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Questões de HEG
Lista 01
01. Comparar servidão medieval, escravidão da antiguidade e trabalho assalariado.
A definição de servidão utilizada por Dobb é a de um sistema em que sempre há uma obrigação imposta ao produtor pela força, independente da sua vontade, para satisfazer exigências econômicas de um senhor. Essas exigências podem assumir diferentes formas: trabalho (serviços), taxas em dinheiro ou espécie. A força coercitiva do senhor pode ser militar, a força do costume (apoiada por algum procedimento jurídico) ou a força da lei. O contraste com a escravidão se dá pelos motivos de que na servidão o produtor direto tem a posse dos meios de produção, das condições materiais de trabalho necessárias ao seu trabalho e a produção de seus meios de subsistência (Marx). Ele empreende agricultura e indústrias domiciliares rurais como um produtor independente, em oposição ao escravo, que trabalha com condições de trabalho (meios de produção) pertencentes a outra pessoa (o seu proprietário). O servo não é livre e há uma relação direta entre senhores e servos. A relação de servidão vai desde o trabalho forçado até uma simples relação tributária. Já no trabalho assalariado (característico do capitalismo), assim como na escravidão, o produtor não é independente, ele não possui os meios de produção e não pode prover a sua própria subsistência. Em contraste com a escravidão, a relação entre o assalariado e o proprietário dos meios de produção que o emprega é puramente contratual (não a relação de propriedade), sendo ele livre perante a lei tanto para escolher como para trocar de patrão, não tendo nenhuma obrigação (contraste com a servidão), a não ser a imposta por um contrato de serviço. A servidão feudal tem sido ainda associada a um baixo nível de técnica, com instrumentos de produção simples e baratos, sendo o ato da produção de caráter individual. A divisão do trabalho possui nível primitivo de desenvolvimento.
02. O que permite a Domar afirmar que a abundância de terra não é necessária nem suficiente para explicar a servidão.
Em seu texto “The causes of slavery or serfdom: a hypothesis”, Domar faz um faz um raciocínio lógico analisando três fatores: terra livre, camponês livre e proprietários de terra não-trabalhadores (que vivem de renda). Em um cenário com os dois primeiros não existe renda de propriedade e, portanto, não existe o proprietário não-trabalhador.
Se a terra passa a não ser livre (por influência do governo, por exemplo), a renda dos proprietários tende a ir para zero, pois os camponeses sempre buscarão as propriedades com menor renda e maior salário (tudo aquilo que não é classificado como renda de propriedade). A competição pela mão de obra (que tende a se tornar escassa pela movimentação dos camponeses livres) faz com que seja necessário um agente exógeno para garantir essa renda: o governo. Este governo (seja ele qualquer forma de governo) é uma variável política (não econômica) que cria um vínculo entre o camponês e a terra, obrigando este a trabalhar e gerar renda para os proprietários não-trabalhadores. Um exemplo histórico da existência de terras livres e ausência de servidão foi a expansão para o oeste norte americano.
03. Faça uma distinção entre as coisas mudarem de mãos e a troca.
A mudança de mãos das coisas, em uma perspectiva histórica, deu-se de diferentes maneiras. Na escravidão e na servidão, o processo de mudança de mãos é um desdobramento das relações entre senhor (superior) e produtor (subordinado). No caso da escravidão, a mudança de mãos ocorre pela relação de propriedade, sendo o senhor proprietário do escravo e daquilo que ele produzir. Na servidão medieval europeia, em que o servo era preso a terra e não ao senhor, a mudança de mãos ocorria devido a uma relação de obrigação, força e obediência. Já no Capitalismo, o que ocorre é uma mudança com aspectos de indiferença e igualdade, com um relação impessoal entre os atores, o que pode ser caracterizado como uma mudança de mãos por meio da troca.
04. Como o desenvolvimento da troca ocorre? Por que ela acaba na criação do dinheiro?
A troca é uma forma particular de mudança de mãos das coisas. Durante muito tempo, até o século fim do século XV, a mudança de mãos não era predominantemente realizada de uma maneira impessoal e indiferente, em situação de igualdade. Com o forte crescimento da divisão do trabalho possibilitada pelo novo modo de produção ligado ao capital (e que futuramente se desenvolveria no capitalismo), a troca foi (com as características antes estranhas a mudança de mãos) foi se desenvolvendo. Ao mesmo tempo em que as pessoas são dependentes uma das outras pela especialização (consequência da divisão social do trabalho) elas são indiferentes, pois tanto faz para A trocar com B ou trocar com C. Isso só pode ser sintetizado por meio do dinheiro, pois ele traduz a indiferença, dando liberdade e independência, e complementando, segue o pensamento de Marx sobre esse assunto: “o dinheiro é o desenvolvimento final de uma economia de mercado”.
05. Dobb: crítica ao critério do capitalismo como economia monetária enquanto critério de periodização histórica.
Dobb acredita que a melhor categoria para periodizar a História Econômica seja o modo de produção, pois ele é capaz de dizer muito mais sobre a organização das forças produtivas e das relações sociais desenvolvidas na sociedade. O critério de economia monetária é fraco, pois o uso lucrativo do dinheiro não é uma exclusividade moderna, sendo possível compreender que as transações monetárias eram muito comuns nos tempos medievais. Por essa categoria, não seria possível encontrar um período aproximado para o início do capitalismo e fim do feudalismo. Outros exemplos históricos são a compra de escravos, na antiguidade, utilizando-se dinheiro e ainda a presença de agiotas (utilizando capital usurário) na mundo clássico. Considerando-se como capitalistas as economias monetárias, a periodização histórica se tornaria um tanto quanto difícil.
06. Por que chamar o capital comercial (D-M-D) e o capital a juros (D-D’) de formas “antediluvianas” de existência do capital?
