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INTRODUÇÃO
O presente trabalho, discute a Emenda à Constituição (EC) nº 95/2016,
aprovada no Congresso Nacional em dezembro de 2016, que instituiu o chamado novo regime fiscal, segundo o qual as despesas públicas primárias poderão ter seu valor elevado no limite da variação da inflação oficial ocorrida no país, representada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA. O Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, que vigorará por vinte exercícios financeiros, ou seja, entre os anos de 2017 e 2036. A EC reforçou a definição dos montantes destinados à saúde e educação, assim sendo, na vigência do Novo Regime Fiscal, as aplicações mínimas em ações e serviços públicos de saúde e em manutenção e desenvolvimento do ensino. Ao limitar as despesas primárias destinadas a educação, esse regime entra em choque com a consecução das principais políticas educacionais onde previam investimentos para o setor e assim inferir que o congelamento das despesas primárias gerarão uma longa estagnação de um construto histórico e de evolução educacional. O escopo metodológico deste trabalho buscou se aproximar do campo da avaliação de políticas na tentativa de delimitar possíveis cenários de análise em relação ao choque entre a emenda proposta e as políticas educacionais.
1- O QUE É A EMENDA CONSTITUCIONAL 95?
A Emenda Constitucional n.º 95/2016 foi resultado das Propostas 241 e 55, que tramitaram, respectivamente, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, alcançando sua votação final, em segundo turno nesta última casa legislativa, no dia 16 de dezembro de 2016. 
A partir de então, foram inseridos no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal de 1988, para instituir um novo regime fiscal. Vários dispositivos que implementaram um novo regime fiscal com um limite para os gastos do governo federal, que vigorará pelos próximos 20 (vinte) anos. Esse novo regime valerá, portanto, até 2036, sendo o teto fixado para 2017 correspondente ao orçamento disponível para os gastos de 2016, acrescido da inflação daquele ano. 
Para a educação e a saúde, o ano-base será este 2017, com início de aplicação em 2018. Qualquer mudança nas regras só poderá ser feita a partir do décimo ano de vigência do regime, e será limitada à alteração do índice de correção anual. Segundo previsão disposta, agora, no art. 108 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o Presidente da República poderá propor, a partir do décimo exercício da vigência do Novo Regime Fiscal, projeto de lei complementar para alteração do método de correção dos limites, de modo que a restrição imposta ao crescimento das despesas primárias à inflação medida pelo IPCA possa sofrer alteração. A norma ainda restringe a alteração (após o prazo) a apenas uma vez durante o mandato do governante presidencial. Pode-se dizer que criou-se assim uma flexibilização à regra, a qual não poderá ser aplicada a qualquer tempo, mas tão somente depois de decorrido um bom prazo de vigência da nova regra fiscal, e ainda com limite de alteração durante o mandato presidencial.
Desse modo, pelo recente art. 102 do ADCT, será fixado, para cada exercício, um limite individualizado para a despesa primária total (que corresponde ao montante da despesa total antes do pagamento dos juros da dívida) do Poder Executivo, do Poder Judiciário, do Poder Legislativo, do Tribunal de Contas da União, do Ministério Público da União e da Defensoria Pública da União, cabendo a cada um deles a responsabilidade pelo estabelecimento do seu limite. Aumentos reais do limite estão vedados, pois, de acordo com o § 3.º, inciso II desse mesmo artigo 102, nos exercícios posteriores a 2017, o limite dos gastos corresponderá ao valor do limite referente ao exercício imediatamente anterior, corrigido pela variação do Índice de Preços ao Consumidor Aplicado - IPCA (e assim sucessivamente). Apenas aumentos nominais são possíveis, portanto.
Nos três primeiros anos do novo regime, o Poder Executivo poderá compensar com redução na sua despesa, o excesso de despesas primárias em relação aos limites de que tratam os incisos. Essa compensação não pode exceder 0,25% do limite do Poder Executivo. A Lei de Diretrizes Orçamentárias poderá dispor sobre a compensação entre os limites individualizados dos órgãos. Na verificação do cumprimento dos limites, serão consideradas despesas primárias pagas, incluídas os restos a pagar, pagos e demais operações que afetam o resultado primário do exercício.
