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A PSICOPEDAGOGIA ENQUANTO CIÊNCIA E A APRENDIZAGEM

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A PSICOPEDAGOGIA ENQUANTO CIÊNCIA E A APRENDIZAGEM “CONHECENDO MELHOR”
Rosali Oliveira Mendes 
Resumo 
A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como parte do resultado final. A preocupação maior da Psicopedagogia é o ser que aprende o ser cognoscente e o seu objetivo geral é desenvolver e trabalhar esse ser de forma a potencializá-lo como uma pessoa autora, construtora da sua história, de conhecimentos, e adequadamente inserida em um contexto social. 
Palavras – Chaves: Aprendizagem; Ser Cognoscente; Psicopedagogia; Construção do Conhecimento. 
De acordo com Neves, “a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos”. (1991, apud Bossa 1994). 
As mudanças que aparecem no decorrer da vida, ao exigirem uma tomada de posição, resultam em crescimento para as crianças. 
Existem várias considerações em relação a ocupar-se em estudar a aprendizagem humana, no entanto, sabe-se que isso não nos levará a um único caminho. Pois o tema aprendizagem apresenta enorme complexidade, porém, é importante ressaltar que a concepção de aprendizagem é resultado de uma visão de homem e segundo Bossa, é em razão desta, que acontece a práxis psicopedagógica. 
O princípio norteador da psicopedagogia é a integração entre a objetividade e a subjetividade nos processos de ensino/aprendizagem. Assim sendo, os conhecimentos da psicopedagogia nos permitem compreender a integração entre a construção do conhecimento por parte do sujeito - o sujeito epistêmico e a constituição do sujeito pelo conhecimento - seu desejo, sua história, sua singularidade. Numa perspectiva psicopedagógica, para incorporar conhecimento e desejo nos processos de ensino/aprendizagem, existe o entrelaçamento de quatro níveis de estruturação, que já mencionamos anteriormente: organismo, corpo, estrutura cognitiva e estrutura dramática e simbólica. 
É indispensável que a psicopedagogia analise os fatores inconscientes que abrem espaço de liberdade humana, de pensar, de ser e de agir, constituindo assim, um dos principais aspectos para libertá-lo. 
Diante destes fatores anteriormente citados, pode-se concluir que, o objetivo da psicopedagogia é o estudo e a intervenção sobre as determinações inconscientes que permeiam o ensino-aprendizagem, abrindo espaço de liberdade e criatividade. 
O sujeito aprendente da psicopedagogia é constituído a partir do organismo biológico, articulado com a inteligência e o desejo. Da relação entre essas três estruturas ele constrói um corpo apto ou não para aprender. 
Para Fernández (2001): 
“A inteligência não se constrói no vazio: ela se nutre da experiência de prazer pela autoria. Por sua vez nas próprias experiências de aprendizagem o sujeito vai construindo a autoria de pensamento e o reconhecimento de que é capaz de transformar a realidade e a si mesmo.” 
Sabe-se da variedade de fatores que interferem no processo de aprendizagem e neste sentido a psicopedagogia vem caminhando para contribuir para uma melhor compreensão desse processo, ou seja, no processo de construção do conhecimento e nas dificuldades que se apresentam nessa construção, enquanto prática clínica e de maneira preventiva; busca construir uma relação saudável com o conhecimento podendo facilitar a sua construção. 
O estudo psicopedagógico atinge plenamente seus objetivos quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem daquele aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para atender as necessidades de aprendizagem. Desta forma, o fazer pedagógico se transforma, podendo se tornar uma ferramenta poderosa no projeto terapêutico. 
Desde a década de 80, a Psicopedagogia "tem se transformado em campo de estudos multidisciplinares" com o objetivo de "resgatar uma visão mais globalizante do processo de aprendizagem e, conseqüentemente, dos problemas decorrentes desse processo.”. 
É senso comum entre os profissionais da Psicopedagogia que o conhecimento multidisciplinar das ciências envolvidas nas descrições e reflexões do processo de aprendizagem seja fator obrigatório para a formação profissional. Isto porque, para realizar uma intervenção clínica ou institucional eficaz, é preciso conhecer e compreender a dinâmica psíquica das crianças - o que inclui os fatores inconscientes, pesquisar as referências sócio culturais que as envolvem e dimensionar as características da história de suas aprendizagens. 
Nesse sentido, os trabalhos desenvolvidos por Vygotsky e seus colaboradores parecem ser essenciais, uma vez que apresentam as idéias referentes à importância dos fatores sócio culturais na formação da identidade do aprendiz e esclarecem muito a respeito do desenvolvimento do pensamento, da linguagem e da formação de conceitos como um processo onde a interação e os fatores sócio históricos são fundamentais. 
Bossa (1994) ressalta que. 
“A psicopedagogia estando envolvida com o problema de aprendizagem, deve-se ocupar do processo de aprendizagem, estudando as características de aprendizagem humana, ou seja, como se aprende como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, ou seja, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las”. 
Segundo Fernández (1994), a aprendizagem é a apropriação, a reconstrução do conhecimento do outro, a partir do saber pessoal. Já as patologias na aprendizagem, tanto individual como social, correspondem a uma não coincidência entre o conhecimento e o saber. 
Como diz Fernandez, a Psicopedagogia transita pelas fendas, pelos espaços entre objetividade/subjetividade, ensinante/aprendente e é aí que está a sua força. A Psicopedagogia tem muito a ensinar sobre o vínculo professor/aluno, professor/ escola e sua incidência na construção do conhecimento e na constituição subjetiva de alunos e educadores. 
