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a TEORIA GERAL E PRINCÍPIOS PROCESSUAIS-corr.

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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
 
 
TEORIA GERAL E PRINCÍPIOS 
PROCESSUAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Editoração e Revisão: Editora Prominas e Organizadores 
 
 
Coordenação Pedagógica 
INSTITUTO PROMINAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Impressão 
e 
Editoração 
APOSTILA RECONHECIDA E AUTORIZADA NA FORMA DO CONVÊNIO 
FIRMADO ENTRE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
E O INSTITUTO PROMINAS. 
 
 
MÓDULO – 1 
 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................. 03 
 
UNIDADE 2 – NOVO DIREITO PROCESSUAL, JURISDIÇÃO E ESTADO 
DE DIREITO ............................................................................................................ 05 
 
UNIDADE 3 – PRINCÍPIOS PROCESSUAIS ......................................................... 12 
 
UNIDADE 4 – COMPETÊNCIA E JURISDIÇÃO .................................................... 28 
 
UNIDADE 5 – NOÇÃO PRELIMINAR DE TIPOS DE PROCESSO ........................ 31 
 
UNIDADE 6 – AÇÕES ............................................................................................ 35 
 
UNIDADE 7 – PROCESSO E PROCEDIMENTO ................................................... 40 
 
UNIDADE 8 – RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL – AUTOR, JUIZ E 
RÉU ......................................................................................................................... 42 
 
UNIDADE 9 – ATOS PROCESSUAIS .................................................................... 44 
 
UNIDADE 10 – PRAZOS PROCESSUAIS ............................................................. 53 
 
UNIDADE 11 – PRECLUSÃO ................................................................................. 57 
 
UNIDADE 12 – PRESSUPOSTOS E CAPACIDADE PROCESSUAL ................... 60 
 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 64 
3 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
Ao iniciarmos o curso de Direito Processual Civil nos deparamos com alguns 
ensinamentos de VICENTE GRECCO FILHO (2007) que tomamos emprestado e 
merecem ser considerados de imediato: 
1. No Direito processual há uma parte comum a todos os ramos especiais do 
processo, que justifica a formulação de uma teoria geral; 
2. É preciso reconhecer que o processo civil, como tratado tradicionalmente, 
ainda apresenta pontos críticos de solução satisfatória, que o submetem aos 
interesses imediatos definidos no direito material, com prejuízo do equilíbrio 
das partes, da correta aplicação da ordem jurídica como um todo; 
3. O Direito Processual Civil apresenta um desenvolvimento lógico bastante 
rigoroso, de modo que todos os seus institutos reciprocamente se implicam, 
não podendo o intérprete perder de vista essa circunstância, que não é 
encontrada em outros ramos do direito que guardam compartilhamentos 
estanques, inclusive principiologicamente distintos. 
Desde a entrada em vigor do novo Código Civil de 2002, abre-se um leque 
de conjecturas e meditações acerca da aplicação do Direito, apontando novos 
caminhos ao processo, caminhos mais humanos, mais sociais, mais éticos e menos 
desvinculados de formalismos arcaicos, que ainda adornam nossa ciência 
processual (MONTENEGRO FILHO, 2005), deste modo, acreditamos que no 
contexto didático, o estudo da teoria e da prática caminhará equilibrado, sem 
prejuízos ou exageros de uma ou outra parte. 
O estudo do Direito processual civil exige, como conhecimento prévio, 
básico e indispensável, noção daquilo que seja jurisdição, pois é nesse ambiente 
desenvolvido pelos órgãos do Poder Judiciário, que se processará todo o desenrolar 
do conhecimento da matéria relativa ao processo civil, portanto, Jurisdição e Estado 
de Direito serão as duas primeiras matérias contempladas nesta apostila. 
O respeito aos princípios é outro ponto de fundamental importância, tanto 
que violar um deles pode ser considerado mais grave que violar uma norma, uma 
vez que atinge as bases do sistema, portanto, não só esta apostila como as demais, 
perseguem com veemência os princípios processuais. 
4 
 
Competência e jurisdição; noção preliminar de tipos de processo; as ações; 
processo e procedimento; relação jurídica processual entre autor, juiz e réu; os atos 
e prazos processuais; preclusão e pressupostos processuais são os temas 
apresentados na sequência. 
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como 
premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um 
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados 
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, 
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, 
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma 
redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas 
opiniões pessoais. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para 
sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
UNIDADE 2 – NOVO DIREITO PROCESSUAL, JURISDIÇÃO 
E ESTADO DE DIREITO 
 
Didaticamente, a doutrina classifica o Direito em dois grandes ramos: direito 
público e direito privado. 
Enquanto no ramo privado subsistiria uma relação de coordenação entre os 
sujeitos integrantes da relação jurídica, como no direito civil, no direito comercial e 
no direito do trabalho, no direito público prevaleceria a supremacia estatal face aos 
demais sujeitos. 
Nessa linha de raciocínio, o direito processual, assim como o constitucional, 
o administrativo, o penal e o tributário, constituiriam ramos do direito público, visto 
que suas normas, ditadas pelo Estado, são de ordem pública e de observação 
cogente pelos particulares, marcando uma relação de poder e sujeição dos 
interesses dos litigantes ao interesse público. 
Todavia, essa dicotomia entre público e privado é apenas utilizada para 
sistematização do estudo, pois, modernamente, entende-se que está superada a 
denominada summa divisio, tendo em vista que ambos os ramos tendem a se fundir 
em prol da função social perseguida pelo Direito. Assim sendo, fala-se hoje em 
constitucionalização do direito. 
Dessa forma, abandonada a visão dicotômica ultrapassada, podemos definir 
o direito processual como o ramo da ciência jurídica que trata do conjunto de regras 
e princípios que regulamentam o exercício da função jurisdicional do Estado 
(PINHO, 2008). 
A expressão Direito Processual pode-se referir à ciência ou norma. Na 
primeira dessas acepções, temos o ramo da ciência jurídica que estuda e 
regulamenta o exercício, através do Estado, da função jurisdicional e, no 
segundo sentido (norma, direito objetivo), o complexo de normas e 
princípios que regem o exercício conjugado da jurisdição pelo Estado-juiz, 
da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado (GRINOVER; 
DINAMARCO; CINTRA, 2006, p. 40). 
 
Segundo o professor CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO (2001), no sistema 
brasileiro, o direito processual civil é o responsável pelo exercício da jurisdição com 
referência a pretensões fundadas em normas de direito privado (civil, comercial) e 
também público (administrativo, tributário, constitucional). Nisso, o processo civil 
6 
 
brasileiro diferencia-se de importantes modelos europeus e latino-americanos em 
que há certas limitaçõesrelacionadas com o Estado em juízo. Nosso sistema é o da 
chamada jurisdição una e também o Estado se sujeita aos juízes integrantes do 
Poder Judiciário e às regras do direito processual civil. Aqui inexiste o contencioso 
administrativo e o processo diferenciado para certas causas regidas pelo direito 
público. Excluem-se do âmbito do processo civil brasileiro, exclusivamente, as 
causas de natureza penal. 
O direito processual não dita normas para adequar a atribuição de bens da 
vida aos indivíduos, nem de disciplinar o convívio em sociedade, mas de organizar a 
realização do processo em si mesmo. O direito processual não se presta à proteção 
dos bens da vida, mas, tão somente disciplina a atividade jurisdicional, impondo 
regras de condução do processo como meio de garantir a aplicabilidade e realização 
do direito material (bens da vida humana) (DINAMARCO, 2001). 
É exatamente por isso que é possível afirmar que o direito processual não 
encontra fim em si mesmo, sendo o verdadeiro meio de realização do direito 
material. O processo é o meio para a efetivação do direito material, que é o fim. 
As normas processuais não disciplinam as relações entre as pessoas na 
vida comum, consequentemente, não criam, não modificam nem extinguem direitos 
ou obrigações no plano material (bens da vida), elas apenas regulam a atividade da 
jurisdição. 
Esses contornos do direito processual civil tornam difícil delimitar de modo 
positivo o âmbito de sua incidência, sendo usual a afirmação de que ele é o ramo do 
direito processual destinado a dirimir conflitos em matéria não penal. 
 
Enquanto o processo civil traduz-se numa técnica de solução imperativa de 
conflitos, o monopólio estatal em dirimir controvérsias por meio do exercício 
da jurisdição, capitaneada pelo Estado-Juiz, que é quem decide, seguida 
dos auxiliares da Justiça, em que todos exercem o poder estatal, o Direito 
Processual Civil, por sua vez, cuidará de estabelecer as regras destinadas a 
reger como se operará este exercício da jurisdição na solução dos conflitos 
sociais (PINHO, 2008, p. 14). 
 
