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Reflexões sobre a Enfermagem como Profissão

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1 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE 
MESTRADO EM EDUCAÇÃO 
 
 
 
LUCIENE MANTOVANI SILVA ANDRADE 
 
 
 
 
 
 
A ENFERMAGEM ENQUANTO PROFISSÃO: REFLEXÕES SOBRE 
AS CONCEPÇÕES DOS ACADÊMICOS QUANTO AO TRABALHO E 
SUA PRECARIZAÇÃO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CUIABÁ – MT 
2013 
2 
 
LUCIENE MANTOVANI SILVA ANDRADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ENFERMAGEM ENQUANTO PROFISSÃO: REFLEXÕES SOBRE AS 
CONCEPÇÕES DOS ACADÊMICOS QUANTO AO TRABALHO E SUA 
PRECRIZAÇÃO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Educação da Universidade Federal de 
Mato Grosso, como requisito parcial para obtenção 
do título de Mestre em Educação, na linha de 
pesquisa Movimento Social, Política e Cultura 
Popular, Grupo de Estudos e Pesquisas em Trabalho 
e Educação. 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Edson Caetano 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CUIABÁ – MT 
2013 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
5 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
Este trabalho dedico especialmente a minha família: 
 
 Aos meus pais e irmão (Lúcio, Sara e Leandro), 
Pelo carinho, compreensão e principalmente pela paciência que tiveram durante todos estes anos 
bem como no momento da elaboração deste trabalho. Vocês são essenciais em minha vida, nada 
disso faria sentido sem vocês. Amo muito vocês. 
 
As minhas tias (Marly, Maria, Neide, Neca, Vilma) e primos (Felipe, Fábio, Ilana, Jaqueline, 
Camila, Thiago e agregrados), 
 Sempre presentes em todos os momentos de minha vida, compartilhando as angústias e alegrias. 
Quero que saibam o quanto são especiais em minha vida e o quanto aprendi com cada um de 
vocês. Sei que poderei contar com cada um. 
 
 
 Aos meus amores, Natália e Manuela, 
Pelo amor incondicional, cumplicidade, companheirismo em todos os dias, pela compreensão das 
ausências, por fazerem parte de minha vida e estar tão presente nos momentos felizes e tristes. 
Mamãe ama de mais vocês. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
AGRADECIMENTOS 
Ao longo da vida nossas vidas se cruzam com a de outras pessoas e o que as tornam diferentes 
de todo o mundo são como as encontramos e o que sentimos ao encontrá-las. 
Prof. Dr. Edson Caetano, 
Por ter me aceitado como orientanda e auxiliado nos meus momentos de angústia, dúvida, no 
desenvolvimento deste trabalho e pela paciência. Sou eternamente grata por seus esforços. 
Profa. Dra. Giana Silveira Lima, Prof. Dr. Silas Borges Monteiro e Profa. Dra. Elizabeth 
Figueiredo de Sá 
Sinto-me honrada por aceitarem serem membros e suplente, respectivamente, na banca 
examinadora na defesa deste trabalho. 
Suellen, Cézar, Sônia e Heloísa, 
 Pela amizade, respeito, companheirismo. Muito obrigada por estarem presente em minha vida 
nesse momento tão especial. Vocês fazem parte de minha história. Guardarei cada uma em 
minha memória, minha família postiça. 
Gelson, Moacir e Cláudia Barros, 
Pelo incentivo, pelo ouvido aberto, e pelo ombro amigo. 
Josi Rohden, Micnéias e Neide, 
Meu muito obrigada pelo apoio, e por compartilhar experiências desta aventura que foi este 
mestrado. 
Camila Emanuela, Lirian, Eloísa e Mariana, 
Companheiras gepeteanas, que possibilitaram minha inserção e aconchego neste novo mundo 
da educação, sempre com delicadeza e amizade despretensiosa. Vocês foram muito 
importantes. 
As minhas babás, Juliana, Andréia, Ariadne e todos os outros, 
Por todas as vezes que puderam ser por mim, e para mim, presença as minhas pequenas, 
obrigada. 
A coordenação do Instituto de Ciências da Saúde, e de Enfermagem da UFMT/Sinop, 
Por todas as aberturas e compreensões em ausências, além da torcida pela finalização deste 
trabalho. 
A CAPES, 
Pelo apoio financeiro que possibilitou a concretização deste sonho. 
Aos alunos da UFMT/Sinop, 
Sem o consentimento de vocês não seria possível o desenvolvimento deste trabalho. Minha 
eterna gratidão pela confiança depositada. 
7 
 
 
O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO 
Era ele que erguia casas 
Onde antes só havia chão. 
Como um pássaro sem asas 
Ele subia com as casas 
Que lhe brotavam da mão. 
Mas tudo desconhecia 
De sua grande missão: 
Não sabia, por exemplo 
Que a casa de um homem é um templo 
Um templo sem religião 
Como tampouco sabia 
Que a casa que ele fazia 
Sendo a sua liberdade 
Era a sua escravidão. 
De fato, como podia 
Um operário em construção 
Compreender por que um tijolo 
Valia mais do que um pão? 
Tijolos ele empilhava 
Com pá, cimento e esquadria 
Quanto ao pão, ele o comia... 
Mas fosse comer tijolo! 
E assim o operário ia 
Com suor e com cimento 
Erguendo uma casa aqui 
Adiante um apartamento 
Além uma igreja, à frente 
Um quartel e uma prisão: 
Prisão de que sofreria 
Não fosse, eventualmente 
Um operário em construção. 
Mas ele desconhecia 
Esse fato extraordinário: 
Que o operário faz a coisa 
E a coisa faz o operário. 
De forma que, certo dia 
À mesa, ao cortar o pão 
O operário foi tomado 
De uma súbita emoção 
Ao constatar assombrado 
Que tudo naquela mesa 
- Garrafa, prato, facão - 
Era ele quem os fazia 
Ele, um humilde operário, 
Um operário em construção. [...] 
Vinícius de Moraes 
8 
 
 
RESUMO 
 
ANDRADE, L. M. S. A enfermagem enquanto profissão: reflexões sobre as concepções 
dos acadêmicos quanto ao trabalho e a sua precarização. 2013. 176 f. Dissertação 
(Mestrado em Educação) – Instituto de Educação, Universidade Federal do Mato Grosso, 
Cuiabá, 2013. 
A enfermagem desde seu início carrega concepção de ajuda, doação e vocação junto ao seu 
significado, porém este modo de pensar idealizado contrapõe-se as dificuldades efetivas do 
trabalhador enfermeiro, que vende sua força de trabalho e se sujeita ao modo capitalista de 
exploração garantindo assim a sua subsistência. Em qualquer momento histórico, o trabalho 
assume diferentes formas dependendo dos modos de produção, e somente o ser humano é 
capaz de criar e recriá-lo. Assim o objetivo desta dissertação foi analisar as concepções que 
discentes de graduação em enfermagem tem sobre a profissão no início e ao término do curso 
e relacionar estas concepções com a precarização do trabalho na enfermagem. Para alcançar 
os objetivos utilizamos a metodologia da pesquisa de campo, com abordagem qualitativa, 
realizamos entrevistas semi-estruturada com discentes ingressantes no curso de graduação 
enfermagem em 2012/1 de uma Instituição de Ensino Superior Federal (IES), e também em 
discentes concluintes 2012/1 desta mesma IES. Estes responderam o seguinte 
questionamento: o que significa ser enfermeiro, e porque estão fazendo este curso? A coleta 
de dados teve início após apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital 
Universitário Júlio Müller, Cuiabá – MT, sob protocolo 161/CEP- HUJM/2011. As 
entrevistas ocorreram nos meses de março e abril de 2012, com um total de 9 entrevistados, 
sendo 4 discentes ingressantes e 5 discentes concluintes. Utilizamos o método materialista 
dialético histórico, como referencial a ser adotado, pois através de uma interpretação histórica 
e social da realidade procedemos a correlação destas concepções. Como resultados finais 
desta pesquisa pode-se afirmar que os alunos ingressantes atribuíram à enfermagem um 
caráter de valorização do contato humano, de ajuda, como uma formade satisfazer o outro, 
pode-se ainda observar que uma parte desses discentes indicou uma escolha pela profissão, 
como sendo rentável e estável. Em contra partida os discentes concluintes não demonstraram 
a mesma concepção em relação aos anteriores, sendo inversa, tendo um caráter profissional, 
como as formas de trabalho na enfermagem e na saúde, voltados para a realização de 
procedimentos, prevenção e orientação de pacientes, e dando ênfase maior a parte 
administrativa da profissão. Assim observamos que a enfermagem deixa de ter um caráter de 
caridade ou ajuda, voltando-se a uma manifestação de atividade profissional. Em uma 
reflexão podemos fundamentar estas diferenças aos momentos históricos da enfermagem, 
alicerçados na atual concepção da enfermagem, na década de 80, indicativa do início de uma 
mudança, e entendimento da enfermagem enquanto trabalho, baseado na reestruturação 
produtiva decorrente deste período. Consideramos assim que o fato da enfermagem ter como 
concepção o cunho vocacional e de ajuda, tem impedido novas formas de organizar seus 
trabalhadores, lutar por novas formas de condições de trabalho, livre de riscos, com condições 
apropriadas de execução e segurança, bem como por jornadas justas e menos penosas, além 
9 
 
de estreitar a relação percebida do modo de produção capitalista têm e refletem nas formas de 
precarização do trabalho na saúde. Novos estudos devem indicar a necessidade de 
aprofundamento do tema e assim possibilitar a superação dos limites característicos dessa 
profissão. 
 
