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2012 Questionário II Respostas

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FES I (Motta) - Respostas do Questionário II (2012)
 
1. Para Novais, a peça fundamental da acumulação originária, da "gestação do capitalismo 
moderno", o sistema colonial mercantilista, passou a ser obstáculo ao desenvolvimento 
capitalista a partir do momento em que este sistema começou a se industrializar. 
Afinal, a necessidade de expansão dos mercados, cara ao capitalismo industrial, para 
desenvolver a produção e as vendas, passou a ser incompatível com as bases do 
sistema colonial mercantilista, isto é, a escravidão - pelo potencial mercado consumidor 
que a escravidão reprimia - e o regime de exclusivo metropolitano - o que encarecia 
insumos produtivos e impedia ou encarecia a venda dos industrializados nas colônias. 
Assim, desse conflito de funcionamento entre o capitalismo industrial e o sistema 
colonial decorre a crise do antigo sistema colonial: “(...) quando [a industrialização] 
atinge o nível de uma mecanização da indústria (Revolução Industrial), todo o conjunto 
começa a se comprometer porque o capitalismo industrial não se acomoda nem com as 
barreiras do regime de exclusivo colonial nem com o regime escravista de trabalho.”
2. Mircea, ao contrário de Furtado, destaca os acontecimentos da primeira metade 
do século XIX como essenciais para o progresso verificado na segunda metade do 
século; "a época de Mauá só foi possível graças à de Cairu". Acontecimentos sociais, 
culturais, políticos e econômicos do período 1800-1850 teriam sido decisivos na 
mudança: formação de uma elite intelectual, difusão de idéias européias, surgimento 
da imprensa e de um sistema educacional (ainda que limitado), crescimento da classe 
média relacionada à vinda da Corte Portuguesa, a abolição do tráfico negreiro, o 
aumento da imigração branca como consequência da abolição do tráfico, o surto do 
café e a criação de novas instituições econômicas, como o Banco do Brasil (ainda que 
com seus problemas). Buescu se baseia, em especial, na análise da renda brasileira no 
período, que, segundo ele, "deixa de cair (...); não é mais uma estagnação, mas sim, 
o marco de uma mudança de direção" - nesse ponto, concorda com Furtado: “O Brasil 
iniciou [em 1850] uma étapa de crescimento após três quartos de século de estagnação 
e provavelmente retrocesso de sua renda per capita”.
3. Furtado desenvolve a tese de que, no período 1800-1850, a renda per capita no Brasil 
é declinante. Ele chega à essa conclusão analisando os termos de troca no país, e diz 
que, com a grande queda nos preços das exportações, apenas uma queda semelhante 
nos preços das importações poderia manter a renda real constante. Assumindo que 
os preços das importações se equiparavam aos preços de exportação ingleses e 
verificando que estes últimos se mantiveram estáveis no período analisado, e sem 
qualquer tipo de industrialização desenvolvida no Brasil, Furtado afirma que a renda só 
pode ter declinado no período considerado, contrapondo-se às considerações de Mircea 
Buescu sobre a renda no período.
4. a) A abertura dos portos inaugurou nova fase na história brasileira ao romper com o 
exclusivismo colonial, isto é, ao possibilitar a entrada, no país, de produtos de origem 
que não fosse necessariamente portuguesa. A medida favoreceu as nações amigas à 
Portugal, em especial a Inglaterra, cuja aliança com Portugal era tradicional e "de longa 
data". Isto porque, para os comerciantes e industriais ingleses, a abertura dos portos 
brasileiros parecia uma oportunidade de substituir, ao menos em parte, os mercados 
europeu e norteamericano, então restritos aos produtos ingleses por, respectivamente, 
o bloqueio continental decretado por Napoleão em 1806 e intensificado em 1807, e 
tensões entre a Inglaterra e sua ex-colônia americana fomentadas pela legislação 
protecionista norteamericana e pela navegação dos neutros. A situação inglesa era tal 
que o mercado brasileiro foi completamente abarrotado logo que aberto, uma vez que 
os comerciantes daquele país tinham produtos “encalhados nas pratileiras” desde 1806.
b) O tratado de comércio e navegação de 1810 foi extremamente favorável à Inglaterra, 
mesmo que, em alguns aspectos, às custas da colônia portuguesa. O governo 
português, por sua vez, preocupado com a situação europeia e a manutenção da 
dinastia de Bragança, ratifica o tratado para perpetuar o apoio inglês. Os britânicos 
tinham grande interesse no tratado de comércio, que os consolidaria comercialmente 
na América e os colocaria em posição de vantagem nesse mercado quando a guerra 
acabasse. Além disso, poderiam se utilizar do Brasil para escoar os produtos estocados 
na Inglaterra e conseguir matéria-prima para a indústria têxtil. Ratificado o tratado, os 
anseios ingleses vieram a ocorrer. No entanto, para o Brasil, a concessão do tratado 
foi responsável por minar qualquer tipo de desenvolvimento manufatureiro brasileiro, 
que não podia competir com os importados ingleses em tais condições. Portugal "pagou 
esse preço" em troca de apoio inglês. Importante lembrar que, para Furtado, ao 
contrário de Caio Prado, Simonsen e Olga Pantaleão, os tratados de 1810 não foram o 
fator essencial para não-industrialização do período - desvalorização da moeda prova 
tal fato, dado que o câmbio mais do que compensou os privilégios concedidos aos 
produtos ingleses importados.
