Buscar

Trabalho final relatorio parcial Analise da Decisao

Prévia do material em texto

Introdução
Logo no início do semestre, a turma do segundo ano de Administração da FEA-USP da qual faço parte participou de uma atividade muito diferente do que se esperaria numa sala de aula de uma universidade. A atividade consistia num jogo de regras simples, porém que envolviam decisões um tanto complexas.
O “moral” da história era uma mensagem simplista de natureza altruística de como devemos cooperar com os outros para fazer o bem, mas eu vi nesse jogo muito mais que uma lição de moral: para mim a atividade foi um exercício de comportamento decisório que mostrava uma ponta minúscula do iceberg gigante que é a tomada de decisão em circunstâncias de maximização dos interesses.
Trabalharemos sobre a atividade e o resultado obtido com os alunos da sala para descobrir a motivação por trás das decisões e como podemos aplicar este conhecimento em situações do cotidiano.
Objetivos
Analisar a atividade e dissecar quais decisões estavam envolvidas nela
Explicar ao menos parcialmente o comportamento decisório apresentado pelos alunos
Conceitos utilizados
Para este trabalho usaremos os conceitos das Ciências Econômicas e também da área de Psicologia tais como Viés Cognitivo, Teoria da Decisão, Teoria dos Jogos, e outros.
Descrição da decisão
 A atividade
A sala de aproximadamente 40 alunos foi dividida uniformemente e aleatoriamente em 4 grupos, designados Grupo 1, 2, 3 e 4. A seguir, cada grupo recebeu uma folha contendo o objetivo e as regras do jogo. A seguir:
Objetivo: Maximizar os pontos ganhos
Regras:
O jogo terá 10 rodadas
No início de cada rodada, cada grupo decidirá secretamente entre duas escolhas: “Cooperar”(C) e “Não cooperar”(NC), escreverá num papel e entregará ao professor
Os ganhos de cada grupo dependerá tanto da escolha do grupo quanto da escolha dos outros grupos:
0C/4NC – Todos perdem 100 pontos
1C/3NC – C perde 300 pontos, NC’s ganham 100
2C/2NC – C’s perdem 200 pontos, NC’s ganham 200
3C/1NC – C’s perdem 100 pontos, NC ganha 300
4C/0NC – Todos ganham 100 pontos
O ganho/perda dos pontos se multiplicam por 3 nas rodadas 5 e 8, e por 5 na última rodada, e estas rodadas são excepcionais
Antes das rodadas excepcionais há um encontro entre os líderes de cada grupo, para possivelmente debater e negociar plano de ações futuros.
 As decisões
Todos os grupos optaram por não cooperação nos primeiros 4 turnos, apesar de muita negociação “informal” entre os grupos.
Na primeira reunião, antes da rodada 5, um dos líderes(grupo 2) argumentou que ninguém sairia ganhando se continuassem como estavam, e tentou convencer os outros a escolherem a opção de cooperação. Todos concordaram, menos o do grupo(1) que se manteve em silêncio. Os líderes voltaram para os seus lugares e o jogo seguiu. Na rodada seguinte, o grupo 2 escolheu a opção C, enquanto todos os outros continuaram com a opção NC.
Todos os grupos escolheram a opção NC para o resto do jogo. O debate era mais acalorado antes das rodadas excepcionais, mas no final nenhum grupo decidiu se arriscar com a opção C.
Análise e conclusão
É possível notar imediatamente que o jogo nada mais é do que uma variação da versão iterada do dilema dos prisioneiros, que é um caso canônico da Teoria dos Jogos para ilustrar porque dois(ou mais) indivíduos puramente racionais podem não cooperar, mesmo que se aparente que esta seria a melhor solução. Número de artigos na literatura acadêmica a respeito deste problema está na casa dos milhares, e sua conclusão é bastante conhecida.
Para jogos com uma ou um número fixado N iterações, a solução ótima teórica é sempre “não cooperar” em todas as rodadas. O único equilíbrio de Nash possível é a permanente não-cooperação. A prova é indutiva: o jogador maximiza os ganhos não cooperando na última rodada, já que o oponente não terá mais oportunidades para retaliar. Assim, dois jogadores perfeitamente racionais não cooperarão na última rodada. Mas já que então a última rodada os dois não cooperarão, o jogador maximizaria os ganhos se não cooperasse na penúltima rodada também. Extrapolando esse raciocínio ao limite, chegamos à conclusão que, com um número de rodadas fixado N, qualquer que seja N, a melhor estratégia na teoria é a permanente não-cooperação. Jogadores perfeitamente racionais cooperarão se e somente se o número de rodadas for ilimitado.
Resultados experimentais sobre a estratégia a ser adotada discorda da solução teorica e adota uma postura que os acadêmicos denominaram de suprarracional. Estratégias suprarracionais introduzem cooperação sem justificativa e têm, em geral, um desempenho muito melhor que a solução teórica numa bateria de simulações contra outras estratégicas de diversos tipos.
Competição de algoritmos que incorporam estratégias para o dilema do prisioneiro iterado não são raros nas universidades, e o que se observou foi que, as melhores estratégicas têm certas características em comum:
Bonzinho (Sempre começa cooperando)
Retaliador (Não é um saco de pancadas, incorpora algum tipo de retaliação)
Piedoso (Se o oponente volta a cooperar a estratégia incorpora um “perdão”)
Não invejoso (Pontuar mais que o oponente não faz parte da lista de objetivos)
Podemos então dizer que 3 dos grupos se comportaram de forma perfeitamente racional, o que para mim é uma pequena surpresa, considerando que estamos falando de alunos da FEA. É interessante notar neste ponto que, nos diversos experimentos feitos pelos pesquisadores nas últimas décadas sobre o assunto, a solução perfeitamente racional falhou em prever o comportamento das pessoas numa esmagadora maioria das vezes. Me limito a concluir que alunos na minha sala são um grupo distinto da maioria.

Continue navegando