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Apostila Teoria Geral do Processo Completa

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Teoria Geral do Processo
OBS: Esta apostila não substitui o caderno e o livro didático.
1. Introdução
Pelo aspecto sociológico o direito é apresentado como uma das formas de controle social, entendido como o conjunto de instrumentos de que a sociedade dispõe na sua tendência à imposição dos modelos culturais, dos ideais coletivos e dos valores que persegue, para a superação das antinomias, das tensões e dos conflitos que lhe são próprios.
A eliminação dos conflitos ocorrentes na vida em sociedade pode-se verificar por obra de um ou de ambos os sujeitos dos interesses conflitantes, ou por ato de terceiro. Na primeira hipótese, um dos sujeitos (ou cada um deles) consente no sacrifício total ou parcial do próprio interesse (autocomposição) ou impõe o sacrifício do interesse alheio (autodefesa ou autotutela), na segunda hipótese, enquadram-se a defesa de terceiro, a conciliação, mediação e o processo (estatal ou arbitral).
Surgindo um conflito entre dois interesses contrapostos, pode acontecer que seja resolvido por obra dos próprios litigantes ou mediante a decisão imperativa de um terceiro, tendo-se, no primeiro caso, uma solução parcial do conflito, por obra das próprias partes, e, no segundo, uma solução imparcial do conflito, por ato de um terceiro, que não é parte.
Assim, temos: formas parciais de resolução dos conflitos a autodefesa e a autocomposição, e forma imparcial, o processo.
1.2 O processo
A passagem do tempo acabou por exigir uma forma melhor de resolução de conflitos que não fosse autodefesa e autocomposição, portanto, imaginou-se melhor que a solução dos conflitos fosse entregue a uma terceira pessoa, desinteressada da disputa entre os contendores, surgindo, então, a arbitragem facultativa, em tudo superior aos métodos anteriores.
No princípio, a arbitragem foi voluntária, exercida pelos sacerdotes, a pedido dos litigantes, pois se acreditava, devido à formação mística desses povos, que eles tinham ligações com os deuses e a sua decisão era a manifestação viva da vontade divina; depois, a solução dos conflitos passou a ser entregue aos anciãos do grupo, na crença de que, conhecendo eles os costumes dos antepassados, estavam em melhores condições de decidir o conflito.
De facultativa, a arbitragem, pelas vantagens que apresenta, torna-se obrigatória, e, com a arbitragem obrigatória, surge o processo como última etapa na evolução dos métodos de resolução dos conflitos
O processo se apresenta como última etapa na busca do método mais adequado para assegurar, com paz e justiça, a estabilidade da ordem jurídica, e o mais satisfatório para preservar e restabelecer a razão do que tem razão.
Segundo Alcalá-Zamora y Castillo, o processo constitui, juntamente com a ação e a jurisdição, um dos três conceitos fundamentais do direito processual.
O processo se apresenta como meio que oferece maiores probabilidades de uma resolução justa e pacífica dos litígios, porque o conflito é resolvido por um terceiro sujeito, a ele estranho, segundo determinadas regras.
Para que o processo produza resultados, é preciso que esse terceiro imparcial, que decide o conflito, seja mais forte do que as partes litigantes, para que possa impor, coativamente, a sua vontade, frente a qualquer intuito de desobediência ou descumprimento por parte dos contendores; pelo que se compreende que este terceiro seja o Estado.
No processo, a lide é resolvida não segundo critérios de exclusiva conveniência do juiz, mas mediante a aplicação da lei, com justiça. Carnelutti define o processo como sendo “o conjunto de atos destinados à formação ou à atuação de comandos jurídicos, cujo caráter consiste na colaboração, para tal fim, de pessoas interessadas (partes), com uma ou mais pessoas desinteressadas (juízes)”.
Ou seja, o processo é a operação, mediante a qual se obtém a composição da lide. 
O processo não se compõe de um único ato, mas de um conjunto de atos coordenados entre si e ligados uns aos outros com a finalidade de obter a justa composição da lide, mediante atuação da lei.
1.3 Direito Material e Direito Processual
O direito processual é autônomo e de natureza pública. E chama-se direito processual o complexo de normas e princípios que regem tal método de trabalho, ou seja, o exercício conjugado da jurisdição pelo Estado-juiz, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado. É um conjunto de elementos que instrumentalizam e fazem ganhar corpo o que chamamos de Direito Material.
Direito material são as normas que disciplinam as relações jurídicas referentes a bens e utilidades da vida (direito civil, penal, administrativo, comercial, tributário, trabalhista etc.).
O que distingue fundamentalmente o direito material e direito processual é que este cuida das relações dos sujeitos processuais, da posição de cada um deles no processo, da forma de se proceder aos atos deste — sem nada dizer quanto ao bem da vida que é objeto do interesse primário das pessoas.
O direito processual, é, assim, um instrumento a serviço do direito material: todos os seus institutos básicos (jurisdição, ação, exceção, processo) são concebidos e justificam-se no quadro das instituições do Estado pela necessidade de garantir a autoridade do ordenamento jurídico.
2. Evolução histórica do Direito Processual
No início da história do Brasil, o Município era o núcleo administrativo do território brasileiro e nele, o exercício da jurisdição era desempenhado através dos juízes ordinários ou da terra, cuja nomeação se dava por escolha de “homens bons”, numa eleição desvinculada dos interesses da Coroa, que, por sua vez, buscando ter representação, nomeava os chamados “juízes de fora”.
Quando da criação das Capitanias Hereditárias, impunha-se aos donatários a incumbência de reger as questões judiciais provenientes de suas terras, poder este limitado tanto pelas leis advindas do Reino como pelas então denominadas Cartas Forais. A autoridade jurisdicional máxima fazia-se presente na figura do Ouvidor-Geral.
Durante o período colonial, o Brasil era regido pelas leis processuais portuguesas que eram encontradas nas chamadas Ordenações.
Podemos pontuar como as mais importantes ordenações as que seguem:
· Ordenações Afonsinas (1456)
· Ordenações Manuelinas (1521)
· Ordenações Filipinas (1603)
Ganha relevo especial as chamadas Ordenações Filipinas, que permaneceram em vigor mesmo após a independência brasileira. De grande importância para o direito brasileiro e com uma estrutura bastante moderna, as Ordenações Filipinas eram compostas por 5 livros, dentre os quais o terceiro tratava da parte processual civil.
Sua característica era de um processo formalista, escrito e regido pelo princípio dispositivo (impulso das partes), o Livro III era dividido em quatro partes que dividiam as fases em: fase postulatória, fase instrutória, fase decisória e a fase executória.
O processo criminal, assim como o direito penal, era regulado pelo Livro V,que admitia, dentre outras práticas, a tortura, mutilações, açoite e o degredo, práticas certamente odiosas.
A Constituição do Império (1824) tornou-se referência com a previsão de prévia conciliação entre as partes como requisito para que pudessem participar do processo.
Tivemos a promulgação do Código de Processo Criminal (1832), que, rompendo com a tradição portuguesa, inspirou-se nos modelos inglês (acusatório) e francês (inquisitório), fornecendo ao legislador brasileiro elementos para a elaboração de um sistema processual penal misto.
Muitas foram as modificações legislativas até que se pudesse chegar ao Código de Processo Civil de 1973, que inaugura a chamada “Fase Instrumental”, pela qual o processo não seria um fim em si mesmo, mas um instrumento para assegurar direitos. Com isso, surgiu a relativização das nulidades e a liberdade das formas para maior efetividade da decisão judicial.
O CPC de 1973, enquanto em vigor, sofreu inúmeras alterações, sobretudo a partir do início da década de 1990. Teve início aí a chamada Reforma Processual, processo fragmentado em dezenas de pequenas leis que se destinam a fazer mudanças pontuaise ajustes “cirúrgicos”.
O Projeto de Lei que levou à edição de um novo Código de Processo Civil, foi elaborado por uma Comissão composta por diversos juristas, que concluiu, em dezembro de 2009, a primeira fase de seus trabalhos. Após, submeteu a proposta elaborada a oito audiências públicas, que resultaram na análise de mais de mil sugestões; ao controle prévio de constitucionalidade do Supremo Tribunal Federal e, finalmente, ao processo legislativo.
Em 2010 houve uma consulta pública, oportunizando a todos que desejassem se manifestar sobre quaisquer dispositivos do novo Código pela internet e, no dia 16 de junho, a Comissão Especial é criada, com 25 (vinte e cinco) membros titulares e igual número de suplentes, mais um titular e um suplente, atendendo ao rodízio entre as bancadas não contempladas.
Após diversos relatórios e revisão na Presidência do Senado, o texto final foi então encaminhado à sanção presidencial, em fevereiro de 2015. A sanção se deu no dia 16 de março e o texto foi publicado com 7 vetos no Diário Oficial do dia 17 de março de 2015, com vacatio legis de 1 ano, na forma do art. 1.045.
Podemos apontar como ideias norteadoras do novo Código de Processo Civil: 
· Maior celeridade à prestação da justiça, atentando à premissa de que há sempre bons materiais a serem aproveitados da legislação anterior, mas, também, firme na crença de que são necessários dispositivos inovadores e modernizantes.
· Preocupação em sintonizar as regras legais com os princípios constitucionais, revelando a feição neoconstitucional e pós-positivista do trabalho.
· O procedimento é abreviado, os recursos são reservados para os casos relevantes, os precedentes passam a ter maior prestígio, o processo eletrônico é viabilizado.
