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Resumo TGC

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TEORIA DA CONSTITUIÇÃO
1 NOÇÕES BÁSICAS
- Idéia de constituição vem da antiguidade.
- O termo é substancial do Século XVIII.
- A teoria é do início do Século XX.
- É produto da ideologia do homem burguês. Triunfo faz revoluções anglo-americanas. A vinculação é direta. Revoluções: Inglesa (1688), Americana (1766) e Francesa (1789), patrocinadas pelo homem burguês (oprimido politicamente, mas não financeiramente).
- O homem como sujeito de direitos pela sua essência. Racionalidade.
- Objetivo: limitar o poder. Garantia dos governados contra os governantes.
- Características: documento escrito, que contenha duas técnicas: direitos individuais e separação de poder.
- Estado definido (Século XVIII) para garantir os direitos individuais.
- Constituição dos EUA: 7 artigos: 1787-1791; 10 primeiras emendas inseriram direitos individuais.
- Poderes: órgãos diferentes para funções específicas: Legislativo (fiscalização e legislação), Executivo (administração) e Judiciário (jurisdição).
2 CONSTITUCIONALISMO
2.1	Primeiro momento: Século XVIII – visão da liberdade e ideal da legalidade (momento do legislativo) (contexto do) Filosofia do ser
- Estado absenteísta.
- Pressuposto da liberdade negativa (idéia de direito à diferença).
- Idéia do indivíduo => direitos individuais (contrato social contribui muito).
- Ideologia liberalista => liberalismo (principalmente o político) => mercado (exploração do homem pelo homem).
- Nasce o Estado Nacional (Estado-nação) => jurisdição única, exército próprio, território delimitado, moeda única.
- Século XIX => crítica ao liberalismo, buscando visão renovada dos direitos individuais (busca-se a igualdade, sem perder de vista os direitos individuais).
- Direito de 1ª geração.
2.2	Segundo momento: Século XX – visão de igualdade (social) (momento do Executivo) (contexto do) Filosofia da consciência
- Ser (indivíduo) inserido no meio social (sociedade).
- Direitos da coletividade.
- Não mais o Estado mínimo e, sim, o Estado máximo.
- Constituição Mexicana de 1917 (direitos sociais).
- Estado intervencionista.
- Liberdade positiva (é buscada) como idéia de autonomia e base de cidadania.
- Ideal de legitimidade => direitos políticos.
- Sufrágio universal (idéia plantada no Século XVIII e efetivada no Século XX).
- Direitos sociais e implementação dos direitos políticos.
- Estado do bem-estar social (welfare states).
- Problema: facilitou o surgimento de estados totalitários, onde o direito do Estado suplantou os direitos individuais.
- Direitos de 2ª geração.
- Crise final (final anos 60 e início anos 70), face às demandas acentuadas, levando ao “esvaziamento” do Estado.
- Globalização e tecnologia da informação afetam o Estado-nação.
- Como fica o ideal de soberania?
P.S. HABERMAS, Jürgen. “O Estado-nação europeu frente aos desafios da globalização: o passado e o futuro da soberania e da cidadania”. Revista Novos Estudos CEBRAP, nº 43, novembro de 1995, p.87-101. Resumo: O surgimento do Estado-nação propiciou uma base sobre a qual pôde se articular e institucionalizar a idéia republicana de comunidade. Hoje, porém, todos vivem em sociedades pluralistas que se afastam muito da concepção de um Estado-nação fundado numa população relativamente homogênea. Diante da enorme diversidade das formas culturais de vida, dos grupos étnicos, das visões de mundo e das religiões, o Estado-nação não pode mais fornecer a base apropriada para a manutenção da cidadania democrática no futuro que se anuncia. Este artigo aponta a necessidade de salvar a herança republicana, mesmo que seja transcendendo os limites do Estado-nação, e vê a emergência de regimes supranacionais, como a União Européia, como uma das maneiras de escapar ao impasse.
2.3	Terceiro momento: Final do Século XX e início do Século XXI – Pluralismo – constitucionalismo (momento do Judiciário) (contexto do) Filosofia da linguagem
- Solidariedade (para Habermas = idéia) como alternativa de vencer os problemas de pluralidade.
- Constituição como depositário da igualdade (lastro social) ou de vinculação dos interesses/direitos.
- Respeito às minorias. Estado Democrático de Direito.
- Grande questão: viabilizar a democracia.
- Direitos de 3ª geração. Instrumentado por garantias constitucionais.
- Direitos difusos: meio ambiente, consumidor, culturais, etc. (titular indeterminado, aparecimento da “fraternidade” humana + direitos plurais – 4ª geração (para Bonavides).
- Direitos constitucionais. Idéia de democracia é muito mais do que votar.
- Juiz Hércules – acolhido nos paradigmas do direito (baseado em princípios, no processo legal: contraditório, ampla defesa, juiz natural, etc.).
- Sociedade aberta aos intérpretes da constituição.
- Judiciário: instrumento para efetivação da democracia.
- Há mais possibilidade para efetivação da cidadania, na medida em que o cidadão participa mais.
- Filosofia da consciência (racionalismo). (P.S. Três Filosofias: do ser, da consciência e da linguagem)
P.S. Três grandes teorias políticas: 
a) Liberalismo: 1º e 2º momentos do constitucionalismo.
b) Socialismo: 2º momento do constitucionalismo.
c) Republicanismo: 3º momento do constitucionalismo.
- Constituição Alemã de 1919 (Weimar): documento novo com novos postulados.
- Estudo da constituição: Carl Schmitt, auxiliado por Heller e Smend => teoria da constituição. Pecado: preocupou com efetividade do poder e não com a legitimidade. Deve ser efetivo não por liderança e, sim, por referencial de democracia (instrumento do povo). (P.S. Primeiro momento da Teoria da Constituição)
- Década de 50, teoria inovada por Carl Loewensteim, com obra nova sobre teoria da constituição, mais pragmatizada pela influência norte-americana.
- Procura uma efetividade sim, mas com legitimidade: aproxima da democracia. Realidade social deve ser espelhada no texto constitucional. Este é o segundo momento do constitucionalismo, como reação ao positivismo jurídico: não é apenas norma; transmite valores (sócio-econômicos, políticos, etc.). (P.S. Segundo momento da Teoria da Constituição)
- Essa discussão acontece até a década de 70, com a queda do mito Estado Nacional (globalização, pluralismo). A discussão agora é no sentido da constituição que represente ou atenda os anseios da sociedade diversificada (pluralismo). Constituição precisa ser efetiva e legítima para um grupo heterogêneo (complexidade). (P.S. Terceiro momento da Teoria da Constituição)
3 TEORIA DA CONSTITUIÇÃO
3.1 Primeiro momento
- Nasce na década de 20 (Século XX), em função da Constituição Alemã, tendo como autor desse novo momento Carl Schmitt. Filosofia da consciência
3.2 Segundo momento
- Tem um segundo momento na década de 50 (Século XX), com o fim da 2ª Guerra Mundial, com influência maior dos EUA, tendo como autor de referência Karl Loewenstein. Constituição de Bonn (Alemanha) 1949. Foco na legitimidade e efetividade. Filosofia da consciência
3.3 Terceiro momento
- Década de 70 (Século XX), tendo como referência efetividade, legitimidade e pluralismo. Idéia: constituição adequada ao ideário do constitucionalismo (como é e deve ser). Os Juízes devem produzir decisão legal, legítima e justa. Filosofia da linguagem
- Para que serve a constituição? 
Segundo José Joaquim Gomes Canotilho, a Teoria da Constituição pretende discutir e criticar os limites da força normativa da constituição, ou seja, discutir a relação entre a realidade constitucional e o Direito Constitucional formal.
3.4 Antecedentes do constitucionalismo
P.S. O marco do constitucionalismo é a passagem do Estado Absolutista para o Estado Constitucional (ou de Direito ou Liberal), exatamente porque aí nasce a constituição. ANTES DISSO:
3.4.1 Pactos, Forais de Cartas de Franquia, Magna Carta (1215/1225). Petition of Rights (1628). Primeiro e mais remoto antecedente do constitucionalismo, que na verdade são esforços de
participação no poder.
3.4.2 Contrato Social. Idéia de limitação do poder ajuda a consolidar o constitucionalismo.
3.4.3 Leis fundamentais do Reino. “Reta Razão”: o rei tem que respeitar os direitos naturais, senão os súditos podem se insurgir contra ele.
3.3.4 Contratos de colonização: “mayfloowers” (1620) pessoas a caminho dos EUA, ainda a bordo do navio, estabeleceram contrato disciplinando forma de viver em sociedade na nova terra (ainda colônia inglesa).
3.3.5 Iluminismo (antecedente quase contemporâneo): filosofia do Século XVII, que eclode no Século XVIII, centrado na idéia do “Eu”: razão, natureza, felicidade, progresso.
3.5 Conceito de Constituição
- José Afonso da Silva: “Conjunto de normas jurídicas escritas ou costumeiras e que se referem à forma de Estado, à forma de governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, estabelecimento dos seus órgãos e limites de sua atuação.”
