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Aula 17 Ma´ximo e Mı´nimo Absolutos O maior e o menor valor de f(x, y), num certo domı´nio, nem sempre existem, como ilustrado na Figura 1 (domı´nio = R2). Neste caso, na˜o existe ma´ximo abso- luto. Uma das causas, mas na˜o a u´nica, e´ o domı´nio da func¸a˜o na˜o ser limitado. Figura 1 Figura 2 Figura 3 Na Figura 2, o domı´nio da func¸a˜o f(x, y) e´ limitado mas continua na˜o existindo ma´ximo absoluto (note que o valor aparentemente maior, assinalado com um c´ırculo vermelho, na˜o e´ um valor assumido pela func¸a˜o). Isto ocorre porque o domı´nio da func¸a˜o na˜o e´ fechado, isto e´, na˜o conte´m todos os pontos da sua fronteira. Na Figura 3, o domı´nio da func¸a˜o f(x, y) e´ limitado e fechado, e existem mı´nimo absoluto, que ocorre no interior do domı´nio, e ma´ximo absoluto, que ocorre na fronteira do domı´nio. O teorema a seguir da´ condic¸o˜es gerais que garantem a existeˆncia do ma´ximo e mı´nimo absolutos de uma func¸a˜o f num determinado domı´nio D. Teorema 1 (Weierstrass). Seja f uma func¸a˜o cont´ınua num domı´nio D limitado e fechado. Enta˜o f tem ma´ximo e mı´nimo absolutos em D. Como calcular o ma´ximo e mı´nimo absolutos, caso existam? Em ca´lculo I, como calcula´vamos o ma´ximo e mı´nimo absolutos de uma func¸a˜o cont´ınua de uma varia´vel f(x) no intervalo limitado e fechado I = [a, b], assumindo que f e´ diferenciaa´vel em ]a, b[? 1 2 Pelo Teorema de Weierstrass, o ma´ximo e mı´nimo absolutos de f em I existem. Existem 2 possibilidades para os pontos onde estes valores ocorrem: (1) Ou eles ocorrem no interior de I, isto e´, em ]a, b[, e necessariamente ocorrem em pontos cr´ıticos (por exemplo, se for ponto de ma´ximo absoluto, enta˜o e´ ponto de ma´ximo local e consequentemente ponto cr´ıtico). (2) Ou algum deles ocorre na fronteira de I, isto e´, em {a, b}. Portanto, apenas temos de comparar os valores de f nos pontos cr´ıticos e nos pontos a e b: o ma´ximo absoluto sera´ o maior destes valores e o mı´nimo absoluto sera´ o menor destes valores. Para func¸o˜es de duas ou mais varia´veis, acontece o mesmo, o ma´ximo e mı´nimo absolutos podem ocorrer no interior de D ou na fronteira de D (assumindo que estamos nas condic¸o˜es de Weierstrass): Interior de D Fronteira de D Candidatos 1: pontos cr´ıticos Candidatos 2: duas maneiras: i) Reduc¸a˜o de varia´vel ou ii) Me´todo de Multiplicador de Lagrange Assumindo que (f e´ diferencia´vel no interior de D e) existe um nu´mero finito de pontos cr´ıticos no interior de D, digamos (x1, y1), · · · , (xn, yn), estes sera˜o os Candidatos 1 onde o ma´ximo ou mı´nimo absolutos podem ocorrer. Ao contra´rio do que acontecia em ca´lculo I, a fronteira de D agora e´ um conjunto com infinitos pontos, enta˜o para tentar obter um nu´mero finito de Candidatos 2, temos que apli- car algum me´todo. Admitindo que depois de aplicar algum me´todo chegamos a um nu´mero finito de Candidatos 2, (x¯1, y¯1), · · · , (x¯n, y¯n), o ma´ximo e mı´nimo absolutos