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SISTEMAS AGROFLORESTAIS DE BAIXA COMPLEXIDADE BIOLÓGICA Moacir José Sales Medrado Consultor da MCA Consultores Agroflorestais OBJETIVO O objetivo desta aula é repassar para você conceitos básicos para o desenvolvimento de nosso conteúdo sobre sistema agroflorestal (SAF). Também será apresentada, resumidamente, uma experiência sobre sistema agroflorestal de baixa complexidade. Esperamos que desta maneira você possa perceber a importância da utilização dos SAFs e, também de uma maior complexidade biológica deste tipo de sistema. CONTEÚDO Para o atingimento de nosso objetivo trabalharemos com você o seguinte conteúdo. TÓPICO 1 – Aspectos básicos sobre sistemas agroflorestais TÓPICO 2 – Exemplo de sistema agroflorestal de baixa complexidade biológica TÓPICO 1 ASPECTOS BÁSICOS SOBRE SISTEMAS AGROFLORESTAIS OBJETIVO E CONTEÚDO O objetivo deste tópico é propiciar a você uma base para o entendimento sobre sistema agroflorestal . Para isto, trabalharemos o seguinte conteúdo: O significado da agrossilvicultura. A definição de prática agroflorestal. A definição de tecnologia agroflorestal. O conceito de sistema agroflorestal. A classificação do sistema agroflorestal. O SIGNIFICADO DE AGROSSILVICULTURA “Agrossilvicultura é o nome coletivo para sistemas de uso da terra e tecnologias em que plantas lenhosas perenes (árvores, arbustos, palmeiras, bambus) são cultivadas em associação com plantas herbáceas (culturas agrícolas e/ou pastagens) e/ou animais, em uma mesma unidade de manejo, e de acordo com um arranjo espacial, temporal ou ambos; nos quais deve haver tanto interações ecológicas como econômicas entre os componentes lenhosos e não lenhosos no sistema.” Young (1991) A DEFINIÇÃO DE PRÁTICA AGROFLORESTAL Operação específica de natureza agroflorestal e que consiste do arranjo do componente florestal. Várias práticas podem fazer parte de um sistema agroflorestal. Uma prática agroflorestal pode existir mesmo em sistemas que não sejam agroflorestais. EXEMPLOS DE PRÁTICAS AGROFLORESTAIS Pousio melhorado. Plantio em aleia. Árvore de sombra para culturas agrícolas. Interplantio de espécies para energia nos campos da fazenda. Combinação de árvores com culturas agrícolas. Árvores ou arbustos nas pastagens. Árvores em cultivos sequenciais. Quebra-ventos; cercas-vivas; linhas de contorno com árvores para conservação do solo – tutor vivo. Bancos forrageiros com espécies leguminosas arbóreas ou arbustivas. PRÁTICAS AGROFLORESTAIS NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS EM PROPRIEDADES RURAIS Problema Práticas Falta de lenha Cercas vivas; bosquetes em pastos; Árvores em quintais agroflorestais; árvores em culturas agrícolas; árvores em pastos Erosão Árvores em pastos ou áreas de agricultura dispostas em curvas de nível Solos degradados Leguminosas arbóreas ou arbustivas associadas com leguminosas herbáceas; agrofloresta sucessional; pousio melhorado Ventos fortes Cortinas quebra-ventos Falta de alimentação e sombra para os animais Árvores ou arbustos forrageiros em cercas vivas; bancos forrageiros; árvores ou arbustos em pastagens Alimentação humana Quintal agroflorestal; arborização de pastos; arborização de culturas Delimitação da terra Cercas vivas TECNOLOGIA AGROFLORESTAL Toda inovação tecnológica, promovida pela ciência ou pelos produtores que traga melhoria para uma prática ou sistema agroflorestal usual. EXEMPLOS DE TECNOLOGIAS AGROFLORESTAIS Incorporação de uma espécie nova para cultivo em aleia. Clone de eucalipto com copa de maior permeabilidade à radiação. Seleção de espécie nativa para banco de proteína. Definição de modelo de quebra-ventos para uma determinada cultura ou região. O CONCEITO DE SISTEMA AGROFLORESTAL Um sistema agroflorestal é, segundo Nair (1986) e Young (1991), um exemplo específico de práticas agroflorestais encontradas em uma localidade ou área, de acordo com sua composição biológica e arranjo, nível tecnológico de manejo e características socioeconômicas. Sistema de uso da terra que consiste de um exemplo