Estas duas formas de existência do capital, muitas vezes utilizadas equivocadamente para marcar o início do capitalismo, não são exclusivas deste sistema econômico, pois desde os Sumérios (considerada por muitos como a mais antiga civilização da humanidade – quarto milênio a.C.) há evidências da realização de comércio e o capital usurário sempre esteve presente nas transações humanas, sendo os dois, portanto, formas “antediluvianas” de existência do capital. E ainda mais, utilizando o critério de periodização adotado por Dobb, elas são insuficientes para determinar uma periodização segura, pois elas nada dizem sobre o modo de produção, i.e., não é possível saber o que será feito com o capital emprestado e nem como foram produzidos os produtos comercializados (o comércio não controla os seus extremos, nem o lado do produtor e nem o lado do comprador).
07. Dobb: crítica à teoria que explica o fim da servidão medieval pela expansão comercial. A crítica tem uma dimensão teórica e outra histórica.
A dimensão histórica é dada por exemplos que contradizem a afirmação de que a expansão comercial seria a responsável pelo o fim da servidão. O primeiro exemplo (e mais importante) foi a intensificação da servidão a leste do rio Elba, das terras alemãs ao leste europeu, o que Engels chamou de a segunda servidão. Os motivos dessa intensificação foi justamente o aumento e a expansão do comércio, da produção para um mercado. Os exemplos mais fortes são o da Polônia, os Estados bálticos e na Boêmia (século XV), Ucrânia (século XVI) e na Rússia (século XVIII), onde as oportunidades crescentes para exportação de cereais levaram não à abolição, mas ao aumento ou renascimento das obrigações servis impostas ao campesinato. O segundo exemplo é a constatação de que foi no sudeste da Inglaterra que uma maior proporção na prestação de serviços em troca de dinheiro foi registrada no século XVI, distantedos condados mais próximos do mercado londrino (onde era de se esperar que houvesse um maior registro de transações envolvendo dinheiro, que era tido como o “solvente da ordem servil feudal”). Em terceiro, não há evidência de que o início da transformação na Inglaterra se ligasse ao crescimento da produção para o mercado. Existiu um movimento bem considerável no sentido da comutação no século XII, sucedido no século XIII por uma reação no sentido de um aumento das prestações de serviço (servis!) e uma intensificação da pressão sobre o campesinato. Entretanto, o crescimento do comércio e dos mercados urbanos foi uma característica do século XIII, quando a reação feudal estava ocorrendo, e não do século XII, quando se encontra a tendência a comutação. Estas são evidências históricas e indiscutíveis.
A dimensão teórica é dada pelo raciocínio de que, podendo o servo pagar o senhor de diferentes maneiras: pelo trabalho (nas terras do senhor), em espécie (produtos) ou em dinheiro, é possível que o servo antes de pagar o senhor realize comércio (trocando produtos agrícolas por dinheiro ou vice-versa), assim como o senhor também poderia realizar estas trocas (recendo em espécie e trocando por outros produtos ou dinheiro). Isso poderia ocorrer sem implicar na destruição da destruição da estrutura econômica vigente: o feudalismo. O modo de produção continuava o mesmo, podendo coexistir com o comércio. Ou seja, o comércio e o uso do dinheiro não implica na dissolução das obrigações servis.
08. Dobb: como explicar o fim do feudalismo entendido como servidão?
O fim do feudalismo pode ser tratado como o resultado de uma interação complexa entre o impacto externo do mercado e as relações internas do sistema, sendo estas últimas as mais decisivas. Dois aspectos foram fundamentais para o declínio do feudalismo: a ineficiência deste como um sistema de produção e as necessidades crescentes de renda por parte da classe dominante. As necessidades da classe dominante feudal, no sentido de uma renda crescente, exigiam uma pressão maior e novas imposições aos produtores. Havia uma tendência para o subenfeudamento (multiplicação do número de vassalos), a fim de fortalecer o poderio militar dos senhores maiores e decorrentes da subdivisão do feudo entre filhos. Outros fatos como as cruzadas, disputas entre nobres (por servos e a Guerra das duas Rosas, por exemplo) e a possibilidade de produzir um excedente para o mercado (com o comércio), contribuíram para a intensificação da pressão sobre o campesinato. Sendo o tempo de trabalho excedente da classe servil a fonte pela qual a classe dominante feudal extraía sua renda e devido ao estado baixo e estacionário da produtividade do trabalho nessa época, pouca margem restava para que esse produto excedente pudesse ser aumentado. Qualquer tentativa de aumentar o excedente seria às custas do tempo dedicado pelo produtor ao cultivo de sua própria e modesta terra, sobrecarregando-o ou reduzindo sua subsistência abaixo do nível de uma simples existência animal. Isso ocorria porque a divisão do trabalho era atrofiada e a capacidade de ampliar a produção limitada, e ainda, os servos não tinham nenhum incentivo para aumentar a produtividade, pois entregavam o excedente para o senhor.
Este cenário culminou em movimentos de emigrações ilegais das propriedades senhoriais, contribuindo para o aumento da população das cidades e desenvolvimento e (principalmente no continente) predomínio de vagabundagem e as jacqueries periódicas. Essas raízes econômicas levaram a crise feudal do século XIV, intensificada pela peste (que de certa forma foi fruto do estado de subnutrição que se encontrava os servos em máxima exploração). Os resultados foram o arrendamento das propriedades como um fruto desta crise, de modo a impedir que o despovoamento do campo culminasse em uma escassez completa de mão de obra no campo. Até mesmo o desenvolvimento de uma tendência a trocar serviços de corvées na propriedade senhorial por pagamentos em espécie ou dinheiro foi insuficiente para impedir o despovoamento. O ápice destas relações foram o afrouxamento das relações servis até o ponto em que elas deixaram de existir.
9. Dobb e Mantoux: quais as alternativas históricas a partir do fim do feudalismo?
Dobb observa que uma das muitas características que marcam o fim do feudalismo é o aumento de demanda e consequente necessidade de aumento na produção. Uma das maneiras de se atender a essa necessidade foi um “reforço na servidão”, a chamada “segunda servidão”, observada nos países a leste do rio Elba no fim do século XV. Outra alternativa seria o modo de produção capitalista, onde o trabalhador é “divorciado” de seus meios de produção em favor de um proprietário, que comanda a produção, visando aumentá-la e torna-la cada vez mais eficiente, com o objetivo final de aumentar seus lucros.
