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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/257541048 Degradação de corante empregado em indústria têxtil por processos eletroquimico e fotoquimico: avaliação d.... Thesis · December 2009 CITATIONS 0 READS 351 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Use of freshwater planarians in Ecotoxicological approaches View project Transformation and degradation of environmental contaminants View project Alyson Rogério Ribeiro University of Duisburg-Essen 9 PUBLICATIONS 16 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Alyson Rogério Ribeiro on 28 May 2014. The user has requested enhancement of the downloaded file. FACULDADE DE TECNOLOGIA - FT Degradação de corante empregado em indústria têxtil por processos eletroquimico e fotoquimico: avaliação da toxicidade utilizando Vibrio fischeri Alyson Rogério Ribeiro Limeira – SP Dezembro – 2009 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - UNICAMP ii Degradação de corante empregado em indústria têxtil por processos eletroquimico e fotoquimico: avaliação da toxicidade utilizando Vibrio fischeri Discente: Alyson Rogério Ribeiro Orientador: Prof. Dr. Peterson Bueno de Moraes Co-orientadora: Profa. Dra. Gisela de Aragão Umbuzeiro Trabalho de Graduação Interdisciplinar apresentado à Faculdade de Tecnologia da UNICAMP - como requisito de conclusão do Curso de Tecnologia em Saneamento Ambiental, Modalidade Controle Ambiental. Limeira – SP Dezembro – 2009 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE TECNOLOGIA Missão:Formar e aperfeiçoar cidadãos e prestar serviços atendendo às necessidades tecnológicas da sociedade com agilidade, dinâmica e qualidade. iii O Planeta Terra, na sua condição de tecido, deve ser incessantemente protegido por nós, seres humanos, na nossa condição de fio. Somente com a existência sadia e organizada de todas as suas fibras constituintes esta fantástica malha azul permanecerá adornando, por muito tempo, o negro Universo. Alyson Rogério Ribeiro iv AGRADECIMENTOS A Deus, por permitir a minha existência; A minha família, pelo carinho, amor incondicional e apoio em todos os momentos; Ao Serviço de Apoio ao Estudante (SAE-UNICAMP), pelos anos concedidos de bolsa trabalho, os quais foram fundamentais para a conclusão de minha graduação; Ao meu orientador Prof. Dr. Peterson B. de Morais e a minha co-orientadora Profa. Dra. Gisela A. Umbuzeiro, pela confiança em me auxiliar neste trabalho; Aos meus especiais amigos Pedro Ivo, Vivian Zanchetta e Marya Anne pela paciência e pelos momentos de alegria proporcionados durante a realização deste projeto; Aos colegas Mariana Artal, Leonardo Rey e Lidiane Nobre, pela realização e grande auxílio em alguns dos ensaios de toxicidade; Aos meus colegas do laboratório de tratamento de efluente, pelo companheirismo; Aos companheiros Ádria, Gilberto, Geraldo, Josiane e Anjaína, amigos e funcionários dos laboratórios de saneamento; A todos os demais companheiros e colegas de curso e da faculdade; A DyStar pelo fornecimento do corante; A DeNora do Brasil pelo fornecimento do eletrodo de titânio; e A Ubiotech pelo fornecimento de material para os testes de toxicidade aguda. v Dedico a minha família e a todos os meus amigos. vi SUMÁRIO ÍNDICE ..................................................................................................................VII LISTA DE FIGURAS ..............................................................................................IX LISTA DE TABELAS .............................................................................................XI RESUMO...............................................................................................................XII 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................1 2. OBJETIVO ..........................................................................................................3 3. REVISÃO DA LITERATURA ..............................................................................4 4. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................24 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................31 6. CONCLUSÕES .................................................................................................47 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................48 ANEXO I...............................................................................................................53 ANEXO II...............................................................................................................56 vii ÍNDICE ÍNDICE ..................................................................................................................VII LISTA DE FIGURAS ..............................................................................................IX LISTA DE TABELAS .............................................................................................XI RESUMO...............................................................................................................XII 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................1 2. OBJETIVO ..........................................................................................................3 3. REVISÃO DA LITERATURA ..............................................................................4 3.1. PROCESSOS INDUSTRIAIS TÊXTEIS E O CONSUMO DE ÁGUA..................................4 3.2 USO DE SAIS NAS INDÚSTRIAS TÊXTEIS ...............................................................7 3.2.1 Origem dos sais nos efluentes ................................................................7 3.2.2 Uso de sais em processos de tingimento ................................................8 3.3 – TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS............................................................9 3.4 – OS PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS ......................................................11 3.5 - A FOTOQUÍMICA ...........................................................................................13 3.5.1 - Fotólise e radiação ultravioleta (UV) ...................................................14 3.6 - A TECNOLOGIA ELETROQUÍMICA APLICADA AO MEIO AMBIENTE..........................15 3.6.1 – Tratamento eletroquímico de efluentes ..............................................16 3.7. CORANTES TÊXTEIS .......................................................................................18 3.7.1 – Corantes reativos: o corante Remazol Azul Brilhante ........................19 3.8. TRATAMENTOS FOTOQUÍMICOS E ELETROQUÍMICOS APLICADOS A EFLUENTES TÊXTEIS ...............................................................................................................20 3.9 ENSAIOS DE TOXICIDADE AGUDA UTILIZANDO A BACTÉRIAMARINHA Vibrio fischerI22 4. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................24 4.1 SOLUÇÃO UTILIZADA NOS EXPERIMENTOS .........................................................24 4.2. SISTEMA UTILIZADO .......................................................................................24 4.2.1. Reator eletroquímico ............................................................................24 4.2.2. Reator fotoquímico ...............................................................................25 viii 4.3. PROCEDIMENTO ANALÍTICO.............................................................................26 4.4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL E METODOLOGIA DE TRATAMENTO DOS DADOS ..28 4.4.1 Procedimento experimental da primeira etapa ......................................29 4.4.2. Procedimento experimental da segunda etapa ....................................29 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................31 5.1 RESULTADOS DA PRIMEIRA ETAPA ....................................................................31 5.2 RESULTADOS DA SEGUNDA ETAPA....................................................................33 5.3 RESULTADOS DOS ESTUDOS ECOTOXICOLÓGICOS .............................................39 6. CONCLUSÕES .................................................................................................47 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................48 ANEXO I...............................................................................................................53 1. METODOLOGIA DOS TESTES DE TOXICIDADE AGUDA UTILIZANDO VIBRIO FISCHERI...53 1.1. Ensaio utilizando as cubetas do Kit MONITOX .......................................53 1.2. Ensaio utilizando a ampola com 1000 µL de bactéria liofilizada.............54 ANEXO II...............................................................................................................56 1. RESULTADO DO ENSAIO DE SENSIBILIDADE E VALORES DOS FATORES DE CORREÇÃO ...........................................................................................................................56 ix LISTA DE FIGURAS Figura 1: (a) e (b) foto dos eletrodos; (c) diagrama esquemático do reator