O órgão que desrespeitar seu teto ficará impedido de, no ano seguinte, dar aumento salarial, contratar pessoal, criar novas despesas ou conceder incentivos fiscais, no caso do Executivo.
As regras do novo regime não permitem, assim, o crescimento das despesas totais e reais do governo acima da inflação. Somente será possível aumentar os investimentos em uma área desde que sejam feitos cortes em outras. As novas regras desconsideram portanto, as taxas de crescimento econômico, como também as demográficas pelos próximos 20 (vinte anos), o que impedirá os investimentos necessários à manutenção e expansão dos serviços públicos, incorporação de inovações tecnológicas, aumentos de remuneração, contratação de pessoal, reestruturação de carreiras, poderá levar ao sucateamento das políticas sociais, especialmente nas áreas da saúde e educação, pondo em risco por completo a qualidade de vida da população brasileira.
2- O CONTEXTO DA SUA APROVAÇÃO?
A crise política brasileira, para além das questões de corrupção, tem se justificado em razão da crescente crise econômica global. O ano de 2016 caracterizou-se por uma série de acontecimentos, iniciados ou não nos anos precedentes, os quais fizeram emergir questões econômicas, sociais, político-partidárias que dividiram o país.
A aprovação da PEC do teto foi bastante criticada por alguns setores da sociedade, e gerou manifestações violentas por todo o Brasil. Essa deverá ser lembrada como uma das maiores manifestações nacionais do movimento em toda a sua história no nosso país.
Reuniram-se, nas ruas, um grande numero de estudantes , que também ocuparam escolas e universidades, além dos trabalhadores da educação federal em greve, da educação básica, servidores públicos diversos e ativistas dos movimentos populares sem teto e sem terra, além de muitas outras categorias. Todas as regiões do país estiveram presentes nas manifestações.
O Contexto da aprovação da emenda é de uma crise econômica profunda, aliada á uma crise política, instabilidade financeira e também escândalos políticos relacionados a desvio de dinheiro público, inflação descontrolada e uma das maiores taxas de desemprego de todos os tempos, em vista de todos os descompassos e descontroles, existe um apelo pela retomada da economia, então o governa lança mão dessa alternativa. 
A proposta provocou discussões entre a oposição e a base de apoio ao governo na Câmara e no Senado. 
Segundo os apoiadores da medida, o teto de gastos por 20 anos é necessário para o ajuste fiscal e não ira prejudicar os gastos sociais. A base governista considera a medida fundamental para garantir o reequilíbrio das contas do país, visto que os gastos públicos vêm crescendo continuamente, em termos reais muito acima do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, consideram que o novo regime fiscal previsto pela proposta permitirá a redução da taxa de juros e um ambiente propício à retomada do crescimento econômico
Para a oposição, impedirá investimentos públicos, agravará a recessão e prejudicara principalmente os mais pobres, ao reduzir recursos como educação e saúde. Eles tentaram adiar ou cancelar a votação, mas tiveram seus requerimentos derrotados.
Ocorreram diversos protestos contra a aprovação da medida, com a participação grande da população, porém, não adiantou e a emenda foi aprovada.
3- O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO
Com relação ao financiamento da educação, haja visto o limite fixado, existe uma tendência
de estagnação do setor, porque, o valor gasto é utilizado para manutenção do setor, então os gastos com ampliação não estão incluídos, e a correção do IPCA, somente atualiza o valor para que ele seja suficiente para manter o sistema como esta.
As atuais mudanças na direção da política econômica do Governo Federal ameaçam as melhorias conquistadas no financiamento da educação pública. A EC 95, provavelmente acarretará em um grande retrocesso em todas as modalidades de ensino no país.
O custo aluno-qualidade, que determina um valor mínimo a ser investido por aluno para garantir a qualidade do ensino, também ficara inviabilizado. Para aplicar o indicador apenas para as matriculas atuais na educação básica, seria necessário ampliar o orçamento em R$ 37 milhões. O mesmo vale para o Plano Nacional da Educação, que tinha entre suas metas; universalizar as matriculas de crianças na pré-escola e no ensino médio, o que exigiria dinheiro novo do Ministério da Educação.