Palavras-chaves: enfermagem, educação, trabalho, precarização, profissão e acadêmicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
ABSTRACT 
ANDRADE, L. M. S. Nursing as a profession: reflections on the concepts of academic 
and work and its precariousness. 2013. 176 f. Dissertation (Master of Education) - Institute 
of Education, Federal University of Mato Grosso, Cuiabá, 2013. 
 
Nursing since its inception carries design help, donations and vocation with its meaning, but 
this way of thinking idealized contrasts with the difficulties of effective worker nurse, who 
sells his labor power and is subject to the capitalist mode of exploitation thus ensuring their 
livelihoods. At any moment in history, the work takes different forms depending on the 
modes of production, and only human beings are able to create and recreate it. Thus the aim 
of this thesis was to analyze the conceptions that undergraduate nursing students have about 
the profession at the beginning and end of the course and relate these concepts to the 
precariousness of work in nursing. To achieve the objectives we use the methodology of field 
research, qualitative approach, we conducted semi-structured interviews with students 
entering undergraduate degree in nursing in 2012/1 of a Higher Education Institution Federal 
(HEIF), and also students graduating in 2012 / 1 of that HEIF. They answered the question: 
what it means to be a nurse, and why they are doing this course? Data collection began after 
consideration of the Ethics Committee in Research of the University Hospital Júlio Müller, 
Cuiaba - MT, protocol 161/CEP- HUJM/2011. The interviews took place in March and April 
2012, with a total of 9 respondents, 4 entering students and 5 ending students of graduating. 
The method was dialectical materialist history, as a reference to be adopted, because through 
a historical interpretation of social reality and the correlation of these conceptions proceed. As 
final results of this research can be stated that the freshman students assigned to nursing a 
character valuation of human contact, help, as a way to meet each other, we can still observe 
that some of these students indicated a choice of profession as being cost-effective and stable. 
In return the students graduating have not shown the same design over previous, and reverse, 
having a professional character, as forms of work in nursing and health, focusing on the 
performance of procedures, prevention and patient guidance and giving greater emphasis on 
the administrative part of the profession. Thus we see that nursing ceases to have a character 
of charity or help, turning to a demonstration of professional activity. In a preliminary 
analysis, we can substantiate these differences to the historical moments of nursing, grounded 
in current conception of nursing in the 80's, indicating the beginning of a change, and 
understanding of nursing as a job, based on the restructuring of production arising from this 
period. We consider how the fact of nursing have the design the stamp and vocational help, 
has prevented new ways to organize their employees, strive for new ways of working 
conditions, risk free, with appropriate conditions of application and security, as well as 
Journeys fair and less painful, besides strengthening the relationship of perceived capitalist 
mode of production and is reflected in the forms of precarious employment on health. Further 
studies should indicate the need for further development of the subject and thus enable 
overcoming the limitations characteristic of his profession. 
 
Keywords: nursing, education, labor, precariousness, profession and academics. 
 
 
 
 
11 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
ABEN Associação Brasileira de Enfermagem 
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CEP Comitê de Ética em Pesquisa 
CNE Conselho Nacional de Educação 
CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
CNS Conselho Nacional de Saúde 
COFEN Conselho Federal de Enfermagem 
COREN Conselho Regional de Enfermagem 
CUS Campus Universitário de Sinop 
DC Discente Concluínte 
DI Discente Iniciante 
ECS Estágio Curricular Supervisionado 
ESF Estratégia de Saúde da Família 
EUA Estados Unidos da América 
HNA Hospital Nacional dos Alienados 
HPII Hospício de Pedro II 
HUJM Hospital Universitário Júlio Müller 
IES Instituição de Ensino Superior 
LER Lesão por Esforço Repetitivo 
MEC Ministério da Educação Cultura 
MS Ministério da Saúde 
OIT Organização Internacional do Trabalho 
PPC Projeto Pedagógico do Curso 
PSF Programa de Saúde da Família 
SAE Sistematização da Assistência de Enfermagem 
SUS Sistema Único de Saúde 
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
UFMT Universidade Federal do Mato Grosso 
UTI Unidade de Tratamento Intensivo 
 
 
12 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇAO 13 
CAPÍTULO 1 – ENFERMAGEM, CUIDADO E SAÚDE: HISTÓRIA DA 
PROFISSÃO 
26 
1.1 A Idade Média – enfermagem, cuidado e saúde. 26 
1.1.1 O contexto religioso na Idade Média e o cuidado. 28 
1.1.2 Cuidado, saúde pública e os hospitais. 29 
1.2 A Idade Moderna – enfermagem, cuidado e saúde. 34 
1.2.1 Os problemas de saúde na Idade Moderna. 35 
1.2.2 A enfermagem e o cuidado na Idade Moderna. 38 
1.3 A idade contemporânea – enfermagem, cuidado e saúde. 40 
1.3.1 Saúde e enfermagem no Brasil do século XIX. 43 
1.3.2 As damas da Enfermagem. 45 
1.3.2.1 A dama da Lâmpada, Miss Nightingale. 45 
1.3.2.2 “Mãe dos brasileiros”, Anna Nery. 50 
1.3.3 A idade contemporânea e a enfermagem (1889 – 1930). 51 
1.3.4 A idade contemporânea e a enfermagem (1930 – 1960). 53 
1.3.5 A idade contemporânea e a enfermagem (1960 – 1990). 54 
1.3.6 A idade contemporânea e a enfermagem (1990 – atualidade). 56 
CAPÍTULO 2 – O MUNDO DO TRABALHO 58 
2.1 O trabalho em sua dimensão ontológica. 58 
2.1.1 O trabalho e suas transformações. 61 
2.1.1.1 O trabalho e suas transformações com a industrialização. 64 
2.1.1.2 Taylorismo e Fordismo. 66 
2.1.1.3 O modelo de desenvolvimentohegemônico e sua crise. 68 
2.2 Reestruturação Produtiva. 71 
2.2.1 Reestruturação produtiva em saúde. 73 
2.3 Precarização do Trabalho na saúde. 75 
2.4 Trabalho em saúde. 76 
2.5 Processo de Trabalho em Saúde. 80 
2.6 Divisão técnica do trabalho em saúde. 82 
2.7 O modelo hegemônico médico na saúde. 85 
CAPÍTULO 3 – O CUIDAR EM ENFERMAGEM: CONCEPÇÕES NO INÍCIO DA 
GRADUAÇÃO 
89 
3.1 “EU SEMPRE GOSTEI DE AJUDAR OS OUTROS” – o cuidado como objeto de 91 
13 
 
trabalho da enfermagem. 
3.2 “NÃO É ELE (ENFERMEIRO) QUE REALMENTE FICA CUIDANDO, CUIDANDO, É 
O TÉCNICO” - divisão técnica do trabalho em saúde e na enfermagem. 
94 
3.2.1 Divisão técnica do trabalho na enfermagem: suas representações nas falas dos discentes 
ingressantes. 
97 
3.2.2 Divisão do trabalho na saúde e na enfermagem: sobre a hegemonia médica. 101 
3.3 “VOCÊ TEM QUE SER UMA PESSOA QUE SABE LIDAR COM O IMPROVISO” – 
improviso ou precarização do trabalho na enfermagem? 
105 
3.3.1 O conformismo sobre a forma precária como se dá o cuidado. 106 
3.3.2 O conformismo pelos baixos salários e as condições de trabalho, afinal ele escolheu 
ajudar. 
111 
CAPÍTULO 4 – O CUIDAR EM ENFERMAGEM: CONCEPÇÕES AO FINAL DA 
GRADUAÇÃO 
116 
4.1 “EU GOSTO MUITO DE AJUDAR, SEMPRE GOSTEI MUITO ASSIM” - o cuidado 
como objeto de trabalho da enfermagem, ao final da graduação. 
 
118 
4.1.1 A opção pela enfermagem apoiado na influência familiar e no fator econômico. 120 
4.2 “VOCÊ VAI MOLDANDO DENTRO DE VOCÊ A CONCEPÇÃO DE UM 
ENFERMEIRO” – o que é ser enfermeiro agora com a inserção na prática profissional. 
127 
4.3 “ QUANDO VOCÊ TÁ DENTRO DA SALA, É TUDO MUITO BONITO” – a 
enfermagem ideal confrontada com a prática real. 
130 
4.3.1 Além do ideal e o real está o trabalho no setor público e no setor privado – 
considerações quanto a precarização. 
137 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 145 
REFERÊNCIAS 149 
APÊNDICE 1 – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DISCENTES 
INGRESSANTES 
158 
APÊNDICE 2 – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DISCENTES 
CONCLUÍNTES 
159 
APÊNDICE 3 – TERMO DE CONSCENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 160 
APÊNDICE 4 – ENTREVISTAS DOS DISCENTES INICIANTES 161 
APÊNDICE 5 – ENTREVISTAS DOS DISCENTES CONCLUÍNTES 168 
ANEXO 1 – FOLHA DE APROVAÇÃO COMITÊ DE ÉTICA CEP/HUJM 176 
 
 
 