5. A descrição de Alan K. Manchester de D. João VI como "um obeso príncipe real que 
sofria de um caso crônico de indecisão" se refere às contradições da política econômica 
de D. João VI no período regencial, isto é, pela alternância, no período de 1808-
1821, de medidas liberais, no sentido de romperem com o exclusivismo colonialista e 
favorecerem o comércio exterior, e medidas nitidamente mercantilistas, ou seja, regalias 
aos portugueses em detrimento desse comércio exterior. Como observou Emília 
Viotti da Costa, "as regalias que D. João concedia com uma das mãos ao comércio 
estrangeiro, procurava restringir com a outra, que estendia aos portugueses". Essas 
contradições de D. João provinham do fato de que, por um lado, adotar por completo 
o liberalismo econômico seria romper com os interesses de Portugal e sacrificar as 
bases de sobrevivência da própria Coroa, mas, por outro lado, o contexto europeu, 
a pressão das elites brasileiras e a aliança com a Inglaterra impediam a manutenção 
do sistema colonial. Esse embate de interesses, cuja síntese estava na "crônica 
indecisão" de D. João VI, foi se acirrando no período considerado, e culminou, em 
1822, com a independência completa do Brasil, como reação à radicalização da posição 
portuguesa que seguiu a Revolução do Porto de 1820. Pretendendo conciliar interesses 
estrangeiros (em especial ingleses), de comerciantes portugueses, de “brasileiros” e 
da própria Coroa (sobretudo fiscais), Dom João não consegue “senão descontentar a 
todos.”
6. Rodrigues de Brito, em seu libelo contra o colonialismo, explicita como problemas da 
situação brasileira exatamente os fatores que, segundo Novais, foram responsáveis 
por sua ruína: o entreposto metropolitano e a mão de obra escrava. Como afirma o 
próprio Buescu, "As liberdades que ele (Rodrigues de Brito) pleiteia, em nome da nova 
doutrina (liberal), implicam no abandono dos próprios fundamentos do colonialismo". 
Sua oposição em nome do liberalismo aos entraves, impostos, controles, limitações e 
proibições é a revolta disfarçada contra a política colonial. A posição liberal assumida 
por Rodrigues de Brito é semelhante, portanto, à adotada pelos capitalistas industriais. 
Demais, a crítica do desembargador é análoga ao conflito discutido por Novais, entre o 
antigo sistema colonial e o capitalismo industrial, que teria levado o primeiro à ruína. 
7. a) Furtado critica a ideia de que os Tratados firmados em 1810 entre Portugal e 
Inglaterra foram responsáveis pela aniquilação do "surto manufatureiro" iniciado em 
1808, com a revogação do decretoproibitivo de produção industrial no Brasil. Para 
ele, a desvalorização da taxa de câmbio na época foi expressiva a ponto de aumentar 
os preços dos importados em uma escala mais expressiva do que os Tratados de 
1810 abaixaram; isto é, a variação da taxa de câmbio brasileira teria agido como um 
fator protecionista. Logo, Furtado aponta algumas razões para a não-industrialização 
brasileira: a falta de um mercado consumidor - já que, como diz Furtado, nenhuma 
indústria cria mercado para si própria -, a falta de experiência técnica para produzir 
industrialmente e a estagnação das exportações - o que está vincauldo à questão do 
mercado. Furtado lembra ainda que, nas colônias americanas do norte, foi apenas após 
a industrialização que se deu uma política protecionista ao setor, mostrando que não é 
essa política que determina ou não o surgimento e crescimento de um setor industrial.
b) Os privilégios aduaneiros concedidos à Inglaterra no contexto de paralisação do 
comércio exterior criam enormes dificuldades ao governo brasileiro, visto que, diz 
Furtado, é por meio dos impostos sobre as importações que o governo brasileiro 
arrecadava sua renda básica. Assim, a única alternativa para manter a arrecadação 
seria taxar as exportações, i.e., jogar a conta do governo para os grandes produtores 
da agricultura; nas palavras de Furtado, "sangrar os próprios lucros". Na impossibilidade 
de aumentar a arrecadação, o governo brasileiro passa por maus bocados: aumenta 
seu déficit, o que tenta contornar emitindo papel-moeda, que, por sua vez, reflete-se 
em aumento dos preços dos importados e, por fim, reflete-se no empobrecimento das 
classes pequena e média urbana. Não é à toa, diz Furtado, que nos primeiros decênios 
de Brasil independente ocorrem tantas revoltas populares urbanas e acirramento do 
ódio contra o governo central.
8. O Brasil passou por sérias dificuldades financeiras em suas primeiras décadas 
independentes. Isso porque, segundo Furtado, os Tratados de Comércio de 1810 e, 
posteriormente, de 1827, entre, respectivamente, Portugal e Brasil com a Inglaterra, 
foram responsáveis por rebaixar as taxas ad valorem sobre os produtos importados, o 
que, evidentemente, diminui drasticamente a arrecadação do governo. A única solução, 
diz Furtado, seria taxar as exportações, o que significaria diminuirmos lucros da grande 
agricultura - evidentemente, uma saída fiscal politicamente inviável à época. Sem poder 
cobrir seus gastos básicos, o governo passou a imprimir papel-moeda para financiar 
seu déficit. A decisão teria desvalorizado o mil-réis em relação à libra esterlina, e essa 
desvalorização levou os preços dos importados a subirem demasiadamente, o que 
teria atingido, diz Furtado, especialmente as camadas urbanas, como comerciantes, 
empregados, militares etc. Isso explicaria, segundo Furtado, o grande número de 
revoltas populares urbanas vistas no império em suas primeiras décadas.
