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Universidade Federal de Itajubá Instituto de Engenharia de Sistemas e Tecnologias da Informação Engenharia de Controle e Automação - ECA EEL105 - Circuitos Elétricos I Módulo 10 Ressonância, Potência Complexa e Análise de Circuitos em Regime Permanente Senoidal Prof. Paulo César Crepaldi 2 Circuitos que contêm indutância e capacitância podem apresentar o fenômeno denominado de ressonância, a qual é importante em muitas aplicações. A ressonância é a base para a seletividade de freqüência em sistemas de comunicação. A capacidade de um receptor de rádio ou televisão selecionar uma certa freqüência que é transmitida por uma estação particular e, ao mesmo tempo, eliminar freqüências de outras estações está baseado no princípio da ressonância. Em sistemas de potência, o princípio da ressonância é usado na filtragem de freqüências indesejadas à operação adequada de uma carga. Diz-se que um circuito RLC está em ressonância quando a tensão aplicada e a corrente resultante estão em fase. Portanto, na ressonância, a impedância complexa equivalente reduz-se a uma resistência pura (as partes imaginárias da impedância decorrentes do indutor e do capacitor possuem o mesmo módulo). A ressonância pode ocorrer em circuitos de topologia série e paralela. Ressonância 3 Considere o circuito RLC série apresentado abaixo: Ressonância Série i(t) + vL(t) _ L (jXL) + vR(t) _ R v(t) + vC(t) _ C (-jXC) + _ C 1 LjRZ XXjRjXjXRZ CLCL A impedância complexa é dada por: Pela definição de ressonância, tem-se que a impedância é puramente resistiva para uma dada frequência (ω0) , então: LC2π 1 f LC 1 LC0 C 1 L XXjRZ 00 2 CL 0 Frequência de Ressonância 4 Ressonância Série 0Hz 20Hz 40Hz 60Hz 80Hz 100Hz 120Hz 140Hz 160Hz 180Hz 200Hz 220Hz 240Hz -200 -100 0 100 200 Para os valores de R=100[Ω], L=200[mH] e C=47[mF], teríamos: R XC XL ]65,1[ Cf2 1 Xe]65,3[Lf2X 52[Hz] 47.10200.102π 1 LC2π 1 f 0 C0L 630 x |Z| ω0 5 Ressonância Série Variação do ângulo da impedância complexa Z para valores de R: 3.0Hz 10Hz 30Hz 100Hz 300Hz 1.0KHz -50° 0° 50° 100° Baixa R Alta R -100° Na ressonância, portanto, a impedância complexa Z é mínima e puramente resistiva. Como I=V/Z tem-se uma condição de corrente máxima. Nas frequências acima de ω0, a reatância indutiva (XL) excede a reatância capacitiva XC e o ângulo da impedância complexa Z é positivo, tendendo para +90° quando ω>>ω0. Para frequências inferiores à frequência de ressonância, a reatância capacitiva é maior que a indutiva e o ângulo da impedância complexa Z é negativo. Quando ω tende para zero, o ângulo de Z tende para -90°. 6 Ressonância Paralela Podemos utilizar o conceito da dualidade para construir um circuito em que os elementos estejam em paralelo. Então, ao invés de lidarmos com impedâncias e resistência, estaremos trabalhando com admitâncias e condutância. i(t) L (-jBL)Rv(t) C (jBC) + _ iR(t) iL(t) iC(t) LC2π 1 f LC 1 LC0 L 1 Ce L 1 CjGY BBjGjBjBGY 00 2 LCLC 7 Ressonância Paralela Tem-se, então, pela dualidade que na ressonância a admitância complexa Y é puramente uma condutância e, além disto, mínima. Isto implica em uma impedância máxima e uma consequente corrente mínima. Nas frequências inferiores a ω0 a susceptância indutiva é superior á capacitiva e o ângulo de fase da admitância complexa Y é negativo. O ângulo de fase da impedância complexa Z é, portanto, positivo e tende para +90°, à medida que a frequência tende para zero. Nas frequências acima da frequência de ressonância, o ângulo de fase da admitância complexa Y é postivo, sendo o ângulo de fase da impedância complexa negativo e tendendo para -90°. Ressonância: Fator de Qualidade (Q) O fator de qualidade é uma figura de mérito que pode ser aplicada para indutores, capacitores e circuitos. É definida pela relação entre a energia armazenada e a energia dissipada considerando-se um ciclo do sinal. Obsevar que se trata