3.5.1 Sentidos de constituição nesse conceito:
- Sociológico => referencial Ferdinand Lassalle;
- Político => referencial Carl Schmitt;
- Jurídico => referencial Hans Kelsen;
- Liberal => referencial Jonh Locke;
- Republicano => referencial Jean Jake Rousseau;
- Procedimental/processual => referencial Jürgen Habermas.
3.5.2 Ferdinand Lassalle: constituição é soma dos fatores reais de poder que regem em um determinado país, não passando o documento escrito e formal de simples folha de papel se não houver correspondência com o documento real e efetivo.
3.5.3 Carl Schmitt:	- a constituição é uma decisão política fundamental; é uma ordem concreta de conjunto sobre o modo e a forma de existência de uma unidade política. (vida democrática, direitos fundamentais, formas de Estado, formas de governo, divisão de poderes.
			- leis constitucionais são diferentes de leis não-constitucionais: constituição são essas matérias de decisão política fundamentais; as demais, que não se referem às decisões políticas fundamentais, são leis constitucionais.
			- OBS: Próximo a essa distinção podemos relacionar o conceito de constituição formal e constituição material. Representando as leis constitucionais, a constituição formal, e a constituição, a constituição material.
3.5.4 Hans Kelsen: 
- a constituição no sentido lógico-jurídico e
- a constituição no sentido jurídico-positiva.
- Lógico-jurídica: é uma norma fundamental hipotética e que serve de fundamento transcendental de validade da constituição jurídico-positiva.
- Jurídico-positiva: é norma fundamental no seu mais alto grau. É o elemento jurídico máximo de um Estado.
- Para Kelsen, a constituição tem dois momentos: um pensado e outro concreto. É produto de uma hipótese racionalizada (idealizada e concretizada). A hipótese torna-se real; por isto, transcendental, por nascer além do plano físico (na mente) para depois ir para o plano físico (papel). Aí, torna-se a norma suprema.
3.5.5 Os conceitos ou correntes liberal, republicano e procedimental passam pelo pluralismo.
- para o liberal, pluralismo refere-se a várias concepções de vida digna (ponto de vista moral).
- para os republicanos, pluralismo refere-se a várias identidades culturais e sociais (o que é bom para a comunidade; ética da sociedade).
- para os procedimentalistas, pluralismo refere-se ao inter-relacionamento das duas idéias anteriores.
- nos três, há um conceito que volta sempre à tona: democracia liberal. Democracia trabalha com o ideal de igualdade. Liberalismo trabalha com o ideal de liberdade. Referencial de soberania popular na igualdade. Referencial de direitos humanos no liberalismo.
- o referencial é sempre a soberania popular, que elege e modifica o que é importante para o grupo (liberal e republicanismo).
- para Habermas, é possível ter um comum, permeado por ambos, ampliando-se o espaço de participação pública. O que se busca na sua teoria é permear soberania popular e direitos humanos, no sentido de ampliar espaços para a participação do povo (benefício).
- para o procedimentalismo, constituição é formada por valores permeados pela soberania popular, ampliando o espaço ao debate público.
4 TIPOLOGIA DE CONSTITUIÇÃO
4.1 Quanto ao conteúdo: material e formal
4.1.1 Conteúdo material: conjunto de normas escritas ou costumeiras inseridas ou não em um único texto escrito e que se refere à estrutura do Estado, aos órgãos e funcionamento do poder e aos direitos fundamentais.
4.1.2 Conteúdo formal: é o peculiar modo de existir do Estado vinculado a um texto escrito e somente modificável por intermédio de procedimentos especiais.
P.S. Para Carl Schmitt, material é a constituição e formal são as leis constitucionais.
4.2 Quanto à forma: escrita (ou orgânica) e não-escrita (ou inorgânica)
4.2.1 Forma escrita ou orgânica: é aquela em que as normas fundamentais do Estado estão reduzidas a um texto único escrito e elaborado de uma única vez pelo poder constituinte.
4.2.2 Forma não escrita ou inorgânica: é aquela que não tem a organização do Estado reduzida a um texto único, podendo estar contida em textos escritos esparsos, na jurisprudência, nos costumes e nas tradições.
P.S. Primeira constituição escrita: Instrument of Government – 1653, por Oliver Cromwell, na Inglaterra.
4.3 Quanto ao modo de elaborar: dogmática ou consuetudinária (ou costumeira)
4.3.1 Modo de elaborar dogmático: sempre escrita, reduz os dogmas de uma sociedade a um texto escrito (P.S. É evidente que representam um determinado momento).
4.3.2 Modo de elaborar consuetudinário ou costumeiro: sempre não-escrita, caracteriza-se e afirma-se por intermédio dos costumes/usos constitucionais e que demonstram o modo de ser de um povo.
4.4 Quanto à origem: popular (ou democrática) e outorgada
4.4.1 Origem popular ou democrática: é aquela elaborada com participação do povo (mediante representação por assembléia constituinte).
4.4.2 Origem outorgada: é aquela em que não há participação do povo. Do ponto de vista jurídico, é um ato unilateral de tomada de poder por ma única pessoa ou grupo.
4.5 Quanto à estabilidade: flexível, rígida e semi-rígida
4.5.1 Estabilidade rígida: é aquela que prevê um procedimento especial para sua alteração. Suas normas são alteradas mediante processo mais solene e mais difícil, do que o procedimento para alteração de lei complementar e/ou ordinária.
4.5.2 Estabilidade flexível: é aquela que pode ser alterada livremente. Ela não requer procedimentos especiais para sua alteração.
4.5.3 Estabilidade semi-flexível: é aquela que tem uma parte rígida e outra flexível (Exemplo, a brasileira de 1824).
5 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À EFICÁCIA
- Toda norma constitucional produz uma eficácia, mediata ou imediata.
- Preceptivas: aplicação imediata ou auto-executáveis (doutrina norte-americana).
- Programáticas: as que têm aplicabilidade mediata ou não são auto-executáveis.
- Várias tipologias sobre isto, entretanto vamos adotar o conceito de José Afonso da Silva (década de 60, mas parâmetro até hoje):
a) normas de eficácia plena;
b) normas de eficácia contida;
c) normas de eficácia limitada: princípios institutivos e princípios programáticos.
5.1 Norma de eficácia plena
- Aquela que contém em si mesma todos os seus elementos de aplicação. Não necessita de interferências posteriores para alcançar os seus objetivos (Ex. CF, arts. 20 – “São bens da União: I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas
oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; VI - o mar territorial; VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; VIII - os potenciais de energia hidráulica; IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos; XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.”, art. 44 “O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.” e 87 – “Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos. Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei: I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República; II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos; III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério; IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.”). Há um sentido declaratório do que é. Plenamente compreensível pelos seus próprios termos. Completam seu sentido em si mesma (fato).
5.2 Norma de eficácia contida
- Aquela que gera todos os seus efeitos, mas permite que a regulamentação do seu exercício se dê com intervenção posterior ou por intermédio do Poder Legislativo ou do Executivo. Há a possibilidade de intervenção, principalmente, do legislador ordinário para a regulamentação do exercício previsto. (Ex. art. 5º, XVIII – “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;” e LVIII – “o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;”. P.S. Todos com remissão à forma da lei).
- Eficácia contida é aquela que gera todos os seus direitos, mas permite a fixação, em lei, do exercício do direito, para preencher todos os requisitos de eficácia. Ajuda a dar completude à disposição da lei. A regulamentação apenas regula os limites do exercício do direito; o direito, entretanto, é plenamente assegurado.
P.S. O STF equiparou os efeitos da norma de eficácia contida aos da norma de eficácia limitada (nos primeiros 10 anos após a CF de 1988).
5.3 Norma de eficácia limitada
- Podem ser de princípios institutivos ou de princípios programáticos.
- Uma norma de eficácia limitada de princípios institutivos é a que traça esquemas, regras de instituição, bases de organização para o legislador ordinário tornar efetivo (Ex. art. 18, § 3º - “Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.”).
- Normas de princípios programáticos são aquelas que necessitam, para a sua plena (ou completa) realização, da atuação de programas futuros; elas dependem de uma atuação dirigida a determinado fim. São normas vinculadas à atuação, por exemplo, de políticas públicas. Há a necessidade de atuação posterior do Legislativo ou do Executivo para a sua implementação. P.S. Pedem adoção de determinados programas do governo para atingirem o seu fim. (Ex. art. 196 – “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”)
5.4 Fenômenos que geram condições de aplicação da constituição no tempo
5.4.1 Recepção: significa que a nova ordem jurídica recebe a legislação infraconstitucional desde que compatível com o seu novo texto. Naquilo que é incompatível, há automática revogação. Essas normas podem ser recebidas com uma nova roupagem, por exemplo, status de lei ordinária para o decreto-lei. Essa nova roupagem se dá através da mutação de competência federativa legislativa (MCFL) e mutação de competência de veículo legislativo (MCVL). Antes da CF/88 as regiões metropolitanas eram definidas por competência da União; depois, passaram para a competência do estado-membro (MCFL).
P.S. ESPÉCIE LEGISLATIVA: lei ordinária, lei complementar, lei delegada, etc..
5.4.2 Desconstitucionalização: Não admitida no Brasil. Significa receber normas da constituição anterior em grau inferior, ou seja, receber normas constitucionais no status de leis infraconstitucionais.
