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ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS DAS REAÇÕES ÁCIDO-BASE Vitor F. Ferreira (UFF) e Pierre M. Esteves (UFRJ) Considerações iniciais H3C CH3 O CH3 CH2 ONaNaOH CH3 CH3 O + H3C H3C O H3C 2 H Condensação Aldólica P Ph Ph Ph CH3 I NaHDMSO P Ph Ph Ph CH2 O CH2 + NaI + H2 Reação de Wittig O H+ OH Br2 O H Br H H H Reação de bromação As propriedades ácido-base das moléculas e o equilíbrio protonação-desprotonação estão entre os fenômenos químicos mais estudados. 1- Reações ácido-base são rápidas e reversíveis. 2- São controladas termodinamicamente. Considerações iniciais Quais relações físico-químicas que governam a termodinâmica destas reações, ou seja que afetam a força dos ácidos e bases? Fatores estruturais? Solventes? A ENERGIA LIVRE DE GIBBS e a POSIÇÃO DO EQUILÍBRIO + HA mais ácido do que H3O +, reação deslocada no sentido da dissociação HA = H3O +, 50% de dissociação HA menos ácido do que H3O +, a dissociação não ocorre ou ocorre em pequena extensão Keq = HA A- H3O + H2O Ka = HA A- H3O + .. .. ácido base ácido base conjugado conjugada A constante de acidez em meio aquoso Ka = Keq [H2O] HA + H-O-H H-O-H + A - H .. .. como ; , A variação da energia livre de Gibbs (∆Go) 1- Determina a posição do equilíbrio em uma reação química 2- Está correlacionada com a temperatura (T) e a constante de acidez (Ka) ∆Go = -2,303RT logKa R = 1,987 cal.mol-1.K-1 T = 298K ∆Go ~ 1,4 pKa pKa = -log Ka Josiah Willard Gibbs (1839-1903) Químico norte-americano. Primeiro estudante a receber o título de Ph.D. da Universidade de Yale (EUA) em in 1863, tendo sido indicado professor desta universidade 1871. Teve pouco reconhecimento pelo seu trabalho durante a sua vida, devido a sua inabilidade de comunicar suas idéias. Publicou a maioria dos seus melhores trabalhos numa revista obscura chamada de Trans. of the Connecticut Academy of Science, entre os anos de 1875 e 1878. O primeiro a reconhecer a importância do seu trabalho foi o Lorde Kelvin e Hendrik Roozeboom (1854-1907), que popularizam as regras das fases de Gibbs. Os trabalho de Gibbs foram traduzidos para o alemão por Friedrich W. Ostwald em 1892 e por Henri Le Chatelier in 1899. O valor de ∆Go reflete a diferença relativa de energia entre os reagentes e os produtos no equilíbrio termodinâmico. ∆Go negativos - o equilíbrio dirigido para a direita (Ka>1 ; pKa negativo) ∆Go positivos - reações termodinamicamente desfavorecidas (Ka<1 ; pKa positivo). Como Ka são em geral potências negativas é melhor usat pKa, pKa = - logKa pKa são números inteiros que variam entre 12 e 50 ∆Go e pKa são duas grandezas importantes Esta expressão é muito útil, pois nos permite conhecer a energia livre da reação a partir do pKa, possibilitando prever o sentido direção de uma reação ácido-base. ∆Go ~ 1,4 pKa 0 2 4 6 8 10 12 0 2 4 6 8 10 12 14 16 ∆ G o ( k c a l . m o l - 1 ) pKa pKa correlaciona-se linearmente com com ∆Go (não correlaciona linearmente com com ∆Ho, ∆So e T∆So) ∆Go correlaciona-se com duas grandezas: Entalpia (∆Ho) e Entropia (∆So) A relação entre estas propriedades pode ser expressa como: ∆Go = ∆Ho - T∆So ∆Ho = Ho(p) - Ho(r) ∆So = So(p) - So(r) onde e O termo ∆H0 Depende da energia das ligações formadas e quebradas na reação (H0produtos - H0reagentes) Valores negativos de ∆H0 (ligações formadas mais fortes do que ligações quebradas) tendem a fornecer valores negativos de ∆G0, característicos de reações termodinamicamente favorecidas. O termo entrópico (∆S0 = S0produtos - S0reagentes) Em geral é menor do que a contribuição do termo entálpico. Valores positivos de ∆S0 refletem maior desordem nos produtos do que nos reagentes. Tendem a contribuir para valores negativos de ∆G0. ∆G0 < 0 , reação termodinamicamente favorecida ∆G0 > 0 , reação termodinamicamente desfavorecida Os valores de ∆Go podem ser calculados com os reagentes e produtos em condições padrão (1 atm de pressão para os gases e 1M para soluções). 