eletroquímico. ........................................................................................................25 Figura 2: (a) Foto do sistema construído; (b) Reator fotoquímico. .......................26 Figura 3: Remoção percentual do corante em função do tempo de tratamento. Li, Lf e [NaCl]c representam, respectivamente, fotólise aplicada no início, fotólise aplicada no final dos experimentos e uso de sal iodado comercial. ......................31 Figura 4: Absorbância em função do comprimento de onda, experimento utilizando J = 125 mA.cm-2, [NaCl] = 0.1 M e fotólise no início do experimento. ...33 Figura 5: Remoção percentual do corante, em relação ao tempo de tratamento, obtida com os tratamentos testados. .....................................................................34 Figura 6: Variação da condutividade elétrica (µS.cm-1) durante os tratamentos realizados. .............................................................................................................35 Figura 7: Variação dos valores de pH das amostragens realizadas durante os tratamentos............................................................................................................36 Figura 8: Remoção percentual da demanda química de oxigênio, em função do tempo de tratamento..............................................................................................37 Figura 9: Curvas das varreduras do efluente simulado têxtil, submetidos a diferentes minutos de tratamento, contendo a concentração de 0,005 M de NaCl. ..............................................................................................................................38 Figura 10: Curvas das varreduras do efluente simulado têxtil, submetido a diferentes minutos de tratamento, contendo a concentração de 0,1 M de NaCl. ..39 Figura 11: Curva dose-resposta da inibição da luminescência da bactéria Vibrio fischeri exposta ao efluente simulado têxtil, contendo 0,005 M de NaCl, em diferentes minutos de tratamento. .........................................................................40 Figura 12: Curva dose-resposta da inibição da luminescência da bactéria Vibrio fischeri exposta ao efluente simulado têxtil, contendo 0,01 M de NaCl, em diferentes minutos de tratamento. .........................................................................41 x Figura 13: Curva dose resposta da inibição da luminescência da bactéria Vibrio fischeri exposta ao efluente simulado têxtil, contendo 0,025 M de NaCl, em diferentes minutos de tratamento. .........................................................................42 Figura 14: Curva dose resposta da inibição da luminescência da bactéria Vibrio fischeri exposta ao efluente simulado têxtil, contendo 0,05 M de NaCl, em diferentes minutos de tratamento. .........................................................................43 Figura 15: Curva dose resposta da inibição da luminescência da bactéria Vibrio fischeri exposta ao efluente simulado têxtil, contendo 0,1 M de NaCl, em diferentes minutos de tratamento. ..........................................................................................44 Figura 16: Curva dose resposta da inibição da luminescência da bactéria Vibrio fischeri exposta ao corante Remazol Azul Brilhante (Reactive Blue 19) ...............45 Figura 17: Curva dose resposta da inibição da luminescência da bactéria Vibrio fischeri exposta ao Sulfato de zinco (CI50 = 12 mg.L -1)..........................................56 xi LISTA DE TABELAS TABELA 1. Tipos de sais usados em operações têxteis.........................................7 TABELA 2. Tipo de sal descartado e o processo de origem...................................8 TABELA 3. Processos oxidativos avançados mais utilizados...............................12 TABELA 4. Classificação dos corantes têxteis .....................................................18 TABELA 5. Características do corante Remazol Azul Brilhante ...........................24 TABELA 6. Fatores de correção (f) obtidos em cada ensaio ................................56 xii RESUMO Este trabalho teve como objetivo investigar os efeitos do processo eletrolítico associado ao fotoquímico para tratar solução contendo corante Remazol Azul Brilhante (C.I. Reactive Blue 19). Utilizou-se um reator eletrolítico composto por um eletrodo de titânio recoberto (70% TiO2 e 30% RuO2, ânodo dimensionalmente estável - ADE) e uma lâmpada ultravioleta comercial. Os experimentos foram realizados sob uma densidade de corrente de 65 e 125 mA.cm-2 em solução contendo 0,005; 0,01; 0,02; 0,025; 0,05; e 0,1 M do eletrólito (NaCl ou Na2SO4) para uma concentração de 100 mg.L-1 iniciais do corante. Foram testadas diferentes condições de tratamento, variando a concentração, o tipo do eletrólito usado e o momento de aplicação da radiação ultravioleta. Estudou-se também a influência da concentração do eletrólito NaCl na degradação do corante e na toxicidade aguda. Estas avaliações se deram pelas análises de absorbância, pH, condutividade, DQO e toxicidade aguda utilizando Vibrio fischeri. Foram obtidas remoções de corante acima de 93%, em 5 minutos, com o uso do NaCl como eletrólito, exceto para a concentração de 0,005 M. Obteve-se tambémqueda de 100% da DQO, em 15 minutos, com o uso de 0,05 M de NaCl. Entretanto, os testes de ecotoxicidade demonstraram a formação de sub-produtos durante os ensaios, os quais aumentaram aproximadamente 15 vezes a toxicidade do efluente contendo 0,005M de NaCl, após 30 minutos de tratamento e aproximadamente 8 vezes a toxicidade do efluente contendo 0,05M de NaCl, após 5 minutos de tratamento. 1 1. Introdução Dentro do contexto industrial brasileiro as atividades têxteis merecem grande destaque, uma vez que se encontram entre os 24 setores mais importantes da atividade de nossa indústria, ocupando o quinto lugar em empregos diretos e o sexto lugar em faturamento (SOTTORIVA, 2001). Os processos industriais têxteis possuem como características o uso de grande volume de água (até 50 L.Kg-1 de tecido beneficiado) e geração de efluentes contendo alta concentração de pigmento. Vários corantes usados no processo de tingimento mostram-se altamente tóxicos à biota aquática podendo causar interferência no processo da fotossíntese natural do meio (KAPDAN et al., 2000). Os métodos mais conhecidos de tratamento de efluentes têxteis consistem na degradação biológica e química (com O3 e Cl2) e métodos físicos, como adsorção e filtração. No entanto, tais métodos envolvem a produção de grande quantidade de lodo, a utilização de agentes oxidantes que podem ser prejudiciais, a simples transferência de fase ou a ocupação de grandes áreas. Com o objetivo de suprimir limitações e inconvenientes oriundos dos processos convencionais de tratamento, pesquisadores têm ao longo das últimas décadas, desenvolvido métodos e técnicas alternativas e complementares para tratamento de efluentes de indústrias têxteis. Entre estas tecnologias, estão o tratamento eletrolítico e o tratamento fotoquímico (RAJESHWAR et al., 1994; MORAES e BERTAZZOLI, 2005). O processo eletrolítico utiliza a exposição do efluente a um sistema composto por eletrodos ligados em potencial ou corrente elétrica constante e se baseia na degradação de moléculas por desestabilização eletroquímica. Este método de tratamento está em crescente utilização no campo ambiental, apresentando alta eficiência na remoção de corantes. Em relação às vantagens oferecidas pelo processo eletrolítico, comparando-se com os processos convencionais normalmente utilizados, tem-se a compatibilidade ambiental (já que o reagente principal é o elétron), a sua facilidade de automação e a sua versatilidade 2 (dimensões reduzidas, baixos tempos de retenção, possibilidade de tratamento de volumes variáveis e diferentes tipos de efluente). Além disso, o processo mostra- se eficiente, pois é aplicável a substâncias persistentes e, na maioria das vezes, não gera lodo (MORAES et al., 2007). O processo fotoquímico também está estruturado na degradação de moléculas, porém através de exposição do efluente à radiação ultravioleta. Este processo foi melhorado nas últimas duas décadas através do uso de fotocatalisadores tais como TiO2 e ZnO. Mas mesmo os sistemas envolvendo fotocatalisadores possuem eficiência limitada, pois empregam, em sua maioria, lâmpadas UV monocromáticas de baixa pressão de vapor de mercúrio e há necessidade de separação do fotocatalisador após o tratamento. Neste trabalho empregou-se uma lâmpada UV policromática de média pressão de vapor de mercúrio, a qual aumenta eficiência do sistema e promove reações fotoquímicas não possíveis através da utilização de lâmpada UV monocromática. Visto a possibilidade da degradação incompleta dos compostos fotolisados e eletrolisados e a conseqüente formação de subprodutos, o estudo da toxicidade dos efluentes após estes referidos tratamentos torna-se extremamente necessário. Neste sentido, para a análise de amostras líquidas incolores ou coloridas e com baixos teores de salinidade, o cladócero Daphnia similis torna-se um dos organismos indicados. Já a bactéria marinha luminescente Vibrio fischeri, por suas características biológicas e de cultivo, é indicada na análise ecotoxicológica de amostras líquidas salinas e com baixa coloração. Além disso, em comparação com o teste usando o cladócero, a bactéria marinha possui uma resposta mais rápida (15min). 