10. Mantoux e Marx: comparar a indústria doméstica rural, o artesanato corporativo e a manufatura das perspectivas: propriedade dos meios de produção, divisão técnica do trabalho e divisão social do trabalho.
Propriedade dos meios de produção
Indústria doméstica rural: a indústria está nas mãos de uma multidão de mestres manufatureiros e cada um deles possui um capital muito pequeno. Cada camponês possuía em sua casa as ferramentas necessárias para o trabalho da lã, como o tear, a roca e o fuso. Eles compravam a lã dos mercadores e a trabalhavam em suas próprias casas, i.e., possuíam também a matéria-prima. Havia ainda os moinhos públicos, que todos podiam utilizar mediante pagamento.
Artesanato corporativo: o mestre tem a posse das condições de produção, das ferramentas e do material de trabalho, o produto lhe pertence.
Manufatura: os meios de produção eram de propriedade de apenas uma pessoa, o dono da manufatura. Este possuía desde todas as ferramentas necessárias até a matéria prima, sendo portanto, dono do produto final.
Divisão social do trabalho – Quem faz o que?
Indústria doméstica rural: a divisão se dá entre campo e cidade, com o primeiro dependendo do segundo para o fornecimento dos meios de produção, por exemplo, um camponês precisa ir à cidade para comprar o tear para a sua produção doméstica. Nas pequenas indústrias com operários, estes não eram vistos como pertence a uma classe diferente do proprietário das ferramentas.
Artesanato corporativo: o mestre não escolhe o que produzir, pois ele faz parte da organização política das cidades medievais (até o séc. XIV) ou do rei/parlamento séculos seguintes, até séc. XVIII, com as calicoes printing.
Manufatura: por meio do mercado interno, cada manufatura se especializa em um tipo de produto, por exemplo: tecidos de lã, alfinetes. Estas são, ainda, dependentes das produções agrícolas e pecuárias realizadas pelo modo de produção capitalista: grandes propriedades com um único dono, empregando mão de obra assalariada: produção de trigo e lã (criação de ovelhas). 
Divisão técnica do trabalho – Como o processo de produção é dividido
Indústria doméstica rural: assim como os instrumentos, a divisão do trabalho era simples, ainda nos moldes medievais. Se a família do tecelão era bem grande, bastava para tudo e se distribuía entre seus membros as operações secundárias: a mulher e as meninas na roca, os meninos cardando a lã, enquanto os homens trabalhavam na lançadeira. Sendo esta estrutura rara, a mais comum era de especializações por residências, sendo feita em um domicílio uma determinada etapa do processo. E ainda, em certas indústrias com maior número de ferramentas haviam alguns operários.
Artesanato corporativo: praticamente inexistente, não havendo especialização, com cada artesão realizando todas as etapas do trabalho.
Manufatura: nível de divisão técnica muito maior que o da Indústria doméstica rural e da corporação. O exemplo clássico é da manufatura do Jack de Newbury, em que muitos trabalhadores dividem as atividades: separar, cortar, fiar, tecer e dar o acabamento. Há uma grande especialização do trabalhador na sua atividade determinada e específica.Indústria doméstica rural def.: a indústria está nas mãos de uma multidão de mestres manufatureiros, e cada um deles possui um capital muito pequeno. Eles comprar a lã do mercador e, em suas próprias casas, ajudados por usas mulheres, seus filhos e alguns operários, eles a tingem se necessário e fazem-na passar pelos diferentes estágios de fabricação, até o tecido não-acabado. Era a indústria medieval, que permaneceria quase intacta até o limiar do século XIX.
10. 1
Indústria doméstica rural: os meios de produção pertenciam de fato ao produtor, de forma que este tinha total controle sobre a operação que conduzia. A divisão técnica era muito primária e às vezes inexistente. Quando existia, o produtor dividia as tarefas entre sua família e às vezes a alguns poucos empregados. Em termos de divisão social do trabalho, o produtor dependia das cidades para adquirir seus meios de produção, e delas dependia para vender seus produtos.
Artesanato corporativo: os meios de produção pertenciam ao mestre, que também are um artesão e trabalhava junto de seus “aprendizes”, aos quais pagava salários. Entretanto, a divisão técnica do trabalho era também muito primitiva ou inexistente. Se existisse, se aplicaria aos aprendizes mais novos, que não conheciam ainda todas as etapas da produção. Em termos de divisão social do trabalho, o mestre não escolhia o que produzia, o que é uma grande diferença em relação aos capitalistas. Ele era “capitalista [no sentido de que comandava a produção] porque era mestre” e não o contrário, como viria a ocorrer nas...
Manufaturas: nelas, os meios de produção estavam dissociados dos produtores, fazendo com que eles só pudessem vender sua força de trabalho. A divisão técnica do trabalho se encontra em grau avançado nesse sistema produtivo, pois, como já definiu Adam Smith ao falar de uma fábrica de alfinetes, quando cada homem é especializado em determinada tarefa, a produção final do bem se torna mais rápida e eficiente. No plano da divisão social do trabalho, a manufatura dependia da produção dos pequenos e médios proprietários de terra (num primeiro momento) e da produção em cercamentos para obter sua matéria-prima. No caso da manufatura de lã, seu mercado era exclusivamente o de toda a Inglaterra.
11. Aula e Mantoux: quais dois indícios de que a produção capitalista já existia na Inglaterra no século XVII?
1º Manufaturas: Até mesmo no século XVI, já havia alguns ricos mercadores manufatureiros que desenvolviam uma atividade manufatureira nos moldes capitalistas, que extrapolaram o trabalho de compra e venda, montando oficinas que dirigiam pessoalmente, nos condados do norte e do oeste. Dentre eles, o mais notável foi o fabricante de tecidos de lã conhecido como Jack de Newbury. Ele devia sua fortuna à atividade de suas grandes oficinas, em que um pessoal numeroso cardava, fiava e tecia a lã, com uma alta divisão técnica do trabalho.