específico de prática agroflorestal estabelecido por retenção ou introdução deliberada de árvores ou outras espécies lenhosas perenes com culturas agrícolas ou pastagens, simultânea ou consecutivamente, na mesma área, planejado e manejado em acordo com o produtor gerando benefícios econômicos, sociais ou ambientais. PALAVRAS - CHAVE Participação do produtor. Sistema. Prática agroflorestal. Policultivo. Componente florestal : espécie lenhosa. Componente agrícola e/ou forrageira. Retenção, introdução deliberada de pelo menos um dos componentes. Interações entre componentes. Geração de benefícios. CLASSIFICAÇÃO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS Estrutura. Economia. Função. Ecologia. Complexidade biológica. BASEADA NA ESTRUTURA Sistemas agroflorestais silviagrícolas / silvoagrícolas. Sistemas agroflorestais silvipastoris / silvopastoris. Sistemas agroflorestais agrissilvipastoris / agrossilvipastoris. BASEADA NA FUNÇÃO Produção de alimentos. Produção de alimentos e energia. Produção de alimentos e proteção de encostas. Proteção de cultivos agrícolas. BASEADA NA ECONOMIA Sistemas agroflorestais para agricultura familiar. Sistemas agroflorestais para a agricultura de mercado. Sistemas agroflorestais intermediários. BASEADA NA ECOLOGIA Sistemas agroflorestais para área úmidas. Sistemas agroflorestais para áreas áridas. Sistemas agroflorestais para áreas tropicais. Sistemas agroflorestais para áreas subtropicais. BASEADA NA COMPLEXIDADE BIOLÓGICA De baixa complexidade biológica: Consórcios agroflorestais. Sistema multiestrato simples. De alta complexidade biológica: Quintais agroflorestais. Sistemas agroflorestais sucessionais/ agrofloresta sucessional / análogos. BASEADA NOS TIPOS DE COMPONENTES E NA ASSOCIAÇÃO ENTRE ELES Sistemas agroflorestais sequenciais. Sistemas agroflorestais simultâneos. Sistemas agroflorestais complementares. BASEADA NOS TIPOS DE COMPONENTES E NA ASSOCIAÇÃO ENTRE ELES Sistemas agroflorestais sequenciais Agricultura migratória com intervenção e manejo de capoeiras. Sistema silviagrícola rotativo (capoeiras melhoradas com espécies arbóreas de rápido crescimento). Sistema Taungya (cultivos anuais consorciados apenas temporariamente com árvores, durante os primeiros anos de implantação). BASEADA NOS TIPOS DE COMPONENTES E NA ASSOCIAÇÃO ENTRE ELES Sistemas agroflorestais simultâneos Associações de árvores com cultivos anuais ou perenes. Hortos caseiros mistos. Sistemas agrissilvipastoris. BASEADA NOS TIPOS DE COMPONENTES E NA ASSOCIAÇÃO ENTRE ELES Sistemas complementares Cercas vivas. Cortinas quebra-vento. PORQUE É IMPORTANTE INVESTIR EM SAFS? Incorporação do elemento florestal na paisagem agrícola. Diminuição dos custos de implantação e manutenção da floresta. Garante a produção de produtos para geração de renda sem prejudicar a segurança alimentar. Aceitação mais fácil por pequenos e médios produtores. Recuperação de áreas degradadas e restauração ambiental – SAF sucessional. Melhor utilização da mão-de-obra ao longo do ano. Conservação do solo e da água. Aproveitamento de áreas degradadas por mau uso e áreas inaptas para outros cultivos. Diversificação da produção – Diminuição de riscos. Estabelecimento de faixa econômica de amortecimento nas bordas de APP de cursos d´água e em áreas de RL. RESUMO DO TÓPICO Neste tópico foram vistos conceitos importantes paraquem lida com sistemas agroflorestais (SAFs) além de vários sistemas de classificação dos mesmos, finalizando com várias justificativas que sustentam a importância de se investir em SAFs. Esperamos que você tenha aumentado sua expectativa em relação a esta importante ferramenta cujo uso é fundamental para o desenvolvimento sustentável da agricultura no Bioma. A seguir estaremos apresentando e comentando um exemplo de sistema de baixa diversidade biológica e ecológica. TÓPICO 2 EXEMPLO DE SISTEMA AGROFLORESTAL DE BAIXA COMPLEXIDADE BIOLÓGICA OBJETIVO E CONTEÚDO O objetivo deste tópico é apresentar uma experiência com um sistema agroflorestal de baixa complexidade biológica mostrando a