9. A crítica de Rodrigues de Brito em seu "libelo" contra o colonialismo e os dizeres 
do manifesto do Príncipe Regente tem grandes semelhanças, no que diz respeito à 
adoção de uma postura contrária ao sistema mercantilista colonialista e a proposição 
do liberalismo econômico como novo conjunto de práticas econômicas a ser seguido. 
Rodrigues de Brito destaca a ineficiência da política colonial ao impedir a formação 
de manufaturas, escolher a produção agrícola, limitar áreas de comércio e tributar 
excessivamente as importações. Sua proposta é "a eliminação, parcial ou total, da 
intermediação imposta pela Metrópole, a redução ou a isenção dos tributos", nas 
palavras de Mircea Buescu. O manifesto do Príncipe Regente contém o mesmo teor, 
clamando pela liberalização do comércio, da manufatura e da agricultura. No entanto, 
os motivos pelos quais cada um dos textos foi produzido parecem ser distintos. 
Enquanto Buescu atribui, à postura liberal do desembargador Rodrigues de Brito, uma 
grande influência das ideias francesas e inglesas no Brasil, pode-se sugerir que a 
postura liberal do Príncipe Regente seja, em muito maior parte, influência e pressão dos 
interesses ingleses do que uma adoção individual, intelectual das ideias liberais.
10. O trecho em questão, citado por Emília Viotti da Costa, evidencia como os movimentos 
revolucionários pré-independência, como a Conjuração Baiana de 1798 ou a Revolução 
Pernambucana de 1817, foram como que ensaios da emancipação política de fato, 
mostrando às elites os rumos que poderiam ser tomados se o povo pusesse a mão em 
armas. Evidentemente, o liberalismo limitado das elites brasileiras seria insuficiente para 
mudar estruturalmente a sociedade brasileira e, portanto, meter o povo no processo 
de emancipação, como observado por essas experiências pré-revolucionárias, seria 
levar a mudança no país para muito além de uma simples ruptura com Portugal. É por 
esse motivo, por exemplo, que são tão defendidas soluções de irmandade entre os 
países por meio de uma monarquia dual etc., isto é, uma solução que concilie o desejo 
de ruptura com o medo de dar armas ao povo. Os trechos a seguir, de Emília Viotti da 
Costa, ilustram seu posicionamento:
“O temor da população culta e ilustrada diante da perspectiva de agitação das massas 
explica porque a idéia de realizar a Independência com o apoio do príncipe pareceria 
tão sedutora: permitiria emancipar a nação do jugo metropolitano sem que para isso 
fosse necessário recorrer à rebelião popular.”
“Revolucionários temiam é que [a doutrina dos direitos do homem e do cidadão] fosse 
compreendida pelas massas.”
11. Emília Viotti da Costa define o liberalismo e o nacionalismo, no Brasil, como limitados. 
Como ela mesmo coloca, o próprio fundamento do liberalismo era incompatível com 
a realidade brasileira. Se as idéias iluministas, na Europa, serviam como base para 
a tomada do poder da aristocracia decadente por uma burguesia ativa, industrial, 
comercial, manufatureira, e pregavam por liberdade e igualdade, no Brasil foram 
utilizadas pelas elites e aristocracia rural não para os mesmos fins sociais, políticos 
e econômicos que na Europa, mas sim para romper com os laços coloniais. “Se se 
continua a falar dos direitos dos homens, de igualdade, terminar-se-á por pronunciar 
a palavra fatal: liberdade, palavra terrível e que tem muito mais força num país de 
escravos”. O liberalismo e o nacionalismo brasileiro tinham, portanto, limites, pois não 
defendiam mudanças estruturais na colônia ou na sociedade; pelo contrário, desejavam 
manter a estrutura escravista latifundiária colonial, livrando-se apenas do intermédio 
metropolitano. Assim, quando essas elites levaram à cabo o processo de emancipação 
política no Brasil, estruturalmente, pouco mudou. Um exemplo disso é a manutenção da 
escravidão negra, que é o que trata o texto de Reis & Silva.
 
12. De acordo com a citação “(...) o que se origina do confronto entre o partido autonomista, 
de um lado, e o imperador e os centralistas locais, de outro, (...) trata-se de um 
confronto entre dois projetos de nação”; com efeito, a discussão que toma conta do 
cenário político brasileiro em 1823 é acerca do modo como todo o arranjo político da 
nação deveria ser organizado. De um lado estavam os autonomistas, que acreditavam 
que o regime monárquico só seria compatível com uma federação se a liberdade 
para administrar seus próprios interesses for garantida às províncias, as quais, nesse 
sentido, devem ser unidades soberanas. Dessa forma, o governo da União, desprovido 
de autonomia frente as partes que o compõe, seria apenas responsável pelas relações 
que unem as províncias “à sociedade”, enquanto que estas teriam completa autonomia 
para gerir seus interesses internos (ao que Coser dá o nome de “administração da 
casa”). Do outro lado, encontravam-se os centralistas locais e o Imperador, os quais 
enfatizavam a incompatibilidade entre regime monárquicoe federação/confederação. 
A maior preocupação dos centralizadores acerca do tipo de arranjo organizacional 
federativo era que, na falta de um poder central legítimo capaz de evitar uma possível 
quebra da unidade nacional, os laços nacionais se tornavam extremamente fracos, 
dificultando a manutenção da independência recém conseguida.