· Preocupação ainda maior com a efetividade do processo. 
· A instituição de um incidente de resolução de demandas repetitivas para evitar a multiplicação das demandas, na medida em que o seu reconhecimento em uma causa representativa de milhares de outras idênticas imporá a suspensão de todas.
· A redução do número de recursos.
· Prioriza-se a conciliação, incluindo-a como o primeiro ato de convocação do réu a juízo, uma vez que proporciona larga margem de eficiência em relação à prestação jurisdicional.
3. Princípios do Direito Processual
A doutrina distingue os princípios gerais do direito processual daquelas normas ideais que representam uma aspiração de melhoria do aparelhamento processual; por esse ângulo, quatro regras foram apontadas, sob o nome de “princípios informativos” do processo: 
a) o princípio lógico (seleção dos meios mais eficazes e rápidos de procurar e descobrir a verdade e de evitar o erro); b) o principio jurídico (igualdade no processo e justiça na decisão); c) o princípio político (o máximo de garantia social, com o mínimo de sacrifício individual da liberdade); d) o princípio econômico (processo acessível a todos, com vista ao seu custo e à sua duração).
Destes, surgem os seguintes princípios gerais:
3.1 Princípio da imparcialidade do juiz (juiz natural)
O caráter de imparcialidade é inseparável do órgão da jurisdição. O juiz coloca-se entre as partes e acima delas: esta é a primeira condição para que possa exercer sua função dentro do processo. A imparcialidade do juiz é pressuposto para que a relação processual se instaure validamente. 
A incapacidade subjetiva do juiz, que se origina da suspeita de sua imparcialidade, afeta profundamente a relação processual. Justamente para assegurar a imparcialidade do juiz, as Constituições lhe estipulam garantias (Const., art. 95), proscrevem-lhe vedações (art. 95, par. ún) e proíbem juízos e tribunais de exceção (art. 5 inc. xxxvii).
A imparcialidade do juiz também está ligada à noção de Juiz Natural, que se baseia em três conceitos:
1. Só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela Constituição; 
1. Ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a ocorrência do fato; 
1. Entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que seja (juiz competente no art. 5, inc. LIII CF)
3.2 Princípio da igualdade
A igualdade perante a lei é premissa para a afirmação da igualdade perante o juiz: da norma inscrita no art. 5, caput, da Constituição, brota o princípio da igualdade processual. As partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, para que tenham as mesmas oportunidades de fazer valer em juízo as suas razões.
No processo penal, ao réu revel é dado defensor dativo e nenhum advogado pode recusar a defesa criminal. 
A absoluta igualdade jurídica não pode, contudo, eliminar a desigualdade econômica; por isso, do primitivo conceito de igualdade, formal e negativa (a lei não deve estabelecer qualquer diferença entre os indivíduos), por isso também temos a igualdade substancial (ou real). Se isso não for levado em consideração, a lei, ainda que formalmente justa, criará situações reais profundamente injustas. 
Daí a necessidade de evolução para uma ideia de isonomia real, em que o legislador, na criação das normas, e o juiz, na sua aplicação, devem levar em conta as peculiaridades de cada sujeito. Quando as pessoas estiverem em situação de igualdade, devem receber tratamento igualitário; mas quando forem diferentes, e estiverem em situação de desequilíbrio, isso deve ser considerado. Uma lei criará situações reais mais justas quando, constatando o desequilíbrio entre pessoas, favorecer as mais fracas, buscando aplainar as diferenças.
São numerosos os exemplos em que a lei concede aparentes privilégios a um litigante, sem que haja ofensa ao princípio da isonomia. 
No processo penal o princípio da igualdade é atenuado pelo favor réu, postulado básico pelo qual o interesse do acusado goza de prevalente proteção, no contraste com a pretensão punitiva.
Consagram a prevalência dos interesses do acusado, dentre outras, as normas que preveem a absolvição por insuficiência de provas (art. 386, inc. vi), a existência de recursos privativos da defesa (arts. 607 e 609, par.), a revisão somente em favor do réu (arts. 623 e 626, par), todos do CPP.
No processo civil, temos a lei que manda dar prioridade, nos juízos inferiores e nos tribunais, às causas de interesse de pessoas com idade Iguaí ou superior a sessenta anos (lei n. 10.741, de 1.10.03, art. 71 — Estatuto do Idoso); toma-se em consideração que as partes idosas têm menor expectativa de sobrevida e, na maioria dos casos, mais necessitam da tutela jurisdicional.
3.3 Princípios do contraditório e da ampla defesa
O princípio do contraditório se liga ao que a doutrina chama de o princípio da audiência bilateral, que a doutrina moderna o considera inerente mesmo à própria noção de processo. A bilateralidade da ação gera a bilateralidade do processo. Em todo processo contencioso há pelo menos duas partes: autor e réu. O autor (demandante) instaura a relação processual, invocando a tutela jurisdicional, mas a relação processual só se completa e põe-se em condições de preparar o provimento judicial com o chamamento do réu a juízo.
Assim, contraditório é, de forma bem resumida, permitir uma resposta da outra parte, enquanto a ampla defesa é o amplo conjunto de possibilidades de constituir provas para defender-se do alegado.
Nos Códigos de Processo Civil e Penal, citação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém da instauração de um processo, chamando-o a participar da relação processual. Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos do processo, contendo também, eventualmente, comando de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Nesses dois diplomas não se usa notificação para designar ato de comunicação processual, já a Consolidação das Leis do Trabalho e a Lei do Mandado de Segurança usam notificação onde deveriam dizer citação.
Em síntese, o contraditório é constituído por dois elementos: a) informação; b) reação.
3.4 Principio da ação
Princípio da ação, ou da demanda, indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício da função jurisdicional. Denomina-seação o direito (ou poder) de ativar os órgãos jurisdicionais, visando à satisfação de uma pretensão. A jurisdição é inerte e, para sua movimentação, exige a provocação do interessado.
O ordenamento brasileiro adota o princípio da demanda (ou seja, onde a PARTE precisa provocar o judiciário e o juiz não pode se movimentar para promover a demanda), quer na esfera penal (CPP, arts. 24,28 e 30), quer na esfera civil. 
Deste princípio decorre a regra pela qual o juiz — que não pode instaurar o processo — também não pode tomar providências que superem os limites do pedido.
3.5 Princípios da disponibilidade e da indisponibilidade
Chama-se poder dispositivo a liberdade que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos (ou seja, é um dos aspectos do princípio da inércia). Em direito processual tal poder é configurado pela possibilidade de apresentar ou não sua pretensão em juízo, bem como de apresentá-la da maneira que melhor lhes aprouver e renunciar a ela (desistir da ação) ou a certas situações processuais. Trata-se do princípio da disponibilidade processual.
Esse poder dispositivo é quase absoluto no processo civil (regra).
Pela razão inversa, prevalece (regra) no processo criminal o princípio da indisponibilidade (ou da obrigatoriedade). O crime é uma lesão irreparável ao interesse coletivo e a pena é realmente reclamada, para a restauração da ordem jurídica violada.
3.6 Principio dispositivo e princípio da livre investigação das provas — verdade formal e verdade real
O princípio dispositivo consiste na regra de que o juiz depende, na instrução da causa, da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações em que se fundamentará a decisão. 
No processo civil, antigamente se confiava exclusivamente no interesse das partes para o descobrimento da verdade (exceto quando havia interesse público). Isso porque, enquanto no processo civil em princípio o juiz pode satisfazer-se com a verdade formal (ou seja, aquilo que resulta ser verdadeiro em face das provas carreadas aos autos), no processo penal o juiz deve atender a averiguação e ao descobrimento da verdade real (ou verdade material), como fundamento da sentença.
RESUMINDO:
Princípio dispositivo: O juiz depende na instrução da causa da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações em que fundamentará a decisão.
No processo civil:
 - o juiz pode satisfazer-se com a verdade formal;
 - quando o interesse público prevalece sobre o privado o juiz não está adstrito ao impulso das partes, ele vai em busca da verdade real (ex: causas de direito de família, juiz solicita estudo social, em favor do direito do menor)
No processo penal:
 - o juiz pode atender à averiguação e ao descobrimento da verdade real ou verdade material; (pedir para os alunos lerem artigos 197 a 200 do CPP)
 - somente excepcionalmente se contenta com a verdade formal – ex: art. 386, VII do CPP;
No processo do trabalho: os poderes do juiz na colheita das provas também são amplos – art. 765 da CLT.
Princípio dispositivo hoje: Tanto o processo civil quanto o penal não são eminentemente dispositivos prevalecendo hoje o princípio da livre investigação das provas, embora com maior dispositividade no processo civil.
3.7 Principio da Inafastabilidade do controle jurisdicional
Encontra-se no art. 5º, XXXV CF e impede que o legislador restrinja o acesso à ordem jurídica ou ao ordenamento justo, assim como impõe ao juiz o dever de prestar a jurisdição, isto é, garantir a tutela efetiva, a quem detenha uma posição jurídica de vantagem, sendo vedado ao juiz se eximir de julgar. Na falta de lei, usar-se-ão a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.
Não se trata, portanto, de mera garantia de acesso ao juízo (direito à ação), mas da própria tutela (proteção) jurisdicional (adequada, tempestiva e, principalmente, efetiva) a quem tiver razão. 
