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Waldir de Oliveira UNIFEI-IEM EME705: MÁQUINAS DE FLUXO I Capítulo 1: Generalidades sobre Máquinas de Fluxo 1 ___________________________________________________________________________________________________ Capítulo 1 GENERALIDADES SOBRE MÁQUINAS DE FLUXO 1.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO E FINALIDADES DAS MÁQUINAS DE FLUXO a) Princípio de funcionamento As máquinas de fluxo (MF) constituem mecanismos transformadores de energia (Ep Ec T)R R cujo princípio de funcionamento é baseado na mudança da quantidade de movimento do fluido operado por elas. As máquinas de fluxo (Strömungsmaschinen) também são denominadas de turbomáquinas (Turbomaschinen, em alemão, e turbomachines, em inglês). O prefixo “turbo” é de origem latina e significa “o que gira”. Como será visto no Capítulo 2, as MF, quanto à moda- lidade, são classificadas em MF motoras (MFM), MF gera- doras (MFG) e MF compostas (MFC), sendo estas constitu- ídas por MFG e MFM, e MF reversíveis. As MFM extraem energia do fluido. Como exemplos, todas as turbinas hidráulicas, a gás e a vapor cujo princípio de funcionamento é baseado na mudança da quantidade de movimento do fluido operado por elas. As MFG adicionam energia ao fluido. Como exemplos, todas as bombas hidráulicas, todos os ventiladores, sopra- dores e compressores (turbocompressores) cujo princípio de funcionamento é baseado na mudança da quantidade de movimento do fluido operado por elas. As máquinas de fluxo operam energia potencial ou uma forma equivalente (Ep), energia cinética (Ec) e trabalho (energia) mecânico de eixo (T). b) Finalidades das máquinas de fluxo Operar transformações de energia do tipo (Ep Ec T)R R , com altos valores de rendimentos, de tal modo a competir economicamente com outras modalidades concorrentes e possuir características hidro ou aerodinâmi- cas que permitam a adaptação da MF ao equipamento (má- quina) principal ou ao sistema. 1.2 CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DAS MF E DAS MDP a) Características principais das máquinas de fluxo As máquinas de fluxo (turbomáquinas) também são denominadas de máquinas rotodinâmicas ou máquinas di- nâmicas. Suas principais características são: 1) Princípio de funcionamento: é baseado na mudança da quantidade de movimento do fluido operado por elas. 2) Operam intermediariamente energia cinética (Ec), ou seja, (Ep Ec T)R R . 3) Faixa de vazões operadas: pequenas, médias e gran- des vazões. 4) Faixa de pressões operadas: pequenas e médias pres- sões. 5) Para rotação constante da MF, a pressão depende da vazão, Figura 2.a. 6) O escoamento através das MF é contínuo. 7) As MF podem funcionar por um certo tempo com vazão nula. 8) No caso de bombas, geralmente, há necessidade de escorvamento (retirada completa de ar ou gás desde a en- trada da tubulação de aspiração até a bomba), se a bomba estiver posicionada acima do nível de líquido contido em um reservatório aberto à pressão atmosférica, para que a mesma possa bombear o líquido aspirado. 9) Se a viscosidade do fluido operado pela MF é muito alta, as características de desempenho são altamente degra- dadas (EME803). No caso de bombas, a altura efetiva de elevação, H, Figura 2.a, a vazão, Q, e o rendimento total da bomba, η, diminuem, ao passo que a potência de eixo (po- tência de acionamento), Pe, aumenta com o aumento da viscosidade. b) Características principais das máquinas de deslocamento positivo As máquinas de deslocamento positivo (MDP) também são denominadas de máquinas volumétricas, máquinas vo- lumógenas ou máquinas estáticas. Suas principais caracte- rísticas são: 1) Princípio de funcionamento (máquina a pistão): uma cavidade é aberta e o fluido é admitido em direção à entra- da da máquina, preenchendo os espaços existentes no seu interior. Em seguida, essa cavidade é fechada. Por ação mecânica dos componentes internos da máquina, o fluido existente no seu interior é expulso, através de uma outra cavidade que é aberta, em direção à saída da máquina. O ciclo se repete em cada rotação da MDP. 2) Não operam intermediariamente energia cinética (Ec), ou seja, Ep TR . 