As despesas primárias excluídas dos teto relacionadas a educação são: Cota parte do Salário Educação e FUNDEB, mesmo excluídos do teto essas despesas deverão diminuir em 2017 devido á queda de arrecadação, provocada pela crise econômica. A fatia das despesas com educação no bolo do orçamento federal reduziu de 1,76% em 2016 para 1,42% para 2017. Para alcançar as metas do Plano Nacional de Educação, os recursos orçamentários adicionais são necessários. Esses que estavam previstos para vir do royalties do petróleo, onde se privatizou o Pré-Sal retirando a exclusividade de participação da Petrobrás na exploração desses poços estratégicos para o país. Com isso, serão menos royalties e menos impostos recolhidos para financiar a educação e demais políticas pública por meio do Fundo Social. Porém, dos R$ 3,6 bilhões que deveriam ser aplicados em educação, R$ 1,5 bilhão está alocado como reserva de contingência para gerar economia de caixa. Com o objetivo de asfixiar o financiamento da educação pública brasileira, esses projetos tendem, em curto prazo, colapsar o sistema público de educação, fomentando, assim, o crescimento do setor privado de educação no país.
Novo Regime Fiscal não afeta a execução de despesas de natureza financeira do ensino superior, a exemplo dos financiamentos concedidos pelo Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) , e de programas de expansão do ensino superior por renúncia de receitas, a exemplo do Programa Universidade para Todos (PROUNI). 
Na atual configuração de responsabilidades pelo financiamento da educação a cargo dos entes federados, a maior parte das despesas com educação não será afetada pela EC nº 95/2016: a União aplica cerca de 20% e Estados, Distrito Federal e Municípios, cerca de 80% dos recursos destinados a investimentos diretos (INEP, 2014). Um eventual incremento de receitas decorrente de impostos federais, estaduais ou municipais terá impacto direto no financiamento da educação básica, uma vez preservadas as vinculações existentes. 
4 - O FUNDO PÚBLICO E O ESTADO 
O Estado pode ser considerado como o conjunto de instituições permanentes como órgãos legislativos, tribunais, exército e outras, que possibilitam a ação do governo. As políticas públicas podem ser compreendidas como as responsabilidades do Estado, quanto à implementação e manutenção, a partir de um processo de tomada de decisões que envolvem órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da sociedade relacionados à política implementada. As políticas sociais e a educação se situam no interior de um tipo particular de Estado e assumem “feições” diferentes em diferentes sociedades e diferentes concepções de Estado. É impossível pensar Estado fora de um projeto político e de uma teoria social para a sociedade como um todo. As questões de fundo informam basicamente as decisões tomadas, as escolhas feitas, os caminhos de implementação traçados e os modelos de avaliação aplicados, em relação a uma estratégia de intervenção governamental qualquer 
Nos termos constitucionais, a educação é competência comum de União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Os Municípios atuam prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil, os Estados, no ensino fundamental e médio. Cabe à União organizar o sistema federal de ensino e financiar as instituições de ensino públicas federais.
O financiamento público da educação no Brasil foi consolidado na CF de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que atribuíram à União, aos estados, ao DF e aos municípios a responsabilidade pela administração do sistema educacional brasileiro, consagrando a existência de três sistemas de ensino público, tendo como fundamento o regime de colaboração entre essas instâncias federadas .
O orçamento público é que garante concretude à ação planejada do Estado e espelha as prioridades das políticas públicas que serão priorizadas pelo governo. O fundo público deve assegurar recursos suficientes para o financiamento das políticas sociais, já que envolve toda a capacidade de mobilização de recursos que o Estado tem para intervir na economia, seja por meio das empresas públicas, pelo uso das suas políticas monetária e fiscal, assim como pelo orçamento público .
A EC 95/2016 é um pacote de medidas com o objetivo de promover intenso ajuste nas contas públicas, levando a uma redução do papel do Estado como indutor do desenvolvimento do país. Portanto, são medidas de caráter neoliberal que se figuram numa profunda reforma do Estado.
