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DIREITO AGRÁRIO 2012.1 INTENSIVO COMPLEMENTAR Disciplina: Direito Agrário Prof. Flávio Tartuce Data 05.06.2012 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO AGRÁRIO. - CONCEITO. São inúmeros os conceitos atribuídos ao Direito Agrário. Todos eles acabam por convergir para um ou mais pontos fundamentais (objeto, princípios ou natureza) desta disciplina jurídica. - Para Fernando Pereira Sodero: “Direito Agrário é o conjunto de princípios e de normas, de Direito Público e de Direito Privado, que visa a disciplinar as relações emergentes da atividade rural, com base na função social da terra”. - Alcir Gursen De Miranda: “Direito Agrário é o ramo jurídico que regula as relações agrárias, observando- se a inter-relação homem/terra/produção/sociedade”. - Wellington Pacheco Barros: “Ramo do Direito positivo que regula as relações jurídicas do homem com a terra”. - Raymundo Laranjeira: “Direito Agrário é o conjunto de princípios e normas que, visando imprimir função social à terra, regulam relações afeitas à sua pertença e uso, e disciplinam a prática das explorações agrárias e da conservação dos recursos naturais”. - Assim sendo, resta nítido o destaque atribuído à atividade agrária, à função social da propriedade e ao caráter social do Direito Agrário nas conceituações analisadas. Em suma, o Direito Agrário pode ser tido como o conjunto de princípios e normas que regula a relação jurídica emergente das atividades agrárias com base na função social da propriedade. A função social da propriedade é o núcleo do direito agrário. - SURGIMENTO DO DIREITO AGRÁRIO NO BRASIL. O Direito Agrário é ramo jurídico recente em nosso País, pois surgiu com a Emenda Constitucional n. 10 de 1964 (Constituição Federal de 1946). A lei que regulamentou a emenda constitucional foi a Lei 4.504/1964, conhecida como “Estatuto da Terra” (ET), sendo o estatuto básico regulamentador do Direito Agrário. INTENSIVO IiI DIREITO AGRÁRIO Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com - OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO. O objeto do Direito Agrário é a atividade agrária ou agrariedade. O fundamento é a atividade e não a localização do bem, o que é relevante para fins de usucapião. Para fins de locação, a atividade desenvolvida no imóvel também foi o sentido adotado pela Lei 8.245/1991. - Como bem aponta Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka: “[...] o elemento constitutivo essencial do direito agrário é a atividade agrária [...]”. - Atividade agrária – definição de Emílio Alberto Maya Gischkow: “[...] o resultado da atuação humana sobre a natureza, em participação funcional, condicionante do processo produtivo”. Na ATIVIDADE há uma soma de atos coordenados com finalidade específica (Túlio Ascarelli). ATENÇÃO: Cuidado com a questão terminológica deste ramo jurídico. Lembre-se que rural vem do latim rus, ruris, que significa campo, rusticidade, casa de campo e, finalmente, território em oposição ao termo urbis, que significa cidade. Percebe-se que o termo rural refere-se a uma localização e não à atividade desenvolvida. Já o termo agrário vem do latim ager ou agr, significando respectivamente agrário e terra cultivada. Os agraristas, em razão da sua origem etimológica, preferem o termo agrário, pois, o que define se o imóvel é urbano ou agrário é a sua destinação e não sua localização. Assim, há harmonia entre a Lei de Locações (Lei n. 8.245/1991) e o Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/1964), pois ambas definem sua incidência com base na destinação do imóvel, valorizando a ATIVIDADE. - A partir da obra de Raymundo Laranjeira, citada por Benedito Marques, é possível elencar as seguintes atividades como componentes da atividade agrária: a) Explorações rurais típicas (lavoura, pecuária, extrativismo e hortigranjearia). b) Exploração rural atípica (agroindústria). c) Atividade complementar da exploração rural (transporte e comercialização dos produtos). São atividades agrárias conexas. Há polêmica se tais atividades fazem parte ou não da agrariedade, como bem aponta Benedito Marques. - FUNDAMENTO LEGAL DO DIREITO AGRÁRIO. PONTOS FUNDAMENTAIS RELATIVOS À INCIDÊNCIA DAS NORMAS. - A insuficiência do Código Civil de 1916. O CC/1916 era um diploma de cunho liberal e individualista baseado no modelo de código oitocentista. Segundo este modelo, o indivíduo é o centro do ordenamento, funcionando o direito como instrumento de tutela das liberdades. A premissa fundamental da codificação anterior era a de que todos são iguais perante a lei. Tanto isso é verdade, que o princípio da autonomia da vontade era levado às últimas consequências, com concretização da dignidade humana (visão kantiana). Atualmente, a doutrina fala em autonomia privada, demonstrando que não é a vontade que é autônoma ou plena (Enzo Roppo, Francisco Amaral). Ademais, outros fatores entram em cena na contemporaneidade para a determinação da liberdade, fortemente fragmentada. O Código Civil de 1916 era insuficiente porque partia da premissa de que proprietário rural e trabalhador rural (chamado pelo Código de parceiro rural) estavam em condição de igualdade, permitindo que as partes Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com fixassem livremente a estrutura contratual. Como é notório, o proprietário rural tem sobre o trabalhador rural inegável superioridade fática e em razão disso fazia valer sua vontade. Com o Estatuto da Terra há claras e fortes limitações à autonomia privada, com vistas a proteger a parte vulnerável da relação, bem como a atividade agrária propriamente dita. Nesse contexto, o Estatuto da Terra é um microsistema, pois possui estrutura própria e princípios que lhe conferem coerência sistemática. Além disso, trata-se de típica norma protetiva daquele que desenvolve a atividade agrária, característica essa que deve ser levada em conta quando de sua aplicação. - A relação entre Código Civil de 1916 e Estatuto da Terra. A relação entre esses dois diplomas era de exclusão, ou seja, onde um se aplicava não se aplicava o outro. - A relação entre Estatuto da Terra e Código Civil de 2002. O Professor Miguel Reale incluiu como um dos princípios da nova codificação a socialidade, segundo a qual as relações privadas devem guardar harmonia com o todo social, sem que isso signifique perda da individualidade. Como dizia o Mestre, valoriza-se o nós, em detrimento do eu. Houve então uma aproximação principiológica entre o Código Civil de 2002 e o Estatuto da Terra, o que permite que haja entre eles uma relação de complementação (segundo a teoria do diálogo das fontes, de Erik Jayme e Cláudia Lima Marques). Trata-se do mesmo fenômeno que ocorreu com o CDC. Pode ser reconhecida também uma interpretação sistemática entre CC/2002 e Estatuto da Terra, segundo a qual, diante do caso concreto, cabe ao intérprete aplicar as normas de um microssistema levando em consideração as demais normas deste microssistema e dos demais que com ele guardem compatibilidade principiológica. Como exemplo, podem ser citados os julgados do STJ relativos ao contrato vaca papel, que aplicam o conceito de simulação (hoje, no art. 167 do CC). “Civil. Recurso Especial. Contrato simulado de parceria pecuária. ‘Vaca-papel’. Mútuo com cobrança de juros usurários. Anulação do negócio jurídico. Pedido de um dos contratantes. Possibilidade. - É possível que um dos contratantes, com base na existência de simulação, requeira, em face do outro, a anulação judicial do contrato simulado de parceria pecuária, que encobre mútuo com juros usurários.Recurso Especial parcialmente provido” (STJ, REsp 441.903/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/02/2004, DJ 15/03/2004, p. 265). - AUTONOMIA DO DIREITO AGRÁRIO. O Direito Agrário, a partir da Emenda Constitucional 10/1964, passou a ter autonomia legislativa, competindo à União legislar sobre direito agrário. Com a inclusão da disciplina de Direito Agrário nas universidades e com o trabalho da doutrina, o direito agrário passou a ter autonomia científica. Com a criação das varas especializadas em direito agrário, passou a ter autonomia judicial. Em complemento, lembre-se que sempre que for necessário o juiz deve ir pessoalmente ao local do conflito, o que tem direta incidência para os conflitos agrários (constitucionalização da inspeção judicial). Vejamos o art. 126 da Constituição Federal, devidamente reformado: “Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias. (Redação dada pela Emenda Constitucional Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com nº 45, de 2004). Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o juiz far-se- á presente no local do litígio”. - PRINCÍPIOS DO DIREITO AGRÁRIO. Conforme as lições de Benedito Ferreira Marques, são princípios fundamentais do Direito Agrário, a título ilustrativo: a) O monopólio legislativo da União, a respeito da matéria (art. 22, I, CF/1988). b) A utilização da terra sobrepondo-se à titulação dominial. O material prevalece sobre o formal. c) A garantia da propriedade, condicionada ao cumprimento de sua função social (art. 5º, XXII e XXIII, e art. 170, II e III, ambos da CF/1988). d) A dicotomia do Direito Agrário em: política de reforma (reforma agrária – arts. 184 a 186 da CF/1988; art. 1º, § 1º, do ET) e; política agrícola (política de desenvolvimento rural – arts. 187 a 191 da CF/1988; art. 1º, § 2º, ET). e) A prevalência do interesse público sobre o individual, consubstanciado nas normas jurídicas de caráter cogente ou de ordem pública. f) A necessidade constante de reformulação da estrutura fundiária. g) O fortalecimento do espírito comunitário, através de cooperativas e associações. h) O combate ao latifúndio, ao minifúndio, ao êxodo rural, à exploração predatória e aos especuladores da terra. i) A privatização dos imóveis rurais públicos. j) A proteção à propriedade familiar, à pequena e à média propriedade. Protege-se indiretamente a família, como base da sociedade (art. 226 da CF/1988). k) O fortalecimento da empresa agrária. l) A proteção da propriedade consorcial indígena (indigenato). m) O dimensionamento eficaz das áreas exploráveis. n) A proteção do trabalhador rural. o) A conservação e preservação dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente. 2. BREVE HISTÓRICO DO DIREITO AGRÁRIO E DA PROPRIEDADE NO BRASIL. - O Tratado de Tordesilhas firmado em 07 de junho de 1.494 por Portugal e Espanha estabelecia limites dos territórios descobertos, chamados de Novo Mundo. O referido tratado dividia o Novo Mundo em duas partes a partir de um meridiano de 370 léguas a partir do oeste do arquipélago de Cabo Verde. As terras a leste pertencem a Portugal e as a oeste à Espanha. Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com - Em 22 de abril de 1.500, Portugal “descobre” o Brasil e surge a necessidade de colonizá-lo. Martim Afonso de Souza foi nomeado por Dom João II como governador geral do Brasil a fim de promover sua colonização. O governador geral adota como forma de colonização o regime das sesmarias que é um instituto jurídico português presente na legislação portuguesa desde 1375 e que lá surgiu para sanar uma crise agrícola do século XIV. - Pelas sesmarias os capitães donatários, titulares das capitanias hereditárias, passam a distribuir terras aos sesmeiros que devem produzir no sistema da plantation açucareira (monocultura, no caso do Brasil, cana de açúcar; grandes extensões de terra e mão de obra escrava). Nas sesmarias, quem recebe a terra tem o domínio útil, ficando a propriedade das terras para a Coroa (regime próximo à enfiteuse). Cabia ao titular do domínio útil pagar tributos e se não pagassem caía em pena de comisso, isto é, as terras lhe eram tomadas e redistribuídas a outras pessoas. As sesmarias trouxeram vantagens e desvantagens, como bem aponta Benedito Ferreira Marques. A vantagem principal foi a colonização do interior, possibilitando que o Brasil tivesse um tamanho continental. A desvantagem foi a geração do clientelismo na distribuição de terras no País - O regime de sesmarias perdurou no Brasil até 17 de julho de 1.822. A Resolução de 76, de José Bonifácio de Andrade e Silva extinguiu as sesmarias e introduziu o regime de posses, o qual foi extinto pela Lei de Terras (Lei 601/1850). - O regime de posses é apontado como nefasto ao Brasil, pois não havia regulamentação específica a respeito da posse e da propriedade. Imperou, portanto, o caos dominial. Como aponta Benedito Ferreira Marques, esse foi um período extralegal em que “a ocupação desenfreada do vasto território brasileiro foi absolutamente desordenada. Imperou o apossamento indiscriminado de áreas, menores ou maiores, dependendo das condições de cada um, sem que houvesse quaisquer óbices”. Como aponta o jurista, existiam nesse período: a) proprietários legítimos por títulos das sesmarias; b) possuidores das áreas de sesmarias; c) possuidores sem qualquer título; d) terras devolutas, sem dono, diante da devolução das sesmarias. - A Lei de Terras veio a regulamentar o tratamento das terras devolutas e a aquisição da propriedade no País, dando uma certa ordem à anarquia. A norma proibia a aquisição de terras devolutas pelos súditos, exceto nos casos de compra e venda; outorgava títulos de domínio para possuidores de sesmarias; outorgava títulos de domínio para outros possuidores, com concessões na forma da lei; assegurava a aquisição das terras devolutas somente por meio da legitimação da posse (tema a ser estudado). Para alguns historiadores, a norma trouxe sérias dificuldades para o acesso da terra no Brasil, confirmando em parte o sistema de sesmarias. Como aponta Benedito Ferreira Marques, a Lei de Terras não gerou o efeito desejado, mas muito ao contrário. - Evolução legislativa até o surgimento do Direito Agrário. Como a Lei de Terras era insuficiente e duramente criticada, surgiu a necessidade de criação de outras normas sobre a matéria. O Brasil vivia a realidade de uma grande quantidade de latifúndios e minifúndios. Em 1912 foi elaborado o Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com primeiro projeto sobre um Código Rural, para regulamentar o tema. Em 1917 entrou em vigor o Código Civil de 1916 que, embora individualista, trouxe alguns parâmetros satisfatórios sobre a posse e a propriedade. Foi esse Código que regulamentou as matérias relativas ao Direito Agrário por muito tempo. A Constituição Federal de 1934 trouxe regras importantes, englobando preceitos que estavam no projeto de Código Rural, caso da usucapião rural ou agrária. Consagrou também a função social da propriedade expressamente. Ato contínuo, a CF/1946 trouxe avanços significativos, mantendo as regras da CF anterior e criando o instituto da desapropriação. Em 1954 foi criado o Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) que é o embrião do atual INCRA. Todavia,o marco teórico fundamental para o surgimento do Direito Agrário é a Emenda Constitucional n. 10, de 9 de novembro de 1964, que conferiu a citada autonomia legislativa ao Direito Agrário. Como afirma Benedito Ferreira Marques, esta é a “certidão de batismo do Direito Agrário”. 3. DIREITO AGRÁRIO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. - Na Constituição Federal de 1988, o tema é tratado entre os artigos 184 a 191. Toda a matéria tem por núcleo a função social da propriedade. Vejamos o panorama geral a respeito do tratamento da matéria no Texto Maior: - Art. 184. Trata, em termos gerais, da desapropriação agrária, por descumprimento da função social da propriedade. - Art. 185. Enuncia os imóveis que não podem ser objeto de desapropriação agrária (“I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva”). - Art. 186. Estabelece parâmetros para o atendimento da função social da propriedade agrária. O tema será aprofundado. - Art. 187. Trata da política agrícola. (“A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente: I - os instrumentos creditícios e fiscais; II - os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização; III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia; IV - a assistência técnica e extensão rural; V - o seguro agrícola; VI - o cooperativismo; VII - a eletrificação rural e irrigação; VIII - a habitação para o trabalhador rural. § 1º - Incluem-se no planejamento agrícola as atividades agro-industriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais. § 2º - Serão compatibilizadas as ações de política agrícola e de reforma agrária”). A ideia consta do art. 1º, § 2º, do Estatuto da Terra (“Entende-se por Política Agrícola o conjunto de providências de amparo à propriedade da terra, que se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo de industrialização do país”). - Art. 188. Disciplina a destinação de terras públicas e devolutas (“A destinação de terras públicas e Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária. § 1º - A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional. § 2º - Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de terras públicas para fins de reforma agrária”). - Art. 189. Regulamenta a distribuição de imóveis rurais para fins de reforma agrária (“Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos. Parágrafo único. O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil, nos termos e condições previstos em lei”). - Art. 190. Trata, em termos gerais, da regulamentação da aquisição e arrendamento da propriedade rural (“A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional”). - Art. 191. Disciplina a usucapião agrária ou constitucional/especial rural. O tema ainda será aprofundado no nosso curso. - Além desses dispositivos, é fundamental a previsão da propriedade e de sua função social como direitos fundamentais, tendo aplicação imediata nas relações privadas (art. 5º, incs. XXII e XXIII). - Cite-se, ainda, a proteção da família, o que é primaz para o conceito de propriedade rural e para a usucapião agrária (art. 226). 4. CONCEITOS FUNDAMENTAIS AGRARISTAS (INSTITUTOS JURÍDICOS AGRÁRIOS). - O Direito Agrário trabalha com alguns conceitos fundamentais para a compreensão da matéria. Tais conceitos estão no art. 4º do Estatuto da Terra. Benedito Ferreira Marques os denomina como institutos jurídicos agrários. Vejamos. 