 
14 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A enfermagem desde seu início carrega concepção de ajuda, doação e vocação junto 
ao seu significado, porém este modo de pensar contrapõe-se às dificuldades efetivas do 
trabalhador enfermeiro, que vende sua força de trabalho e se sujeita ao modo capitalista de 
exploração garantindo assim a sua subsistência. Em qualquer momento histórico, o trabalho 
assume diferentes formas dependendo dos modos de produção, o que pode ser estendido às 
profissões da área da saúde, e onde o cunho vocacional persiste como na enfermagem. 
 Resgatar a história da enfermagem permite dar início a tentativa de reflexão desse 
caráter de não trabalho assumido pela enfermagem, discutindo uma possível mudança de 
concepção ocorrida na década de 80, quando passa a suscitar novas concepções da 
enfermagem enquanto prática social e como trabalho. Situamos então a enfermagem, durante 
e depois da Idade Média e compreendemos seu caráter vocacional, posteriormente à tentativa 
de mudança de definição. 
Rodrigues (2001), em seus estudos tentou colocar a história da enfermagem como 
ponto de partida para desvelar em que momento o modelo vocacional/religioso da profissão se 
iniciou, bem como identificou através das falas de graduandos do Curso de Enfermagem as 
manifestações desta concepção, e por fim percebeu a necessidade de mudanças na atividade 
docente, para instituir o caráter de enfermagem enquanto trabalho. 
Ao encarar a enfermagem enquanto prática não profissional, mas também de ajuda ou 
vocação, suprimimos dela a parte importante que lhe cabe no serviço de saúde em geral, o 
cuidado ao cliente/paciente, que em um mercado de trabalho totalmente capitalista, é o 
trabalho realizado com qualidade, produtividade e que como em toda a profissão traz as 
dificuldades relacionadas a venda de sua força de trabalho. 
O trabalho humano pensado por Marx, é que nos permite ser diferentes dos animais, 
pois é uma condição necessária ao ser humano, em qualquer momento histórico, e este 
trabalho assume diferentes formas dependendo dos modos de produção, o ser humano é capaz 
de criar e recriar. É um processo pertencente ao homem e a natureza, este é capaz de através 
de sua ação, modificar, regular e recriar, a natureza, e fazendo isso através do uso de seus 
braços, pernas, mãos, apropria-se da matéria natural e utiliza-se dela de uma forma útil para 
sua vida, assim ao modificá-la ele também se modifica (MARX, 1982). 
15 
 
O trabalho então não se reduz ao emprego, mas tem uma dimensão muito maior, ou 
seja, ele responde à produção de elementos necessários para vida, e responde também às 
necessidades intelectuais, culturais, sociais, lúdicas, afetivas, tratando-se então de uma 
necessidade, que assume diferentes configurações conforme a história na qual está inserido 
(FRIGOTTO, 2006). 
Para então entendermos o trabalho, no nosso enfoque, o da saúde, é preciso entender 
que o objeto de trabalho, o ser humano a ser cuidado, recebe o trabalho realizado pela ação 
intencional do trabalhador, e através dele, utiliza-se de ferramentas, de seus meios de 
trabalhar e do modo que organiza seu uso. Na saúde as ferramentas de trabalho são traduzidas 
em imagens de valises tecnológicas, com suas ferramentas-máquinas (o seu saber-fazer 
clínico), e suas relações com os demais, que participam da produção e consumo do trabalho, 
sendo este o processo de trabalho, combinação do trabalho ato e consumo dos produtos feitos 
em trabalhos anteriores (MERHY; FRANCO, 2006). 
O trabalho feito é o que se chama “trabalho vivo em ato”, e o trabalho feito antes que 
só chega à forma de produto, como exemplo o aço para fabricação de estruturas, é chamado 
“trabalho morto”, o primeiro remete ao fato de estar ligado ao trabalhador que o faz e todo o 
processo que utilizou para realizá-lo, bem como com o produto e seu consumo por outros 
trabalhadores. Na saúde o trabalho realiza-se sobre tudo por meio do “trabalho vivo em ato”, 
o trabalho humano no exato momento em que é executado e que determina a produção do 
cuidado, mas este interage todo o tempo com instrumentos, normas, máquinas, formando 
assim um processo de trabalho, com diferentes tecnologias. O cuidado então é produzido 
através de interações, semelhante ao trabalho em educação (MERHY; FRANCO, 2006). 
 A relação trabalho e educação diz respeito segundo Ciavatta (2006) à formação do 
homem, em seu caráter formativo com desenvolvimento de suas potencialidades. Levando em 
consideração o sistema capitalista, e o trabalho como reprodutor da vida material, e que este é 
vendido a preço de um salário que não expressa o excedente do trabalho do homem, visto que 
este passa a pertencer ao detentor do capital para acumulação, tornando-se alienante e 
desumanizador. Para esta autora o trabalho como principio educativo depende de vários 
fatores que consideram as condições para realiza-lo, os fins, e quem se apropria do mesmo, e 
do conhecimento a ser gerado por ele. Que no caso da sociedade capitalista o trabalho tem um 
tom desapropriador da classe trabalhadora no que diz respeito à riqueza social e saberes que 
cria, pois este trabalho é mercadoria para ser trocado na forma de um valor de troca pelos 
meios de produção. 
16 
 
 A educação e a saúde, direitos dos seres humanos, sob o modo de produção capitalista 
são mercadoria, assim a educação profissionalreduziu-se a formação e treinamento para o 
trabalho simples da classe trabalhadora. Da mesma forma que para a formação dos 
profissionais da saúde, a dimensão do conhecimento tornou-se científica e tecnológica, 
visando atender as exigências do mercado (CIAVATTA, 2006). 
Para Merhy e Franco (2006), podemos exemplificar o trabalho em saúde utilizando o 
médico com três valises, seu arsenal tecnológico. A primeira tem instrumentos, tecnologias 
duras, a segunda saber técnico estruturado, tecnologias leves-duras, e a terceira relações entre 
sujeitos, tecnologia leve. Assim o trabalhador da saúde é um ser coletivo, pois ele não se basta 
sozinho, precisa da interação entre técnicos, auxiliares, enfermeiros, nutricionistas, todos com 
ferramentas diferentes para complementar o outro, sendo necessária a pactuação das ações, 
porém este tipo de interação ainda esbarra no modelo de imperialismo médico. 
Quando situamos a enfermagem antes, durante e depois da Idade Média é que 
compreendemos o caráter não profissional da enfermagem. Segundo Rodrigues (2001), nas 
sociedades primitivas antes do período medieval, a enfermagem era desenvolvida por 
mulheres, escravos, sacerdotes e também por mulheres na Sociedade Grega, isso demonstrava 
também as concepções do processo de saúde/doença, onde estava ligado ao sobrenatural, 
entendido pela ação de espíritos, e posteriormente a alterações de humores, pelos gregos. 
Os escravos realizavam o cuidado dos doentes, como forma de trabalho doméstico 
naquele contexto, o que sofreu algumas alterações no início da era Cristã, onde a enfermagem 
sofre transformações. A concepção de saúde/doença, nesta era pensada enquanto castigo 
divino, e a recuperação da mesma através do cuidado, como uma aproximação de um Deus 
misericordioso, modifica a concepção da enfermagem, e o caráter religioso se impregna, as 
pessoas que a realizavam tinham um espírito de caridade, e esse caráter mantém até os dias 
atuais arraigados no fazer da enfermagem (RODRIGUES, 2001). 
Com o capitalismo, o modelo religioso é substituído pelo vocacional, tendo início na 
Inglaterra, a concepção do hospital enquanto local aonde as pessoas iriam para esperar a 
morte, foi modificada pela ascensão da classe burguesa como classe dominante, e este local 
passa então a ser território de cura. Nesse novo modelo a enfermagem passa a ser exercida por 
pessoas leigas, e não somente por religiosos. Dando início à enfermagem moderna no século 
XIX, com Florence Nightingale, com preceitos como hierarquia, disciplina no trabalho, 
organização religiosa e militar, com relações de subordinação e dominação. No Brasil a 
enfermagem moderna tem início com Ana Neri, colocando como ideologia da enfermagem a 
abnegação, obediência e dedicação (RODRIGUES, 2001). 
17 
 
As transformações que o capitalismo trouxe, deram ao corpo humano novos 
significados, passando este a ser visto como fonte de lucro, tanto para quem cuidava, quanto 
para quem era cuidado, e se constituiu então como força de trabalho. A saúde então uma 
forma de produzir mercadorias, precisa de controle desta força de trabalho (LUCENA et al, 
2006). 
Atualmente a enfermagem vocacional/religiosa apesar de estar presente no discurso de 
muitos profissionais, afasta-se do modo em que vivemos, onde enfrentamos dificuldades de 
ordem profissional, como longas jornadas de trabalho, baixos salários comparados a outros 
profissionais, falta de autonomia, e precarização do cuidado na saúde. Não há espaço para o 
ser humano, este é apenas uma peça nesta engrenagem, como é demonstrado no mercado de 
trabalho. 
O corpo humano é visto então como uma máquina, onde suas peças quando em mau 
funcionamento (doença), precisam ser consertadas, e a atenção à saúde passa ser centrada na 
doença e não mais na saúde, iniciando as especializações (LUCENA et al, 2006). Como nas 
linhas de montagem concebidas por Henry Ford, em meados do século XX, trabalhadores 
organizados em série, desempenhando papéis independentes, parcelados, cada trabalhador 
executa uma parte da produção, como o que acontece com os usuários de saúde, passando por 
uma série de ações, procedimentos e protocolos, e cada profissional o faz em um tempo 
diferente, tentando ser concebidas como cuidado em saúde (VIEIRA; SILVEIRA; SANTOS, 
2011). 
Cabe aqui ressaltar que o trabalho profissional, é o trabalho exercido de forma 
especializada, socialmente reconhecida como necessário para uma atividade. Profissão então 
se origina conceitualmente do trabalho artesanal, na Idade Média exercida pelas guildas ou 
corporações de artífices, onde além da produção de produtos, havia a capacitação para o 
ofício. No contexto capitalista dos modos de produção, o trabalho parcelado e a gerência 
científica das profissões sofrem influências da economia. Neste sentido “profissão”, quer 
dizer a qualificação de um grupo de trabalhadores, em uma determinada atividade, que 
dominam seus conhecimentos e que fundamentam a sua realização, estabelecem regras para 
exercício de uma profissão, partilham leis, organizam-se em sociedades legitimadas, a fim de 
garantir respeito às regras, aprimoramento destes profissionais e desenvolvimento de medidas 
que defendam o grupo de trabalhadores (PIRES, 2009). 
Pires (2009), afirma ainda que a enfermagem como profissão possui pontos 
vulneráveis, como a autonomia do profissional e o seu reconhecimento como utilidade social, 
e enfatiza ainda a não existência de um corpo próprio de conhecimentos. 
18 
 