5.4.3 Represtinação: Também não é admitida constitucionalmente no Estado brasileiro. Represtinar é tornar a dar validade (convalidar), ou seja, dar validade a legislação que já foi revogada anteriormente (não se pode retomar a validade, mas pode ser retomada observando-se o princípio legislativo – editando de novo como norma).
P.S. Entretanto, é admitido o efeito represtinatório (entra em controle de constitucionalidade). Ocorre nos casos de uma lei nova ter revogado lei anterior, mas essa lei nova é declarada inconstitucional, fato que se designa de efeito represtinatório, porque a lei que fora revogada volta à validade como se nunca tivesse sido revogada.
5.5 Partes integrantes de uma constituição (segundo a maioria dos autores)
5.5.1 Preâmbulo: tem força normativa vinculada aos princípios.
5.5.2 Parte permanente: com uma parte de estrutura dogmática e uma parte de estrutura organizacional.
5.5.3 Parte transitória: que traz as normas de adaptação à nova ordem jurídica.
P.S. Como o texto constitucional é composto tematicamente (por assunto) as Disposições Constitucionais Gerais (art. 233) contêm os assuntos que não se enquadram nos temas contidos.
5.6 Aplicabilidade das normas constitucionais
- Três fenômenos: validade, vigência e eficácia (social e jurídica)
5.6.1 Validade: norma válida é aquela elaborada pelo órgão competente e segundo os procedimentos legais. (diz respeito à competência e procedimentos).
5.6.2 Vigência: acontece quando a norma pode surtir todos os seus efeitos. Para ser oponível contra todos, a lei precisa ser promulgada e publicada. (P.S. Com a sansão ou com o veto derrubado a lei estará pronta. No caso de norma constitucional, não há, por regra, a “vacatio legis”, surtindo efeitos a partir da sua publicação).
5.6.3 Eficácia: grau de obediência que uma norma impõe.
5.6.3.1 Eficácia jurídica: pressupõe que a norma seja válida e vigente.
5.6.3.2 Eficácia social: refere-se ao comportamento naturalmente estabelecido de obediência a uma lei.
P.S. EFETIVIDADE: lei produz naturalmente os seus efeitos (jurídica + social).
P.S. Não há inconstitucionalidade de normas constitucionais originárias (as promulgadas pela assembléia nacional constituinte). Pode, entretanto, sê-lo a secundária (as emendas constitucionais).
P.S. Uma norma pode ser válida sem ser vigente? Sim. Ex. Lei no período de “vacatio legis”.
P.S. Uma norma pode ser vigente sem ser válida? Em regra não. Mas pode haver casos de norma vigente para os casos passados (efeitos de revogação ou invalidade “ex nunc”).
P.S. Uma norma pode ter eficácia social e não jurídica e vice versa? Sim (1º). Em regra, não (2º), mas há casos.
5.7 Finalidade das normas constitucionais
- Três classificações: Clássicas (ou garantia), Balanço e Dirigente.
5.7.1 Clássicas ou garantia: é aquela que tem fundamentalmente como padrão estabelecer (consagrar) a divisão de poderes e os direitos fundamentais (trabalha minimamente).
5.7.2 Balanço: é
aquela que estabelece um estágio nas relações de poder. Historicamente vinculada à ideologia marxista. A cada nova etapa do poder é feito um balanço e tem-se uma nova constituição espelhada nas relações econômicas e de poder daquele período avaliado, refletindo o seu momento.
5.7.3 Dirigente: é aquela que dirige a sociedade para alcançar determinado fim, para que o governo cumpra determinado programa de governo. Normalmente tem várias normas programáticas, com aplicação de acordo com as ações de governo (Estado social, com a idéia de planificações futuras).
6 AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
	CF
	HISTÓRICO
	FORMA
	CONTEÚDO
	MODO DE ELA-BORAÇÃO
	ESTABI-LIDADE
	ORIGEM
	OBSERVAÇÃO
	1824
IMPERIAL
	- 1822 – Indepen-dência.
- Tendência centra-lista.
- Identidade nacional
	Escrita e analítica
	Material e formal
	Dogmática
	Semi-rígida
art. 178 (*)
	Outorgada
	- Separação de poderes específica com o 4º poder (moderador)
- Não de direito, mas de fato, parlamentarismo.
- Inúmeras revoltas para a des-cetralização.
- Esta unitário e monárquico.
	CF
	HISTÓRICO
	FORMA
	CONTEÚDO
	MODO DE ELA-BORAÇÃO
	ESTABI-LIDADE
	ORIGEM
	OBSERVAÇÃO
	1891
VELHA REPÚBLI-CA
	- 1889 – Proclamação da república.
- Governo provisório
- Mal Deodoro da Fonseca (figura)
	Escrita e analítica
	Material e formal
	Dogmática
	Rígida
	Popular
	- Regionalismo
- 1900 – Campos Sales instala a política dos Governadores (café com leite)
- Revolução de 1930
- Emenda Constitucional de 1926: tenta impedir a Revolução de 30, quebrando o eixo SP/MG/RJ como polo do poder
- Coronelismo: chefes/líderes locais
	1934
NOVA REPÚBLI-CA
	- Revolução constitu-cionalista de 1932.
- Getúlio Vargas
- Revolução de 1930
- Constituição Alemã de Weimar 1919
- Constituição da Áustria de 1920
	Escrita e analítica
	Material e formal
	Dogmática
	Rígida
	Popular 
(AC Pura)
	- Efêmera. Já em 1935 G. Vargas expediu Decreto-legislativo que a alterou profundamente.
- 1ª CF a desenvolver e consagrar os direitos trabalhistas
- Bicameralismo com representa-ção corporativa
- Voto feminino
- Princípio federativo reafirmado
	1937
POLA KA
	- 1936 – G. Vargas fecha o Congresso
- Destituição Gover-nadores de Estado (interventores)
- Influência da consti-tuição polonesa de 1935/ Estado Novo
- Fascista
	Escrita e analítica
	Material e formal
	Dogmática
	Rígida
	Outorgada
	- Intervencionismo estatal
- Restrição dos direitos fun-damentais
- Centralização dos atos do Executivo
	1946
LIBE RAL
	- G. Vargas deposto em 1945
- José Linhares- Pres. da Câmara na assume e sim o Presidente do STF (Governo do Judiciário)
- 1946 – Gen Eurico Gaspar Dutra assume
	Escrita e analítica
	Material e formal
	Dogmática
	Rígida
	Popular
	- Feição de liberalismo econômico
- Juscelino Kubistchek
- Reconhecimento e consolidação dos direitos fundamentais
- Ápice da guerra fria – renúncia de Jânio Quadros e possibilidade de João Goulart (Jango) assumir
- Implantação do Parlamentarismo de direito (1961 a 1963): Hermes Lima, Tancredo Neves e Brochado Rocha
- Vigência até 1964. De 64 a 67 o Brasil foi regido por atos militares
- A partir de 1964: cassação de direitos políticos e cerceamento de partidos políticos (AI-2)
- Bipartidarismo
	1967
(1969)
DITATO-RIAL
	- Reflete o posiciona-mento do Executivo
- Junta militar
- Cerceamento dos direitos fundamentais
- Centraliza-se o po-der na União e fere o princípio federativo
	Escrita e analítica
	Material e formal
	Dogmática
	Rígida
	Outorgada
	- Emenda Constitucional n.º 1: aprofunda os cerceamentos aos direitos fundamentais (alguns auto-res consideram nova constituição); tecnicamente é uma emenda
- Fere direitos fundamentais
- Mácula à República (é nomina-lista).
- Lei da Anistia (1979) reformula a CF de 1967.
- 1985 – posse de Sarney e convo-cação de Assembléia Nacional Constituinte.
- Assembléia (Congresso) Nacio-nal Constituinte (Senador Biôni-co)
	CF
	HISTÓRICO
	FORMA
	CONTEÚDO
	MODO DE ELA-BORAÇÃO
	ESTABI-LIDADE
	ORIGEM
	OBSERVAÇÃO
	1988
CIDA
DÃ
	- Emenda Constitu-cional n.º 26 de 1985.
	Escrita e analítica
	Material e formal
	Dogmática
	Rígida
	Popular
	- Pluralismo
- Direitos fundamentais
- Democracia
- Federalismo
- P.S. tudo que temos visto
Efetividade?
NOTA: (*) -	“Art. 178. E' só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinarias.”
7 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS (Duas categorias: Positivados e abertos)
7.1 Positivados
- Estão expressos no texto constitucional.
7.2 Abertos
- Não estão expressos no texto constitucional. Demandam construção doutrinária. Incluídos/construídos/desenvolvidos pela doutrina. Diluídos no texto constitucional sem estar expressos objetivamente. São:
7.2.1 Unidade constitucional: a CF é um todo. A interpretação da constituição não pode ser parcial. Texto constitucional com visão única. Não se podem interpretar partes sem a visão do todo.
