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Apostila Direito Contratual 5 Termo

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REQUSITOS DA VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO:
 
São os requisitos para que o negócio jurídico seja válido. Se os possui, é válido e dele decorrem os mencionados efeitos. 
Se, porém, falta-lhe um desses requisitos, o negócio é inválido, não produz o efeito jurídico em questão e é nulo ou anulável.
Os requisitos de validade podem ser de caráter geral ou específico. Os requisitos da validade do negócio jurídico são elencados no art. 104, I, II, III – CC, a saber:
REQUISITOS DE CARATER GERAL 	
Agente capaz;
Objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
Forma prescrita e não defesa em lei;
 
AGENTE CAPAZ (REQUISITO SUBJETIVO) 
A capacidade do agente é a aptidão para intervir em negócios jurídicos como declarante ou declaratário. 
A capacidade aqui é a de fato ou de exercício de direito, necessária para a prática dos atos da vida civil. 
Esta incapacidade é suprida pelos meios legais: a representação e a assistência (art. 1.634, V – CC). 
Os absolutamente incapazes não participam do ato, sendo representados pelos pais, tutores ou curadores. 
Já os relativamente incapazes participam do ato, junto com os referidos representantes, que assim os assistem.
 Observação: 
- Incapacidade x falta de legitimação – a incapacidade não se confunde com a falta de legitimação. Enquanto aquela é a inaptidão para exercer os atos da vida civil, a falta de legitimação é a incapacidade para a prática de determinados atos. O ascendente não estará legitimado a vender bens a um descendente enquanto não obtiver o consentimento do seu cônjuge e dos demais descendentes (art. 496, CC), embora não seja um incapaz, genericamente, para realizar negócios jurídicos. A proibição imposta ao tutor de adquirir bens do pupilo, mesmo em hasta pública, cria um impedimento ou falta de legitimação que não importa em incapacidade genérica. 
OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL (FÍSICA E JURIDICAMENTE), DETERMINADO OU DETERMINÁVEL (REQUISITO OBJETIVO)
OBJETO LÍCITO
 A validade do negócio jurídico requer, ainda, objeto lícito, que é aquele que não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes. Quando o objeto do contrato é imoral, os tribunais por vezes aplicam o princípio de direito de que ninguém pode valer-se da própria torpeza, também aplicado pelo legislador, por exemplo, no art. 150, CC que reprime o dolo ou torpeza bilateral.
OBJETO POSSÍVEL
 O objeto deve ser também, possível. Quando impossível, o negócio é nulo. A impossibilidade do objeto pode ser:
 Impossibilidade física – é a que emana de leis físicas ou naturais. Deve ser absoluta, isto é, atingir a todos, indistintamente. A impossibilidade relativa, que atinge o devedor, mas não outras pessoas não constitui obstáculo ao negócio jurídico (art. 106).
Impossibilidade jurídica – a impossibilidade jurídica do objeto ocorre quando o ordenamento jurídico proíbe, expressamente, negócios a respeito de determinado bem (ex.: herança de pessoa viva – art. 426, CC alguns bens fora do comércio, etc.).
OBJETO DETERMINADO OU DETERMINÁVEL 
 O objeto do negócio jurídico deve ser também, determinado ou determinável (indeterminado relativamente ou suscetível de determinação no momento da execução). Admite-se, assim, a venda de coisa incerta, indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade (art. 243, CC), que será determinada pela escolha; bem como a venda alternativa, cuja indeterminação cessa com a concentração (art. 252, CC).
FORMA PRESCRITA OU NÃO DEFESA EM LEI (REQUISITO FORMAL)
O terceiro requisito de validade do negócio jurídico é a forma, que deve ser prescrita ou não defesa em lei. 
Em regra, a forma é livre (art. 107 - CC). As partes podem celebrar o contrato por escrito público ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei, para dar maior segurança e seriedade ao negócio, exija a forma escrita, pública ou particular. 
É nulo o negócio jurídico quando não revestir a forma prescrita em lei ou for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade (art. 166, IV e V - CC). 
Em alguns casos, a lei reclama também a publicidade, mediante o sistema de Registros Públicos (art. 221 - CC). Podem ser distinguidas as seguintes espécies de formas:
FORMA LIVRE, ESPECIAL E CONTRATUAL:
FORMA LIVRE
Forma livre é a predominante no direito brasileiro. É qualquer meio de manifestação da vontade, não imposto obrigatoriamente pela lei (palavra escrita ou falada, escrito público ou particular, gestos, mímicas, etc.).
FORMA ESPECIAL OU SOLENE
A Forma especial ou solene é a exigida pela lei, como requisito de validade de determinados negócios jurídicos. 
Em regra, a exigência de que o ato seja praticado com observância de determinada solenidade tem por finalidade assegurar a autenticidade dos negócios e garantir a livre manifestação da vontade, demonstrar a seriedade do ato e facilitar a sua prova. 
A forma especial ou solene pode ser:
FORMA ÚNICA (Ad solemnitatem) – é a que, por lei, não pode ser substituída por outra, exemplo, o art. 108 - CC, que considera a escritura pública essencial à validade das alienações imobiliárias, não dispondo a lei em contrário; art. 1964 - CC, que autoriza a deserdação somente por meio de testamento; os arts. 1535 e 1536 - CC, que estabelecem formalidades para o casamento, etc.
FORMA MULTIPLA OU PLURAL (“ad probationem”) – diz-se quando o ato é solene, mas a lei permite a formalização do negócio por diversos modos, podendo o interessado optar validamente por qualquer um deles, exemplo, o art. 1609 - CC – o reconhecimento voluntário dos filhos, que pode ser feito de quatro modos; art. 842 - CC – a transação, que pode efetuar-se por termo nos autos ou escritura pública; art. 62 - CC – a instituição de uma fundação, que pode ocorrer por escritura pública ou por testamento; art. 1806 - CC – a renúncia da herança, que pode ser feita por escritura pública ou termo judicial; etc.
FORMA CONTRATUAL – é a convencionada pelas partes. O art. 109 - CC dispõe que, no “negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato”. Os contratantes podem, portanto, mediante convenção, determinar que o instrumento público torne-se necessário para a validade do negócio.
 
Princípios Fundamentais do Direito Contratual
Introdução
Para Fábio Ulhoa Coelho o contrato é “um negócio jurídico bilateral ou plurilateral gerador de obrigações para uma ou todas as partes, às quais correspondem direitos titulados por elas ou por terceiros”. O direito contratual, portanto, trata das relações entre as diversas partes contratantes, e evolui com o passar do tempo, assim como a sociedade.
É extremamente importante para o profissional conhecer e dominar os princípios basilares do direito contratual, pois eles dão a dimensão dos valores de justiça para a aplicação das normas nos casos concretos. Além disso, a legislação muda, mas os princípios que as norteiam permanecem. Assim, quando há conflitos entre normas, podemos utilizar os princípios para dirimir dúvidas e resolver litígios.
Os artigos 421 a 424 do Código Civil instituem as cláusulas gerais orientadoras das relações contratuais, deixando margem ao juiz e à doutrina para aplicação de conceitos éticos abrangentes. Desta forma, abrem espaço para uma atividade judicial mais inovadora. Neste espaço é que são inseridos os princípios do direito contratual. 
O autor retro citado elenca quatro princípios informadores do direito contratual: autonomia privada, vinculação das partes, equilíbrio dos contratantes e relatividade (COELHO-2012). Já Carlos Roberto Gonçalves enumera o princípio da autonomia da vontade, da supremacia da ordem pública, do consensualismo, relatividade dos efeitos do contrato, da obrigatoriedade dos contratos, da revisão dos contratos e da boa-fé e probidade.
Sintetizaremos os conceitos de cada um dos princípios acima citados, suas limitações e aplicabilidade nos conflitos com outras normas.
1 Os princípios no direito contratual
Alguns princípios são tradicionais, outros modernos. Alguns deles sofreramalterações e flexibilizações ao longo do tempo. Não há uma hierarquia estabelecida entre eles, a prevalência de uns sobre outros depende muito da condição dos contratantes e o tipo de relação entre eles: se de igualdade ou desigualdade. Saber identificar qual é a parte mais fraca de uma determinada relação contratual, e qual a origem de sua vulnerabilidade, é importantíssimo na interpretação das normas contratuais e na aplicação do direito.
Se uma das partes é considerada vulnerável terão maior preponderância no caso concreto os princípios protetores, tais como o da revisão dos contratos, da boa-fé ou da supremacia da ordem pública, por exemplo. Caso as partes tenham igual poderio terão maior influência os princípios que primam por maior liberdade, tais como o da autonomia da vontade, da vinculação das partes, etc.
1.1 Princípio da autonomia da vontade ou privada
É o princípio que afirma o poder às partes de dispor de seus próprios interesses mediante acordos (COELHO-2012). A vontade dos contratantes tem eficácia jurídica, devendo ser respeitada. Desde o direito romano as pessoas são livres para em querendo, contratar com quem quiserem e sobre o que quiserem. Com a Revolução Francesa e o individualismo esse princípio atinge o ápice de sua importância e influência na vida dos cidadãos. É positivado no nosso Código Civil no art. 421, que estabelece que “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato” e ainda no art. 425, que prevê ser “lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”.