Recomenda-se a leitura do artigo 2 do CPC.
3.8 Publicidade dos atos processuais
Encontra-se na leitura dos arts. 5º, LX, 37 e 93, IX da CF/88, Significa que, em regra, o processo deve ser público e, apenas excepcionalmente, sigiloso – quando houver expressa previsão legal, notadamente, quando a defesa da intimidade ou do interesse público o exigirem.
Há uma íntima relação entre os princípios da publicidade e da motivação das decisões judiciais, na medida em que a publicidade torna efetiva a participação no controle das decisões judiciais.
No Processo Civil, o art. 189 do CPC/2015 regula a matéria, fazendo a previsão, em casos excepcionais, do chamado “segredo de Justiça”. Em regra, a lei define algumas hipóteses básicas, ficando ao prudente arbítrio do juiz estender essa exceção a outros casos não contemplados especificamente no texto legal, desde que sua decisão seja fundamentada, pois estará restringindo uma garantia constitucional.
Casos comuns de segredo de Justiça são os de Direito de Família, como guarda de menores e partilha de bens.
3.9 Princípio da duração razoável do processo
Foi introduzido na Constituição Federal pela Emenda Constitucional n. 45/2004, que acrescentou ao art. 5° o inciso LXXVIII: "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantem a celeridade de sua tramitação". 
O art. 4° do CPC repete esse dispositivo, explicitando que ele se estende também à atividade satisfativa: "As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito. incluída a atividade satisfativa". 
A rigor, mesmo antes já se poderia encontrar fundamento, em nosso ordenamento jurídico, para esse princípio, seja porque ele explicita um dos aspectos do devido processo legal (para que o processo alcance o seu desiderato é preciso que chegue a termo dentro de prazo razoável), seja porque o Pacto de San José da Costa Rica, de 1969, já o consagrava, tendo a nossa legislação o ratificado.
3.10 Princípio do duplo grau de jurisdição
Uma leitura atenta do texto constitucional mostra que não há nenhum dispositivo que consagre, de maneira expressa, o duplo grau de jurisdição em todos os processos. O que se pode dizer, no entanto, é que a Constituição Federal, ao criar juízos e Tribunais, aos quais compete, entre outras coisas, julgar recursos contra decisões de primeiro grau, estabeleceu um sistema em que, normalmente, há o duplo grau, que serve para promover o controle dos atos judiciais quando houver inconformismo das partes, submetendo-os à apreciação de um órgão de superior instância, composto, em regra, por juízes mais experientes.
Mas há inúmeros exemplos em que não há o duplo grau e que, nem por isso, padecem do vício de inconstitucionalidade (ex: as causas de competência originária do Supremo Tribunal Federal).
3.11 Princípio da motivação das decisões judiciais
Vem expressamente estabelecido no art. 93, IX, da Constituição Federal, que determina que serão públicos todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário, sob pena de nulidade.
O juiz, ou tribunal, ao proferir suas decisões, deve justificá-las, apresentando as razões pelas quais determinou essa ou aquela medida, proferiu esse ou aquele julgamento.
Sem a fundamentação, as partes, os órgãos superiores e a sociedade não conheceriam o porquê de o juiz ter tomado aquela decisão. A fundamentação é indispensável para a fiscalização da atividade judiciária, assegurando-lhe a transparência. Esse controle - fundamental nos Estados democráticos -poderá ser exercido pelos próprios litigantes, pelos órgãos superiores, em caso de recurso, e pela sociedade.
O art. 489, § 1° CPC, estabelece que não se consideram fundamentadas as decisões judiciais, de qualquer tipo, quando se limitam à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; quando empregam conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; quando invocam motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; quando não enfrentam todos os argumentos deduzido no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; quando se limitama invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; e quando deixam de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
4. Norma Processual
4.1 Conceito de norma processual
A moderna doutrina distingue as normas jurídicas em duas grandes categorias: normas materiais ou substanciais e normas processuais ou instrumentais.
Normas materiais ou substanciais são aquelas que disciplinam diretamente as relações de vida, procurando compor conflitos de interesses entre os membros da comunidade social, bem como regular e organizar funções socialmente úteis, ao mesmo tempo em que asseguram o seu cumprimento através de sanções, às vezes específicas, e, outras vezes, imanentes à ordem jurídica no seu conjunto.
Normas processuais ou instrumentais são aquelas que disciplinam a aplicação das normas substanciais, seja regulando a competência para fazê-las atuar, seja regulando os meios de torná-las efetivas e ainda as vias adequadas para provocar o seu cumprimento e efetivação.
Para se qualificar uma norma de material ou de processual é indiferente que ela esteja no Código Civil ou Penal ou nos Códigos de Processo, pois o que tem relevância é a sua natureza jurídica e não o local onde se encontre; mesmo porque o ordenamento jurídico é rico em normas “heterotópicas”, que são regras materiais inseridas nos Códigos de Processo Civil e Penal, e normas processuais nos Códigos Civil e Penal.
As normas processuais se dividem em três grandes grupos:
a) Normas processuais em sentido estrito são as que regulam o processo como tal, atribuindo poderes e deveres processuais às partes e aos órgãos jurisdicionais.
b) Normas de organização judiciária são as que regulam a criação e estrutura dos órgãos judiciários e seus auxiliares.
c) Normas estritamente procedimentais são as que regulam o modo como se devem conduzir o juiz e as partes, no processo, e, inclusive, a coordenação dos atos que compõem o procedimento.
4.2. Interpretação e integração da norma processual
Interpretar uma norma é determinar a exata significação do enunciado legal, com o objetivo de determinar-lhe o conteúdo. A interpretação, diz Manzini, é o meio de acertar e precisar a vontade da norma jurídica, nos casos em que possa surgir dúvida sobre a própria vontade.
No tocante à norma processual, a interpretação está subordinada aos mesmos cânones que regem a hermenêutica das demais ciências do direito.
A interpretação da norma processual pode ser classificada: 
I – do ponto de vista objetivo: a) gramatical; b) lógica; c) sistemática; e d) histórica. 
II – do ponto de vista subjetivo: a) autêntica; b) doutrinária; e c) judicial. 
III – do ponto de vista dos resultados: a) extensiva; e b) restritiva.
4.3. Limitações espaciais e temporais na aplicação da norma processual
As normas processuais, na sua aplicação, sofrem limitações no tempo e no espaço, da mesma forma que toda norma jurídica. A eficácia espacial das normas processuais é regulada pelo princípio da territorialidade, também conhecido como lei do foro; que em regra não admite aplicação de lei estrangeira, salvo se a norma vier prevista em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil faça parte (CPC, art. 13, parte final).
O princípio da territorialidade vem agasalhado pelos arts. 16 do Código de Processo Civil e 1º do Código de Processo Penal. As leis processuais civis e penais estão sujeitas às normas relativas à eficácia temporal das leis civis, constantes da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, e da Lei de Introdução ao Código de Processo Penal, respectivamente.
A doutrina aponta três sistemas para a solução do conflito temporal das leis: a) sistema da unidade processual; b) sistema das fases processuais; e c) sistema do isolamento dos atos processuais.
O sistema do isolamento dos atos processuais foi consagrado pelos Códigos de Processo Civil e Penal, que asseguram que a norma processual não tenha efeito retroativo, provendo somente para o futuro, para atos processuais ainda não realizados quando da sua entrada em vigor.
Nesse contexto, de acordo com doutrina, é importante ter em mente que é vedado o efeito retroativo, devendo ser adotado o efeito imediato, conforme o artigo 14 do CPC. 
OBS: Não fica afastada, porém, a ultratividade das leis processuais, fenômeno segundo o qual a norma revogada continua produzindo sua eficácia até que se conclua o ato por ela regulado, como, por exemplo, uma perícia em curso.
5. Jurisdição
Para desempenho da prestação estatal de justiça, estabeleceu-se a jurisdição, como “uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça”.
A função jurisdicional só atua diante de casos concretos de conflitos de interesses (lide ou litígio) e sempre na dependência da invocação dos interessados, porque são deveres primários destes a obediência à ordem jurídica e a aplicação voluntária de suas normas nos negócios jurídicos praticados.
Não são todos os conflitos de interesses que se compõem por meio da jurisdição, mas apenas aqueles que configuram a lide ou o litígio.
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que lide e litígio são vocábulos sinônimos correspondem a um evento anterior ao processo. Mas sua existência constitui conditio sine qua non do processo: “inexistindo litígio, não há sequer interesse em instaurar-se a relação processual” e sem legitimidade e interesse, diz expressamente a lei, não se pode propor ou contestar ação (NCPC, art. 17)
Se, por qualquer razão, uma parte, por exemplo, se curva diante da pretensão da outra, conflito de interesses pode ter existido, mas não gerou litígio, justamente pela falta do elemento indispensável deste, que vem a ser a resistência de um indivíduo à pretensão de outro.
É importante, então, ter-se uma noção segura do que seja interesse e pretensão, para se chegar ao domínio do conceito de lide. Explica Carnelutti que interesse é a “posição favorável para a satisfação de uma necessidade” assumida por uma das partes; e pretensão, a exigência de uma parte de subordinação de um interesse alheio a um interesse próprio.
Assim, o proprietário tem interesse na posse do bem que lhe pertence, pois é por meio dela que consegue satisfazer necessidades como a de abrigo ou de renda para sua sobrevivência. Também o inquilino tem interesse na posse do imóvel locado, pois com ela satisfaz, por meio de bem de terceiro, a necessidade de habitação.