Ainda segundo a autora, a Psicopedagogia tem trabalhado com as relações entre as modalidades de ensino da escola e dos professores e as modalidades de aprendizagem de alunos e educadores. O conhecimento da modalidade de aprendizagem em um sujeito, assim como a íntima relação entre modalidade de ensino do ensinante e modalidade de aprendizagem do aprendente, ambas nos dá ferramentas preciosas para as intervenções psicopedagógicas, tanto a nível terapêutico quanto preventivo. A modalidade opera como uma matriz que está em permanente reconstrução e sobre a qual são incluídas as novas aprendizagens que vão transformando-a. Assim sendo, quando se diz que a modalidade de aprendizagem supõe um molde relacional que cada sujeito utiliza para aprender, está se referindo a uma organização do conjunto de aspectos de ordem de significação, da lógica, da simbólica, da corporeidade e da estética. 
A Psicopedagogia oferece inúmeros conhecimentos e formas de atuação para a abertura de espaços objetivo-subjetivos onde a autoria de pensamento de alunos e professores seja possível e, conseqüentemente, a aprendizagem ocorra. Cada um de nós apresenta uma forma, um modo particular singular de entrarmos em contato com o conhecimento. Isto quer dizer que cada um de nós tem nossa particular e individual modalidade de aprendizagem, que oferece uma maneira própria de nos aproximarmos do objeto de conhecimento, formando um saber que nos é peculiar. Esta modalidade de aprendizagem é construída desde o nascimento do indivíduo, e é através dela que este indivíduo enfrenta-se com a angústia inerente ao conhecer-desconhecer. 
Partindo do pressuposto que a aprendizagem estabelece um par dialético entre o desejo e o não desejo de aprender (Fernández, 1991) e que o desejo de aprender está intimamente relacionado com o tipo de interação quea criança estabeleceu e continua estabelecendo com sua família, percebe-se que o conhecimento da família do aprendiz e sua modalidade de aprendizagem são muito importantes para o trabalho educacional. Para Fernández o conceito de Modalidade de Aprendizagem é muito importante para a Psicopedagogia, pois “é uma maneira pessoal para aproximar-se do conhecimento e para conformar seu saber. É construída desde o nascimento a partir das relações familiares e funciona como uma matriz, um molde, um esquema de operar que o sujeito utiliza nas diferentes situações de aprendizagem durante sua vida.”. 
De acordo com Fernández, (2000) “A modalidade de aprendizagem se constitui numa matriz, num molde, num esquema de operar utilizado nas várias situações de aprendizagem”. 
Através do conhecimento da modalidade de aprendizagem do indivíduo poderemos introduzir um aparato pedagógico que atenda às necessidades específicas do aprendente. Propicia-nos uma passagem do universal para o particular, da análise estática do aqui/agora para o estudo de um processo dinâmico, de um objeto de conhecimento construído para um objeto de conhecimento em construção. O fundamental aqui é o modo como se dá o processo de construção de conhecimento, no interior do sujeito que aprende. 
Para Fernandez (1991), assumir essa atitude requer um conjunto de conhecimentos estruturados de forma a se constituir uma matriz teórica interpretativa, pois de acordo com ela, necessitamos incorporar conhecimentos sobre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, eles formam uma interseção desses níveis, pois separadamente, não conseguem resolvê-lo. 
Concluem-se então, que a aprendizagem é responsável pela inserção da pessoa no mundo da cultura e que mediante a aprendizagem, o indivíduo se incorpora ao mundo cultural, com uma participação ativa, ao se apropriar de conhecimentos e técnicas, construindo em sua interioridade um universo de representações simbólicas, e que atualmente a psicopedagogia refere-se a um saber e a um saber-fazer, às condições subjetivas e relacionais, em especial familiares e escolares, às inibições, atrasos e desvios do sujeito a ser diagnosticado. Assim sendo, o conhecimento psicopedagógico não se cristaliza numa delimitação fixa, nem nos déficits e alterações subjetivas do aprender, mas avalia a possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que o saber é próprio do sujeito. 
Atualmente o objeto de pesquisa da psicopedagogia é a autoria do pensamento no sujeito em situações de aprendizagem. 
Alguns adolescentes e adultos apresentam dificuldades para reconhecerem-se autores da sua produção. No entanto, percebeu-se que a triangulação ensinante-aprendente-objeto do conhecimento é necessária para que haja à aprendizagem saudável, a autoria do pensamento. 
Bibliografia: 
BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil. Contribuições a partir da Prática. 
Porto Alegre: Artes Médicas: 1994.Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico, Porto Alegre: Artes Médicas, 2002 FERNÁNDEZ, Alicia. Os idiomas do Aprendente. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. O saber em jogo: a psicopedagogia proporcionando autorias de pensamento, Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. 
________________. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre, Artes Médicas, 1990. 
_______________. A mulher escondida na professora: uma leitura psicopedagogica do ser mulher, da corporeidade e da aprendizagem. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994.
Publicado em 15/03/2007 15:23:00
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Rosali Oliveira Mendes - Pós-Graduada em Psicopedagogia Clinica e Mestre em Psicologia Educacional pelo Centro Universitário FIEO – Osasco, leciona aulas pelo IEC – Instituto Educacional de Carapicuíba, conveniado com a Universidade Iguaçu – RJ
Fonte: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=925

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