“O princípio da unidade da Constituição ganha relevo autônomo como princípio interpretativo quando com ele se quer significar que o Direito Constitucional deve ser interpretado de forma a evitar contradições (antinomias, antagonismos) entre as suas normas e, sobretudo, entre os princípios jurídicos-políticos constitucionalmente estruturantes. Como ‘ponto de orientação’, ‘guia de discussão’ e ‘fator hermenêutico de decisão’ o princípio da unidade obriga o intérprete a considerar a Constituição na sua globalidade e procurar harmonizar os espaços de tensão [...] existentes entre as normas constitucionais a concretizar (ex.: princípio do Estado de Direito e princípio democrático, princípio democrático e princípio socialista, princípio unitário e princípio da autonomia regional e local etc.). Daí que o intérprete deva sempre considerar as normas constitucionais, não como normas isoladas e dispersas, mas sim como preceitos integrados num sistema interno unitário de normas e princípios”.
“O papel do princípio da unidade é o de reconhecer as contradições e tensões reais ou imaginárias que existam entre normas constitucionais e delimitar a força vinculante e o alcance de cada uma delas. Cabe-lhe, portanto, o papel de harmonização ou ‘otimização’ das normas, na medida em que se tem de produzir um equilíbrio, sem jamais negar por completo a eficácia de qualquer delas. Também aqui, a simplicidade da teoria não reduz as dificuldades práticas surgidas na busca do equilíbrio desejado e na eleição de critérios que possam promovê-lo”.
7.2.2 Bases principiológicas: condensam os valores e os fundamentos do Estado Brasileiro e condicionam a leitura do intérprete.
“A ordem jurídica é sustentada numa base principiológica. Em decorrência deste marco fundante, os princípios orientam a interpretação e aplicação de todo o sistema normativo, inclusive, das regras jurídicas. Com efeito, é incorreta a interpretação da regra, quando dela derivar contradição, explícita ou velada, com os princípios. Quando a regra admitir logicamente mais de uma interpretação, prevalece a que melhor se afinar com os princípios. Ademais, quando a regra tiver sido redigida de modo tal que resulte mais extensa ou mais restrita que o princípio, justifica-se a interpretação extensiva ou restritiva, respectivamente, para calibrar o alcance da regra com o princípio.”
7.2.3 Supremacia constitucional: a constituição é a base (vértice) de todo sistema jurídico e se impõe perante as demais leis do Estado. Condiciona todas as demais manifestações legiferantes do Estado (qq espécie normativa). É o pacto de vivência da sociedade. Decorre do poder constituinte originário (autoridade especial).
“O princípio da supremacia constitucional
como elemento de apoio à hermenêutica adequada do conteúdo normativo trazido no texto constitucional. Da rigidez constitucional emana como conseqüência indispensável o princípio da sua supremacia. A constituição se aloja no vértice da pirâmide jurídica, encontrando-se nela as normas fundamentais do Estado, decorrendo logicamente sua superioridade em relação às demais.”
7.2.4 Presunção de constitucionalidade: normas nascem sob o pressuposto de constitucionalidade. Leis que não ataquem o texto constitucional (não atentam contra os princípios e regras constitucionais, seguem um rito específico).
“O Princípio da Presunção de Constitucionalidade baseia-se na eficácia do controle preventivo e pugna pelo entendimento de que toda espécie normativa nasce de acordo com a Constituição e, como tal, deve ser preservada. Definir constitucionalidade, portanto, parece simples, ou seja, tudo aquilo que emerge no ordenamento jurídico ordinário é presumidamente constitucional.”
“O princípio da presunção de constitucionalidade possui duas regras, a primeira reporta que não sendo evidente a inconstitucionalidade, deve o órgão competente abster-se da declaração de inconstitucionalidade; a segunda, havendo interpretação possível que permita afirmar-se a compatibilidade da norma com a Constituição, deve-se optar pela interpretação legitimadora, mantendo o preceito em vigor.”
7.2.5 Interpretação conforme: tem vinculação direta com os dois anteriores. Sempre que houver espaço aberto para ampliar ou restringir, a norma pode ou não ser declarada inconstitucional, devendo-se dar prevalência à interpretação conforme, ou seja, a que a considera constitucional (conforme a constituição). A interpretação restritiva é uma exceção na exegese constitucional e ela não é possível quando se referir: às normas de competência, estruturação de órgãos e cerceamento do exercício de direitos.
“O princípio da interpretação conforme a Constituição impõe que no caso de normas polissêmicas ou plurisignificativas (que admitem mais de uma interpretação) deve dar-se preferência à interpretação que lhe dê um sentido em conformidade com a Constituição. Esse princípio, corolário dos princípios da supremacia da constituição e da presunção de constitucionalidade das leis, impõe que:
a) dentre as várias possibilidades de interpretação, deve-se escolher a que não seja contrária ao texto da Constituição;
b) a regra seja a não declaração da inconstitucionalidade das leis, mas sim a conservação das leis: uma lei não deve ser declarada inconstitucional quando ela puder ser interpretada em conformidade com a constituição.”
“A interpretação conforme a Constituição estabelece ao aplicador de determinado texto legal que, quando se encontrar frente a normas de caráter polissêmico ou plurissignificativo, deve priorizar a interpretação que possua um sentido em conformidade com a Constituição. Assim, existindo duas ou mais interpretações possíveis de uma norma, deve-se sempre adotar aquela interpretação que esteja em conformidade com o texto constitucional. Assim, se uma lei possuir duas interpretações, uma em conformidade com a Constituição e outra desconforme, não poderá ela ser declarada nula quando puder ser interpretada em consonância com o texto constitucional.”
7.2.6 Máxima efetividade social: a constituição deve ter aplicabilidade; interpretação deve visar a implementação do documento constitucional (Carl Schmitt).
“O princípio da máxima efetividade, também denominado de princípio da interpretação efetiva, orienta o intérprete a atribuir às normas constitucionais o sentido que maior efetividade lhe dê, visando otimizar ou maximizar a norma para dela extrair todas as suas potencialidades. Embora seja um princípio aplicável à interpretação de todas as normas constitucionais, atualmente tem incidência maior no âmbito dos direitos fundamentais, onde é freqüentemente invocado.”
7.2.7 Força normativa: (Konrad Hess) Produz realidade. É condicionada e também condiciona a realidade.
“Na interpretação constitucional, deve dar-se prevalência aos pontos de vista que, tendo em conta os pressupostos da constituição (normativa), contribuem para uma eficácia ótima da Lei Fundamental. O intérprete deve valorizar as soluções que possibilitam a atualização normativa, a eficácia e permanência da constituição.”
7.2.8 Concordância prática: não deve haver dicotomia entre a realidade social e o texto constitucional (Friedrich Müller)
“O princípio da concordância prática ou da harmonização, como consectário lógico do princípio da unidade constitucional, é comumente utilizado para resolver problemas referentes à colisão de direitos fundamentais. De acordo com esse princípio, os direitos fundamentais e valores constitucionais deverão ser harmonizados, [...] por meio de juízo de ponderação que vise preservar e concretizar ao máximo os direitos e bens constitucionais protegidos. [...] a concordância prática pode ser enunciada da seguinte maneira: havendo colisão entre valores constitucionais (normas jurídicas de hierarquia constitucional), o que se deve buscar é a otimização entre os direitos e valores em jogo, no estabelecimento de uma concordância prática, que deve resultar numa ordenação proporcional dos direitos fundamentais e/ou valores fundamentais em colisão, ou seja, busca-se o melhor equilíbrio possível entre os princípios colidentes.”
7.2.9 Razoabilidade: ponderação, bom-senso, equilíbrio, razão. O intérprete precisa provar racionalmente os fundamentos da sua decisão.
“[...] exige que as mediadas estatais sejam racionalmente aceitáveis e não arbitrárias [...]”
“Três vertentes da razoabilidade: a primeira pressupõe que ‘a razoabilidade exige a harmonização da norma geral com o caso individual’ (deve-se considerar o que normalmente acontece bem como aspectos individuais do caso). A segunda vertente ‘exige a harmonização das normas com suas condições externas de aplicação’ (por força deste significado, deve haver um suporte empírico para a medida adotada e uma relação de congruência entre o critério de diferenciação escolhido e a medida adotada). A terceira ‘exige uma relação de equivalência entre a medida adotada e o critério que a dimensiona’.”
7.2.10 Proporcionalidade: (origem nos Tribunais Constitucionais, Alemão e Francês). Entre o meio adotado e o fim alcançado: pertinência ou adequação. No direito constitucional, atua nas questões dos direitos fundamentais: meio deve proporcionar mais vantagens que desvantagens para o cidadão.
“[...] surgiu com a finalidade de impedir restrições desproporcionais aos direitos fundamentais, seja por atos administrativos, seja por atos legislativos. Este princípio demonstra aquela observação sobre a delimitação do alcance das regras jurídicas positivadas no período do pós-positivismo, ou seja, não basta que a lei tenha sido feita conforme os procedimentos previstos, a lei, além de seu conteúdo formal deverá ser também proporcional, adequada, ou seja, a restrição aos direitos fundamentais deve ser adequada ao padrão de justiça social.”
Gilmar Ferreira Mendes: “Os meios utilizados pelo legislador devem ser adequados e exigíveis à consecução dos fins visados. O meio é adequado se, com a sua utilização, o evento pretendido pode ser alcançado; é exigível se o legislador não dispõe de outro meio eficaz, menos restritivo aos direitos fundamentais.”