1- ∆Go mais negativos que 3,11 Kcal/mol (13 KJ mol-1) reação completamente deslocadas na direção dos produtos 2- ∆Go mais positivo que 3,11 reações completamente deslocadas na direção dos reagentes. Uma mudança negativa de entropia (- ∆So), saindo de um sistema menos ordenado para um mais ordenado, tende o valor de ∆Go para positivo (desfavorável). Por outro lado, uma mudança entrópica positiva, saindo de um sistema mais ordenado para um mais desordenado (+ ∆So), tende o ∆Go para negativo (favorável). Ka ∆Go KJ (Kcal) ∆Ho KJ (Kcal) ∆So J/oK-1 (cal/ oK-1) T∆So KJ (Kcal) CH3-COOH 1,79x10-5 27,2 (6,5) -0,5 (-0,13) -92 (-22) -27,6 (-6,6) H-COOH 17,6x10-5 21,0 (5,1) -0,3 (-0,07) -74 (-18) -21,3 (5,17) Tomemos os casos dos ácidos metanóico (HCOOH) e etanóico (CH3COOH) em água a 25 oC. As suas constantes de equilíbrio e os seus parâmetros termodinâmicos (em água a 25 oC). O ácido metanóico é um ácido mais forte do que o ácido etanóico. Os ∆Go das ionizações refletem esta diferença de acidez. Os ∆Ho são pequenos e praticamente iguais para ambos ácidos. A diferença entre os termos T∆So vêm da diferença de solvatação das bases conjugadas e do íon H3O+. Para solvatar o ácido etanóico é necessário uma maior organização devido a cadeia lateral, logo há uma perda no valor da entropia. CH3COOH H2O+ CH3COO - H2O-H+ + EXEMPLO Cálculo da constante de acidez para o ácido acético Ka = [CH3COO -].[H3O +] [CH3COOH] [H3O+] medida experimentalmente nesta solução é de 0,00135 M. [H3O+] = [CH3CO2-] = 0,00135 M [CH3CO2H] = 0,1000 - 0,00135 = 0,0986 M Ka = [CH3COO -].[H3O +] [CH3COOH] [0,00135].[0,00135] [0,0986] = 1,7 x 10-5 (25 oC) -log Ka = pKa = 4, 73 = Protonação de uma base B: em água (Kb) Kb = HO- H2O + B: H-B + + HO- Se B é base mais forte que HO-, reação dirigida no sentido da dissociação [B] = [HO-], 50% de dissociação Se B é base mais fraca que HO-, a dissociação não ocorre ou ocorre em pequena extensão H-B+ B: ácido base ácido base conjugado conjugada . Exemplo Em solução aquosa a metilamina (CH3NH2, Kb ) é 10.000 vezes mais básica do que a anilina (PhNH2,) na reação de associação com o próton H+, portanto o seu valor de Kb é bem maior. CH3NH2 + H2O CH3NH3 + + HO- Kb = [CH3NH3 +].[HO-] [CH3NH2] PhNH2 + H2O PhNH3 + + HO- Kb = [PhNH3 +].[HO-] [PhNH2] = 4,4x10-5 = 2,3x10-9 1 Determinada experimentalmente, em 1894, por condutividade elétrica. 1 Igual a 1,011x10-14 a 25 oC . CONSTANTE DE DISSOCIAÇÃO DA ÁGUA OU CONSTANTE DE AUTOPROTÓLISE(Kw) H2O + H2O H3O + + HO- Keq = [HO-].[H3O +] [H2O].[H2O] Keq = [HO -].[H3O +] [H2O].[H2O] Kw = [H3O +].[OH-] = 1x10-14 AUTOIONIZAÇÃO DA ÁGUA (cont.) 1 Não é possível remover-se todos os íons da água, pois não importa quanto pura ela está que sempre conduzira energia elétrica. 1 Como trata-se de um equilíbrio o valor de Kw aumenta com o aumento da temperatura. T (oC) KW 15 4,5082 10-15 20 6,8077 10-15 25 1,0069 10-14 30 1,4689 10-14 35 2,0893 10-14 1 Em água pura o pHé igual a 7. 1 Valores de pH menores que 7 são atribuídos a soluções aquosas ácidas, enquanto que valores superiores a 7 caracterizam soluções básicas. pH = -log[H+] , pH = -log[H3O +] , [H3O +] = 10-pH Sörensen estabeleceu o conceito de pH Sören Peter Lauritz Sörensen (1868-1939) Bioquímico dinamarquês Estudou medicina na Universidade de Copenhague. Mudou para a química, onde se graduou em 1881. Obteve seu PhD em 1899 na Universidade técnica de Copenhague em síntese inorgânica sob a orientação do Prof. S.M. Jorgensen. Pioneiros em técnicas experimentais na bioquímica (1) métodos eletrométricos para determinação da concentração de H+. (2) Preparação de soluções tampões. (3) Métodos colorimétricos de medição de pH. (4) Estudo de enzimas e proteínas. De forma análoga, as bases fortes como NaOH se dissociarão completamente e a concentração de OH- em solução será igual a concentração de NaOH. No caso da água sabemos que Kw = [H3O+].