2º Lei dos Pobres: O outro indício é a Lei dos pobres (iniciada por Henrique VII), que tinha como objetivo devolver os pobres para suas paróquias de origem, ou seja, para o lugar onde empobreceram, sendo a única opção para estes aceitar trabalhar em troca de baixos salários. Esta lei era uma demonstração do efeito do processo de cercamento iniciado no século XVI, que consistia em desapropriar pela violência os pequenos proprietários, com o objetivo da criação de uma grande propriedade com um único dono. Esta por sua vez, era o tipo de propriedade característica do nascente modo de produção capitalista do campo, ou para produzir tecidos ou em forma de fazendas. A Lei dos pobres era uma clara evidência da reorganização do mercado de trabalho segundo as novas demandas de mão de obra.
11. 1	Os cercamentos que se iniciaram no século XVI, onde camponeses trabalhavam nas terras e com as ferramentas do proprietário em troca de salários, e a existência de indústrias no sistema manufatureiro, como a de John Witchcombe que promoviam o trabalho de operários dissociados de seus meios de produção.
12. Mantoux: explique o desenvolvimento da “antiga indústria” como parte do “mercantilismo inglês”. O que foi este?
A indústria de lã foi, na Inglaterra, o tipo mais característico e mais completo da antiga indústria. Uma longa série de leis e regulamentos tinha por fim protegê-la e garantir a excelência de seus produtos e a elevada taxa de seus lucros. Ela estava espalhada por toda a superfície da Inglaterra. As características da antiga indústria era a produção em domicílio, realizada sob a encomenda de um mercador manufatureiro. Este possuía muitas vezes, além da matéria prima, também os instrumentos de produção, demonstrando a transformação do capital comercial em capital industrial. Essa indústria é uma intermediária entre a indústria doméstica e a manufatura (estas eram até o século XVIII denunciadas como uma inovação perigosa). O processo de desenvolvimento gradual da antiga indústria só se tornou possível por um conjunto de medidas protecionistas, enquadradas dentro do sistema mercantilista, desde o século dos Tudors (século XVI), com destaque para o tratado de Mathuen, que era um conjunto de regulações relativas ao comércio. Sendo confundida a riqueza com numerário, toda a política comercial se reduzia a dois preceitos: vender sempre e nunca comprar; diminuir ao máximo possível o total das importações. O objetivo deste protecionismo era fomentar as indústrias nacionais e reservar-lhes um monopólio dentro e fora do país. A indústria de lã era protegida e regulamentada, com atas do Parlamento que descrevia e regulava como todo processo produtivo deveria ocorrer. Em contrapartida, o progresso técnico se tornara quase impossível. Dentre as decisões do Parlamento estavam a proibição da importação de algodão e a obrigatoriedade de se enterrar os mortos com tecidos de lã novos. Havia ainda a proibição da exportação de lã, sob qualquer forma que não fosse o tecido completamente acabado. Pode-se então atribuir duas faces essenciais para o desenvolvimento da antiga indústria dentro do mercantilismo inglês. A primeira é a figura do mercador, que foi, pouco a pouco, se tornando o patrão dos operários que antes trabalhavam nas suas indústrias domésticas. Para estes mercadores, a indústria era apenas uma forma de comércio, com o objetivo de obter a diferença entre o preço de compra e o de venda. A segunda característica foi a forte proteção concedida pelo Parlamento inglês, de maneira a assegurar uma estabilidade e esta indústria, objetivando a colocação da Inglaterra como líder e monopólio no mercado de tecidos de lã.
14. Aula e Mantoux: por que se pode dizer que a Inglaterra “exporta gente” desde o século XVII?
O movimento de cercamentos iniciado no séc. XVI intensificava-se durante o século XVII contra a vontade do governo, que tentava impedir esse processo de diversas maneiras. A Lei dos pobres foi uma forma de evitar a migração de pobres por toda a Inglaterra, pobres esses que tinham sido vítimas dos cercamentos. Entretanto, visto crescimento do número de pessoas que se encontravam nessa situação, cada vez mais foram determinadas penas que enviavam esses indivíduos para as colônias inglesas com um contrato que ordenava o trabalho compulsório nas terras coloniais. A criação da Companhia das Índias Ocidentais, com ações listadas na bolsa de Londres, possibilitou o envio desses pobres (Inglaterra estava “exportando gente” pobre para a América com o objetivo de evitar o acúmulo destes dentro dela própria.) e de “outros descontentes”, como os fugitivos da guerra civil. Como destinos estavam a Virgínia e Barbados.
15. Aula e Mantoux: como explicar a mudança de atitude do Parlamento inglês a partir de 1650? Quais os fatos que justificam tal comentário?
A mudança de mentalidade do Parlamento se deu porque seus próprios membros acabaram se tornando os beneficiados. A câmara dos Lordes contava com nobres grandes proprietários de terra e a câmara dos Comuns contava também com grandes proprietários assim como burgueses ricos. Quando Jethro Tull publicousuas experiências com produção agrícola e o próprio Lorde Townshend passou a aplica-las em sua propriedade, os nobres perceberam que cercar suas terras e desenvolver nelas uma agricultura voltada para o comércio era uma maneira eficiente de enriquecer. Além disso, a nova burguesia industrial via nos cercamentos a principal via para conseguir trabalhadores para suas manufaturas (uma vez que estes perdiam a renda que ganhavam de suas terras e suas produções artesanais) e matéria-prima de maior qualidade e mais barata. Logo, o Parlamento passou a apoiar os cercamentos e proteger o sistema manufatureiro.
