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CORRELAÇÕES DIVERSAS COM OS VALORES DA RESISTÊNCIA A PENETRAÇÃO N DOS ENSAIOS SPT Deve-se ter sempre presente que as diversas eficiências do SPT, E1, conforme esse ensaio é executado nos diversos locais do mundo, podem variar, entre si, de até cerca de três vezes, e que os valores de N variam com o inverso da eficiência. Assim, por exemplo, para um SPT com eficiência de 45%, o valor da resistência à penetração N é o dobro do correspondente a outro SPT cuja eficiência seja 90%. Ao procurar-se utilizar no Brasil correlações estabelecidas em outros países, deve- se sempre procurar saber qual a eficiência do equipamento utilizado para a execução do ensaio e proceder-se aos ajustes de eficiência. Segundo Schmertmann e Palacios (1979): N1 E1 = N2 E2 Como frequentemente o valor da eficiência não é fornecido, uma ordem de grandeza do mesmo pode ser obtida verificando-se como o ensaio foi executado e fazendo-se uso de informações divulgadas na literatura, tais como Skempton (1986) e Décourt (1989). A eficiência do SPT brasileiro, quando o mesmo é rigorosamente executado de acordo com a Norma Brasileira NBR 6484, é em média de 72%, Décourt et al (1989). A dos SPT executados nos Estados Unidos nas décadas de 40 e 50 era de 45% a 55%. Atualmente há nos Estados Unidos uma variedade enorme de equipamentos de SPT, com eficiências variando entre um mínimo de cerca de 40% e um máximo de 95%. CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O ESTABELECIMENTO DE CORRELAÇÕES EM AREIAS É hoje sobejamente conhecido o fato de a resistência à penetração depender não somente da eficiência do SPT, como analisado no item anterior, mas também e principalmente, no caso de materiais granulares, do nível médio de tensões na profundidade onde o ensaio está sendo executado, para permitir comparações entre valores de resistência à penetração determinadas a várias profundidades. Décourt (1989) recomenda que os valores de N sejam corrigidos pela seguinte expressão: Onde: = tensão octaédrica para uma areia normalmente adensada sob pressão vertical efetiva = tensão octaédrica ao nível onde o SPT está sendo executado. Fica, pois evidenciado que somente com uma mesma eficiência dos SPT e sob a mesma tensão octaédrica é que as características de areias diversas podem ser comparadas. Recomenda-se também que as eficiências dos diversos SPT sejam convertidas para 60%, uma espécie de padrão de referência internacional. O valor de N padronizado para e E1 = 60%, é designado por (N1)60. Considere-se o exemplo de uma areia normalmente adensada. Admitindo-se, para simplicidade de raciocínio, ausência de nível d’água e peso específico de 18 kN/m3 tem-se: a) Profundidade z= 2,0m - σvo = 36,0 kN/m² para N60 = 5 tem-se: b) Profundidade z= 20m - σvo = 360 kN/m² para N60 = 16 tem-se: Isso significa que a areia a 20 m de profundidade, apesar de apresentar valor N-SPT de 16, tem a mesma compacidade relativa do que a areia a 2,0 m de profundidade, que apresenta valor N-SPT de apenas 5. Pela equação de Skempton (1986), (N1)60 / ID²=60, deduz-se um valor de ID de aproximadamente 37%. Esse exemplo demonstra claramente a falácia das tabelas de classificação das areias quanto à sua compacidade, através dos valores não corrigidos de N-SPT. EFEITO DO ENVELHECIMENTO (AGING) "Aging" é o fenômeno pelo qual a rigidez das areias aumenta com o tempo. Não obstante ser esse fenômeno conhecido há muito tempo, Denisov (1961, 1963) vinha o mesmo sendo ignorado pelos especialistas. A importância desse assunto passou a ser mais reconhecida nos últimos dez anos, graças ao trabalho de alguns autores tais como Skempton (1986), Décourt (1989) e Schmertmann (1991). O fator de idade AF (Aging Factor), introduzido por Décourt (1989), é definido como a relação entre a resistência à penetração de uma areia naturalmente envelhecida e a resistência à penetração que a mesma areia daria, mantidas as mesmas condições de