No entanto este princípio não é absoluto, encontrando limites nos artigos acima transcritos e em outros princípios contratuais. Com o passar do tempo, e principalmente após a Revolução Industrial, a sociedade como um todo percebeu que o liberalismo praticado após a Revolução Francesa não atendia todos os anseios da população, o que trouxe limitações à liberdade de contratação.
Uma grande limitação deste princípio é a proteção da parte mais fraca na relação contratual, bem como o princípio da supremacia da ordem pública, a moralidade e o princípio da boa-fé objetiva. A ausência de plena consciência entre os contratantes também é um delimitador da autonomia da vontade, pois são anuláveis os contratos eivados de erros, dolo e outros defeitos (CC, art. 171, II).
 
1.2 Princípio da vinculação das partes ou obrigatoriedade dos contratos
A vontade das partes manifestada no contrato as obriga. Elas ficam vinculadas àquilo que contrataram. Este é um princípio fundamental do direito contratual, sem o qual o conceito de contrato se desfaria. Tal princípio tem como fundamento a necessidade de segurança nos negócios e a imutabilidade dos contratos que decorre da declaração da vontade dos contratantes fazer lei entre eles.
Muito embora esse princípio seja basilar, ele também não é absoluto, tornando a máxima pacta sunt servanda cada vez mais relativa. Teoricamente, a única causa de alteração dos contratos e escusa no descumprimento seria por motivo de força maior ou caso fortuito (art. 393 do Código Civil). No entanto, esse conceito foi-se abrandando com o passar do tempo, principalmente após a 1ª Guerra Mundial, quando se percebeu que não se deve manter o contrato inalterado à custa da destruição ou grande prejuízo de uma das partes, enquanto a outra aufere vantagens desproporcionais. Esta situação não é boa para a sociedade, nem para a economia.
Há ainda que mencionar que mesmo o conceito de caso fortuito e força maior atualmente no ordenamento jurídico se encontra prejudicado. Com os avanços tecnológicos a gama de eventos que podem ser previstos e evitados, ou ter contidos os prejuízos decorrentes, aumentou vertiginosamente. Na realidade o grande desafio é elaborar contratos que abarquem essas possibilidades, sem que se tornem complexos demais ou prolixos.
Os contratos devem ser conservados sempre que for possível a manutenção do equilíbrio entre as partes e de sua execução pautada nos princípios da boa-fé e sua função social. Assim fica preservada a movimentação saudável da economia e segurança jurídica. 
1.3 Princípio da revisão dos contratos
 Decorrente da situação de desequilíbrio não mais aceita pela sociedade e pelo Direito, o princípio da revisão dos contratos torna possível uma intervenção estatal nas relações contratuais para promover condições mais humanas e equitativas. Os arts. 478 a 480, 156 e 157 do Código Civil prevêem expressamente a existência da cláusula rebus sic stantibus aos contratos de execução continuada e diferida.
A partir dos artigos acima mencionados um contratante poderá pedir a resolução do contrato, ou sua revisão, caso a prestação de uma das partes se torne extremamente onerosa e com vantagem exacerbada para a outra. Ou seja, caso circunstâncias imprevisíveis e extraordinárias tornem o contrato totalmente desequilibrado, ameaçando a sua continuidade, pode-se requerer o desfazimento ou a revisão ao Judiciário.
No Brasil a teoria revisionista teve forte resistência, razão pela qual o seu difusor, o autor Arnoldo Medeiros da Fonseca, adaptou-a para incluir o requisito da imprevisibilidade acima mencionado. Para se justificar um pedido de resolução ou revisão judicial de uma contrato, há que se identificar o elemento imprevisibilidade no desequilíbrio de determinada relação contratual.
Além dos artigos mencionados, a parte que se sentir lesada poderá sempre se utilizar das cláusulas gerais para fundamentar pedido de revisão, seja por desvirtuamento da função social ou atentado contra a boa-fé por enriquecimento ilícito de uma das partes.
 
1.4 Princípio do equilíbrio dos contratantes
O conceito de justiça contratual modernamente aceito apregoa que uma das partes não pode auferir vantagem de sua superioridade em detrimento da parte considerada débil em uma determinada relação contratual, quer seja financeiramente, intelectualmente, profissionalmente. A autonomia da vontade exige que as partes se manifestem com plena consciência e conhecimento acerca do que estão contratando. Portanto, deve haver equilíbrio entre elas para que seja possível a negociação, possibilitando que ambos obtenham vantagem.
O desafio está em como promover esta igualdade quando são tantas as modalidades contratuais, tantas as relações comerciais e entre sujeitos tão diferentes uns dos outros. Portanto, entre contratantes desiguais, protege-se o mais débil, e entre contratantes iguais, promove-se o tratamento isonômico, garantindo a ambos as mesmas prerrogativas e direitos, além de maior liberdade para negociação.
 
1.5 Princípio da relatividade dos efeitos do contrato
O contrato faz lei entre as partes e os obriga (pacta sunt servanda). No entanto, somente as partes de uma determinada obrigação assumida é que podem sofrer os efeitos daquela contratação. O princípio da relatividade decorre do princípio da autonomia da vontade, pois somente aqueles que a manifestam ficam vinculados ao contrato. Declaração de vontade alheia não afeta terceiros ou seus patrimônios.
Tal princípio, porém, somente se mostra coerente com o modelo clássico de contrato. O Código Civil abalou essa visão, posto que não concebe mais o contrato apenas como instrumento de satisfação de interesses pessoais do contratante, conferindo-lhe função social. A consequência disto é possibilitar que terceiros que não são parte do contrato possam nele influir em razão de serem direta ou indiretamente afetados por ele.
 As normas de ordem pública e as cláusulas gerais abrandaram bastante a eficácia deste princípio, principalmente a nova concepção de função social.
 
1.6 Princípio da supremacia da ordem pública
 A supremacia da ordem pública é um dos princípios que limita a autonomia da vontade. Segundo este princípio, o interesse da sociedade deve prevalecer sobre o interesse individual, no que colidirem. Ele teve origem na constatação, no início do século passado, de que uma liberdade irrestrita de contratar poderia ocasionar desequilíbrios e exploraçãodo mais fraco, tornando necessária a intervenção do Estado para assegurar a igualdade econômica.
Este princípio é bem generalizado, sendo de difícil classificação, cabendo aos tribunais decidir em cada caso concreto se a ordem pública está ameaçada. Carlos Roberto Gonçalves classifica a ordem pública como uma cláusula geral, e a localiza no artigo 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que dispõe que “As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.”
 
1.7 Princípio do consensualismo
 De acordo com este princípio, basta o acordo de vontade entre as partes para o aperfeiçoamento do contrato, sem que haja necessidade de instrumento que formaliza dito acordo. Somente será necessária forma específica para o contrato quando a lei assim o exigir, por exemplo, necessidade de instrumento escrito para venda de automóveis e a imposição de registro na alienação fiduciária em garantia (CC, art. 1.361 par.1º).
 Nesse sentido, temos o ensinamento de Carlos Alberto Bittar que diz que: 
(...) “sendo o contrato corolário natural da liberdade e relacionado à forma disciplinadora reconhecida à vontade humana, tem-se que as pessoas gozam da faculdade de vincular-se pelo simples consenso, fundadas, ademais, no princípio ético do respeito à palavra dada e na confiança recíproca que as leva a contratar. Com isso, a lei deve, em princípio, abster-se de estabelecer solenidades, formas ou fórmulas que conduzam ou qualifiquem o acordo, bastando para si a definição do contrato, salvo em poucas figuras cuja seriedade de efeitos exija a sua observância (como no casamento, na transmissão de direitos sobre imóveis)”.
Maria Helena Diniz, que classifica este princípio separadamente do princípio da autonomia da vontade, o conceitua da seguinte forma:
 ... Simples acordo de duas ou mais vontades basta para gerar o contrato válido, [...], não se exige, em regra, qualquer forma especial para a formação do vínculo contratual. Embora alguns contratos, por serem solenes, tenham sua validez condicionada à observância de certas formalidades estabelecidas em lei, a maioria deles é consensual, já que o mero consentimento tem o condão de criá-los, sendo suficiente para sua perfeição e validade.
 No entanto, existem os contratos reais, que somente se aperfeiçoam com a entrega da coisa, tais como os contratos de comodato e mútuo.
 
1.8 Boa-fé objetiva
A cláusula geral da boa-fé objetiva foi inserida no Código Civil de 2002, no artigo 422, que dispõe que os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Consiste em retidão de conduta, um padrão de comportamento considerado ótimo, probo, honesto. Porém não basta apenas a intenção, mas sim a declaração e o comportamento externalizado.
Nas palavras de Humberto Theodoro Junior, temos a seguinte definição de boa-fé objetiva:
 Pelo princípio da boa-fé exige-se das partes do contrato uma conduta correta, sob a ótica mediana do meio social, encarada não com enfoque do subjetivismo ou psiquismo do agente, mas de forma objetiva. O que importa é verificar se o procedimento da parte, quando negociou as tratativas preliminares, quando estipulou as condições do contrato afinal concluído, quando deu execução ao ajuste e até depois de cumprida a prestação contratada, correspondeu aos padrões éticos do meio social.
Com a inclusão do artigo acima mencionado se institucionalizou a obrigação da honestidade na condução das contratações. Quem age sem boa-fé contraria dispositivo de lei, portanto comete ato ilícito. Cometendo ato ilícito o sujeito se torna vulnerável a possíveis indenizações por danos causados.