7 
 
Simultaneamente ao nascimento do direito, que tem por fim a solução justa 
dos conflitos ou convergências de interesses, surgem os mecanismos, previstos pelo 
próprio direito, de efetivação das soluções por ele dispostas. 
Costuma-se dividir o sistema de efetivação de direitos em três fases 
distintas: a autotutela, a autocomposição e a jurisdição. Na primeira, em virtude da 
inexistência de um Estado suficientemente forte para superar as vontades 
individuais, os litígios eram solucionados pelas próprias forças, imperando a lei do 
mais forte. Na segunda, as partes abririam mão de seu interesse ou de parte dele, 
de forma que, por meio de concessões recíprocas, seria possível chegar à solução 
dos conflitos. No terceiro, própria de um estado de direito, o Estado manteria órgãos 
distintos e independentes, desvinculados e livres da vontade das partes, os quais, 
imparcialmente, deteriam o poder de dizer o direito e constranger o inconformado a 
submeter-se à vontade da lei. 
VICENTE GRECCO FILHO (2007) admite que essas três fases, que 
podemos aceitar como logicamente existentes, não existiram em termos 
cronológicos, isto é, não são fases históricas propriamente ditas, mas princípios 
lógicos e de justiça que se digladiaram em todos os momentos históricos e ainda 
hoje se digladiam, prevalecendo ora um, ora outro, em determinada época. 
Interessa-nos, em mais profundidade, a jurisdição, que constitui a forma 
estatal, por excelência, de composição de litígios, embora não seja a única. A 
sociedade, desde os tempos longínquos, convive com divergências que geram os 
conflitos, os juridicamente chamados de lides1. Para solucionar esta resistência à 
negociação, o Estado, que veda a autotutela, manifesta-se por meio da jurisdição, 
cuja regência se operará por meio dos ritos estabelecidos pelo legislador. 
Importante destacar que a partir do séc. XIV, a jurisdição tornou-se a forma 
predominante de resolução de conflitos monopolizada pelo Estado, por intermédio 
do Poder Judiciário, ao lado das funções legislativa e administrativa. 
Palavra que vem do latim jurisdictio2, a jurisdição tem como fim último a 
pacificação social e consiste em um poder e dever do Estado, pois, se por um lado 
corresponde a uma manifestação do poder soberano do Estado, impondo suas 
 
1
 Conflito de interesse qualificado por uma pretensão resistida. 
2
 Etimologicamente significa dizer o direito ou aplicar a norma ao caso concreto. 
8 
 
decisões de forma imperativa aos particulares, por outro, corresponde a um dever 
que o Estado assume de dirimir qualquer conflito que lhe venha a ser apresentado. 
No âmbito do processo civil, jurisdição é a função que consiste em resolver 
os conflitos que a ela sejam apresentados pelas pessoas, naturais ou jurídicas 
(também pelos entes despersonalizados, tais como o espólio, a massa falida e o 
condomínio), em lugar dos interessados, por meio da aplicação de uma solução 
prevista pelo sistema jurídico (WANBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
Por solução do sistema, entende-se aquela prevista pela função 
normatizadora do direito, consistente em regular a apropriação dos bens da vida 
pelas pessoas, mediante o uso de um sistema de comandos coativos ou de medidas 
de incentivo, de sorte que seja possível alcançar soluções compatíveis com a 
necessidade de manutenção da paz social. Isso não significa que a jurisdição atue 
apenas aplicando sanções. Por vezes, bastam decisões meramente declaratórias ou 
outras providências que não constituem propriamente sanção (WAMBIER, 
ALMEIDA, TALAMINI, 2007). 
No Brasil, a atividade jurisdicional é exclusiva do Estado, e exercida através 
dos órgãos do Poder Judiciário (arts. 92 a 135 da CF), sendo, absolutamente, 
repudiada a atividade de justiça privada, uma vez que a própria Carta Maior, ao 
organizar a atividade do poder, instituiu o princípio do juiz natural (art. 5º, LIII – 
ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente). 
Ressalte-se que a manutenção de um Estado Democrático de Direito – cujas 
obrigações e direitos estão previstos em instrumentos normativos, elaborados por 
representantes eleitos pelos próprios cidadãos – pressupõe a existência de um 
órgão estatal dotado de poder para garantir a aplicabilidade do Direito às situações 
reais da vida em sociedade (BARROSO, 2002). 
Assim, como características da jurisdição, podemos elencar: 
a) Substituição – a jurisdição tem como característica substituir a vontade 
dos litigantes pela vontade da lei pronunciada pelo Estado-juiz. A resolução do 
conflito é exercida pelo Estado e não pelas partes, independentemente da vontade 
destas; 
b) Imparcialidade – a jurisdição é desinteressada e o exercício de sua 
atividade mantém-se equidistante da vontade das partes. O interesse do Estado é 
9 
 
estranho à pretensão dos demandantes, não guardando qualquer vínculo com o 
objeto da lide; 
c) Instrumentalidade – a jurisdição tem por finalidade viabilizar a atuação 
prática do Direito, caracterizando o verdadeiro instrumento público para a 
administração de interesses privados; 
d) Existência de lide – como regra, a atividade jurisdicional apenas se 
justifica quando existem conflitos de interesses a serem solucionados; 
e) Definitividade – o produto da atividade jurisdicional tem natureza de 
definitivo, ou seja, a matéria decidida pela jurisdição, como regra, gera coisa julgada 
e impede a repetição da jurisdição no mesmo conflito; 
f) Atividade pública – no Estado brasileiro, por mandamento constitucional, a 
jurisdição é exercida, exclusivamente, pelo Poder Judiciário, não se admitindo, salvo 
exceções, a atividade privada de aplicação do Direito (BARROSO, 2002). 
A jurisdição tempoder de polícia e documentação, uma vez que no seu 
exercício, o Estado-juiz tem força institucional para presidir todo o processo, 
inclusive documentar a realização dos atos processuais, assim como a Jurisdição 
tem poder de decisão, de formar e impor um juízo de mérito, função típica do 
magistrado de emitir juízo de razão sobre o objeto central da lide ou questões 
incidentes e por fim, tem poder de coerção, ou seja, tem força capaz de impor 
respeito à ordem judicial, poder de obrigar o cumprimento contra a vontade da parte 
ou de terceiro. 
De maneira simples e, ao mesmo tempo, para maior eficiência da tutela, a 
CF ao criar e organizar o Poder Judiciário classificou a jurisdição em especializada e 
comum; voluntária e contenciosa; individual e coletiva. A jurisdição pode ser 
especializada em matéria trabalhista, eleitoral ou militar e comum utilizando-se o 
critério residual, i.e., quando a matéria não for especializada (civil e penal) ou o 
critério de exclusão, o que não for matéria penal será objeto da jurisdição civil 
(inclusive direito comercial, administrativo, constitucional, direito do consumidor, 
etc.). 
Embora a jurisdição atue sobre a lide, em algumas hipóteses decorrentes da 
natureza e importância do bem jurídico, o Estado reclamou para si o poder de 
10 
 
administrá-los, por isso ela é contenciosa (para solução de um litígio) e voluntária 
(para a administração estatal de um determinado bem jurídico). 
Na jurisdição voluntária há administração pública de interesses privados; 
ausência de lide; há interessados, atende requerentes ou interessados; a sentença é 
meramente homologatória. 
A jurisdição contenciosa busca solução de conflitos de interesses, portanto 
existe lide; há partes, ou seja, as partes litigantes são autor e réu e acontece 
sentença de mérito. 
Exemplos: 
• O instituto civil do casamento: para ser contraído é firmado perante o juiz de 
paz, mas sua dissolução (mesmo que consensual) exige intervenção do 
órgão jurisdicional; 
• A alienação de bens de incapazes, alienação judicial, inventário de bens, 
abertura de testamento, alvarás, separação consensual, administração de 
bens de ausentes e das coisas vagas, curatela dos interditos, organização e 
fiscalização das fundações, especialização da hipoteca legal (arts. 1103 a 
1210 do CPC), e outras tutelas não previstas em lei, mas cuja natureza 
determina a intervenção judicial. 
Quando se fala em Jurisdição individual e coletiva, estamos nos reportando 
às necessidades decorrentes da evolução das relações sociais que gerou conflitos 
envolvendo coletividade ou grupo de indivíduos, diferente da concepção tradicional 
de lide singular. 
Portanto, para acompanhar essa evolução, o Estado criou instrumentos 
processuais para a prestação de tutelas coletivas e para a defesa de bens coletivos, 
difusos ou individuais homogêneos. São exemplos de interesses transindividuais, ou 
seja, de importância para toda a sociedade, que extrapola um interesse individual, o 
patrimônio público, o meio ambiente, o direito do consumidor. Dentre os 
instrumentos processuais existentes para efetivar essa atividade jurisdicional 
coletiva, temos ação civil pública, ação popular e mandado de segurança coletivo, 
dentre outros. 
Barroso (2002) faz a seguinte observação em relação à diferença entre 
jurisdição individual e coletiva: enquanto na primeira os efeitos do processo apenas 
serão percebidos pelas partes envolvidas, na outra poderá ocorrer o efeito erga 
11 
 
omnes, ou seja, os efeitos do processo serão percebidos e deverão ser respeitados 
por todos (mesmo por pessoas que não foram parte do processo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
UNIDADE 3 – PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 
 
Quando se trata da autonomia do direito processual em relação ao direito 
material, a independência se caracteriza, dentre outros fatores, pela existência de 
princípios próprios do Direito Processual Civil (DPC). 
Em cada ramo do direito existem seus princípios próprios (trabalho in dúbio 
pro misero, penal in dubio pró réu), mas todos os ramos seguem primeiro aos 
princípios comuns a todos os ramos que são os princípios gerais (GRINOVER; 
DINAMARCO; CINTRA, 2006). 
Princípios são normas que fornecem coerência e ordem a um conjunto de 
elementos sistematizando-o, são fundamentos que servem para regular as relações 
entre as pessoas. São proposições que se colocam na base da Ciência Jurídica 
Processual e auxiliam na compreensão do conteúdo e extensão do comando 
inserido nas normas jurídicas e em caso de lacuna da norma, servem como fator de 
integração. 
Tomando emprestadas as palavras de BENTO HERCULANO DUARTE 
NETO (2009, p. 24): 
 