[OH-] e, como Kw é 1 x 10-14, a multiplicação desta equação por log leva a: log[H3O+] + log[OH-] = -14, que após multiplicação por -1 leva a expressão. -log[H3O +] + (- log[OH-]) = 14 , pH + pOH = 14 Esta expressão é verdadeira para qualquer par ácido/base em meio aquoso. NH4+ pKa 9,26 NH3 pKa 4,74 O pH de uma solução pode ser determinado; 1-Medidor de pH eletrônico. 2-Quimicamente com indicadores. Exemplo: fenolftaleína O O Fenolftaleína incolor HO OH (aq.) O O- O O- (aq.) Base conjugada da Fenolftaleína avermelhada 2 HO- 2 HOH++ A Equação de Henderson-Hasselbalch para ácidos fracos Ka = [HA] [H3O +] [A- ] pKa = pH + log [HA] [A- ] -log Ka = pKa -log [H3O +] = pH -log [HA] [H3O +] [A- ] -log Ka = pKa = -log [H3O +] - log [A - ] [HA] pKa = pH - log [HA] [A- ] Lawrence Joseph Henderson (1878-1942) Bioquímico norte-americano. Descobriu o significado do equilíbrio ácido-base para a sustentação da vida. Estudou as variáveis químicas que influenciam a neutralidade do sangue, principalmente no que diz respeito a sua habilidade em neutralizar grande quantidade de ácidos e bases, sem perdeu sua neutralidade. Publicou dois importantes livros: The Fitness of the Environment (1913) e The Order of Nature (1917). Em 1928 ele proferiu uma conferência Universidade de Yale intitulada “Blood” cuja primeira pergunta era: Qual a condição mais elementar para o fenômeno da vida?" Ao final ele concluiu dizendo que – o sistema físico- químico é o mais elementar para o fenômeno da vida. Foi o primeiro presidente da Sociedade Americana de História da Ciência A equação de Henderson-Hasselbalch serve: 1 Para o cálculo do pH da solução de ácidos fracos, desde que sejam conhecidos os valores de Ka e as concentrações do ácido e sua base conjugada no equilíbrio. 1 Para cálculo da razão [ácido]/[base conjugada] em soluções tampões, desde que conhecidos o pKa do ácido e o pH da solução. 1 Para cálculo do pKa. 1 Para o pH de soluções tampões 1 Extensão da ionização de um ácido. Segundo a equação de Henderson-Hasselbalch, o valor do pKa corresponde ao valor do pH onde o ácido está 50% ionizado. pKa = pH + Quando [HA] = [A-]; pKa = pH [HA] [A-] TAMPÃO Tampão 1 Solução que resiste a variações de pH dentro de faixas específicas, quando H3O+ ou HO- são adicionados no meio. 1 Soluções tamponadas sofrem variação do pH, mas esta variação é muito inferior àquelas que acontecem nas soluções não tamponadas. B A Volume de base adicionado (mL)0 pH C Cálculo do pH de uma solução tampão Use a equação de Henderson-Hasselbalch Exemplo O pH de uma solução preparada pela dissolução de 0,10 mol de ácido acético e 0,010 mol de acetato de sódio numa quantidade de água que completa 1 L de solução é 3,74. As concentrações do ácido acético (HA) e o íon acetato são respectivamente: 0,10M e 0,010M e como o Ka do ácido é 1,7x10-5, logo o pKa = 4,74. Então: pH = pKa + log 0,010/0,10 = 4,74 + log 0,10 = 3,74 Extensão da ionização de um ácido quando se conhece o valor do pKa Em meio tamponado: Em valores de pH duas unidades superior ao valor de pKa, o ácido está bastante bastante dissociado (A-/HA = 100/1). Em valores de pH duas unidades inferiores ao valor de pKa a dissociação é muito pequena (HA/A- = 100/1). Se o pKa de HA é igual a 5 a extensão da ionização em tampão de pH = 7 é: 5 = 7 + log [HA] , -2 = log [HA] , 2 = log [A-] , 100 = [A-] [A-] [A-] [HA] [HA] Se o pKa de HA é igual a 5 a extensão da ionização em tampão de pH = 3 é: 5 = 3 + log [HA] , 2 = log [HA] , 100 = [HA ] [A-] [A-] [A- ] Extensão da ionização: EXEMPLO pH do sangue: acidose e alcalose O sangue é um dos muitos componentes líquidos do organismo no qual a água é o componente principal. O pH destes líquidos biológicos normalmente são diferentes do pH normal da água. O sangue é uma solução de muitos componentes cujo pH varia numa faixa bem estreita entre 7,35 a 7,45. Composição do tampão do sangue % Bicarbonato/Ácido Carbônico 64 Hemoglobina/Oxi-hemoglobina 28 Proteinas ácidas/ básicas 7 Fosfato monoácido/Fosfato diácido 1 DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DO pKA 1 Atualmente dispõe-se de programas que permitem calcular de forma aproximada o pKa de substâncias. 1 É relativamente fácil determiná-lo experimentalmente. 1 O ácido e sua base conjugada deverão possuir propriedades distintas no método escolhido. 1 Métodos mais comuns usados para medir pKa 1- Titulação (mais comum) 2- Potenciométrica 3-Espectroscopia Raman 4-Ultravioleta 5- HPLC. Determinação Experimental do pKa EXEMPLO Determinação da constante de acidez (Ka) do ácido trans-aroilacrílico por UV 25 OC (concentração 1x10-4 em etanol). CO2H O CO2 - O AH A- λmaxHA = 273 nm (εHA=0,83x10-4) λmaxA- = 265 nm (εA-=1,1x10-4) 2- Ajustar o pH foi ajustado entre valores 2,5 - 3,5 com adição de HCl e medir os espectros de UV entre 220- 500 nm (contra um branco). 3- Medir a variação da absorvância observada para uma banda de absorção escolhida (273 nm ou 265 nm) foi correlacionada com as medidas experimentais de pH. 1- Medir os espectros de UV das formas 100% em solução 0,5 M HCl e no tampão acetato de pH = 5. AÇÕES 1 O coeficiente angular da reta pH versus ε fornece o valor do pKa. 1 A limitação deste método é a solubilidade da substância. pKa = pH + log ε - εA- εHA - ε εHA e εA são as absorvâncias das espécies ácida e ionizada em forma pura. ε são as absorvâncias das misturas obtidas entre os pH 2,5-3,5. Tricloroacético 2 x10-1 0,7 Dicloroacético 5 x10-2 1,3 Monocloroacético 1,6 x10-3 2,8 Fórmico 2,1 x10-4 3,7 Benzóico 7,8 x10-5 4,1 Acético 1,9 x10-5 4,7 Carbônico 2,9 x10-7 6.5 Sulfídrico 5,8 x10-8 7,2 Cianídrico 1,3 x10-9 8,9 Ácido Ka pKa= -logKa Alguns valores de Ka e pKa (em água) ÁCIDOS E BASE NATURAIS Diversos produtos naturais podem ser extraídos de plantas por processo ácido-base. OH O O lapachol amarelo claro Na2CO3 (aq.) ONa O O lapacholato de sódio vermelho insolúvel em água sóluvel em água HCl(aq.) + CO2 + H2O RCO2H + impurezas Et2OH2O fase aquosa fase etérea impurezas hidrossolúveis impurezas insolúveis em água ETAPA 1 NaHCO3 H2O RCO2Na orgânicas impurezasinsolúveis em água orgânicas ETAPA 2 2. Et2O fase aquosa fase etérea 1. HCl, H2O fase aquosa fase etérea sais inorgânicos + excesso de HCl RCO2H ETAPA 3 1. secagem 2. filtração 3. destilação do solvente A Extração Ácido-Base na Purificação de Ácidos Carboxílicos. O ácido carboxílico é mais solúvel na fase orgânica e o sal de ácido é mais solúvel na fase aquosa. ETAPA 4 + RCO2H em solução RCO2H puro CO2H R OH R pKa pKa~ 4 ~ 9 1 Os alcalóides estão entre os primeiros produtos orgânicos isolados em forma pura, na virada para o século XX. 1 O sucesso na separação destas substâncias a partir de misturas complexas, como são os extratos de plantas, deve-se a extração ácido-base. ALCALÓIDES: AS BASES NATURAIS “Os índios mataram outro dos nossos companheiros.. e na verdade, a flecha não penetrou nem meio dedo, mas como ela tem um veneno, ele deu sua alma para o senhor.” (Francisco de Orellano ) N H NH2N R RR ~3-5~10-11 ~3-5 pKa para substâncias nitrogenadas R3N HCl R3NHCl+ R3NHCl + NaOH R3N H2O NaCl+ + Extração Regeneração H N O HO HO + HNO3 H N O HO HO H CH3 CH3 NO3 - Morfina (base) Analgésico Nitrato de morfina (sal) Solúvel em água (ácido) N OCH3 OCH3 H3CO H3CO + HCl N OCH3 OCH3 H3CO H3CO H Cl- Papaverina (base) Vasodilatador cerebral Hidrocloreto de papaverina(sal) Solúvel em água N N H H HO MeO Quinina (casca da quina) .. .. NMe O O cocaina (Erythroxylum coca) NMe atropina (Atropa belladonna) O O OH Usada pelos índios da América do Sul para suportar sintomas de fome e fadiga e como anestésico local até meados do século XX Alcalóide da belladonna, ainda usado em clínica para dilatar a pupila Usada no tratamento da malária .. .. O O(CH3 N N MeO H H H H MeO2C O OMe O . Reserpina (Rauwolfia serpentina. Benth) isolada em 1952, ainda usada no controle da hipertensão OMe OMe OMe .. .. N Me Hyoscina (Atropa belladonna) O O Usada no tratamento da asma e como hipnótico e sedativo OHO .. H N O HO HO CH3 Morfina (papola) Analgésico N OCH3 OCH3 H3CO H3CO Papaverina (papola) Vasodilatador cerebral .. .. N CH3 N (S)-Nicotina (fumo) Bioligante de receptores nicotínicos ESTUDO DO EQUILÍBRIO A POSIÇÃO DO EQUILÍBRIO “A transferência de prótons em uma reação ácido-base sempre ocorrerá do ácido mais forte para o ácido mais fraco (base conjugada mais forte)”. “A direção da transformação é aquela que conduz a menor energia livre” KCN + CH3COOH CH3COOK + HCN pKa = 4,8 pKa = 9,1 H2O ∆pKa = pKa1 - pKa2; 4,8 - 9,1 = -4,3 ∆G0 = 1,4 pKa = -6,02 “Este equilíbrio é totalmente deslocado para a direita”. NaCl + CH3COOH CH3COONa + HCl pKa = 4,8 pKa = -7,0 H2O ∆pKa = pKa1 - pKa2; 4,8 - (-7) = +11,8 ∆G0 = +15,5 A posição do equilíbrio na reação do cloreto de sódio com o ácido acético “Este equilíbrio é totalmente deslocado para a esquerda”. “O conhecimento dos valores de pKa pode ser usado para predizer a posição de equilíbrio”. O OH + H2O O O- + H2O H + O OH + NaOH O O Na + HO H H2O H2O - + pKa = 4,8 pKa = -1,74 pKa = 15,7 ∆G0 ~ + 6,54 ∆G0 ~ - 10,9 pKa = 4,8 1 Em água pura o ∆Go é positivo. 1 Na presença de hidróxido de sódio é negativo. HCl + NH3 H NH3 Cl + -H2O H2O + NH3 H NH3 + OH + -H2O + H2O pKa = 9,2pKa = 15,7 pKa = -7,0 ∆G0 = + 6,5 ∆G0 = - 24,9 Protonação da amônia em água e água/ácido clorídrico pKa = 9,2 HCN + NH3 H-NH3 + + -CN Concentrações no equilíbrio (equiv.) 0.47 0.47 0.53 0.53 ácido base : pKa = 9,4 pKa = 9,2 ∆G0 ~ 0,2 Constante de equilíbrio da reação entre ácido cianídrico e amônia “A amônia e o íon cianeto têm basicidades similares ou, em outras palavras, o ácido cianídrico e o íon amônio possuem acidez semelhante”. base ácido NaNH2 + H-O-H NaOH + H-NH2 NaH + H-O-H NaOH + H-H pKa = 38,0pKa = 15,7 “Amidetos e hidretos são bases muito fortes e reagem de forma irreversível com a água”. “Tanto o amideto quanto o hidreto são mais básicos do que o -OH, assim como a amônia e o hidrogênio são ácidos mais fracos que a água”. Para uma melhor comparação entre as forças relativas dos ácidos e bases, é muito útil arranjá-los numa escala. Ácido pKa em água* (ou DMSO) Base conjugada FSO3H.SbF5 * - FSO3H.SbF5.SO3 * - HF.SbF5 * - HClO4 -10,0 -ClO4 Hl -10,0 -l HBr -9,0 (0,9) -Br HCl -7,0 (1,8) -Cl H3O+ -1,7 H2O HNO3 (conc.) -1,4 NO3- CF3CO2H -0,2 CF3CO2- Cl2CH-CO2H 1,3 Cl2CH-CO2- H3PO4 2,1** H2PO4- HF 3,2 (15,0) F- CH3CO2H 4,8 (12,3) CH3CO2- H-SH 7,0 -SH HCN 9,4 (12,9) -CN NH4+ 9,2 (10,5) NH3 GRUPO FUNCIONAL ÁCIDO pKa BASE CONJUGADA 1. Alcanos R3C-H 32-42 R3C- 2. Aminas R-NH2 27-38 R-NH- 3. α-Ciano R-CH 2-CN 25 R-(-CH)-CN 4. α-Éster R-CH2CO2R 25 R--CHCO2R 5. Alcino R-C≡C-H 25 R-C≡C- 6. α-Cetona RCH2-(C=O)R 20 R-(-CH)-(C=O)R 7. Álcool R-OH 15-18 R-O- 8. Água H2O 16 HO- 9. α,α-Éster CH2(CO2R)2 13 -CH (CO2R)2 10. α,α-Ciano CH2(CN)2 11 -CH(CN)2 11. α-Nitro R-CH2-NO2 10 R-(-CH)-NO2 12. Fenol Ph-OH 10 Ph-O- 13.