Porém, a ausência de boa-fé de um contratante não implica a desconstituição do vínculo caso não haja previsão expressa de resolução do contrato. Na lei há previsão apenas da responsabilidade subjetiva do contratante de má-fé, e não de revisão do contrato nem tampouco de sua extinção pela desobediência a esta cláusula geral.
 
1.9 Função social
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, XXIII, determina que a propriedade privada deva atender à sua função social. Estão também sujeitos à função social os contratos, já que a execução das obrigações contratuais depende de um bem que é propriedade privada envolvida na transação. No contrato de aluguel a propriedade privada é o imóvel, no de fornecimento são os insumos, ou a mão de obra ou prestação de serviço, etc.
O artigo 2.035, parágrafo único do Código Civil determina ser nulo o contrato sem respeito à função social, pois contraria norma de caráter público. Assim, se torna nulo o contrato de locação cujo locatário promove atividades ilícitas no imóvel, tal como exploração de jogos de azar.
Pode-se perceber, portanto, que a cláusula geral da função social visa à proteção dos interesses coletivos ou públicos, em clara limitação à liberdade de contratar. Fabio Ulhoa Coelho nos ensina, inclusive, que “a cláusula geral da função social é uma expansão da relatividade, com vistas a impedir que sejam afetados negativamente pelo contrato quaisquer interesses públicos, coletivos ou difusos acerca dos quais não podem dispor os contratantes”.
Como consequência ao desrespeito a clausula geral da função social do contrato, teremos a sua nulidade. Além disso, ficam responsáveis os contratantes pelos prejuízos causados e possíveis indenizações. No entanto, caso o juiz considere nulo um contrato por descumprimento da cláusula geral da função social, não poderá uma das partes exigir sua execução. O juiz ainda deve determinar o envio do processo ao Ministério Público para aplicação das penalidades cabíveis.
 
2 Aplicabilidade dos princípios X regras
É muito importante saber distinguir as regras dos princípios a fim de se determinar a sua aplicação nos casos concretos. Tal distinção é a base para solução de conflitos. É ainda o ponto de partida para a resposta à pergunta acerca dos limites e possibilidades da racionalidade no âmbito dos direitos fundamentais. Existem diversos critérios de distinção, e provavelmente o mais utilizado é o da generalidade. Nesse sentido, os princípios são normas com grau de generalidade alto e as regras são normas com grau de generalidade baixo. 
3 As cláusulas gerais no direito contratual
De acordo com Fabio Ulhoa Coelho, “cláusulas gerais são normas jurídicas vazadas em um ou mais conceitos vagos destinados a deixar em aberto a questão dos seus exatos contornos do seu âmbito de incidência”. Elas são criadas para nortear o juiz na solução dos conflitos de interesses quando o fato a ser regulado é demasiado complexo.
Há ainda que se destacar que as cláusulas gerais não são princípios. Carlos Roberto Gonçalves (GONÇALVES-2016) elenca os princípios e as cláusulas gerais de maneira conjunta, porém, adotamos o entendimento do primeiro autor mencionado por ser mais didático e preciso.
Os princípios, conforme já mencionado, são normas gerais de incidência ampla, porém precisa, e que nos ajudam a interpretar dispositivos de direito positivo de diversos ramos do conhecimento jurídico. Já as cláusulas gerais são normas criadas intencionalmente vagas, a fim de que seu âmbito de incidência seja definido pelos juízes em cada caso concreto.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS.
1 – INTRODUÇÃO: Os contratos se dividem em grandes grupos e são classificados quanto o número de pessoas, objeto, natureza, forma, etc.
2 – CONTRATOS UNILATERAIS, BILATERAIS E PLURILATERAIS: Os contratos unilaterais são aqueles que geram passividade de um só lado, dessa forma ele não necessariamente precisa de um só agente, mas sim o encargo é em função de um, é o que ocorre com a doação, onde somente aquele que doa se obriga, não existe nenhuma obrigação da parte do agente passivo.
Os bilaterais são aqueles que geram obrigações para ambos os participantes, é o que ocorre em uma compra e venda, onde o comprador se obriga apagar e o vendedor a entregar o objeto prestacional. Importante lembrar que para o contrato bilateral não há necessidade que as obrigações sejam simultâneas e equivalentes, assim um contrato onde o agente deve devolver a coisa ao final do uso, pode ser classificado como bilateral.
Os contratos plurilaterais são aqueles em que várias partes podem participar do mesmo, sendo que todas buscam um fim em comum, tendo o devido cuidado para não ser confundido com o contrato bilateral.
A doutrina citou o chamado bilateral imperfeito, esse contrato seria uma espécie de unilateral que no decorrer do tempo gera algum ônus para outra parte de forma que esse ônus é necessário para realização do contrato, assim sendo ele seria uma espécie de bilateral imperfeito, ficando regidos pelas mesmas regras dos contratos unilaterais.
3 – CONTRATOS GRATUITOS OU BENÉFICOS E ONEROSOS: Para classificar os contratos quanto a sua gratuidade, devemos analisar o ônus que é gerado para as partes, esse ônus é ligado às vantagens patrimoniais.
Nesse diapasão os contratos gratuitos ou benéficos, são aqueles que só geram ônus para uma das partes, enquanto que a outra fica com toda a vantagem do contrato.
Já os contratos onerosos são aqueles que geram ônus e vantagens para ambas as partes, é o que ocorre em uma compra e venda, onde comprador tem a vantagem e ao mesmo tempo o ônus, o mesmo ocorre com o vendedor.
A doutrina ainda divide os contratos gratuitos propriamente ditos e os desinteressados, o primeiro ocorre quando temos uma redução patrimonial de uma parte, é o que ocorre no contrato de doação, já o segundo que é subespécie do primeiro, ocorre nos contratos de comodato por exemplo.
Em geral, todo contrato oneroso é bilateral e todo gratuito é unilateral, exceto para os contratos de mútuo feneratício, os contratos que há previsão de juros, este é unilateral e oneroso.
4 – CONTRATOS COMUTATIVOS E ALEATÓRIOS: Os contratos onerosos se subdividem em: comutativos e aleatórios.
Os contratos comutativos são aqueles que ambas as partes se oneram de forma equivalente, essa é a palavra-chave desse tipo de contrato, além disso, o principal é que as partes podem se ante ver ao que vai acontecer. Assim sendo ele é oneroso e bilateral.
O contrato aleatório por natureza é aquele que ao menos uma das partes não poderá precisar no que estará por acontecer, ou seja, existe um risco (álea) para ao menos um dos contratantes.
Temos também os contratos acidentalmente aleatórios, que nada mais são que uma variação dos contratos comutativos. Ocorre quando no decorrer da execução do comutativo, por algum acontecimento ele torna-se aleatório, sendo divididos em duas espécies: venda de coisas futuras e venda de coisas existentes mas expostas ao risco. Nos que tem por objeto a venda de coisas futuras, o risco pode recair sobre a própria existência da coisa ou sobre sua quantidade.
5 – CONTRATOS PARITÁRIOS E DE ADESÃO. CONTRATO-TIPO: Contratos paritários são aqueles em que as partes se encontram em pé de igualdade, ou seja, elas têm total liberdade de pactuar o que bem entenderem, já nos contratos de adesão a parte que deseja aderir ao mesmo deve aceitar aquilo que está pré-disposto, não podendo nesse caso argumentar, só aderir ou não.
A doutrina ainda cita o chamado contrato-tipo, esses contratos se assemelham aos contratos de adesão, exceto pelo fato de nele poder haver uma discussão sobre o conteúdo, na verdade ocorre que eles são pré-estabelecidos, como uma forma geral, um modelo, exemplo são os contratos de banco em que alguns campos ficam vazios, como taxa de juros, parcelas, etc.
6 – CONTRATOS DE EXECUÇÃO INSTANTÂNEA, DIFERIDA E DE TRATO SUCESSIVO: Essa divisão leva em consideração o momento em que a obrigação deve ser cumprida. Os contratos de execução instantânea são os executados mediante único ato, sendo cumprido imediatamente após sua celebração.
Já os contratos de execução diferida se dão da mesma forma, com ato único, porém em tempo futuro, ele não ocorre instantaneamente.
Já os contratos de trato sucessivo, ocorre de forma continuada e sucessiva, como exemplo temos os contratos de aluguéis.
Essa diferenciação traz diversos efeitos práticos, haja vista que algumas teorias de aplicação do direito civil só se faz presente em alguns tipos de contratos e outros não.
7 – CONTRATOS PERSONALÍSSIMOS E IMPESSOAIS: Contratos personalíssimos ou intuitu personae, são contratos que levam em consideração as características dos agentes, ou seja, eles são personalíssimos, assim sendo a outra parte pode alegar não ser mais interessante o contrato se não for com aquele que ela contratou. 
Os contratos impessoais se diferem quanto à necessidade de ser aquela pessoa específica que realize a obrigação, neste caso tanto faz quem executará o objeto prestacional.
8 – CONTRATOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS: Nos contratos individuais, a vontade é individualmente considerada, ainda que seja realizada por um grupo de pessoas, o importante é que existe somente uma única vontade entre as partes.
Já os contratos coletivos são realizados entre pessoas jurídicas de direito privado, representativas de categorias profissionais, as categorias realizam os acordos e os mesmos abrangem todos os profissionais daquela categoria. Alguns autores nem classificam tal fato como um contrato e sim como um acordo normativo.