necessidade de ampliação do número de componentes do mesmo, inclusive para diminuição de riscos do sistema. O conteúdo é representado pelo próprio sistema agroflorestal. RODRIGUES, Elisangela Ronconi; CULLEN JÚNIOR, LAURY; MOSCOGLIATO, Antonio Vicente; BELTRAME, Tiago Pavan. O uso do sistema agroflorestal Taungya na restauração de reservas legais: indicadores econômicos. Floresta, Curitiba, PR, v. 38, n. 3,jul./set. 2008. Local – Assentamento Santa Zélia Município – Teodoro Sampaio - SP Clima – Cwa / Köppen – mesotérmico com inverno seco Clima – Cwa / Köppen – mesotérmico com inverno seco Área de Reserva Legal restaurada – 27,5 ha 11 famílias com responsabilidade por restauração de 2,5 ha cada uma Sistema Agroflorestal do tipo Taungya – árvores com propósito ambiental e não econômico Espaçamento entre as espécies arbóreas – 3 m x 2 m CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICO Valor Presente Líquido Estima o valor atual de um fluxo de caixa. O VPL determina a viabilidade pela diferença positiva entre benefícios e custos. A atividade será desejável se VPL for maior que o valor do investimento, pagando-se a taxa de juros usada. Relação Benefício / Custo Indicador de eficiência econômico-financeira que indica quantas unidades de capital recebido como benefícios são obtidos para cada unidade de capital investido. Payback Método de avaliação econômica de projetos que determina o tempo necessário para a recuperação do capital investido em uma determinada atividade, independentemente do uso de uma taxa de juros (CONTADOR, 1997). Indicadores de avaliação econômica para os onze módulos agroflorestais implantados pelas famílias do assentamento Santa Zélia na área de reserva legal - ARL FAMÍLIAS VPL (R$) RB/C (R$) 1 191,81 1,13 2 482,45 2,40 3 303,63 1,58 4 237,27 1,83 5 60,54 1,02 6 641,60 2,79 7 -118,00 0,55 8 -101,00 0,57 9 47,72 1,05 10 50,90 0,96 11 - 22,72 0,78 Culturas agrícolas produzidas pelas famílias do assentamento Santa Zélia nos módulos agroflorestais na área de reserva legal Famílias Produção Quantidade Famílias Produção Quantidade 1 Milho 10 balaios 5 Feijão 100 kg Feijão 40 kg 6 Milho 80 balaios (1) 2 Maxixe 150 kg Feijão 240 kg Quiabo 150 kg 7 Feijão 100 kg Abóbora 200 kg 8 Abóbora 150 kg Milho 36 balaios Feijão 80 kg Feijão 27 kg 9 Feijão 15 kg 3 Feijão 340 kg Milho 10 balaios 4 Milho 5 balaios 10 Feijão 40 kg Feijão 200 kg Milho 40 balaios 11 Feijão 150 kg Milho 40 balaios (1) Medida adotada na região, correspondente a 14 kg de milho em espiga. Pesquisa de Campo, 2006; FONTE: RODRIGUES (2008) Custos e benefícios totais gerados com a implantação da área de Reserva Legal do assentamento Santa Zélia Atividade Descrição Valor (R$/há) Custos Implantação do povoamento florestal Preparo do terreno e aquisição das mudas florestais 780,00 Mão-de-obra Familiar / externa 122,13 Culturas agrícolas Aquisição de sementes 15,86 Benefícios Receitas geradas durante o período Produção agrícola 64,51 Instituto de Pesquisas Ecológicas e Pesquisa de Campo, 2006 CONCLUSÕES O sistema Taungya deve ser considerado na restauração dos ecossistemas, uma vez que estes podem cumprir um papel inovador, conciliando restauração, conservação e produção. O insucesso econômico dos SAFs está ligado às oscilações e instabilidades climáticas durante a produção e não ao sistema propriamente dito. O SAF da família 2, com maior VPL (R$ 482,45) foi também aquele com maior diversidade e que por isto suplantou melhor o problema climático. Nome científico Nome comum GE Sistemas de plantio Centrolobium microchaete Araribá-amarelo; putumuju SI Arborização de culturas ou pastagens; plantios puros ou plantio misto com pioneiras; em faixas na vegetação matricial Genipa americana Jenipapo SI Pomares caseiros; quebra-ventos; plantio misto com pioneiras; em faixas na vegetação matricial em floresta secundária Calophyllum brasiliense Guanandi -preto ST Arborização de culturas perenes (café; cacau); arborização de pastagens; cerca- viva; quebra-vento; a pleno sol em plantio misto com pioneiras e secundárias; em faixa