A reestruturação produtiva trazida pela crise do capitalismo no final do século e início 
deste forçou tanto as mais variadas empresas, bem como os serviços de saúde, a tornarem-se 
competitivos e acumularem capital, fazendo isso através da complexidade tecnológica e 
redução da força de trabalho, hierarquização, e incorporação da terceirização como novas 
formas de articulações, produzindo assim uma diminuição e quase finitude da prestação 
individual de serviços, sustentando a compra e venda desta força de trabalho, assim obrigando 
os profissionais a submeterem-se as mais diversas formas de precarização do trabalho 
(KUNZER, 2004). 
Conforme Pires (2006), a precarização do trabalho está registrada na literatura como 
formas diversas de relações contratuais, o que dificulta a atuação das diversas representações 
sindicais, deixando os trabalhadores em geral desprotegidos e vulneráveis às exigências do 
mercado, esse processo vem ocorrendo de forma intensa em setores da indústria, e na saúde 
de forma mais particular. No Brasil esta forma de precarização na saúde, é demonstrada pelo 
aumento do número de contratos temporários, com horários especiais como os plantonistas 
em hospitais, e na saúde pública com contratação de agentes comunitários temporários. 
Para Gomez e Costa (1999), as conveniências e conjunturas locais, são responsáveis 
por estabelecer novos modos de contratação, permitindo o surgimento de empregos chamados 
atípicos – terceirizados, temporários, em tempo parcial, por tarefas – e assim produzindo 
variação entre emprego e não emprego, contribuindo em diversos níveis para a precarização 
do trabalho. 
Ainda segundo Pires (2006), a terceirização deste setor cresce constantemente, e está 
empregada no setor público, a fim de diminuir custos, e como forma de fugir das conquistas 
salariais e direitos trabalhistas conquistados. Essas novas formas de contratação, podem ser 
encaradas como novas formas de flexibilização das formas de contrato, porém não é o caso do 
Brasil, que tem o contexto de tentar reduzir custos com a saúde pública. 
Em outros países a flexibilização não tem um cunho de precarização, mas sim de 
direitos adquiridos pelos trabalhadores de trabalhar através de contratosque atendam melhor, 
suas necessidades e não somente dos empregadores. O conceito de precarização remete a um 
sentido de perdas, e é usado extensamente para designar o que é precário, neste caso as 
formas de trabalho na saúde (PIRES, 2006). 
O Ministério da Saúde (MS) está trabalhando na tentativa de mudar este quadro de 
precarização, através da criação de programas que visam desprecarizar o trabalho no Sistema 
Único de Saúde (SUS), e garantir os direitos adquiridos por lei dos trabalhadores, 
19 
 
manifestados por vezes não somente pela quebra desses direitos, mas também pela ausência 
de concursos públicos com cargos permanentes (PIRES, 2006). 
Cabe ressaltar ainda que conforme Gomez e Costa (1999), é preciso relembrar que 
estas novas formas de contratos adotados pelo SUS, produzem subnotificações de acidentes 
de trabalho, não somente físicos, coloca em outro patamar os contratos de trabalhadores 
temporários, suprimindo deles doenças ocupacionais como as lesões por esforço repetitivo 
(LER), omitindo as empresas terceirizadas a seguridade desses trabalhadores, e permitindo 
uma política que evita custos. 
Ao olhar este panorama, onde direitos do trabalhador, aqui no caso os da saúde, e 
deveres do empregador, são suprimidos, questionamos o precisa ser mudado a fim de alterar 
este quadro? 
Parto deste ponto para indagar enquanto docente de um Curso de Graduação em 
Enfermagem, e como ex-aluna, quais as concepções que discentes de graduação em 
enfermagem tem sobre a profissão no início e ao término do curso e relacionar estas 
concepções com a precarização do trabalho de enfermagem. Pois acredito que da mesma 
maneira que ao escolher pela minha profissão levei como um dos pontos principais de minha 
escolha, a vocação/religião, isto ainda acontece entre os ingressantes, e suponho que se 
modifique ao final da graduação. Desta maneira o salário, as condições de trabalho estiveram 
em segundo plano, o que agora como profissional e atuante tanto na área de docência como na 
área hospitalar pude perceber o quão romântica foi esta escolha. 
Esta pesquisa justifica-se ao direcionar a prática de enfermagem enquanto trabalho, e o 
processo histórico pelo qual perpassa, dando novos significados a este processo de trabalho, 
permitindo refletir sobre a realidade concreta dos meios de produção, para entender o 
fenômeno, e firmar novas possibilidades, de vislumbrar uma nova forma de cuidar e mudar a 
realidade, visando atender o ser humano, em suas necessidades sociais, promovendo a saúde, 
e prevenindo as doenças, bem como recuperando o indivíduo para sua vida. 
Ao refletirmos sobre as questões enunciadas acima, não somente observamos o 
contexto da enfermagem, mas o caminhar de uma profissão que está ainda por consolidar-se, 
e outras questões ainda podem surgir, tais como a saúde do trabalhador enfermeiro, que como 
resultado desta precarização de seu trabalho, passa a sofrer não somente fisicamente, mas 
também mentalmente. 
O enfermeiro não vê sua profissão como trabalho, torna-se então, incapaz de 
reivindicar melhores condições de trabalho, e torna-se um profissional a margem do serviço 
20 
 
de saúde, pois a raiz de muitos conflitos dentro da própria equipe de saúde tem origem pela 
submissão passional, da equipe de enfermagem a outros trabalhadores do serviço de saúde. 
Ao nos colocarmos como parte de uma equipe que constrói o cuidado a um 
paciente/cliente, percebemos que é essencial o papel profissional do enfermeiro, como 
organizador, cuidador, diretor, organizador desta equipe, e que possui um conhecimento 
próprio, cientificamente firmado, e que desta maneira é capaz de lutar por seu espaço de 
igualdade, como trabalho muito bem definido. 
Segundo Kunzer (2004), os professores assim como os enfermeiros, estão sob uma 
tensão relacionada a seu trabalho, visto que este possui uma natureza não-material, onde não 
há separação entre produto e produtor, é um processo subjetivo, porém possui as 
características de um trabalho, tem de ser qualificador, transformador e prazeroso, e frente a 
este mercado capitalista também é mercadoria comprada para valorizar o capital. Ainda deste 
modo, o cuidador (enfermeiro), ao vender seu trabalho como mercadoria, coloca-o sob 
algumas limitações, que são definidas através de contratos de trabalhos, a cada dia mais 
rígidos e específicos, e deste modo não é pleno e satisfatório, levando ao sofrimento e não 
realização pessoal. 
Isso explica um pouco, o que acontece nos serviços de saúde atualmente, e está 
demonstrada na mídia diariamente, a tendência ao não envolvimento do profissional de saúde, 
uma maneira de evitar o sofrimento visto que este profissional não consegue ver seu produto 
final, e não se satisfaz, pois está amarrado a um contrato de trabalho, a uma jornada de 
trabalho limitada, programada, normatizada, que tem como fachada a tentativa de organização 
do serviço, e melhora na qualidade do atendimento, mas que de modo geral visa à alta 
produtividade e lucratividade. 
Enfermagem enquanto trabalho ou ajuda/vocação/doação? Enquanto esta dúvida 
perdurar, o enfermeiro, assim como outras profissões na área da saúde, estará submetido a 
qualquer tipo de precarização desta profissão, e consequentemente ao sofrimento profissional. 
Mas a grande questão está no resultado, o paciente/cliente encontrara sempre a 
desumanização do seu cuidado, justamente ele, que está em uma situação de fragilidade, visto 
que busca a recuperação de sua saúde. 
A partir dos pontos apresentados para introduzir este estudo, emergiram os pontos 
importantes a serem discutidos no corpo do trabalho, sendo que no primeiro capítulo 
apresentaremos a profissão enfermagem, com um resgate histórico de sua raiz, vocacional, 
mística, e por fim profissional, bem como os processos políticos e históricos perpassados 
pelas concepções saúde e doença, da antiguidade até a atualidade. 
21 
 
No segundo capítulo caracterizamos o trabalho, sob o contexto dos modos de 
produção, culminando com o capitalismo, ainda colocamos pontos conceituais do trabalho na 
saúde, a fim de dar suporte para uma discussão a partir da prática de enfermagem sob o modo 
de produção capitalista. 
O terceiro capítulo trata das concepções dos discentes ingressantes do curso de 
graduação em enfermagem, em relação à escolha da profissão, do forte caráter vocacional 
apresentado por esses discentes, fazendo um contraponto com a precarização do cuidado, 
voltando-se com um caráter de submissão e apatia frente às formas de exploração do trabalho 
de enfermagem. 
Por fim o quarto capítulo trata das concepções dos discentes concluintes do curso de 
graduação em enfermagem, destacando uma visão real da profissão, confrontando-a com o 
ideal apresentado em sala de aula, também apresenta a visão sobre as práticas precárias em 
que ocorre o processo de produção do cuidado, enfatizando as diferenças percebidas entre 
ganhos salariais, jornadas de trabalho, e descaracterização do ato de cuidar no setor público e 
privado, que acaba por culminar na produção do cuidado desqualificado. 
 