13.O texto apresentado afirma que “(...) o Império do Brasil não brotou das inspirações 
liberais que o período da Independência colocou em circulação, mas nasceu e foi 
acalentado, mais propriamente, sob o signo do mesmo absolutismo ilustrado que forjara 
a ideia de império para conservar o que supunha sempre haver sido” e é essa a 
característica mais marcante de todo o processo da emancipação política: o fato de 
haver sido, na realidade, uma mudança necessária para que a ordem da sociedade se 
mantivesse inalterada. Coadunaram, para que o processo se desse dessa forma, 
diversos fatores criando um complicado jogo de interesses: de um lado os portugueses 
desejosos do fim das liberdades de comércio concedidas após a mudança da Corte 
para o Brasil, e, de outro, os brasilienses (e comerciantes ingleses), que buscavam 
exatamente a manutenção dessas liberdades e autonomia alcançadas, sem, porém, 
alterar a estrutura colonialista de produção. Do lado dos brasilienses, o grupo mais 
hegemônico politicamente (os centralizadores) almejava a formação de uma aliança 
com Portugal, de modo que ambos os territórios fossem independentes politicamente 
(garantindo, portanto, as liberdades comercias e a autonomia adquiridas), mantendo-se, 
porém sob um mesmo soberano (assegurando-se, dessa forma, que a ordem da 
sociedade permanecesse inalterada). Entretanto, do lado dos portugueses, a resolução 
não se apresentava dessa maneira; para eles o importante era que as medidas liberais 
aplicadas pela Corte no Brasil fossem anuladas, de forma a garantir novamente o 
sistema de privilégios e monopólios que os favorecia anteriormente. Diante, porém, da 
impossibilidade de fazê-lo, visto que conforme as concessões eram anuladas, os 
conflitos se acirravam tanto em relação à colônia quanto à Inglaterra (maior beneficiária 
das medidas), e inspirados pela revolução liberal que acabara de figurar na Espanha, 
os portugueses concluem sua única saída seria a sua libertação da Coroa portuguesa 
(vista como a causadora de todos os seus problemas). Fazem, então, a Revolução 
Liberal do Porto, que, apesar de ser inspirada nos princípios liberais no âmbito político, 
tinha por trás de si toda uma intenção antiliberal, no âmbito econômico, que consistia na 
anulação de todas as liberdades e autonomia concedidas ao Brasil, de forma que, 
através do protecionismo sobre a colônia, os comerciantes e produtores portugueses 
pudessem ter novamente uma série de privilégios. Os colonos chegaram a apoiar a 
Revolução do Porto, acreditando que por seu cunho teoricamente liberal, a aliança 
entre ambas as nações, da maneira como se havia pensado, seria possível. No entanto, 
o que se percebeu após a revolução foi uma completa mudança na política econômica 
da Corte, que, defendendo os interesses portugueses, ia anulando todas as medidas 
liberais anteriores, o que fez com que os brasilienses tivessem a percepção da 
impossibilidade da tão desejada aliança. As elites brasileiras não podendo recorrer à 
revolução com ajuda das massas (o que faria com que a massa de escravos 
provavelmente decidisse contestar a sua condição social), volta-se para a ideia de uma 
emancipação política com apoio do Príncipe Regente: dessa forma, conservava-se toda 
a estrutura de produção colonial (baseada na escravidão), ao mesmo tempo em que se 
garantia a manutenção das liberdades comerciais e da autonomia conquistadas. 
Importante lembrar ainda dos interesses ingleses que estavam em jogo durante o 
processo de independência do Brasil, uma vez que os comerciantes ingleses eram 
favoráveis à política econômica liberal que se pretendia implantar no país (pelo “partido 
brasileiro”).
14.A Revolução do Porto, embora considerada uma revolução liberal por marcar a 
ascensão da burguesia portuguesa, teve, para o Brasil, o efeito contrário: serviu como 
radicalização da posição conservadora colonialista portuguesa. Para os portugueses, a 
abertura dos portos e os Tratados de 1810 teriam sido responsáveis pela decadência 
da economia portuguesa; logo, a solução para o problema seria restabelecer o laços 
coloniais antigos. Essa radicalização, no entanto, veio de encontro ao liberalismo e ao 
conjunto de ideias "francesas" que vinham se desenvolvendo no Brasil, especialmente 
pelas elites - com as limitações evidenciadas por Emília Viotti da Costa -, isto é, ao 
interesse brasileiro de romper com os sistema colonial e o entreposto metropolitano. 
Evidenciados, a partir de então, os pontos de vista lusitano e brasileiro e se tornando 
explícita a incompatibilidade deles, as ações confluíram para o movimento da 
independência total do Brasil perante Portugal.
15.Paula Beiguelman está discutindo, em sua frase, como o Brasil já estaria isento da 
dependência do tráfico e, logo, o processo diplomático inglês teria sido apenas o 
quadro político que trouxe essa realidade estrutural à tona. Por sua vez, Caio Prado 
desenvolve a idéia de que a pressão inglesa foi determinante para que o Brasil cedesse 
no mérito da abolição do tráfico negreiro, muito embora ele mesmo reconheça fatores 
internos que tenham ajudado, como a eliminação das "bases morais" que fundavam o 
escravismo, criando um sentimento anti-escravista após a independência.