7.2.11 Proibição de retrocesso social: (vinculação ao Tribunal Constitucional Portu-guês – Constituição de 1976 – ideal socializante). Não pode haver retrocesso nas garantias que já se tenham dado.
“[...] tem por escopo a vedação da supressão ou da redução de direitos fundamentais sociais, em níveis já alcançados e garantidos aos brasileiros.
O princípio possui conteúdos positivo e negativo. O conteúdo positivo encontra-se no dever de o legislador manter-se no propósito de ampliar, progressivamente e de acordo com as condições fáticas e jurídicas (incluindo as orçamentárias), o grau de concretização dos direitos fundamentais sociais. Não
se trata de mera manutenção do status quo, mas de imposição da obrigação de avanço social.
O conteúdo negativo – subjacente a qualquer princípio – que, no caso, prevalece sobre o positivo, refere-se à imposição ao legislador de, ao elaborar os atos normativos, respeitar a não-supressão ou a não-redução, pelo menos de modo desproporcional ou irrazoável, do grau de densidade normativa que os direitos fundamentais sociais já tenham alcançado por meio da legislação infraconstitucional, isto é, por meio da legislação concretizadora dos direitos fundamentais sociais insertos na Constituição.
Afirma-se, com efeito, que o princípio da proibição de retrocesso social é um princípio constitucional, com caráter retrospectivo, na medida em que tem por escopo a preservação de um estado de coisas já conquistado contra a sua restrição ou supressão arbitrárias.”
7.2.12 Solidariedade social: (art. 194 – “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.”). P.S. Contribuições solidárias distributivas: previdência, saúde, etc. Responsabilidade de todos pelo passivo social.
“A solidariedade social se aproxima do conceito de justiça distributiva que visa promover a redistribuição igualitária dos direitos, dos deveres, das vantagens e da riqueza aos membros que compõem a sociedade.
Cientificamente, solidariedade é técnica imposta pelo custeio e exigência do cálculo atuarial, não sendo uma instituição típica da Previdência Social. Principiologicamente, quer dizer união de pessoas em grupos, universalmente consideradas, contribuindo para a sustentação econômica de indivíduos em sociedade que, por sua vez, em dado momento também contribuirão para a manutenção de outras pessoas, e assim sucessivamente [art. 195/CF]. É a solidariedade que permite e justifica, por exemplo, uma pessoa poder aposentar-se no Regime Geral por invalidez com apenas doze contribuições mensais ou tão logo comece a trabalhar, no caso de invalidez decorrente de atividade relativa ao trabalho, vez que todos os indivíduos incluídos no sistema financiarão este benefício.”
[CF – Art. 195. “A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:”]
7.2.13 Poderes implícitos: Origem: criação do Banco Federal EUA, baseado no poder que lhe foi dado para emitir moeda => Suprema Corte. São os poderes necessários para o exercício da competência expressa no texto constitucional. Ex. Se compete à União legislar sobre nacionalidade, é certo e lógico que lhe compete baixar o “estatuto do estrangeiro”. “Poderes que derivam do exercício da competência expressa.” Diretamente relacionado com a forma de estado adotada no Brasil (federação).
“[...] poderes implícitos, que são decorrentes do Estado de Direito, e da totalidade do sistema constitucional.”
“[...] Teoria dos Poderes Implícitos criada pela Suprema Corte, quando julgou o case MacCulloch vs. Marland, constituindo então, ‘princípio jurídico dos mais comezinhos’, ou, regra elementar da hermenêutica constitucional de ‘aplicação corrente no direito constitucional pátrio, segundo a qual quando o constituinte concede a determinado órgão ou instituição uma função (atividade-fim), implicitamente estará concedendo-lhe os meios necessários ao atingimento do seu desiderato, sob pena de ser frustrado o exercício do múnus constitucional que lhe foi cometido’.”
“Na aplicação da teoria dos poderes implícitos devem ser observadas as seguintes regras, conforme ensinamentos de Carlos Maximiliano, que se baseou na doutrina Americana: a) Onde se mencionam os meios para o exercício de um poder outorgado, não será lícito implicitamente admitir novos ou diferentes meios, sob o pretexto de serem mais eficazes ou conveniente; b) Onde um poder é conferido em termos gerais, interpreta-se como estendendo-se de acordo com os mesmos termos, salvo se alguma clara restrição for dedutível do próprio contesto, por se achar ali expressa ou implícita.”
7.2.14 Subsidiariedade: idéia de complementaridade. Nasce a partir das Encíclicas Papais do Século XIX e ressurge, principalmente, na formação da União Européia. Pressupõe conferir às pequenas localidades, aos micro-sistemas (locais, menores) a possibilidade de atuação direta quando a sua resposta for a mais adequada (pressupõe competência deste).
“Invoca-se o princípio da subsidiariedade como critério de distribuição de competências entre as pessoas, os grupos sociais e o Estado, a quem é atribuída uma missão subsidiária, cujo propósito primordial é encorajar, estimular, coordenar e, em último caso substituir a ação das pessoas e dos grupos.
[...] como pressuposto de existência do princípio da subsidiariedade, a liberdade, a iniciativa e a responsabilidade dos indivíduos e dos grupos no exercício de seus direitos e obrigações. Esse princípio tenta estabelecer uma relação equilibrada entre o poder público (o Estado) e os cidadãos, visando ao atendimento das demandas sociais de modo mais eficiente, observando sempre os valores e vontades da pessoa humana.”
8 HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL (Direta relação interpretação constitucional)
8.1 A interpretação constitucional deve levar em conta 3 fenômenos interpostos:
a) é uma obra de um poder diferenciado (Poder Constituinte Originário);
b) emana status (de lei) diferenciado: supremacia constitucional (é rígida, escrita e sujeita o controle de constitucionalidade);
c) possibilidade de se ter constituições econômicas (cunhada pelo direito econômico – Prof. Washington Albino – UFMG; P.S. repositório dos princípios fundamentais da organização econômica). Fenômeno do Welfare States. Constituições com conteúdo econômico e social (Estado regulador). Normalmente de conteúdo programático. “Teoria da Reserva do Possível” = possibilidade do STF limitar questões de políticas públicas (parametrizar) = O poder público vai até onde é possível.
A teoria da reserva do possível, portanto, tal qual sua origem, não se refere direta e unicamente à existência de recursos materiais suficientes para a concretização do direito social, mas à razoabilidade da pretensão deduzida com vistas a sua efetivação. Entretanto, a interpretação e transposição que se fez de tal teoria, especialmente em solo pátrio, fez dela uma teoria da reserva do financeiramente possível, na medida em que se considerou como limite absoluto à efetivação de direitos fundamentais sociais (i) a suficiência de recursos públicos e (ii) a previsão orçamentária da respectiva despesa.
Nessa perspectiva, segundo entendimento de alguns, a teoria da reserva do possível passou a ocupar o lugar que antes era ocupado pela teoria das normas programáticas, pela separação de poderes e pela discricionariedade administrativa, no sentido de que, se antes se entendia pela impossibilidade jurídica de intervenção do Poder Judiciário na efetivação de direitos fundamentais, agora se entende pela ausência de previsão orçamentária. Como assinalou Ana Paula BARCELLOS, “na ausência de um estudo mais aprofundado, a reserva do possível funcionou muitas vezes como o
mote mágico, porque assustador e desconhecido, que impedia qualquer avanço na sindicabilidade dos direitos sociais”.
Atualmente, especialmente em decorrência de posicionamento forte da jurisprudência, a teoria da reserva do financeiramente possível tem sido afastada como panacéia apta a afastar a obrigatoriedade de efetivação dos direitos fundamentais sociais pelo Estado. É que as decisões têm exigido não a mera alegação de inexistência de recursos, mas a comprovação de ausência de recursos, também denominada exaustão orçamentária. Nesse sentido, paradigmática foi a seguinte decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal: 
“(...) É que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – além de caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de concretização – depende, em grande medida, de um inescapável vínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir, considerada a limitação material referida, a imediata efetivação do comando fundado no texto da Carta Política.
Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em tal hipótese – mediante indevida manipulação de sua atividade financeira e/ou político-administrativa – criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condições materiais mínimas de existência. Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da “reserva do possível” – ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível – não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. (...)”.
A reserva do possível traduzida como insuficiência de recursos, também denominada reserva do financeiramente possível, portanto, tem aptidão de afastar a intervenção do Poder Judiciário na efetivação de direitos fundamentais apenas na hipótese de comprovação de ausência de recursos orçamentários suficientes para tanto. Tal viés da teoria da reserva do possível é importante e deve ser entendido com o objetivo de vincular o direito à economia, no sentido de que as necessidades – mesmo aquelas relacionadas aos direitos sociais – são ilimitadas e os recursos são escassos.
Esse postulado, fundamento da ciência econômica, deve ser levado em conta tanto na definição das políticas públicas quanto na decisão judicial no caso concreto. Entretanto, nesta última hipótese, a insuficiência de recursos deve ser comprovada. A situação não é de fácil concreção prática e tende a ocorrer, sobretudo, no âmbito municipal em questões que envolvam a construção de obras públicas. Tal hipótese já foi objeto de análise pelo Superior Tribunal de Justiça: 
“(...) Requer o Ministério Público do Estado do Paraná, autor da ação civil pública, seja determinado ao Município de Cambará/PR que destine um imóvel para a instalação de um abrigo para menores carentes, com recursos materiais e humanos essenciais, e elabore programas de proteção às crianças e aos adolescentes em regime de abrigo. (...)