3 2. Objetivo Este trabalho teve como objetivo aplicar o processo eletrolítico associado ao processo fotoquímico para degradar o corante Remazol Azul Brilhante (C.I. Reactive Blue 19), utilizado em indústrias têxteis. Através de análises da demanda química de oxigênio (DQO), absorbância, pH, condutividade e toxicidade aguda utilizando o organismo teste Vibrio fischeri, estudou-se a degradação de uma solução contendo o corante. 4 3. Revisão da Literatura 3.1. Processos industriais têxteis e o consumo de água A quebra de fronteiras comerciais decorrente da globalização, aliada a potencial degradação e escassez de alguns dos fundamentais recursos naturais (como a água), e a expansão das exigências para processos ambientalmente “limpos”, torna imprescindível o racional uso destes recursos. Com isso, cabe às indústrias e ao mercado se adaptarem cada vez mais rápido às tendências mundiais e às freqüentes mudanças nas definições de gestão, a fim de se manterem prontas para as oportunidades e desafios que são criados com a introdução de novas tecnologias, de novas idéias e de novos valores para os produtos (FERRARI, 2007). Com um estoque natural existente no planeta da ordem de 1.386 milhões de km3, a água é a substância mais abundante na Terra. Deste valor de capital hídrico, a água doce corresponde a uma fração mínima, sendo que cerca de 97,5% da água do mundo está presente na massa líquida dos oceanos, mares e lagos salgados, estando, portanto, imprópria para o consumo humano. Somente 2,5% restantes correspondem às águas doces, sendo que desse total 90% estão nos mananciais subterrâneos e apenas 10% estão na superfície. Da totalidade da água doce disponível para o consumo mundial, cerca de 70% são utilizados na agricultura. A indústria é responsável por 22% do consumo, ficando os restantes 8% para uso doméstico (TOLEDO, 2004). O aumento não planejado do setor industrial tende a acarretar um maior consumo de água, e seu uso consciente torna-se cada vez mais necessário, já visto que a água potável é um recurso finito em nosso planeta. Neste contexto, processos industriais que consomem muita água são preocupantes, destacam-se assim as atividades da indústria têxtil e de confecção, a qual representa 5,2% do faturamento da indústria de transformação no Brasil e 17,3% no número de empregados (ABIT, 2007). 5 A fabricação de tecidos, em uma indústria têxtil, inicia-se na matéria prima, como o algodão e demais tipos de fibras, usada para fiação. O processo inicia-se com a elaboração de fios com as fibras, em seguida os fios são tramados para enfim constituir os tecidos, sendo então estes utilizados para a fabricação de peças do vestuário, utensílios de uso doméstico ou em complementos de uso técnico variados (ANTONIALLI et al, 2009). Segundo Braile e Cavalcanti (1993), a cadeia produtiva desse tipo de indústria envolve os processos de fiação, tecelagem e beneficiamento do tecido. A etapa de fiação nada mais é do que a transformação da fibra em fios, os quais ficam armazenados até o início do processo seguinte, que é o de tecelagem, onde os fios crus, ou já tingidos, são tramados de forma a constituírem tecidos.Estas etapas descritas anteriormente ocorrem a seco e, em função disso, não são responsáveis pela geração de efluentes líquidos. Na etapa final, de beneficiamento, o substrato têxtil é tratado com o objetivo de adquirir características como cor, toque e estabilidade dimensional. Conforme Araújo e Castro (1984), esta etapa pode ser dividida em: • Tratamento prévio ou preparação: nesta etapa eliminam-se as impurezas das fibras e melhora-se a estrutura do substrato têxtil para prepará-lo para as operações posteriores. • Tingimento: Etapa baseada na coloração dos substratos têxteis; • Estamparia: Momento onde são aplicados desenhos coloridos sobre o substrato têxtil já tratado; • Acabamento: São operações que conferem as características desejáveis ao substrato têxtil como brilho, toque, caimento, estabilidade dimensional e outros acabamentos ditos especiais como anti-ruga, impermeabilização e anti-chama. Devido à utilização de água em todos os sub-processos, a etapa de beneficiamento é de grande importância na utilização de água e geração de resíduos líquidos, sendo que há uma geração muito elevada de efluentes. No tratamento prévio, o tecido passa por uma etapa semelhante à lavagem e a água 6 residual desse processo não retorna ao ciclo tendo de passar por tratamento para ser novamente utilizada. Já no tingimento, os tecidos são coloridos, sendo necessário o uso de muita água. A água residuária desse último processo apresenta sérios problemas para ser tratada por apresentar alto teor de corantes, os quais na maioria das vezes são impossíveis de serem eliminados por processos destrutivos comuns. O acabamento também é uma etapa que gera grande quantidade de efluente (TWARDOKUS, 2004). Sem um tratamento devidamente eficiente, estes efluentes podem provocar efeitos deletérios à fauna e a flora aquática, assim como a interferência nos processos de fotossíntese dos corpos hídricos atingidos. Além disso, pesquisas têm mostrado que algumas classes de corantes e seus subprodutos podem apresentar efeitos carcinogênicos e mutagênicos. Em seu trabalho, Connell (1995) afirma que o impacto ambiental causado pelos processos produtivos das indústrias têxteis pode ser dividido em dois grandes grupos: o consumo de recursos naturais e a geração de resíduos. Referindo-se ao consumo de recursos naturais, o maior problema é a demasiada quantidade de água usada para seu processamento, que no caso de malha de algodão, por exemplo, pode chegar de 30 a 100 litros de água para cada quilograma de tecido. A geração de resíduos provocada por uma indústria têxtil nos processos de tingimento, em geral, se dá quando ocorre o lançamento dos efluentes contendo: metais pesados, soda cáustica, acrilatos, cloretos, detergentes, sulfatos, ácidos, álcalis e outros compostos poluentes nos corpos d’água (SLADE, 1998). Devido a estas implicações ambientais, é de grande importância o conhecimento das principais características dos efluentes gerados neste setor industrial, bem como de sistemas de tratamento de efluentes passíveis de serem utilizados para este tipo de resíduo. 7 3.2 Uso de sais nas indústrias têxteis Vários tipos de sais são usados nas matérias primas ou em tecidos processados como produto para neutralização ou outras reações nas etapas úmidas dos processos têxteis. Diversos autores têm identificado sais em efluentes dos processos têxteis de tingimento, indicando-os como significante problema no futuro (WAGNER, 1993). O processo típico de coloração do algodão usa quantidades de sais que alcançam entre 20% e 80% do peso dos materiais tingidos, e a concentração usual de sal nos efluentes é de 2000 ppm a 3000 ppm (SMITH, 1986). Os limites regulatórios impostos para as fábricas têxteis e das estações de tratamento de esgoto públicas que recebem efluentes têxteis chegam a 250 ppm. TABELA 1. Tipos de sais usados em operações têxteis Tipo de Sal Uso típico Cloreto de cálcio Formação Cloreto de sódio Tingimento Sulfato de magnésio Fixação Sulfato de sódio Tingimento Cloreto de magnésio Catalizador Cloreto de potássio Formação Adaptado de USEPA (1996). A remoção de sais misturados nos efluentes têxteis para redução da concentração de cloreto de 3000 ppm para 250 ppm é extremamente dificultosa e cara para qualquer método de tratamento conhecido. Portanto a redução das concentrações de sais dos efluentes têxteis deve partir da adoção de políticas de prevenção da poluição, sendo estas alternativas práticas para resolver o dilema presente neste difícil de tratar, tóxico e volumoso efluente. 3.2.1 Origem dos sais nos efluentes O tipo e a quantidade de sais usados nos processos é ditado pelo custo, pelas considerações sobre corrosão, pelo tipo de maquinário empregado, pela 8 proporção do banho, pelo tipo do corante e pela fibra a ser tingida. Cloreto de sódio é bem mais barato quanto comparado com sulfato de sódio, porém este é mais corrosivo para os equipamentos, o que faz muitos responsáveis pela coloração optarem por sulfato de sódio. Além disso, o sulfato de sódio oferece sombras brilhosas em corantes fixos. Muitos corantes têxteis e específicos produtos químicos possuem também sais. Notavelmente, o sal atua como diluente de corantes comerciais, e o corante direto típico ou corante reativo de fibras pode conter atualmente de 20% a 70% de sais. TABELA 2. Tipo de sal descartado e o processo de origem Processo de origem Tipo de sal inserido no efluente Diazotação de corantes Nitrato de sódio Controle do pH do tingimento Sulfato de amônio, Cloreto de sódio, Sulfato de sódio acetato e sais formados Chegada da fibra Cloreto de sódio, outros cloretos Banho de hipoclorito Cloreto de cálcio Filtros de troca iônica Sulfato de sódio, cloreto de sódio Processo água de origem Cloreto de sódio, cloreto de cálcio e cloreto de magnésio Redução de clareamento (hidro) Sulfato de sódio Retirada de cloreto de sódio Cloreto de sódio Colorimento com triazina reativa Cloreto de sódio Tonel de oxidação do corante Iodeto de sódio Colorimento com vinilsulfono reativo Sulfato de sódio Condicionamento da água Tetrasódio fosfato Adaptado de USEPA (1996). 