da liminar possessória de conformidade com o disposto nos 
arts. 558 e 562 do NCPC. 
Esta era a sua razão de ser: disciplinar a fase inicial das ações 
possessórias de força nova que tratassem de invasões coletivas e em que houvesse o 
pleito de concessão de decisão liminar, até mesmo porque a liminar possessória típica 
apenas é concessível em possessórias de força nova. 
Objetivava-se que, nestas ações possessórias com réus múltiplos 
(invasões coletivas), que contivessem pedido de liminar (ações de força nova) houvesse, 
antes da apreciação da liminar inaudita altera parte, a designação de audiência de 
mediação, para que se evitassem os conflitos de grande escala típicos de ações 
possessórias dessa amplitude, especialmente quando há liminar concedida. 
Ainda na Câmara dos Deputados, o dispositivo sofreu, nos estertores 
de sua tramitação nesta casa, modificação consistente na previsão de que se aplica o 
art. 565 sob análise às ações possessórias nas quais “o esbulho ou a turbação afirmado 
na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia ” em que exista pedido de liminar 
(caput do art. 565 do NCPC). De última hora, mudou-se radicalmente a destinação do 
dispositivo legal em análise, desligando-o das ações possessórias de força nova coletivas 
e vinculando-o às ações de força velha coletivas. 
Houvesse ou não concordância com o conceito e com a ideologia 
inerentes à redação original do dispositivo (determinante de designação de audiência 
de mediação previamente à apreciação de pedido de liminar possessória em ações de 
força nova coletivas), havia ao menos razão de ser e lógica em seu texto: em ações de 
força nova coletivas com pedido de liminar, dada a concreta possibilidade de geração 
de tumultos e acirramentos de grandes proporções e riscos à integridade física dos 
envolvidos quando da reintegração ou manutenção liminar da posse, buscava-se o 
estabelecimento prévio de mediação, colimando-se a solução menos traumática 
possível da questão. 
Com as alterações sofridas, contudo, o dispositivo em sua atual 
redação ficou um tanto quanto desnaturado e desconexo, gerando algumas dificuldades 
de interpretação, que podem ser sintetizadas em duas indagações: as liminares 
possessórias nas ações de força nova estão condicionadas à designação prévia de 
audiência de mediação? Há liminares possessórias típicas (sem o requisito da urgência) 
também nas ações de força velha, desde que sejam coletivas? 
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A primeira observação que se faz em face da redação final do 
dispositivo é a seguinte: em face de sua literalidade (no caput do art. 565 do NCPC 
consta que tal dispositivo aplica-se às ações propostas após ano e dia do esbulho ou da 
turbação, de força velha, portanto), a norma em análise não se aplicará às ações 
possessórias coletivas (invasões coletivas) de força nova com pedido de liminar. Nestas, 
a teor da expressa letra da lei, a liminar possessória continuará a ser concessível, em 
regra, sem a oitiva da parte contrária, de plano e sem audiência de mediação prévia, nos 
termos dos arts. 558 e 562 do NCPC, conjugados. 
A segunda observação que nos permitimos fazer: a liminar ora 
cogitada apenas pode ser a decisão liminar geral concessível no regime do CPC (as 
tutelas provisórias pautadas na urgência ou na evidência), e não a liminar possessória 
típica prevista na conjugação dos arts. 558 e 562 do NCPC, que não pressupõe urgência. 
Neste sentir, a alusão à necessidade de designação de uma audiência 
de mediação prévia acaba por ser desnecessária e redundante, já que tal audiência, nas 
ações de rito comum (e a ação de força nova é de rito comum), decorre do art. 334 do 
NCPC, ou seja, independentemente do disposto no caput do art. 565 do NCPC, as ações 
de força velha ajuizadas em face de invasões coletivas com pedido de liminar 
necessariamente contariam com a audiência de mediação prévia ex vi do art. 334 do 
NCPC. 
Observamos, por fim, que, se for evidente e notório risco de danos 
irreparáveis de grandes proporções decorrentes da concessão inaudita altera parte de 
uma liminar possessória e de sua efetivação em ações com grande número de réus, a 
realidade do caso concreto e a sensibilidade do órgão jurisdicional podem permitir a 
designação de audiência prévia também

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