Torna-se imperioso, destarte, àqueles que buscam compreender, 
verdadeiramente, o nosso sistema processual, estudar com profundidade os 
princípios que o alicerçam, pois são eles que delineiam as opções tomadas 
pelo legislador, tanto no plano constitucional como no infraconstitucional. 
Aquele que bem conhecer os princípios do Direito Processual saberá 
melhor compreender seus dispositivos e institutos, decifrando aparentes 
enigmas, que em verdade encerram códigos de fácil decodificação. 
Se o aplicador do direito, v. g., tem o real conhecimento do sentido e do 
alcance do princípio do devido processo legal, terá melhor condição de 
enxergar quando resta ele violado por um ato praticado pelo juiz da causa, o 
que, no caso em concreto, é essencial a que se garanta a efetivação de 
uma ordem jurídica identificada com os valores da cidadania e da 
democracia. O juiz que alcança o real sentido da ampla defesa processual, 
ainda v.g., certamente saberá decidir quanto a permitir ou não a juntada de 
um documento, a conhecer ou não um recurso, a ouvir ou não uma 
testemunha. 
Enfim, uma investigação principiológica de nosso sistema processual será 
de grande valia para que o conheçamos de forma mais consistente, 
interpretando e aplicando de forma adequada as normas que o informam, 
afastando as concepções derivadas de um conhecimento perfunctório, por 
vezes gerando graves distorções. 
 
13 
 
Existem duas categorias distintas de princípios aplicáveis ao direito 
processual. Na primeira categoria temos os princípios informativos e na segunda os 
princípios fundamentais ou gerais. 
Na categoria dos princípios informativos, que são regras de cunho geral e 
abstrato, aplicados a todas as regras processuais, tanto de índole constitucional 
quanto àquelas que estão nas normas ordinárias, independentemente de tempo e 
lugar, temos os princípios: lógico, jurídico, político e econômico. 
Em razão de o processo ser uma sequência de atos que se volta a um fim 
determinado – a sentença – há a necessidade de seguir uma lógica, desse modo, as 
leis processuais, pelo princípio lógico, devem prever os meios que mais sejam 
capazes de permitir o descobrimento da verdade subjacente ao processo. 
O princípio jurídico informa que tudo, em matéria de regramento de direito 
processual, deve ser feito de acordo com a lei. No ordenamento jurídico brasileiro, 
esse princípio pode ser entendido como determinante da conformação das regras 
processuais em geral com os princípios processuais constitucionais, que, com sede 
na CF, devem nortear toda a elaboração legislativa infraconstitucional (WAMBIER; 
ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
A estrutura do processo, isto é, das regras disciplinadoras da atividade 
desenvolvida no processo, acontece de acordo com o princípio político. O direito à 
ampla defesa é um bom exemplo. Sob outro aspecto, o princípio político significa 
que o processo deve ter o máximo rendimento possível, como garantia da 
sociedade, com o mínimo de sacrifício de liberdade individual. 
Por fim, o princípio econômico deve inspirar tanto o legislador processualquando o operador do Direito (juiz, advogado, promotor) a obter o máximo 
rendimento com o mínimo de dispêndio. Esse princípio reza também que o processo 
deve ser acessível a todos quantos dele necessitem, inclusive no que diz respeito ao 
seu custo (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
A categoria dos princípios fundamentais alberga um grupo menos abstrato, 
mais contextual, que leva em conta, inclusive sua especificidade e características. 
Estes princípios guiam o legislador brasileiro quando da elaboração de normas 
jurídicas processuais e podem ser divididos em princípios relativos ao processo e ao 
procedimento como veremos adiante. 
14 
 
3.1 Princípios relativos ao processo 
3.1.1 Princípio do devido processo legal 
Tal principio, também chamado de due process of law, face à sua origem no 
direito britânico, é tido por muitos como o único e verdadeiro princípio de Direito 
Processual contido na CF/88. Nesse contexto, todos os demais princípios, ou como 
tal apontados, seriam subprincípios decorrentes do devido processo legal. Assim, os 
princípios da ampla defesa, do contraditório, da publicidade dos atos processuais, da 
proibição à prova ilícita etc., seriam na verdade meros corolários do princípio do 
devido processo legal, e não princípios autônomos (DUARTE NETO, 2009; NERY 
JUNIOR, 1992). O devido processo legal seria, conforme locução de Didier Júnior, a 
norma-mãe, e esta gerando – aqui por nossa conta – normas-filhas (DUARTE 
NETO, 2009). 
O due process of law é consagrado na CF/88, por força do inciso LIV do 
artigo 5.°, quando se prevê que: “ninguém será privado da liberdade ou de seus 
bens sem o devido processo legal”. 
Conforme NELSON NERY JÚNIOR (1992, p. 35), são os seguintes os 
direitos decorrentes do devido processo legal: 
a) comunicação e conhecimento do teor da acusação; 
b) juiz imparcial; 
c) produzir provas; 
d) deduzir defesa oral perante o juiz; 
e) ter um defensor perante o juiz ou Tribunal; 
f) reperguntar as testemunhas e contrariar provas; 
g) decisão fundamentada, conforme o contido nos autos. 
Genericamente, o princípio reflete no fato de que as pessoas têm direito à 
tutela dos bens da vida em seu sentido mais amplo e genérico (trinômio: VIDA-
LIBERDADE-PROPRIEDADE). 
No plano processual, nosso interesse particular, genericamente o devido 
processo legal consubstancia o direito das pessoas serem submetidas a um 
15 
 
processo judicial, para que se possibilite alguma espécie de expropriação, seja de 
sua liberdade ou de seu patrimônio. 
Mas não basta, para se concretizar o devido processo legal, que se garanta 
o acesso a um processo judicial. Verdadeiro due process of law, como baliza a 
doutrina mais moderna, somente ocorre quando o processo vem cercado de certas 
normas e características que lhe garantam a condição de um mecanismo eficiente 
de proteção social. Assim, o processo deve ser público, célere, efetivo, igualitário e 
bilateral, com amplitude de defesa etc.(DUARTE NETO, 2009). 
 
3.1.2 Princípio da isonomia ou da igualdade 
A igualdade perante a lei é premissa para a afirmação da igualdade perante 
o juiz: da norma inscrita no art. 5º da CF, a partir disso, brota o princípio da 
igualdade processual. 
As partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, para que 
tenham as mesmas oportunidades de fazer valer em juízo suas razões. O art. 125, 
inc. I do CPC proclama que compete ao juiz “assegurar às partes igualdade de 
tratamento”. Contudo, a igualdade absoluta não pode eliminar as desigualdades que 
eventualmente existam entre as partes. 
Para garantir que não se estabeleça qualquer diferença entre os indivíduos, 
clamou-se pela igualdade substancial, realçando-se o conceito realista, que pugna 
pela igualdade proporcional (tratar igualmente os iguais e desigualmente os 
desiguais). 
A aparente quebra do princípio da isonomia, dentro e fora do processo, 
obedece exatamente ao princípio da igualdade real e proporcional, que impõe 
tratamento desigual aos desiguais, justamente para que, supridas as diferenças, se 
atinja a igualdade substancial. Mas é muito delicada essa tarefa de reequilíbrio 
substancial, a qual não deve criar desequilíbrios privilegiados a pretexto de remover 
desigualdades. 
O juiz é, por excelência, um terceiro imparcial, que tem a função de decidir o 
conflito. De sua imparcialidade advém a sua autoridade específica, pelo que o 
Estado lhe fornece poder de polícia, de forma a que as decisões judiciais possuem 
16 
 
essencial coercibilidade. A imparcialidade é, assim, uma nota característica da 
atividade jurisdicional. 
Conforme ADA PELLEGRINI GRINOVER; CÂNDIDO RANGEL 
DINAMARCO e ANTÔNIO CARLOS DE ARAÚJO CINTRA (2006, p. 53), “o caráter 
da imparcialidade é inseparável do órgão da jurisdição. O juiz coloca-se entre as 
partes e acima delas: esta é a primeira condição para que possa exercer sua função 
dentro do processo”. 
É importante ressaltar-se que a verdadeira igualdade de tratamento somente 
ocorre quando são tratados igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Pela 
lição de NELSON NERY JÚNIOR (2002, p. 40), “dar tratamento isonômico às partes 
significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida 
de suas desigualdades”. Em verdade, quando o juiz tenta ser neutro a ponto de não 
atenuar a desigualdade jurídica entre as partes, não estará sendo isonômico, mas 
sim aprofundará a desigualdade existente. 
De tal sorte, o magistrado deve considerar a capacidade jurídica de cada 
litigante, o que não lhe fará parcial, desde que mantenha a equidistância necessária 
em relação ao resultado do processo. A assepsia conceitual que às vezes se exige 
do julgador é, a nosso ver, incompatível com uma visão moderna e instrumental do 
processo (DUARTE NETO, 2009). 
 
3.1.3 Princípio da Imparcialidade do Juiz 
O caráter da imparcialidade é inseparável do órgão de jurisdição. O juiz 
coloca-se entre as partes e acima delas: esta é a primeira condição para que possa 
exercer sua função dentro do processo, desse modo, podemos dizer que a 
imparcialidade do juiz é pressuposto para que a relação processual se instaure 
validamente. 
A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes. Por isso, 
tem elas o direito de exigir um juiz imparcial: e o Estado, que reservou para si o 
exercício da função jurisdicional, tem o correspondente dever de agir com 
imparcialidade na solução das causas que lhe são submetidas. 
 