3.2.2 Uso de sais em processos de tingimento Os sais possuem muitas funções no processo de tingimento e as literaturas têm descrito que esses agem de diferentes formas. Geralmente, o sal é usado para dar assistência na extração de corantes iônicos, particularmente corantes 9 aniônicos diretos e corantes reativos em fibras de algodão. O sal oferece muitos efeitos na coloração direta do algodão (PRESTON, 1986): • Incremento da durabilidade do banho de corante; • Incremento da afinidade do corante para com fibras de celulose; • Alterar coeficiente de difusão do corante; • Atrapalhar a hidratação de corantes aniônicos; • Atrapalhar a hidratação de sítios de corantes de celulose; • Incrementar o potencial de interação do corante (agregação); • Compensar o potencial zeta negativo das fibras; • Promover neutralização elétrica; • Saída dos sais de corantes aniônicos pela ação comum de íons. Além dos fatores acima, a presença de sais proporciona a possibilidade deste tipo de efluente ser submetido a tratamento mediante processos oxidativos avançados que necessitem de eletrólitos solubilizados para a passagem de corrente elétrica, como é o caso da eletrólise. 3.3 – Tratamento de efluentes líquidos Segundo Metcalf e Eddy (1991), os métodos de tratamento de efluentes líquidos podem ser, de uma forma simplificada,classificados em: • Operações físicas unitárias: Baseia-se em métodos de tratamento nos quais predomina-se a aplicação de forças físicas. Foram os primeiros métodos a serem utilizados para o tratamento de efluentes líquidos, por envolverem, em sua maioria, as primeiras observações do homem com respeito à natureza. São típicas 10 operações físicas unitárias: gradeamento, floculação, sedimentação, flotação, filtração e transferência gasosa. • Processos químicos unitários: São métodos de tratamento em que a remoção de contaminantes ocorre através da adição de produtos químicos, ou devido a reações químicas. Os exemplos mais comuns deste tipo de tratamento de efluentes líquidos são: precipitação, adsorção e oxidação química. • Processos biológicos unitários: São métodos de tratamento em que a remoção dos poluentes se dá por meio de atividade biológica. O tratamento biológico é usado primeiramente para remover as substâncias orgânicas biodegradáveis (coloidais ou dissolvidas) presentes no efluente. Basicamente estas substâncias são convertidas em gases, os quais podem escapar para atmosfera, e em tecido celular biológico, o qual pode ser removido por sedimentação. Processos biológicos também são usados para remover nutrientes (nitrogênio e fósforo). Com apropriado controle ambiental, os efluentes líquidos podem ser tratados biologicamente com grande eficiência em alguns casos. Os processos químicos e biológicos são geralmente agrupados para promover o tratamento primário, secundário, e avançado (ou terciário). No tratamento primário, operações físicas tais como gradeamento e sedimentação são usadas para remover sólidos em suspensão e sedimentação do efluente. No tratamento secundário, processos químicos e biológicos são utilizados para remover a matéria orgânica. Já no tratamento terciário, combinações adicionais de operações e processos são usadas para remover outros constituintes, tais como nitrogênio e fósforo, que não são reduzidos significativamente pelo tratamento secundário. 11 3.4 – Os processos oxidativos avançados Os avanços nas pesquisas na área de oxidação química resultaram na obtenção de resultados positivos no tratamento de efluentes e águas residuárias, quando da utilização dos chamados Processos Oxidativos Avançados (POA’s). Estes processos têm como característica a geração, principalmente, de radicais hidroxila (·OH), que são espécies altamente oxidantes, em quantidade suficiente para mineralizar matéria orgânica a dióxido de carbono, água e íons inorgânicos, dependendo da natureza do contaminante (LIN e LO, 1997). Os radicais hidroxila têm vida curta (da ordem de nanosegundos), e podem ser obtidos a partir de oxidantes fortes, como peróxido de hidrogênio (H2O2) e ozônio (O3), combinados ou não com radiação (GUIMARÃES, 2000). A principal desvantagem de todos os processos de degradação oxidativa baseados na reatividade dos radicais hidroxila é que, seqüestradores desses radicais, tais como HCO3- e CO3 2- quando presentes em solução, diminuem a eficiência do processo (LEGRINI et al., 1993). Os processos oxidativos avançados têm a vantagem de destruir os contaminantes, ao contrário de processos que simplesmente transferem o poluente de fase. Em relação ao tratamento biológico, os POA’s são processos que apresentam menor dificuldade de operação, já que não são tão sensíveis às condições ambientais e do meio reacional, além de poderem degradar compostos não-biodegradáveis. Usualmente os POA’s são classificados em homogêneos, quando há formação de sistema de uma única fase, ou heterogêneos, quando há formação de sistema de mais de uma fase (geralmente são processos que possuem catalizadores na forma sólida). Nos sistemas homogêneos geralmente utilizam-se processos de oxidação aliados a fotólise direta com ultravioleta (UV), visto que as reações de radicais hidroxila em alguns casos são lentas, podendo ser auxiliadas pela radiação, e, por outro lado, a fotólise direta atuando sozinha, em comparação com processos 12 envolvendo geração de radicais hidroxila, tem, geralmente, uma eficiência baixa. Desta forma, obtém-se melhor eficiência com os dois processos atuando de forma conjunta, como por exemplo: H2O2/UV, O3/UV e H2O2/O3/UV. Nos processos com sistema heterogêneo geralmente há presença de catalisador, normalmente na forma sólida, formando um sistema polifásico. Estes catalisadores, ativados na maioria das vezes através de irradiação de fótons, são denominados fotocatalisadores. TABELA 3. Processos oxidativos avançados mais utilizados Abreviação Descrição O2/H2O2 Ozônio combinado com peróxido de hidrogênio H2O2/UV Peróxido de hidrogênio combinado com radiação ultravioleta O3/UV Ozônio combinado com radiação ultravioleta O3/H2O2/UV Ozônio, peróxido de hidrogênio e radiação ultravioleta combinados H2O2/Fe 2+ Reagente de Fenton – Peróxido de hidrogênio com íon ferroso UV/Fenton Foto-Fenton – Reagente de Fenton combinado com radiação ultravioleta UV/TiO2 Radiação ultravioleta com fotocatalisador dióxido de titânio Ultra-Som Aplicação de ultra-son O3/OH - Ozônio combinado com hidroxila O2/UV/TiO2 Oxigênio combinado com radiação ultravioleta com fotocatalisador dióxido de titânio Eletro- Fenton Eletrólise combinada com aplicação do reagente de Fenton Feixe de elétrons Aplicação de feixe de elétrons Adaptado de Araújo (2002) e Paschoalino (2008). Processos oxidativos avançados vêm sendo aplicados para o tratamento de águas residuárias e efluentes líquidos, sendo geralmente aplicados para a oxidação de contaminantes orgânicos dissolvidos em águas subterrâneas ou industriais. Líquidos contendo frações significativas de sólidos tornam estes 13 processos inviáveis, visto que a demanda de oxidante fica muito elevada, provocando um alto custo (HAAS, 1995). 3.5 - A fotoquímica Segundo Neumann e Quina (2002), o campo da fotoquímica sempre foi muito mais amplo do que o mero estudo das reações químicas provocadas pela luz. Na realidade, a fotoquímica abrange todos os aspectos da química e física de estados eletronicamente excitados da matéria, desde a sua criação até a sua eventual desativação de volta ao estado fundamental. Desta forma, a fotoquímica engloba os estudos: • de processos de criação do estado excitado, como a excitação por luz ou outra radiação eletromagnética ou ionizante apropriada e a quimiexcitação ou criação de estados excitados por intermédio de reações químicas altamente exotérmicas; • da dinâmica de relaxação e da redistribuição da energia de excitação entre estados excitados da molécula imediatamente após a excitação; • dos diversos processos de luminescência através dos quais os estados excitados decaem ao estado fundamental com a emissão de um fóton, tais como a fluorescência e fosforescência, a quimiluminescência, a radioluminescência e a eletroluminescência; • de todos os processos que desativam o estado excitado através da conversão da sua energia diretamente em calor; • dos mecanismos de transferência da energia de excitação de uma molécula aceptora; • das transformações químicas sofridas pelo estado excitado, que resultam na formação de novas espécies químicas. As transformações químicas típicas de estados excitados incluem a fragmentação homo ou heterolítica da molécula, com a produção de intermediários reativos (radicais livres, cátions), rearranjos 14 estruturais da molécula, reações bimoleculares como substituição ou dimerização e reações de óxido-redução.O mecanismo de radicais livres é iniciado por uma interação de fótons de nível de energia apropriado para algumas espécies de moléculas químicas presentes numa solução, com ou sem a presença de catalisador. Estas reações químicas são conhecidas como reações foto-ativadas (GOGATE & PANDIT, 2004). 