Objetivos 
 
 
Como objetivo geral deste estudo buscou-se desvelar as concepções que discentes 
iniciantes e concluintes do curso de graduação em enfermagem têm sobre o que é a profissão 
e tecer considerações entre estas concepções e a precarização do trabalho na saúde e na 
enfermagem. E como objetivos específicos: 
a) Identificar as concepções dos acadêmicos de enfermagem no primeiro semestre 
de graduação quanto a sua escolha profissional; 
b) Identificar as concepções dos acadêmicos de enfermagem no último semestre 
de graduação quanto à enfermagem enquanto trabalho; 
c) Correlacionar essas concepçõescom a precarização do trabalho na saúde e na 
enfermagem; 
d) Identificar as relações entre trabalho e educação presentes na criação da 
concepção da enfermagem, enquanto profissão. 
 
 
 
22 
 
Aspectos Metodológicos 
 
 
Trata-se de um estudo qualitativo, uma vez que a identificação das concepções dos 
discentes de graduação em enfermagem quanto à enfermagem enquanto profissão interage 
com o universo dos significados, motivações, crenças e valores, que não pode ser quantificado 
segundo Minayo (1996). E de caráter exploratório, que de acordo com Gil (1999, p.43) “é 
desenvolvida com o objetivo de proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca de 
determinado fato, esse tipo de pesquisa é realizada quando o tema escolhido é pouco 
estudado”. 
Utilizaremos a literatura para fundamentar nossa análise quanto aos momentos 
históricos da enfermagem, e assim encontrar alicerce da atual concepção da enfermagem, 
sendo que a década de 80 indica o início de mudança na compreensão da enfermagem 
enquanto trabalho, isso se justifica pelas mudanças ocorridas na percepção do processo de 
trabalho da enfermagem anteriormente a década de 80, e a reestruturação sofrida pela saúde, 
decorrida a fatos marcantes com a implantação do SUS, através da Lei Orgânica da Saúde, 
Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, (BRASIL, 1990), e juntamente a isso na enfermagem as 
mudanças que ocorreram no sentido da regulamentação e aprovação da Lei do exercício 
profissional – Lei 7498 e o Decreto 94.406 de 1987 (BRASIL, 1986; 1987), que podem ter 
repercutido na percepção de trabalho na saúde, e a sua precarização conforme os objetivos 
expostos acima. 
Foram realizadas entrevistas individuais, onde através de questões norteadoras a ambos 
os grupos de discentes (concluintes e iniciantes), conforme Apêndices I e II foi possível captar 
as concepções relacionadas ao trabalho em enfermagem presentes nas falas destes 
graduandos. 
Para que os resultados fossem fidedignos as entrevistas foram gravadas em um aparelho 
celular (Iphone 4 – Apple) e posteriormente transcritas na íntegra, após a devida autorização 
do discente. O local das entrevistas se deu em ambiente fechado, na própria instituição de 
ensino com horário marcado conforme acordo estabelecido entre a pesquisadora e o 
voluntário na pesquisa, a fim de preservá-lo e evitar constrangimentos. 
O método materialista dialético histórico foi adotado como referencial, pois através de 
uma interpretação histórica e social da realidade procedeu-se à correlação destas concepções, 
durante a discussão dos resultados. O método dialético baseado no pensamento de Marx foi 
23 
 
utilizado neste estudo, na tentativa da superar a separação que ocorre entre sujeitos e objeto, 
presente em diversos métodos. 
A dialética referida é diferente da concebida na Grécia antiga, como a arte do diálogo, 
como aquela ocorrida entre iguais, na concordância de um pensamento, uma identidade. Com 
Heráclito, grego 530 a 428 a.C., ocorre uma mudança da forma de pensar a dialética, para este 
o diálogo só existe quando há divergências, conflito de idéias (PIRES, 1997). A dialética que 
aqui se trata, passa a assumir com o passar do tempo um lugar importante e objeto de estudo 
da filosofia, com Hegel, filósofo alemão (1770-1831), elaborando a dialética como método, 
com o princípio da contradição, ou seja, algo é e não é ao mesmo tempo, e sob um mesmo 
aspecto, indicando uma totalidade e historicidade (PIRES, 1997). 
O método dialético então permite compreender o mundo da forma que ele o é, visto 
que se movimenta e é contraditório, desta forma o modo formal de pensar engessa esse tipo de 
raciocínio, diferente do proposto por Marx, sendo que sua dialética é material e histórica, 
material, pois os homens se organizam produzindo e reproduzindo a vida, e histórica, pois 
eles organizam-se na história através dos tempos. Marx não faz uma explanação detalhada do 
método em sua obra, porém mostra suas aplicações, principalmente em sua obra mais 
importante O capital (PIRES, 1997). 
A análise então partindo do materialismo histórico dialético permite refletir as questões 
referentes à produção da vida material dos seres humanos considerando os diferentes 
momentos históricos, e na análise em questão centrada no mundo do trabalho, é fundamental 
na medida em que permite visualizar o concreto através do trabalho, como ocorre para este 
profissional. 
O cenário da pesquisa é uma Instituição de Ensino Superior Federal (IES), a 
Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), no campus de Sinop - Mato Grosso, 
instituição essa que abriga um curso de graduação em enfermagem desde o primeiro semestre 
de 2007, com uma entrada anual de 60 alunos, divididos em 30 alunos por semestre. 
Os sujeitos da pesquisa são os discentes ingressantes no curso de graduação 
enfermagem em 2012/1 da IES, UFMT do Campus Sinop, do Curso de Graduação em 
Enfermagem e também em discentes concluintes 2012/1 desta mesma IES. Justificando esta 
escolha por adequar-se ao período para realização do estudo, e o fato da instituição ter entrada 
e saída de alunos a cada semestre. 
Em relação à análise e coleta dos dados, os dados foram coletados em março de 2012, 
através da entrevista semi-estruturada, conforme os apêndices apresentados nesta dissertação 
e as questões abertas, ao discente houve a liberdade de aprofundar-se nas questões, sendo que 
24 
 
a interferência da pesquisadora ocorreu de forma a complementar os relatos a fim de chegar 
aos objetivos do estudo. 
Os dados coletados nas entrevistas foram tratados através da técnica de análise de 
conteúdo baseada em Bardin (1977) e organizados de acordo com os princípios da análise 
qualitativa (Minayo, 2007). 
Bardin (1977) revela que a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas, que possui 
diferentes maneiras para se analisar, como: análise de avaliação ou representacional; análise 
de expressão; análise de enunciação e análise temática. 
Neste estudo, a análise de dados foi feita através da análise temática. Assim para fazer 
uma análise de conteúdo temática é necessário descobrir os núcleos de sentido que compõem 
a comunicação, cuja presença ou frequência possua algum significado para o objeto analítico 
visado (BARDIN, 1977; MINAYO, 2007). 
A análise dividiu-se em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento 
dos resultados, inferência e interpretação. 
A fase de pré-análise consistiu em organizar as ideias iniciais de modo sistemático, a 
fim de conduzir um esquema preciso de desenvolvimento da pesquisa (BARDIN, 1977). As 
hipóteses e os objetivos do estudo foram retomados, e foram elaborados indicadores para 
orientação da interpretação final (MINAYO, 2007). 
Esta fase compõe três tarefas: leitura flutuante que consiste no contato exaustivo com 
o material para conhecer o conteúdo; constituição do corpus que refere a forma de organizar o 
material respondendo algumas normas com exaustividade, representatividade, 
homogeneidade, pertinência e exclusividade; reformulação de hipóteses e objetivos 
compreende a unidade de registro e contexto, a forma de categorização, a modalidade de 
decodificação e os conceitos gerais que orientaram a análise (MINAYO, 2007). 
A exploração do material foi feita na fase em que se deve analisar o texto 
sistematicamente em função das categorias anteriormente formadas (BARDIN, 1977; 
MINAYO, 2007). 
Bardin (1977, p. 117) considera a categorização como “ [...] uma operação de 
classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, 
por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente definidos”. A 
terceira e última fase consisteno tratamento dos resultados, inferência e interpretação, aqui as 
categorias que foram utilizadas como unidades de análise que permitiram ressaltar as 
informações obtidas. Logo após foram feitas inferências e interpretações dialogando as 
categorizações emergidas com os objetivos e pressupostos da pesquisa (MINAYO, 2007). 
25 
 
Ainda para utilização dos relatos lançou-se mão de pseudônimos afim de não 
identificar os sujeitos da pesquisa, e sim somente a identificação do grupo ao qual pertencia o 
relato, ou seja, Discente Iniciante (D.I) e Discente Concluinte (D.C) seguidos da numeração 
de identificação do sujeito de 01 a 05. 
Todos os discentes matriculados no primeiro semestre do Curso de Graduação em 
Enfermagem da UFMT/Campus Sinop no semestre de 2012-1, foram convidados a participar 
da pesquisa, através de contato pessoal da pesquisadora no primeiro dia do semestre letivo, 
nesta ocasião foram explicitados os objetivos do estudo, e a importância de uma participação 
voluntária destes discentes iniciantes, sendo assim cinco discentes aceitaram os termos 
apresentados no TCLE, e a gravação das entrevistas, porém ao final deste estudo conforme 
previsto pela Resolução CNS 196/96, um dos sujeitos solicitou a exclusão de seus relatos 
deste estudo, sendo então retirado como parte da amostra de discentes iniciantes, totalizando 
quatro entrevistas dos ingressantes. 
Da mesma forma os alunos concluintes no semestre de 2012-1 foram abordados em 
sala de aula pela pesquisadora, e submetidos ao mesmo esclarecimento e pedido de 
participação na pesquisa, findando-se com uma amostra de cinco discentes concluintes que 
participaram voluntariamente do estudo. 
Respeitando os aspectos éticos da pesquisa em saúde os discentes que aceitaram 
participar do estudo através do contato direto, antes da concessão da entrevista realizou-se 
uma breve apresentação dos objetivos do estudo, solicitou-se a assinatura do Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e as entrevistas ocorreram conforme a 
disponibilidade dos sujeitos, seguindo o roteiro semi-estruturado, sendo que o projeto de 
pesquisa previamente a coleta de dados, foi submetido a apreciação ética, pelo Comitê de 
Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller – UFMT e devidamente aprovado e 
registrado sob protocolo n° 161/CEP-HUJM/2011 em 05 de março de 2012, atendendo a 
Resolução Conselho Nacional de Saúde (CNS) 196/96, que dispõe sobre a pesquisa com seres 
humanos. 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
CAPÍTULO 1 – ENFERMAGEM, CUIADADO E SAÚDE: HISTÓRIA DA 
PROFISSÃO 
 