17 
 
 
3.1.4 Princípio inquisitivo ou dispositivo 
O princípio dispositivo é aquele segundo o qual cabe à parte, isto é, àquele 
que se diz titular do direito que deve ser protegido, colocar em movimento a máquina 
estatal (isto é, a estrutura do Poder Judiciário), para que dela obtenha uma concreta 
solução quanto à parcela da controvérsia, ou do conflito trazida a juízo. 
Na esfera do direito processual civil, o Poder Judiciário é absolutamente 
inerte, só se manifestando (em amplo sentido) mediante a solicitação ou provocação 
do interessado. Inclusive as provas só podem ser produzidas pelas próprias partes, 
limitando o juiz a mero expectador. 
O processo previsto no Código de Processo Civil brasileiro está baseado 
fundamentalmente nesse princípio, como se vê da disposição constante no art. 2°. 
Segundo essa regra, “nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a 
parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais” (WAMBIER; 
ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
O princípio é inquisitivo porque tem como característica a liberdade de 
iniciativa conferida ao juiz, tanto na instauração do processo como no seu 
desenvolvimento, ou seja, por todos os meios ao seu alcance o julgador procura 
descobrir a verdade real, independentemente da iniciativa ou colaboração das 
partes. 
Modernamente, nenhum dos princípios é adotado de forma pura,mas de 
forma mista e segundo esse entendimento, se o interesse do conflito é das partes, 
elas podem ou não procurar a prestação jurisdicional. Mas, uma vez deduzida a 
pretensão em juízo, já existe outro interesse que passa a ser de natureza pública, 
que é a justa composição do litígio, segundo o direito material vigente e no menor 
espaço de tempo possível. 
Assim, embora a iniciativa de abertura do processo seja das partes, o seu 
impulso é oficial (art. 262), de maneira que cabe ao estado-juiz o desenvolvimento 
(andamento) do feito até o final, independentemente da provocação dos 
interessados. 
18 
 
Como dito, nosso código adota predominantemente o princípio do 
dispositivo, porém, não de forma pura, mas flexibilizado por essas questões do 
impulso oficial, assim como por permitir que o juiz tenha liberdade de produzir 
provas ex officio em alguns casos (art. 130 do CPC). 
 
3.1.5 Princípio do contraditório e da ampla defesa 
Tendo em vista o princípio da igualdade (iguais poderes e direitos), tal 
igualdade se realiza através do contraditório. 
CF, art. 5º, LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos 
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa com os meios e 
recursos a ela inerentes (...) 
Consiste na necessidade de ouvir a pessoa perante a qual será proferida a 
decisão, garantindo-lhe o pleno direito de defesa e de pronunciamento durante todo 
o curso do processo, não havendo privilégios, de qualquer sorte. 
O princípio do Contraditório é absoluto, não admite exceções, sob pena de 
nulidade do processo. 
São três as consequências básicas deste princípio: 
a) a sentença só é válida contra as partes integrantes da relação processual; 
b) a citação válida é indispensável para que a sentença produza seus efeitos 
em relação ao réu; 
c) a não observância desse princípio gera a nulidade do processo. 
Tal oportunidade de realizar o direito de defesa, quer dizer não só sobre falar 
sobre as alegações do outro litigante, como também fazer a prova contrária. 
Negar-se o princípio do contraditório, inclusive, face à isonomia das 
faculdades processuais, pode ser considerado cerceamento de defesa, uma vez que 
também assegura a produção de uma prova ou contraprova. 
Apesar de se apresentar como princípio absoluto, que não aceita exceções, 
sua aplicação pode ser postergada para outro momento, como no caso das Medidas 
Cautelares, tendo em vista que, nesse caso, devem ser aplicadas medidas 
indispensáveis à eficácia e efetividade da garantia de acesso ao direito pleiteado. 
19 
 
Assim, no caso das liminares – o juiz determina sua aplicação a priori, e num 
segundo momento, permite a realização do contraditório, senão tutela pretendida 
poderia ser frustrada. 
Contudo, as medidas cautelares devem ser utilizadas apenas em casos 
excepecionais, e não podem causar a eliminação do Contraditório, que mesmo 
nesses casos deve ser respeitado. Dessa maneira, não se nega o contraditório, mas 
apenas se protela um pouco o momento de seu exercício. 
 
3.1.6 Princípio do duplo grau de jurisdição (recorribilidade) 
Para alguns, o princípio do duplo grau de jurisdição se trata de um princípio 
doutrinário, para outros se trata de um princípio de fundo legislativo. Há quem o 
entenda como um princípio expresso na CF, enquanto outros o veem como um 
princípio estabelecido implicitamente na legislação infraconstitucional. Na opinião de 
BENTO HERCULANO DUARTE NETO (2009), trata-se de um princípio de índole 
claramente legislativa, estando explicitado em nossa organização judiciária prevista 
constitucionalmente. 
Este princípio remonta à Constituição do Império, de 25 de março de 1824, 
cujo artigo 158 dispunha, expressamente, sobre a garantia absoluta do duplo grau 
de jurisdição, permitindo que a causa fosse apreciada, sempre que a parte o 
quisesse, pelo Tribunal da Relação - depois de Apelação, e hoje de Justiça (NERY 
JÚNIOR, 1992, p. 149). 
O duplo grau de jurisdição consiste em uma garantia concedida ao 
jurisdicionado, destinada a lhe propiciar uma maior segurança. Se, por um lado, a 
possibilidade de recorrer concede um maior conforto psicológico àquele que resta 
vencido, por outro impõe uma maior segurança jurídica. 
Isso quer dizer que todo ato do juiz deve ser recorrível, como meio de evitar 
ou emendar erros ou falhas inerentes a julgamentos humanos. Tanto por isso, os 
recursos disciplinam a questão, recursos estes que devem se acomodar às formas 
previstas. 
20 
 
As partes, portanto, têm direito a que sua pretensão seja conhecida e 
julgada por juízos distintos, mediante recurso, caso não se conforme com a primeira 
decisão. 
Mas não podemos nos esquecer das exceções como a competência 
originária dos tribunais – ocorre em função do alto saber e experiência de seus 
membros, de maneira que se se considera dispensável, na espécie, a garantia da 
dualidade de instâncias. 
 
3.1.7 Princípio da boa-fé e lealdade processual 
Na relação processual, o Estado e partes unem esforços para solucionar o 
litígio. Enquanto as partes defendem interesses privados, o Estado busca a 
pacificação social - justa composição do litígio e prevalência do império da ordem 
jurídica. 
Então o que prevalece é o interesse público, no sentido de que todos devem 
se empenhar para que o processo seja eficaz, reto, prestigiado e útil ao seu elevado 
desígnio. Por isso a preocupação em assentar os procedimentos com a boa fé e 
com a lealdade das partes e do juiz. 
O artigo 14 do CPC, ao estabelecer os deveres das partes e de seus 
procuradores, prevê expressamente o dever de proceder com lealdade e boa-fé 
(inciso II). Não obstante, os demais incisos contidos no artigo 14 do CPC, ainda que 
de forma não expressa, também impõem o dever de lealdade às partes e seus 
procuradores: expor os fatos em juízo conforme a verdade (inciso I); não formular 
pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento 
(inciso III); não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à 
declaração ou defesa do direito (inciso IV); cumprir com exatidão os provimentos 
mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de 
natureza antecipatória ou final (inciso V). 
A Lei realmente não tolera má-fé e arma o juiz com poderes para atuar de 
ofício (art. 129), sendo a má-fé considerada por fraude processual, recursos 
torcidos, prova deformada, imoralidades de toda ordem. 
21 
 
As sanções para litigância de má-fé, podem ser determinadas de ofício ou a 
requerimento da parte (arts. 16 e 18). 
Art. 16 - Responde por perdas e danos, aquele que pleitear de má-fé como 
autor, réu ou interveniente. 
Art. 17 - Reputa-se litigante de má-fé aquele que: 
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato 
incontroverso; 
II - alterar a verdade dos fatos; 
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; 
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; 
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; 
VI - provocar incidentes manifestamente infundados. 
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. (Inciso 
acrescido pela Lei nº 9.668/98). 
 
Art. 18 - O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante 
de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa e a 
indenizar à parte contrária os prejuízos que esta sofreu, mais os honorários 
advocatícios e todas as despesas que efetuou. (Caput com a redação dada pela Lei 
nº 9.668/98). 
Parágrafo primeiro - Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juiz 
condenará cada um na proporção do seu respectivo interesse na causa, ou 
solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. 
Parágrafo segundo - O valor da indenização será desdelogo fixado pelo juiz, 
em quantia não superior a vinte por cento sobre o valor da causa, ou liquidado por 
arbitramento. (Redação dada pela Lei nº 8.952/.94). 
 
3.1.8 Princípio da verdade real e da livre apreciação das provas 
O compromisso é com a verdade real, não existindo mais prova tarifada. 
Não obstante, o juiz pode dar sentença segundo verdade formal (ver arts. 302, 319, 
334, inc. III, 750, 803, todos do CPC). 
22 
 
Mas isso não elimina o compromisso com verdade real, pois antes de 
acolher qualquer presunção, a lei sempre oferece à parte oportunidade de alegar e 
provar a efetiva veracidade dos fatos relevantes. 
Somente quando faltar prova que o juiz julgará conforme ônus da prova e 
ficta confessio. 
 