3.5.1 - Fotólise e radiação ultravioleta (UV) Os raios ultravioletas, componentes invisíveis da luz solar, fazem parte da radiação atmosférica natural e assim como os raios X, microondas e raios infravermelhos, são uma forma de radiação eletromagnética. A radiação ultravioleta pertence ao espectro eletromagnético e está situada na faixa 40-400 nm de comprimento de onda, entre os raios X e a luz visível (DONAIRE, 2001). A fotólise envolve a interação entre a radiação e moléculas com o intuito de trazer estas últimas a uma dissociação em fragmentos. Os fótons de uma radiação eletromagnética possuem uma energia E que é inversamente proporcional ao comprimento de onda (λ) da luz: E = hс/λ = hν (1) Onde h é a constante de Planck, с é a velocidade da luz, e ν é a freqüência. Para que ocorra a fotólise (dissociação) de uma molécula pela absorção de um fóton, é necessário que a energia do fóton exceda a energia da ligação a ser quebrada. Para a maioria das reações fotolíticas, isto requer que o comprimento de onda esteja na região ultravioleta do espectro. O espectro de ultravioleta é arbitrariamente dividido nas seguintes bandas: UV-Vácuo: 40 a 200 nm; UV-C: 100 a 280 nm; UV-B: 280-315 nm e UV-A: 315 a 400 nm. As bandas UV-A e UV-C são geralmente as radiações mais utilizadas para fins ambientais. 15 O alto conteúdo de energia associado com a radiação ultravioleta possibilita a fotólise direta de compostos, além de poder fotolisar a água gerando radicais hidroxila (·OH) ou radicais hidrogênio (H·), que podem atuar na degradação de contaminantes. Segundo Galindo et al. (2001), o processo que utiliza apenas lâmpadas de ultravioleta de alta intensidade sem a adição de oxidantes ou catalisadores, é limitado a compostos que fortemente absorvem luz entre 200 e 300 nm e fotodegradam com bastante facilidade. Geralmente é um processo prático para a remoção de um componente único presente na água. A adição de pequenas quantidades de peróxido de hidrogênio é aconselhável para auxiliar a oxidação de subprodutos, visto que, como já dito, com apenas fotólise, a mineralização completa normalmente não ocorre. 3.6 - A tecnologia eletroquímica aplicada ao meio ambiente A tecnologia eletroquímica pode ser considerada como uma alternativa não- convencional, surge como alternativa aos usuais tratamentos de efluentes e oferece um meio eficiente de controle da poluição por meio de reações redox, seja através das reações diretas entre as espécies poluentes e as superfícies eletródicas, ou do sinergismo desses processos com o poder de espécies oxidantes geradas in situ. Entre as tecnologias não convencionais, a tecnologia eletroquímica de tratamento de resíduos e efluentes apresenta como grande vantagem a sua compatibilidade ambiental, considerando-se o fato de que o principal reagente, o elétron, é um “reagente limpo”. A aplicação deste tipo de tecnologia à cadeia produtiva pode seguir duas estratégias sinérgicas: o desenvolvimento de novos processos que apresentem menor impacto ambiental (processos ecológicos) e o tratamento de resíduos e efluentes gerados na cadeia produtiva (TICIANELLI e GONZALES, 2005; HARRIS, 2001). Os tratamentos eletroquímicos de efluentes promovem a remoção ou a destruição de espécies poluentes, direta ou indireta, através de processos 16 eletroquímicos de oxidação e/ou redução em células eletroquímicas, geralmente sem a adição de produtos químicos. Neste tipo de tratamento, as espécies poluentes podem ser removidas de gases, líquidos ou mesmo sólidos no estágio final de um processo industrial. Os tratamentos eletroquímicos de resíduos e efluentes apresentam as seguintes vantagens: • Versatilidade - processos que consistem na aplicação de reações de oxi- redução, diretas e/ou indiretas; • Eficiência energética - processos eletroquímicos projetados para minimizar as perdas de potência decorrentes da queda ôhmica, da distribuição irregular de corrente e da presença de reações paralelas; • Facilidade de automação - variáveis na diferença de potencial entre eletrodos e a corrente aplicada à célula; e • Relação custo-beneficio - estabilidade química e tempo de vida dos eletrodos. 3.6.1 – Tratamento eletroquímico de efluentes No tratamento eletroquímico de efluentes orgânicos, as moléculas orgânicas são degradadas por reações que ocorrem através da transferência de átomos de oxigênio das moléculas de água da fase solvente para a espécie a ser oxidada. O processo geral de transferência anódica de oxigênio, sobre qualquer material eletródico, pode ser representado pela Equação 2: R + x H2O→ ROx + 2x H + + 2x e- (2) Neste caso, R representa a espécie orgânica a ser oxidada e ROx representa a forma oxidada dessa espécie. Em um caso extremo, a espécie R pode ser mineralizada segundo a Equação 3. R + x H2O → x/2 CO2 + 2x H + + 2x e- (3) 17 Nos processos de degradação oxidativa em meio aquoso, a primeira etapa é a descarga da água em sítios ativos da superfície do eletrodo (S[ ]), com a formação de radicais hidroxila (*OH) que ficam fisicamente adsorvidos, segundo a Equação 4. S[ ] + H2O → S[*OHAds] + H + + e- (4) Em uma etapa subseqüente, as moléculas orgânicas R reagem com essas espécies altamente oxidantes adsorvidas na superfície, segundo a Equação 5, regenerando o eletrodo. S[*OHAds] + R → S[ ] + RO + H+ + e- (5) Esta etapa de desativação da superfície do eletrodo, com a oxidação da molécula orgânica R, ocorre simultaneamente com a reação de oxidação da água a O2, diminuindo a eficiência elétrica do processo (Equação 6). Deve-se salientar que neste mecanismo, a etapa na qual ocorre à transferência de cargas é a de ativação da superfície do eletrodo, a partir da reação de descarga da água, e o suprimento das espécies participantes desta fase (H2O) é praticamente inesgotável, por se tratar de uma reação em meio aquoso. S[*OHAds] + H2O → S[ ] + O2 + 3 H + + 3 e- (6) Vendo a necessidade econômica e ambiental da melhora nos tratamentos de efluentes orgânicos e de processos oxidativos diretos e indiretos, a tecnologia eletroquímica utilizando reatores, busca o desenvolvimento e a aplicação dos tratamentos eletroquímicos de efluentes industriais aos tipos de materiais usados e na escolha de eletrodos que possuam um bom poder eletrocatalítico e tenham uma boa resistência mecânica (catodo) e à corrosão (ânodo) (BEATI, 2007). 18 3.7. Corantes têxteis Os corantes têxteis, em geral, são moléculas pequenas que contém dois grupos principais, o cromóforo, responsável pela cor e o funcional, que liga o corante à fibra (ABRAHÃO, 1999; CORREIA et al. 1994). A classificação dos corantes geralmente ocorre de duas formas: a primeira é pela constituição química (grupos cromóforos ou unidade de cor da molécula) e a segunda é baseada no modo de fixação ou uso final do corante. A forma de fixação da molécula do corante às fibras geralmente é feita em solução aquosa e pode envolver basicamente quatro tipos de ligação: ligação iônica, ponte de hidrogênio, da van der Waals e covalente (GUARANTINI e ZANONI, 2000). TABELA 4. Classificação dos corantes têxteis (AKBARI et al., 2002) Classe dos corantes Características Aplicação Mecanismo de fixaçãocorante- fibra Método de tingimento Ácido Aniônico, solúvel em água Náilon, lã Ligação iônica, van der Waals Fibra colocada em corante aquoso acidificado (pH 2,5 – 7) à 100 – 110°C Básicos Catiônicos, solúvel em água Acrílica, náilon, seda, algodão, lã Ligação iônica Fibra colocada em banho de corante aquoso acidificado (pH 5 – 6,5) e 105°C Direto Aniônico, solúvel em água Algodão Pontes de H, van dês Waals Fibra colocada em banho de corante ligeiramente alcalino e eletrólito a 100°C Disperso Dispersão coloidal, muito baixa solubilidade em água Poliéster, náilon, acetado, celulose, acrílica Formação de solução sólida Fibra colocada em banho de corante acidificado (pH 5,5) temperatura de 130 a 210°C Enxofre Coloidal, insolúvel Algodão Corante precipita sobre a fibra Fibra colocada em banho de corante dissolvido em enxofre e sódio, corante deslocado para a fibra com eletrólito, corante precipitado in situ com ar ou peróxido Reativo Aniônico, solúvel em água Algodão, seda, náilon, lã Ligação covalente Fibra colocada em banho de corante com sal para deslocar o corante para a fibra com álcali e causar reação entre o corante e fibra 19 Vale ressaltar que os corantes têxteis são produzidos para resistir à exposição ao suor, sabão, água, luz, entre outros agentes oxidantes. Esta alta estabilidade torna-os menos receptivos à biodegradação que, potencialmente, é o processo mais barato de degradação de efluentes (PEREIRA, 2007). 