 
 
1.1 A Idade Média – enfermagem, cuidado e saúde. 
 
 
 Ao longo da história a saúde e o trabalho humano têm se conformado de acordo com 
as necessidades, as adversidades, os anseios e objetivos do homem. Desta forma o contexto 
histórico-cultural de cada época influenciou de forma diversa a evolução do homem, do 
trabalho e da saúde. Juntamente com a saúde, a doença caminhou inerentemente a existência 
humana, e as diversas formas de trata-la, preveni-la e reestabelecer a saúde surgiram, pela 
ação humana através do cuidado, de homens para e no homem. 
 Ao tratar da saúde, do cuidado e da enfermagem segundo as eras históricas é preciso 
destacar alguns pontos, pois a história das profissões permite saber a forma como ocorreu a 
construção dos saberes práticos, teóricos além do modus operandi pelo qual a profissão 
passou e assim conhecer e compreender o presente, e traçar seu futuro (PADILHA; 
BOREINSTEIN; SANTOS, 2011). 
 As profissões ao longo do tempo, mais precisamente a enfermagem, têm passado por 
uma construção, e reconstrução constante de seus conhecimentos e conceitos, construindo sua 
história, na tentativa de desfazer-se de amarras de paradigmas, preconceitos, estereótipos 
presentes em sua realidade. Nesse sentido é pertinente à abordagem da historicidade desta 
profissão, e a produção literária atual tem permitido a docentes, pesquisadores e pessoas com 
interesses comuns, manterem atualizados os conhecimentos clássicos e novos sobre esta 
profissão, seja no âmbito nacional ou internacional. Também é possível observar a criação e 
inserção da discussão histórica da profissão nos cursos de enfermagem, permitindo aos 
estudantes discutir e ter novos apontamentos a fazer quanto a profissão (PADILHA; 
BOREINSTEIN; SANTOS, 2011). 
 Desta forma a História como uma ciência permite olhar o presente, mas de forma 
pretérita entender a construção dos fatos, sendo que o ser humano a seu tempo e de diversas 
maneiras, aprendeu e construiu formas de relacionar-se com o corpo, e a combater os males 
que padeciam, baseados então na experiência. 
28 
 
 Segundo Le Goff
1
(1991 apud PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 2011, p.40), a 
enfermagem apresenta uma relação muito próxima ao cuidado dado pelas mães e que vem 
evoluindo ao longo dos tempos e dessa forma tem coexistido com este a todo momento, sendo 
uma ciência ligada a arte de cuidar, assim como a mãe que atende seu bebê enfermo e cuida a 
fim de cura-lo, sendo que esta pode ser sugerida como a primeira enfermeira da humanidade. 
 Este capítulo trata da enfermagem, do cuidado e da saúde de modo geral, no período 
da idade média até a atualidade, baseando-se no contexto em que estão inseridos, tanto 
política quanto social e culturalmente. Na era medieval é possível afirmar que em todo o 
mundo duas grandes vertentes dirigiam a enfermagem: o exército e a Igreja. E também que 
esta História da Enfermagem concentrou-se na Europa e no Ocidente, sendo escassos os 
dados de outros continentes segundo Goodnow
2
 (1953 apud PADILHA; BOREINSTEIN; 
SANTOS, 2011, p.84). 
 O contexto social, econômico, político e cultural da Idade Média foram considerados 
um período obscuro na história, perdurando desde a metade do século V até a primeira metade 
do século XV, dividindo-se ainda em Alta e Baixa Idade Média, sendo a primeira carregada 
de caos e torpor entre os séculos V a IX, e a seguinte, séculos X a XV, indicando certa 
estabilidade (OGUISSO, 2007). 
A queda do Império Romano no ano de 476 e o início das formações bárbaras, 
indicaram um período onde os bárbaros destruíram patrimônios, devastaram a cultura, 
tesouros e materiais de grandes populações, sendo este período conhecido, como uma época 
negra para a humanidade. Estas invasões permitiram, apesar de muito danosas a vários 
grupos e povos, o inicio de transição entre o modo de organização econômica baseado no 
trabalho escravo, para o modo de produção feudal
3
. Este novo modo de produção permitiu a 
formação de três classes, sendo elas o clero, a nobreza e os citadinos (homens livres ou 
dependentes com funções como artesões, mercadores e camponeses) (PADILHA; 
BOREINSTEIN; SANTOS, 2011). 
 O modo de produção feudal consolidou-se durante a Alta Idade Média, e assim um 
sistema de formação econômica pré-capitalista iniciou-se na Baixa Idade Média. Este novo 
 
1
 LE GOFF, J. As doenças têm história. Trad. De Laurina Bom. Lisboa: Terra-mar, 1991. 
2
 GOODNOW, M. Nursing history. Philadelphia, PA: Saunders Company; 1953. 
3
 Modo de produção feudal baseava-se em relações de troca de produtos e toda produção era destinada ao 
sustento local, as relações de trabalho davam-se entre o senhor feudal e o servo ou camponês, que trabalhava na 
propriedade do senhor feudal e pagava um induto pelo seu uso, além disso o servo tinha que trabalhar três dias 
da semana de graça para o seu senhor, o trabalho não era assalariado e resultava em dependênciasocial entre o 
senhor feudal e seu servo, o feudalismo como era chamada, teve seu início por volta do século XIII até o início 
do século XV, quando atingiu seu auge de desenvolvimento, e a partir daí seu declínio iniciou (FRANCO JR, 
1987). 
29 
 
contexto sócio-economico permitiu ainda o início das cidades, dos centros de artesanato e 
comércio, o desenvolvimento da indústria têxtil e produção de ferro, a fim de atender as 
necessidades desta nova divisão do trabalho, a Europa nos séculos medievais apresentou 
notável crescimento. Neste período ainda nota-se o início das universidades, aprimoramento 
do trabalho com o vidro, da maquinaria de relógios, grandes embarcações, instrumentos como 
bússola e astrolábio foi desenvolvido, para permitir a navegação. A família era o núcleo mais 
importante deste período, pois baseado nela davam-se as relações sejam elas de trabalho, 
afetivas ou relacionamentos, pois necessitavam vislumbrar o bem comum para a família 
(PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 2011). 
 
 
1.1.1 O contexto religioso na Idade Média e o cuidado. 
 
 
Como dito anteriormente a Igreja dominou circunstancialmente este período, sendo 
responsável pela dominação cultural e até mesmo intelectual, assim as produções nesses 
campos visavam atender a conceitos de salvação divina, nas pinturas e na arte os santos e 
anjos são destaques, bem como as formas de penitencia e peregrinação também eram vistas 
com bons olhos, pois traziam o indivíduo mais perto de Deus pelo seu sofrimento. 
Neste período marcado pela degradação do Império Romano, devido às invasões 
bárbaras, o caos instaurado levou a um estado de barbárie, onde a população encontrava-se 
analfabeta, sem instrução e saúde, emergindo daí a figura dos monges, representantes da 
Igreja, em seus monastérios surgindo como ponto de apoio e instituição da ordem geral, 
ficando responsáveis pelo ensino da religião, enfermagem, educação e medicina, afirmando-se 
a Igreja como a única instituição organizada, totalmente instituída, capaz de conceder o apoio 
a ideologia do novo modo de produção que se configurava, o feudalismo, emergindo sobre o 
caos e a degradação que aquele tempo passava, segundo Goodnow
4
 (1953 apud PADILHA; 
BOREINSTEIN; SANTOS, 2011, p.88). 
A moral, o direito, a disciplina e o culto à Igreja foram decisivos para o fortalecimento 
dessa unidade, e manter os homens daquele tempo novamente sujeitos aos códigos de ética e 
moral que haviam sido destruídos. Como forma de obtenção da redenção divina as boas almas 
deveriam realizar boas ações em hospitais, esses bons homens e mulheres eram pessoas 
 
4
 GOODNOW, M. Nursing history. Philadelphia, PA: Saunders Company; 1953. 
30 
 
importantes que tinham como forma de penitência e caridade o serviço nestas instituições, 
construindo a imagem de bondade baseado na obediência a igreja. 
O estilo gótico das igrejas da Idade Média, além do grande número destas, dava a 
dimensão do domínio e impregnação pela população da religião. As Cruzadas
5
 empreendidas 
na recuperação da Terra Santa mobilizaram milhares de homens e mulheres para a retomada 
de Jerusalém, a guerra gerou feridos, e a necessidade de cuidados, sendo estes assumidos 
pelas mulheres que também lutavam em nome da Igreja. Neste momento então também a 
Igreja ocupou-se na construção de hospitais e recrutamento de voluntários, surgindo então 
ordens de militares que tinham como tarefa diminuir doenças e a pobreza através da atenção 
prestada nestes hospitais, utilizando-se dos seus ideais militares. 
Juntamente com a ordem citada, outras insurgentes e derivadas manifestaram-se, 
dentre elas ainda podemos citar, Ordem dos Cavaleiros de São Lázaro, voltados aos cuidados 
dos leprosos, Ordem dos Cavaleiros Hospitalares Teutónicos, vistos com bons olhos pela 
monarquia alemã, além de seguidores com o passar do tempo e várias denominações como os 
Templários, Cavaleiros de Malta e Cavaleiros de Rodas. Assim reafirmando o domínio 
europeu decorrente das cruzadas, relações comerciais foram estabelecidas, e atividades 
comerciais também, permitindo o crescimento do comércio, de forma sussurrar o início da 
visão do lucro, da racionalidade, ou seja de uma estrutura que pode ser chamada de pré-
capitalista PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 2011). 
 