de um número admensional e que quanto maior, menores serão as perdas por efeito Joule por ciclo. ciclopordissipadaenergia armazenadaenergiamáxima 2πQ 8 Ressonância: Fator de Qualidade (Q) R L R fL f 1 R 2 I LI 2 1 2πQ 2 P P 2 2 A título de exemplo, considerar os circuitos abaixo: i(t) L (jXL)R i(t)=IPsen(t) C (-jXC)R + v(t) - i(t) v(t)=VPsen(t) ωRC 1 f 1 R 2 I C I C 2 1 2πQ 2 P 2 P 2 A energia dissipada, por ciclo, é dada pelo produto da potência média dissipada no resistor (I RMS/√2) 2.R pelo período T (1/f). A energia armazenada nos elementos reativos é 1/2LIP 2 e 1/2CVP 2. No circuito ressonante a energia armazenada é constante, pois quando a tensão no capacitor atinge o seu máximo, a corrente no indutor é nula e vice-versa. Ou seja, ω0L/R=1/ ω0RC. C I V PP 9 Ressonância: Fator de Qualidade (Q) O fator de qualidade também pode ser definido em função da frequência. Veja a figura, a seguir, que representa a corrente em um circuito ressonante série (Slide 3). 1.0Hz 3.0Hz 10Hz 30Hz 100Hz 300Hz 1.0KHz 3.0KHz 10KHz 0 2m 4m 6m 8m 10m Em ω0 a corrente é máxima, representada por I0 I0 0,707I0 ω0 ωCL ωCH BW 10 Ressonância: Fator de Qualidade (Q) Como a potência dissipada no circuito é dada por I2R, quamdo I=0,707I0 (1√2I0) a potência é igual à metade do valor máximo, obtido em ω0. Os pontos correspondentes a ωCL e ωCH são chamados pontos de meia potência ou frequências de corte inferior e superior respectivamente. A distância entre estes pontos, medida em Hz (hertz), é denominada de largura de faixa (BW), O fator de qualidade pode, então, ser relacionado com a frequência de ressonância e a largura de faixa: BW f ff f ωω Q CLCHCLCH 000 0 Pode-se demonstrar, também, que a frequência de ressonância é a média geométrica entre as duas frequências de corte. Para o nosso exemplo teríamos: ]0,65[ 80 52 Q 80[Hz]25,6105,6BW 25,6[Hz]ω105,6[Hz]ω52[Hz]ω CLCH0 0 11 Potência Complexa Atualmente, existe uma preocupação muito forte no que diz respeito à Qualidade de Energia. Entende-se por qualidade de energia o grau no qual tanto a utilização, quanto à distribuição, de energia elétrica afeta o desempenho dos mais diversos equipamentos elétricos. Variações na amplitude, forma de onda ou na frequência, em relação aos valores ideais da tensão e da corrente senoidais, podem ser considerados como distúrbios na qualidade da energia. Países como Estados Unidos (e também na Europa) já produzem normas que visam melhorar a qualidade da energia estabelecendo limites para o consumo de Energia Reativa e também limitando a Distorção Harmônica que as cargas podem produzir na rede elétrica. Com isso, é possível obter uma série de benefícios, como por exemplo, a diminuição de perdas, redução no stress de transformadores devido ao aquecimento excessivo, redução da interferência nos sistemas de telefonia e comunicação, entre outros.Um primeiro passo para se compreender os eventos associados à qualidade de energia é verificar o que se denomina de triângulo de potência, entendendo as suas constituintes que são a Potência Ativa ou Média (P, medida em watts [W]), a Potência Reativa (Q, medida em volt-ampère reativo [VAr]) e a Potência Aparente (S, medida em volt-ampère [VA]). 12 Potência Complexa Historicamente, a introdução dos conceitos de potência aparente e fator de potência pode ser seguida até a indústria de energia elétrica, na qual grandes quantidades de energia devem ser transportadas entre diversos pontos. A eficiência com que esta transferência de energia é efetuada está ligada diretamente ao preço da energia elétrica que é, eventualmente, pago pelo consumidor. Um consumidor que possui uma carga que resulta em uma baixa eficiência de transmissão, deve pagar um preço mais elevado pelo quilowatt-hora [kWh]. De forma semelhante, um cliente que requer um investimento mais custoso em equipamentos de transmissão e distribuição pela companhia de energia elétrica irá, também, pagar mais por cada quilowatt-hora. É necessário definir, de forma mais rigorosa, os termos potência aparente, potência ativa e potência reativa, assim como, introduzir o conceito de fator de potência. Estas definições auxiliam a entender os fatores econômicos relacionados anteriormente. 