de f em D sa˜o o maior e o menor valor, respectivamente de f(x1, y1), · · · , f(xn, yn)︸ ︷︷ ︸ candidatos 1 , f(x¯1, y¯1), · · · , f(x¯n, y¯n)︸ ︷︷ ︸ candidatos 2 . Exemplo 1. Calcule, se existirem, o ma´ximo e mı´nimo absolutos de f(x, y) = x2 + 2y2 − x no domı´nio x2 + y2 ≤ 1. D : x2 + y2 ≤ 1 Primeiro notamos que f e´ cont´ınua (polinoˆmio) e D e´ um domı´nio limitado e fechado. Logo, pelo Teorema Weierstrass, existem ma´ximo e mı´nimo absolutos de f em D. 3 • Interior de D: x2 + y2 < 1 Pontos cr´ıticos: ∂f ∂x = 0 ∂f ∂y = 0 ⇔ { 2x− 1 = 0 4y = 0 ⇔ ( 1 2 , 0 ) . Note que ( 1 2 , 0 ) ∈ interior D. Candidato 1: f ( 1 2 , 0 ) = −1 4 . • Fronteira de D: x2 + y2 = 1 Vamos achar os candidatos a ma´ximo e mı´nimo absolutos de f na fron- teira de duas maneiras distintas. Agora vamos fazer atrave´s de “reduc¸a˜o de varia´vel”. Vamos utilizar a equac¸a˜o da fronteira para reduzir o problema a uma varia´vel. x2 + y2 = 1⇔ y2 = 1− x2 (em geral ter´ıamos de considerar os casos y = √ 1− x2 e y = −√1− x2, mas como neste caso f so´ depende de y2, isto na˜o e´ necessa´rio). A restric¸a˜o de f a` fronteira e´ f˜(x) = x2 + 2(1− x2)− x ou seja f˜(x) = −x2 − x+ 2, no domı´nio − 1 ≤ x ≤ 1 ou I = [−1, 1]. Agora estamos com um problema de ca´lculo I. – Interior de I: ]− 1, 1[. Pontos cr´ıticos de f˜ : f˜ ′(x) = −2x− 1 = 0⇔ x = −1 2 f˜(−1 2 ) = 9 4 . 4 – Fronteira de I: {−1, 1}. f˜(−1) = 2 f˜(1) = 0. Logo, o ma´ximo absoluto de f em D e´ 94 (o maior valor entre os candidatos − 14 , 94 , 2, 0). E o mı´nimo absoluto de f em D e´ − 14 . Note que o mı´nimo absoluto de f em D ocorre no interior de D, no ponto (− 12 , 0). Ja´ o ma´ximo absoluto de f em D ocorre na fronteira de D. Em que pontos? x = −1 2 e y =? Como estamos na fronteira, x2 + y2 = 1 ⇔ y2 = 1 − x2 ⇔ y2 = 34 ⇔ y = ± √ 3 2 . Ou seja, o ma´ximo absoluto ocorre nos dois pontos da fronteira (− 12 ,± √ 3 2 ). (O valor de f nestes dois pontos e´ igual a 94 .) De modo geral, resolver este tipo de problema na fronteira por reduc¸a˜o de varia´vel e´ mais complicado que este caso. Em geral, temos de separar a fronteira em “va´rios pedac¸os”. Ale´m disso, se comec¸a´ssemos com uma func¸a˜o de 3 varia´veis f(x, y, z), o problema na fronteira seria reduzido a um problema de duas varia´veis. Quando fossemos considerar o novo problema na fronteira, ter´ıamos de fazer uma nova reduc¸a˜o de varia´vel. Vamos agora utilizar o Me´todo de Multiplicadores de Lagrange que permite resolver o problema na fronteira de outra maneira (sem fazer reduc¸a˜o do nu´mero de varia´veis), independentemente do nu´mero de varia´veis da func¸a˜o. Por exemplo, se f(x, y, z) e´ uma func¸a˜o de 3 varia´veis, no domı´nio limitado e fechado x2 + y2 + z2 ≤ 1, a fronteira deste domı´nio e´ a esfera x2 + y2 + z2 = 1. Mais geralmente, considere o seguinte problema de determinar o maior/menor valor da func¸a˜o f(x, y, z) restrita a` superf´ıcie de n´ıvel de S : g(x, y, z) = k, onde f e g sa˜o func¸o˜es diferencia´veis (assumindo que estes valores existem, por