9 – CONTRATOS PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS: Contratos principais são aqueles que não dependem de nenhum outro para que sejam realizados, é o caso da compra e venda, por exemplo, já os contratos acessórios dependem de um contrato anterior a ele, é o que ocorre na cláusula penal e na fiança.
O importante é que o acessório sempre acompanha o principal, assim se o principal é nulo o acessório também o é, mas a recíproca não é verdadeira, além disso, temos interferência também no que diz respeito à prescrição.
10 – CONTRATOS SOLENES E NÃO SOLENES: Contratos solenes são aqueles que devem respeitar a forma prescrita em lei para que sejam afeiçoados, porém isso não significa que a forma seja requisito de validade, mas quando isso acontecer, dizemos que a sua formalidade é ad solemnitatem, é o que ocorre por exemplo nos casos acordo pré-nupcial, alienação de imóveis, entre outros, já quando a formalidade é exigida apena para facilitar a prova, dizemos que ela é ad probationem tantum.
Os contratos não solenes são aqueles em que imperam a máxima da forma livre entre os contratantes.
11 – CONTRATOS CONSENSUAIS E REAIS: Contratos consensuais são aqueles que se formam unicamente pelo acordo de vontades, assim dizemos que todos os contratos são em regras consensuais, ou seja, não solenes.
Existem, porém os contratos reais, esses para que se concretizem precisam da entrega da coisa, ou seja, da tradição.
12 – CONTRATOS NOMINADOS E INOMINADOS, TÍPICOS E ATÍPICOS:
O Código Civil regulamenta, em vinte capítulos, vinte e três contratos nominados, a saber: compra e venda, troca, contrato estimatório, doação, locação de coisas, empréstimo, prestação de serviço, empreitada, sociedade, depósito, mandato, comissão, agência, distribuição, corretagem, transporte, constituição de renda, seguro, jogo, aposta, fiança, transação e compromisso.
Contratos inominados são, pois, os que não têm denominação própria. A rigor, tomada ao pé da letra, a expressão contrato inominado equivaleria a contrato que não tem um nome no ordenamento jurídico.
Contratos típicos, por outro lado, são os regulados pela lei, os que têm o seu perfil nela traçado. Não é o mesmo que contrato nominado, embora costumam ser estudados em conjunto, porque todo contrato nominado é típico e vice-versa.
Contratos atípicos são os que resultam de um acordo de vontades, não tendo, porém, as suas características e requisitos definidos e regulados na lei. Para que sejam válidos basta o consenso, que as partes sejam livres e capazes e o seu objeto lícito (não contrariem a lei e os bons costumes), possível, determinado ou determinável e suscetível de apreciação econômica.
Negociações preliminares
O contratoresulta de duas manifestações de vontade: a proposta e a aceitação. A primeira, também chamada de oferta, policitação ou oblação, dá início à formação do contrato e não depende, em regra, de forma especial.
Nem sempre, no entanto, o contrato nasce instantaneamente de uma proposta seguida de uma imediata aceitação. Na maior parte dos casos a oferta é antecedida de uma fase, às vezes prolongada, de negociações preliminares caracterizada por sondagens, conversações, estudos e debates (tractatus, trattative), também denominada fase da puntuação. Nesta, como as partes ainda não manifestaram a sua vontade, não há nenhuma vinculação ao negócio. Qualquer delas pode afastar-se, simplesmente alegando desinteresse, sem responder por perdas e danos. Mesmo quando surge um projeto ou minuta, ainda assim não há vinculação das pessoas. Tal responsabilidade só ocorrerá se ficar demonstrada a deliberada intenção, com a falsa manifestação de interesse, de causar dano ao outro contraente, levando-o, por exemplo, a perder outro negócio ou realizando despesas. O fundamento para o pedido de perdas e danos da parte lesada não é, nesse caso, o inadimplemento contratual, mas a prática de um ilícito civil (CC, art. 186). Embora as negociações preliminares não gerem, por si mesmas, obrigações para qualquer dos participantes, elas fazem surgir, entretanto, deveres jurídicos para os contraentes, decorrentes da incidência do princípio da boa-fé, sendo os principais, os deveres de lealdade e correção, de informação, de proteção e cuidado e de sigilo. A violação desses deveres durante o transcurso das negociações é que gera a responsabilidade do contraente, tenha sido ou não celebrado o contrato. Essa responsabilidade ocorre, pois, não no campo da culpa contratual, mas da aquiliana, somente no caso de um deles induzir no outro a crença de que o contrato será celebrado, levando-o a despesas ou a não contratar com terceiro etc. e depois recuar, causando-lhe dano. Essa responsabilidade tem, porém, caráter excepcional.
O princípio da boa-fé, durante as tratativas preliminares, é fonte de deveres de esclarecimento, situação que surge seguidamente quando uma das partes dispõe de superioridade de informações ou de conhecimentos técnicos, que devem ser repassados amplamente e de forma compreensível à contraparte, para que esta possa decidir com suficiente conhecimento de causa. Também surgem, nas tratativas, deveres de lealdade, decorrentes da simples aproximação pré-contratual. Censura-se, assim, quem abandona inesperadamente as negociações já em adiantado estágio, depois de criar na outra parte a expectativa da celebração de um contrato para o qual se preparou e efetuou despesas, ou em função do qual perdeu outras oportunidades. A violação a esse dever secundário pode ensejar indenização, por existir uma relação obrigacional, independentemente de contrato, fundada na boa-fé, consagrada no artigo 422 do Código Civil.
1. A proposta
1.1. Conceito e características
Nem toda iniciativa ou manifestação de vontade no sentido de dar vida a um contrato é oferta em sentido técnico, mas só a declaração de vontade dirigida por uma parte à outra com a intenção de provocar uma adesão do destinatário à proposta.
A oferta traduz uma vontade definitiva de contratar nas bases oferecidas, não estando mais sujeita a estudos ou discussões, mas dirigindo-se à outra parte para que a aceite ou não, sendo, portanto, um negócio jurídico unilateral, constituindo elemento da formação contratual. Pode-se dizer, então, que proposta, oferta, policitação ou oblação “é uma declaração receptícia de vontade, dirigida por uma pessoa a outra (com quem pretende celebrar um contrato), por força da qual a primeira manifesta sua intenção de se considerar vinculada, se a outra parte aceitar”.
Representa ela o impulso decisivo para a celebração do contrato, consistindo em uma declaração de vontade definitiva. Distingue-se nesse ponto das negociações preliminares, que não têm esse caráter e não passam de estudos e sondagens, sem força obrigatória.
Aquela, ao contrário, cria no aceitante a convicção do contrato em perspectiva, levando-o à realização de projetos e às vezes de despesas e à cessação de alguma atividade. Por isso, vincula o policitante, que responde por todas essas consequências, se injustificadamente retirar-se do negócio.
A proposta deve conter todos os elementos essenciais do negócio proposto, como preço, quantidade, tempo de entrega, forma de pagamento etc. Deve também ser séria e consciente, pois vincula o proponente (CC, art. 427). Deve ser, ainda, clara, completa e inequívoca, ou seja, há de ser formulada em linguagem simples, compreensível ao oblato, mencionando todos os elementos e dados do negócio necessários ao esclarecimento do destinatário e representando a vontade inquestionável do proponente.
A oferta é um negócio jurídico receptício, pois a sua eficácia depende da declaração do oblato. Não tem, entretanto, força absoluta, gerando desde logo direitos e obrigações. Não se pode assim dizer que equivale ao contrato. Não perde o caráter de negócio jurídico receptício se for endereçada não a uma pessoa determinada, mas assumir a forma de oferta aberta ao público, como nos casos de mercadorias expostas em vitrinas, feiras ou leilões com o preço à mostra, bem como em licitações e tomadas de preços para contratação de serviços e obras.
O art. 429 do novo Código Civil declara que “a oferta ao público equivale à proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos”. Em geral entende-se que é limitada ao estoque existente.
Acrescenta o parágrafo único que “pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada”. A oferta aberta ao público vale como proposta obrigatória, pois, quando contém todos os elementos essenciais do contrato.
Há negócios, com efeito, em que a oferta, pela sua natureza, é aberta. Deixa de ser obrigatória se o policitante tiver a natural faculdade de mantê-la ou não. Neste caso, haverá apenas a potencialidade do contrato, que estará formado se até a sua aceitação ela ainda estiver vigente.
1.2. A oferta no Código Civil
1.2.1. A força vinculante da oferta
Dispõe o art. 427 do Código Civil:
“A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”. Portanto, repetindo: desde que séria e consciente, a proposta vincula o proponente. A obrigatoriedade da proposta consiste no ônus, imposto ao proponente, de mantê-la por certo tempo a partir de sua efetivação e de responder por suas consequências, por acarretar no oblato uma fundada expectativa de realização do negócio, levando-o muitas vezes, como já dito, a elaborar projetos, a efetuar gastos e despesas, a promover liquidação de negócios e cessação de atividade etc.
A lei abre, entretanto, várias exceções a essa regra. Dentre elas não se encontram, todavia, a morte ou a interdição do policitante. Nesses dois casos, respondem, respectivamente, os herdeiros e o curador do incapaz pelas consequências jurídicas do ato. Com efeito, a morte intercorrente não desfaz a promessa, que se insere como elemento passivo da herança. A proposta se transmite aos herdeiros como qualquer outra obrigação. Estes somente poderão retratar-se na forma do art. 428, IV, do novo diploma. O princípio, como adverte Sílvio Venosa, evidentemente não se aplica a uma proposta de obrigação personalíssima.