13 Potência Complexa Vamos considerar o caso de um circuito passivo genérico que contenha elementos de circuito resistivos, capacitivos e indutivos. )tsen(Iti )tsen(Vv(t) P P )( Observar que é o ângulo de fase entre a tensão e a corrente (ângulo da impedância complexa). A potência média entregue à esta rede, assumindo a convenção de sinal do elemento passivo nos seus terminais de entrada, pode ser expressa por: FPAparentePotência RMSRMSEFEFEFEFPP cosIVcosIVcosI2V2 2 1 cosIV 2 1 tp )( Rede contendo resistores, capacitores e indutores v(t)=VP sen( t) i(t)=IP sen( t+) + _ p(t) 14 Potência Complexa Se a tensão e a corrente, em nosso exemplo, fossem contínuas, a potência média entregue à rede seria simplesmente o produto da tensão pela corrente. Aplicando esta técnica de corrente contínua para o circuito em regime senoidal, devemos obter um valor para a potência absorvida que é “aparentemente” dada pelo produto VEFIEF. Este produto dos valores eficazes de tensão e corrente não é a potência média mas a potência aparente. Dimensionalmente, potência aparente deve ser medida nas mesmas unidades que potência real já que cos é um número adimensional. Entretanto, para não confundir com as outras potências a ser definidas, utiliza-se o termo volt-ampère [VA] ou kilovolt-ampère [kVA]. Uma vez que cos não pode assumir valores maior que a unidade, fica evidente que a amplitude da potência real (média) absorvida pela rede nunca será maior que a amplitude da potência aparente. A razão entre a potência real ou média e a potência aparente é chamada de fator de potência, simbolizado por FP. Tem-se, então: RMSRMS IV p(t) aparentepotência médiapotência FP No caso de ondas senoidais, o fator de potência será cos, em que é o ângulo de fase da tensão em relação à corrente. 15 Potência Complexa Uma carga puramente resistiva apresenta tensão e corrente em fase o que nos leva a um FP unitário, ou seja, a potência aparente e a potência média são iguais. Um FP unitário, contudo, também pode ser obtido para cargas que contenham indutores e capacitores desde que, para uma determinada frequência de operação, o angulo de fase resultante entre tensão e corrente seja nulo. Uma carga puramente reativa, não contendo resistência, gera uma diferença de fase entre tensão e corrente de +90° (circuito puramente indutivo) ou -90° (circuito puramente capacitivo) e o FP será nulo. Entre estes casos extremos, existem redes gerais para os quais o FP pode varia de zero até a unidade. Um FP de 0,5, por exemplo, indica uma carga com impedância complexa tendo um ângulo de fase de +60° ou -60°. Para o ângulo de +60° tem-se uma indicação de uma carga com comportamento indutivo uma vez que a fase da tensão está adiantada em relação à fase da corrente. Para o ângulo de -60° tem-se uma carga com comportamento capacitivo. A ambiguidade da natureza exata da carga é resolvida referindo-se a um FP em avanço e um FP em atraso. Os termos avanço e atraso referem-se à fase da corrente em relação à fase da tensão. Assim, uma carga indutiva terá um FP em atraso e uma carga capacitiva um FP em avanço. 