α,α-Cetona CH2(COR)2 9 -CH(COR)2 14. Ácidos carboxílicos R-CO2H 4-5 R-CO2- 1 As razões para as diferenças de pKa observadas serão discutidas na próxima aula. 1 Em água só é possível medir a acidez de ácidos mais fracos do que o cátion hidrônio (pKa = - 1,7) e mais fortes do que a água, pKa = 15,7). 1 Valores fora desta faixa são obtidos por aproximação e devem ser considerados quantitativamente com cautela. NOTAS IMPORTANTES 1 Em geral, os valores em água são precisos na faixa de pH entre 1 e 13. 1 Para ácidos mais fracos do que a água, muitas determinações são feitas em DMSO ou ciclo-hexilamina. 1 Para ácidos mais fortes do que o cátion hidrônio, as medidas podem ser feitas em ácido fórmico ou metanol. PROBLEMA Com base nos pKa indicados abaixo, explique qual a direção preferencial para o equilíbrio. OH + H2SO4 OH2 + (HSO4) -+ pKa = -2pKa = -9 Como o H2SO4 é um ácido mais forte (pKa = -9), o 2- butanol atua como base. Então, o equilíbrio está deslocado para a direita. Numa etapa posterior há eliminação de água e perda de um próton, formando olefinas isoméricas. EFEITO NIVELADOR DO SOLVENTE Ácidos muito fracos são aqueles cujo pKa são maiores do que ≈16. Portanto: Não serão detectados como como ácidos em solução aquosa, pois produzem H3O+ em quantidade menor que a autoprotólise da água. Efeito Nivelador do solvente Efeito Nivelador do solvente 1 Em solução aquosa os ácidos fortes estão completamente dissociados, gerando o íon hidrônio e as correspondentes bases conjugadas. 1 Desta forma, estes ácidos são nivelados ao H3O+, que é o ácido mais forte que pode existir em meio aquoso. CONSEQÜÊNCIA 1 Não é possível inferir sobre a força relativa destes ácidos baseados exclusivamente na reação de dissociação em meio aquoso. 1 O efeito nivelador da água restringem à faixa entre o pKa do hidrônio e o pKa da água (-1,72 e 15,7). HClO4 HI HBr HBr HNO3 H3O+ H2O+ força do ácido Efeito nivelador da águanos ácidos fortes NaH NaNH2 EtONa H2O+ força da base Efeito nivelador da água nas bases fortes NaOH + H2 NH3 EtOH COMO DIFERENCIAR ÁCIDOS E BASES NIVELADOS EM ÁGUA? PRINCÍPIO Um ácido (ou uma base) com pKa conhecido pode ser utilizado para testar a acidez (ou basicidade) de um outro desconhecido. 1 Realizar experimentos competitivos de dissociação 1 A substância usada como referência tem que ter seu valor de pKa determinado tanto em água quanto no outro solvente escolhido 1 Os valores obtidos são transpostos para a escala relativa à água. EXEMPLO: EM AMÔNIA (NH3) LÍQUIDA Os ácidos fortes, como os ácidos nítrico, sulfúrico e clorídrico, e um ácido fraco como o ácido acético, encontram-se completamente dissociados e nivelados com o +NH4 (pKa = 9,2), que é o ácido mais forte que pode existir em amônia. CONCLUSÃO: 1 Todos estes ácidos são mais fortes do que o cátion amônio, possuindo pKa < 9,2. 1 Ainda não podem ser diferenciados entre si. EM ÁGUA Os ácidos sulfúrico e clorídrico continuam totalmente dissociados. O ácido nítrico encontra-se aproximadamente metade dissociado. O ácido acético dissocia muito pouco. CONCLUSÃO 1 Os dois primeiros são ácidos bem mais fortes do que o cátion hidrônio, possuindo pKa < -1,7. 1 O ácido acético é bem menos ácido do que o cátion hidrônio. 