16. Pode-se contrapor, na historiografia brasileira, algumas visões distintas sobre a extinção 
do tráfico negreiro. Em primeiro lugar, pode-se situar a discussão da razão pela qual 
a Inglaterra, a partir de 1807, passa a investir contra a escravidão. Alguns autores, 
como Caio Prado Jr. e Fernando Novais, vão discutir como a escravidão teria se 
tornado incompatível com o capitalismo industrial; na questão prática, o escravismo 
seria o impedimento da existência de um mercado consumidor para os industrializados 
ingleses. Já uma outra linha, como de Paula Beiguelman, desenvolve a ideia de que a 
escravidão seria indiferente ao capitalismo, e que a campanha anti-escravista inglesa 
seria resultado de uma tentativa britânica de enfraquecer os grandes produtores 
de açúcar, buscando a adoção mundial do livre-cambismo, fundamental para que a 
Inglaterra dominasse o mercado mundial de açúcar; Beiguelman critica, também, a 
questão prática do escravismo como restrição de mercado, já que, segunda ela, o 
trabalho livre que substitui a escravidão também não remunera suficientemente de 
modo a criar um mercado consmidor. Importante pontuar as visões de Beiguelman e 
Caio Prado, no sentido de que a primeiro defende que a abolição do tráfico foi graças 
à indiferença interna dos setores mais influentes da sociedade, enquanto o segundo 
coloca que a abolição se deu majoritariamente devido às pressões inglesas. Lembrar 
também que Caio Prado não chega a discutir os motivos da mudança de opinião inglesa 
acerca da escravidão.
17.Novais e Beiguelman divergem quanto ao papel do regime escravista de trabalho no 
capitalismo industrial. Ambos concordam que, inicialmente, a escravidão é fundamental 
para a acumulação capitalista. No entanto, Novais discute que o desenvolvimento 
da produção industrial tornou incompatível o estágio industrial capitalista e a 
escravidão, visto que ela reprimia a existência de um mercado consumidor. Por sua 
vez, Beiguelman rebate o argumento, dizendo que, a partir do momento em que o 
escravismo não é mais pivô da acumulação capitalista, esta passa a ser indiferente 
àquele. Tanto que o fim do escravismo, à exceção da economia cafeeira, acarretou na 
adoção do trabalho "formalmente" livre, mas de capacidade aquisitiva baixa o suficiente 
para continuar não formando mercadoconsumidor relevante. Diante da possibilidade 
de comercialização mundial do açúcar, a verdadeira campanha inglesa, continua 
Beiguelman, é a favor do livre-cambismo; assim, a postura anti-escravista seria apenas 
recurso para enfraquecer a resistência posta pelos poderosos plantadores antilhanos 
ao livre-cambismo. Beiguelman é contra portanto uma incompatibilidade a priori entre 
escravismo e capitalismo, ela defende uma análise caso-a-caso do assunto para 
compreender os motivos das abolições em cada localidade.
18.Beiguelman critica a linha de Caio Prado Jr. no que diz respeito à pressão inglesa 
como fator determinante para a extinção do tráfico no Brasil. Para ela, ao efetivar-se a 
proibição do tráfico no Brasil em 1850, este já não era mais necessário ao crescimento 
da economia. Isto porque o Nordeste açucareiro, já em fase madura, estaria visando já 
a especulação de escravos e não mais o atendimento de suas capacidades produtivas; 
por suas vezes, o Centro Sul em expansão podia adquirir escravos da reserva existente 
na agropecuária decadente do Norte, isto é, alimentando o tráfico interprovincial. Assim, 
a pressão inglesa teria sido relevante apenas no que diz respeito ao encaminhamento 
político da extinção do tráfico - que, estruturalmente, já estava resolvida. Na época 
da Regência, a lei impossibilitava que a questão se resolvesse sem ir à Assembléia 
Geral - a qual, dominada pelas elites latifundiárias, não aprovaria qualquer tentativa 
de restrição ao tráfico negreiro. Já na época do Segundo Reinado, embora a questão 
pudesse se resolver apenas pelo Executivo, os partidos liberal e conservador, que 
se sucediam no poder, competindo pela identificação com a sociedade agrária, 
garantiram a persistência do tráfico. Expirado o tratado de 1826, a Inglaterra promulga 
a lei Aberdeen, que tornará as relações com o Brasil especialmente tensas. Nesse 
contexto, o governo Liberal muda sua orientação; substituído, logo em seguida, pelos 
Conservadores, que buscam competir no mesmo plano, aprovam a lei de 1850 e, de 
fato, extinguem o tráfico do Brasil.
19.Caio Prado Jr., sobre o papel dos escravos, pobres e africanos livres no processo 
de extinção do tráfico, escreve que, realmente, não se o pode negligenciar, mas no 
que se refere não à extinção do tráfico em si, e sim na colocação da problemática da 
escravidão para a sociedade de então. Para ele, a simples existência dos escravos no 
Brasil já foram suficientes para levantar as discussões e eliminar a base moral. Mesmo 
assim, a passividade do escravo - que se dava, segundo ele, pela grande rotatividade 
do tráfico, o que impedia aculturação, ambientação e, logo, engajamento - teria sido um 
fator responsável pela persistência da escravidão africana no Brasil - além de, claro, ser 
a mão de obra básica, a "mola mestra da vida no País". 