16 Potência Complexa Podemos simplificar o cálculo das potências se utilizarmos uma notação fasorial, ou seja, se consideramos o fasor potência. Para o circuito ilustrado, podemos escrever: Rede contendo resistores, capacitores e indutores + _ V I j RMS j RMS eII eVV Atenção: Não podemos escrever o fasor P como sendo a multiplicação dos fasores V e I, pois acarretaria em um ângulo de fase relativo entre eles de +! Para que fique consistente com o ângulo de fase - é necessário proceder a multiplicação do fasor tensão pelo conjugado do fasor corrente. jQPS :retangularformana eIVeIVP eIeVIVP eIIeII eVV j RMSRMS j RMSRMS j RMS j RMS * j RMS j RMS j RMS )( * 17 Potência Complexa Portanto, a parte real do fasor potência corresponde à potência média ou real (P) e a parte imaginária à potência reativa (Q). ][)( ][)( ][)( VArsenIVsenIVQ WcosIVcosIVP VAeIVeIVP RMSRMSRMSRMS RMSRMSRMSRMS j RMSRMS j RMSRMS jω σ P . S Q P Como a potência reativa estará sempre a 90° defasada da potência real ou média ela chamada de potência em quadratura. A potência reativa não realiza trabalho e representa a energia armazenada nos elementos reativos indutor (campo magnético) e capacitor (campo elétrico). 18 Potência Complexa: Exemplo Um consumidor industrial está utilizando um motor de indução de 1[kW] a um fator de potência de 0,8 em atraso. Com a finalidade de obter um tarifamento de energia elétrica mais baixo ele pretende elevar seu FP em atraso para 0,95. Embora o FP possa ser elevado aumentando-se a sua potencial real e mantendo-se a sua potência reativa constante, isto não resultaria em uma diminuição na tarifação. Portanto, uma carga puramente reativa pode ser adicionada ao sistema e, mais precisamente, em paralelo com o motor tendo em vista que a tensão de alimentação deste não deve mudar. Calcular esta impedância e de que tipo seria. + _ M Z220[VRMS] M I Z II f=60[Hz] jω σ P1 . S Q P=1000[W] =arccos(0,8)≈36,9º 36,91250j7501000P 750[VAr]Q)sen(36,91250senSQ 1250[VA]S1000[W]cosSP M M 0,6 MM M 0,8 MM Potência complexa no motor. 19 Potência Complexa: Exemplo jω σ P . S Q P=1000[W] =arccos(0,95)≈18,2º 18,21052,6j3281000P 328[VAr]Qsen(18,2º)1052,6SsenQ 1052,6[VA]S1000[W]cosSP 0,312 0,95 90422j4220JQP JQPj7501000j3281000 PPP Z0 Z ZM Potência complexa da associação motor + impedância pura Podemos determinar a potência na impedância pura para se alcançaro FP de 0,95 desejado. Observar que a impedância pura, evidentemente, só possui a potência reativa QZ e que se trata de um capacitor (ângulo de -90°). O próximo passo é determinar o valor do capacitor, em farads, que na frequência de operação de 60[Hz] leva a esta impedância pura de –j422. Por simplicidade, vamos tomar o fasor tensão V como sendo 220∟0°. 20 Potência Complexa: Exemplo F][23C ][j114,6Z ][90114,6 901,92 0220 I V Z [A]901,92I [A]901,92 0220 90422 I I022090422IVP IVIVP IIVIIVIVP Z Z Z * Z * ZZ P Z P M ZM KCL ZM ZM m * ** ** * * Para se obter uma impedância de 114,6[] na frequência de 60[Hz] é necessário um capacitor de, aproximadamente, 23[mF]. Lembrar que XC=1/2fC! 21 Potência Complexa: ANEEL No Brasil, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) estabelece que o fator de potência nas unidades consumidoras deve ser superior a 0,92 capacitivo durante 6 horas da madrugada e 0,92 indutivo durante as outras 18 horas do dia. Esse limite é determinado pelo Artigo nº 95 da Resolução ANEEL nº414 de 09 de setembro de 2010, e quem descumpre está sujeito a uma espécie de multa que leva em conta o fator de potência medido e a energia consumida ao longo de um mês. A mesma resolução estabelece que a exigência de medição do fator de potência pelas concessionárias é obrigatória para unidades consumidoras de alta tensão (supridas com mais de 1000 V) e facultativa para unidades consumidoras de baixa tensão (abaixo de 1000 V, como residências em geral). A cobrança em baixa tensão, na prática, raramente ocorre, pois o fator de potência deste tipo de unidade consumidora geralmente está acima de 0,92. Não compensa, pois demanda a instalação de medidores de energia reativa. No Brasil, ainda não existe legislação para regulamentar os limites das distorções harmônicas nas instalações elétricas. 22 Exercícios: Circuitos em Regime Permanente Senoidal 1. Determinar os circuitos equivalentes de Thévenin e Norton (vistos dos terminais A e B) das estruturas apresentadas abaixo.
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