Ainda que assim não fosse, entendeu a Corte de origem que o Município recorrido "demonstrou não ter, no momento, condições para efetivar a obra pretendida, sem prejudicar as demais atividades do Município". No mesmo sentido, o r. Juízo de primeiro grau asseverou que "a Prefeitura já destina parte considerável de sua verba orçamentária aos menores carentes, não tendo condições de ampliar essa ajuda, que, diga-se de passagem, é sua atribuição e está sendo cumprida". (...)”.
De outro lado, como acima assinalado, a teoria da reserva do possível também tem sido interpretada como limitação à efetivação de direitos fundamentais sociais em face da incapacidade jurídica do Estado em dispor de recursos para a efetivação do direito. Inexistindo previsão orçamentária específica, estaria obstruída a intervenção do Poder Judiciário na efetivação de direitos sociais. Tal entendimento, como já denunciado acima, aproxima-se e funde-se com aquele segundo o qual, em face da separação de poderes, seria vedado ao Poder Judiciário, interferir na definição de políticas públicas. A questão foi analisada no item anterior e a jurisprudência tem se demonstrado firme em defenestrar tal argumento.
Nesse sentido, a jurisprudência firmou entendimento acerca da possibilidade de bloqueio de recursos públicos em face do descumprimento de ordem judicial anterior determinando o fornecimento de medicamentos. A decisão, adiante colacionada, confirma o descabimento da alegação de impossibilidade jurídica para a efetivação de direitos sociais fundamentais, no caso o direito à saúde. 
“(...)1. A hipótese dos autos cuida da possibilidade de bloqueio de verbas públicas do Estado do Rio Grande do Sul, pelo não-cumprimento da obrigação de fornecer medicamentos a pessoa portadora de doença grave, como meio coercitivo para impor o cumprimento de medida antecipatória ou de sentença definitiva da obrigação de fazer ou de entregar coisa. (arts. 461 e 461-A do CPC).
2. A negativa de fornecimento de um medicamento de uso imprescindível, cuja ausência gera risco à vida ou grave risco à saúde, é ato que, per si, viola a Constituição Federal, pois a vida e a saúde são bens jurídicos constitucionalmente tutelados em primeiro plano.
3. A decisão que determina o fornecimento de medicamento não está sujeita ao mérito administrativo, ou seja, conveniência e oportunidade de execução de gastos públicos, mas de verdadeira observância da legalidade.
4. O bloqueio da conta bancária da Fazenda Pública possui características semelhantes ao seqüestro e encontra respaldo no art. 461, § 5º, do CPC, posto tratar-se não de norma taxativa, mas exemplificativa, autorizando o juiz de ofício ou a requerimento da parte a determinar as medidas assecuratórias para o cumprimento da tutela específica. (...)”.
Colocadas nos devidos termos, as interpretações acima comentadas, a teoria da reserva do possível, tal qual adotada na decisão paradigma do Numerus Clausus, deve ser entendida sob o prisma da razoabilidade da reivindicação de efetivação de determinado direito social. Isso significa que pretensões deduzidas perante o Poder Judiciário deverão ser analisadas mediante a ponderação de bens, com base no critério da proporcionalidade.
- Hermenêutica: é a ciência que pressupõe a elaboração, a sistematização e o estudo das técnicas, das regras e princípios da interpretação no direito.
- Interpretação: realização da atividade prevista pela hermenêutica. Interpretar é extrair o sentido da norma.
- Integração: é o fenômeno que pressupõe cobrir as lacunas da lei; dá-se por princípios gerais, costumes e analogia.
- Na interpretação constitucional todos os métodos devem ser utilizados, ou seja, eles não se excluem reciprocamente.
- A interpretação pode ser gramatical, sistêmica, teleológica e tópica (todas ao mesmo tempo em face à pluralidade).
- Carlos Maximiano: toda norma deve ser interpretada.
8.2	Na interpretação constitucional tem-se como auxiliares (socorre-se de) todos os métodos do direito, mas tem que se considerar o seguinte:
a) a constituição se funda nela mesma; é fonte de si mesma;
b) alto teor de politicidade das normas constitucionais; a constituição deve ser o poder pela lei;
c) a constituição sempre é um conjunto de normas com diretrizes e abordagens diferentes; apesar disso, deve ter a idéia de um todo;
d) a constituição reflete a estrutura do Estado, por isso, não se pode trabalhar apenas com suas perspectivas; precisam levar em conta também as esquemáticas e as programáticas (normas mediatas, não auto-aplicáveis, ou seja, de aplicação diferida que envolve
programa para seu cumprimento com maior espaço à discricionariedade). Burocracia democrática (organização administrativa) é necessária;
e) atualmente há, nas constituições, espaço muito grande para o reconhecimento (afirmação) de uma ideologia. Aí está o grande papel reservado aos grupos de pressão e aos partidos políticos (fidelidade partidária).
- Métodos, técnicas, processos e regras da hermenêutica constitucional: levam à racionalidade (auxiliam) do intérprete na construção da decisão.
8.3	Classificação da interpretação constitucional:
8.3.1 quanto à fonte, sujeitos e agentes, será: autêntica, judicial (ou judiciária), doutrinária e administrativa.
a) AUTÊNTICA: realizada pelo próprio legislador (maior parte dos doutrinadores assim entende). Quando o legislador atua na produção da norma infraconstitucional, estaria suplementando o texto constitucional (desenvolvendo o conteúdo da norma). P.S. Para Sawigny não é interpretação e, sim, criação.
b) JUDICIAL: realizada pelo juiz (tribunal). No Brasil, o agente direto dessa interpretação é o Supremo Tribunal Federal (STF), que é o guardião da constituição. Hoje, é a grande fonte de interpretação constitucional, inclusive na obra do Poder Constituinte Derivado; entretanto, nunca do Poder Constituinte Originário (a não ser sobre a prevalência de princípios).
c) DOUTRINÁRIA ou CIENTÍFICA: por intermédio de pareceres, das obras, dos artigos, dos livros dos juristas (produção acadêmica). Realça o papel da academia, na medida em que é na academia que se produz o conhecimento neutral (imparcial, científico). Importante e de relevância, porque sustenta o conhecimento, às vezes, até mesmo o do próprio juiz (da decisão judicial).
d) ADMINISTRATIVA: acontece na aplicação da lei na esfera do Poder Executivo.
8.3.2 quanto às técnicas de interpretação: 3 momentos => clássico, moderno e pós-moderno.
a) CLÁSSICO: todos os seus fundamentos estão vinculados ao direito privado. Final do Século XIX e o referencial é Sawigny. Visão de sociedade de mercado (pleno desenvolvimento do homem na arena do mercado). Ainda é forte no direito civil. Há quatro métodos clássicos:
1)	Gramatical (ou verbal ou semântico ou filológico ou léxico ou literal): Leva em consideração a “letra da norma”. O intérprete fica adstrito ao sentido literal das palavras. P.S. Requer relativo cuidado, principalmente ante as dimensões territoriais do Brasil, porque o significado das palavras pode variar de um local para outro (regionalismo) => conotação. 
2)	Lógico-racional: pede a utilização da lógica, dos princípios gerais da lógica, ou seja, trabalha com raciocínios lógicos, onde se procura a mens legis (vontade da lei, espírito da lei) ou a ratio legis (razão da lei).
3)	Sistemático: deve-se buscar uma visão estrutural e sistemática da lei, ou seja, a lei não deve ser vista de forma isolada, mas sempre inserida em um sistema; neste caso, vincula-se a norma não só ao código e, sim, a todo sistema do direito (não-sectária).
4)	Histórico: requer do intérprete uma pesquisa histórica vinculada ao momento do nascimento da norma. Devem ser levados em conta condicionantes econômicos, culturais, políticos, etc.. Para alguns autores este método é tão importante que, em casos de dúvidas atuais, deve-se pensar como os “pais” da norma pensaram (tese originária do Direito Norte-americano). O porquê do nascimento da lei precisa ser compreendido. Anais Legislativo (registros em arquivo do Congresso).
b) MODERNOS: Nasceram vinculados aos paradigmas do “Welfare States” (Estado Social). Parte-se da análise de que a tarefa do intérprete é um pouco mais densa (complexa). Início do Século XX (década de 20). Coincide com o nascimento da Teoria da Constituição. Emergente sociedade de massas, mais complexo que o século XIX, pois a sociedade é mais plural. Há três métodos modernos:
1)	Lógico-sistemático: a idéia é considerar os princípios de raciocínio lógico e também que a constituição está inserida em um sistema (sua visão é estrutural).
2)	Histórico-teleológico: idéia de que a interpretação pede uma visão histórica da norma (seu momento nascedouro e idéias que a fundamentam) como base da argumentação, conjugando isso com a idéia de finalidade da norma (seu fim). Busca a “ratio iuris” (razão do Direito).