Temos técnicas de que se deve valer a jurisdição para bem realizar a tutela dos direitos materiais, sempre no sentido de proporcionar, para quem sofra lesão ou ameaça em sua esfera jurídica, um resultado em tudo igual ou equivalente àquela decorrente da situação de vantagem que a ordem jurídica material lhe assegura.
Assim:
•se o direito material é negado ou posto em dúvida, o provimento judicial resultará na outorga de certeza a respeito de sua existência ou não; 
•se o direito é ameaçado, consistirá em proibir a consumação do dano ameaçado; 
•se o dano é consumado, consistirá na condenação à reparação ou indenização;
•se o direito resistido assegura o poder do titular a extinguir ou modificar a situação jurídica existente, consistirá na constituição do novo relacionamento jurídico devido; 
•se a prestação a que faz jus o credor não cumprida espontaneamente pelo devedor, consistirá em medidas coercitivas práticas tendentes a realizá-las forçadamente;
•se há risco de dano iminente ao direito da parte, consistirá em medidas práticas e imediatas para conservar os bens ameaçados, provisoriamente, enquanto se aguarda a solução final do processo; 
•se o direito ameaçado ou lesado se manifesta evidente, consistirá em medida antecipatória para permitir o seu provisório desfrute por quem comprove, de plano, a respectiva titularidade;•se a obrigação é de dar ou de fazer, consistirá em tomada de variadas medidas e cominações a fim de compelir a entrega do bem devido, ou de realização do fato devido, ou de seu equivalente econômico, e assim por diante.
5.1 Características da jurisdição
Diante do exposto, a jurisdição se apresenta como atividade estatal “secundária”, “instrumental”, “declarativa ou executiva”, “desinteressada” e “provocada”.
Diz-se que é atividade “secundária” porque, por meio dela, o Estado realiza coativamente uma atividade que deveria ter sido primariamente exercida, de maneira pacífica e espontânea, pelos próprios sujeitos da relação jurídica submetida à decisão.
Nisso consiste, em outros termos, o caráter substitutivo que se reconhece à jurisdição, já que a conformidade da conduta prática com os ditames das normas de fundo é dever que originalmente toca aos próprios sujeitos das relações jurídicas materiais. 
Quando, pois, o juiz define o litígio, faz uma escolha que antes deveria ter sido praticada pelas partes. É “instrumental” porque, não tendo outro objetivo principal, senão o de dar atuação prática às regras do direito, nada mais é a jurisdição do que um instrumento de que o próprio direito dispõe para impor-se à obediência dos cidadãos.
5.2 Princípios fundamentais
Na ordem constitucional, em que o poder jurisdicional deita suas raízes, encontram-se princípios fundamentais que informam a substância ou essência da jurisdição, e que podem ser assim enunciados:
(a) O princípio do juiz natural: só pode exercer a jurisdição aquele órgão a que a Constituição atribui o poder jurisdicional. Toda origem, expressa ou implícita, do poder jurisdicional só pode emanar da Constituição, de modo que não é dado ao legislador ordinário criar juízes ou tribunais de exceção, para julgamento de certas causas, tampouco dar aos organismos judiciários estruturação diversa daquela prevista na Lei Magna. Nem mesmo os órgãos hierárquicos superiores podem, em princípio, suprimir a competência do juiz natural.
b) Princípio da investidura: Para a jurisdição ser exercida é necessário que alguém seja investido na função. A investidura ocorre através de concurso público de provas e títulos, em observância a CF/88.
Contudo essa regra não é absoluta tendo algumas exceções, por exemplo, a escolha dos Ministros do STF ou ingresso nos tribunais pelo quinto constitucional, feitos que independem de concurso público.
c) Princípio da indelegabilidade: A atividade jurisdicional é indelegável, somente podendo ser exercida, pelo órgão que CF/88 estabeleceu como competente. Assim sendo após o processo ser recebido por um Juiz, ele não poderá delegar o julgamento a terceiro ou outro juiz.
Costuma-se falar em exceção do princípio nos casos de cartas precatórias ou de ordem. Na verdade, contudo, não se trata, na espécie, de delegação voluntária, mas de simples caso de colaboração entre órgãos judiciários, cada um dentro de sua natural e indelegável competência. O deprecante não delega poderes, já que o ato a ser praticado pelo deprecado nunca estaria compreendido nos limites da competência do primeiro. O que se pede é justamente que o único competente (o deprecado) pratique o ato que o deprecante não pode realizar, mas que é necessário para o prosseguimento do processo a seu cargo.
d) Princípio da inevitabilidade: A lide, uma vez levada ao judiciário, não poderá às partes impedir a decisão do juiz. Existindo uma decisão as partes devem cumpri-la, independente da satisfação das partes sobre ela.
e) Princípio da inafastabilidade (indeclinabilidade): Princípio de origem constitucional, previsto no art. 5º, XXXV, da CF/88, que determina que toda lesão ou ameaça de direito não poderá ser afastada do conhecimento do Poder Judiciário. Entretanto existe uma exceção a qual se refere às questões da justiça desportivas, onde há a necessidade do esgotamento das vias administrativas desportivas para a lide seja levada ao Judiciário. Na lei, porém, há uma exceção que consiste na permissão a que o juiz se abstenha de atuar sob alegação de suspeição por motivo íntimo (art. 145, §1º CPC).
f) O princípio da aderência territorial: todo juiz ou órgão judicial conta com uma circunscrição territorial dentro da qual exerce suas funções jurisdicionais, que pode ser a comarca, o Estado, o Distrito Federal ou todo o território nacional, conforme disposto na Constituição e nas leis de organização judiciária.
g) O princípio da inércia e da congruência: o acesso de todos à justiça é garantido pela Constituição (art. 5º, XXXV), mas o Poder Judiciário não pode agir por iniciativa própria, somente o fará quando adequadamente provocado pela parte (NCPC, art. 2º). O da congruência é aquela onde o juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte.
h) O princípio da unidade: o Poder Judiciário é único e soberano, embora a partilha de competência se dê entre vários órgãos. Dessa maneira, qualquer que seja aquele que solucione o conflito, manifestará a vontade estatal única atuável diante dele. Nem mesmo a divisão constitucional entre várias justiças implica pluralidade de jurisdição, mas apenas “a existência de estruturas diversas, estabelecidas de acordo com a especialidade de cada uma dessas justiças, com o objetivo de assegurar a maior eficiência no seu desempenho”.
i) Princípio da primazia do mérito: Está contido no artigo 4º do CPC, que exprime três princípios norteadores do processo civil, quais sejam: Duração razoável do processo, efetividade do processo e primazia da decisão de mérito. Podemos compreender que o Princípio da primazia do julgamento do mérito, flexibiliza o formalismo processual, vez que busca cada vez mais a eficiência processual, onde essa efetividade deverá ser medida pela sua capacidade de tornar reais (concretizados) os direitos controvertidos, ameaçados ou lesionados, ou seja, buscando cada vez mais o dialogo no processo, a resolução do mérito. 
Outro artigo que trata do tema é o Art. 317 CPC Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício.
5.4 Jurisdição voluntária
O CPC estabelece que a jurisdição civil pode ser contenciosa ou voluntária (art. 719), mas discute-se se a voluntária constitui ou não verdadeira jurisdição. A diferença entre elas é que, na primeira, a parte busca obter uma determinação judicial que obrigue a parte contrária, ao passo que, na segunda, busca uma situação que valha para ela mesma. 
Na contenciosa, a sentença sempre favorece uma das partes em detrimento da outra, já que ela decide um conflito entre ambas. Na voluntária, é possível que a sentença beneficie as duas partes. 
Na primeira, pede-se ao juiz que dê uma decisão, solucionando um conflito de interesses, que lhe é posto, diretamente, para julgamento. Na segunda, ainda que haja uma questão conflituosa, não é ela posta diretamente em juízo para apreciação judicial. 
A jurisdição voluntária não serve para que o juiz diga quem tem razão, mas para que tome determinadas providências que são necessárias para a proteção de um ou ambos os sujeitos da relação processual. Conquanto haja forte corrente doutrinária sustentando que a jurisdição voluntária não é jurisdição, mas administração pública de interesses privados, parece-nos que não se lhe pode negar essa condição, porque o juiz não se limita a integrar negócio jurídico privado dos envolvidos, mas interfere para sanar uma questão conflituosa. Assim, os que querem separar-se ou interditar um parente vivem um conflito, e a solução dessa solução conflituosa exige a intervenção do judiciário.
Exemplo de jurisdição voluntária: A e B foram casados por 20 anos e decidem divorciar-se, porém, não estão em litígio, concordam com todos os termos para o fim deste relacionamento, assim, buscam o Judiciário, juntos, para pedir ao juízo que apenas homologue o divórcio. Neste caso, as duas partes vão buscar jurisdição apenas para que o Estado venha a reconhecera decisão conjunta, não há conflito de interesses. Se este mesmo casal tivesse disputa sobre bens ou sobre querer divorciar-se ou não, aí teríamos uma jurisdição litigiosa.
6. Ação
Ação seria o direito ao exercício da atividade jurisdicional (ou poder de exigir esse exercício). Invocar esse direito implica provocar a jurisdição (provocação necessária, visto que, em regra, ela é inerte), o qual se exerce através de um complexo de atos denominado processo.