3.7.1 – Corantes reativos: o corante Remazol Azul Brilhante O corante utilizado neste trabalho, Remazol Azul Brillante (C.I. Reactive Blue 19), também é conhecido como Azul Reativo 19 ou RB19, e pertence ao grupo de corantes reativos. Os corantes reativos são solúveis em água e reagem com algumas fibras têxteis, formando uma ligação do tipo covalente. É a mais importante classe de corantes utilizada hoje em dia, e pode ser usado em fibras celulósicas, em seda ou lã. São corantes que contêm um grupo eletrofílico (reativo) capaz de formar ligação covalente com grupos hidroxila das fibras celulósicas, com grupos amino, hidroxila e tióis das fibras protéicas e, também com grupo amino das poliamidas. Os principais tipos de corantes reativos contêm a função azo e antraquinona como grupos cromóforos e os grupos clorotriazinila e sulfatoetilsulfonila como grupos reativos. Um fato preocupante é que este tipo de corante têm uma perda maior para o efluente do que os outros tipos de corantes. Cerca de 50% da cor do corante reativo usado é descartada, resultando em uma intensa cor no efluente de tingimento (KOYUNCU, 2002). O corante Remazol Azul Brilhante é muito resistente a oxidação química devido à sua estrutura aromática (antraquinona) altamente estabilizada por ressonância. Sua baixa eficiência na fixação (75 a 80%) é devido à competição entre a formação da forma reativa (grupo vinilsulfona) e reações de hidrólise (LIZAMA et al., 2002). 20 3.8. Tratamentos fotoquímicos e eletroquímicos aplicados a efluentes têxteis Vários trabalhos, ao longo dos últimos anos, obtiveram bons resultados quanto da aplicação de tratamentos fotoquímicos e eletroquímicos, juntos ou separados, para a degradação de efluentes têxteis reais e simulados. O estudo da oxidação eletroquímica de um efluente simulado contendo Remazol Azul Brilhante, através da utilização de um eletrodo de boro dopado com diamante, foi abordado por Montanaro e Petrucci (2009). A eletrólise foi executada sobre condições galvanostáticas e monitorada através de analises de remoção de cor, DQO e COT. Usando distintas concentrações de NaCl e de Na2SO4, e variados valores de pH, temperatura e densidade de corrente, o tratamento proposto foi capaz de descolorir e mineralizar totalmente o corante analisado em concentrações iniciais 50 e 150 mg.L-1. Observou-se que, um tempo maior de eletrólise foi necessário para a remoção total do COT quando comparada com COD, indicando a possível formação de moléculas recalcitrantes, formação esta incrementada quando foi usada maior concentração de cloreto no meio. Concluiu- se também que o experimento de descoloração teve sua cinética e velocidade independente da concentração inicial do corante Em sua pesquisa em laboratório, Pereira (2007) utilizou o processo de eletroflotação e um reator com 20 litros de capacidade para tratar os efluentes reais de duas indústrias têxteis. Nos estudos com os efluentes de umas das empresas, obteve-se como resultados a redução de 86,7% da turbidez, aumento do pH (de 7,55 para 9,20), redução de 90% da DQO e de 99% da DBO. Já nos estudos com os efluentes da outra empresa, obteve-se a redução da turbidez de 4004 para 146 NTU, um aumento da temperatura de 37°C e redução de 30% do COT. A performance de dois diferentes eletrodos (Ti-Pt/β-PbO2, dopado com Fe e F, juntos ou separados) foi comparada com a utilização de um eletrodo de Boro dopado com diamante na degradação de efluente simulado têxtil contendo 25 mg.L-1 do corante Reactive Blue 19. Usou-se um volume de 0,1 L de solução, uma 21 densidade de corrente de 50 mA.cm-2, a vazão de 2,4 L.h-1 e área de eletrodo de 5 cm². No que se refere à descoloração, todos os eletrodos testados demonstraram eficiência próxima a 100% de remoção após 8 minutos de eletrólise (ANDRADE et al., 2007). Os sub-produtos da eletrólise (usando um eletrodo de titânio DSA) do Reactive Blue 19 foram identificados por cromatografia gasosa e espectrofotometria de massa (GC/MS), sendo os principais compostos encontrados: benzeno, 2-hidrox, 4,4-naftaquinona (C.I. Natural Orange 6), 1- aminoantraquinona (C.I. Diazo Fasted AL), álcool benzílico, benzaldeído, ácido benzóico, anidrido ftálico, ftalida, ftaldeido e 1,3-indanone. Foram avaliados também os efeitos na degradação da densidade da corrente de tratamento, da concentração de cloreto de sódio, do valor de pH inicial da solução e da concentração inicial do corante (RAJKUMAR et al., 2007). Lizama et al. (2002) identificou o aumento de 0 para 50 unidades da toxicidade aguda (Vibrio fischeri) após tratamento fotocatalitico de efluente simulado têxtil contendo Reactive Blue 19. Foram usadas diferentes concentrações de TiO2 e ZnO como fotocatalizadores e diferentes valores de pH. Neste estudo, tratou-se, utilizando reatores de irradiação ultravioleta com e sem recirculação, concentrações entre 30 e 70 mg.L-1 do corante. Sem recirculação e com 1g.L-1 de TiO2 ou ZnO, houve 90% de redução da coloração após 20 minutos de radiação. Já com recirculação, a total degradação do corante deu-se em tempos diferentes, sendo 25 minutos e 50 minutos, quando usados ZnO e TiO2, respectivamente. Araújo (2002) estudou a degradação do corante Azul Reativo 19 presente em efluentes têxteis reais e simulados usando os seguintes processos oxidativos avançados: UV; H2O2; UV/H2O2; Fenton e foto-Fenton. No que se refere ao efluente simulado, os resultados mostraram que, separadamente, as dosagens usadas de UV e de H2O2 foram incapazes de degradar a concentração de corante testada, porém juntos, estes oxidantes foram capazes de reduzir para 91,1% o valor de COD das amostras em 3 horas de tratamento. Os processos Fenton e foto-Fenton apresentaram ótima remoção do corante (UV592 nm), porém ambos 22 resultaram em formação de precipitado. Já se referindo aos efluentes reais, a aplicação de foto-Fenton resultou nas reduções de COD, cor, DBO e DQO de 49,7; 80,2; 19,2 e 41,8%, respectivamente. O processoFerrioxalato-foto-Fenton demonstrou ser capaz de oxidar três vezes mais rápido um complexo efluente têxtil simulado, quando comparado com a fotocatalise heterogênea. Após 1 hora de tratamento, a descoloração completa, a mineralização parcial (com 17 e 23% de redução do COT) e a remoção de 73 e 86% da cor visível (UV280 nm) foram obtidas usando os processos ferrioxilato- Fenton/UV-A e TIO2/UV-A, respectivamente. A maior diluição do efluente simulado demonstrou influenciar na rapidez da corrida de descoloração (ARSLAN et al. 2000). A degradação do corante Azul Reativo 19 foi também estudada por Pelegrini (1999). O autor utilizou um sistema fotocatalítico (dióxido de titânio com dióxido de rutênio), um sistema eletroquímico (aplicação de potencial de 1,8V) e um sistema conjunto de fotoeletrocatalise para degradação de 30 mg.L-1 deste corante presente em efluente simulado. A melhor degradação do Azul Reativo 19, de 95% em 60 minutos de exposição, foi obtida quando se utilizou ambos os processos simultaneamente, demonstrando um efeito sinérgico benéfico destes tratamentos. 3.9 Ensaios de toxicidade aguda utilizando a bactéria marinha Vibrio fischeri No que se refere a amostras líquidas industriais e ambientais, os organismos testes universalmente mais empregados para os ensaios de toxicidade são os microcrustáceos. No Brasil, estes são representados pelo uso de Daphnia similis, Dapnhia magna, Dapnhia levis e Ceriodaphnia dúbia. Outro organismo que tem sido bastante empregado com várias propostas de estudo e monitoramento é a bactéria marinha Vibrio fischeri (HIGA, 2008). Não existe um organismo ideal para todos os testes, e sim aquele que se enquadra melhor a determinada condição e que pode gerar respostas mais significativas, quando comparado com outros. A utilização de mais de uma 23 espécie de organismo teste em estudos ecotoxicológicos é de extrema importância, visto que cada espécie tem diferentes características, como representatividade ecológica, nicho, comportamento, importância econômica, sensibilidade, custo de manejo, entre outras de importância ambiental. A bactéria marinha luminescente Vibrio fischeri, anteriormente chamada por Photobacterium phosphoreum, é integrante do grupo das bactérias gran negativas e anaeróbias facultativas. Essas bactérias, em condições ambientais favoráveis, possuem a capacidade de emitir luz (KNIE e LOPES, 2004; CETESB, 2001). Este organismo também é usado para teste de toxicidade aguda, sendo que este ensaio constitui-se na mensuração da luminescência emitida por um grupo de bactérias após exposição destas a uma amostra por um período não superior a 30 minutos. Um controle negativo, contendo somente água salina, é realizado para possibilitar a comparação com a intensidade de luz emitida pelas bactérias expostas às amostras. As substâncias tóxicas são capazes de reduzir a bioluminescência, e quanto maior é a redução, mais tóxica é a substância. A luminescência, por ser fruto de processos metabólicos das bactérias, pode ser inibida por determinadas amostras (KNIE e LOPES, 2004). Este método apresenta duas grandes vantagens, a rápida avaliação e resposta, que se dá em 15 minutos e a pequena quantidade de amostra necessária para o teste, na unidade de microlitros (µL). Além disso, o ensaio é simples e de fácil realização. O custo de implantação dos ensaios, a necessidade de adição de soluções às amostras (ajuste osmótico) com conseqüente diluição são as principais desvantagens da utilização do V. fischeri na ecotoxicologia (UMBUZEIRO e RODRIGUES, 2004). 