16. O que eram terras comuns e terras abertas?
Os campos abertos e os campos comuns eram denominações dadas para extensões de terra nas quais as propriedades de vários possuidores estavam dispersas e misturadas. Os campos abertos (open fields), por serem lotes de diferentes possuidores misturados, eram caracterizados pela ajuda e consentimento dos possuidores, sendo que o único modo possível de exploração era de acordo com regras comuns. Estes campos não eram marcas de um comunismo, apenas entre o momento que intercalava a colheita e a semeadura, o open field adquiria o aspecto de propriedade coletiva, principalmente para pastagem. Já os campos comuns eram caracterizados como terras que permaneciam o estado que os open field ficavam entre a colheita e a plantação (usado para pastagem de animais, coleta de madeira e até mesmo ser usado para pescaria, naqueles que possuíam lagos), sendo de uso coletivo. Nem todos os habitantes usufruíam dos direitos de uso das terras comuns, assim como no caso das pastagens do open filed, apenas aqueles com um ou vários lotes na paróquia poderiam utilizar os campos comuns, que pertenciam, em princípio, ao senhor (proprietário nominal das terras indivisas). Ele era comum, não a todos aldeões, mas a todos os proprietários, sendo o acesso permitido em função de títulos definidos e na proporção destes títulos, por exemplo, quanto mais parcelas um camponês ocupasse no open field, mais bois ou carneiros podia enviar à terra comum. Era destinado a cada um na proporção daquilo que já possuía ( era uma riqueza suplementar que se somava a riqueza). Mesmo com as condições naturais ruins (charnecas cobertas de espinho, brejos, etc.), o uso destas terras trazia benefícios para os camponeses e, ainda,  por mais que houvessem leis, haviam costumes mais "flexíveis" para que praticamente todos usufruíssem da terra, mesmo pessoas que estavam a margem da propriedade.
17 e 18. Por que tais elementos da estrutura fundiária eram um bloqueio ao capitalismo no campo? Como tal bloqueio é superado?	
O agricultor moderno, que via a terra como capital e queria introduzir novos métodos para aumentar a produtividade do campo (o capitalismo no campo), via os campos abertos como um obstáculo, pois estes estavam mal cultivados e as terras aráveis estavam esgotadas: o único sistema utilizado era a rotação, que só convinha a algumas terras. Aqueles que tivessem tentado implantar melhorias teriam se arruinado, porque para drenar seus campos era necessário o consentimento e a ajuda de seus vizinhos. As terras eram muito estreitas para que certos métodos fossem aplicados. Além disso, havia o costume de deixar o open field como um pasto “inútil” entre a colheita e a plantação, e isso ia contra a ideia de aumento da produtividade dos agricultores modernos.
Para superar esse bloqueio o movimento de cercamentos, iniciados no século XVI, renovou-se no século XVIII e, desta vez, para não mais se deter. Os grandes proprietários, que tinham interesse nas inovações técnicas, organizavam assembleias gerais para assinarem petições que seriam levadas ao Parlamento. Nessas assembleias os votos não eram contados por cabeça, mas de forma proporcional às superfícies que cada um possuía. Dessa forma, os pequenos proprietários não tinham poder de decisão. Se a assinatura de algum deles fosse necessária, eram persuadidos até votarem a favor. Depois que era levada ao Parlamento e votada, todo território da paróquia era tomado e dividido em partes contínuas e deveriam respeitar os direitos anteriores de cada um. Mas muitas fraudes eram cometidas em favor dos grandes proprietários. Assim, o pequeno agricultor para o qual a terra não era capital, mas seu sustento, assistiu como espectador impotente a essa reforma realizada à força. Uma outra consequência deste processo era a venda voluntária de pequenas propriedades que se viam forçadas a isso diante do avanço das grandes propriedades.
19. Como pessoas como Jethro Tull e Lorde Towsend fazem a revolução agrícola depois da revolução agrária?
Jethro Tull, ao observar e comparar métodos empregados na França, Holanda e Alemanha e aplicá-los em suas propriedades, foi um dos primeiros a compreender a moderna noção de cultura intensiva. O que fazia sua grande originalidade era a substituição da tradição imóvel por um método fundando na observação e no raciocínio. Toda uma geração de proprietários se apropriaram de suas teorias e aplicaram-nas em seus domínios. A aristocracia inglesa via-se abaixo da burguesia financeira e comercial e acreditava que precisava enriquecer. O caminho para isso era utilizar suas propriedades de uma maneira mais lucrativa. Estas eram mal administradas, mal cultivadas e estavam abandonadas à rotina. O sistema de terras abertas e comuns dificultava esse objetivo aristocrático. Sendo os cercamentos os responsáveis pela revolução agrária que mudou a maneira de organização do campo inglês, novas práticas como o esterroamento e lavra profundos e as rotações contínuas, recomendadas por Tull foram fundamentais para a revolução agrícola. O mais famoso entre os agricultores nobres foi lorde Towsend. Empregando métodos que aprendeu nos Países-Baixos em seus domínios, que não passava de areia e pântano, logo conseguiu bons resultados. Como medidas adotadas têm-se: a rotação regular, a proximidade com o mercado consumidor e a plantação de nabo (que recuperava o solo). Depois do seu exemplo, todos os nobres se vangloriavam de dirigir pessoalmente a exploração de suas terras. Em 1760, surgiu a classe dos grandes arrendatários, para os quais a agricultura era uma profissão. Eles empregavam instrumentos aperfeiçoados e praticavam o regime de longos arrendamentos (que estimulava o agricultor a se esforçar na produção). Assim, diferente do que muitas teorias afirmam, no momento em que a grande indústria surgiu, a agricultura moderna estava fundada.
20. Com o que foi dito em aula, compare Holanda, França e Inglaterra em relação às causas e aos efeitos da política mercantilista.
O declínio da Holanda, nação mais poderosa do mundo durante os séculos XVI e XVII, não pode ser completamente explicada pelos Atos de Navegação da Inglaterra e seu crescente desenvolvimento econômico. O principal negócio holandês, intermediação das relações entre países europeus e metrópoles-colônias, se enfraqueceu conforme cada país desenvolveu sua própria indústria naval. Ainda, com o crescente protecionismo adotado pelas potencias europeias (principalmente Inglaterra e França), a Holanda teve que escolher entre proteger sua indústria local e manter sua política de livre-mercado; os mercadores venceram. Assim, o declínio industrial (da manufatura holandesa) a deixou atrás dos concorrentes, especialmente da Inglaterra, cujo desenvolvimento naval já ameaçava os lucros holandeses. Ainda, teve como consequência a necessidade de altos impostos sobre o consumo, que encareceram o custo de vida e elevaram salários, dificultando ainda mais a manufatura local. Como consequência, grande parte das iniciativas comerciais se voltaram para a exploração do imenso capital acumulado nos períodos de glória, resultando em um desenvolvimento de um sistema financeiro de empréstimos de grandes proporções. Tal fator poderia indicar uma mudança econômica de êxito, não fosse a descentralização desse sistema (sem um banco principal como o Banco da Inglaterra que desse estabilidade e segurança ao sistema) e aespeculação disso decorrente. Para finalizar, a tentativa de manter-se neutra no conflito entre Inglaterra e França já em meados do século XVIII selou o declínio holandês e deu espaço ao nascente Império Britânico.