Num conceito ainda mais completo, ação seria o direito público, subjetivo, autônomo e abstrato à prestação jurisdicional sobre uma demanda de direito material.
6.1 Teorias da ação 
Obs: Optei pela abordagem e divisão do Humberto Dalla, por ser a mais efetiva para nossa abordagem, outros autores trarão diferentes classificações e teorias.
A evolução da ação não se pode dizer encerrada, tão grande é ainda a discussão em torno do seu conceito. Desde a concepção da actio, no direito romano, muitos séculos se passaram, e o tema continua tão atual quanto os mais recentes institutos e as mais novas conquistas da ciência processual.
São estas as principais teorias:
A) Teoria Imanentista, Civilista, ou Clássica
Segundo a clássica proposição romana de Celso, a ação era o próprio direito material colocado em movimento, a reagir contra a ameaça ou violação sofrida. Não havia ação sem direito. A ação nada mais era do que o direito de alguém perseguir em juízo o que lhe era devido ou o que era seu, para abranger tanto os direitos reais como os direitos obrigacionais.
Tal teoria vigorou até meados do século XIX, mas seguiu exercendo grande influência na doutrina pátria até 1933. Considerava o direito processual não como ciência autônoma, mas mero apêndice do direito material, e a ação um simples capítulo do direito civil.
Suas diretrizes privatistas influenciaram a elaboração do art. 75, do revogado Código Civil de 1916, segundo o qual “a todo o direito corresponde uma ação, que o assegura”.
No entanto, em decorrência dos crescentes contornos autônomos atribuídos ao direito processual, a doutrina imanentista foi aos poucos sendo rechaçada e esse artigo começou a ser interpretado como fonte da garantia de tutela jurisdicional adequada (art. 5º, XXXV, da CF).
Essa teoria falha quanto a dois pontos específicos:
1) as ações declaratórias, pois estas consistem apenas em requisitar uma declaração, ou seja, existência ou não de uma declaração jurídica ou autenticidade de um documento;
2) a não explicação racional da ação infundada, pois o que tem razão e o que não tem podem receber do Judiciário o mesmo tratamento, porque é impossível, liminarmente, dizer quem não tem razão.
B) Teoria do Direito Concreto de Ação (Teoria Concreta)
Em 1885, Adolph Wach, na Alemanha, reconhece em sua obra relativa independência entre o direito de ação e o direito subjetivo material. Para demonstrar definitivamente a autonomia do direito de ação, afirma que ele não se confunde com o direito privado e muito menos com a pretensão do direito civil.
Segundo Wach, a pretensão de tutela jurídica – ação – constituiu direito de natureza pública, dirigindo-se contra o Estado, o qual teria a obrigação de prestá-la, e contra o demandado, que teria que suportar seus efeitos.
A aludida autonomia do direito de ação foi demonstrada através da ação declaratória negativa, que consiste justamente na declaração de inexistência de determinada relação jurídica e, por conseguinte, do direito material subjetivo que dela poderia defluir.
Porém, segundo essa concepção, embora distinto do direito material, o direito de ação corresponderia a quem tivesse razão, ou seja, só existiria quando a sentença fosse favorável. Se a sentença fosse de improcedência, o autor não teria o direito de ação desde o início. Só possuiria o direito de ação quem possui o direito material.
Assim, apesar de sua contribuição para demonstrar a autonomia do direito de ação, a teoria foi alvo de críticas. Primeiro em razão de a improcedência do pedido restar inexplicável, pois, nessa hipótese, a natureza do direito exercido pelo autor permanecia indefinida. Segundo, por não explicar qual seria a situação do direito de ação na ação declaratória negativa, de pedido de inexistência de relação jurídica, pois o que se pediria seria que não existe relação jurídica de direito material entre as partes. E, ainda, por caracterizar a ação como o direito a uma sentença favorável, pois, dessa forma, o réu também teria direito de ação.
C) Teoria da Ação como Direito Potestativo
Representa uma variante da teoria concreta, pois também condicionava a existência do direito de ação à obtenção de uma sentença favorável. Por conseguinte, sujeita-se às mesmas críticas dirigidas contra referida teoria.
Sustenta Chiovenda que a ação é o poder jurídico de dar vida à condição para atuação da vontade da lei. Afirma, ainda, que a ação deve ser entendida como um direito concreto atual, existente antes do processo, e precisamente como um poder jurídico para obter, contra o adversário, um resultado favorável no processo.
Conforme seu defensor, Chiovenda, a ação pode ser definida como o “poder jurídico de dar vida à condição para a atuação da vontade da lei”, isto é, o direito de obter uma atuação concreta da lei em face de um adversário, sem que este possa obstar que a atividade jurisdicional se exerça, ou seja, o réu estaria subordinado à vontade do autor de exercer seu direito de ação, sem que pudesse apresentar qualquer obstáculo. 
Contudo, tal como na teoria concreta, só teria o direito de ação quem tivesse uma sentença de procedência do pedido. A ação, aqui também entendida como direito autônomo, não era tida como um direito subjetivo, mas como um direito de poder (direito potestativo), visto que corresponderia ao direito do autor de submeter o réu aos efeitos jurídicos pretendidos, ou seja, à atuação da vontade concreta da lei. 
Desse modo, para essa teoria, a ação se dirigia contra o réu e não contra o Estado (visão privatista).
O processo serve a duas grandes categorias de direito, a saber: 
1) a dos direitos ligados a um bem da vida, a serem alcançados, antes de tudo mediante a prestação positiva ou negativa, do obrigado; 
2) a dos diretos tendentes à modificação do estado jurídico existente, os quais são direitos potestativos.
Ou seja, a ação se dirige contra um adversário e não contra o Estado, isto é, o direito potestativo (direito de poder) de buscar efeito jurídico favorável ao seu autor, sujeitando ônus à outra parte. Sendo a ação o poder jurídico de dar vida à condição para atuação da vontade da lei.
D) Teoria da Ação como Direito Abstrato
Formulada pelo alemão Degenkolb e pelo húngaro Plósz, define o direito de ação como o direito público que se exerce contra o Estado e em razão do qual o réu comparece em juízo. Não se confunde com o direito privado arguido pelo autor, sendo concebido com abstração de qualquer outro direito.
Para tais juristas, a ideia é de que o direito de agir é antecedente ao seu exercício. Dessa forma, o direito de ação, além de autônomo, é independente do direito material. O direito de ação é inerente a todo indivíduo e não exclui a possibilidade de uma sentença desfavorável.
O conteúdo primordial do direito de ação seria o interesse secundário e abstrato à intervenção do Estado para a eliminação dos obstáculos que se contrapõem à obtenção do interesse principal (direito material).
Assim, essa teoria teve o mérito de reconhecer a existência de um direito público, subjetivo, inquestionável, preexistente ao processo e desvinculado do direito material ao permitir que o autor, no exercício de seu direito de ação, fizesse apenas referência a um interesse seu, levando o Estado a proferir uma sentença por meio da atividade jurisdicional, ainda que contrária aos interesses Autorais.
E) Teoria Eclética
Elaborada por Liebman, a teoria em questão tem assento na teoria abstrata, porém com a inclusão de uma nova categoria, qual seja, as “condições da ação”, ou condições de admissibilidade do provimento sobre a demanda e, portanto, preliminar aoexame do mérito.
Para Liebman a ação é o “direito ao processo e ao julgamento do mérito”, o qual não representa, porém, a garantia de um resultado favorável ao demandante. É satisfeita com um julgamento favorável ou desfavorável ao demandante.
O que importa, para a configuração da ação, segundo Liebman, é a presença das condições da ação, os “requisitos de existência da ação”, que seriam a legitimação para agir, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido.
Somente se elas estiverem presentes o juiz estará obrigado a julgar o pedido, a fim de acolhê-lo ou rejeitá-lo. Segundo Liebman, as condições da ação são requisitos para sua existência.
Quando tais condições estão ausentes, há carência de ação. As condições da ação seriam requisitos constitutivos da ação, que não dependeria de uma sentença favorável, mas apenas da presença das condições da ação descritas (legitimação para agir, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido).
E esse direito abstrato de ação, que aqui assume contornos de direito de petição, é consagrado como direito fundamental em nosso texto constitucional no art. 5º, XXXV, cujo teor estabelece que nenhuma lesão ou ameaça a direito poderá ser subtraída do Poder Judiciário, bem como no plano infraconstitucional, nos arts. 3º e 267, VI, do CPC/1973.
Não obstante, essa teoria foi aprimorada por doutrinadores modernos como Afrânio Silva Jardim e José Carlos Barbosa Moreira, pois, diante de uma visão constitucional do processo, não se deve falar em condições de existência do direito de ação, uma vez que esse direito é incondicionado (porquanto direito fundamental). 
Por mais absurda que seja a demanda, é vedado ao juiz, em razão do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF), deixar de apreciá-la, devendo fazê-lo ainda que para indeferir a petição inicial.
Se tal ocorrer, parece não haver dúvida de que houve exercício do direito de ação. Afinal, o autor, ao propor a demanda, exigiu, obtendo êxito em sua exigência, que o Estado exercesse a jurisdição. Dessa forma, de acordo com esse entendimento, afigura-se mais correto falar em condições para o regular exercício do direito de ação.
6.3 Aprofundando “Legitimidade” e Interesse
A) A legitimidade "ad causam"
É mencionada especificamente no art. 18, do CPC, que assim estabelece: "Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico". 