1.2.2. Proposta não obrigatória
As exceções referidas no item anterior encontram-se na segunda parte do retrotranscrito art. 427. Desse modo, a proposta de contrato obriga o proponente, “se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”.
A oferta não obriga o proponente, em primeiro lugar, se contiver cláusula expressa a respeito. É quando o próprio proponente declara que não é definitiva e se reserva o direito de retirá-la. Muitas vezes aaludida cláusula contém os dizeres: “proposta sujeita a confirmação” ou “não vale como proposta”. Neste caso a ressalva se incrusta na proposta mesma e o aceitante, ao recebê-la, já a conhece e sabe da sua não obrigatoriedade. Se ainda assim a examinar e estudar, será com seu próprio risco, pois não advirá nenhuma consequência para o proponente se optar por revogá-la, visto que estará usando uma faculdade que a si mesmo se reservou.
Em segundo lugar, a proposta não obriga o proponente em razão da natureza do negócio. É o caso, por exemplo, das chamadas propostas abertas ao público, que se consideram limitadas ao estoque existente e encontram-se reguladas no art. 429 do novo diploma.
E, por último, a oferta não vincula o proponente em razão das circunstâncias do caso, mencionadas no art. 428 do mesmo diploma. Não são, portanto, circunstâncias quaisquer, mas aquelas a que a lei confere esse efeito. O referido dispositivo declara que a proposta deixa de ser obrigatória:
“I - Se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita...”.
Quando o solicitado responde que irá estudar a proposta feita por seu interlocutor, poderá este retirá-la. É “pegar ou largar, e se o oblato não responde logo, dando pronta aceitação, caduca a proposta, liberando-se o proponente”. Considera-se também presente — aduz o dispositivo em tela — “a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante e simultânea”.
Presente, portanto, é aquele que conversa diretamente com o policitante, mesmo que por algum outro meio mais moderno de comunicação à distância, e não só por telefone, e ainda que os interlocutores estejam em cidades, Estados ou países diferentes. Se a comunicação entre as partes é feita pela Internet, estando ambas em contato simultâneo, a hipótese merece o mesmo tratamento jurídico conferido às propostas feitas por telefone, por se tratar de comunicação semelhante, só se tornando obrigatória a policitação se for imediatamente aceita. Todavia, o mesmo não deve suceder com a proposta feita por via de e-mail, não estando ambos os usuários da rede simultaneamente conectados.
“II - Se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar à resposta ao conhecimento do proponente”.
Cuida-se de oferta enviada, por corretor ou correspondência, a pessoa ausente. Uma pessoa não é considerada ausente, para esse fim, por se encontrar distante do outro contraente, visto que são considerados presentes os que contratam por telefone, mas sim devido à inexistência de contato direto. Para os fins legais, são considerados ausentes os que negociam mediante troca de correspondência ou intercâmbio de documentos.
O prazo suficiente para a resposta varia conforme as circunstâncias. É o necessário ou razoável para que chegue ao conhecimento do proponente e denomina-se prazo moral. Entre moradores próximos, não deve ser muito longo. Diferente será o entendimento se os partícipes do negócio residirem em locais distantes e de acesso difícil e demorado.
“III - Se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado”.
Se for fixado prazo para a resposta, o proponente terá de esperar pelo seu término. Esgotado, sem resposta, estará este liberado, não prevalecendo a proposta feita.
“IV - Se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente”.
Apesar da força obrigatória da proposta, a lei permite ao proponente a faculdade de retratar-se, ainda que não haja feito ressalva nesse sentido. Todavia, para que se desobrigue, e não se sujeite às perdas e danos, é necessário que a retratação chegue ao conhecimento do aceitante antes da proposta ou simultaneamente com ela, “casos em que as duas declarações de vontade (proposta e retratação), por serem contraditórias, nulificam-se e destroem-se reciprocamente. Não importa de que via ou meio se utiliza o proponente (carta, telegrama, mensagem por mão de próprio etc.)”.
Por exemplo: antes que o mensageiro entregue a proposta ao outro contratante, o ofertante entende-se diretamente com ele, por algum meio rápido de comunicação, retratando-se. A proposta, in casu, não chegou a existir juridicamente, porque retirada a tempo.
2. A aceitação
2.1. Conceito e espécies
Aceitação ou oblação é a concordância com os termos da proposta. É manifestação de vontade imprescindível para que se repute concluído o contrato, pois, somente quando o oblato se converte em aceitante e faz aderir a sua vontade à do proponente, a oferta se transforma em contrato. A aceitação consiste, portanto, “na formulação da vontade concordante do oblato, feita dentro do prazo e envolvendo adesão integral à proposta recebida”. 
Oblato é considerado, pelo direito, como a pessoa a quem é direcionada a proposta de um contrato, que será aceita ou não, dependendo da sua manifestação de vontade. A expressão é sinônimo de aceitante ou de aderente.
Para produzir o efeito de aperfeiçoar o contrato a aceitação deve ser pura e simples. Se apresentada “fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta” (CC, art. 431), comumente denominada contraproposta. Como a proposta perde a força obrigatória depois de esgotado o prazo concedido pelo proponente, a posterior manifestação do solicitado ou oblato também não obriga o último, pois aceitação não tem e, sim, nova proposta. O mesmo se pode dizer quando este não aceita a oferta integralmente, introduzindo-lhe restrições ou modificações.
A aceitação pode ser expressa ou tácita. A primeira decorre de declaração do aceitante, manifestando a sua anuência; a segunda, de sua conduta, reveladora do consentimento.
O art. 432 do Código Civil menciona duas hipóteses de aceitação tácita, em que se reputa concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa: a) quando “o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa”; b) ou quando “o proponente a tiver dispensado”.
Se, por exemplo, um fornecedor costuma remeter os seus produtos a determinado comerciante, e este, sem confirmar os pedidos, efetua os pagamentos, instaura-se uma praxe comercial. Se o último, em dado momento, quiser interrompê-la, terá de avisar previamente o fornecedor, sob pena de ficar obrigado ao pagamento de nova remessa, nas mesmas bases das anteriores.
Costuma-se mencionar, como exemplo da situação descrita na letra b, a hipótese do turista que remete um fax a determinado hotel, reservando acomodações, informando que a chegada se dará em tal data, se não receber aviso em contrário. Não chegando a tempo a negativa, reputar-se-á concluído o contrato.
2.2. Hipóteses de inexistência de força vinculante da aceitação
Malgrado o contrato se aperfeiçoe com a aceitação, o Código Civil trata de duas hipóteses em que tal manifestação de vontade deixa de ter força vinculante:
a) Se a aceitação, embora expedida a tempo, por motivos imprevistos, chegar tarde ao conhecimento do proponente (CC, art. 430, primeira parte) — Assim, se, embora expedida no prazo, a aceitação chegou tardiamente ao conhecimento do policitante, quando este, estando liberado em virtude do atraso involuntário, já celebrara negócio com outra pessoa, a circunstância deverá ser, sob pena de responder por perdas e danos, imediatamente comunicada ao aceitante, que tem razões para supor que o contrato esteja concluído e pode realizar despesas que repute necessárias ao seu cumprimento. Assim o exige a segunda parte do mencionado art. 430.
b) Se antes da aceitação, ou com ela, chegar ao proponente a retratação do aceitante — Dispõe, com efeito, o art. 433 do Código Civil que se considera “inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante”. Verifica-se que a lei permite também a retratação da aceitação. Neste caso, a “declaração da vontade, que continha a aceitação, desfez-se, antes que o proponente pudesse tomar qualquer deliberação no sentido da conclusão do contrato”.
3. Momento da conclusão do contrato
3.1. Contratos entre presentes
Se o contratofor celebrado entre presentes, a proposta poderá estipular ou não prazo para a aceitação. Se o policitante não estabelecer nenhum prazo, esta deverá ser manifestada imediatamente, sob pena de a oferta perder a força vinculativa. Se, no entanto, a policitação estipulou prazo, a aceitação deverá operar-se dentro nele, sob pena de desvincular-se o proponente.
Constitui ponto relevante na doutrina da formação dos contratos a determinação do momento em que se deve considerar formado o contrato entre presentes e entre ausentes.
Para que se possa estabelecer a obrigatoriedade da avença, será mister verificar em que instante o contrato se aperfeiçoou, unindo os contraentes, impossibilitando a retratação e compelindo-os a executar o negócio, sob pena de responderem pelas perdas e danos.
Se o contrato for realizado inter praesentes nenhum problema haverá, visto que as partes estarão vinculadas na mesma ocasião em que o oblato aceitar a proposta. Nesse momento caracterizou-se o acordo recíproco de vontades e, a partir dele, o contrato começará a produzir efeitos jurídicos.
3.2. Contratos entre ausentes
A dificuldade para se precisar em que momento se deve considerar formado o contrato aparece na avença inter absentes, efetivado por correspondência epistolar (carta ou telegrama) ou telegráfica, com ou sem a intervenção dos serviços de correio. A correspondência pode ser encaminhada pelo próprio interessado ou por alguém contratado para essa tarefa.
Quando o contrato é celebrado entre ausentes, por correspondência (carta, telegrama, fax, radiograma, e-mail etc.) ou intermediários, a resposta leva algum tempo para chegar ao conhecimento do proponente e passa por diversas fases.