3.1.9 Princípio da persuasão racional do Juiz e da motivação das decisões 
judiciais 
Este princípio é contemplado pelo artigo 131 do Código de Processo Civil, 
que assim dispõe: 
“Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e 
circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegado pelas partes; mas 
deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento.” 
Para FRANCISCO CAVALCANTI PONTES DE MIRANDA (1974), o princípio 
em referência “é aquele que dá ao juiz apreciar as provas livremente, a fim de se 
convencer da verdade ou falsidade, ou inexatidão parcial, das afirmações sobre os 
fatos da causa”. 
Segundo este princípio, “não se confere ao juiz liberdade absoluta, mas não 
lhe impõe critérios rígidos e inflexíveis (valores tarifados) na apreciação da prova” . 
Não obstante a utilização deste sistema no direito pátrio, é certo que a 
liberdade do juiz não é absoluta, como denuncia CELSO AGRÍCOLA BARBI (1975), 
“no sentido de que ele possa decidir com base em prova não constante dos autos, 
ou fundar sua convicção em informações que tenha recebido em caráter particular”. 
Acrescenta o jurista, demonstrando a necessidade de aplicação do brocardo 
“quod non est in actis no est in mundo”, para impedir que esta liberdade possa 
significar arbítrio. 
Assim, o sistema adotado pelo CPC se encontra no caminho intermediário 
entre o julgamento secundum conscientiam, que permite a liberdade total na 
apreciação das provas por parte do juiz (inclusive por convicções pessoais e até 
contra as provas dos autos), e o sistema da prova legal, no qual o legislador prefixa 
23 
 
o valor de cada prova, restringindo o juiz a mero aplicador dos critérios legais 
estabelecidos para cada caso. 
O princípio em tela, também denominado persuasão racional do juiz, 
reclama a motivação do juiz, para demonstrar as razões e fundamentos de seu 
convencimento. A necessidade de fundamentação, inclusive, se encontra no art. 93, 
inciso IX da Constituição Federal. 
Esta preocupação encontra respaldo na transformação do pensamento a 
respeito do exercício da atividade jurisdicional, face ao interesse público na perfeita 
condução e resolução dos conflitos existentes na sociedade, ou seja, para que toda 
a sociedade possa fiscalizar a realização dos princípios e normas que regem a 
relação jurídica processual. 
 
3.2 Princípios relativos ao procedimento 
3.2.1 Princípios da oralidade, imediação e identidade física do juiz, 
concentração da causa 
Ao princípio da oralidade se somam três outros princípios: o da identidade 
física do juiz, o da imediatidade e o da concentração da causa. 
De acordo com o princípio da oralidade, é salutar que exista sempre um 
expressivo número de manifestações das partes, sob forma oral, principalmente na 
audiência, onde tais manifestações se devem concentrar, porque, dessa maneira, é 
possível se alcançar o julgamento da matéria posta em juízo com menor número de 
atos processuais. 
Tem-se em vista a possibilidade de obter-se melhor resultado, conforme a lei 
e a verdade dos fatos, sempre que se prestigiar o princípio da oralidade. 
Com esse princípio, como dissemos, há outros três, por assim dizer, 
subprincípios, ou elementos, que permitem que se operacionalize com maior 
objetividade a oralidade (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
Ainda relativamente à oralidade, o sistema processual brasileiro, adota o 
procedimento misto (relativamente à linguagem), sendo que a palavra escrita pode 
ter até mesmo acentuada predominância quantitativa, mas a seu lado permanece a 
falada, como meio de expressão de atos relevantes para a formação do 
24 
 
convencimento do juiz. Assim, o princípio da oralidade, que se encontra expresso no 
artigo 336 do CPC, foi atenuado, por questões práticas (insucesso da experiência), o 
que se pode perceber pelo disposto nos artigos 132, 330 e 522 do CPC. 
Já o princípio da imediação ou imediatidade, que se interliga com o princípio 
acima evidenciado, exige, segundo ANTONIO CARLOS DE ARAÚJO CINTRA; ADA 
PELLEGRINI GRINOVER; CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO (2006), o contato 
direto do juiz com as partes e as provas, a fim de que receba, sem intermediários, o 
material que se servirá para julgar. Este princípio, encontra suas diretrizes acolhidas 
pelo artigo 446, inciso II do Código de Processo Civil. 
O princípio da identidade física do juiz, por sua vez, demonstra a 
necessidade de que um mesmo magistrado realize a instrução do processo 
(especialmente em relação à produção da prova oral) e o julgamento da lide. 
Os benefícios qualitativos das decisões judiciais, com a utilização do 
conteúdo deste último princípio são claros, pois o juiz poderá formar seu 
convencimento com base no contato direto com as partes e testemunhas, e as 
provas produzidas nos autos. 
Ainda sobre o princípio da identidade física do juiz, há razão de ser o mesmo 
juiz que preside a audiência, que colhe as provas orais (depoimento das partes e de 
testemunhas, por exemplo), o que dê a sentença. 
Essa regra decorre do seguinte: o juiz que tiver contato direto, na audiência, 
com as partes e testemunhas, tem mais e melhores condições de proferir uma 
sentença satisfatória, isto é, em que efetivamente se aplique o direito, do que aquele 
que não tenha presidido a audiência. O art. 132 do CPC consagra expressamente 
esse princípio: “O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, 
salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou 
aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor”. 
O princípio da concentração, terceiro daqueles que permitem que se 
operacionalize o princípio da oralidade, contém a ideia de que todos os atos do 
processo, inclusive a sentença, devem realizar-se o mais proximamente possível uns 
dos outros, para que se possa proferir decisão justa. 
Os artigos 455 e 456 expressam incisivamente esse princípio. O primeiro 
dispõe que “a audiência é una e contínua. Não sendo possível concluir, num só dia, 
25 
 
a instrução, o debate e o julgamento, o juiz marcará o seu prosseguimento para dia 
próximo”. Já o art. 456 prevê que “encerrado o debate ou oferecidos os memoriais, o 
juiz proferirá a sentença desde logo ou no prazo de 10 (dez) dias”. 
 
3.2.2 Princípio da publicidade 
Em geral, todos os atos realizados no processo são públicos, inclusive as 
audiências. Trata-se de regra que, por óbvio, representa uma garantia, tanto para as 
partes quanto para o próprio juiz. 
Todos, e não apenas os litigantes, têm direito de acompanhar tudo o que se 
passa no processo, pois o interesse público é preponderante sobre o privado. 
A publicidade, assim, é garantida por preceito constitucional – CF, art. 93, 
inc. IX. Por isso, a Justiça não pode ser secreta, nem podem ser as decisões 
arbitrárias. Porém, existem exceções, que são os processos que correm em segredo 
de Justiça (art. 155). 
 
3.2.3 Princípio da economia processual e da instrumentalidade das formas 
Se o processo é um instrumento, não pode exigir um dispêndio exagerado 
com relação aos bens queestão em disputa. E mesmo quando não se trata de bens 
materiais deve haver uma necessária proporção entre fins e meios, para equilíbrio 
do binômio custo-benefício. Assim, esse princípio preconiza o máximo de resultado 
na atuação do direito com o mínimo possível de atividades processuais. 
O objetivo principal é propiciar às partes justiça barata e rápida, desse modo, 
a regra básica: deve tratar-se de obter o maior resultado com o mínimo de emprego 
da atividade jurisdicional. 
Como aplicações práticas do princípio podemos citar: 
• indeferimento da inicial quando a demanda não preenche os requisitos legais; 
• denegação de provas inúteis; 
• permissão de acumulação de demandas num só processo; 
• possibilidade de antecipar o julgamento do mérito, entre outras. 
26 
 
Nesse mesmo sentido, foi estabelecido o princípio da instrumentalidade das 
formas, segundo o qual se deve aproveitar os atos processuais quando sua 
inobservância não prejudicar as partes e quando tiverem atingido sua finalidade. 
 
3.2.4 Princípio da eventualidade ou da preclusão 
Todo processo desenvolve-se por meio de atos processuais que estão 
dispostos em uma forma lógica (um ato após o outro) e em determinado tempo ou 
prazo legal: cada ato do processo tem o seu momento oportuno para ser praticado. 
Assim, deparamo-nos com o princípio da eventualidade, pelo qual a parte 
deve esgotar totalmente o ato processual no momento oportuno, sob pena de 
ocorrência de preclusão. É o caso, por exemplo, da defesa do réu. É no momento da 
contestação que o réu deve alegar toda matéria de fato e de direito em seu favor, 
pois, consumado este ato, geralmente ele não poderá fazê-lo de novo, operando-se 
assim a preclusão consumativa. 
O fenômeno processual da preclusão consiste na perda da capacidade de 
dar continuidade ao ato processual por: decurso do prazo (preclusão temporal), 
consumação ou esgotamento do ato (preclusão consumativa), ou pela prática de 
atos incompatíveis entre si (preclusão lógica, como, por exemplo, pedir justiça 
gratuita e simultaneamente recolher as custas, interpor recurso e 
concomitantemente cumprir a obrigação). 
Em outras palavras, o processo deve ser dividido numa série de fases ou 
momentos, entre os quais se divide o exercício das partes e do juiz. Assim, cada 
fase prepara a seguinte e, uma vez passada à posterior, não se pode mais voltar à 
anterior. Segundo esse entendimento, o processo caminha sempre para frente, rumo 
à solução de mérito. 
Cabe lembrarmos (veremos detalhes ao longo do curso) que o processo civil 
é divido em quatro fases: 
1. Postulação – contempla o pedido do autor e resposta do réu; 
2. Saneamento – diz respeito à solução de questões meramente processuais ou 
formais para preparar o ingresso na fase de apreciação do mérito; 
3. Instrução – coleta dos elementos de prova; 
27 
 