Esse dispositivo diz que, em regra, as pessoas só podem ir a juízo, na condição de partes, para postular e defender direitos que alegam ser próprios, e não alheios. 
Trata-se de norma sábia: seria muito complicado se, em regra, as pessoas pudessem postular, em nome próprio, interesses alheios, O problema é que essa regra tem exceções: há casos -raros, incomuns, é verdade- em que a lei autoriza alguém a, em nome próprio, ir a juízo, para postular ou defender direito alheio. Isso só poderá ocorrer se houver autorização do ordenamento jurídico.
Podemos concluir que, no que concerne à legitimidade, existem dois grandes campos no Processo: o da normalidade (ordinária), em que as pessoas figuram em juízo, na condição de partes, em defesa dos interesses e direitos que alegam ser próprios, sendo o que ocorre na imensa maioria dos processos - a esse tipo de legitimidade, a comum, dá-se o nome de ordinária; e o da anormalidade (extraordinária), naquelas hipóteses em que uma pessoa X poderá ser autorizada a figurar em juízo, em nome próprio, na condição de parte, em defesa dos interesses de Y - nesse caso, diz-se que haverá legitimidade extraordinária, também chamada "substituição processual" (conquanto haja alguma divergência a respeito, essas duas expressões têm sido usadas como sinônimas).
Legitimidade extraordinária e representação
Não se pode confundir legitimidade extraordinária com representação. Imagine-se que um incapaz precise ir ajuízo, postular um direito. Por exemplo, um menor, abandonado pelo pai, que precisa de alimentos. Ao ajuizar a demanda, ele é que figurará como autor, será o demandante. Mas, como é incapaz, é preciso que venha representado pela mãe, ou por quem tenha a sua guarda. O incapaz estará em nome próprio (ele é o autor) defendendo direito próprio. 
Na legitimidade extraordinária, aquele que figura como parte postula ou defende direito alheio. É o que ocorre, por exemplo, se a lei autorizar X a ajuizar demanda, em nome próprio, mas na defesa de interesses de Y. Haverá uma dissociação: aquele que figura como parte (X) não é o titular do direito; e o titular do direito (Y) não é quem figura como parte.
Um exemplo de legitimidade extraordinária: O condomínio tradicional
Imaginemos duas ou mais pessoas proprietárias do mesmo bem. No condomínio, cada qual dos condôminos, não sendo dono da coisa toda, é titular de uma fração ideal, que tem esse nome porque se sabe que cada condômino tem uma parte da coisa, mas não é possível ainda delimitá-la.
Por exemplo, se houver três proprietários, cada qual será, em princípio, titular de uma terça parte ideal, salvo se constar do título outra forma de divisão. Se esse imóvel for invadido, surgirá a interessante questão de saber quem são os legitimados para propor ação reivindicatória ou possessória.
O art. 1.314, caput, do Código Civil soluciona o problema ao dizer que cada condômino pode reivindicá-la de terceiro e defender a sua posse. ·Isso significa que, cada um, isoladamente, tem legitimidade para defender integralmente a coisa comum. Esse dispositivo legal nos põe no campo da legitimidade extraordinária, porque permite que o titular de uma fração ideal, que detém apenas uma parte da coisa, vá ajuízo defendê-la integralmente.
Assim, se o bem tiver três donos, A, B e C, a lei autoriza que qualquer um ajuíze a ação reivindicatória ou possessória, não somente em relação à sua parte na coisa, mas em relação ao objeto inteiro, como um todo. Cada qual dos condôminos será, simultaneamente, legitimado ordinário, no que concerne à sua terça parte, à sua fração ideal; mas será legitimado extraordinário, no que se refere às outras duas terças partes, que pertencem aos demais titulares.
B) Interesse de agir
De acordo com o art. 17 do CPC, para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade. O interesse de agir exige o preenchimento do binômio: necessidade e adequação. É preciso que a pretensão só possa ser alcançada por meio do aforamento da demanda e que esta seja adequada para a postulação formulada. 
Não haverá interesse de agir para a cobrança de uma dívida, antes que tenha havido o seu vencimento, porque pode ser que até a data prevista haja o pagamento espontâneo, o que tornaria desnecessária a ação. Mas, desde o vencimento, se a dívida não for paga, haverá interesse de agir.
Também é necessário que haja adequação entre a pretensão do autor e a demanda por ele ajuizada. Ao escolher a ação inadequada, o autor está se valendo de uma medida desnecessária ou inútil, o que afasta o interesse de agir.
O autor carecerá de ação quando não puder obter, por meio da ação proposta, o resultado por ele almejado. Haverá casos, outros, em que haverá carência por falta de interesse superveniente. É o que ocorre quando, no momento da propositura da demanda, ela era necessária, mas depois, por razões posteriores, deixou de ser.
Imagine-se, por exemplo, que alguém ajuíze ação contra o causador de um acidente de trânsito que tem contrato de seguro. O réu faz a denunciação da lide à sua seguradora para a hipótese de vir a ser condenado, caso em que poderá, nos mesmos autos, exercer o direito de regresso contra ela. O juiz só examinará se existe ou não direito de regresso se a lide principal vier a ser julgada procedente, pois só então o réu terá sido condenado, e fará sentido falar em reembolso. Se a lide principal for improcedente, o réu não terá sido condenado, com o que a denunciação da lide perderá o objeto, e a denunciação deverá ser extinta, sem julgamento de mérito, por falta de interesse.
6.4 Cumulação de Ações
A doutrina costuma tratar da cumulação de açõescomo a reunião de pretensões diferentes para solucionar uma só lide. Entretanto, em sendo a ação um direito autônomo e abstrato, exercitável contra o Estado para que exerça a atividade jurisdicional solucionando o litígio, não é possível admitir-se a sua cumulação. 
No entanto, é comum na linguagem doutrinária e jurisprudencial falar-se em cumulação de ações, quando se depara com um processo com várias pretensões, cada uma suficiente para justificar o exercício autônomo do direito de ação. Na verdade, não são ações que se cumulam, mas pretensões de direito material. O cúmulo que acontece com frequência é de pedidos ou, mais especificamente, de demandas.
Há cumulação em sentido estrito quando o autor formula contra o réu mais de um pedido visando ao acolhimento conjunto de todos eles. A cumulação em sentido estrito comporta duas modalidades:
a) cumulação simples - em que o acolhimento de um pedido não depende do acolhimento ou da rejeição de outro. Exemplo: cobrança simultânea de duas dívidas oriundas de fatos ou atos diversos;
b) cumulação sucessiva - em que o acolhimento de um pedido depende do acolhimento de outro. Exemplo: investigação de paternidade e petição de herança.
Em sentido lato: a cumulação abrange também as hipóteses em que o autor formula dois ou mais pedidos, ou um pedido com dois ou mais objetos mediatos, para obter um único dentre eles. 
7. Processo
7.1 Processo e procedimento
Processo e procedimento são conceitos diversos e que os processualistas não confundem. Processo, é o método, isto é, o sistema de compor a lide em juízo através de uma relação jurídica vinculativa de direito público, enquanto procedimento é a forma material com que o processo se realiza em cada caso concreto.
Cumpre lembrar que as normas processuais são de Direito Público pelo fato de regerem relação com o Estado, sendo assim, elas podem ser tanto cogentes como dispositivas.
Uma ação de cobrança não será da mesma forma que uma ação de divórcio, e por aí vai, o modo próprio de desenvolver-se o processo, conforme as exigências de cada caso, é exatamente o procedimento do feito, isto é, o seu rito.
Enquanto o processo engloba todo o conjunto de atos que se alonga no tempo, estabelecendo uma relação duradoura entre os personagens da relação processual, o procedimento consiste na forma pela qual a lei determina que tais atos sejam encadeados. 
Às vezes tais atos serão a regra, ou seja, o que chamamos de procedimento comum, em outros momentos, o processo terá uma maneira diferenciada de procedimento, o que terá o nome de procedimento especial. 
Art. 318 CPC: Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei.
Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução.
Os procedimentos especiais são enumerados nos códigos de processo ou nas leis de regência de determinadas ações. 
0 Código de Processo Penal também divide os procedimentos em comum e especial (art. 394 CPP). Os procedimentos especiais do processo penal são os previstos em lei. 0 Código de Processo Penal estabelece um procedimento para os processos da competência do Tribunal do Júri (art. 406 e seguintes) que, embora subsumido ao título do processo comum, é, por natureza, especial.
7.2 Classificação dos processos
A) Processo de Conhecimento
Diz-se processo de conhecimento porque é o meio através do qual as partes levam suas teses ao “conhecimento” do juiz, buscam sua comprovação e, assim, uma decisão favorável. Caracteriza-se pela atividade de cognição do juiz.
Também é chamado declaratório em sentido amplo, porque o objeto é “declarar quem tem razão”, ou melhor, o objeto é a pretensão ao provimento declaratório, que é a sentença de mérito.
B) Processo de execução
Processo de execução é aquele que permite a realização prática do direito no mundo dos fatos, sendo utilizado sempre que se quer dar um efeito concreto, mesmo contra a vontade do devedor, a um título extrajudicial (documento considerado por lei como tradutor de um acertamento de direito inter partes, ao qual é atribuído eficácia executiva).