3) Faixa de vazões operadas: pequenas vazões. 4) Faixa de pressões operadas: pequenas, médias e grandes pressões. 5) Para rotação constante da MDP, a pressão pratica- mente independe da vazão, Figura 2.b. 6) O escoamento através das MDP é intermitente (as pressões variam periodicamente em cada ciclo). 7) As MDP não podem funcionar com vazão nula (a pressão é excessiva, isto é, praticamente ilimitada); há ne- cessidade de emprego de válvula de alívio de pressão (vál- vula de segurança). 8) As MDP são auto-escorvantes. 9) As MDP podem funcionar praticamente com fluido de qualquer viscosidade, Figura 2.b. Ec Ep T (a) Ec Ep T (b) Figura 1 Transformações de energia em MF: (a) MFM e (b) MFG. Waldir de Oliveira UNIFEI-IEM EME705: MÁQUINAS DE FLUXO I Capítulo 1: Generalidades sobre Máquinas de Fluxo 2 ___________________________________________________________________________________________________ 1.3 CAMPO DE APLICAÇÃO DAS MF E DAS MDP a) Com relação às faixas de vazões e pressões As MF operam pequenas, médias e grandes vazões, e pequenas e médias pressões. As MDP operam pequenas vazões, e pequenas, médias e grandes pressões. b) Com relação à aplicação técnica das MF b.1) Como máquina principal Turbinas hidráulicas, a gás e a vapor para geração de energia elétrica; turbina a vapor para propulsão marítima; bomba para central hidrelétrica de acumulação; etc. b.2) Como máquina auxiliar Turbocompressor de turbina a gás; bomba de alimenta- ção de água para caldeira de usina térmica a vapor; ventila- dor para ar-condicionado; soprador para alto-forno; aco- plamento hidráulico; conversor hidrodinâmico de torque; etc. 1.4 TRANSFORMAÇÕES DE ENERGIA a) As MF se distinguem das MDP por operarem intermedi- ariamente energia cinética (Ep Ec T)R R , Figura 3. b) As MDP se distinguem das MF por não operarem inter- mediariamente energia cinética Ep TR , Figura 4. 1.5 GRANDEZAS DE FUNCIONAMENTO Uma MF, que gira com rotação n (rps), imprime (MFG) ou tem disponível (MFM) no fluxo de massa m� (kg/s) de um fluido que a atravessa o conteúdo de energia por unidade de massa denominado de trabalho específico Y (J/kg). Analogamente, a MF imprime ou tem disponível no fluxo de massa m� (kg/s) de um fluido que a atravessa a potência útil (potência hidráulica) Ph (W). A vazão em massa, m� , é representada por m Q V= ρ = ρ �� , (1.1) sendo ρ a massa específica do fluido e Q e V� as vazões volumétricas. Geralmente, o símbolo Q é utilizado para a vazão volumétrica de líquidos e o símbolo V� para a vazão volumétrica de gases. O trabalho específico, Y , é representado por TY g H p /= = Δ ρ , (1.2) sendo g a aceleração da gravidade local, H a altura de ener- gia (altura efetiva de elevação, para bombas, e altura de queda líquida, para turbinas) e TpΔ a diferença de pressões totais (ou, simplesmente, pressão total da MF), normalmen- te, utilizada para MF que operam gases. A potência útil ou potência hidráulica ou ainda potên- cia do fluido, Ph, é representada por T TPh m Y Q Y Q H V p Q p= = ρ = γ = Δ = Δ�� . (1.3) A diferença entre a potência de entrada e a potência de saída da MF é a potência perdida Pp (EME803). Então, Ph Pe Pp= ± , (1.4) Figura 5 Algumas grandezasde funcionamento de MF: (a) MFM e (b) MFG. Y, m� T MFM E S Pe Ph Pp (a) (b) MFG T E S Pe Y, m� Ph Pp Figura 3 Transformações de energia em MF: (a) MFM e (b) MFG. (b) Ec Ep T E S (a) Ep T Ec E S Figura 4 Transformações de energia em MDP: (a) MDPM e (b) MDPG. (a) Ep T E S (b) Ep T E S Figura 2 Altura efetiva de elevação, H, em função da vazão, Q, para bombas hidráulicas com rotação constante ope- rando líquidos de baixa e alta viscosidades: (a) Bomba centrífuga (MF) e (b) Bomba de palhetas (MDP). Q H (a) (b) Q H Waldir de Oliveira UNIFEI-IEM