4. Julgamento – solução do mérito da causa. 
 
 
PRINCÍPIOS 
 
INFORMATIVOS FUNDAMENTAIS 
 
Lógico 
 
Jurídico 
 
Político 
 
Econômico 
 
Devido processo legal 
 
 
Dispositivo da ação da 
inércia 
 
 
Impulso oficial 
 
Contraditório/bilateralidade/
paridade de tratamento 
Ampla defesa 
Duplo grau de jurisdição 
Oralidade 
 
Identidade física do juiz 
Imediatidade 
Concentração 
Publicidade/motivação 
das decisões 
 
Razoável duração do 
processo 
 
 
Fungibilidade 
 
 
Lealdade 
 
 
Proporcionalidade 
Fonte: WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI (2007, p. 75) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
UNIDADE 4 – COMPETÊNCIA E JURISDIÇÃO 
 
Este tópico tem como objetivo dissolver dúvidas, estabelecer a diferença 
entre jurisdição e competência, pois embora o conceito de competência esteja 
vinculado ao de jurisdição, em conteúdo são diferentes. 
A jurisdição é função do Estado, decorrente de sua soberania, de resolver 
conflitos, na medida em que a ela sejam apresentados, em lugar daqueles que estão 
envolvidos no conflito, através da aplicação de uma solução contida no sistema 
jurídico. Enquanto forma de exercício do poder do Estado, a jurisdição é una. 
Como função do poder estatal, a jurisdição é exercida sobre todos os 
sujeitos, em todo o território nacional, o que torna necessário organizar e dividir o 
trabalho entre os membros que compõem o Poder Judiciário, por órgãos e por 
alguns critérios. 
Assim, são justamente as normas de competência que atribuem 
concretamente a função de exercer a jurisdição aos diversos órgãos da jurisdição, 
pelo que se pode conceituá-la como instituto que define o âmbito de exercício da 
atividade jurisdicional de cada órgão dessa função encarregado (WANBIER; 
ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
Alguns autores colocam competência como “medida da jurisdição”, levando 
a crer que o Poder Judiciário exerce apenas parte da jurisdição. O que acontece na 
realidade é que a partir das regras de competência, determina-se qual órgão do 
Poder Judiciário vai exercer qual jurisdição. Cabe lembrar que a competência é 
atribuída ao órgão jurisdicional e não ao agente. 
Tradicionalmente dizer-se que a competência é a medida de jurisdição de 
cada órgão judicial, isto é, ela quantifica a jurisdição a ser exercida pelo órgão 
judicial singularmente considerado; ou, na lição de Liebman (1973), ela determina, 
para cada órgão singular, em quais casos, e em relação a quais controvérsias, tem 
ele o poder de emitir provimentos, delimitando em abstrato, ao mesmo tempo, o 
grupo de controvérsias que lhe são atribuídas (MARCATO, 2002). 
Competência é o poder conferido pela lei (Princípio do Juiz Natural) ao órgão 
de jurisdição para proferir julgamentos para solução de conflitos. Julgamentos por 
órgãos que não têm competência são nulos. 
29 
 
Segundo ensina HUMBERTO THEODORO JUNIOR (2006, p. 138) “se todos 
os juízes têm jurisdição, nem todos, porém, se apresentam com competência para 
conhecer e julgar determinado litígio”. 
Cada Estado, no contexto internacional, é detentor de soberania, razão pela 
qual a jurisdição, como expressão do poder decorrente dela, encontra natural 
barreira na jurisdição dos demais Estados. Por isso, há regras que disciplinam a 
necessidade de convivência da jurisdição, ou seja, da atividade jurisdicional de um 
Estado diante de atividade de mesma índole nos demais Estados. 
No caso do Brasil, o legislador criou um sistema de normas para disciplinar 
essa matéria, com base em critérios capazes de definir, em razão da opção 
legislativa, os limites de jurisdição estrangeira em face da jurisdição nacional. Temos 
competência exclusiva e competência concorrente. 
O art. 89 do CPC dispõe a respeito de algumas ações em que o juiz 
brasileiro (Poder Judiciário Brasileiro) é o único competente para conhecer e julgar, 
ou seja, competência exclusiva. 
 
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 
II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o 
autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional. 
 
Mas, com a Lei nº 11.447/07, se todos os herdeiros forem capazes e não 
tiverem divergências quanto ao inventário e à partilha, esses atos podem ser 
realizados junto a tabelião, mediante escritura pública (art. 982, acrescido ao CPC 
pela referida lei). Mesmo nessas hipóteses que ora são de competência extrajudicial, 
continua existindo a proibição de que o inventário e a partilha de bens aqui 
localizados, faça-os por autoridade estrangeira. Na prática, isso quer dizer que o 
Brasil não reconhece sentença acerca destas matérias proferidas por juiz 
estrangeiro (WANBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
O art. 88 do CPC trata da competência concorrente, dispondo sobre casos 
em que não houve a exclusão do juiz estrangeiro, tanto podendo ser instaurada a 
ação a respeito desses casos perantejuiz brasileiro quanto de juiz estrangeiro. 
 
30 
 
Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando: 
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no 
Brasil; 
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; 
III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. 
Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz 
litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da 
mesma causa e das que Ihe são conexas. 
 
No âmbito interno, o legislador definiu critérios para a determinação da 
competência dos diversos órgãos da jurisdição, ou seja, organizou um sistema de 
critérios para que se possa saber, diante de um caso concreto, que juízo, dentre 
todos aqueles igualmente investidos na função jurisdicional, tem competência para 
processar e julgar determinada causa. 
A distribuição da atividade jurisdicional entre os órgãos do Poder Judiciário é 
realizada em diversos instrumentos normativos (Constituição Federal, Lei de 
Organização Judiciária, Código de Processo Civil, etc.), segundo os seguintes 
critérios: 
• Funcional (em razão da matéria) – da hierarquia (grau de jurisdição) e da 
pessoa litigante ou interessada; 
• Valor da causa; 
• Territorial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
UNIDADE 5 – NOÇÃO PRELIMINAR DE TIPOS DE 
PROCESSO 
 
 
Como já sabido, o exercício da função jurisdicional do Estado se dá 
mediante ao concurso de diversos órgãos, que dela são encarregados, nos termos 
previstos pelas Constituições federal, estaduais e normas de organização judiciária e 
temos nas normas do Direito Processual Civil, o disciplinamento dos mecanismos de 
acesso a tais organismos pelas partes envolvidas em conflito. 
Assim, após definida a parcela do conflito que reclama solução do direito, 
esta será levada ao conhecimento do Poder Judiciário, passando a submeter-se às 
regras que disciplinam o processo. 
Em vista do resultado desejado pela parte, é possível classificar os 
processos em três tipos distintos, conforme disposição expressa do Código de 
Processo Civil que pode ser: processo de conhecimento, processo de execução e 
processo cautelar. 
 
Como o processo está diretamente ligado a um conceito teleológico, ou 
seja, com o alcance da tutela jurisdicional, classificou-se o processo em 
tantos tipos quantos fossem os tipos de tutela jurisdicional pretendida pelo 
autor. Temos, pois, processos de cognição (Livro I do CPC), processo de 
execução (Livro II do CPC) e processo cautelar (Livro III do CPC) 
(RODRIGUES, 2003, p. 29). 
 
ANTONIO CARLOS ARAÚJO CINTRA; ADA PELLEGRINI GRINOVER E 
CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO (2006, p. 320) mencionam a existência de 
corrente doutrinária que acrescenta às três espécies de processo, a ação 
mandamental, que objetiva a obtenção de ordem do Poder Judiciário a órgão estatal, 
exemplificando com a sentença de mandado de segurança. 
Os mesmos autores também fazem referência à ação executiva lato sensu, 
destacando que essa expressão designa a ação voltada a uma sentença de mérito, 
que em substância é uma condenação e vale como título executivo, mas é também 
provida de uma especial eficácia consistente em legitimar a execução sem 
necessidade de novo processo. 
32 
 
Cada um desses processos tem reservado um momento especial para 
estudo, ou seja, uma apostila específica, dado a complexidade, contendo inúmeros 
elementos e passos de cada um. 
Por ora, é preciso entender que para cada um deles existe um procedimento 
específico. O processo de conhecimento é aquele em que a parte realiza afirmação 
de direito, demonstrando sua pretensão de vê-lo reconhecido pelo Poder Judiciário, 
mediante a formulação de um pedido, cuja solução será ou no sentido positivo ou no 
sentido negativo, conforme esse pleito da parte seja resolvido por sentença de 
procedência ou de improcedência. 
O processo de conhecimento (ou declaratório em sentido amplo) provoca o 
juízo, em sentido mais restrito e próprio: através de sua instauração, o órgão 
jurisdicional é chamado a julgar, declarando qual das partes tem razão. O objeto do 
processo de conhecimento é a pretensão ao provimento declaratório da sentença 
denominado sentença de mérito. Essa sentença concluirá pela procedência, quando 
acolher a pretensão do autor; pela improcedência quando a rejeitar (GOMES, 2007). 
No processo de conhecimento, as partes têm oportunidade de realizar ampla 
produção de provas que levem a demonstrar a existência do direito ou a existência 
de fato que o impeça, modifique ou extinga. 
Enfim, nessa modalidade de processo, o juiz realiza ampla cognição, 
analisando todos os fatos alegados pelas partes, aos quais deverá conhecer e 
ponderar para formar sua convicção e sobre eles aplicar o direito decidindo, através 
de sentença de mérito, pela procedência ou pela improcedência do pedido 
formulado pelo autor (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
No processo de execução, o autor pretende fazer cumprir um direito já 
determinado por uma sentença anterior ou firmado em um título executivo 
extrajudicial; o juiz não faz, aqui, análise do mérito da questão, pois esta já foi 
resolvida no processo de conhecimento. 
Quando desenvolve a atividade de conhecimento, o juiz investiga fatos 
ocorridos anteriormente e define qual a norma que está incidindo no caso concreto. 
É uma atividade lógica, e não material. Já a atuação executiva é prevalentemente 
material: busca-se um resultado prático, fisicamente concreto (ex: tirar um bem de 
um devedor e entregar ao credor). 
33 
 
