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Economia-do conceito à realidade (PFA)

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FACULDADE DE DIREITO DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO
CREDENCIADA PELA PORTARIA MEC N.º 3.640, DE 17/10/2005 – DUO DE 20/10/2005
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
AUTORIIZADDO PELA PORTARIA MECN.º846, DE 4 DE ABRIL DE 2006 – DUO DE 05/04/2006
Economia: do conceito à realidade (PFA)
	
Segundo o Dictionnaire d’économie et des sciences sociales, “a economia estuda a maneira pela qual os indivíduos, os grupos, as sociedades utilizam recursos raros, tendo em vista satisfazer da melhor forma possível suas necessidades. Tratemos de bem especificar os termos desta definição. 
A economia se interessa pelos indivíduos, pelos grupos que ela qualifica de agentes econômicos” (por exemplo, uma empresa, uma família), isto é, que têm autonomia de decisão. 
Os agentes econômicos têm objetivos (comer, vestir-se, distrair-se, instruir-se, etc). A estes objetivos a economia chama necessidades. Mas os agentes econômicos “dispõem sobretudo de meios limitados (a renda para um casal, o orçamento para um Estado, as receitas para uma empresa) para os satisfazer. Se todos os bens desejados existissem em quantidade ilimitada na natureza, seria inútil interrogar sobre o modo de escolher tal bem ao invés de outro. A idéia de raridade é fundamental para definir a atividade econômica. É porque os bens são raros que a ciência econômica existe. A raridade permite também definir um bem econômico (é um bem raro), por oposição a um bem não econômico (por exemplo, o ar) que existe em quantidade ilimitada. Um tal bem disponível sem esforço é chamado bem livre. A economia é portanto a ciência das escolhas”. As escolhas devem se fazer de maneira a obter o melhor resultado possível, “o que significa que os agentes econômicos fazem cálculos para obter o máximo de satisfação com o mínimo de esforço ou o mínimo de recursos utilizados. Os agentes econômicos são, portanto, seres de cálculo, seres racionais.” Segundo Edmond Malinvaud a economia é uma “ciência que estuda como recursos raros são empregados para satisfação de necessidades dos homens vivendo em sociedade. Ela se interessa, de um lado, pelas operações essenciais que são a produção, a distribuição e o consumo de bens e, de outro lado, pelas instituições e atividades que têm por objeto facilitar estas operações.”
A “ciência econômica indica as melhores escolhas possíveis, tendo em vista recursos de que dispõem os agentes econômicos”, tornando mais fácil realizar a partilha da produção quando ela aumenta regularmente. “A ciência econômica busca, portanto, favorecer o crescimento econômico, examinando as causas de uma diminuição ou de um desaparecimento do crescimento.” Ela evidencia relações entre variáveis econômicas – os preços e a demanda, o consumo e os rendimentos, a taxa de juro e os investimentos, etc. Ainda, procura relacionar as taxas de juros com o nível dos investimentos (as taxas representam o custo dos empréstimos). 
 “Para tentar aproximar o máximo da realidade, o economista constrói modelos, isto é, um conjunto de relações entre o maior número de variáveis econômicas possíveis. Mas o economista, deve, para isto, fazer numerosas simplificações... De fato, os economistas não concordam sobre a formação dos modelos, tendo em vista a dificuldade de coordenação de milhões de decisões independentes tomadas pelos agentes econômicos”. 
Considerando os fatores da produção, percebe-se que historicamente a importância de cada um deles tem sido variável. No feudalismo, a terra era o principal fator; no capitalismo o capital sobrepujou a terra, evidentemente que não podendo excluir a sua importância. Em todas as fases econômicas o fator trabalho sempre foi relevante, embora quase sempre ideologicamente subestimado, tendo em vista os interesses econômicos dos senhores feudais e dos capitalistas. Hoje, a tecnologia é um fator de relevância inafastável, cuja importância antes nunca foi tão grande, tendo em vista o que representa no aumento produção, na sua distribuição e conseqüentemente nos preços das mercadorias.
A economia é tratada como uma ciência, sendo sua elaboração permeada de conhecimentos matemáticos, estatísticos e econométricos mas, na medida em que se refinou na teoria, afastou-se da realidade, construindo modelos tão sofisticados quanto irreais. Isto se explica porque há interesses e valores freqüentemente ocultados na sua elaboração teórica, tradutores de interesses e da concepção de mundo dos seus elaboradores. Daí, a dificuldade extrema de separar a sua elaboração científica da ideologia que traduz. Hoje, a elaboração econômica sofre, de modo acentuado, a influência da concepção neoliberal vigente. 
Defende esta o Estado mínimo, isto é, o Estado não interventor na ordem econômica, o que se reflete em seus estudos, realizados por professores de renomadas Universidades e por agentes econômicos situados na estrutura do Estado, numa interligação tão corrente quanto condenável. 
Como escreveu Edgar Morin, “é a relação com o não econômico que falta à ciência econômica. Esta é uma ciência cuja matematização e formalização são cada vez mais rigorosas e sofisticadas; mas estas qualidades contêm o defeito de uma abstração que se separa do contexto “social, cultural, político; ela conquista sua precisão formal esquecendo a complexidade de sua situação real...” O estudo acadêmico da economia concentra-se sobre os dados mensuráveis matematicamente, mas deixa de lado os não mensuráveis, isto é, os custos sociais das decisões econômicas, de que derivam, freqüentemente, sofrimento, doenças, suicídios, alcoolismo, consumo de drogas, violências na família, etc. No entanto, os custos sociais traduzem-se em grandes gastos econômicos, que são desconsiderados.[1: MORIN, Edgar e KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria. Tradução por Paulo Neves. Porto Alegre: Sulina, 1995. Original francês: Terre-Patrie. p. 70. ][2: BOURDIEU, Pierre. Contre-feux. Paris: Raison d’Agir, 1998. p. 45-46.]
Segundo o conceito prevalente, a economia trata do uso mais eficiente de recursos materiais raros, escassos. Mas, a atividade econômica real ignora o conceito e dilapida os recursos ambientais, ao mesmo tempo em que externaliza seus custos, dando-os, assim, como inexistentes. Recorre à externalização dos custos, o que significa que uma parte destes é paga por terceiros, seja o Estado, a sociedade ou a natureza. As operações de produção não incluem “o custo de restauração do meio ambiente em vista de preservá-lo”. [3: WALLERSTEIN, Immanuel. Ecologia e custos capitalistas de produção: sem saída. In:___ O fim do mundo como o concebemos – Ciência social para o século XXI. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Revan, 2002. p. 111-121.]
Apesar das deficiências manifestas da teoria econômica atual, notadamente de suas abstrações afastadas da realidade humana, por ela se orienta o Fundo Monetário Internacional (FMI), fazendo com que os Estados em dificuldades econômicas apliquem suas receitas como condição para concessão de seus empréstimos, do que têm derivado desemprego estrutural e violência social. 
Editado por FERREIRA, MARCOS VINICIUS VIEIRA, aluno FMP-insc.2014/1
	
	
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