3)	Voluntarista: associado à Teoria Pura do Direito (Kelseniana); o ato de interpretação é visto não só como ato cognoscitivo de direito, mas também como um ato de vontade; interpretar envolve não só a teoria do conhecimento, o domínio de uma perspectiva, mas também um ato de eleição de vontade; ao interpretar, o domínio do conhecimento nos apresenta várias possibilidades e a eleição de uma delas se dará por um exercício de vontade (idéia de moldura: a decisão é fruto de uma escolha voluntarista).
c) PÓS-MODERNOS: novas formas de ver a constituição. Preocupação com o pluralismo; vinculação da lei ao caso concreto; viés republicano (cidadão participativo); possuem uma matriz alemã (a última com contribuição dos EUA); discussão da dogmática alemã. Há três métodos pós-modernos:
1) Integrativo (ou científico espiritual): (tem como referencial Rudolf Smend). A constituição deve ser vista muito mais como uma forma vital dos cidadãos participarem na vida do Estado, muito menos como estatuto organizatório. Tenta-se preservar o espírito (o sentimento) de constituição e assim se deve conjugar a constituição SEMPRE com a concretude (realidade) da vida, ainda que se procurem, para respaldar a interpretação, fundamentos em elementos meta jurídicos (ainda que se ultrapasse o texto constitucional).
O método integrativo ou científico-espiritual foi desenvolvido por juristas alemães, capitaneado por Rudolf Smend, que assinala:
"La Constitución no puede ser comprendida sólo como un estatuto de la organización, que estructura el Estado y que faculta e impone ciertas actividades al mismo, sino a la vez, como una forma victal de los ciudadanos que participan en la vida del Estado."
Na doutrina de Rudolf Smend, a base de valoração, vale dizer, os valores expressos e tutelados pela Constituição (econômicos, sociais, políticos e culturais) operam como valores de interpretação coletivos dos cidadãos e, destarte, devem ser compreendidos e aplicados.
Como acentua Paulo Bonavides:
"A concepção de Smend é precursoramente sistêmica e espiritualista: vê na Constituição um conjunto de distintos fatores integrativos com distintos graus de legitimidade. Esses fatores são a parte fundamental do sistema, tanto quanto o território é a sua parte mais concreta."
Adiante, aduz o ilustre professor cearense:
"O intérprete constitucional deve prender-se sempre à realidade da vida, à "concretude" da existência, compreendida esta sobretudo pelo que tem de espiritual, enquanto processo unitário e renovador da própria realidade, submetida à lei de sua integração."
2) Tópico: (tem como referencial Josef Esser). Matriz alemã e inspiração grega (idéia dos argumentos “topoyca”, a partir dos quais se constrói a linguagem). Idéia de partir do problema para a dedução. De certa forma a tópica enfrenta a lógica {(formal) (na lógica partem-se das premissas para a conclusão)} ao questionar o valor das premissas. No método tópico escolhem-se as melhores premissas para solução adequada e correta ao caso. Este método vê a constituição de forma aberta e fragmentada e permite, também, alcançar fundamentos além da constituição. Do caso concreto parte-se para as premissas. Cada caso concreto constrói o seu precedente.
Por sua vez, o método tópico foi desenvolvido pelos juristas alemães Theodor Viehweg e Josef Esser. A primeira obra sobre o assunto, denominada "Tópica e Jurisprudência", de autoria de Viehweg, foi publicada em 1953.
O método tópico caracteriza-se como uma "arte de invenção" e, como tal, uma "técnica de pensar o problema", elegendo-se o critério ou os critérios recomendáveis para uma solução adequada.
Referindo-se ao método tópico, Paulo Bonavides faz a seguinte ponderação:
"Da tópica clássica, concebida como uma simples técnica de argumentação, a corrente restauradora, encabeçada por aquele jurista de Mogúncia, compôs um método fecundo de tratar e conhecer o problema por via do debate e da descoberta de argumentos ou formas de argumentação que possam, de maneira relevante e persuasiva, contribuir para solucioná-lo satisfatoriamente".
A principal crítica feita ao método tópico é a de que "além de poder conduzir a um casuísmo sem limites, a interpretação não deve partir do problema para a norma, mas desta para os problemas." Com a tópica, a norma e o sistema perdem o primado: são rebaixados à condição de meros pontos de vista ou "tópoi", cedendo lugar à hegemonia do problema.
3) Concretista: (tem como referencial Friedrich Müller, Peter Häberle e Konrad Hesse). Também parte do problema; igual à tópica enfrenta a lógica. Mas, ...... tem uma preocupação de não permitir hiato entre a constituição formal e a constituição real, ou seja, para o concretista há um limite na problematização que é o texto constitucional. Parte-se do caso concreto para formular as premissas, mas sem ir além do texto constitucional. A constituição é um limite inilimitável.
Finalmente, o método concretista foi desenvolvido por três juristas alemães Konrad Hesse, Friedrich Müller e Peter Häberle. Cada um deles ofereceu valiosos contributos para o desenvolvimento desse método.
O método concretista gravita em torno de três elementos essenciais: a norma que vai concretizar, a compreensão prévia do intérprete e o problema concreto a solucionar.
Como salienta Paulo Bonavides:
"Os intérpretes concretistas têm da Constituição normativa uma concepção diferente daquela esposada pelos adeptos de outros métodos, porquanto não consideram a Constituição um sistema hierárquico-axiológico, como os partidários da interpretação integrativa ou científico-espiritual, nem como um sistema lógico-sistemático, como os positivistas mais modernos. Ao contrário, rejeitam o emprego da idéia de sistema e unidade da Constituição normativa, aplicando um "procedimento tópico" de interpretação, que busca orientações, pontos de vista ou critérios-chaves, adotados consoante a norma e o problema a ser objeto de concretização. É uma espécie de metodologia positivista, de teor empírico e casuístico, que aplica as categorias constitucionais à solução direta dos problemas, sempre atenta a uma realidade concreta, impossível de conter-se em formalismos meramente abstratos ou explicar-se pela fundamentação lógica e clássica dos silogismos jurídicos”
- Hermenêutica: palavra de origem grega
- Hermos: aquele que ouvia os deuses e traduzia a mensagem para os homens. Era mensageiro e intérprete (o que tem o dom da palavra).
- Interpretação: sentido interessante => inter-partes (dentro das partes). Ex.: vísceras dos animais interpretando miticamente os fenômenos da natureza (colheita boa, etc.)
- Aristóteles: 1º precursor, na idéia de tentativa de ver como se entendiam as palavras. Defendia a construção de palavras de forma lógica (silogismo: retórica linear). Raciocínio lógico para se extrair a verdade.
- Cícero: pode-se construir a verdade a partir dos argumentos (pressupostos), pode-se extrair da linguagem a verdade. TOPOYCA romana. Hoje, está próximo a isto o concretismo. Trabalha-se com os casos específicos e se extrai a verdade ou a constrói (método indutivo).
- Queda de Constantinopla: perda de referência do Direito Romano para os bárbaros (nômades que se tornaram fixos). Constantino se converte ao cristianismo. Direito Canônico. Idade Média foi campo fértil da privacidade (tornou-se fonte de poder). Figuras do tabelião e do notário surgem nessa época, para dar segurança jurídica. Latim como língua oficial e fonte de produção de conhecimento sectário (não acessível a todos). P.S. Forma de domínio da Igreja, pois só ela poderia traduzir a vontade de Deus. Foi fomentada pela possibilidade da Guerra e, por elas, as definições das fronteiras (definição dos territórios).
- Cruzadas: guerreiros de uma fé. Catequizar pelas cruzadas. Emissários produtores de conhecimento: mosteiros. Pelas cruzadas, descobrem-se o Codis e os escritos de Aristóteles, que são levados para os Mosteiros. Cria-se a Universidade de Bolonha, para onde se levam esses documentos. Depois, a Universidade de Paris (desponta o aluno São Tomaz de Aquino), que relê Aristóteles. 
- Surgem os copistas (Glosadores), que traduzem as obras ao acesso público. Tradutores dos documentos primitivos do Estado Grego e do Estado Romano.
- Dinâmica do logo após: Estado laico (sendo construído pela possibilidade de jurisdição única) e reforma protestante. Estado é uma coisa e religião é outra. Há possibilidades de que o homem domine o conhecimento.
- Os sentidos são a base sensorial da ciência (Princípio Aristotélico do Movimento), que foi divinizado por Tomaz de Aquino.
- Lei Divina: de Deus;
- Lei Sagrada: corresponde à Igreja;
- Lei Natural: da natureza;
- Lei do Homem:
- O homem não tem acesso à Lei Divina, portanto, necessita da Lei Sagrada para compreender a Lei Divina.
- Filosofia do Ser (ou do objeto): para onde vou e de onde eu vim? Os sentidos nos enganam, logo, temos que duvidar de tudo. Duvidar é um ato de pensar. Quem sou?
- Filosofia do Conhecimento (princípio da ciência da demonstração): formas de pensar podem ser traduzidas racionalmente (cartesiano). Métodos de demonstração: estrutura da argumentação (criar conhecimento novo). A ação humana não só ocorre por ações racionais, pois os instintos também influenciam (Froide). Desmistifica a Teoria do Ser, por exemplo, a Física Quântica.