( Capítulo 15 História Econômica Geral páginas 142 e 143)
20.O texto de Chalhoub define alguns elementos relativos à Lei do Ventre Livre. Em 
primeiro lugar, ele discute a Lei dos Nascituros como uma conquista dos escravos e 
ex-escravos, o que vai contra as interpretações de Caio Prado Jr. e Paula Beiguelman, 
que embora tenham visões distintas sobre certos aspectos da situação, concordam que 
a criação da Lei foi um processo causado diretamente pela Coroa. Caio Prado Jr., por 
exemplo, vai destacar a vaidade imperial como fator determinante para a aprovação da 
Lei, afirmando que o Imperador sentiu-se fortemente influenciado por carta enviada da 
Junta Francesa de Emancipação por intelectuais franceses - o que mostra, também, a 
pressão da comunidade internacional em relação à questão. José Murillo de Carvalho, 
por sua vez, dá ênfase ao encontro de D. Pedro II com seus aliados na Guerra do 
Paraguai, onde teria percebido que a escravidão seria motivo de fraqueza e chacota; 
vale ressalvar, no entanto, que Carvalho reconhece que não é de se desprezar 
a influência que as movimentações de escravos tiveram na promulgação da Lei - 
embora admita que não foram determinantes. Em segundo lugar, ele põe em debate 
a questão da Lei de 1871 ser "um projeto de transição para o trabalho livre", o que 
pode ser refutado pelos autores em questão; afinal, se a Lei de 1871 fosse um projeto 
de transição para o trabalho livre, deveria ter participação efetiva do grupo cafeeiro, 
embora esteja claro que o processo foi fundamentalmente levado à cabo pela Coroa. 
Em terceiro lugar, Chalhoub afirma que a Lei dos Nascituros teve grande importância 
para a abolição; pode-se dizer que Paula Beiguelman corrobora essa visão quando ela 
destaca que, embora no longo prazo, a Lei de 1871 abala as bases da escravidão. Caio 
Prado Jr., por sua vez, discordaria da visão de Chalhoub, visto que, para ele, a Lei de 
1871 prorrogaria por cinco ou seis décadas, ainda, a escravidão, e portanto teria sido 
apenas uma manobra diversionista, para amenizar as pressões emancipacionistas.
21. Trecho mencionado não está contido na bibliografia obrigatória
22.a) A questão da crise da mão de obra do período pós-extinção do tráfico negreiro no 
Brasil é colocada de maneira extremamente simplista no enunciado, isto é, define o 
problema da mão de obra como um simples problema de indisposição ao trabalho, e 
não explora o problema fundamental da mão de obra no período, que é o da oferta. 
Furtado discute como, na questão brasileira, as terras eram abundantes o suficiente 
para que o problema da expansão econômica se resolvesse apenas com a expansão 
da mão de obra. Considerando o problema da oferta, podemos pensar no fato de que a 
população “livre” que poderia ser recrutada (da pecuária ou os roceiros) extremamente 
dispersa pelo território do país e para recrutá-la seria essencial o apoio dos proprietários 
com os quais essas populações mantinham relações. Como esse proprietário não 
estava interessado no fim de toda uma “organização social” que estava constituida em 
torno dessa relação, o recrutamento de populações nacionais era extremente difícil.
b) A lavoura cafeeira resolve seu problema de abastecimento de mão de obra por 
meio da imigração européia, embora em moldes peculiares. Diversas tentativas de 
importação de mão de obra européia foram feitas durante o século XIX, como, por 
exemplo, a primeira grande leva nos anos 40 - que, no entanto, gerou resultados 
negativos pois, ao vir para o Brasil, o imigrante deveria pagar pelos gastos de sua vinda 
com trabalho, o que os deixava em uma situação de "escravidão disfarçada"; algumas 
nações, como a alemã, chegaram a proibir a vinda de imigrantes ao Brasil - mas apenas 
em 1870, quando o governo imperial passou a subsidiar a passagem dos imigrantes 
e o fazendeiro passou a custear suas instalações, sustentou-se um fluxo migratório 
de trabalhadores europeus para as lavouras cafeeiras. Isso porque, eliminando os 
custos de transporte e instalação aos imigrantes, possibilitava ao trabalhador se ater 
à produção que lhe aprouvesse. Vale ressaltar, complementa Furtado, que esse fluxo 
migratório não seria tão grande assim, não fossem as condições de miséria em que 
se encontravam os italianos do sul, que constituíram parte majoritária dos imigrados. 
A crise só é definitivamente superado com o desuso do “sistema de parceria” e 
popularização do trabalho (ao menos parcialmente) assalariado.
23.A essência do trecho mencionado refere-se à profunda influência dos produtores 
cafeeiros em outros ramos da atividade econômica da época, como bem descreve 
Sergio Silva: “(...) a economia e o capital cafeeiros ultrapassam largamente as 
plantações. (...) Encontramos, muitas vezes, os mesmos homens que estão à frente 
de empresas que desempenham as funções mais diversas. Eles estão também - é 
importante destacá-lo - à frente do aparelho de Estado, seja ao nível regional (SP), seja 
ao nível federal. (...) O capital cafeeiro tinha portanto diversos aspectos; ele apresenta 
ao mesmotempo as caracterísiticas do capital agrário, do capital industrial, do capital 
bancário e do capital comercial. (...) Não havia uma burguesia agrária cafeeira, uma 
burguesia comercial, etc., mas uma burguesia cafeeira exercendo múltiplas funções.” 