Aula: As guerras entre a França, Holanda e Inglaterra culminaram na vitória da última. O que estava em jogo era a apropriação da explosão do mercado mundial. O sistema colonial holandês era, até então, baseado na importação de fumo, açúcar (ambos das colônias antilhanas, baseada em mão de obra africana) e tecidos de lã (feitos em cidades alemãs), processamento manufatureiro destes insumos nas manufaturas holandesas e seguinte reexportação. O sistema colonial era voltado para a manufatura holandesa. O processamento manufatureiro holandês foi prejudicado pelos atos de navegação inglês e a proteção francesa a sua manufatura interna (ambas, atitudes protecionistas). A Inglaterra, pelo tratado de Methuen, fecha acordo com Portugal e automaticamente inclui o Brasil neste acordo. Deste modo, a Holanda passa a ser uma emprestadora de dinheiro. Os indivíduos envolvidos nas manufaturas ou viram comerciantes ou viram emprestadores de dinheiro. Diferentemente do Banco da Inglaterra (privado e com ativo baseado na dívida pública), a Holanda não possui um banco e muito menos dívida pública atrelada aos seus emprestadores. Estes eram emprestadores individuais, cada um com o seu capital e não possuíam forma de banco, ou seja, o passivo não estava atrelado a depósitos de terceiros. A Holanda passa então a financiar tanto a França como a Inglaterra (financiando inclusive a revolução industrial nesta). A grande vantagem dos emprestadores holandeses era o fato deles possuírem dinheiro em diversas moedas (talheres, francos), fruto do longo período de comércio.
21. Aula e Mantoux: a existência de Jack de Newbury implica a existência de produção capitalista de lã e alimentos? Quais as formas alternativas de suprimento de lã e alimentos para a manufatura de Jack?
O fato de que Jack de Newbury estava produzindo tecidos em uma manufatura não implica necessariamente na existência de uma produção capitalista de lã e alimentos, embora desta forma, a produção de Jack poderia ser mais lucrativa. A produção doméstica de lã e alimentos, embora usasse técnicas ultrapassadas e seguisse uma rotina que passava por gerações de forma inalterada, era capaz de fornecer insumos para as manufaturas, muito embora estes fossem mais caros e talvez de qualidade diversa do que poderia se obter se estes mesmos insumos viessem de um modo de produção capitalista. Entretanto, estando a produção do campo funcionando em um sistema artesanal e doméstico ou em modo capitalista, a manufatura de Jack existiria de qualquer maneira.
22. O que tornava imperativa a formação do capitalismo no campo inglês?
23. Comparar um caipira, um camponês e um assalariado rural.
Caipira é um termo mais geral, designando todo aquele que habita o campo, podendo ser este um camponês ou um assalariado. Um típico camponês inglês do século XVI seria aquele que ao deixar de ser servo, possui sua propriedade (útil no mínimo para usa subsistência), cultivando-a e podendo também ter uma pequena indústria doméstica em sua casa (classe yeomenry). Ele pode ainda ser um pequeno arrendatário de terras (as terras do primeiro tipo) – classe tenant. Já o assalariado rural, que está na classe labourer, não possui propriedade agriculturável, tendo que vender sua força de trabalho em troca de salários, trabalhando ou para os yeomen, tenants, fazendas capitalistas ou manufaturas.
24. Compare um simples proprietário de terra e um capitalista rural.
A definição “um proprietário de terra” abrange desde pequenos proprietários até grandes. Entretanto, o que os qualifica como “simples” é o fato de que em suas propriedades desenvolvem atividades como agricultura de subsistência, pequenos pastos ou indústrias domésticas rurais. Algumas grandes propriedades se encontravam em estado de abandono, como era até de certa forma comum antes da chegada das ideias de Jethro Tull e as experiências de Charles Townshend. Um capitalista rural, por outro lado, seja ele proprietário ou arrendatário, produzia em sua terra com o objetivo final de lucrar, ou seja, tentava tirar o máximo de sua propriedade através de técnicas de agricultura cada vez mais avançadas sem exauri-la, ou criava grandes pastos com gado selecionado artificialmente (para gerar carne ou couro de maior qualidade, etc.) para o comércio. Empregava em suas terras mão-de-obra assalariada e tinha o desejo de ampliar suas terras, o que intensificou o movimento de cercamento na Inglaterra durante o século XVII.
25. A existência prévia do comércio não é necessária nem suficiente para explicar o surgimento do capitalismo. Justifique.
O desenvolvimento do comércio na Europa ocidental de fato foi de suma importância para o surgimento do sistema capitalista, afinal, esse sistema era capaz de suprir as demandas cada vez maiores geradas tanto pelo aumento do mercado interno como principalmente do novo mercado mundial. Entretanto, o desenvolvimento do comércio desencadeou na Europa oriental o que Engels chamou de “segunda servidão”, que seria como um renascimento do sistema feudal associado ao aumento da produção para o mercado, que em parte se deve ao fato de que os tipos de solo existentes na Europa oriental permitiam o cultivo mais fácil de certos produtos. Portanto, a existência prévia de comércio não é necessária nem suficiente para explicar o surgimento do capitalismo.
Lista 02
01. Marx: o que é acumulação primitiva de capital?
O sistema capitalista pressupõe a dissociação entre os trabalhadores e a propriedade dos meios pelos quais realizam o trabalho. O processo que cria o sistema capitalista consiste apenas no processo que retira ao trabalhador a propriedade de seus meios de trabalho, um processo que transforma em capital os meios sociais de subsistência e os de produção e converte em assalariados os produtores diretos. A chamada acumulação primitiva é o processo histórico que dissocia o trabalhador dos meios de produção. É considerada primitiva porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção capitalista.