1 O ácido nítrico possui pKa próximo ao do cátion hidrônio. EM METANOL Os ácidos sulfúrico e clorídrico continuam totalmente ionizados. O ácido nítrico novamente está parcialmente ionizado, um pouco menos do que em água. CONCLUSÃO 1 Estes dois ácidos possuem pKa bem menor do que -2,0. EM ÁCIDO FÓRMICO ANIDRO O ácido clorídrico está parcialmente dissociado (> 50%) O ácido sulfúrico ainda está totalmente monodissociado CONCLUSÃO 1 O pKa do ácido sulfúrico é bem menor do que o pKa do cátion ácido fórmico protonado (pKa = -6) 1 O ácido clorídrico tem um pKa um pouco menor. CONCLUSÃO GERAL “As forças do H2SO4 (1a ionização), HCl e HNO3 puderam ser diferenciados e os seus valores de pKa em água estimados”. H2SO4 pKa <-9,0 O H HH N H HH H+ + pKa -1,7 pKa 9,2 CH3COOH pKa 4,8 HCl pKa -7,0 HNO3 pKa -1,4 O H H3C H + pKa -2 .. .. H OH OH .. + pKa -6 Solventes não aquosos e a medida de pKa de ácidos mais fortes dom que o cátion hidrônio RESUMO Extensão da dissociação para ácidos de pKa > 14 Dois ácidos HA1 e HA2 são dissolvidos em um dado solvente e uma pequena quantidade de uma base forte é adicionada ao meio. A distribuição de produtos é medida, em geral por uma técnica espectroscópica. Se um dos valores de pKa em água é conhecido, o pKa do outro ácido, que não dissocia em água, pode ser medido usando a água como referência. O ácido HA2 serve então de referência para a dissociação de um ácido HA3, ainda mais fraco. Meios usados para a determinação do pKa de ácidos mais fracos do que a água H O H H O- Me O H Me O- S O- + S O- + H - NH2 NHCs+ - faixa entre 1-14 faixa entre 14-20 faixa entre 13-38 faixa entre 18-32 ESCALA MSAD “O método anterior só indica as faixas” ESCALA MSAD Cram foi o primeiro a estabelecer, em 1965, uma escala de acidez para ácidos fracos do tipo R3C-H (escala de acidez do carbono). Esta escala foi expandida por McEwen, Streitwieser, Applequist e Dessy, passando a ser conhecida com as iniciais destes autores (escala MSAD). O pKa do para o 9-fenilfluoreno foi determinado em água (18,5 ) e DMSO (17,9). O equilíbrio entre a reação deste ânion frente aos outros hidrocarbonetos foi usado como ponto de referência para construir a escala de acidez H Valores pKa de ácidos de carbono: Escala MSAD H H H HH H H H H H H H CH3-H 18,1 (DMSO) 17,9 (DMSO) 32,2 (DMSO) 22,6 (DMSO) 24 (água) 30,8 (DMSO) 41 (DMSO) 46 (água) 50 (DMSO) As comparações devem ser cautelosas, especialmente quando observamos as substâncias menos ácidas, alcanos e cicloalcanos. Donald James Cram (1919 - 2001). Químico americano nascido em Chester. Em, 1947 recebeu seu título de doutor em química orgânica orientado pelo Professor L. F. Fieser. Em1956 se tornou professor titular do Departamento de Química da Universidade de Harvard. Durante sua vida recebeu muitos títulos nos EUA e no exterior. Em 1987 ganhou o Prêmio Nobel de Química, juntamente com o francês Jean-Marie Lehn, da Université Louis Pasteur em Strasbourg, e com o norueguês-americano Charles J. Pedersen da Du Pont, pela criação de moléculas artificiais. Outra grande contribuição foi no ensino da química orgânica com seus três livros “Organic Chemistry” (com G.S. Hammond); “Elements of Organic Chemistry (com D.H. Richards and G. S. Hammond) e “Essence of Organic Chemistry (com J.M. Cram). Saul Winstein (1912-1969) Químico canadense naturalizado EUA em 1929. Em 1938 ele recebeu seu título de Ph.D. pela CALTECH. Fez toda sua carreira na UCLA . A maioria dos seus estudos envolveram a questão da ligação química, efeito do meio nos mecanismos, mecanismos das reações radicalares, reações organometálicas, comportamento do par iônico, síntese orgânicas complexas, mecanismos das substituições e eliminações, conceito de homoconjugação e homoaromaticidade. O estudo estabilidade de íons não clássicos com a participação de grupo vizinhos (metoxila, acetoxila, acetamida, ligação-π, ligação-σ) ficou muito famoso, devido a sua discordância com o Prof. H.C. Brown (prêmio Nobel 1979). PROBLEMA NAS MEDIDAS EM MEIO NÃO AQUOSO 1 Os solventes são menos polares e menos solvatantes. 1 Há formação de pares iônicos ao invés de íons. A água é o meio mais favorável. 1 Possui alto poder de ionização (Y). 1 Habilidade em solvatar tanto ânions. 