A atividade executiva admite duas espécies:
a) cumprimento de sentença: é o conjunto de atos praticados pelo magistrado com o objetivo de tornar efetiva uma decisão interlocutória ou uma sentença. O cumprimento se dá dentro do processo de conhecimento e não há a necessidade de se abrir um processo autônomo.
b) processo de execução: aqui não houve previamente uma ação cognitiva. O jurisdicionado se dirige, pela primeira vez, ao Poder Judiciário, munido de um documento denominado título de crédito. O art. 784 do CPC/2015622 traz a relação dos documentos considerados título de crédito.
8. Processo Eletrônico
A Lei 11.419/2006 (que teve vigência a partir de 20.03.2007) traçou o ambicioso programa de implantação do processo judicial eletrônico a ser utilizado nas justiças civil, penal e trabalhista, bem como nos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição (art. 1º, § 1º).
Definiram-se regras para o processo totalmente eletrônico ou apenas para certos atos do processo ainda desenvolvido sob a forma de documentação atual. Constam da Lei 11.419 normas de tramitação do “processo judicial eletrônico” (arts. 8º a 13) e outras que se referem à comunicação de atos e transmissão de peças processuais (arts. 4º a 7º).
Como premissa da eficiência e garantia da segurança jurídica, ficou assentado que o envio de petições, de recursos e a prática de atos processuais em geral por meio eletrônico serão admitidos mediante uso de assinatura eletrônica, sendo obrigatório o credenciamento prévio no Poder Judiciário, conforme disciplina a ser definida pelos órgãos judiciais respectivos (Lei 11.419/2006, art. 2º).
Para aplicação do processo eletrônico, a Lei 11.419 define a assinatura eletrônica como forma de identificação inequívoca do signatário, que deverá ocorrer de duas maneiras (art. 1º, § 2º, III):
(a) por assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da legislação específica.
(b) mediante cadastro de usuário no Poder Judiciário, conforme vier a ser disciplinado pelos órgãos desse poder.
O processo eletrônico por meio de autos totalmente digitais foi regulado pelos arts. 8º a 13 da Lei 11.419/2006, permitindo que desde a petição inicial até o julgamento de última instância tudo se passe de maneira informatizada, isto é, a prática de todos os atos processuais possa utilizar-se de sistema eletrônico com autenticação assegurada por assinatura eletrônica. Provas e documentos úteis ao processo devem ser digitalizados, valendo como originais para todos os efeitos legais (art. 11). A remessa de autos de um juízo a outro ou aos tribunais também será feita por via eletrônica. 
8.1 A prática eletrônica de atos processuais no novo Código de Processo Civil
Atentando-se à implantação do processo eletrônico no ordenamento jurídico pátrio, o novo Código inseriu uma seção para disciplinar a prática eletrônica de atos processuais (arts. 193 a 199), explicitando que as suas regras podem ser aplicadas, no que couber, também à prática de atos notariais e de registro (art. 193, parágrafo único).
Dispõe o art. 193 que os atos processuais podem ser total ou parcialmente digitais, de forma a permitir que sejam produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio eletrônico, na forma da lei. A lei que continua aplicável é a já referida Lei 11.419/2006, com os acréscimos do novo CPC.
Segundo o novo Código, os sistemas de automação processual respeitarão a publicidade dos atos, o acesso e a participação das partes e de seus procuradores, inclusive nas audiências e sessões de julgamento, devendo-se observar as seguintes garantias: disponibilidade, independência da plataforma computacional, acessibilidade e interoperabilidade dos sistemas, serviços, dados e informações que o Poder Judiciário administre no exercício de suas funções (NCPC, art. 194).
O registro de ato processual eletrônico deverá ser feito empadrões abertos, que atenderão aos requisitos de autenticidade, integridade, temporalidade, não repúdio e conservação. Na hipótese de o processo tramitar em segredo de justiça, deve-se, ainda, respeitar o princípio da confidencialidade, observada a infraestrutura de chaves públicas unificada nacionalmente, nos termos da lei (art. 195).
É obrigação das unidades do Poder Judiciário manter, gratuitamente, à disposição dos
interessados, equipamentos necessários à prática de atos processuais e à consulta e ao acesso ao sistema e aos documentos dele constantes (art. 198, caput). Poderá, contudo, ser admitida a prática de atos por meio não eletrônico no local onde não estiverem disponibilizados os equipamentos previstos no referido dispositivo (art. 198, parágrafo único).
Cumprindo o mandamento do art. 196 do NCPC, o CNJ baixou a Resolução nº 234, de 13.07.2016, pela qual se instituiu o Diário de Justiça Eletrônico Nacional (DJEN), como instrumento de publicação dos atos judiciais dos órgãos do Poder Judiciário (art. 1º).
Estipulou o CNJ que o DJEN substituirá os atuais diários de justiça eletrônicos mantidos pelos diversos tribunais e estará disponível no sítio do CNJ na rede mundial de computadores (internet) (art. 5º, caput). Dispôs, ainda, que a publicação do DJEN, quando implantada, substituirá qualquer outro meio de publicação oficial, para fins de intimação – com exceção apenas dos casos em que a lei exija vista ou intimação pessoal (§ 1º do art. 5º) –, devendo o conteúdo das publicações ser assinado digitalmente, segundo os requisitos da Infraestrutura de Chaves Públicas (ICP Brasil) (art. 7º).
Enquanto, porém, o CNJ não implantar efetivamente o DJEN, as intimações dos atos processuais deverão ser realizadas via DJe dos próprios órgãos judiciários (Res. 234, art. 14).
9. Noções gerais. Deveres. Prerrogativas. Partes. Juiz. Ministério Público. Análise dos dispositivos pertentes na CRFB e no CPC. Defensoria Pública. Advocacia. Advocacia Pública. Auxiliares da Justiça. Análise dos dispositivos pertentes na CRFB e no CPC.
Para que o processo se desenvolva regularmente é necessária a conjugação da atividade de no mínimo três pessoas – um autor que pede, um réu que se defende e um juiz que julga. Cada uma dessas pessoas tem um papel que lhe é reservado pela Constituição e pela legislação no processo.
Nosso Código arrola como um dos seus princípios fundamentais a colaboração entre os participantes do processo (art. 6.º CPC). Isso não quer dizer, contudo, que as partes tenham o dever de cooperar entre si – como equivocadamente consta na nossa legislação. Vale dizer: cada qual persegue o seu próprio interesse. Essa é a razão pela qual as partes não têm o dever de cooperar entre si.
Certamente, as partes têm o dever de agir de boa fé no processo (art. 5.º CPC) – mas é certo que a necessidade de boa fé não se confunde com a necessidade de colaboração.
O processo civil brasileiro é dirigido pelo juiz (art. 139 CPC), que deve fazê-lo de forma paritária ao longo de todo procedimento, primando pelo diálogo com as partes, assumindo uma posição assimétrica apenas quando decide as questões da causa.
9.1 Juiz
O poder judiciário brasileiro é formado por juízes e tribunais (art. 92, da CF), tendo em sua organização ainda o Conselho Nacional de Justiça, que não detém funções jurisdicionais, mas exerce controle administrativo sobre a magistratura.
Os Juízes de primeiro grau que compõem a Justiça Estadual (art. 125, da CF) e a Justiça Federal (art. 109, da CF), bem como os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais Federais (art. 108, da CF), que se enquadram no gênero cortes de justiça, têm por função decidir os casos com justiça e prover adequada e tempestiva efetivação de suas decisões. O Supremo Tribunal Federal (art. 102, da CF) e o Superior Tribunal de Justiça (art. 105, da CF) são cortes de vértice, encarregadas de dar a última palavra a respeito da adequada interpretação do direito constitucional e do direito infraconstitucional federal respectivamente.
O juiz é responsável pela condução do processo (art. 139 CPC) e pelo julgamento da causa (art. 141 CPC) no processo civil. 
O juiz tem deveres de esclarecimento, de diálogo, de prevenção e de auxílio para com os litigantes – a fim de que o processo possa de fato dar tutela aos direitos e refletir em seu resultado não um desfecho apenas formal, que extinga o processo sem resolução de mérito (art. 488 CPC), mas um fim que efetivamente enfrente o litígio existente entre as partes (art. 490 CPC), extinguindo o processo ou uma de suas fases com resolução do mérito da causa (art. 487 CPC).
9.2 Ministério Público
Art. 127 CF O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Quando o art. 127 da CF/88 utiliza a expressão “instituição permanente”, trata-se de uma cláusula pétrea, não podendo, portanto, ser suprimida pelo poder constituinte derivado (art. 60, § 4º, da CF). Já no concernente à expressão “essencial”, significa dizer que, nas hipóteses em que sua intervenção for obrigatória, se não for chamado, será caso de nulidade do processo, isto é, não poderá haver jurisdição válida. A atuação do Ministério Público como custos legis, ou seja, fiscal da lei, seria a defesa da ordem jurídica. Já a atuação do Parquet em todos os processos de natureza eleitoral está fundamentada na defesa do regime democrático, também contido nesse dispositivo.
A participação do Ministério Público pode-se dar de duas formas no processo: pela sua atuação ou por meio de sua intervenção. 
Fala-se em atuação quando o Ministério Público age como parte no processo promovendo a ação. A intervenção refere-se às hipóteses em que o Ministério Público funciona como fiscal da lei, como custos legis em uma ação que foi proposta por outrem.
Percebe-se, então, que se o Ministério Público participa do processo como parte, ele detém o prazo em dobro para se manifestar. 