02. Marx: por que a base da acumulação primitiva é a expropriação do camponês?
Os principais aspectos da transformação dos produtores em assalariados são a libertação da servidão e da coerção corporativa. Entretanto, os que se emanciparam só tornaram-se vendedores de si mesmo depois que lhe roubaram todos os seus meios de produção e os privaram de todas as garantias que as velhas instituições feudais asseguravam a sua existência – no caso do camponês a sua terra para subsistência. No fim do séc. XIV, a servidão tinha praticamente desaparecido na Inglaterra. No séc. XV, a maioria da população consistia em camponeses proprietários. Com a dissolução das vassalagens feudais, é lançada ao mercado de trabalho uma massa de proletários, de indivíduos sem direitos. Uma das causas dessa dissolução foi o poder real, que ansiava por soberania absolta. Outra causa foi o grande senhor feudal, que opondo-se ao Rei a ao Parlamento criou um proletário incomparavelmente maior, usurpando as terras comuns e expulsando os camponeses das terras, que eram suas pelos mesmos direitos feudais que o senhor usava como base para a expropriação. A velha nobreza foi devorada pelas guerras feudais e a nova considerava o dinheiro como o poder dos poderes. As expropriação contribuía para a transformação das lavouras em pastagens, para a criação de ovelhas, para suprir a demanda da crescente demanda por lã. Essa expulsão dos camponeses da terra de onde tiravam os seus meios de subsistência lhes forçou a tornarem-se jornaleiros e assalariados, vendo sua força de trabalho (e até isso se tornou difícil), caracterizando o processo de acumulação primitiva.
03. Comparar o ritmo de formação do arrendatário capitalista com o do capitalista industrial propriamente dito. Por que a diferença?
O ritmo de formação do capitalista industrialdeu-se de maneira mais acelerada em relação ao arrendatário capitalista. Este último teve em seu caminho o obstáculo da organização feudal do campo, que foi gradualmente quebrada com a dissolução da vassalagem e a expropriação do camponês. Já o capitalista industrial teve a seu favor fatores catalisadores como o sistema colonial, que assegurava mercado, pois o monopólio era da metrópole, além dos saques e pilhagens ao redor do planeta. Somam-se a isso o sistema da dívida pública, que "cria" capital na forma de crédito e o protecionismo estatal com relação à produção nacional destinada à exportação. Em suma, o poder estatal foi o principal responsável por essa rápida acumulação.
5. Mantoux: Por que a revolução industrial teria que vir “de fora”. De fora de onde? 
A revolução industrial teria de vir de fora do sistema manufatureiro de lã inglês, uma vez que este se encontrava extremamente protegido pelo governo, através de inúmeras medidas do Parlamento que visavam atender aos interesses dos mercadores manufatureiros, como proibição de exportar lã (para evitar gerar concorrência externa) e importação de qualquer tecido. Garantidos seus lucros, os mercadores manufatureiros não viam necessidade de investir em inovação, de fato seu interesse estava voltado à manutenção da “rotina”, isto é, o modo de produção existente, através de apelos ao Parlamento. Logo, visto o estado de certa forma “engessado” em que se encontrava a indústria de lã, a revolução industrial teria que vir de “fora” desse sistema, ou seja, teria que ocorrer em outras indústrias, como a de algodão, também já existente na Inglaterra, embora não favorecida pelo Parlamento.
6. Mantoux: Discorra sobre a transformação do campo inglês de cinco classes para três entre 1650 e 1750. 
Tradicionalmente, se encontravam nos campos da Inglaterra cinco classes: Gentry, Squire, Yeomanry, Tenant e Labourer. Entretanto, com o movimento de cercamentos, que se iniciava já no século XVI, iniciou-se uma tendência ao desaparecimento dos yeomen, classe que variava de pequenos e médios proprietários de terra nos open fields. Eram camponeses que plantavam em parte de suas terras aquilo que era determinado em acordos com seus vizinhos, e em outra parte plantavam para sua subsistência; às vezes criavam uma ou duas cabeças de gado para fins de transporte de cargas ou alimentação da família e em alguns casos arrendavam suas propriedades, ou eram eles mesmos arrendatários. Pois bem, os cercamentos desapropriaram os yeomen e redividiram os open fields de forma que atenderam aos interesses dos grandes proprietários solicitadores do ato de cercamento e deixavam esses yeomen com pedaços de terra que na maioria dos casos não equivaliam àqueles que tinham antes. Além disso, os grandes proprietários muitas vezes pressionavam esses camponeses a vendes suas propriedades, deixando-os à mercê do trabalho nas terras cercadas (que não demandava muita mão-de-obra), aos arrendamentos de terra (que agora se tornaram caros demais para os yeomen), ou à busca de trabalho ou novas terras em outros locais. Eventualmente, a busca por novas terras cessaria devido ao cercamento quase completo das terras inglesas. Assim desaparecia a yeomanry, deixando no campo três classes: Gentry e uma parte da Squire se tornaram os proprietários de terra; outra parte da Squire e os poucos yeomen que conseguiram juntar renda suficiente para arrendar terra se tornaram os arrendatários; e os yeomen, tenants e labourers que conseguiram encontrar trabalho no campo se toraram os trabalhadores assalariados.
7. Mantoux e Marx: quais os atributos dos candidatos a capitalistas rurais e capitalistas industriais propriamente ditos? Qual a origem dos que acabam assumindo tais posições?
Os capitalistas rurais foram aqueles que lideraram o movimento de cercamentos. De acordo com Mantoux, as pesquisas de Jethro Tull e atividade desenvolvida por Lorde Townshend em sua propriedade inspiraram os nobres a aplicar uma forma de produção em suas terras diferente à que existia até então. Visando o aumento de seus lucros, começaram a cercar as terras para poderem, além de conseguir propriedades maiores, desenvolver as novas técnicas agrícolas sem precisar entrar em consenso com seus vizinhos proprietários, o que era um grande obstáculo ao avanço da agricultura até então. Com suas terras sendo cultivadas de maneira mais eficiente e visando o abastecimento de cidades e outros centros, os proprietários de terra transformaram a agricultura inglesa em um modo de produção capitalista.