- Filosofia da Linguagem (Século XX): com as duas guerras, deu a idéia de finitude. Não há uma lei universal que encaixa em todos os casos concretos. A insegurança jurídica agora é real. A escolha do método aprimora o objeto. Talvez se não tivesse método prévio poder-se-ia ver a verdade mais claramente ou as suas diversas óticas. Noção plena de incertezas no Séc. XX, mas tudo depende de um contexto e da forma de encarar a linguagem (própria de agora: atualidade). A mesma coisa pode ser interpretada de forma diferente em contextos diferentes. Tudo é carregado de intersubjetividade, o que se garante hoje é o “devido processo” e não a decisão judicial e da qual se participa.
- P.S. Evolução da filosofia do ser, do conhecimento e da linguagem
9 PODER CONSTITUINTE
- Sua teorização está vinculada a postulados do Século XVIII, quando surgem as constituições escritas.
- Até o Século XVIII o poder constituinte não era identificado; era anônimo, invisível, pois se trabalhava com o direito consuetudinário, costumeiro.
- No Século XVIII identifica-se uma mudança nas bases da legitimidade do poder (do poder dos déspotas ao poder do povo, da nação). Criou-se, a partir desse século, a necessidade de os documentos constitucionais conterem aprovação popular ou através das assembléias constituintes ou através dos referendos constitucionais (constituição elaborada pelo monarca e aprovada – referendada – pelo povo (Ex.: Napoleão Bonaparte).
9.1 Manoel de Sieyes idealiza e elabora a idéia da constituinte burguesa, que é o 3º Estado (a idéia de representatividade de Sieyes é um dos marcos da democracia)
- Democracia direta (3º Estado): a que utiliza os representantes do povo. É considerado (Sieyes) o teórico do Estado: criou a idéia de que todo poder vem do povo e defendeu a idéia de soberania nacional (esta precede a idéia de soberania popular); entretanto vinga a idéia de Rousseau neste ponto. Os marcos são a Constituição Norte-americana (1787) e a Francesa (1791) logo após a revolução. Adotam princípios de representatividade e de Soberania Nacional: a Brasileira de 1824 e a Argentina de 1853.
- Esse momento inicial do Poder Constituinte baseia-se na clássica distinção inicial entre Poder Constituinte e Poderes Constituídos:
a) Poder Constituinte: é aquele que prevê e elabora todos os poderes do Estado;
b) Poderes
Constituídos: só existem em razão da previsão feita pelo Poder Constituinte => Legislativo, Executivo e Judiciário.
- Poder Constituinte é supremo, absoluto e originário e muito se discute a respeito da sua natureza jurídica.
- Quando se discute o Poder Constituinte, está-se discutindo as bases de legitimidade do poder.
9.2 Surgiram duas correntes: os jusnaturalistas e os positivistas.
- POSITIVISTAS: (PODER DE FATO) O Poder Constituinte é um poder de fato, sendo, pois, força e, como tal, se impondo. O nascimento do Estado implica em simples fato, portanto o Poder Constituinte que configura e que estabelece o Estado encarna simples poder de fato. Ainda para os positivistas, não há direito anterior ao Estado. O Estado nasce com uma constituição e essa inaugura o direito positivo. O direito se resume no direito POSTO pelo Estado. Por conseqüência, o Poder Constituinte PODE TUDO; não há limite fixado a ele, pois é o resultado de uma conjugação de forças.
- JUSNATURALISTAS: (PODER DE DIREITO) O Poder Constituinte não é um poder de fato, mas um poder de direito. Assim, o Poder Constituinte está vinculado a uma NOÇÃO JURÍDICA ANTERIOR ao Estado. Nessa corrente o direito não se resume ao direito positivo. Há uma noção jurídica que permeia toda a sociedade e que antecede o nascimento do Estado. Os jusnaturalistas advogam a tese de que o homem tem DIREITOS que são INERENTES a sua NATUREZA e esses direitos antecedem o Estado: vida, liberdade, segurança, igualdade (DIREITOS INATOS). P.S. A noção jurídica não é positivada, ela está nos costumes, etc. Nesse sentido, o Poder Constituinte é um poder de direito, porque está vinculado a uma noção jurídica, mesmo que não positivada. O Poder Constituinte vai concretizar os direitos inatos do ser humano na sua obra: a constituição.
9.3 Historicamente o Poder Constituinte teve vários titulares; ele conheceu titulares vinculados ao desenvolvimento da sociedade e esporadicamente tais titulares se alteraram. Há quatro momentos históricos quanto à titularidade do poder:
-	1º MOMENTO HISTÓRICO: foi o da divindade; para muitos a divindade é que emanava as normas de conduta do Estado; ela organizava o Estado, sem limite algum;
-	2º MOMENTO HISTÓRICO: a titularidade recai na figura do monarca, seja ele um déspota esclarecido, um monarca constitucional, um monarca absoluto, um monarca divinizado;
-	3º MOMENTO HISTÓRICO: o poder pertence à nação (ente abstrato, não corpóreo); não mais a uma pessoa e, sim, a um todo abstrato; é o momento da Soberania Nacional;
-	4º MOMENTO HISTÓRIO: o poder pertence ao povo (Soberania Popular). Pode-se dizer que a grande construção teórica do Século XVIII (tese) foi descansar (atribuir) a titularidade ao povo, pois assim limita-se o poder; mas, num segundo momento, da titularidade recair no povo é a premissa para a construção da democracia (solidificação), com a noção de igualdade.
-	Hoje, todos os Estados que se proclamam democráticos têm a titularidade do Poder Constituinte repousando no povo. O titular do Poder Constituinte (povo) é sempre permanente; ele não se exaure na obra do poder constituinte (a constituição), pois permanece enquanto ela for vigente (CF, art. 1º, Parágrafo único – Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Eis a teoria de Sieyes: representatividade).
-	O Exercício direto do poder pelo povo no Brasil se dá por plebiscito, referendum e iniciativa popular (CF, art. 14 – A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular.), mais outros vários institutos que alavancam a participação popular.
-	O povo, o titular, é permanente, seu agente, o representante, é transitório (age em nome do povo). Esse agente pode ser: junta militar, ditador, segmento da sociedade numa autocracia; entretanto, para ser democrático, será a Assembléia Nacional Constituinte, como o consolidador ou solidificador da democracia. Sua característica é ser eleito para o fim específico de elaborar uma constituição e, uma vez elaborada (realizada a sua obra), ela é dissolvida.
9.4 Distinções doutrinárias sobre Poder Constituinte
-	A par da crítica, é usual termos diferentes expressando formas de atuação do Poder Constituinte. Três tipos, pela doutrina, que, na prática, acabaram se legitimando como diferenciação:
a) PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO: (basicamente, tudo que foi falado até aqui o representa). Soberano, supremo, absoluto, constituir os Poderes Constituídos – são limites postos – tem como titular o povo. É o poder que emana a constituição, estabelecendo as bases para atuação de um novo Estado. Suas características são: inicial, autônomo e incondicionado.
-	Inicial: primeira manifestação de poder do Estado; começa (ou inicia) o Estado; não há poder anterior à sua manifestação;
-	Autônomo: não depende de outros poderes para existir; fundamenta-se nele mesmo; é no próprio Poder Constituinte que busca a sua fonte; ele se funda;
-	Incondicionado: não está preso (subordinado) a normas do direito positivo.
- O veículo natural do Poder Constituinte é a revolução (tese de George Burdeau), pois com ela se materializa a transformação da ordem jurídica anterior para o nascimento de uma ordem jurídica nova. (Não ruptura e, sim, transformação, que é comum no Direito Brasileiro). Por exemplo, a CF de 1988, sai do regime ditatorial para o democrático (modificação brutal na estrutura do poder vigente).
b) PODER CONSTITUINTE DERIVADO: (ou instituído ou de 2º grau ou constituído). É a possibilidade de alterar o texto constitucional. Esse Poder Constituinte Derivado só é visível em constituições escritas, rígidas e que se estabelecem através de uma forma. É oposição ao Poder Constituinte Originário, tendo, em relação a ele, 3 características opostas:
-	Secundário: resulta da primeira manifestação do Estado, se por ela previsto, ou seja, deriva do Poder Constituinte Originário;
-	Subordinado: à previsão do Poder Constituinte Originário.
-	Condicionado: às regras do direito positivo definidas pelo Poder Constituinte Originário ou por ele previstas. Se ele não tiver limites, não está em face desse poder e, sim, do Poder Constituinte Originário.
- Para Pontes de Miranda, a alteração do texto constitucional se dá ou por mutação constitucional ou por reforma constitucional.
- Mutação: é todo procedimento não-formal de alteração do texto constitucional. Ocorre nas constituições flexíveis (não escritas – costumes, etc.) ou na interpretação do texto constitucional.
- Reforma: todo procedimento formal de alteração do texto (letra) da constituição. Esta é a tradição brasileira. É um gênero que contém duas espécies: revisões e emendas (atuação do poder constituinte derivado, portanto tem limites).
- REVISÃO => pressupõe alteração em bloco, significativa, do texto, que envolve várias temáticas (exige foro maior para aprovação);
- EMENDA => pressupõe alteração pontual, específica, um assunto por vez (exige foro menor para aprovação).
- O Brasil adota as duas situações: 
a) Emendas, nos termos do art. 60 – A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. § 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.

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