4. 1. IMÓVEL RURAL VERSUS IMÓVEL AGRÁRIO. PRECISÃO TERMINOLÓGICA. - A CF/1988 e o Estatuto da Terra mencionam expressamente o termo imóvel rural. Entretanto, muitos agraristas dizem que há claro equívoco, pois o termo correto é imóvel agrário (Benedito Ferreira Marques e Lucas Abreu Barroso). - Como já exposto, o cerne da disciplina que se estuda é a utilização do termo agrário, pela preponderância da atividade desenvolvida. Assim, para os concursos em que a matéria é solicitada, preferir a última expressão. Lembre-se que o termo rural refere-se a uma localização geográfica e não à atividade desenvolvida. - O artigo 4º do Estatuto da Terra define o que é imóvel rural (ou agrário), nos seguintes termos: Imóvel Rural é o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada. - A Constituição Federal não utiliza o termo agrário, mas sim o termo rural. Porém, a norma contida no artigo 4º do Estatuto da Terra foi recepcionada pela Constituição de 1988, na medida em que de suas normas é possível perceber que a noção de imóvel rural também é dada pela utilização do imóvel, por exemplo, quando exige que a propriedade seja produtiva. - CUIDADO: “Sítios de recreio” não são imóveis rurais (arts. 13 e 14 do Decreto n. 59.900/1966). Vejamos o primeiro dispositivo: “Art. 13. Para efeito do disposto no Art. 14, do Decreto-lei nº 57, de 18.11.1966, o imóvel situado na zona rural pertencente a pessoa física ou jurídica será considerado como ‘sítio de recreio’, quando: I - Sua produção não seja comercializada; II - Sua área não seja superior a do módulo para exploração não definida da zona típica em que estiver localizado; III - Tenha edificação e seu uso seja reconhecido para a destinação de que trata este artigo”. 4. 2. PROPRIEDADE FAMILIAR. - Imóvel rural que direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família lhes absorva toda força de trabalho garantindo-lhes subsistência e progresso social com área máxima fixada para cada região, e, eventualmente, com a colaboração de terceiros. - Como bem apontam os agraristas, a propriedade familiar há de produzir excedente, a fim de atender não apenas as necessidades diretas, mas também as necessidades indiretas dos que nela trabalham (educação, lazer, vestuário etc.). - Com a ordem jurídica inaugurada pela Constituição de 1.988 a propriedade familiar foi alçada ao rol dos direitos e garantias fundamentais. Prevê o art. 5º, XXVI da CF/1988: “A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento.” - Há uma interação entre a ideia de propriedade familiar e pequena propriedade rural. Conforme a Lei n° 8.629/1993, pequena propriedade é aquela compreendida entre 1 e 4 módulos fiscais (conceito varia de município para município).A sua impenhorabilidade também consta do art. 649, VIII, do CPC. Vejamos julgado que adota essa ideia: “RECURSO ESPECIAL - ARTIGO 333, I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - PREQUESTIONAMENTO - AUSÊNCIA - EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL - PROPRIEDADE RURAL - CONCEITO - MÓDULO RURAL - IDENTIFICAÇÃO - NECESSIDADE - PEQUENA PROPRIEDADE RURAL UTILIZADA POR Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com ENTIDADE FAMILIAR - IMPENHORABILIDADE - RECONHECIMENTO - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I - A questão relativa ao artigo 333, I, do Código de Processo Civil, relativo ao ônus da prova, não foi objeto de debate ou deliberação pelo Tribunal de origem, restando ausente, assim, o requisito do prequestionamento da matéria, o que atrai a incidência do enunciado 211 da Súmula desta Corte. II - Para se saber se o imóvel possui as características para enquadramento na legislação protecionista é necessário ponderar as regras estabelecidas pela Lei n.º 8629/93 que, em seu artigo 4º, estabelece que a pequena propriedade rural é aquela cuja área tenha entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais. Identificação, na espécie. III - Assim, o imóvel rural, identificado como pequena propriedade, utilizado para subsistência da família, é impenhorável. Precedentes desta eg. Terceira Turma. IV - Recurso especial improvido” (STJ, REsp 1284708/PR, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 09/12/2011). - Segundo Gustavo Rezek, a propriedade familiar tem como requisitos: • área não inferior à fração mínima de parcelamento e não superior a 4 módulos fiscais, definidos para o município onde se encontra cadastrado; • possuir aptidão para a absorção da mão-de-obra da família e para a garantia de sua subsistência e de seu progresso social e econômico; • seja, por qualquer título de posse, direta e pessoalmente explorado pela família, que nele, ou em suas proximidades, deve residir; • não empregue trabalho de terceiros superior à mão-de-obra familiar; • não seja obtida pela família empreendedora uma renda máxima acima do limite de proteção econômica definido pelo Estado. 4. 3. MÓDULO RURAL. - Conforme as lições de Raymundo Laranjeira, “O módulo é uma medida de área, diretamente afeita à eficácia desta, no meio rurígena. A sua finalidade precípua está em evitar a existência de glebas, cujo tamanho, em regra, não se ache suscetível de render o suficiente para o progresso econômico-social do agricultor brasileiro”. - Nos termos do art. 4º do Estatuto da Terra, o módulo rural equivale à propriedade familiar, que por sua vez equivale à pequena propriedade rural, conforme julgado ante transcrito (confusão de conceitos). - A fixação da área é feita pelo INCRA, dependendo da região. O conceito é variável, dinâmico e não estático. Por isso, os agraristas falam em “módulo regional” e não em “módulo nacional”. Vejamos o art. 5º do Estatuto da Terra: “Art. 5° A dimensão da área dos módulos de propriedade rural será fixada para cada zona de características econômicas e ecológicas homogêneas, distintamente, por tipos de exploração rural que nela possam ocorrer. Parágrafo único. No caso de exploração mista, o módulo será fixado Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com pela média ponderada das partes do imóvel destinadas a cada um dos tipos de exploração considerados.” - De acordo com a doutrina de Fernando Sodero, o módulo rural tem as seguintes características: • É uma medida de área. • A área fixada para a propriedade familiar constitui o módulo rural. • Varia de acordo com a região. • Varia de acordo com a exploração. • Implica um mínimo de renda a ser obtido. • A renda deve proporcionar não apenas a subsistência, mas também o progresso econômico e social. - Não confundir o módulo rural, que leva em conta a produção, com o módulo fiscal, que é fixado para os fins de incidência de Imposto Territorial Rural (ITR). - O art. 65 do Estatuto da Terra consagra a indivisibilidade do módulo rural. Ver arts. 87 e 88 do CC/2002. “Art. 65. O imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva do módulo de propriedade rural. § 1° Em caso de sucessão causa mortis e nas partilhas judiciais ou amigáveis, não se poderão dividir imóveis em áreas inferiores às da dimensão do módulo de propriedade rural. § 2º Os herdeiros ou os legatários, que adquirirem por sucessão o domínio de imóveis rurais, não poderão dividi-los em outros de dimensão inferior ao módulo de propriedade rural. § 3º No caso de um ou mais herdeiros ou legatários desejar explorar as terras assim havidas, o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária poderá prover no sentido de o requerente ou requerentes obterem financiamentos que lhes facultem o numerário para indenizar os demais condôminos. § 4° O financiamento referido no parágrafo anterior só poderá ser concedido mediante prova de que o requerente não possui recursos para adquirir o respectivo lote. § 5o Não se aplica o disposto no caput deste artigo aos parcelamentos de imóveis rurais em dimensão inferior à do módulo, fixada pelo órgão fundiário federal, quando promovidos pelo Poder Público, em programas oficiais de apoio à atividade agrícola familiar, cujos beneficiários sejam agricultores que não possuam outro imóvel rural ou urbano”. 4. 4. MINIFÚNDIO - É o imóvel rural de áreas e possibilidades inferiores à da propriedade familiar. O minifúndio é realidade altamente prejudicial à sociedade, pois é fator de miséria no campo, acarretada pelo êxodo rural com todas as mazelas que disso decorrem. - O minifúndio cria a falsa sensação de liberdade por gerar direito de propriedade que, no entanto, é incapaz de cumprir sua função social. Assim, é papel da política agrária acabar com o minifúndio. 4. 5. LATIFÚNDIO. Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com Pode ser de duas espécies: → Latifúndio por dimensão: É o imóvel que excede 600 vezes o módulo médio de área definido pelo INCRA para aquela região, ou, que excede 600 vezes a área média dos imóveis rurais da sua região, tendo-se sempre em vista os sistemas produtivos e ecológicos regionais. → Latifúndio por exploração: Trata-se do imóvel rural que não excedendo o limite de área previsto para concepção do latifúndio por dimensão e tendo área agricultável igual ou superior à definida para o módulo da respectiva zona seja mantido inexplorado ou subutilizado. - Assim, como o latifúndio por dimensão, o latifúndio por exploração é uma realidade altamente prejudicial à política agrícola, pois, ao não realizar suas potencialidades o imóvel frustra sua função social. A terra agricultável não é qualquer bem, mas sim bem de produção, devendo cumprir de forma mais acentuada sua função social. - Estabelece o art. 4º, parágrafo único, do Estatuto da Terra, que não se considera latifúndio o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas características recomendem, sob o ponto de vista técnico e econômico, a exploração florestal racionalmente realizada, mediante planejamento adequado. - Também não constitui latifúndio o imóvel rural, ainda que de domínio particular, cujo objeto de preservação florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento, pelo órgão competente da administração pública. - Os preceitos trazem como conteúdo a proteção do Bem Ambiental, retirada do art. 225 da CF/1988. OBSERVAÇÃO. Classificação dos imóveisrurais/agrários. Existem dois critérios classificatórios, retirados da Constituição Federal e da legislação ordinária. I) Quanto à extensão (matéria regulamentada pela Lei 8.629/1993). → Pequena propriedade: compreendida entre 01 e 04 módulos fiscais. → Média propriedade: compreendida entre 04 até 15 módulos fiscais. → Grande propriedade: superior a 15 módulos fiscais. Cuidado: O módulo fiscal é uma medida de área que o INCRA, mediante certos requisitos, fixa para cada Município. Como visto, não se confunde com o módulo rural. II) Quanto à produtividade (produtiva/improdutiva). → Produtiva: aquela que alcança índices de produtividade previamente fixados pelo Poder Executivo. → Improdutiva: não alcança os referidos índices. 4. 6. EMPRESA RURAL. - Empresa rural é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico da Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com região em que se situe e que explore área mínima agricultável do imóvel, segundo padrões fixados, pública e previamente pelo Poder Executivo. Para esse fim, equiparam-se às áreas cultivadas as pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitorias. - Pode-se dizer que a empresa rural é o objetivo a que aspira todo o sistema de Direito Agrário. Ela é “um passo a frente” da propriedade familiar, com a estrutura de empresa rural se alcança de maneira muito mais efetiva e consistente progresso social e econômico, pessoal e regional. - O incentivo à empresa rural consta do art. 3º do Estatuto da Terra: “Art. 3º O Poder Público reconhece às entidades privadas, nacionais ou estrangeiras, o direito à propriedade da terra em condomínio, quer sob a forma de cooperativas quer como sociedades abertas constituídas na forma da legislação em vigor. Parágrafo único. Os estatutos das cooperativas e demais sociedades, que se organizarem na forma prevista neste artigo, deverão ser aprovados pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (I.B.R.A.) que estabelecerá condições mínimas para a democratização dessas sociedades”. 4. 7. COOPERATIVA INTEGRAL DE REFORMA AGRÁRIA (C.I.R.A.) - Toda sociedade cooperativa mista, de natureza civil, criada nas áreas prioritárias de Reforma Agrária, contando temporariamente com a contribuição financeira e técnica do Poder Público, através do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, com a finalidade de industrializar, beneficiar, preparar e padronizar a produção agropecuária, bem como realizar os demais objetivos previstos na legislação vigente. - Trata-se também de algo almejado pelo Direito Agrário, mas que, infelizmente, não teve a sua devida instituição até o presente momento. - A respeito da sua natureza jurídica, trata-se de uma pessoa jurídica (atualmente uma sociedade simples). Ver o Enunciado 69 das Jornadas de Direito Civil do STJ. 4. 8. COLONIZAÇÃO E PARCELEIRO. - Toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promover o aproveitamento econômico da terra, pela sua divisão em propriedade familiar ou através de cooperativas. - Também é buscada pelo Direito Agrário, servindo como instrumento de reforma agrária. - Nesse contexto, surge o conceito de parceleiro, também constante do art. 4º do Estatuto da Terra, que é aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em área destinada à Reforma Agrária ou à colonização pública ou privada. - Não confundir o parceleiro com o parceiro, sendo o último parte do contrato de parceria rural ou agrária (tema da última aula). Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com CURSO INTENSIVO COMPLEMENTAR FEDERAL. DIREITO AGRÁRIO. AULA 2. PROFESSOR FLÁVIO TARTUCE. 5. DIREITOS REAIS AGRÁRIOS. PROPRIEDADE AGRÁRIA E CONCEITOS AFINS. 5. 1. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE AGRÁRIA. - A função social da propriedade é o núcleo do Direito Agrário (Lucas Abreu Barroso). A função social é atendida quando se dá uma destinação positiva à coisa. Entre os agraristas, vale a ideia de posse- trabalho, que consta de alguns dispositivos do Código Civil de 2002 (Benedito Ferreira Marques e Raymundo Laranjeira). - A função social é componente da propriedade, como apontam alguns doutrinadores (José Afonso da Silva e Recaséns Siches). Assim, deve ser tida como sua causa, o que é muito bem desenvolvido entre os agraristas. (Lucas Abreu Barroso). O último doutrinador afirma que a função social da propriedade é atendida pela cidadania material, ou seja, pela tutela da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. III, da CF/1988). - A ideia de que a função social é causa da propriedade pode ser retirada do art. 12 do Estatuto da Terra: “Art. 12. À propriedade privada da terra cabe intrinsecamente uma função social e seu uso é condicionado ao bem-estar coletivo previsto na Constituição Federal e caracterizado nesta Lei”. Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com - Na medida em que a função social passa a ser elemento constitutivo do próprio direito de propriedade, o poder público fica autorizado a privá-la de proteção caso não haja cumprimento à função social (desapropriação agrária, que ainda será estudada). Estabelece o art. 13 do Estatuto da Terra que: “O Poder Público promoverá a gradativa extinção das formas de ocupação e de exploração da terra que contrariem sua função social”. - Em relação à propriedade rural ou agrária, a CF/1988 descreve no seu art. 186 quais são os parâmetros para o seu atendimento, que merecem análise aprofundada. A função social da propriedade agrária é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios de grau de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I) Aproveitamento racional e adequado: Aproveitar de forma racional e adequada é tornar o imóvel produtivo sem esgotar sua força geratriz. É a consagração constitucional do chamado desenvolvimento sustentável. II) Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente: Significa que aquele que está explorando o imóvel agrário há de ter consciência de que tem em mãos um bem de natureza transgeracional, isto é, que deve ser preservado para as presentes e futuras gerações, nos termos do art. 225 da CF/1988. III) Observância das disposições que regulam as relações de trabalho: A Constituição Federal em seu artigo 7º estabelece piso de direitos trabalhistas. Em matéria de direito do trabalho prevalece a norma mais favorável ao trabalhador, assim, as normas infraconstitucionais podem ir além do piso normativo constitucional, e isso se dá por expressa autorização constitucional. IV) Exploração que favoreça o bem estar dos proprietários e dos trabalhadores: Essa norma traz regra de pura abstração da realidade. Para dar um sentido à norma, a doutrina ensina que segundo esse inciso deve haver uma distribuição equitativa dos ônus e bônus da atividade agrária entre proprietário e trabalhador (Giselda Hironaka). - Em sentido muito próximo, o art. 2º do Estatuto da Terra estabelece que “é assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei. § 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente: a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatóriosde produtividade; c) assegura a conservação dos recursos naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem”. A diferença está na menção à produtividade. Os agraristas entendem que o texto não foi recepcionado, uma vez que é possível que uma propriedade produtiva não atenda à função social. - Nessa linha, há certo conflito entre os arts. 186 e 185 da CF/1988, pois o último comando prevê que não pode ser objeto de desapropriação agrária o imóvel produtivo. O último dispositivo é criticado pelos Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com doutrinadores agraristas de forma contundente, pela menção à propriedade produtiva, conceito que sempre suscita debates. Explica Elisabete Maniglia: “Percebe-se que o texto constitucional traz em seu bojo, aspectos de avanços quando trata da função social em diversas passagens constitucionais com ênfase, inclusive nos direitos e garantias fundamentais. O art. 5.