O capitalista industrial foi, em um primeiro momento, um mero mercador que deveria realizar as transações entre a produção da manufatura de lã no campo com o mercado da cidade. Entretanto, passou a controlar o fornecimento de matéria-prima para as manufaturas e seus meios de produção, o que, de acordo com Marx, é o que marca o início de uma produção capitalista. O mercador, entretanto, não era ainda um capitalista industrial por excelência, pois não se importava com a produção dos tecidos em si; seu interesse era voltado à comercialização desses tecidos e o lucro que obteria com a venda deles. Além disso, a proteção fornecida pelo governo desestimulava a inovação tecnológica na manufatura. O capitalista industrial propriamente dito seria aquele que desenvolvesse suas atividades “fora” da manufatura de lã, ou seja, precisava encontrar meios de acarretar lucros cada vez maiores com seu produto, seja encontrando novos mercados, seja diminuindo os custos de produção. Logo, o capitalista industrial propriamente dito foi aquele que promoveu a Revolução Industrial.
08. Por que escravidão? Por que escravidão africana?
Segundo Eric Williams, a escravidão não foi adotada como uma escolha, mas sim por necessidade econômica. Nas regiões das colônias onde eram plantados cana-de-açúcar, algodão e fumo, era necessário uma grande quantidade de trabalhadores, em que a escravidão ineficiente compensaria o custo de oportunidade da utilização de trabalhadores livres, até o momento em que não se consiga mais encontrar terras livres. (-lembrando q no começo da colonização, havia mta terra pra pouca gente-). Primeiramente, nas colônias britânicas, recorreu-se ao escravo indígena, mas este, acostumado a uma vida de liberdade, não conseguiu se adaptar às condições de trabalho e sucumbiu. Como alternativa, foi intensificada a imigração de brancos europeus pobres, que por meio de contratos de servidão ("Indentured Servannts"), prestavam serviço a um senhor por tempo determinado e tentavam uma nova vida no continente. Além disso, criminosos e vagabundos britânicos eram deportados para compôr a força de trabalho. Contudo, a servidão branca criou um conflito de interesses com a metrópole, dado que a diminuição da mão-de-obra elevava os salários na Inglaterra, contrapondo-se aos interesses mercantilistas, de redução de custos para produção e exportação. Havia também o medo de que os brancos, após serem libertados, instituísses manufaturas concorrentes com as da metrópole e aspirassem à independência. Optou-se então pelo escravo negro, mais barato. O plantador "teria ido à Lua", mas a África era mais perto, inclusive do que a Ìndia e China. Outros fatores que justificam a escolha do negro são a facilidade de justificar sua submissão (alegações raciais), a não obrigação de libertá-lo, como seria preciso com o servo branco e que a África era “uma fonte inesgotável”. Entretanto, o principal fator foi o econômico, já que o negro era a alternativa mais barata.
9. Celso Furtado: diferença entre conquista e colonização.	
A apropriação de um novo território por meio da conquista ocorreu no caso espanhol. O encomendero, aquele que recebia da coroa espanhola um núcleo de população indígena que habitava as novas terras, tinha a obrigação de cristianizá-lo e o direito de usar a força de trabalho do grupo. No entanto, o encomendero apenas tinha interesse em extrair excedente, prata e ouro, que pudesse ser negociado na Europa, onde poderia satisfazer suas necessidades de consumo,já que, àquela época, não se produzia nada lucrativo na colônia espanhola, além do fato de o encomendero que se aventurou na América ter interesse apenas em uma posição econômica e social na própria metrópole, e não na colônia. Em suma, a busca por metais preciosos e a exploração da força de trabalho, efetuada pelos indivíduos privados, eram as motivações da conquista espanhola.	
Já o caso português se deu por meio da colonização. Os portugueses levaram tempo para encontrar metais preciosos – ao contrário dos espanhóis, que já se depararam com uma comunidade que apresentava avançada divisão técnica do trabalho, experiência na extração mineral e estruturas sociais prontas –, o que os levou a tentaram se apropriar do território por meio da agricultura tropical. Como encontraram uma população menos densa e inapta para o trabalho nos canaviais, optaram pelo tráfico negreiro, o que exigiu vultuosos investimentos, os quais não poderiam ser executados apenas pela iniciativa individual, necessitando da participação de grupos com maior poder aquisitivo. Dessa forma, a ação dos portugueses teve mais forma de colonização do que de conquista.
10. Como os cercamentos voluntários e compulsórios confirmam a integração das análises econômica e institucional dos autores?	
Tomando-se instituições como um conjunto de regras entre as unidades econômicas que definem e especificam os modos pelos quais essas unidades podem cooperar e competir. O crescimento populacional fez com que subisse o valor da terra, tornando-a mais atrativa economicamente caso seu retorno fosse apropriada por apenas um indivíduo, o senhor, uma vez que o custo de alteração da organização da propriedade era inferior aos benefícios proporcionados. Iniciou-se uma pressão contínua para eliminar a propriedade comum e organizar uma propriedade exclusiva privada. A posse exclusiva era o rearranjo institucional necessário para que houvesse uma melhor apropriação dos rendimentos. Estavam em andamento os cercamentos voluntários, que só foram interrompidos devido a uma expansão na oferta de terras, o que, novamente, abaixou o preço das terras. Já por volta do século XVI, deu-se início um segundo movimento de cercamentos, só que dessa vez em terras altas, predominantemente pastos produtores de lã. Isso era vantajoso, pois, além do preço da lã estar em alta, essas terras tinham baixa densidade demográfica, o que tornava os custos de mudança muito mais baixos do que terras com mais pessoas. Os cercamentos só conseguiram atingir sua plena abrangência quando o Governo, devido à pressão política por parte dos senhores, tornou os cercamentos compulsórios, por volta do século XVIII.

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