1 Alta constante dielétrica (ε) HCl H3O + Cl- H2O O H H .. . . O H H . ... O HH .... O H H .. . . O H H . ... O H H . ... O H H .. . . O H H .. . . água solvente polar prótico solvatação eletrofílica solvatação nucleofílica Solvatação do cátion hidrônio e do ânion cloreto em água Constante Dielétrica (e) é a capacitância de um condensador na presença do solvente e no vácuo. Poder Ionizante (Y) é uma grandeza mais apropriada para medir o efeito do solvente e foi desenvolvido por Winstein e colaboradores. A velocidade de solvólise do cloreto de t-butila foi medida em etanol/20% de água. A esta mistura de solventes se atribuiu o valor de Y = 1. Cl H2O OH A velocidade foi medida em uma série de sistemas binários. aos quais foram atribuídos valores específicos de Y. A relação entre a velocidade de solvólise em um dado solvente (logk) e em EtOH/20%H2O (logk0) é dada pela expressão: arbitrário m = 1log k = logk0 + mY Y H2O = 3,49 MeOH = -1,09 EtOH = -2,03 tBuOH = -3,26 H2O = 78,5 MeOH = 32,70 EtOH = 24,5 tBuOH = 12,47 ε HCO2H CH3CO2H 58,5 6,15 Y ε HCO2H CH3CO2H 2,054 -1,639 HCl Cl- HCO2H O H O H O H O H O H O H O H O H ácido fórmico solvente polar prótico solvatação eletrofílica solvatação nucleofílica Solvatação do ácido fórmico protonado e do ânion cloreto em ácido fórmico O H O H O H O H O H O H O H O H O H O H H+ .. .. .. .. .. .... .. A basicidade do ácido fórmico é bem menor do que da água, como também Y e ε, dificultando a formação de cargas. H-Cl Cl - CH3CN: CH 3 CN: C H 3 C N : CH 3CN : CH3CN:acetonitrila solvente polar aprótico A dissociação do HCl em acetonitrila CH3CNH + Em água (ε = 78,5) o HCl está totalmente dissociado, em acetonitrila (ε = 39) a dissociação é parcial e em benzeno (ε = 2,3) não ocorre dissociação. O benzeno não é capaz de solvatar nem cátions nem ânions. Normalmente há diminuição da acidez quando se passa da água para o DMSO (ε = 39). H3C CH3 O O H H pKa = 9,0 (H2O) pKa = 13,3 (DMSO) H H pKa = 11,2 (H2O) pKa = 17,2 (DMSO) pKa = 15,0 (H2O) pKa = 18,0 (DMSO) H3C-NO2 pKa = 15,0 (H2O) pKa = 29,0 (DMSO) H3C-OH OH pKa = 10,0 (H2O) pKa = 18,0 (DMSO) A estabilização da base conjugada diminui, deslocando o equilíbrio na direção do ácido, com um aumento do pKa . 1 O DMSO solvata cátions de forma muito eficiente. 1 Solvata ânions de maneira menos eficiente. 1 A constante dielétrica também é menor. H3C S O CH3 .... .. .. + - DMSO M+ H3C S O CH3 .... .. .. + - H3C S O CH3 .... .. .. + - CH3S O H3C . . . .. . .. + - CH3S O H3C . . . .. . .. + - Efeito da polaridade do solvente sobre o Ka do ácido acético Solvente Ka pKa H2O 1,75x10-5 4,76 H2O:dioxano (8:2) 5,11x10-6 5,29 H2O:dioxano (7:3) 4,78x10-9 8,32 H2O:metanol (9:1) 1,25x10-5 4,9 H2O:metanol (8:2) 8,34x10-6 5,08 poder ionizante 1 A diminuição na quantidade de água no solvente aumenta o pKa. 1 Menor estabilização das cargas oriunda da dissociação. 1 Diminuição do poder ionizante desfavorece a dissociação do ácido. REFERÊNCIAS SUGERIDAS Noda, L.K.; “Superácidos: uma breve Revisão”; Química Nova 19, 135 (1996). Farias, R.B.; “Escalas termoquímicas e espectroscópicas de basicidade: breve revisão”; Química Nova 26, 213 (2003). Lima, V.A.; Battagla, M.; Guaracho, A.; Infante, A.; “Demonstração do efeito tampão de comprimidos efervescentes com extrato de repolho roxo”; Química Nova na Escola (1), 33 (1995). Rodrigues, J.A.R.; “Ligações de Hidrogênio Fortes, em Ácido Dicarboxílicos e Diminas Aromáticas”; Química Nova 23, 812 (2000). Costa, F.B.; “O Fogo Sagrado e os Alcalóides do Ergot”; Http://www.sbq.org/PN-NET/causo1.htm. Bolzani, M.S.; Bolzani, V.S.; “Do Peru à Java: A trajetória da Quinina ao longo dos séculos”; Http://www.sbq.org/PN-NET/causo4.htm.
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