exemplo, pelo teorema de Weierstrass, se S e´ um domı´nio limitado e fechado): Maximizar: f(x, y, z) Restric¸a˜o: g(x, y, z) = k (superf´ıcie de n´ıvel S) Quais sa˜o os candidatos a pontos de ma´ximo (ou mı´nimo) de f em S? Note que ~∇f(x, y, z) aponta na direc¸a˜o de maior crescimento de f , no ponto (x, y, z). Ou seja, partindo de um ponto (x, y, z) de S, se seguirmos na direc¸a˜o de ~∇f(x, y, z), vamos para pontos onde f assume valores maiores. A questa˜o e´ que na˜o podemos sair de S! Se num ponto (x1, y1, z1) ∈ S, o vetor ~∇f(x1, y1, z1) na˜o 5 for perpendicular a S, enta˜o o vetor ~∇f(x1, y1, z1) se projeta num vetor na˜o-nulo ~t tangente a S (veja a figura acima). Se andarmos dentro de S na direc¸a˜o de ~t, os valores de f tambe´m aumentam e portanto (x1, y1, z1) na˜o pode ser ponto de ma´ximo de f em S. De fato, os candidatos (x, y, z) ∈ S a pontos de ma´ximo (ou mı´nimo) de f em S devera˜o satisfazer D~tf(x, y, z) = 0, ∀ vetor tangente ~t em S ⇔ ~∇f(x, y, z) · ~t = 0, ∀ vetor tangente ~t em S ⇔ ~∇f(x, y, z) ⊥ S. Como S e´ a superf´ıcie de n´ıvel k de g(x, y, z), o vetor ~∇g(x, y, z) e´ normal a S em qualquer ponto (x, y, z) ∈ S (se este vetor for na˜o-nulo). Enta˜o ~∇f(x, y, z) ⊥ S significa ~∇f(x, y, z) = λ~∇g(x, y, z) para algum λ ∈ R (se ~∇g(x, y, z) 6= ~0). Enta˜o os candidatos a ma´ximo ou mı´nimo de f em S devera˜o ser soluc¸a˜o do sistema: Me´t. Multiplicadores Lagrange: { ~∇f(x, y, z) = λ~∇g(x, y, z) g(x, y, z) = k (se ~∇g(x, y, z) 6= ~0) Note que, no sistema acima, λ e´ uma inco´gnita, logo temos um sistema na˜o-linear com 4 equac¸o˜es e 4 inco´gnitas. Se o sistema tiver um nu´mero finito de soluc¸o˜es, temos um nu´mero finito de candidatos! Obs.: Embora tenhamos ilustrado comuma func¸a˜o de 3 varia´veis, o Me´todo de Multiplicadores de Lagrange aplica-se a func¸o˜es de n varia´veis. Exemplo 2. Vamos refazer o Exemplo 1, agora utilizando o Me´todo de Multipli- cadores de Lagrange. • Interior de D: x2 + y2 < 1. Feito no Exemplo 1 (Pontos Cr´ıticos). f ( 1 2 , 0 ) = 1 4 . • Fronteira de D: x2 + y2 = 1. Vamos utilizar o Me´todo de Multiplicadores de Lagrange. Ma´ximo/Mı´nimo: f(x, y) = x2 + 2y2 − x Restric¸a˜o: x2 + y2︸ ︷︷ ︸ g(x,y) = 1 6 (Note que ~∇g(x, y) 6= ~0 na fronteira de D). { ~∇f(x, y) = λ~∇g(x, y) ~∇g(x, y) = 1 ⇔ 2x− 1 = λ2x 4y = λ2y x2 + y2 = 1 Da segunda equac¸a˜o, temos: 4y = λ2y ⇔ y(λ− 2) ⇔ y = 0 ou λ = 2 Se y = 0, enta˜o:{ 2x− 1 = λ2x x2 = 1 ⇒ x = ±1. f(1, 0) = 0 f(−1, 0) = 2. Se λ = 2, enta˜o:{ 2x− 1 = 4x x2 + y2 = 1 ⇔ x = − 1 2 y2 = 1− x2 ⇔ y = ± √ 3 2 f ( −1 2 ,± √ 3 2 ) = 9 4 . Logo, o ma´ximo de f em D e´ 9 4 e ocorre na fronteira de D, nos pontos( −1 2 ,± √ 3 2 ) . O mı´nimo de f em D e´ −1 4 e ocorre no interior de D, no ponto( −1 2 , 0 ) . Na pro´xima aula continuaremos com mais exemplos de aplicac¸a˜o do Me´todo de Multiplicadores de Lagrange Exerc´ıcio 1) Determine os valores de ma´ximo e mı´nimo da func¸a˜o f(x, y) = x4+y4 no domı´nio x2 + y2 ≤ 1.
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