24 4. Materiais e métodos 4.1 Solução utilizada nos experimentos O corante utilizado foi manipulado como recebido da fábrica, sem purificação. As soluções foram preparadas utilizando-se o corante e água destilada, na concentração de 100 mg.L-1 (que corresponde a aproximadamente 132 mg.L-1 de DQO) e sem correção do pH. As principais características do corante encontram-se descritas na Tabela 5. TABELA 5. Características do corante Remazol Azul Brilhante Estrutura química: Nome genérico (color index): C.I Reactive Blue 19 Sinônimos: Remazol Azul Brilhante R / Azul Reativo 19 Fórmula molecular: C22H16N2O11S3Na2 Massa molecular: 626.54 g.mol-1 Registro no CAS: 2580-78-1 λmax 592 nm 4.2. Sistema utilizado 4.2.1. Reator eletroquímico 25 Foi construído um reator eletroquímico com anodo retangular de titânio metálico revestido com óxidos na proporção de 70% TiO2 e 30% RuO2 (eletrodo ADE, Figura 1b). O cátodo, também retangular (Figura 1a), foi disposto paralelamente ao anodo (Figura 1c). O reator eletroquímico foi alimentado por fonte de corrente contínua da Instrutherm modelo FA2030. Figura 1: (a) e (b) foto dos eletrodos; (c) diagrama esquemático do reator eletroquímico. 4.2.2. Reator fotoquímico O reator fotoquímico foi construído com o uso de dois tubos concêntricos, sendo o tubo interno de quartzo e o externo de vidro. Internamente ao tubo de quartzo foi inserida uma lâmpada de média pressão de vapor de mercúrio de 100 W, sem o bulbo (Figura 2b). O sistema também contou com um rotâmetro, reservatório de PVC, válvulas, registro, bomba hidráulica e tubulação, os quais foram alocados em um suporte metálico de sustentação (Figura 2a). A solução a ser tratada foi colocada no reservatório, com volume máximo de 5 L, donde foi impulsionada através de todo o sistema pela bomba hidráulica. Usou-se o fluxo na direção vertical, com sentido ascendente em relação ao reator eletrolítico, ou seja, o líquido saía pela parte de cima do mesmo, passava pela câmara UV para então retornar novamente ao (a) (b) (c) Luggin catodo anodo Entrada Saída chapa PVC 26 reservatório. Operando deste modo, o sistema pode ser classificado como “batelada com recirculação”. A vazão do fluxo foi mensurada no rotâmetro, sendo controlada pela registro. Este sistema teve como característica a utilização de um eletrodo não solúvel com alta resistência mecânica e química, e uma lâmpada ultravioleta de média pressão de vapor de mercúrio, a qual, devido ao seu maior espectro de luz (também na faixa do visível), propicia maior eficiência e permite reações químicas não possíveis com as lâmpadas UV germicidas tradicionais. As dimensões do sistema não ultrapassam 1,5 m x 0,80 m x 0,40 m. Figura 2: (a) Foto do sistema construído; (b) Reator fotoquímico. 4.3. Procedimento analítico As análises dos parâmetros propostos foram realizadas mediante utilização dos seguintes métodos e equipamentos: Absorbância: Determinada através de medições de absorbância na faixa UV- visível em espectrofotômetro de UV-VIS UV1601 PC da Shimadzu. Foram 27 realizadas varreduras de 190 a 800 nm para fazer as leituras comparativas de absorbância. Concentração de corante: Empregou-se para isto o espectrofotômetro de UV-VIS da Shimadzu modelo UV1601 PC. Foram preparadas soluções do corante em 25, 50, 75, 100 e 500 mg.L-1 e a partir da leitura das absorbâncias em 592 nm destas, foi confeccionado um gráfico de absorbância em função da concentração. Com a equação de reta obtida a partir da regressão linear, foi possível obter as concentrações das amostras coletadas durante os experimento. Demanda Química de Oxigênio (DQO): A análise foi realizada em espectofotômetro da Hach modelo DR2000 conjuntamente com o digestor, utilizando-se o sistema da digestão em refluxo fechado. Para o teste, inicialmente,em um tubo contendo 40 mg de HgSO4 foi colocado 2,5 mL de solução H2SO4/Ag2SO4. Em seguida, colocou-se 0,3 mL de água destilada, 0,5 mL de solução de dicromato de potássio e 2 mL da amostra. As amostras, após 2 horas de digestão (150°C), foram submetidas à leitura espectofotométrica. Medida de pH: A medida foi efetuada através de medidor de pH MB-10 marca Marte. Medida de condutividade: Foi determinada através de condutivímetro Quimis Q405M. Toxicidade Aguda utilizando Vibrio fischeri: Nos ensaios utilizando a bactéria marinha, foram seguidas as determinações da norma NBR 15411-2 (ABNT, 2006) e as adaptações propostas por Artal (2009). Usou-se estoques de biomassa liofilizada de Vibrio fischeri dispostas em ampolas Biolux (Lote 56 LYO 05, Validade 05/2010) contendo 1000 µL de biomassa, e cubetas do Kit Monitox, ambas produzidas pela empresa UBIOTECH. Os testes de toxicidade, mediante este organismo, necessitam de amostras em uma determinada faixa de pH (6-8), nos casos em que os valores de pH das amostras não se encontravam nesta faixa, foram efetuadas correções utilizando solução tampão 0,1 M de NaOH. 28 Os procedimentos de ativação das bactérias e de diluição das amostras, utilizando cada tipo de biomassa estoque, podem ser observados no Anexo I Metodologia dos testes de toxicidade aguda utilizando Vibrio fischeri. Os resultados, em ambas as metodologias empregadas, foram expressos em porcentagem de inibição, a qual foi calculada usando-se um fator de correção (f) (Equação 7)), que é o decaimento natural da luminescência da bactéria e o decaimento da luminescência de cada cubeta com amostra. % = 100 – [(I(t) x 100)/(ƒ(t) x I(0))] (7) Onde: ƒ(t) é o fator de correção para um determinado tempo t; I(0) = leitura de luz inicial para cada cubeta de ensaio; I(t) = leitura de luz remanescente para cada cubeta de ensaio, correspondente ao tempo t. Paralelamente aos ensaios, realizou-se teste de toxicidade aguda com sulfato de zinco, utilizando-se esta substância como controle positivo. A curva dose resposta obtida neste ensaio, e os valores dos fatores de correção obtidos em cada ensaio de toxicidade podem ser observados no Anexo II Resultado do ensaio de sensibilidade e valores dos fatores de correção. Para todas as análises, utilizaram-se reagentes em grau analítico e seguiram-se às metodologias recomendadas no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 1998) ou aquelas da Hach Company já validadas e aprovadas. Todas as análises foram realizadas nos laboratórios da Faculdade de Tecnologia da UNICAMP. 4.4. Procedimento experimental e metodologia de tratamento dos dados Em todos os experimentos, foram tratadas eletroquimicamente e fotoquimicamente soluções contendo 100 mg.L-1 do corante Remazol Azul Brilhante conjuntamente com as concentrações propostas dos sais eletrólitos NaCl 29 e/ou Na2SO4. Foram retiradas amostras em tempos pré-determinados para análise dos parâmetros propostos. Manteve-se em todos os experimentos a vazão de 250 L.h-1. 4.4.1 Procedimento experimental da primeira etapa Inicialmente, aplicou-se o processo de eletrolise em diferentes valores de densidade de corrente (J), utilizando-se como eletrólito Na2SO4 = 0,1 M e aplicando-se a fotólise nos 5 minutos finais de tratamento. Após, realizou-se um experimento sob as mesmas condições, mas aplicando-se a fotólise nos primeiros cinco minutos de tratamento. Posteriormente, foram realizados experimentos em densidade de corrente constante e com fotólise aplicada no início dos experimentos, mas variando-se o eletrólito suporte (NaCl) e a concentração do mesmo. A aplicação da fotólise foi realizada por 5 minutos porque: (i) tempos de aplicação maiores causariam o aquecimento excessivo da solução. Em escala industrial, sistemas de refrigeração, quando necessários, normalmente encarecem o tratamento; (ii) foi intencionado verificar a aplicabilidade do processo para auxiliar a eletrólise somente no início ou no final, não como tratamento simultâneo. Analisou-se a toxicidade aguda, mediante a bactéria Vibrio fischeri, do momento inicial e final de dois tratamentos que proporcionaram bons resultados de remoção do corante. O primeiro tratamento testado foi o realizado sob J = 125 mA.cm-2 de densidade de corrente, 0,1 M de concentração do eletrólito NaCl e com fotólise aplicada no início do experimento; e o segundo, o tratamento realizado sob J = 125 mA.cm-2 de densidade de corrente, 0,02 M de concentração do eletrólito NaCl e com fotólise aplicada também no início do experimento. 4.4.2. Procedimento experimental da segunda etapa Analisando os melhores resultados obtidos na primeira etapa, procedeu-se a segunda etapa de tratamentos do efluente simulado têxtil. Para isso, aplicou-se o processo de eletrólise com J = 125 mA.cm-2 de densidade de corrente - utilizando- 30 se como eletrólito somente o NaCl em várias concentrações (0,005; 0,01; 0,025; 0,05; e 0,1 M) - e aplicando-se a fotólise nos 5 minutos iniciais de tratamento. Assim como na etapa anterior, durante todos os ensaios retirou-se alíquotas para amostragem em diferentes tempos de tratamento, sendo que estas foram submetidas às analises físico-químicas propostas e as algumas delas, consideradas mais significativas, foram selecionadas e submetidas a ensaios de toxicidade aguda utilizando novamente a bactéria marinha Vibrio fischeri. Os processos de avaliação dos dados e otimização, em ambas as etapas, ocorreram em função da análise cinética dos principais parâmetros propostos, baseando-se nas equações 8 e 9: CA(t) = CA(t=0) exp (-k.A/V) (8) 1/C(t) – 1/C(t=0) = -k.A.t/V (9) Onde: C(t) é o valor de absorbância, cor ou a concentração do corante no tempo t, C(t=o) é o valor inicial desta concentração, A é a área do eletrodo (40 cm2), V(tot) é o volume da solução processada (4,5 L), t é o tempo de tratamento e k é a constante aparente de degradação. A inclinação do gráfico (termo –k.A.V-1) resulta na constante cinética para remoção da concentração. A partir do k, que é uma constante dependente do tipo de eletrodo e efluente, neste caso, eletrodo de titânio ADE e o corante, pode-se, através das equações 8 e 9, ampliar a escala do sistema, em função dos valores de tempo de tratamento e volume desejados. 