Sobre a questão, o mesmo autor ainda assinala a predominância do capital comercial 
na articulação das diversas funções econômicas exercidas por essa elite, sobressaindo-
se inclusive em relação ao capital agrário: “ele [capital comercial] domina diretamente a 
produção e a submete às suas exigências. Em outros termos, a acumulação capitalista 
realiza-se sobretudo ao nível do comércio, o que acarreta um desenvolvimento mais 
lento das forças produtivas.” Dessa forma, é notável que os produtores cafeeiros de 
maior relevância eram atores econômicos multifacetados e de importância ímpar para 
a compreensão da política regional e nacional do período. É nesse sentido que Furtado 
afirma: “A etapa de gestação da economia cafeeira é também a de formação de uma 
nova classe empresarial que desempenhará papel fundamental no desenvolvimento 
subsequente do país.” No âmbito econômico, é o mesmo autor que fornece um dado 
indiscutível quanto a importância do café para o país: “Todo o aumento que se constata 
no valor das exportações brasileiras, no correr da primeira metade do século XIX, deve-
se estritamente à contribuição do café.” Em relação à importância política, Furtado 
apresenta outra importante síntese: “Desde cedo eles [dirigente da economia cafeeira] 
compreenderam a enorme importância que podia ter o governo como instrumento de 
ação econômica. Essa tendência à subordinação do instrumento político aos interesses 
de um grupo econômico alcançará sua plenitude com a conquista da autonomia 
estadual, ao proclamar-se a República. (...) É por essa consiência clara de seus 
próprios interesses que eles se diferenciam de outros grupos dominantes anteriores 
ou contemporâneos.” Assim, torna-se evidente que por meio da relevância econômica, 
a o “complexo cafeeiro” torna-se capaz de moldar a política e o desenvolvimento do 
país nas décadas de sua maior importância, através da penetração nas mais diversas 
atividades econômicas emergentes no Brasil, dos bancos até as ferrovias.
24. A essência da primeira parte do trecho mencionado refere-se à profunda influência dos 
dirigentes da economia cafeeira em outros ramos da atividade econômica da época, 
desde as ferrovias até o setor bancário, o que demonstra o alcance de sua influência, 
tanto econômica quanto politicamente, e seu papel fundamental no desenvolvimento de 
setores emergentes no contexto histórico em questão. É notável também que o mesmo 
autor assinala, em outro trecho, a predominância do capital comercial na articulação 
das diversas funções econômicas exercidas por essa elite, sobressaindo-se inclusive 
em relação ao capital agrário: “ele [capital comercial] domina diretamente a produção 
e a submete às suas exigências. Em outros termos, a acumulação capitalista realiza-
se sobretudo ao nível do comércio, o que acarreta um desenvolvimento mais lento das 
forças produtivas.” Assim, compreende-se a divisão em duas camadas que Sergio Silva 
adota: os produtores mais poderosos dominam as mais diversas esferas econômicas, 
ultrapassando largamente o âmbito das plantações, enquanto a burguesia meramente 
agrária acaba por ser dominada pelos interesses do capital comercial relacionado ao 
café. É nesse sentido que essa camada inferior seria, segundo ele, “uma simples classe 
de proprietários de terra.”
25.Como é sabido, o café no Brasil do século XIX é basicamente um produto voltado à 
exportação. Assim sendo, cabe considerar a análise de Furtado sobre o fluxo de renda 
desse setor no período, tendo como base o impulso inicial gerado por uma elevação no 
preço do café no cenário internacional. Em primeiro lugar, cabe lembrar que em uma 
economia cuja mão-de-obra é predominantemente o trabalho assalariado, como a 
cafeeira, existe um multiplicador monetário - teorizado por Keynes - atuando quando 
ocorre um aumento no impulso externo. Como explica o autor, os lucros dos produtores 
de café resultantes desse impulso são revertidos expandindo as plantações: dada a 
relativa elasticidade da mão-de-obra (devido aos deslocamentos internos e à imigração) 
e a abundância de terras, essa expansão pode continuar indefinidamente. Como o 
salário real da região cafeeira era superior ao praticado nas demais regiões, o fluxo de 
mão-de-obra ocorria de forma natural. Assim, ocorria uma elevação na renda da 
economia por meio do aumento do consumo - destino da quase totalidade da 
remuneração dos trabalhadores. Assim, compreende-se que o fluxo de renda ocorria de 
forma diversa ao observado em economias de exportação puramente escravistas, dado 
que o escravo não consiste em um agente econômico cujo consumo individual se 
comporta de forma a ativar o multiplicador monetário de Keynes, de forma que o 
aumento da renda gerado pelo aumento das exportações não era distribuído pela 
economia como um todo. No entanto, consequências negativas dessa nova 
organização econômica são rapidamente verificadas, dado o contexto internacional da 
época. O padrão-ouro, vigente no período, se baseava nas características de 
economias com graus de desenvolvimento similares, estruturas de produção parecidas 
e coeficientes de importação baixos. Em uma economia exportadora de produtos 
primários e importadora de produtos manufaturados, como o Brasil, uma queda no 
preço do café reduzia as exportações e também - via diminuição da renda - a demanda 
por importações, o que teoricamente manteria estável o equilíbrio na balança de 
pagamentos. No entanto, a redução na demanda por importações ocorria com atraso, 
graças ao efeito multiplicador ainda em processo do período pré-queda nos preços do 
café. Essa etapa intermediária gerava uma desequilíbrio na BP que exigiria mobilizar 
reservas monetárias. Furtado então assinala: “estas [reservas], entretando, teriam de 
ser de grandes proporções para que funcionasse o mecanismo do padrão-ouro, não 
somente porque a participação das importações no dispêndio total da coletividade era 
muito elevada, e as flutuações na capacidade para importar, muito grandes, mas 
também porque numa economia desse tipo a conta de capital da balança de 
pagamentos se comportava adversamente nas etapas de depressão.” Assim, ocorre um 
desequilíbrio na balança de pagamentos que não pode ser ajustado pelos mecanismos 
previstos pelo padrão-ouro; a redução das exportações, tardiamente acompanhada da 
redução nas importações, gera inevitavelmente uma desvalorização cambial, 
contrariando o princípio de câmbio fixo do padrão ouro e comprometendo a 
conversibilidade da moeda nacional.