EME705: MÁQUINAS DE FLUXO I Capítulo 1: Generalidades sobre Máquinas de Fluxo 3 ___________________________________________________________________________________________________ onde o sinal + se refere à MFM e o sinal − à MFG. O rendimento total da MF, η , é representado por 1Pe Ph ±⎛ ⎞η = ⎜ ⎟⎝ ⎠ , (1.5) onde o sinal + se refere à MFM e o sinal − à MFG. 1.6 ACOPLAMENTO DE MFM/MFG COM MÁQUINA ACIONADA/ACIONADORA A MF pode estar acoplada direta ou indiretamente a qualquer máquina. Em geral, uma MFM está acoplada dire- tamente a um gerador elétrico (GE) para produção de ener- gia elétrica, Figura 6.a, e um motor elétrico (ME) está aco- plado diretamente a uma MFG, Figura 6.b. O rendimento total da máquina de fluxo, η , é represen- tado pela Eq. (1.5). O rendimento total da máquina elétrica, elη , é repre- sentado por 1 el Pe Pel ±⎛ ⎞η = ⎜ ⎟⎝ ⎠ , (1.6) onde o sinal + se refere ao ME e o sinal − ao GE. Pe, em (1.6), é a potência de eixo da máquina elétrica. No caso de acoplamento direto, sem perda na transmissão máquina de fluxo/máquina elétrica, Pe, em (1.6), é igual à potência de eixo da máquina de fluxo. O rendimento total do conjunto máquina de fluxo /máquina elétrica, conjη , é representado por 1 conj Pel Ph ±⎛ ⎞η = ⎜ ⎟⎝ ⎠ , (1.7) onde o sinal + se refere ao conjunto MFM/GE e o sinal − ao conjunto MFG/ME. 1.7 CONVENÇÃO PARA O TRABALHO ESPECÍFICO DE MFG E MFM Como foi visto, o trabalho específico, Y, de uma MF corresponde ao conteúdo de energia por unidade de massa do fluido operado por ela. Define-se altura de energia de uma máquina de fluxo, H, como sendo (veja a Eq. (1.2)) T Tp pYH g g Δ Δ= = =ρ γ . (1.8) A altura de energia tem unidade de comprimento de coluna de fluido operado pela MF, por exemplo, mH2O. a) Instalação com bomba hidráulica (Figura 1.21 da “Co- letânea de Desenhos sobre Máquinas de Fluxo”) Conforme visto no Item 1.1, uma das finalidades da MF é permitir a sua adaptação ao sistema. O conjunto MF (neste caso, uma bomba) e sistema (reservatórios, tubos, conexões, válvulas, etc.) formam o que é chamado de insta- lação (neste caso, uma instalação de bombeamento). Para haver bombeamento do líquido contido no reser- vatório de aspiração para o reservatório de recalque nas condições exigidas pelo sistema, a altura de energia da bomba (altura efetiva de elevação, altura total de elevação ou altura de carga da bomba), H = HB, tem que ser igual à altura de energia do sistema, H = HSist. No caso da instalação de bombeamento da Figura 1.21, a altura de energia do sistema é representada por 2 1Sist B geo 1 E S 2 p p H H H H Perdas Perdas → → −= = = + + +γ , (1.9) onde 1p e 2p são as pressões, respectivamente, nos reser- vatórios de aspiração e de recalque; geoH (altura geométri- ca) é a diferença entre o nível superior de líquido contido no reservatório de recalque (não necessariamente acima do reservatório de aspiração) e o nível superior de líquido con- tido no reservatório de aspiração; 1 E Perdas → são todas as per- das de carga (distribuídas e localizadas) desde o reservató- rio de aspiração até a entrada da bomba e S 2 Perdas → são todas as perdas de carga (distribuídas e localizadas) desde a saída da bomba até o reservatório de recalque. Em (1.9), essas perdas são dadas em unidade de comprimento. b) Instalação com turbina hidráulica (Figura 1.22 da “Coletânea de Desenhos sobre Máquinas de Fluxo”) No caso da instalação com turbina hidráulica da Figura 1.22, a altura de energia (altura de queda líquida) é repre- sentada por br 1 E H H Perdas → = − , (1.10) onde brH (altura de queda bruta) é o desnível de água entre os níveis a montante e a jusante da turbina e 1 E Perdas → são todas as perdas de carga desde o reservatório até a entrada da turbina. 1.8 APLICAÇÕES Figura 6 Acoplamento de máquina de fluxo com máquina elétrica: (a) MFM com GE e (b) MFG com ME. (a) MFM E S Pe Ph GE Pel (b) Ph MFG S E Pe ME Pel
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