º, incisos XXII e XXIII, é exemplo já que deixa claro: que a propriedade é protegida, mas terá que cumprir a função social. Todavia, no texto agrário embarca a questão e cria uma antinomia ao inicialmente discorrer que toda a propriedade que não cumprir a sua função social será desapropriada (art. 184) para, em seguida, vetar a desapropriação nas terras produtivas, pequenas e médias. Retroagiu-se, dessa forma, no que o legislador avançou criando uma expectativa em cumprimento da função social e, em seguida, arrependido, preocupado em desagradar grupos aliados, vetou, de uma forma bem parcial, o que seria o interesse da maioria”. - Diz a doutrinadoras que o legislador criou a esperança de que a função social fosse cumprida, ao mesmo tempo em que a retirou, ao mencionar a propriedade produtiva. - Entre os civilistas, para solucionar essa suposta antinomia, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald propõem que o termo produtividade seja analisado no sentido de uma “propriedade solidária, que simultaneamente satisfaça os parâmetros econômicos de seu titular, sem com isto frustrar os interesses metaindividuais”. - Em reforço, compartilhando do mesmo entendimento, explica Gustavo Tepedino que “A produtividade, para impedir a desapropriação, deve ser associada à realização de sua função social. O conceito de produtividade vem definido pela Constituição de maneira essencialmente solidarista, vinculado ao pressuposto da tutela da propriedade. Dito diversamente, a propriedade, para ser imune à desapropriação, não basta ser produtiva no sentido econômico do termo, mas deve também realizar a sua função social. Utilizada para fins especulativos, mesmo se produtora de alguma riqueza, não atenderá a sua função social se não respeitar as situações jurídicas existenciais e sociais nas quais se insere”. 5. 2. AS TERRAS DEVOLUTAS. a) Concepção de terras devolutas. - No Império: eram terras desocupadas, sem aproveitamento ou devolvidas à Coroa Portuguesa (por incorrerem os beneficiários das sesmarias em comisso, que era a pena pela não utilização). Vale lembrar: as sesmarias eram concessões realizadas pelo Poder Português, quando do Brasil Colônia. Havia uma concessão semelhante à enfiteuse, com a transmissão do domínio útil. Como aponta Benedito Ferreira Marques, as sesmarias trouxeram vantagens e desvantagens. A vantagem principal foi a colonização do interior, possibilitando que o Brasil tivesse um tamanho continental. A desvantagem foi a geração do clientelismo na distribuição de terras no País. Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com - Na República: terras que mesmo ocupadas podiam ser consideradas devolutas, desde que não pertencessem ao particular. - A Lei de Terras (Lei 601/1850) define as terras devolutas no seu art. 3º: “Art. 3º. São terras devolutas: § 1º - As que não se acharem aplicadas a algum uso público, nacional, provincial ou municipal. § 2º - As que não se acharem em domínio particular por qualquer título legítimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial, não incursas em comisso por falta do cumprimento das condições de medição, confirmação e cultura. § 3º As que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras concessões do Governo, que, apesar de incursas em comisso, forem revalidadas por esta Lei. § 4º As que não se acharem ocupadas por posses, que, apesar de não se fundarem em título legal, forem legitimadas por esta Lei”. - Como aponta Lucas Abreu Barroso, o mais importante objetivo da Lei de Terras foi conferir titulação a todos aqueles que não a tinham, embora ocupassem terras consideradas devolutas, evitando perpetuar o regime de posses instaurado com a extinção das sesmarias, o que ocorreu em 1.822 pela Resolução 76, de José Bonifácio de Andrada e Silva. - Vejamos conceito doutrinário de terras devolutas de Altir de Souza Maia: “Terras devolutas são aquelas que não estão aplicadas a qualquer uso público federal, estadual ou municipal, ou que não estejam incorporadas ao domínio privado”. - Como bem aponta Benedito Ferreira Marques, a palavra devoluto quer dizer vazio, desocupado, sem dono. Em suma, terra devoluta é terra sem dono, conforme o conceito antigo e sintético de Clóvis Beviláqua, que ainda pode ser utilizado. - Quanto à sua natureza jurídica, os civilistas enquadram as terras devolutas entre os bens públicos dominicais (art. 99, III, do CC) – MHD. Assim, são, em regra, bens pertencentes ao patrimônio disponível dos entes públicos (art. 101 do CC). - Porém, existem terras devolutas de outra natureza, destinadas para a proteção de ecossistemas naturais. (art. 225, § 5º, da CF/1988). Prevê esse comando que “São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais”. Portanto, tais terras devolutas são bens públicos de uso especial (terras públicas do domínio público do Estado), que são indisponíveis (art. 100 do CC). - Conforme a Súmula 340 do STF, os bens públicos dominicais, caso das terras devolutas, não podem ser objeto de usucapião (desde o Código Civil de 1916). Há uma tese antiga, que não vingou, no sentido de que tais bens podem ser objeto de usucapião, por serem alienáveis. (Sílvio Rodrigues). Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com b) Titularidade e destinação. - Terras devolutas da União. Estão tratadas pelo art. 20, II, da CF/1988. São bens da União as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei. - Terras devolutas do Estado. Constam do art. 26, IV, da CF/1988. São bens do Estado as terras devolutas não compreendidas entre as da União. Sobre as terras devolutas dos estados, prevê a Súmula 477 do STF: “As concessões de terras devolutas situadas na faixa de fronteira, feitas pelos estados, autorizam, apenas, o uso, permanecendo o domínio com a união, ainda que se mantenha inerte ou tolerante, em relação aos possuidores”. - A respeito da destinação, o art. 188, caput, da CF/1988 enuncia que essa deva estar compatibilizada com a Política Agrícola e com o Plano Nacional de Reforma Agrária. A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras devolutas com área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa,dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional (§ 1º). Excetuam-se do disposto anterior as alienações ou as concessões de terras públicas para fins de reforma agrária (§ 2º). ATENÇÃO: RECENTE E POLÊMICA DECISÃO DO STF, PUBLICADA NO SEU INFORMATIVO N. 658 (MARÇO DE 2012), MITIGOU A REGRA ACIMA, QUE JÁ CONSTAVA EM CONSTITUIÇÕES ANTERIORES, EM PROL DA SEGURANÇA JURÍDICA, DA CONFIANÇA E DA ESTABILIDADE DAS RELAÇÕES. Vejamos a publicação na íntegra: Concessão de terras públicas e segurança jurídica – 1. Ante a peculiaridade do caso, o Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação cível originária, proposta pela União, em 1959, na qual se pretendia a declaração de nulidade de contratos em que o antigo Estado do Mato Grosso outorgara a diversas empresas colonizadoras a concessão de terras públicas com área superior ao limite previsto na Constituição de 1946 (“Art 156 ... § 2º - Sem prévia autorização do Senado Federal, não se fará qualquer alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dez mil hectares”). Prevaleceu o voto do Min. Cezar Peluso, relator, que, ao sopesar os valores envolvidos no feito, declarou a subsistência e a validade dos contratos em comento perante a norma constitucional invocada. Consignou que não se estaria a manifestar essa validez perante outros vícios, como o eventual alcance de terras indígenas, latifúndios improdutivos. Nesse particular, expressou que, para ambas as hipóteses, a União possuiria instrumentos adequados sequer aventados neste processo. Ao apontar a existência de pelo menos três ações cíveis, nesta Corte, que diriam com o tema, sublinhou que o presente desfecho em nada interferiria na apreciação daquelas. Fixou, ainda, que cada parte arcasse com os honorários dos respectivos patronos. ACO 79/MT, rel. Min. Cezar Peluso, 15.3.2012. “Concessão de terras públicas e segurança jurídica – 2. Inicialmente, discorreu que a regra da limitação de áreas, para efeito de alienação e concessão de terras públicas, vigoraria desde a Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com Constituição de 1934 (“Art 130 - Nenhuma concessão de terras de superfície, superior a dez mil hectares poderá ser feita sem que, para cada caso, preceda autorização do Senado Federal”). A de 1937, no art. 155, conservara esse limite, bem assim a de 1946, no § 2º do art. 156. A limitação em si fora mantida nos estatutos ulteriores, porém a área de terra que poderia ser alienada ou concedida, sem prévia autorização do Senado, fora reduzida para até três mil hectares na Constituição de 1967 (art. 164, parágrafo único) e, na CF/88, para dois mil e quinhentos (art. 49, XVII), quando o controle político passara do Senado para o Congresso Nacional. Em seguida, assentou que as provas documentais bastariam para firmar a convicção de que se teria vulnerado o disposto no art. 156, § 2º. Extraiu dos autos