31 5. Resultados e discussão 5.1 Resultados da primeira etapa Aplicando os processos de tratamento propostos, nas condições experimentais inicialmente pré-definidas (item 4.4.1), foi possível obter os dados ilustrados na Figura 3, referente à remoção percentual do corante Azul Remazol. Na Figura 3, observa-se que o uso do eletrólito Na2SO4 resultou em remoção muito baixa do corante, inferior a 10%, sendo que a aplicação da fotólise no início dos experimentos favoreceu muito pouco o tratamento (J=125 mA.cm-2; [Na2So4] = 0,1 M; Li). Com este eletrólito, ocorreu provavelmente a oxidação direta e gradativa, a qual é dependente do tempo e da densidade de corrente. Este eletrólito pode ser considerado inerte e sua transformação pela eletrólise não gera espécies oxidantes. 0 10 20 30 40 50 60 70 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 R e m o çã o d o c o ra n te ( % ) Tempo de tratamento (minutos) J = 62.5 mA cm-2; [Na 2 SO 4 ] = 0.1 M; L f J = 125 mA cm-2; [Na 2 SO 4 ] = 0.1 M; L f J = 125 mA cm-2; [Na 2 SO 4 ]= 0.1 M; L i J = 125 mA cm-2; [NaCl] = 0.1 M; L i J = 125 mA cm-2; [NaCl] = 0.02 M; L i J = 125 mA cm-2; [NaCl] c = 0.1 M; L i Figura 3: Remoção percentual do corante em função do tempo de tratamento. Li, Lf e [NaCl]c representam, respectivamente, fotólise aplicada no início, fotólise aplicada no final dos experimentos e uso de sal iodado comercial. 32 As melhores remoções do corante ocorreram com o uso do NaCl, sendo superiores a 41% a partir de 5 minutos de tratamento. Nos experimentos com este eletrólito foi observado que, para uma mesma densidade de corrente e momento de utilização da fotólise (no início), a maior concentração do sal resultou em maior velocidade de remoção do corante, nos primeiros 15 minutos. Com este eletrólito, provavelmente ocorreu a eletrólise indireta, ou seja, a oxidação do corante ocorreu devido às espécies eletrogeradas, tais como o cloro e o •OH. Quanto a fotólise, sendo esta um processo físico, acredita-se que a mesma não influenciou a eficiência do processo, devido ao baixo tempo de aplicação ou potência insuficiente da lâmpada para romper a parte cromófora do corante. O estudo cinético dos resultados, realizados até 15 minutos, demonstrou que foi possível obter comportamento de pseudo-primeira ordem, e a partir das equações 8 e 9 (item 4.4.2), obteve-se as velocidade de 0,66 m.min-1 para 0,1 M de NaCl e 0,25 m.min-1 para 0,02 M de NaCl. A partir destes valores, seria possível, teoricamente, expandir o sistema para qualquer escala. Deve-se enfatizar que os valores de condutividade das amostras tiveram alterações dos valores inferiores a 5%. Para estas condições de tratamento, houve um gasto energético (fotólise + eletrólise) de aproximadamente 3,5 KWh. Quanto à DQO, foi obtida remoção de aproximadamente 20% em 15 minutos de tratamento com [NaCl] = 0,1 M e J = 125 mA.cm-2. Durante a eletrólise da solução contendo o NaCl, ocorre a formação de cloro, o qual pode se combinar com a parte orgânica na solução, formar organoclorados ou sair da solução sob a forma de compostos voláteis. As amostras bruta e tratada por 60 min (J = 125 mA.cm-2, [NaCl] = 0,1 M e [NaCl] = 0,02 M) foram submetidas aos ensaios de toxicidade aguda. Os resultados preliminares indicaram incremento de 1 log na concentração capaz de inibir a luminescência da bactéria marinha, isto após ambos os tratamentos analisados. As amostras brutas não causaram efeito tóxico significativo à bactéria, e o aumento da toxicidade após os tratamentos pode estar associado a possível formação de subprodutos tóxicos. A formação de picos adicionais, identificados na varredura na faixa do UV-Vis entre 286 e 289 nm (Figura 4) pode estar associada 33 a subprodutos da degradação do corante e a formação de compostos organoclorados, substâncias essas notoriamente tóxicas em certas concentrações. 200 300 400 500 600 700 800 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 A b so rb â n ci a ( u .a .) Comprimento de onda (nm) 0 min 5 min 15 min 30 min 60 min Figura 4: Absorbância em função do comprimento de onda.J = 125 mAcm-2 [NaCl] = 0,1 M e fotólise no início do experimento. 5.2 Resultados da segunda etapa Após as análises dos melhores resultados da primeira etapa e seguida a aplicação dos processos nas condições experimentais definidas (item 4.4.2), foi possível confeccionar as curvas de remoção do corante contidas na Figura 5. Observa-se, nesta figura, que os tratamentos fotoquímico e eletroquímico associados ao uso do eletrólito NaCl resultaram em remoção do corante muito 34 expressiva, sendo esta remoção, após 5 minutos, superior a 93% (exceto para a [NaCl] = 0,005 M, a qual foi de aproximadamente 56%). Esta observação leva a crer que, para concentrações de NaCl superiores a 0,005 M, a remoção percentual do corante é independente da concentração de eletrólito. Entretanto, a remoção foi independente da concentração, também para 0,005 M, a partir de 30 minutos de tratamento. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 0 4 8 12 50 60 70 80 90 100 R em o çã o d o C or an te ( % ) Tempo de tratamento (minutos) 0,005M [NaCl] 0,01M [NaCl] 0,025M [NaCl] 0,05M [NaCl] 0,1M [NaCl] Figura 5: Remoção percentual do corante, em função do tempo de tratamento. As taxas aparentes de velocidade de remoção do corante foram de 0,71 m.min-1 para todas as concentrações de eletrólitos, exceto 0,005 M, quando calculado até 5 minutos. Para [NaCl] = 0,005 M, calculou-se a taxa de velocidade de remoção até 15 minutos, obtendo-se 0,15 m.min-1. O gasto energético, obtido até o momento de melhor remoção (5 minutos), foi de 0,675 KWh para todas as concentrações de eletrólitos, exceto para 0,005 M. Utilizando-se esta baixa concentração de eletrólito, a melhor remoção do corante se deu após 15 minutos de tratamento, com um gasto energético de 4,42 KWh. 35 Novamente, com uso do eletrólito NaCl, pode ter ocorrido provavelmente a eletrólise indireta, ou seja, a oxidação do corante ocorreu devido as espécies eletrogeradas, tais como o cloro e o OH•. Como é possível observar na Figura 6, os valores de condutividade elétrica foram incrementados de acordo com o aumento da concentração do eletrólito, o que é previsível visto a maior presença, neste caso, de íons dissolvidos nos efluentes simulados. Também é possível visualizar que este parâmetro não foi significativamente influenciado pelo decorrer dos tratamentos. 0 10 20 30 40 50 60 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000 0,005M [NaCl] 0,01M [NaCl] 0,025M [NaCl] 0,05M [NaCl] 0,1M [NaCl] C on d u tiv id a d e ( µ S .c m -1 ) Tempo de tratamento (minutos) Figura 6: Variação da condutividade elétrica em função do tempo de tratamento. Já como é possível visualizar na Figura 7, os valores de pH das amostras analisadas apresentaram significativa variação, sendo observada, nos primeiros 5 minutos de tratamento, uma queda de pH para aproximadamente 3 em todas as concentrações de eletrólito analisadas. Posteriormente, ocorreu uma ascensão gradual, a qual acarretou, em 60 minutos de tratamento, em um pH final sempre maior que 6, quando referindo-se as amostras com maior concentração de NaCl (0,025; 0,05 e 0,1 M). Esta mesma ascensão gradual não ocorreu nos tratamentos 36 contendo as menores concentrações do eletrólito (0,005 e 0,01 M). Esta variação ácida inicial do meio durante os 5 minutos iniciais de tratamento justifica-se pela provável rápida formação de sub-produtos ácidos decorrentes da degradação do corante. Já a posterior alcalinização do meio pode ser justificada pela formação de compostos básicos através da maior degradação do corante e de seus sub- produtos. 0 10 20 30 40 50 60 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0,005M [NaCl] 0,01M [NaCl] 0,025M [NaCl] 0,05M [NaCl] 0,1M [NaCl] p H Tempo de tratamento (minutos) Figura 7: Variação do pH das amostras em função do tempo de tratamento. Foi proposto o estudo quantificativo da degradação da molécula do corante durante os tratamentos através da análise da porcentagem de remoção da DQO. Os resultados destas analises, representados na Figura 8, demonstram que após 60 minutos de tratamento obteve-se 22; 70; 100 e 100% de remoção de DQO nos tratamentos contendo 0,01; 0,025; 0,05 e 0,1 M de NaCl, respectivamente. Nestes casos, obteve-se uma crescente remoção da matéria orgânica
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