na vegetação matricial arbórea Cordia trichotoma Louro; louro-pardo P/SI Arborização de culturas e pastagens; quebra-vento; a pleno sol em plantio misto com espécies de crescimento igual ou superior ao seu; em faixas na vegetação matricial arbórea secundária (de 100 árvores a menos) Centrolobium tomentosum Araribá-vermelho P Arborização de culturas (cacau) e pastagens; a pleno sol em plantio puro; a pleno sol em plantio misto, com pioneiras ou no tutoramento de espécies que variam de secundárias a climax; em faixas abertas na vegetação matricial arbórea em capoeirões, em locais de geadas não muito severas Peltophorum dubium Angico canjiquinha; canafístula P/SI Arborização de culturas e pastagens; quebra-ventos; mourões-vivos; a pleno sol em plantio misto com pioneiras; em faixas abertas na vegetação matricial arbórea (capoeiras jovens), em faixas largas Dalbergia nigra Jacarandá caviúna; jacarandá SI Arborização de culturas e pastagens; a pleno sol em plantio misto com pioneiras de crescimento rápido; plantio em linhas de enriquecimento de capoeiras densas Nome científico Nome comum G.E. Sistemas de plantio Myroxylon peruiferum Óleo-vermelho C Arborização de café e de pastagens; plantio misto com pioneiras e secundárias de rápido crescimento Astronium graveolens Aderne SI Arborização de cafeeiros e de pastagens; plantio misto com pioneiras; em faixas abertas na vegetação matricial arbórea Cabralea canjarana subs. canjerana Canjerana NP Arborização de culturas e de pastagens; plantio misto com pioneiras a pleno sol; em faixas abertas na vegetação matricial (plantada em linhas ou em grupos) Cariniana estrellensis Jequitibá - branco ST Arborização de culturas e pastagens; a pleno sol em plantio puro com espaçamento 3 m x 1 m transformado em 3 m x 3 m após desbaste; a pleno sol em plantio misto com pioneiras ou secundárias Colubrina glandulosa var. reitzil Sobrasil P/SI Arborização de culturas perenes; quebra-ventos; a pleno sol em plantio puro onde não há geadas; a pleno sol em plantio misto com pioneiras; em faixas abertas na vegetação matricial arbórea Gallesia integrifolia Pau d´alho P/SI Arborização de pastagens Joannesia princeps Boleira P Arborização de culturas, inclusive cacaueiros; plantio puro em áreas não sujeitas a geadas; plantio misto com pioneiras, principalmente em locais com geadas leves Miconia cinnamomifolia Guraratã-do-brejo; jacatirão P/SI Arborização de culturas e pastagens; a pleno sol, em plantios puros; a pleno sol em plantios mistos Nome científico Nome comum G.E. Sistemas de plantio Schizolobium paraybae Guapuruvu SC Associação com culturas; a pleno sol em plantio puro; a pleno sol em plantio misto, principalmente com espécies secundárias a climax Talauma ovata Baguaçu ST/C Arborização de culturas perenes e pastagens;a pleno sol em plantios puros; a pleno sol em plantios mistos com pioneiras ou secundárias iniciais; em vegetação matricial arbórea em faixas abertas na vegetação secundária em linhas Zeyheria tuberculosa Ipê-felpudo; ipê-tabaco; camará-açu ST Arborização de culturas e pastagens; a pleno sol em plantio puro; a pleno sol em plantio misto Apuleia leiocarpa Garapa ST Associada com culturas nos dois primeiros anos; a pleno sol em plantio misto com espécies pioneiras para melhoria do fuste; em faixas abertasna vegetação matricial arbórea Cedrella fissilis Cedro SI/ST/C Arborização de pastagens; Quebra –ventos (em fileiras centrais, espaçadas de 15 a 20 m e com outras espécies entre elas); plantio misto; em faixas abertas na vegetação matricial arbórea em densidade nunca superior a 100 plantas Piptadenia gonoacantha Pau-jacaré P/SI Arborização de cafezais; Arborização de outras culturas; cerca-viva; a pleno sol em plantio puro; a pleno sol em plantio misto Schinus terebinthifolius Aroeira P Arborização de pastagens; a pleno sol em plantio puro SI-secundária inicial; ST – secundária tardia; C- climax; P – pioneira; SC – sem classificação; G.E. – grupo ecológico OBRIGADO! Moacir José Sales Medrado
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