De acordo com a EC 95/2016, não há limitação de gastos para a educação básica. Estão preservadas ainda todas as transferências e complementações constitucionais vinculadas à educação. Assim, preserva-se o mecanismo de financiamento estipulado no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB (art. 60 do ADCT) e a vinculação constitucional de 25% da receita líquida de impostos de Estados, Distrito Federal e Municípios a serem aplicados na manutenção e desenvolvimento do ensino (art. 212 da Constituição). O Novo Regime Fiscal não afeta ainda a execução de despesas de natureza financeira, a exemplo dos financiamentos concedidos pelo Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES), e de programas de expansão do ensino superior por renúncia de receitas, a exemplo do Programa Universidade para Todos (PROUNI) .
O art. 212, caput, da Constituição determina que, anualmente, a União aplique em despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino, no mínimo, 18% da receita líquida de impostos (receita de impostos deduzida de transferências constitucionais a Estados e Municípios), cujo valor está estimado, para 2017, em R$ 290,0 bilhões, o que vincula R$ 52,2 bilhões ao piso da educação. O orçamento da Educação corresponde a um total de R$ 131,2 bilhões, a serem executados pela União em 2017. Nessa base de comparação, o mínimo estipulado pelo Novo Regime Fiscal representa 39,8% das despesas totais destinadas à educação.
O Novo Regime Fiscal constante da EC 95/2016, ao limitar a despesa primária total da União à despesa realizada em 2016 e corrigida pelo IPCA, considerada a expansão das despesas obrigatórias, em especial as previdenciárias e assistenciais, compromete a execução das políticas educacionais previstas na Constituição, no Plano Nacional de Educação e no Plano Plurianual .
5 - ESCOLAS E A EMENDA CONSTITUCIONAL 95. DE QUE FORMA A EMENDA ATINGE OS CONTEXTOS DO CHÃO DA ESCOLA
O Novo Regime Fiscal instituído pela Emenda Constitucional 95 de 2016, ao delimitar um limite para as despesas primárias de cada poder, apesar de terem tais limites, entram em choque com a consecução das principais políticas educacionais, construídas também graças a inúmeros investimentos, esforços e lutas. Analisaremos a seguir as principais políticas educacionais brasileiras e sua relação com o Novo Regime Fiscal.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB/1996) pode ser entendida como uma lei e política pública que disciplina
a educação na escola a partir do desenvolvimento do ensino em instituições próprias, em um desafio de vincular o mundo do trabalho à prática social. (LDB, Art. 1º, 1996). A Educação é vista como dever da família e do Estado, para que estes garantam o desenvolvimento pleno e preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho do educando. Deste modo, podemos destacar alguns princípios como: igualdade de condições, gratuidade do ensino, valorização do profissional escolar, garantia de padrão de qualidade, dentro outros como fundamentais para a concretização desses direitos. Sendo dever do Estado garantir a educação escolar pública para os educandos de 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão os sistemas de ensino de modo que cada um exerça uma função, entretanto de forma colaborativa. Por exemplo, a União se responsabiliza pela coordenação da política nacional de educação, entretanto dando liberdade aos sistemas de ensino, desde que estejam dentro dos temos da LDB. Além disso, a União fica responsável, junto à colaboração com os Estados, Distrito Federal e Municípios, pela elaboração do PNE (Plano Nacional de Educação), de modo que preste assistência técnica e financeira para o desenvolvimento dos sistemas de ensino de modo que garanta o ensino obrigatório, colete, analise e dissemine informações sobre a educação, assegure o processo nacional de avaliação do rendimento escolar (no ensino fundamental, médio e superior) visando à qualidade do ensino, dentre outras responsabilidades. Os Estados são responsáveis, de modo geral, em organizar, manter e desenvolver órgãos e instituições de ensino. E os Municípios arcam com a responsabilidade de manter e desenvolver órgãos e as instituições de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados.
No que se refere à qualidade, a impressão que temos é que esta é sinônima de investimento. Quando se fala em qualidade, ouvimos logo “investimento na educação”. Investimento em espaços escolares, em Formação Continuada, em recursos materiais, entre outros.
O Plano Nacional de Educação (PNE) em vigência (2014-2024) destaca 20 metas e, junto à elas, estratégias que objetivam seu alcance. Analisando a 20º meta que tem como objetivo ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5º (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio.