que, sem autorização do Senado: a) terras com áreas superiores ao limite imposto pela Constituição foram concedidas a alguns particulares; e b) contratos de colonização de áreas de duzentos mil hectares foram celebrados com o ente federativo e por intermédio destes cada empresa ficava “autorizada pelo Estado a promover a colonização, mediante povoamento das terras e venda de lotes a colonos”, e, ao menos em um deles, até ceder “os lotes aos seus colonos”. Em contrapartida, as colonizadoras deveriam prover infraestrutura básica nas terras. Também havia a previsão de o Estado do Mato Grosso receber certa parcela do preço, segundo tabela da data da celebração do contrato de venda ou de promessa de compra e venda para colonos, a título de compensação pela concessão dominial de suas terras devolutas. Advertiu que essas obrigações assumidas pelas empresas não se confundiriam com a contraprestação específica e própria do negócio jurídico de compra e venda. Evidenciou que, sob a denominação de contratos de colonização, o Estado-membro avençara com as empresas contratos administrativos de concessão de domínio, os quais reclamariam observância do preceito constitucional. Salientou que, diversamente de outras espécies da mesma classe das chamadas concessões administrativas — a exemplo das concessões de uso e de direito real de uso — a de domínio seria forma de alienação de terras públicas com origem nas concessões de sesmarias da Coroa, hoje somente utilizada nas concessões de terras devolutas da União, dos Estados e dos Municípios (CF/88, art. 188, § 1º). Mencionou que, da leitura das cláusulas contratuais, patentearam-se duas coisas: a) as terras objeto das concessões caracterizar-se-iam como devolutas, porque todos os contratos de colonização teriam sido precedidos de decretos estaduais de reserva de terras devolutas, os quais lhes serviriam de fundamento; e b) as companhias obrigar-se-iam, como contraprestação, a realizar, nas áreas concedidas, diversos serviços de utilidade pública que à unidade federativa, sozinha, não seria possível empreender. Enfatizou que a Constituição compreenderia as terras devolutas nas terras públicas aludidas. Observou que, embora louvável a iniciativa de povoar suas terras, o erro teria sido conceder a particulares, sem prévio consentimento do Senado, o domínio de áreas superiores a dez mil hectares. Certificou que não constaria dos autos alegação nem prova de autorização do Senado para as concessões, donde configurada manifesta e incontroversa violação ao mandamento contido na norma especificada. ACO 79/MT, rel. Min. Cezar Peluso, 15.3.2012. (ACO-79) Concessão de terras públicas e segurança jurídica – 3. Ato contínuo, ressaltou serem extremamente consideráveis os seguintes aspectos fáticos: a) os contratos em questão foram pactuados há Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com 59 anos; b) a cadeia dominial a partir daí perder-se-ia no tempo, abrangendo extensa área que equivaleria, aproximadamente, a 40.000 km² (corresponderia ao dobro da área do Estado de Sergipe); c) as concessões de domínio foram realizadas por ente federativo, o que, presumir-se-ia, haver despertado nos adquirentes fundada convicção da legalidade dos negócios. Aduziu que, assim como no direito estrangeiro, o ordenamento brasileiro reverenciaria os princípios ou subprincípios conexos da segurança jurídica e da proteção da confiança, sob a compreensão de que nem sempre se assentariam, exclusivamente, na legalidade. Isto significaria que situações de fato, ao perdurar significativamente no tempo — sobretudo se oriundas de atos administrativos, que guardariam presunção e aparência de legitimidade —, deveriam ser estimadas com cautela quanto à regularidade jurídica, até porque, enquanto a segurança seria fundamento quase axiomático, perceptível do ângulo geral e abstrato, a confiança, que diz com a subjetividade, apenas seria passível de avaliação perante a concretude das circunstâncias. Certificou que a fonte do princípio da proteção da confiança estaria na boa-fé do particular, como norma de conduta e, em consequência, na ratio da coibição do venire contra factum proprium, o que acarretaria a vinculação jurídica da Administração Pública às suas próprias práticas e ações. O Estado de Direito seria sobremodo Estado de confiança. Explicou que a boa-fé e a confiança dariam novo alcance e significado ao princípio tradicional da segurança jurídica — em contexto que, faz muito, abrangeria, em especial, as posturas e os atos administrativos, como advertiria a doutrina — destacando a importância decisiva da ponderação dos valores da legalidade e da segurança, como critérioepistemológico e hermenêutico destinado a realizar, historicamente, a ideia suprema da justiça. Versou sobre o princípio da segurança jurídica e, inclusive, reportou-se a normas textuais de leis que disporiam vários aspectos de convalidação de atos praticados pela Administração Pública. Concessão de terras públicas e segurança jurídica – 4. Ao tecer comentários sobre a convalidação de atos administrativos, acenou que esta, consoante a doutrina, não conflitaria com o princípio da legalidade. Ressurtiu que, na hipótese de a decretação de nulidade ser feita tardiamente — quando da inércia da administração teriam sido constituídas situações de fato revestidas de forte aparência de legalidade, a ponto de fazer gerar a convicção de sua legitimidade — seria deveras absurdo que, a pretexto da eminência do Estado, se concedesse às autoridades um poder-dever indefinido de autotutela. Além disso, citou precedentes em que o STF reafirmaria a supremacia jurídico-constitucional dos princípios da segurança jurídica e da proteção da confiança legítima sobre a legalidade estrita, diante de prolongadas situações factuais geradas pelo comportamento da Administração Pública. Noticiou que alguns juristas distinguiriam, na matéria, entre convalidação e estabilização de atos administrativos, por entenderem que só poderiam ser convalidados os atos que admitissem repetição sem vício. Dessa feita, os atos inválidos, insuscetíveis de aperfeiçoamento no presente, seriam, para efeito de regularização, tão-só estabilizados ou consolidados. Elucidou que, a despeito de uma ou outra nomenclatura, esta Corte viria decidindo que, por vezes, o princípio da possibilidade ou da necessidade de anulamento seria substituído pelo da impossibilidade, em homenagem à segurança jurídica, à boa-fé e à confiança legítima. Avaliou ser esta a resposta jurídica que conviria à espécie. Expressou não ver como nem onde pronunciar — meio Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com século depois, a nulidade das concessões de domínio feitas pela indicada unidade da Federação a pessoas jurídicas, empresas de colonização, e físicas, colonos — sem grave ofensa aos princípios constitucionais e transtornos a relações de vida extremamente importantes. Expôs que cidades formaram-se nessas áreas concedidas, com milhares de famílias; comércio e lavoura expandiram-se significativamente; acessões e benfeitorias públicas e privadas foram erguidas; o Estado dera origem a outro, em 1979, seccionando sua área; múltiplas transmissões de domínio sucederam-se, sob convicção de regularidade. Concessão de terras públicas e segurança jurídica – 5. Além disso, estimou ser inegável que as concessões teriam cumprido seus propósitos político-sociais, sem que se pudesse pensar em desvio de finalidade, porquanto a colonização fora implantada no âmbito do programa governamental de Vargas, a denominada “Marcha para o Oeste”. O Brasil central era, ao tempo, composto de grandes vazios por ocupar e desbravar, e União e Estados-membros não detinham condições materiais de, sozinhos, realizar essa tarefa. Inferiu que os colonos, destinatários últimos dos lotes, confiaram no Poder Público, duplamente: no Governo Federal, que empreendia a política de ocupação territorial sob o modelo das concessões de domínio, intermediadas e, em boa parte, financiadas por empresas colonizadoras; e no então Estado do Mato Grosso, que era o concedente. Acentuou que, nas décadas de 60 e 70, ações governamentais, sob igual ânimo e propósito, foram aviadas no centro-oeste e no norte do Brasil. Por fim, nada fazia supor, objetivamente, que os títulos de propriedade concedidos não valessem. Atentou que efeitos indesejáveis de colonizações ocorreriam não apenas naquele ente político. Concessão de terras públicas e segurança jurídica – 6. Com o registro de que esta decisão não refletiria em ação sob sua relatoria, a Min. Rosa Weber acompanhou o Presidente. O Min. Luiz Fux lembrou que haveria norma in procedendo do art. 462 do CPC a determinar que o juiz, ao decidir, levasse em conta o estado de fato da lide. Destacou ser a situação absolutamente irreversível e frisou ser esta uma ação de cognição submetida ao STF. Explicitou que o exame do relator, em prol da estabilidade social, influiria, também, na dignidade humana daqueles povoados que já estariam ali há mais de sessenta anos. Pela circunstância excepcionalíssima da causa, o Min. Dias