Além de servir de meio para a efetivação de determinados títulos executivos 
judiciais, o processo de execução também serve para, com os mesmos meios 
executórios, atuar concretamente comandos existentes em documentos firmados 
entre as partes, aos quais a lei confere a mesma força executiva atribuída à 
sentença condenatória. São os chamados títulos executivos extrajudiciais (ex: nota 
promissória, cheques, contratos) (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
O processo cautelar é acrescido ao conhecimento e à execução, sendo 
auxiliar e subsidiário, visando assegurar o êxito das primeiras etapas: trata-se da 
atividade cautelar, desenvolvido através do processo que toma o mesmo nome. Seu 
resultado específico é um provimento acautelatório (GOMES, 2007). 
O provimento cautelar funda-se antecipadamente na hipótese de um futuro 
provimento jurisdicional favorável ao autor: verificando-se os pressupostos do 
fummus bonis iuris e do periculum in mora, o provimento cautelar opera 
imediatamente, como instrumento provisório e antecipado do futuro provimento 
definitivo, para que este não seja frustrado em seus efeitos. Pode ser requerido de 
forma autônoma, ou por via incidental, no curso do processo, quando este já houver 
iniciado. 
Em outras palavras, a atividade jurisdicional, quer seja aquela desenvolvida 
no seio do processo de conhecimento, quer a que se realiza no processo de 
execução, se destina, sempre, ao sucesso. Isso quer dizer que o espírito que norteia 
o sistema processual é o da efetividade, no sentido de que todo aquele que invoca a 
tutela do Estado, por meio da jurisdição, deve receber uma resposta satisfatória, 
pouco importando, para esse fim, que seja uma resposta de procedência ou de 
improcedência. 
Se a jurisdição é, em princípio, inafastável e indelegável, ela deve, a todos 
quantos da função jurisdicional precisem, uma resposta efetiva, isto é, que resolva a 
lide no sentido jurídico e prático (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
 
 
 
 
34 
 
Quadro resumo dos tipos de processo 
Processo de 
conhecimento 
Processo 
de execução 
Processo 
cautelar 
Atividade típica da 
jurisdição; 
Fim: dizer o direito 
aplicável; 
Atividade do juiz: julgar; 
Característica:dialeticidade; 
Terminologia: autor e 
réu; 
Base: afirmação de 
direito subjetivo. 
Atividade complementar 
da jurisdição; 
Fim: modificar a 
realidade; 
Atividade do juiz: 
executar; 
Característica: índole 
não contraditória; 
Terminologia: exequente 
e executado; 
Base: título executivo. 
Atividade complementar 
da jurisdição; 
Fim: preservar a 
realidade; 
Atividade do juiz: 
acautelatória; 
Característica: cognição 
sumária; 
Base: alegação de 
fumus e periculum 
Fonte: WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI (2007, p. 119). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
UNIDADE 6 – AÇÕES 
 
6.1 Teoria sobre o direito de ação 
Num primeiro momento, a ação foi tida como um fenômeno abrangido pelo 
direito material reclamado em juízo. A teoria civilista ou imanentista3 postulava que a 
ação seria o direito que o titular de determinado direito tinha de pedir em juízo 
exatamente aquilo que lhe era devido em função de normas materiais. Nessa 
situação dizia-se que a ação seria uma qualidade agregada ao próprio direito 
material. 
Essa teoria não é mais aceita em virtude do argumento de que, se fosse 
essa a concepção correta, só haveria “ações” julgadas procedentes, pois não se 
poderia falar em improcedência da ação decorrente de um direito efetivamente 
existente. 
Depois, surgiram outras teorias pós-separação entre direito material e direito 
processual, sendo duas as mais importantes: a teoria da ação como direito 
autônomo e concreto e a teoria da ação como direito autônomo e abstrato. 
A teoria da ação como direito autônomo e concreto, como explicam LUIZ 
RODRIGUES WAMBIER; FLÁVIO RENATO CORREIA DE ALMEIDA e EDUARDO 
TALAMINI (2007), também não logrou êxito no sistema brasileiro, justamente porque 
somente admitia a efetiva existência da ação se e quando se tratasse de hipótese 
em que a sentença fosse favorável ao autor. 
Prevalece a teoria da ação como direito autônomo e abstrato, segundo a 
qual a ação é o direito de que qualquer um é titular, e por meio do qual pode pedir a 
atuação jurisdicional, tenha ou não razão naquilo que pede, detenha ou não o direito 
que afirma deter. Assim, se o juiz julga improcedente o pedido, isso significa que o 
autor não tinha o direito material alegado. No entanto, tanto tinha como exerceu, o 
direito da ação, tanto que pediu a atuação jurisdicional e a recebeu. 
Existe ainda outra vertente, aliás, uma teoria eclética (adotada por Enrico 
Tullio Liebman4), lembrada pelos autores acima, segundo a qual a ação é abstrata, 
 
3
 Imanente ao direito material. 
4
 Eminente jurista italiano, nascido em 1903, um dos maiores influenciadores da processualística 
pátria. Veio para o Brasil em 1939. Seu pensamento influenciou inúmeros juristas brasileiros, tais 
como Alfredo Buzaid, Moacir Amaral dos Santos, José Frederico Marques, Cândido Rangel 
36 
 
mas condicionada. Por esta teoria, todos têm direito a pedir atuação jurisdicional, 
mas nem todos têm o direito de receber uma sentença de mérito (ainda que 
desfavorável), para tanto, é preciso preencher as condições da ação. 
 
6.2 Conceito e elementos identificadores 
Ação é definida como direito ao exercício da atividade jurisdicional (ou o 
poder de exigir esse exercício). Mediante o exercício da ação provoca-se a 
jurisdição, que por sua vez se exerce através daquele complexo de atos que é o 
processo (CINTRA, GRINOVER, DINAMARCO, 2006, p. 265). 
Para EDUARDO ARRUDA ALVIM (2006, p. 440) ação é: 
 
o direito constante da lei processual civil, cujo nascimento depende de 
manifestação de nossa vontade. Tem por escopo a obtenção da prestação 
jurisdicional do Estado, visando, diante da hipótese fático-jurídica nela 
formulada, à aplicação da lei (material). Essa conceituação compreende 
tanto os casos referentes a direitos subjetivos, quanto, também, as 
hipóteses de cogitação mais recente, referentes a interesses e direitos 
difusos, coletivos e individuais homogêneos. 
 
HUMBERTO THEODORO JUNIOR (2006, p. 60) sustenta ser, atualmente, 
ação: 
 
Direito público subjetivo, exercitável pela parte para exigir do Estado a 
obrigação da prestação jurisdicional, pouco importando seja esta de amparo 
ou desamparo à pretensão de quem o exerce. É, por isso, abstrato. E, 
ainda, é autônomo, porque pode ser exercitado sem sequer relacionar-se 
com a existência de um direito subjetivo material, em casos como o da ação 
declaratória negativa. É, finalmente, instrumental, porque se refere sempre 
a decisão a uma pretensão ligada ao direito material (positiva ou negativa). 
 
Num universo extraordinariamente extenso e expressivamente conflituoso, a 
atividade jurisdicional está disponível para conhecer e julgar todos os pedidos que 
ao Poder Judiciário sejam feitos, por meio do caminho previsto na ordem jurídica, ou 
seja, no bojo de processo, instaurado por força do exercício do direito de ação. 
 
Dinamarco e Kazuo Watanabe. Em virtude disso, costuma-se dizer que Liebman fundou uma 
verdadeira Escola - a Escola Processual de São Paulo, faleceu em 1986, na cidade de Milano, Itália. 
37 
 
Como são muitos os casos, surgem muitas lides, para as quais deve haver 
soluções específicas, portanto, cada ação levada a juízo, deve ser particularmente 
observada, para que dela se extraiam elementos identificadores, de forma que 
possa ser considerada separadamente e distinguida das outras ações que também 
tenham sido propostas ou que possam vir a ser propostas futuramente (WAMBIER; 
ALMEIDA; TALAMINI, 2007). 
Como elementos identificadores da ação nós temos as partes (autor e réu); 
o pedido (mediato e imediato) e a causa de pedir (próxima e remota). 
 