 
1.1.2 Cuidado, saúde pública e os hospitais. 
 
 
Durante a Idade Média, os conceitos sobre o corpo, o cuidado e as doenças evoluiu de 
forma menos científica, e mais empírica e mística. Como relatado anteriormente o acesso a 
Deus era controlado pela Igreja, de forma que as epidemias, grandes vilãs daquela época, 
devastavam e matavam milhares, eram consideradas formas de punição a população, que se 
encontrava sem rumo, ou ordem ética e moral. 
 
5
 Cruzadas para recuperação da Terra Santa, aconteceram como um movimento militar mas primeiramente 
religioso que visava possibilitar o retorno de acesso e liberdade dos cristãos a Jerusalém, que encontrava-se 
dominada pelos turcos, dessa forma tropas ocidentais empreenderam uma luta que perdurou entre os séculos XI a 
XV, na Palestina. Liderados por Godofredo de Bulhão em 15 de julho de 1099, após matar e massacrar os turcos, 
possibilitou o livre acesso dos cristãos peregrinos a Jerusalém (ARRUDA, 1981). 
31 
 
Aliado as epidemias outros fatores contribuíam de forma negativa com a saúde da 
população em geral, entre eles a nutrição, que era por vezes precária, pela escassez e o cultivo 
de frutas e vegetais, tudo isso juntamente com o trabalho árduo e extenuante dessas 
populações visto as dificuldades geográficas e espaciais das cidades naquele tempo. Assim 
não havia contexto suficientemente propício para que todas as formas de vegetais fossem 
cultivadas, e até mesmo que o gado sobrevivesse, assim também era a expectativa de vida da 
população, que perecia como a terra que pela seca era massacrada, e as crianças, que pela 
mortalidade infantil elevada eram ceifadas, conforme Goodnow
6
 (1953 apud PADILHA; 
BOREINSTEIN; SANTOS, 2011, p.91). 
As doenças mais relevantes daquele período eram a lepra e a peste bubônica, que 
encontravam campo fértil para a proliferação e perpetuação, haja vista a imensidão dos 
aglomerados humanos, da situação de higiene de animais e seres humanos, compartilhando 
espaços comuns, após o período das cruzadas. Essas populações iniciaram seus movimentos, 
e a falta de saberes sobre como se dava a cura dessas enfermidades. A lepra com destaque era 
contida através do isolamento dos indivíduos, baseados na forma de contagio descrita no 
Velho Testamento, assim iniciando um período com crescimento de leprosários pela Europa, 
sendo que na França por exemplo, o número de casas para esse fim elevaram-se, chegando a 
19 mil em todo o continente. Novamente o pecado ou punição de Deus, eram utilizados para 
segregar e excluir os leprosos, pois essa doença era decorrente de pecados de ordem sexual, 
segundo a crença, assim esses homens e mulheres eram considerados como mortos para a 
sociedade, e para Deus, seu sofrimento físico na terra era recompensado pela salvação de suas 
almas (PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 2011). 
A peste bubônica castigou a população da Idade Média, tanto quanto a lepra, e esta se 
estendeu desde os primórdios, com registros no Egito por volta de 540, onde dizimou um 
quarto da população, e por volta de 1300 chegou a Europa. O controle da transmissão da 
doença, esta cercado de misticismo, e em relatos bíblicos, onde se acreditava que a quarentena 
era eficaz, pois no último dia era possível separar as formas agudas das crônicas, assim os 
navios permaneciamno mar até que todos atingissem o quadragésimo dia. A instituição de 
medidas como a transferência dos doentes para o campo, para evitar contaminação das 
populações na cidade ocorriam, porém esses doentes eram deixados à sorte, para 
recuperarem-se ou morrerem. É sabido que a situação da população em relação à higiene era 
precária, o corpo e sua manipulação eram considerados pecado e perigo moral, o banho 
 
6
 GOODNOW, M. Nursing history. Philadelphia, PA: Saunders Company; 1953. 
32 
 
também poderia ser considerado uma forma de heresia segundo Siles
7
 (1999 apud PADILHA; 
BOREINSTEIN; SANTOS, 2011, p.93). 
O cuidado com o corpo, mas principalmente os conceitos de equilíbrio da saúde, eram 
regados de magia, religião, rituais pagãos e cristãos, e assim, a oração, a penitencia ou mesmo 
o culto a santos eram usados como formas de aliviar e curar doenças. Quatro humores 
regulavam a saúde, sendo eles o sangue, a fleugma ou ptuita, bile amarela e bile negra, e a 
falta de harmonia entre esses humores era considerada a genes da doença. Por esse motivo, o 
tratamento dava-se através de uma forma de equilibrar esses humores, com o uso de sangrias, 
purgantes, ou substâncias que provocassem o vômito, baseados em conceitos hipocráticos, na 
tentativa de retirar conteúdos nocivos. 
A retirada de dentes, e realização de sangrias, o uso de ventosas era realizado por 
barbeiros-cirurgiões, um misto de magia, astrologia e escritos antigos que os orientavam sobre 
quando e como realizar tais procedimentos. Consideravam que pedras ou pó de pedras de 
certos locais considerados sagrados também curavam as pessoas, por isso túmulos de santos e 
o que deles era composto era utilizado em forma de pó, e dado como remédio, para cura de 
algumas doenças. Apesar de este período ser marcado pela presença da Igreja com a 
Inquisição, a bruxaria consolidou-se como uma prática comum entre os pobres, estas atuavam 
em partos, realizavam rituais com sacrifício, e ainda as mulheres que tinham longevidade 
também corriam o risco de serem vistas como bruxas, segundo Goodnow
8
 (1953 apud 
PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 2011, p.95). 
Ao contrário do que se acredita os primeiros cuidadores na enfermagem, eram 
homens, e esses foram responsáveis pela fundação das primeiras ordens para esse fim, como 
os Irmãos de Santo Antônio e os Irmãos do Espírito Santo. O corpo do homem não poderia 
ser manipulado por mulheres, a não ser que de um parente próximo. Porém o cuidado que elas 
implementavam permanecia ocorrendo paralelamente, e com o passar dos anos esse cuidado 
passou a ser indispensável. Por influência católica, o clero ordenava mulheres para a 
realização das visitas aos doentes e do cuidado, essas eram tanto solteiras como casadas, 
possuíam casa, e bens herdados, cuidavam da população cristã como um todo
9
. 
Cuidar era um ato simples, baseado em ações de alívio e conforto, sem fundamento 
teórico e científico, mas sim carregados de caridade e piedade aos pobres e enfermos. 
Reafirmando a influencia católica sobre o cuidado, pode-se afirmar que monges, monjas 
 
7
 SILES, J. História de la enfermeira. Alicante (Espanha): Aguaclara; 1999. 
8
 GOODNOW, M. Nursing history. Philadelphia, PA: Saunders Company; 1953. 
9
 Ibid., p. 96. 
33 
 
iniciaram o saber em enfermagem pré-clínico, dentro dos mosteiros. Estes copiavam, liam e 
traduziam os escritos de Hipócrates
10
, instituindo ações de alívio e conforto como aplicar água 
de rosas na fronte do doente para baixar a febre, colocar os pés em vinagre e sal para aliviar o 
cansaço, cobrir os doentes, assim essas ações simples eram baseadas também na experiência 
vivida e influenciados pela espiritualidade e caridade, sendo que virgens e as monjas foram 
responsáveis pela criação de ordens de mulheres que trabalhavam para a Igreja com esse fim 
(OGUISSO, 2007). 
Na Europa, mais precisamente em Roma, diáconos e diaconisas repassavam seus 
conhecimentos sobre o cuidado ao povo, baseados sua experiência, foram ordens criadas para 
o auxílio aos pobres, e trabalhavam juntamente com os bispos e presbíteros. Várias ordens 
surgiram com esse intuito na Ásia, Itália, Espanha, Irlanda e Síria. Entre as ordens podemos 
destacar a Ordem das Irmãs Agostinas, que trabalhavam também sob o controle do clero, e 
realizavam funções de enfermagem, além de administrar o Hôtel-Dieu de Paris, mesmo que 
rudimentar esse hospital oferecia uma forma de cuidado de enfermagem, que ia desde o 
auxílio em partos, e realizavam o cuidado com homens, que não era permitido para mulheres, 
porém como estavam sob a alcunha da Igreja, por essas mulheres poderia ser feito, conforme 
Goodnow
11
 (1953 apud PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 2011, p.96). 
Destaca-se a Ordem das Beguinas, no final do século XIII, na França como sendo uma 
ordem não religiosa, porém fundada por um clérigo, Lambert Begh. Mulheres viúvas que 
realizavam ações de caridade, porém com disciplina em suas relações, cuidavam de doentes, 
velhos e pobres, e assim mais tarde foram chamadas de Ordens Seculares de Enfermagem, 
ficaram amplamente conhecidas pela população, porém a Igreja as perseguiu, já essas 
promoveram à população inovações e conhecimento, e por serem independentes do poder da 
Igreja, segundo Siles
12
 (1999 apud PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 2011, p.97). 
O parto neste período era complicado para a maioria das mulheres, e as parteiras 
tinham atuação decisiva, já que os médicos da era medieval, eram chamados somente nos 
casos em que uma cesárea seria necessário, geralmente por morte fetal ou da parturiente, visto 
que o procedimento era agressivo e brutal. O aleitamento materno não ocorria entre a 
população mais rica, pois o leite era considerado impuro, e somente Amas de leite acabavam 
por amamentar (OGUISSO, 2007). 
 