Divergem os autores a respeito do momento em que a convenção se reputa concluída. Para a teoria da informação ou da cognição, é o da chegada da resposta ao conhecimento do policitante, que se inteira de seu teor. Tem o inconveniente de deixar ao arbítrio do proponente abrir a correspondência e tomar conhecimento da resposta positiva. Não basta a correspondência ser entregue ao destinatário. O aperfeiçoamento do contrato se dará somente no instante em que o policitante abri-la e tomar conhecimento do teor da resposta.
A segunda teoria, a da declaração ou da agnição, subdivide-se em três: a) da declaração propriamente dita; b) da expedição; e c) da recepção.
Para a teoria da declaração propriamente dita, o instante da conclusão coincide com o da redação da correspondência epistolar. Obviamente, tal entendimento não pode ser aceito, porque, além da dificuldade de se comprovar esse momento, o consentimento ainda permanece restrito ao âmbito do aceitante, que pode destruir a mensagem em vez de remetê-la.
Para a teoria da expedição, não basta a redação da resposta, sendo necessário que tenha sido expedida, isto é, saído do alcance e controle do oblato. É considerada a melhor, embora não seja perfeita, porque evita o arbítrio dos contraentes e afasta dúvidas de natureza probatória.
Por último, a teoria da recepção exige mais: que, além de escrita e expedida, a resposta tenha sido entregue ao destinatário. Distingue-se da teoria da informação porque esta exige não só a entrega da correspondência ao proponente, como também que este a tenha aberto e tomado conhecimento de seu teor.
O art. 434 do Código Civil acolheu expressamente a teoria da expedição, ao afirmar que os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida. Proclama, com efeito, o aludido dispositivo:
“Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado”.
Observa-se que o novo diploma estabeleceu três exceções à regra de que o aperfeiçoamento do contrato se dá com a expedição da resposta. Na realidade, recusando efeito à expedição se tiver havido retratação oportuna, ou se a resposta não chegar ao conhecimento do proponente no prazo, desfigurou ele a teoria da expedição. Ora, se sempre é permitida a retratação antes de a resposta chegar às mãos do proponente, e se, ainda, não se reputa concluído o contrato na hipótese de a resposta não chegar no prazo convencionado, na realidade o referido diploma filiou-se à teoria da recepção, e não à da expedição.
A terceira exceção apresentada no retrotranscrito art. 434 do Código Civil (“se a resposta não chegar no prazo convencionado”) é inoperante e injustificável, como reconhece a doutrina, pois, se há prazo convencionado e a resposta não chega no intervalo determinado, não houve acordo e sem ele não há contrato.
4. Lugar da celebração
Dispõe o art. 435 do Código Civil:
“Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto”. Optou o legislador, pois, pelo local em que a proposta foi feita.
5. Formação dos contratos pela Internet
Crescem, a cada dia, os negócios celebrados por meio da Internet. Entretanto, o direito brasileiro não continha, até há pouco tempo, nenhuma norma específica sobre o comércio eletrônico, nem mesmo no Código de Defesa do Consumidor.
No estágio atual, a obrigação do empresário brasileiro que se vale do comércio eletrônico para vender os seus produtos ou serviços, para com os consumidores, é a mesma que o Código de Defesa do Consumidor atribui aos fornecedores em geral. A transação eletrônica realizada entre brasileiros está, assim, sujeita aos mesmos princípios e regras aplicáveis aos demais contratos aqui celebrados.
No entanto, o contrato de consumo eletrônico internacional obedece ao disposto no art. 9º, § 2º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que determina a aplicação, à hipótese, da lei do domicílio do proponente. Por essa razão, se um brasileiro faz a aquisição de algum produto oferecido pela Internet por empresa estrangeira, o contrato então celebrado rege-se pelas leis do país do contratante que fez a oferta ou proposta.
Assim, não obstante o Código de Defesa do Consumidor brasileiro (art. 51, I), por exemplo, considere abusiva e não admita a validade de cláusula que reduza, por qualquer modo, os direitos do consumidor (cláusula de não indenizar), o internauta brasileiro pode ter dado sua adesão a uma proposta de empresa ou comerciante estrangeiro domiciliado em país cuja legislação admita tal espécie de cláusula, especialmente quando informada com clareza aos consumidores. E, nesse caso, não terá o aderente como evitar a limitação de seu direito.
Da mesma forma, o comerciante ou industrial brasileiro que anunciar os seus produtos no comércio virtual deve atentar para as normas do nosso Código de Defesa do Consumidor, especialmente quanto aos requisitos da oferta. Podem ser destacadas as que exigem informações claras e precisas do produto, em português, sobre o preço, qualidade, garantia, prazo de validade, origem e eventuais riscos à saúde ou segurança do consumidor (art. 31), e as que se referem à necessidade de identificação dos fabricantes pelo nome e endereço (art. 33). Se as informações transmitidas são incompletas ou obscuras, prevalece a condição mais benéfica ao consumidor (CDC, arts. 30 e 47). E, se não forem verdadeiras, configura-se vício de fornecimento, sendo que a disparidade entre a realidade do produto ou serviço e as indicações constantes da mensagem publicitária, na forma dos arts. 18 e 20 do mencionado Código, caracteriza vício de qualidade. Anote-se que essas cautelas devem ser tomadas pelo anunciante e fornecedor dos produtos e serviços, como único responsável pelas informações veiculadas, pois o titular do estabelecimento eletrônico onde é feito o anúncio não responde pela regularidade deste nos casos em que atua apenas como veículo. Do mesmo modo, não responde o provedor de acesso à Internet, pois os serviços que presta são apenas instrumentais e não há condições técnicas de avaliar as informações nem o direito de interceptá-las e de obstar qualquer mensagem.
O Código Civil, em harmonia com o art. 9º, § 2º, da Lei de Introdução,diz que o direito aplicável aos contratos em geral é aquele do lugar de onde emanou a proposta (art. 435). É certo, porém, que o Código de Defesa do Consumidor expressamente dispõe que consumidores brasileiros têm o direito de promover quaisquer ações fundadas na responsabilidade do fornecedor perante o foro de seu próprio domicílio. Desse modo, o consumidor poderia promover a ação no Brasil, mas o direito a ser aplicado pela corte brasileira teria de ser o alienígena, do país de onde se originou a proposta.
DA ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO.
A estipulação em favor de terceiro constitui uma exceção ao princípio da relatividade dos contratos, segundo o qual, somente as partes signatárias são alcançadas pelo contrato. Destarte, ocorre estipulação em favor de terceiro quando uma pessoa (promitente) convenciona com outra (estipulante) que esta concederá uma vantagem em favor daquele, que embora não sendo parte do contrato (beneficiário), receberá o benefício sem qualquer contraprestação. Exemplo: se em um contrato de transporte no qual o vendedor contrata com uma transportadora o envio da mercadoria ao adquirente (terceiro) e este, o cliente, paga pelo frete, incluso ou não na operação da venda (comum em operações via internet), não haverá estipulação em favor de terceiro, em face da onerosidade do frete (cadê o benefício ao terceiro?). Ao contrário, se o frete for por conta da empresa vendedora (Estipulante) que contrata a transportadora (Promitente), haverá estipulação em favor do terceiro (cliente) que recebe a atribuição gratuita (benefício). - Logo ao meu sentir, não é correto afirmar como regra, de que nesse tipo de contratação (transporte) existe necessariamente uma estipulação em favor terceiro -, já que dependerá da existência ou não da gratuidade ao terceiro.
 Personagens do contrato, em cujo conteúdo consta benefício em favor de terceiros:
a) o estipulante; 
b) o promitente; 
c) o beneficiário (estranho à formação da relação contratual). 
Em relação ao estipulante e ao promitente, estes devem ter capacidade para contratar e o pacto deve atender às disposições do artigo 104 do código civil (requisitos essenciais para a formação dos contratos).
De outra banda, do beneficiário não se exige capacidade civil, podendo qualquer pessoa ser contemplada com a estipulação.
 Este tipo de contrato só se completa no instante em que o beneficiário aceita o benefício.
 O contrato é consensual e de forma livre. 
O terceiro não precisa desde logo ser determinado, basta que seja determinável.
A gratuidade do benefício é essencial, não podendo ser imposta contraprestação do terceiro (beneficiário). O benefício consiste na gratuidade.
Se for estipulado que o beneficiário pode reclamar a execução do contrato, o estipulante perde o direito de exonerar o promitente (estipulação irrevogável). O direito atribuído ao beneficiário, assim, só pode ser por ele exercido, se o contrato não foi inovado com a sua substituição prevista, à qual independe da sua anuência e da anuência do outro contratante.
No tocante a natureza jurídica, em que pese inúmeros entendimentos divergentes, segundo a corrente dominante, trata-se de um contrato “sui generis” pelo fato da prestação não ser realizada em favor do próprio estipulante.
Não obstante, não faltam entendimentos doutrinários no sentido de que o instituto da estipulação em favor de terceiro é uma cláusula especial dos contratos, e não um contrato propriamente dito.
Uma vez concedida ao beneficiário à faculdade de reclamar a execução da obrigação, a perda pelo estipulante de exonerar o promitente, será irrevogável.
Alguns exemplos: Seguro de vida; doação com encargo a favor de terceiro; Seguro de acidente de trabalho; separação consensual de casais em que um dos cônjuges compromete-se a deixar certo bem de sua propriedade para filhos; constituição de renda pelo qual o promitente recebe certa quantia do estipulante, comprometendo-se a pagar mensalmente durante certo tempo, uma renda a terceira pessoa.