6.3 Condições da ação 
O direito de ação faz parte do sistema constitucional de garantias, próprias 
do Estado de Direito, razão pela qual alguns autores preferem denominá-lo de direito 
constitucional de ação, enquanto outros optam por enquadrá-lo no direito de petição. 
O exercício de direito da ação resulta na instauração do processo e, a partir 
disso, as normas processuais é que regulam tudo quanto se refira à ação. São três 
as condições que permitem regular admissibilidade da ação: interesse processual, 
legitimidade das partes e possibilidade jurídica do pedido. 
O interesse processual está presente sempre que a parte tenha a 
necessidade e exercer o direito de ação para alcançar o resultado que pretende, 
relativamente à sua pretensão e, ainda mais, sempre que aquilo que se pede no 
processo seja útil sob o aspecto prático. Artigo 3º do CPC, necessidade mais 
utilidade. 
Quanto à legitimidade, evidentemente que autor e réu devem ser partes 
legítimas! Isso quer dizer que, quanto ao primeiro, deve haver ligação entre ele e o 
objeto do direito afirmado em juízo. O autor, para que detenha legitimidade, em 
princípio deve ser o titular da situação jurídica afirmada em juízo (art. 6º do CPC). 
Quanto ao réu, é preciso que exista relação de sujeição diante da pretensão do 
autor. 
Como regra geral, é parte legítima para exercer o direito de ação aquele que 
se afirma titular de determinado direito que precisa da tutela jurisdicional, ao passo 
que será parte legítima, para figurar no polo passivo, aquele a quem caiba a 
38 
 
observância do dever correlato àquele hipotético direito (WAMBIER; ALMEIDA; 
TALAMINI, 2007). 
Por fim temos a possibilidade jurídica do pedido. A impossibilidade é 
associada com uma macroimprocedência do pedido, ou seja, o pedido seria 
juridicamente impossível quando o juiz pudesse constatar de plano a sua 
inviabilidade. 
EDUARDO ARRUDA ALVIM (2006, p. 389) sustentaque as condições da 
ação são categorias lógico-jurídicas, existentes na doutrina e, muitas vezes, na lei, 
como em nosso Direito positivo, que, se preenchidas, possibilitam que alguém 
chegue à sentença de mérito. As condições da ação, em nosso ordenamento 
jurídico, são o interesse de agir, a legitimação para a causa e a possibilidade jurídica 
do pedido. 
OVÍDIO BAPTISTA DA SILVA (2003, p. 108), embora admita as três 
condições, sustenta que “se tratam de condições que envolvem o mérito da ação, 
razão pela qual a sentença que extingue o processo pela falta de qualquer das 
condições da ação, em seu sentir, é sentença de improcedência do mérito”. 
 
6.4 Classificação das ações 
Os processualistas costumam proceder à classificação das ações tendo em 
vista o tipo de provimento jurisdicional pedido pelo autor, quando do exercício do 
direito de ação, forma esta, que tem origem no pressuposto de que, se toda ação 
implica determinado pedido de provimento jurisdicional e, ainda mais, se entre as 
ações é possível estabelecer diferenças, exatamente na medida da distinção entre 
os possíveis provimentos pedidos em juízo, é justificável classificá-las de acordo 
com esse critério. 
Segundo o tipo de provimento requerido ou pedido pelo autor, as ações 
podem ser de conhecimento, de execução e cautelares. 
Segundo o tipo de tutela pedida no processo de conhecimento podem ser: 
pela doutrina clássica (meramente declaratória, constitutiva, condenatória); 
classificadas segundo as cinco eficácias (declaratória, constitutiva, condenatória, 
mandamental e executiva lato sensu). 
39 
 
HUMBERTO THEODORO JUNIOR (2006, p. 69) critica as classificações 
“impregnadas de preconceito civilísticos que merecem ser abolidos frente ao estágio 
moderno dos estudos processualísticos de nossos tempos”. 
Mais adiante veremos em seus pormenores os tipos de tutelas e suas 
características. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
UNIDADE 7 – PROCESSO E PROCEDIMENTO 
 
 
Durante a fase em que o Direito Processual Civil não era visto como uma 
ciência autônoma, mas um simples apêndice do Direito Civil, a distinção entre 
processo e procedimento não existia (RODRIGUES, 2003). 
LUÍS MACHADO GUIMARÃES (1969, p. 58) explica que o fim desta fase, 
denominada de procedimentalista, pelo simples fato de que dava mais ênfase e 
importância aos aspectos exteriores do processo, a sua forma e modo de exercício 
data da obra “Teoria dos pressupostos processuais e exceções dilatórias” de Oskar 
Vin Bullow (1868) quando demonstrou a distinção entre uma coisa e outra. 
Etimologicamente, processo e procedimento tem mesma origem, derivam do 
latim procedere (ir adiante, andar para frente, prosseguir), mas na linguagem 
forense, o significado é diferente, conforme o entendimento de vários dos estudiosos 
e doutrinadores que se seguem: 
“Processo é a soma de atos que se realizam para a composição do litígio e o 
procedimento é apenas o modo e forma com que estes atos se sucedem e 
encadeiam” (MARQUES, 1971, p. 60). 
 “Processo é o método pelo qual se opera a jurisdição, com vistas à 
composição dos litígios. É instrumento de realização da justiça; é relação jurídica, 
portanto, é abstrato e finalístico” (NUNES, 2004). 
“Processo é o sistema de compor a lide em juízo através de uma relação 
jurídica vinculativa de direito público” (THEODORO JÚNIOR, 2005) 
“Procedimento é o modus operandi do processo” (CARREIRA ALVIM, 2004). 
 “Procedimento é o meio extrínseco pelo qual se instaura, desenvolve-se e 
termina o processo; é a manifestação extrínseca deste, a sua realidade 
fenomenológica perceptível” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006). 
Assim, é uma sucessão de atos coordenados a partir da iniciativa da parte e 
direcionada a um provimento. É o modo como os atos processuais se manifestam e 
desenvolvem para revelar o processo. 
41 
 
Após a obra de Bulow, que marca a distinção entre processo e 
procedimento, o processo passou então a ser o meio, o instrumento através do qual 
se obtém a prestação jurisdicional, o caminho formado por atos processuais que 
obedecem uma regra e que vão culminar em uma sentença. Já o procedimento 
configurou-se como o modo em que se executam estes atos processuais. 
O que caracteriza o processo não é ser um procedimento. O que o 
caracteriza é ser um procedimento em contraditório. Nem todo procedimento em 
contraditório é processo, mas todo processo é procedimento em contraditório. O 
contraditório deve ser previsto em abstrato para que a parte possa se defender. 
Apenas a possibilidade de defesa já caracteriza o contraditório. 
Processo é a relação jurídica entre três sujeitos que criam obrigações e 
deveres para ambos. Essa relação é desenvolvida progressivamente mediante atos 
processuais. 
Norma processual e norma procedimental se distinguem conforme o 
conteúdo, apesar de não haver mais interesse nessa distinção teórica, já que todas 
são normas processuais. 
Contudo, de forma ampla, pode-se dizer que se o conteúdo da norma é 
regular os direitos, os deveres e as obrigações dos sujeitos, a norma é processual 
strictu sensu e se a norma se destina a controlar a sequência de atos, a norma é 
procedimental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
UNIDADE 8 – RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL – 
AUTOR, JUIZ E RÉU 
 
Entende-se como relação jurídica processual aquela que se estabelece entre 
autor, juiz e réu. Se concebermos tal relação numa forma triangular, o juiz ocupa o 
vértice de cima, localizando-se equidistantemente de ambas as partes (autor e réu). 
 JUIZ 
 
 
 
 
 
 AUTOR RÉU 
Não podemos esquecer que existem outros participantes (os assistentes, por 
exemplo) no processo, embora estes não integrem a relação processual. 
A formação da relação processual se dá em duas etapas distintas. A 
primeira é a propositura da ação, ou seja, a proposta da ação pelo autor que tem 
início na formação da relação jurídica processual. Aqui a relação ainda é linear (art. 
263 do CPC). Na segunda etapa, ocorre efetivamente a relação jurídica processual, 
ou seja, ocorre a citação do réu (art. 219 do CPC). Até que ocorra a citação do réu, a 
relação processual não está formada, ou seja, não está triangularizada. 
Segundo ANTÔNIO CARLOS DE ARAÚJO CINTRA, ADA PELLEGRINI 
GRINOVER e CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO (2006, p. 277) não se pode negar 
que o Estado e as partes estão, no processo, interligados por uma série muito 
grande e significativa de liames jurídicos, sendo titulares de situações jurídicas em 
virtude das quais se exige de cada um deles a prática de certos atos do 
procedimento ou lhes permite o ordenamento jurídico essa prática. 
Esses autores sustentam que a relação jurídica se constitui precisamente 
nesse nexo que une dois ou mais sujeitos, atribuindo-lhes poderes, direitos, 
faculdades, e os correspondentes deveres, obrigações, sujeições, ônus. É através 
da relação jurídica que o direito regula não só os conflitos de interesse entre as 
pessoas, mas também a cooperação que estas devem desenvolver em benefício de 
determinado objetivo comum. 
43 
 
Para EDUARDO ARRUDA ALVIM (2006, p. 476), o conceito de relação 
jurídica processual traduz-se, em última análise, como sendo aquela relação jurídica 
formada entre o autor e o juiz, entre o juiz e o réu e entre o autor e o réu, 
confirmando ser uma relação trilateral. 
HUMBERTO THEODORO JUNIOR (2006, p. 328) sustenta que o processo 
é uma relação jurídica, pois apresenta tanto o seu elemento material (o vínculo entre 
as partes e o juiz) como o formal (regulamentação pela norma jurídica), produzindo 
uma nova situação,

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