Caso o Ministério Público esteja participando como fiscal da ordem jurídica, ou seja, não foi ele quem propôs a demanda, mas sua intervenção é obrigatória por força da presença de uma das hipóteses do art. 178, seu prazo é de 30 dias.
9.3 Advocacia
O novo CPC, por sua vez, trata dos advogados privados entre os arts. 103 e 107. 
Os arts. 133 da CF/88 e 2º da Lei n. 8.906/94 (Estatuto do Advogado), a advocacia é função essencial à administração da Justiça, ao lado do Ministério Público, da Advocacia Pública (Advocacia Geral da União e Procuradorias dos Estados e dos Municípios) e da Defensoria Pública.
O advogado deve atuar com o instrumento de mandato, a procuração ad judicia. Como regra no ordenamento brasileiro, sem esse instrumento, o advogado poderá apenas, em nome da parte, intentar ação a fim de evitar a decadência ou a prescrição, bem como intervir no processo para praticar atos urgentes; mas, nesses casos excepcionais, deverá exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 dias, prorrogáveis por mais 15, por despacho do juiz.
Um dos pressupostos processuais de existência é a capacidade postulatória que, em regra, não é atributo das pessoas em geral. Quem não a tem precisa outorgar procuração a advogado legalmente habilitado, que o represente. Há casos excepcionais, porém, em que a lei atribui capacidade postulatória a pessoas que normalmente não a têm, àqueles que não são advogados, nem integrantes do Ministério Público. É o exemplo do habeas corpus e das ações no Juizado Especial Cível, até vinte salários mínimos.
9.3.1 Advocacia Pública
Igualmente essenciais à administração da Justiça e indispensáveis ao exercício da jurisdição são as atividades exercidas pela Advocacia Pública (bacharéis em direito inscritos no quadro de advogados da OAB, que atuam na defesa da União, dos Estados e dos Municípios). 
Têm atuação vinculada à proteção do erário e do patrimônio público. Ingressam por concurso público de provas e títulos. No âmbito da União, têm-se o Advogado da União e os Procuradoresda Fazenda Nacional.
A Advocacia Geral da União, criada pela Constituição Federal de 1988 (art. 131), é chefiada pelo Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República. Da Advocacia Pública dos Estados e do Distrito Federal trata o art. 132 da CF, segundo o qual os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal exercerão a representação judicial e consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. No âmbito municipal, a Advocacia Pública é exercida pelas Procuradorias dos Municípios, que não se encontram previstas na Constituição Federal e que nem sempre existirão, cabendo a cada Município instituí-las se for do interesse da Administração.
Os advogados públicos são tratados pelo novo CPC nos arts. 182 a 184. Enquanto o art. 182 dispõe que “incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os interesses públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”, o art. 183 garante o prazo em dobro para todas as manifestações processuais, salvo se o contrário for expressamente ressalvado em lei (art. 183, § 2º).
9.4 Defensoria Pública
Com atribuições previstas no art. 134 da CF e na LC n. 80/94514, foi instituída para o cumprimento da promessa constitucional de assistência jurídica integral, contida no art. 5º, LXXIV CF.
No novo CPC, a Defensoria Pública é tratada nos arts. 185 a 187.
O art. 185 dispõe que a Instituição “exercerá a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral e gratuita”.
Assim como os advogados públicos, os defensores também gozam de prazo em dobro em todas as suas manifestações e ostentam a prerrogativa da intimação pessoal nos mesmos moldes do art. 183, § 1º. 
Isso se aplica aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito reconhecidas, bem como às entidades que prestam assistência jurídica gratuita mediante convênio com a própria Defensoria Pública (§ 3º).
10. Noções gerais sobre os mecanismos de solução de conflitos. A evolução histórica no Brasil. A Conciliação. A Mediação.
Um conflito pode ser solucionado pela via estatal (jurisdição) ou pelas vias chamadas alternativas.
Classificamos as vias alternativas em puras e híbridas.
Chamamos puras aquelas em que a solução do conflito se dá sem qualquer interferência jurisdicional; ao passo que nas híbridas, em algum momento, mesmo que para efeitos de mera homologação, há a participação do Estado-Juiz.
São formas puras a negociação, a mediação e a arbitragem.
São meios híbridos, no direito brasileiro: a conciliação, obtida em audiência ou no curso de um processo já instaurado; a transação penal; a remissão prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente e o termo de ajustamento de conduta celebrado numa ação civil pública.
A) Negociação: o processo pelo qual as partes envolvidas no litígio, diretamente e sem a interveniência de uma terceira pessoa, buscam chegar a uma solução consensual.
A negociação envolve sempre o contato direto entre as partes ou entre seus representantes; não há aqui um terceiro, um neutro, um mediador, um árbitro ou um juiz. Por meio de processos de conversação, as partes procuram fazer concessões recíprocas, reduzindo suas diferenças, e através delas chegam à solução pacificadora.
Obviamente, em razão do comprometimento emocional e, muitas vezes, da falta de habilidade dessas partes para chegar a uma solução, a negociação acaba se frustrando, razão pela qual se passa à segunda modalidade de solução alternativa: a mediação.
B) Mediação: insere-se a figura de um terceiro, o qual, de alguma maneira, vai atuar no relacionamento entre as partes envolvidas de forma a tentar obter a pacificação do seu conflito. A forma e os limites que vão pautar a atuação desse terceiro, vão indicar a modalidade da intermediação.
Hoje, entende-se que essa intermediação pode ser passiva ou ativa. Trata-se apenas de uma diferença de método, mas com um mesmo fim: o acordo. Na primeira modalidade, passiva, aquele terceiro vai apenas ouvir as versões das partes e funcionar como um agente facilitador, procurando aparar as arestas sem, entretanto, em hipótese alguma, introduzir o seu ponto de vista, apresentar as suas soluções ou, ainda, fazer propostas ou contrapropostas às partes. Sua ação será, portanto, a de um expectador/facilitador. Função típica de um mediador.
Numa segunda postura, encontramos o intermediador ativo que no direito brasileiro, recebe o nome de conciliador. Por conta da tênue diferença de método para se chegar ao acordo é que há, muitas vezes, a discussão terminológica entre mediação e conciliação.
A conciliação ocorre, portanto, quando o intermediador adota uma postura mais ativa: ele vai não apenas facilitar o entendimento entre as partes, mas, principalmente, interagir com elas, apresentar soluções, buscar caminhos não pensados antes por elas, fazer propostas, admoestá-las de que determinada proposta está muito elevada ou de que uma outra proposta está muito baixa; enfim, ele vai ter uma postura verdadeiramente influenciadora no resultado daquele litígio a fim de obter a sua composição.
C) Arbitragem: é a prática alternativa, extrajudiciária, de pacificação antes da solução de conflitos de interesses envolvendo os direitos patrimoniais e disponíveis, fundada no consenso, princípio universal da autonomia da vontade, através da atuação de terceiro, ou de terceiros, estranhos ao conflito, mais de confiança e escolha das partes em divergência.
A arbitragem, como se costuma dizer, é um degrau a mais em relação à mediação (conciliação), especificamente à intermediação ativa, pois o árbitro, além de ouvir as versões das partes, tentar uma solução consensual, interagir com essas partes, deverá proferir uma decisão de natureza impositiva, caso uma alternativa conciliatória não seja alcançada.
Vemos, desta forma, que a crucial diferença entre a postura do árbitro e a postura do mediador é que o árbitro tem efetivamente o poder de decidir, ao passo que o mediador pode apenas sugerir, admoestar as partes, tentar facilitar o acordo, mas não pode decidir a controvérsia.
11. Arbitragem. Natureza. Sujeitos. Objeto. Árbitro. Sentença.
Arbitragem é o acordo de vontades entre pessoas maiores e capazes que, preferindo não se submeter à decisão judicial, confiam a árbitros a solução de litígios, desde que relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
Esse conceito evidencia alguns aspectos importantes: a arbitragem pressupõe pessoas capazes de contratar e direitos disponíveis. Elas podem, por acordo de vontade, subtrair determinadas questões da apreciação do Poder Judiciário, atribuindo a solução a árbitros. Não há aí nenhuma ilegalidade ou inconstitucionalidade porque as partes podem dispor do direito. Poderiam, por exemplo, renunciar ou transigir.
11.1 Limites da arbitragem
O art. 1°, caput, da Lei n. 9.307/96, esclarece: "As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis". Esse dispositivo estabelece uma limitação de ordem subjetiva e outra de ordem objetiva.
A subjetiva: somente as pessoas capazes podem valer-se da arbitragem. Isso afasta a possibilidade de convencioná-la para dirimir conflitos envolvendo interesses de incapazes. Não será possível que o incapaz convencione a arbitragem, ainda que venha representado ou assistido. Poderão valer-se da arbitragem tanto a pessoa física quanto a jurídica, incluindo as da administração pública direta ou indireta (art. 1°, § 1 °).
A objetiva: só pode versar sobre direitos patrimoniais disponíveis. Os direitos não patrimoniais, e os indisponíveis, não podem ser objeto de arbitragem, que fica afastada nas questões que envolvam o estado ou a capacidade das pessoas, os direitos da personalidade, alimentos, falência e registros públicos.
O Superior Tribunal de Justiça afastou as dúvidas quanto à aplicabilidade da Lei de Arbitragem a contratos celebrados antes da sua vigência, editando a Súmula 485, que assim estabelece: "A Lei de Arbitragem

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