Observação: Em princípio a todo e qualquer tipo de contrato, atendidos seus pressupostos legais, pode conter uma estipulação em favor de terceiro, desde que os três personagens se façam presentes e que a atribuição ao beneficiário seja GRATUITA, sem imposição de qualquer contraprestação.
Vale ainda salientar que a modalidade do objeto do contrato – seguro, doação, transporte de mercadorias, por exemplo, não indica necessariamente tratar-se de estipulação em favor de terceiro. É possível, por exemplo, um contrato de seguro, não conter estipulação em favor de terceiro, enquanto outro contê-la, idem com a doação, transporte, dentre outros.
Da Promessa de Fato de Terceiro.
A promessa de fato de terceiro é uma obrigação de fazer de resultado que, não sendo executada, resolve-se em perdas e danos. O único a se vincular é o promitente.
 Quem promete fato de terceiro, fica obrigado a assegurar o cumprimento, sob pena de responder por perdas e danos.
 Exemplo: promessa sobre a apresentação de um artista a um determinado clube ou casa de shows. 
Se o terceiro anuir passa ele a responder pelo cumprimento da promessa e o promitente se exime da responsabilidade, exceto se houver solidariedade.
Se o promitente agir como mandatário não lhe caberá a responsabilidade, pois estaria autorizado a prometer, pois o estaria fazendo em nome do responsável pelo ato ou fato. Neste caso a responsabilidade caberia ao terceiro, o cantor, por exemplo.
Natureza jurídica: Trata-se de um negócio jurídico submetido a um fator eficacial, ou seja, com um elemento acidental (uma condição) que limita o cumprimento da obrigação (fato de terceiro), pois aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este não o executar, 
Não sendo cumprida a obrigação, resolve-se em perdas e danos, posto que ninguém pode vincular terceiro a uma obrigação,
Inovação do parágrafo único do artigo 439, CC, visa à proteção de um dos cônjuges contra desmandos do outro, como por exemplo, no caso do marido ter prometido obter a anuência da mulher na concessão de uma fiança, havendo esta recusado a prestá-la, cuja recusa levaria o promitente a responder por perdas e danos que atingiria o patrimônio do casal, afetando a esposa que nada prometera (art. 1.649,CC, torna a fiança anulável sem vênia conjugal).
Art. 440, CC: crítica: Desnecessária a menção, pois assumindo a obrigação, o terceiro passou a ser o principal devedor. A assunção da obrigação pelo terceiro desobriga o promitente. 
DO CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR
Cláusula “pro amico eligendo ou sibi aut amico vel eligendo”.
Trata-se de avença comum nos compromissos de compra e venda de imóveis, nos quais o compromissário comprador reserva-se a opção de receber a escritura definitiva ou indicar terceiro para nela figurar como adquirente. A referida cláusula é denominada pro amico eligendo ou sibi aut amico vel eligendo. Tem sido utilizada para evitar despesas com nova alienação, nos casos de bens adquiridos com o propósito de revenda, com a simples intermediação do que figura como adquirente. Feita validamente, a pessoa nomeada adquire os direitos e assume as obrigações do contrato com efeito retroativo (“ex tunc”), sendo que, no momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado; a pessoa nomeada adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado (efeitos ex tunc).
Integram esse contrato, o promitente, que assume o compromisso de reconhecer o amicus ou eligendo; o estipulante, que pactua em seu favor a cláusula de substituição; e o electus, que, validamente nomeado, aceita sua indicação, que é comunicada ao promitente. A validade do negócio requer capacidade e legitimação de todos os personagens, nomomento da estipulação do contrato.
Natureza Jurídica
Não resta dúvida de que tal contrato se aproxima fortemente das estipulações em favor de terceiro, constituindo, como estas, exceção ao princípio da relatividade dos efeitos dos contratos, princípio este segundo o qual os referidos efeitos se produzem apenas entre as partes e seus herdeiros, não afetando terceiros. Todavia, apesar da semelhança, distinguem-se pelo fato de que, nas primeiras, o estipulante e o promitente permanecem vinculados ao contrato, mesmo depois da adesão do terceiro, que se mantém estranho a ele. No contrato com pessoa a nomear, um dos contraentes desaparece, sendo substituído pelo nomeado e aceitante. Outra diferença é que na estipulação, o estipulante age em nome próprio, ao passo que no contrato com pessoa a declarar há uma atuação em nome de outrem. Por derradeiro, na estipulação em favor de terceiro é atribuído ao beneficiário um simples direito. Também na Estipulação em favor de terceiro é atribuído ao beneficiário um simples direito, enquanto que no contrato com pessoa a declarar o eleito assume a inteira posição contratual, como se tivesse contatado desde a sua celebração.
É mais evidente a diferença com a promessa de fato de terceiro, porque esta acarreta obrigação somente para o promitente, a de obter de terceiro uma declaração ou prestação. No caso vertente, contrato com pessoa a declarar, o contratante promete fato próprio, mas secundária e alternativamente, fato de terceiro (aceitação da indicação pelo “electus”), posto que, se a declaração de nomeação for válida, o promitente não pode recusar-se ao cumprimento.
Também não se confunde com a cessão de contrato, visto que no contrato com pessoa a declarar, a faculdade de indicação já vem prevista originariamente, podendo, inclusive, nunca ser exercida; na cessão da posição de contrato, por sua vez, NÃO ocorre necessariamente estipulação prévia da faculdade de substituição. Com efeito, consoante a teoria mais razoável e prevalente pela doutrina é a teoria da condição, suspensiva da aquisição do eligendo e resolutiva da do estipulante.
O contrato com pessoa a declarar é negócio jurídico bilateral, que se aperfeiçoa com o consentimento dos contraentes, que são conhecidos. As partes contratantes são assim, desde logo, definidas e identificadas. Uma delas, no entanto, reserva-se a faculdade de indicar a pessoa que assumirá as obrigações e adquirirá os direitos respectivos, em momento futuro. Só falta, portanto, a pessoa nomeada ocupar o lugar de sujeito da relação jurídica formada entre os contratantes originários.
A pessoa, nomeada, adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado.
O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários, se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la e, se a pessoa nomeada era insolvente, ainda que a outra pessoa (estipulante) o desconhecia no momento da indicação. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte (promitente) no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, caso outro não tenha sido estipulado. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz não se revestindo da mesma forma que as partes usaram para o contrato. 
Se a nomeação não for idônea, no prazo e na forma corretos, o contratante originário permanece na relação contratual, assim como se o indicado era insolvente, com desconhecimento da outra parte. Da mesma forma ocorrerá, se o nomeado era incapaz no momento da nomeação, independentemente do conhecimento prévio ou não do estipulante. Também permanecerão os partícipes originários, se o nomeado não aceitar a posição contratual.
Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários.
Salta, pois, aos olhos que o contrato com cláusula de pessoa a declarar é um negócio jurídico que envolve certa margem de risco, quer para os contratantes originários, como para o terceiro que aceita e indicação.
Pode incidir em toda espécie de contrato que, pela sua natureza não demonstre incompatibilidade, como por exemplo, ocorre nos contratos intuitu personae, nos quais um dos contratantes é insubstituível.
Aplicações práticas: por razões pessoais, determinada pessoa não quer aparecer – pelos no momento da celebração do contrato – ex. um condômino que quer adquirir outras quotas da co-propriedade; um vizinho que quer comprar o imóvel do vizinho e não inflacionar o preço....; evitar despesas com nova alienação, quando há a intenção de revender o imóvel adquirido.
VÍCIOS REDIBITÓRIOS:
Conceito: Vícios redibitórios, por definição, são defeitos materiais ocultos que diminuem o valor ou prejudicam a utilização da coisa recebida por força de um contrato comutativo (prestações certas e determinadas) ou de doação onerosa (modal ou remuneratória).
1. Requisitos para a caracterização dos vícios redibitórios: a) que a coisa tenha sido recebida em virtude de contrato comutativo (de prestações certas e determinadas) ou de doação onerosa (encargo ou remuneratória); b) que os defeitos sejam ocultos. Não pode alegar vício redibitório, por exemplo, o comprador de um veículo com defeito grave no motor, se a falha pudesse ser facilmente verificada com um rápido passeio ao volante, ou a subida de uma rampa, e o adquirente dispensou o test-drive; c) que os defeitos existam no momento da celebração e que perdurem até o momento da reclamação, ainda que venham a se manifestar após a alienação, como por exemplo, vírus existente no organismo de um animal. Não responde o alienante, por defeitos supervenientes; d) que os defeitos sejam desconhecidos do adquirente, caso contrário terá ele assumido o risco, caracterizando-se um contrato aleatório – Ex. vende-se no estado em que se encontra; e) que os defeitos sejam graves a ponto de prejudicar o uso da coisa ou diminuir-lhe o valor.
2. No repertório de jurisprudência encontram-se alguns exemplos de defeitos considerados graves: a esterilidade de touro adquirido como reprodutor; o excessivo aquecimento do motor de veículo nos aclives; sacos adquiridos para embalar produtos consumíveis apresentando cheiro intolerável etc.