Toffoli seguiu o relator, considerando ser o objeto da proposição inicial única e exclusivamente o descumprimento do § 2º do art. 156 da CF/46. Adotou, ainda, as razões apresentadas pela União, que aduzia: a) não haver discussão a respeito de seu domínio sobre parcela das terras objeto dos contratos combatidos; b) não constituir fundamento desta ação grave esbulho ocorrido em terra indígena; c) diferir o pedido veiculado nestes autos daqueles das demais ações cíveis; d) inexistir relação de prejudicialidade entre os feitos; e) não resultar — eventual julgamento de improcedência, baseado exclusivamente na regularidade dos contratos como causa de pedir — na certificação de titularidade da unidade federativa sobre a vasta área do Xingu; f) não afetar o desfecho da demanda o julgamento de ações em curso nesta Corte, bem como qualquer outra concernente a terras indígenas, ou área ambiental, no Estado do Mato Grosso. Agregou a isso manifestação de não servir a situação de paradigma ou de precedente para nenhum evento, atestando que as concessões realizar-se- iam em afronta ao preceito indicado. Discorreu a respeito do princípio da segurança jurídica, Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com do longo decurso e das razões de equidade, estas em virtude de resultado havido em outra ação cível originária em que a União e o Estado do Mato Grosso discutiam a titularidade de terras. Aventou possibilidade de se suspender a tramitação dos autos para que o Congresso Nacional viesse a placitar a não autorização ocorrida e a ratificar os atos praticados. A Min. Cármen Lúcia, ao salientar a restrição das áreas indígenas e da consequência para o julgamento da ação relatada pela Min. Rosa Weber, subscreveu às inteiras o voto condutor. Concessão de terras públicas e segurança jurídica – 7. Vencidos os Ministros Ricardo Lewandowski, Ayres Britto e Marco Aurélio, que acolhiam o pedido. O primeiro reputava haver vício de origem absolutamente insanável. Considerava a extensão da área e a ausência de dados fáticos, para melhor avaliar a espécie. Ponderava que a União e os Estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul saberiam definir os casos concretos. O segundo aduzia que a causa estaria envolta em ambiência de nebulosidade quanto: a) aos reais beneficiários das terras públicas, se verdadeiros colonos, se empresas, se ONGs; e b) à natureza jurídica dos atos formalmente celebrados. O último abordava a possibilidade de se repetir hodiernamente a situação jurídica, visto que essa regra da Constituição de 1946 teria sido reproduzida em textos constitucionais subsequentes. Inferia que decidir pela improcedência do pleito, ante a passagem do tempo, seria dar ao fato consumado envergadura a sobrepor-se, inclusive, à Constituição. Salientava que a ilegalidade originara, à época, a instauração de comissão parlamentar de inquérito. Consignava que fato consumado, para merecer agasalho, haveria de estar em harmonia com a Lei Maior. Rememorava que, em vista da importância da matéria, na Carta de 1988 ter-se-ia passado a exigir a autorização do Congresso Nacional e diminuído o número de hectares. Observavatratar-se de concessão inicial que seria serviço público. Discernia que o ente político transferira domínio de áreas de forma muito extravagante, haja vista que abarcarcaria terras indígenas. Vislumbrava que negar a procedência do vício estimularia o desrespeito à ordem jurídica constitucional. Sublinhou que desdobramentos no campo social ficariam na esfera de uma política a ser implementada pelo Estado. - Repise-se que o art. 225, § 5º, da CF/1988 prevê a indisponibilidade das terras devolutas necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. c) Discriminação das terras devolutas. - Foi um instituto criado pela Lei de Terras (art. 10), tratando-se de um procedimento administrativo para separar as terras devolutas das particulares. - A descriminação cabe ao INCRA, confirme o art. 11 do Estatuto da Terra. Atualmente, os procedimentos administrativo e judicial estão tratados pela Lei n. 6.383, de 07.12.1976. Vejamos os principais aspectos. → Procedimento administrativo. Os detalhes constam do art. 2º ao art. 17, da Lei n. 6.383/1976. Em suma, o processo discriminatório administrativo é instaurado por Comissões Especiais constituídas por três membros: um bacharel em direito do serviço jurídico do INCRA (presidente); um engenheiro agrônomo e um outro funcionário. Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com → Procedimento judicial. Tratado entre os arts. 18 a art. 23 da Lei n. 6.383/1976. O art. 18 prevê a legitimidade ao INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). O art. 19 preconiza as hipóteses em que cabe a ação discriminatória de terras devolutas. A principal situação é a frustração do procedimento administrativo. A competência é da Justiça Federal, em regra (art. 19, parágrafo único). Nos casos de terras devolutas estaduais, a competência é da Justiça Estadual Comum (art. 27). O rito da ação é o sumário (art. 20). A apelação da ação somente se dá no efeito devolutivo, facultada a execução provisória (art. 21). A ação discriminatória tem caráter preferencial e prejudicial em relação a outras ações (art. 23). Benedito Marques faz críticas contundentes a respeito da morosidade dessas ações, especialmente por correrem na Justiça Federal. Os agraristas pleiteiam a criação de uma Justiça Especializada Agrária. Vejamos exemplos recentes de julgados sobre ação demarcatória de terras devolutas: “PROCESSUAL CIVIL. PONTAL DO PARANAPANEMA. TERRAS DEVOLUTAS. DOMÍNIO PRIVADO. OMISSÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM. PONTOS RELEVANTES PARA O DESLINDE DA DEMANDA. ART. 535 DO CPC. VIOLAÇÃO. 1. Hipótese em que se discute discriminação de aproximadamente 4 mil ha. de terra localizados no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, e derivados da Fazenda Pirapó-Santo Anastácio, em cujo Registro Paroquial originário aferiu-se, noutros processos, a falsidade da assinatura do Frei Pacífico de Monte Falco. 2. O TJ-SP reconheceu o vício no Registro Paroquial originário. Entretanto, afastou o pleito da Fazenda, pois entendeu que o Estado reconhecera o domínio privado sobre as terras, de modo que não poderia propor a presente Ação Discriminatória. 3. Apesar de o TJ-SP afirmar que o Estado reconheceu o domínio privado sobre as áreas públicas, não analisou, especificamente, a ocorrência de usucapião. 4. A Fazenda apresentou aclaratórios na origem, pedindo manifestação expressa quanto à impossibilidade de posse presumida para fins de usucapião e da inviabilidade de domínio privado sobre terras públicas por prescrição aquisitiva na vigência do CC/1916, mesmo que com base em lei estadual (Súmula 340/STF). 5. Os pontos suscitados são essenciais para o deslinde da demanda e a omissão do Tribunal de origem implica ofensa ao art. 535 do CPC. Os autos devem retornar, para solução do vício, ficando prejudicados os demais pontos recursais e a multa do art. 538, parágrafo único, do CPC. 6. Recurso Especial provido” (STJ, REsp 1193379/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/10/2010, DJe 02/02/2011). “PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO DISCRIMINATÓRIA. PONTAL DO PARANAPANEMA. ACÓRDÃO RECORRIDO. OMISSÃO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. NÃO- CONHECIMENTO. INEXISTÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com ESTADUAL. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. REGULARIDADE DA CITAÇÃO. SÚMULA 7/STJ. LEGISLAÇÃO ESTADUAL. NÃO-CONHECIMENTO. REGISTROS PÚBLICOS. PRESUNÇÃO RELATIVA. PROVA EMPRESTADA. CABIMENTO. DOCUMENTO FALSO. COMPROVAÇÃO DE POSSE. IMPOSSIBILIDADE. USUCAPIÃO COM BASE EM LEGISLAÇÃO ESTADUAL. INVIABILIDADE. SÚMULA 340/STF. (...). 2. A competência para a Ação Discriminatória é da Justiça estadual, pois a União não tem interesse na demanda, inexistindo terra devoluta de seu domínio na região. 3. A Ação Discriminatória é o procedimento judicial adequado para que o Estado comprove que as terras são devolutas, distinguindo-as das particulares. As provas a serem produzidas referem-se a eventual domínio privado na área, nos termos do art. 4º da Lei 6.383/76. 4. A discussão quanto à regularidade da citação, relativamente à correta indicação dos possuidores dos imóveis, requer exame dos documentos juntados aos autos (Súmula 7/STJ). Além disso, os recorrentes não demonstram qual teria sido o prejuízo; pelo contrário, consta, nas decisões de origem, que se procedeu à sua regular citação e apresentação de defesa. 5. Rever o entendimento do Tribunal a quo, de que a natureza da decisão anterior (de 1927) é administrativa (o que afastaria, in casu, a coisa julgada), exigiria a análise da norma estadual que regulou aquele primeiro processo, o que, por falta de contestação em face de lei federal, extrapolaria a competência do STJ. 6. O valor probante do registro público não é absoluto, podendo ser ilidido no curso de ação judicial. Precedentes do STJ. (...). 