Através da análise dessa meta, pode-se inferir que o congelamento das despesas primárias e, consequentemente da meta 20 do PNE, gerarão uma longa estagnação de um construto histórico e de evolução educacional.
Percebemos que tanto a LDB, quanto grande parte das metas do PNE necessitam do investimento financeiro, seja para manter ou para otimizar: ampliação dos espaços escolares, manter a criança em maior tempo na escola (período integral), investir na formação dos professores, investir em equipamentos, reforma do ensino médio, entre outros. Vale ressaltar ainda que o objetivo da 20º meta em ampliar o investimento público para 10% do PIB, até 2024, de certo modo, se vincula ao cumprimento das 19 metas anteriores a essa. As políticas educacionais tomam diversas facetas, dentro das arenas políticas, manifestando-se dessa forma como forte objeto de disputa de poder. 
Como apresentado acima, o teto de gastos público do governo federal por 20 anos, começará a valer a partir de 2018 quando o governo deverá investir o mesmo valor que investiu em 2017 (equivalente a 18% da receita líquida do governo) mais o acréscimo da inflação do ano anterior, medida pelo IPC. No caso da educação trará prejuízos graves para a educação pública, que atingirão o chão das escolas, como material de apoio, de escritório, de papel higiênico até salários, que serão ainda mais precários para os professores, além de salas ainda mais, Essas situações impactarão diretamente na construção do trabalho pedagógico, prejudicando o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. O limite de gastos impostos às escolas afetarão o investimento em aquisição materiais e manutenção dos espaços escolares como: laboratórios, equipamentos, mobiliário, salas-ambiente, biblioteca, videoteca, requeridos para o desenvolvimento do projeto político-pedagógico, sendo o principal objetivo a construção do conhecimento. A emenda pode significar a inviabilidade do Plano Nacional de Educação e o desmonte dos serviços públicos.
O custo aluno-qualidade, que determina um valor mínimo a ser investido por aluno para garantir qualidade de ensino, também ficará inviabilizado. Para aplicar o indicador apenas para as matrículas atuais na educação básica seria necessário ampliar o orçamento em R$ 37 bilhões, o que não ocorrerá com a emenda promulgada por Michel Temer. O mesmo vale para o Plano Nacional de Educação, que tinha entre suas metas universalizar as matrículas de crianças na pré-escola e no ensino médio, o que exigirá dinheiro novo do Ministério da Educação para ser alcançado.
"É uma emenda que atende hoje à elite, mas que vai prejudicar o Brasil gravemente", disse o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. " O Brasil é o país que mais cresce no mundo depois da China, mas lá ainda há uma grande proporção de pessoas jovens. O Brasil, a partir de 2024, vai passar a ser um país de adultos, com uma geração que não teve acesso a educação de qualidade. Nossa função na economia mundial será muito precarizada".
Essa alteração, entretanto, não pode atingir as obrigações impostas à União no que se refere tanto à Educação Básica quanto à Educação Superior. Se, por um lado, a limitação é imposta aos gastos da União e sua competência é prioritariamente voltada à Educação Superior, não se pode olvidar que Estados e Municípios dependem dos repasses de recursos federais para a complementação de suas ações voltadas à prestação dos serviços na Educação básica. 
A determinação de complementação do FUNDEB é uma imposição constitucional que não pode ser desrespeitada. O parâmetro, como se viu, está no valor do custo nacional mínimo por aluno aplicável à Educação Básica que, registre-se, já é muito inferior a de outros países. Portanto, ainda que a limitação trazida pela EC 95/16 reduza, ao mínimo, o percentual da receita de impostos destinado às ações educacionais, os percentuais de complementação federal do FUNDEB devem ser respeitados. 