3. Se o alienante não conhecia o vício, ou o defeito, isto é, se agiu de boa-fé, tão somente restituirá o valor recebido, mais despesas do contrato (escritura, elaboração do contrato, imposto e taxas recolhidas sobre a operação etc.) Se, agiu de má-fé, além de restituir o que recebeu (preço), responderá também por perdas e danos. Com efeito, para a caracterização do vício redibitório é irrelevante o conhecimento deste pelo alienante. Todavia, a sua má-fé (conhecimento do vício) determinará também o direito ao adquirente de pleitear perdas e danos.
4. Podem os contraentes, ampliar convencionalmente os prazos decadenciais do artigo 445, CC, como por exemplo, com o prazo de garantia de um, dois ou mais anos na venda de veículos. Essa ampliação consiste na garantia contratual. Nesse caso, primeiro fluirá a garantia contratual e depois a legal (art. 445,CC). Durante o prazo da garantia contratual, não correrá o prazo da garantia legal, que só ocorrerá após finda a primeira, ou decaído o adquirente, nos termos do artigo 446 do CC.
5. Fluirá primeiro o prazo da garantia convencional e, após o da garantia legal (art. 445, CC), ocorrendo, portanto, uma cumulação de prazos. Todavia, se o vício surgir no curso da garantia convencional, o prazo para reclamar se esgota em trinta dias seguintes ao seu conhecimento. Equivale dizer que, mesmo havendo ainda prazo para garantia convencional, o adquirente é obrigado a denunciar o defeito nos trinta dias seguintes em que o descobriu, sob pena de decadência do direito. Após o fim ou decadência da garantia contratual, começará a fluir o prazo legal. Tal postura decorre do dever de probidade e boa-fé consagrado no art. 422 do CC.
6. Se um primeiro objeto é substituído por outro, porque tinha defeito, o prazo para redibir o contrato conta-se da data da entregado segundo.
7. Poderá o adquirente lesado pelo vício, mesmo no caso de venda feita compulsoriamente por autoridade da justiça (hasta pública), propor tanto a ação redibitória como a estimatória, devendo tal ação ser em face do credor beneficiado com a praça e/ou o devedor pelo valor que lhe for restituído como saldo.
8. É válida a cláusula de isenção de responsabilidade do alienante, se este desconhecia a existência do vício no ato da alienação.
9. Os prazos decadenciais, respectivamente de 30 dias para bens móveis e de um ano para imóveis, contam-se da efetiva entrega (tradição) da coisa. Se o adquirente já estava na posse da coisa no momento da aquisição (locação, arrendamento, por exemplo), os prazos decadenciais fluirão a partir da alienação, reduzido à metade, seja para bens móveis, seja para bens imóveis. Com efeito, no caso dos primeiros (móveis) o prazo inicial de 30 dias, cairá para 15 dias (diferentemente do Código de Defesa do Consumidor - art. 26) e no caso dos imóveis, o prazo inicial de um ano, reduzir-se-á a seis meses.
10. O vício redibitório é erro objetivo sobre a coisa, que contém um defeito oculto. Seu fundamento jurídico é a obrigação que a lei impõe a todo alienante de garantir ao adquirente o uso da coisa, alicerçada na teoria do inadimplemento contratual, que aponta o fundamento da responsabilidade pelos vícios redibitórios no princípio da garantia. Importante: Assim, não obstante a proximidade conceitual com o erro como vício de consentimento, com este não deve ser confundido, haja vista que no erro estamos diante de um vício de consentimento, elemento subjetivo que pode levar à anulabilidade do negócio, estando ligado à manifestação da vontade e não com defeito do bem. Exemplo: Se alguém faz a compra de um relógio rolex, pensando ser de ouro e depois verifica ser apenas banhado a ouro, não se vislumbra vício redibitório e sim erro. Contudo, se compro o referido relógio que é de ouro, porém não funciona, então estaremos diante de um vício redibitório, ou seja, de um defeito objetivo.
11. Pelo atual Código Civil, poderá o adquirente lesado, mesmo no caso de venda feita compulsoriamente por autoridade da justiça, propor tanto a ação redibitória como a quanti minoris (quanto menos vale), se coisa arrematada contiver vício redibitório, devendo tais ações ser em face do credor beneficiado pela hasta pública, ou do devedor (donde se originou o bem leiloado) pelo valor remanescente recebido da praça.
EVICÇÃO:
Conceito: Evicção consiste na perda pelo adquirente (evicto), da posse ou propriedade da coisa transferida, por força de uma sentença judicial que reconheceu o direito anterior de terceiro, denominado evictor. Etimologicamente a palavra evicção deriva do latim evincere, que significa ser vencido num pleito judicial. 
Fundamento jurídico: Funda-se no mesmo princípio de garantia em que se assenta a teoria dos vícios redibitórios (vícios/defeitos materiais). Nestes (vícios redibitórios) o dever do alienante é garantir o uso e gozo da coisa, protegendo o adquirente contra os defeitos ocultos. Na evicção a garantia é com relação a defeitos na transmissão da propriedade da coisa, ou seja, responde o alienante por vícios ou defeitos jurídicos.
Não se exige culpa do alienante, que mesmo de boa-fé responde pela evicção, salvo quando expressamente se tenha convencionado em contrário, pois se admite a exclusão da responsabilidade.
O dever de garantia imposto ao alienante surge não só na compra e venda, como em todo contrato oneroso, tais como, permuta, parceria pecuária, sociedade, transação, bem como na dação em pagamento.
Inexiste, em regra, responsabilidade pela evicção nos contratos gratuitos, salvo se se tratar de doação modal (com encargo).
Esta garantia subsiste mesmo nas aquisições feitas em hasta pública (leilão).
A cláusula de exclusão de responsabilidade do alienante, por si só, isto é, desacompanhada da ciência da existência de reivindicatória em andamento, sem a assunção do risco pelo adquirente, exclui apenas a obrigação do alienante de indenizar as demais verbas (art. 450, CC), mas não a de restituir o preço recebido. É a chamada cláusula genérica de irresponsabilidade.
Todavia, convencionada a cláusula de exclusão da garantia, tendo o adquirente, ciência de ação de reivindicação em andamento, ou de seu risco, e o assume, perde o evicto, integralmente o que desembolsou. Por derradeiro: excluída a garantia, se o “adquirente, posto que informado, não assume expressamente o risco da evicção”, pode ele, perdida a coisa, reaver do alienante o que por esta havia pago.
Não há responsabilidade para o alienante se o adquirente sabia que a coisa era alheia, porque seria ele, no caso, um cúmplice do apropriamento, e não poder fundar, na sua conduta elícita, uma pretensão jurídica.
O alienante só responde pela perda decorrente de causa já existente ao tempo da alienação. Se lhe é posterior, nenhuma responsabilidade lhe cabe, como por exemplo, no caso da desapropriação.
Entende Silvio Rodrigues que a lei não permite o reforço ilimitado da garantia (art. 448 do CC), não podendo, em princípio, a responsabilidade de o alienante superar o prejuízo do adquirente, constituindo um lucrativo negócio em vez de indenizá-lo do prejuízo.
O arrematante ou adjudicante que sofreu a evicção total ou parcial pode exigir a restituição do preço da coisa evicta, ou o valor do desfalque, em face do credor ou dos credores que se beneficiaram com o produto da arrematação, ou contra o devedor-executado, proprietário do bem, se este recebeu saldo remanescente bastante. Em leilões voluntários a responsabilidade é do proprietário dos bens leiloados.
O STJ tem proclamado: “Perdida a propriedade do bem, o evicto há de ser indenizado com importância que lhe propicie adquirir outro equivalente. Não constitui reparação completa a simples devolução do que foi pago, ainda que com correção monetária”. (art. 450, par. único CC).
Insta também salientar que a doutrina em geral considera parte considerável, não só o aspecto da quantidade, mas também o da qualidade, que pode prevalecer ao primeiro. Assim se, por exemplo, alguém adquire uma propriedade rural e perde uma pequena fração dela (quantidade), porém, justamente aquela na qual se situa a casa da sede, ou um manancial de água, pode a evicção, apesar da pouca extensão territorial perdida, ser considerada considerável ou de grande monta (qualidade), por atingir a própria finalidade econômica do objeto.
Artigo Revogado pelo Novo Código de Processo Civil: Insta salientar a revogação do artigo 456 do Código Civil, pelo artigo 1.072 do NCPC. Deve, entretanto, ser observado o disposto no Artigo 125, I do novel CPC, que estabelece:
Art. 125 – NCPC “É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
 I – ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam; - Grifei.
A jurisprudência do STJ, todavia, é no sentido de que a não-denunciação da lide não acarreta a perda da pretensão regressiva, mas apenas ficará privado o réu que poderia denunciar e não a efetuou, da imediata obtenção do título executivo contra o obrigado regressivamente, mas não priva o evicto de propor ação autônoma contra quem eventualmente lhe tenha lesado, no caso, o alienante.
DOS CONTRATOS ALEATÓRIOS
Conceito: Aleatórios são os contratos em que o montante da prestação de uma ou de ambas as partes não pode ser desde logo previsto, por depender de um risco futuro, capaz de provocar sua variação, ou mesmo deixar de existir em virtude de um acontecimento incerto e futuro. 
É o caso, por exemplo, quando se compra a colheita futura de um campo de soja, que pode existir se o campo produzir a soja, ou deixar de existir, caso não produza ou o contrato de seguro, em que a contraprestação do segurador só é devida se ocorrer um evento futuro e incerto (no seguro contra incêndio, a indenização só será devida se a coisa se incendiar).

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