8. O acórdão recorrido consignou que a natureza das terras (devolutas) foi comprovada a contento, em razão dos vícios na cadeia dominial e da inexistência de usucapião. 9. Ainda que se admita a possibilidade de usucapião de terras públicas no período anterior ao Código Civil de 1916, inafastáveis os requisitos específicos dessa modalidade aquisitiva. A posse não se presume, vedação essa que vale tanto para a prova da sua existência no mundo dos fatos como para o dies a quo da afirmação possessória. 10. A certidão (de 1856) cuja letra e assinatura não pertencem a quem se faz supor (Frei Pacífico) é, para todos os fins, documento inexistente e, portanto, incapaz de convalidação. Tampouco o decurso do prazo transforma o inexistente em existente, ou mesmo em documento putativo. 11. Se o registro inicial da cadeia dominial apresentado pelo particular (a certidão firmada por Frei Pacífico) é realmente falso (e esse juízo fático cabe às instâncias ordinárias), dele não pode defluir nenhum efeito jurídico válido, seja quanto aos seus aspectos substantivos diretos, seja quanto a presumir o dies a quo da posse, isto é, 14 de maio de 1856, data de sua lavratura. 12. O debate sobre a boa ou má-fé, nesse contexto jurídico, é irrelevante. O que importa é que o imóvel, por ser terra pública, não podia ser objeto de usucapião, qualquer que fosse o estado de espírito do pretendente. A boa- fé (fato jurídico de conotação individual) não tem o condão de invalidar proibição legal expressa, de ordem pública, lavrada em favor da coletividade. 13. Não comprovada a posse, inviável o reconhecimento de usucapião, qualquer que seja o fundamento jurídico alegado (legislação federal ou estadual).De qualquer forma, o STF, nos processos que sustentam a Súmula 340 daquela Corte (‘Desde a vigência do código civil, os bens dominicais, como Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião’), entendeu que inexiste usucapião de imóveis públicos decorrente de legislação estadual, ainda que se trate de terras devolutas pertencentes ao Estado (RE 4.369/SP, j. 21.9.1943). Incabível, assim, a pretensão de usucapião extraordinário (e de desnecessidade de comprovação de justo título) com base no Decreto-Lei de SP 14.916/1945. 14. Recurso Especial de Wilson Rondó Júnior e outros não conhecido. Recurso Especial de Ponte Branca S/A e outro parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. Recursos Especiais de Antônio dos Santos Vardasca, Willian Branco Peres e outros conhecidos e não providos” (STJ, REsp 617.428/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/08/2010, DJe 27/04/2011). 5. 3. POSSE AGRÁRIA. 5. 3. 1. CONCEITO E EFEITOS JURÍDICOS. - Conforme Antônio José de Mattos Neto: “Posse agrária é o exercício direto, contínuo, racional e pacífico de atividades agrárias desempenhadas em gleba de terra rural capaz de dar condições suficientes e necessárias ao seu uso econômico, gerando ao possuidor um poder jurídico de natureza real definitiva com amplas repercussões no Direito, tendo em vista o seu progresso e bem-estar econômico e social”. - Para Getúlio Targino: “Posse agrária é o exercício direto, contínuo, racional e pacífico, pelo possuidor, de atividade agrária desempenhada sobre um imóvel rural, apto a desfrute econômico, gerando a seu favor um direito de natureza real especial, de variadas consequências jurídicas e visando ao atendimento de suas necessidades socioeconômicas, bem como da sociedade”. - Desse modo, a posse agrária teria os seguintes elementos fundamentais: POSSE AGRÁRIA = SUJEITO + ATIVIDADES AGRÁRIAS + BENS AGRÁRIOS. - Como se nota, os agraristas defendem a existência de um direito real especial, que supera o rol do art. 1.225 do CC. Assim, reafirma-se a tese de que o rol dos direitos reais é meramente exemplificativo (numerus apertus) e não taxativo (numerus clausus). - A posse agrária não se confunde com a posse civil comum (art. 1.196 do CC), pois é uma posse qualificada pela função social (teoria da função social da posse, de Perozzi, Saleilles e Hernandez Gil). Entre os agraristas, Benedito Ferreira Marques e Lucas Abreu Barros associam a posse agrária à posse- trabalho, posse qualificada que consta do Código Civil de 2002 em vários dispositivos. - Como CARACTERÍSTICA PRINCIPAL, na posse agrária há o exercício de atividades agrárias sobre o imóvel rural. Dessa forma, a posse agrária é sempre direta, pessoal e imediata, não admitindo a posse indireta. Assim, a classificação da posse quanto ao desdobramento não se aplica à posse agrária (art. 1.197 do CC). - São os principais efeitos da posse agrária: a) aquisição do imóvel rural público ou particular, pelos institutos a seguir estudados; b) direito à indenização por benfeitorias; c) direito de retenção da coisa; d) Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com defesa possessória. Os efeitos são, em parte, similares à posse comum, com a diferença da aquisição restritiva do imóvel público. - São institutos diretos relacionados à posse agrária a legitimação de posse (sobre terras devolutas, públicas) e a regularização de posse (sobre terras devolutas, públicas). A usucapião agrária (terras particulares), estudada a seguir, também tem relação com o instituto, pois nasce da posse agrária. 5. 3. 2. DA LEGITIMAÇÃO DE POSSE. - A legitimação de posse foi instituída pela Lei de Terras (art. 5º), atribuindo contornos jurídico-legais à situação de fato constatada na época (problema social gerado com ocupações de pequenas áreas de terras por pequenos lavradores). - RECAI SOBRE TERRAS DEVOLUTAS, TERRAS PÚBLICAS. - Criou a figura jurídica do posseiro: aquele que tem posse em terras devolutas, acrescida de outros requisitos legais à titulação (Pontes de Miranda). - CONCEITO: trata-se de um ato administrativo, através do qual o Poder Público reconhece ao particular sua condição de legitimidade, outorgando o formal domínio pleno (Lima Stefanini). - Constitui uma forma de alienação de terras devolutas. Representam o atendimento ao princípio da despublicização dos imóveis rurais públicos. - A regulamentação da legitimação de posse consta dos arts. 29 a 31 da Lei n. 6.383/1976. Vejamos as regras fundamentais: “Art. 29. O ocupante de terras públicas, que as tenha tornado produtivas com o seu trabalho e o de sua família, fará jus à legitimação da posse de área contínua até 100 (cem) hectares, desde que preencha os seguintes requisitos: I - não seja proprietário de imóvel rural; II - comprove a morada permanente e cultura efetiva, pelo prazo mínimo de 1 (um) ano. § 1o A regularização da ocupação de que trata este artigo consistirá no fornecimento de uma Licença de Ocupação, pelo prazo mínimo de mais quatro anos, findo o qual o ocupante terá a preferência para aquisição do lote pelo valor mínimo estabelecido em planilha referencial de preços, a ser periodicamente atualizada pelo INCRA, utilizando-se dos critérios relativos à ancianidade da ocupação, às diversificações das regiões em que se situar a respectiva ocupação e à dimensão de área. (Redação dada pela Medida Provisória nº 458, de 2009) § 2º - Aos portadores de Licenças de Ocupação, concedidas na forma da legislação anterior, será assegurada a preferência para aquisição de área até 100 (cem) hectares, nas condições do parágrafo anterior, e, o que exceder esse limite, pelo valor atual da terra nua“. Material elaborado por Tatiana Melo Contato: e-mails: concursoemalta@hotmail.com tatianaconcursos@hotmail.com - Benedito Marques aponta que a Licença de Ocupação (L. O) não atribui a propriedade, sendo um documento provisório inócuo do ponto de vista prático. E pergunta: como oferecer o bem em hipoteca para a obtenção de financiamentos bancários para a produção? O jurista faz críticas contundentes em relação à categoria, diante de dificuldades de sua efetivação. - ATENÇÃO: O instituto tem natureza administrativa, conforme o art. 99 do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/1964). Estabelece esse dispositivo que “A transferência do domínio ao posseiro de terras devolutas federais efetivar-se-á no competente processo administrativo de legitimação de posse, cujos atos e termos obedecerão às normas do Regulamento da presente Lei” - A legitimação de posse é obrigatória e gratuita, constituindo forma de concretização da função social da posse e da propriedade (art. 5º, inc. XXIII, da CF/1988). - A legitimação da posse consta, mais recentemente, da Lei do Programa Minha Casa Minha Vida (Lei n. 11.977/2009, art. 59). Existem, portanto, tentativas concretas de sua ampliação. Conceito histórico importante. Registro Paroquial. Consta do Regulamento da Lei de Terras (Decreto nº 1.138, de 1854). Os possuidores de terras, para atenderem ao disposto no artigo 5º da Lei de Terras, possibilitando a legitimação da posse, ficaram obrigados a proceder ao registro das mesmas junto às respectivas paróquias, oportunidade em que deveriam provar a posse mansa e pacifica, via dos respectivos títulos ou provas de estarem as mesmas já cultivadas ou em princípio de cultura. O art. 97 do regulamento previa que o registro caberia aos vigários
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