10
 Hipócrates considerado pai da medicina iniciou os primeiros estudos nesta área. 
11
 GOODNOW, M. Nursing history. Philadelphia, PA: Saunders Company; 1953. 
12
 SILES, J. História de la enfermeira. Alicante (Espanha): Aguaclara; 1999. 
34 
 
A introdução da instrução e cientificidades da profissões na Idade Média, foi difícil 
visto a restrição dos conhecimentos produzidos pelo ocidente estarem unicamente em latim, 
saber ler e escrever também era restrito a monges, bispos e padres, sendo que o conhecimento 
tornou-se um bem da Igreja. Assim o público somente teve acesso a esses escritos a partir de 
Carlos Magno (768 – 814), esse imperador francês foi quem primeiro incentivou a formação 
profissional junto aos monastérios, da mesma forma a medicina e as outras ciências da saúde 
ocuparam-se de superar desafios de ordem religiosa, para enfim serem reconhecidas em sua 
cientificidade, a medicina era conhecida como um trabalho mecânico, e o estudo da anatomia 
do corpo um ato pagão, pois violava o que era sagrado aos olhos de Deus (OGUISSO, 2007). 
Na Itália em Salermo por volta do século XI, é que a primeira escola que bordasse o 
conhecimento médico foi instituída, os estudantes eram jovens ansiosos em aprender, e com 
alguns mestres como São Francisco e São Domingos foram os primeiros a ensinar. A Escola 
de Salermo teve seu auge no século XIII, pois a partir dela os médicos eram requeridos com 
formação e estágio para trabalharem, empregando o início do saber científico para o exercício 
da medicina. Com as novas ideias, os médicos na Idade Média eram reconhecidos por terem 
realizado estudos e grau conferido pela universidade, sendo que assim diferenciavam-se de 
barbeiros-cirurgiões, magos e curandeiros(PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 2011). 
Os hospitais medievais surgiram a partir dos monastérios que tinham o caráter 
religioso da caridade, e perdurou durante todo período medieval. Sendo os primeiros hospitais 
Hôtel-Dieu (542) em Sião, e em Paris o Hotel-Dieu (651), São Pedro e São Leonardo na 
Inglaterra (936), sendo que estes monastérios tornaram-se com a denominação de “hospital” 
por uma determinação do Concílio de Aachen (816 d.C). O caráter religioso afastou-se da 
assistência médica somente no século XII, depois de uma determinação, que somente médicos 
poderiam realizados se fossem capacitados para isso, a partir do Concílio de Viena em 1312, 
porém o clero não afastou-se totalmente, ficando a seu cargo os cuidados de enfermagem, e a 
administração desses locais. A medicina dissociou-se do seu caráter vocacional pois os 
hospitais não eram atrativos para o trabalho, pelas condições, e deram inicio a venda de seu 
trabalho (PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 2011). 
Assim, é possível visualizar através da Idade Média o quão enrraigada o cuidado, a 
enfermagem e a saúde estavam ao cristianismo, a caridade e a salvação. Os primórdios a 
divisão do trabalho em categorias de cuidados, e de gêneros também é observada, e assim 
vislumbrar através da história o contexto pelo qual as profissões perpassaram e como os 
conceitos de saúde-doença evoluíram até a ideia atual. A enfermagem e sua história no 
35 
 
contexto geral permite entender e desvelar as práticas, a fim de permitir à compreensão da 
história da profissão. 
 
 
1.2 A Idade Moderna – enfermagem, cuidado e saúde. 
 
 
O período compreendido como Idade Moderna, estende-se do século XV ao XVIII, 
para a enfermagem, cuidado e saúde, além de todos os campos econômicos, políticos, um 
período de transição entre a Idade Média e a Moderna, mas marcado principalmente pela 
introdução do modo capitalista de produção, com a valorização do comércio, em substituição 
ao modo feudal de produção, abordados mais adiante no próximo capitulo deste trabalho. 
Importante ainda destacar que este período foi marcado por renascimento da arte, cultura, e 
ciência, bem como os grandes descobrimentos, e nesse contexto a descoberta e desbravação 
do novo mundo, ou seja, América do Sul e Central (PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 
2011). 
 A organização religiosa na Europa também sofreu mudanças, advindas da Reforma 
Protestante, esta reforma assumiu diferentes denominações e diferentes líderes nos locais em 
que se deu, mas seu ícone maior é sem dúvida Martinho Lutero, na Alemanha, dando origem 
ao luteranismo, sua crítica recaia principalmente sobre o teologismo com que a economia, a 
sociedade, a política e a cultura estavam imersas, pela ideologia da Igreja Católica Romana. 
Lutero foi autor de 95 livros que criticavam e instigavam a população a repensar a forma 
como se dava na Igreja Católica o pagamento de indulgencias, condenava também o 
paganismo e a avareza, propondo assim um debate teológico, com força crítica. Essa reforma 
apoiada no saber científico e nas questões que superavam o catolicismo, ultrapassou fronteiras 
e originou também na Inglaterra com Henrique VIII o anglicanismo e na Suíça, com João 
Calvino o calvinismo, segundo Cotrim
13
 (1999 apud PADILHA; BOREINSTEIN; SANTOS, 
2011, p. 114). 
 Assim essas mudanças decorrentes do movimento de reforma acabaram por estender-
se a enfermagem, ao cuidado e a saúde da população, nos locais em que ocorreram, a forma 
de conceber os fenômenos a partir da reforma trouxe para enfermagem, principalmente com a 
saída da dominação do clero nos hospitais, deixando para trás um buraco, no que diz respeito 
 
13
 COTRIM, G. História Global: Brasil e Geral. 5 ed. São Paulo: 1999. 
36 
 
a pessoas qualificadas para o cuidado. Posterior a reforma, a Igreja Católica tomou medidas 
para tentar conter a expansão do protestantismo, em um movimento denominado 
Contrarreforma, outorgado pelo Concílio de Trento, com a missão catequizar o povo das 
terras recém-descobertas, e instituir novamente a Inquisição, além de limitar a atuação das 
mulheres e, por conseguinte prejudicar as ações de enfermagem por elas instituídas 
(GEOVANINI et al., 2005). 
 A Ordem dos Jesuítas ou Companhia de Jesus em 1549 foram os primeiros soldados 
da Igreja a adentrarem a terra nova, atuando com a catequese da população ameríndia, e as 
práticas de enfermagem estavam também ligadas a esta ordem no início pela forma que 
possuíam influência, pela falta de estrutura, e carência de assistência a saúde adequadas. Os 
primeiros jesuítas foram Padre Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e Antônio Vieira, sendo 
que estes fundaram escolas como a de São Paulo de Piratininga, e estendiam suas práticas de 
saúde nos hospitais, como a Santa Casa de Misericórdia e nas Igrejas, outras ordens surgiram 
posteriores a esta como os Franciscanos e Beneditinos que possuíam ideologias semelhantes 
(PIRES, 1989). 
 
 
 1.2.1 Os problemas de saúde na Idade Moderna. 
 
 
 Como abordado anteriormente a peste negra, foi uma das epidemias mais devastadoras 
da Idade Média, refletindo através dos tempos até o período do Renascimento, visto as grande 
perdas humanas, e o estado de saúde geral da população sobrevivente. O conhecimento sobre 
o processo-saúde doença, modificou-se na Europa com as mudanças trazidas na compreensão 
dos fenômenos, porém isso não refletiu diretamente na melhora na qualidade de vida da 
população, visto que o aumento fulminante das cidades europeias, da população, e o 
desenvolvimento da manufatura, possibilitou que a população ficasse agora susceptível a 
doenças contagiosas como a tuberculose, e outras doenças de ordem nutricional e higiene 
também aumentassem como a desnutrição. Sem deixar de lembrar que para o avanço deste 
mercado crianças e mulheres entraram como mão de obra no trabalho, e as classes operárias 
começaram adoecer devido a acidentes de trabalho, intoxicação alimentar, culminando 
também com um aumento na mortalidade infantil e materna (GEOVANINI et al., 2005). 
 Adoecer era um empecilho à força produtiva, o que poderia acarretar em dificuldades 
econômicas, políticas e sociais, surgiram então leis que tentaram proteger os trabalhadores 
37 
 
desses males dos quais podiam padecer advindos do trabalho, porém o interesse do Estado 
estava na necessidade de manter a produtividade do indivíduo, e assim não prejudicar o ganho 
e reprodução do capital. Dessa forma a legislação tinha como pretensão proteger a saúde do 
trabalhador, e as profissões na área da saúde também absorveram estas determinações 
(PIRES, 1989). 
 O número de pobres e miseráveis que haviam sofrido com as epidemias do final da 
Idade Média havia aumentado muito, a caridade e as esmolas passaram como práticas 
comuns, e incentivadas pela Igreja Católica e esta incentivou a criação de entidades civis que 
realizassem o trabalho de atender as misérias humanas, sob o controle do clero e assim 
poderiam aumentar o poder eclesiástico (THOMPSON, 1987). 
 Tendo ainda um caráter caridoso, as práticas do cuidado eram realizadas baseadas em 
experiências das religiosas nos contextos hospitalares, como haviam ainda muitas ordens 
formadas com este intuito, no período da Contrarreforma, como por exemplo, a Companhia 
das Irmãs de Caridade na França, fundada por Vicente Paulo
14
 e Luiza de Marillac em 1633, 
ela filha de uma família com posses, era aluna de Vicente de Paulo na Ordem das Filhas de 
Caridade, nesta ordem religiosa as mulheres poderiam sair sem o uso obrigatório do hábito 
enquanto trabalhavam nos hospitais, tinham como objetivo alimentar os pobres, cuidar dos

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