O Ensino Superior tem reflexos diretos e indissociáveis com a qualidade da Educação Básica dada a imprescindibilidade de formação e aprimoramento dos profissionais de ensino. Não há que se negar a relação direta entre qualidade do professor e qualidade do ensino. E nesse ponto, as estatísticas são sinalizadoras do quanto falta caminhar. Dos professores da Educação Básica, somente 76, 4% cursaram o ensino superior. Destes, tomados os anos finais do ensino fundamental, apenas 45,9% fizeram o ensino superior na área que lecionam enquanto que apenas 53,8% dos professores do ensino médio lecionam na mesma área do ensino superior cursado
O reconhecimento de que ainda é preciso investir na formação e valorização dos profissionais de ensino é consenso que decorre, naturalmente, da análise dos últimos resultados do PISA e do IDEB.
Ora, ainda que se diga não haver fixação de “teto” para a Educação, é inegável que, o estabelecimento da limitação das despesas primárias, que incluem as despesas educacionais, reflete no montante a elas destinados. Isto porque o volume de recursos a serem aplicados na educação se inclui no volume total disponibilizado, que deve respeitar o máximo permitido (“teto”).
Portanto, tomar como parâmetro as aplicações mínimas em conjunto com a limitação máxima (teto) de despesas primárias, tendo em vista todos os demais gastos públicos necessários, é nivelar, no piso, o montante obrigatório destinado à educação. E, nivelar no piso pode
representar insuficiência de recursos financeiros em face das demandas remanescentes de ações voltadas ao cumprimento das metas educacionais.
Em outras palavras, respeitado o piso, a alocação dos recursos orçamentários para as despesas primárias com respeito ao “teto” implicará escolhas, a serem efetivadas segundo os critérios de discricionariedade da Administração Pública. 
A subsequente criação do FUNDEB é denotativa da imprescindibilidade da destinação de recursos financeiros para atendimento das necessidades educacionais e cumprimento das metas a elas relacionadas. Eis aí o ponto nevrálgico impactado, negativamente, pela EC 95/16. 
Nesse sentido, ao analisar a então proposta de Emenda no ponto em que estabelece “um teto para a fonte de financiamento dos direitos sociais, SCAFF (2016, p. 3) alerta para o fato de que “os direitos sociais são um dos aspectos dos direitos individuais, com algumas peculiaridades, dentre elas a de que necessitam de dinheiro para serem efetivamente concretizados”. Assim, tendo em vista que, dentre vários direitos sociais reconhecidos pelo constituinte, apenas saúde e educação tiveram assegurada uma fonte de recursos, afirma que “cortar essa fonte de recursos é inconstitucional”, por concluir que, nesse caso, “se tornariam apenas “direitos no papel”. 
Por outro lado, de forma geral, é preciso reconhecer com CONTI (2016, pp. 135-36) que “as vinculações, tal como facas, não são boas nem más. Bom ou ruim é o uso que se faz delas”. E, numa inusitada comparação das vinculações a instrumentos de guerra, conclui que “a questão principal não é para onde destinar os recursos, mas sim como utilizá-los bem”.
6. Conclusão 
É importante salientar que medidas fiscais e contenção de gastos públicos, em tempos de crise, são necessárias, mas não podem comprometer ou fazer retroceder os direitos sociais assegurados constitucionalmente à população, abrindo a possibilidade para aplicação de recursos em áreas como saúde e educação na lógica do “financeiramente possível”, causando efeitos catastróficos nessas políticas sociais consideradas fundamentais para o exercício da cidadania.
É evidente que os recursos para a saúde e educação sofrerão uma forte depressão nos próximos anos, em função do crescimento da população brasileira; porque os custos com a saúde e a educação sobem muito mais que a inflação.
A educação pública não suportará esse longo período de orçamento congelado, jogando por terra o cumprimento de várias metas pactuadas no PNE, a começar pela universalização das matrículas na educação básica e expansão das vagas nas universidades públicas, passando pela institucionalização do Custo Aluno Qualidade – imprescindível para a equalização da oferta escolar com qualidade em todo país – e pela valorização dos profissionais da educação, com piso salarial e carreira digna para todos os profissionais e com a equiparação da remuneração média dos/as professores/as à de outras categorias com mesmo nível de escolaridade.
5. Referências bibliográficas 
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http://www.inesc.org.br/noticias/noticias-do-inesc/2017/marco/orcamento-2017-prova-teto-dos-gastos-achata-despesas-sociais-e-beneficia-sistema-financeiro

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