26.(TODA A RESPOSTA DA QUESTÃO 25, MAIS O TRECHO A SEGUIR): Furtado, 
em referência ao estudo econômico em vigor na Europa, menciona sobre o Brasil: “Ali 
onde a realidade se distanciava do mundo ideal da doutrina, supunha-se que tinha 
início a patologia social.” O autor refere-se ao fato de que uma teoria monetária 
baseada no comércio entre países desenvolvidos, com baixo coeficiente de importações 
e estruturas de produção similares, era (sem sucesso) utilizada para explicar os 
fenômenos observados brasileiros, um país de características muito distintas. Assim, ao 
invés de buscar compreender a razões particulares que explicavam o comportamento 
inesperado da moeda brasileira, o mais usual era insistir em “submeter o sistema 
econômico (brasileiro) às regras monetárias que prevaleciam na Europa.”, e por fim 
atribuir o status de “patológico”, não só para a moeda nacional como para os déficits e 
as emissões de papel-moeda.
27. Como afirma E. V. Costa, nas vésperas da proclamação da República, o cenário 
político-econômico brasileiro havia sofrido profundas e importantes transformações. Até 
meados do século XVII,o açúcar era o principal produto de exportação do país, e sua 
produção se concentrava no Nordeste, baseado em latifúndios com mão-de-obra 
escrava. Já no século XIX, o café desponta como produto de exportação essencial, ao 
ponto de Furtado afirmar que “todo o aumento que se constata no valor das 
exportações brasileiras, no correr da primeira metade do século XIX, deve-se 
estritamente à contribuição do café.” Assim, há uma evidente mudança na configuração 
regional do país no que diz respeito à relevância econômica. No Nordeste, a crise do 
açúcar é descrita por E. V. Costa como “empobrecimento das áreas de onde provinham 
tradicionalmente os elementos que manipulavam o poder”, referindo-se à notável 
influência política dos proprietários de engenhos e escravos no período colonial. Com o 
café, a geração de renda se desloca para o Sudeste, com uma estrutura produtiva 
distinta, baseada no inédito trabalho assalariado, sem que o poder político, contudo, 
acompanhe imediatamente a mudança econômica. Nesse sentido, a mesma autora fala 
em “desenvolvimento de outras áreas que não possuíam a devida representação no 
governo”. Com esse contexto, podemos perceber que a proclamação da República se 
deu, entre outros fatores, pela pressão da burguesia cafeeira - cuja participação 
econômica ultrapassada, e muito, o âmbito agrário -, que exigia uma maior 
representação de seus interesses na esfera federal. Assim, a despeito de questões 
conjunturais - questão militar, questão religiosa, influência do Partido Republicano e 
outros aspectos da historiografia tradicional questionados pela autora - estrutura 
republicana foi uma solução natural: a maior autonomia da esfera estadual, base do 
movimento federalista, foi apoiada por muitos cafeicultores do Oeste Paulista, que já 
eram então a classe econômica dominante e, com a República, se tornariam também a 
oliguarquia que influenciaria fortemente as decisões do Estado nas décadas posteriores.
28. Os comentários de Maria Lúcia Neves e Aristides Lobo evidenciam divergências entre 
as participações da população em geral respectivamente na Independência e na 
instituição da República. A independência foi resultado de uma articulação da própria 
elite juntamente com a Coroa emancipando o Brasil da tutela portuguesa, garantindo 
assim os interesses dessa elite, composta pelas camadas senhoriais, que desejava a 
manutenção das liberdades comerciais e autonomia conquistadas com a mudança da 
Corte para o Rio de Janeiro, assegurando também que a estrutura de produção colonial 
fosse mantida inalterada. A instituição da república, ao contrário, foi exatamente 
resultado do crescimento da importância relativa de outras camadas da sociedade que 
não as tradicionais (camadas senhoriais), as quais dominavam politicamente o país, e 
que almejavam ter mais representação política de modo a garantir seus interesses. 
Essas novas camadas eram compostos pelos pioneiros do café – os fazendeiros do 
Oeste Paulista responsáveis pela mecanização da produção cafeeira, bem como pelo 
surgimento dos primeiros bancos e indústrias – e pela classe média urbana. Esta última 
era grandemente representada pelos militares, uma vez que a entrada para exército 
significava um tipo de “ascensão social” para esse grupo urbano. Dessa forma, unindo-
se momentaneamente os interesses destes três grupos principais – militares, classe 
média e proprietários rurais do Oeste Paulista – e contando “indiretamente com o 
desprestígio da Monarquia e o enfraquecimento das oligarquias tradicionais”, o 
movimento republicano foi vitorioso sob o golpe militar de 1889. Observa-se claramente 
que, no segundo momento, houve uma participação maior de camadas que não 
pertenciam à elite brasileira. No entanto, característica marcante de ambos os 
momentos é o fato que as camadas mais pobres não participam diretamente dos 
movimentos: ambos os movimentos são liderados por classes que, cada qual a seu 
momento, possuem grande importância econômica e buscam ser representados 
politicamente, assegurando, dessa forma, seus interesses. Uma evidência dessa 
característica comum aos dois momentos é que, em ambos, o sistema de produção 
(baseado na força escrava e depois no trabalho assalariado, ambos, porém, com 
condições péssimas de vida) e o caráter colonial da economia – dependente dos 
mercados e capitais estrangeiros – são mantidos.

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