densidade, porém quando recentemente depositada, como ocorre em laboratório e/ou câmaras de calibração. Na tabela abaixo, reproduzida de Skempton (1986), fica evidenciada a diferença das correlações entre N e ID em função da idade do depósito de areia. Fica, pois claro que correlações estabelecidas em laboratório e/ou câmaras de calibração não podem ser aplicadas diretamente na prática. Décourt (1989) conclui que: "Valores de campo de N-SPT (e talvez de q do CPT) devem ser multiplicados por 0,50 - 0,60 (inverso do fator de idade, AF) para que correlações obtidas em câmaras de calibração possam ser utilizadas de forma adequada, na prática da engenharia." TIPO IDADE (ANOS) (N1)60 / ID² Ensaios de Laboratório 10-2 35 Aterros recentes 10 40 Depósitos Naturais >10² 55 Tabela: Efeito do envelhecimento (aging) em areias finas (apud Skempton, 1986). CORRIGIR OU NÃO CORRIGIR N AO SE ESTABELECER CORRELAÇÕES? Imagine-se uma massa de areia homogênea, toda ela com um determinado índice de densidade (compacidade relativa) ID, Figura: Areias e pedregulhos; relações básicas, Apud Stroud (1988). Seguindo o raciocínio de Stroud (1988), duas situações podem ocorrer: I - Deseja-se estimar ID em função da resistência à penetração N Nesse caso é fundamental que N seja corrigido para que todos esses valores tenham o mesmo significado e que sua média permita avaliar ID. O mesmo raciocínio se aplica à avaliação do ângulo de atrito II - Deseja-se correlacionar N com as características de rigidez da areia, seu módulo de cisalhamento (G) ou seu módulo de elasticidade (E). Como tanto N quanto G ou E crescem com a tensão octaédrica, essas correlações devem ser estabelecidas com valores não corrigidos de N. Raciocínio semelhante deve ser feito para correlações entre N e resistência de ponta (qp) de estacas. CORRELAÇÃO COM O ÍNDICE DE DENSIDADE (COMPACIDADE RELATIVA) ID DAS AREIAS Entre as diversas correlações existentes na literatura recomendam-se aquelas apresentadas por Skempton (1986), válidas para areias naturais normalmente adensadas, e que são reproduzidas na tabela abaixo: Tabela - Valores do índice de densidade (compacidade relativa). ID em função de |N1)60. Areias naturais normalmente adensadas Segundo ainda Skempton (1986), para areias médias e valores de ID entre 35% e 85% essa correlação é representada aproximadamente pela equação: (N1)60 / ID² = 60 Para areias finas deve-se substituir 60 por 55 e para areias grossas, por 65. CORRELAÇÃO COM O ÂNGULO DE ATRITO INTERNO ɸ DE AREIAS Décourt (1989) reinterpretou os estudos de De Mello (1967, 1971) sobre o trabalho de Gibbs e Holtz (1957). Nesse trabalho de Décourt são levadas em conta as diferenças entre as areias frescas utilizadas em ensaios de laboratório e/ou câmaras de calibração e as areias encontradas na natureza, essas últimas apresentando o efeito de envelhecimento (aging). Também se procurou levar em conta o efeito do sobreadensamento das areias e a eficiência dos equipamentos de SPT. Assim, na tabela e no ábaco a seguir são apresentados os valores do ângulo de atrito ɸ em função de (N1)60, isto é do número de golpes N do SPT em uma areia natural (com "aging") convertido para uma tensão vertical de confinamento de 1,0 kgf/cm², ou seja, 100 kPa, para a eficiência padrão de 60%. Figura - Ângulo de atrito ɸ x (N1)60 Apud Décourt (1989 c 1991a) Tabela- Ângulo de atrito ɸ x (N1)60 (Apud Décourt 1991 b) Para converter o N-SPT brasileiro para N60, basta multiplicar-se o número de golpes por 1,2. (72 / 60 = 1,2) Segundo De Mello (1967-1971), correlações de N com ɸ são muito mais adequadas do que correlações de N com ID. Caso se queira estimar ID Decourt (1991a) sugere avaliar-se ɸ através das correlações anteriormente propostas e daí utilizar-se correlações entre ɸ e ID para solos granulares de características diversas, como por exemplo, a de Burmister (1948), transcrita na Fig. 3.6. Fig. 3.6 - Compacidade relativa lD x ângulo de atrito 0 para solos granulares. Adaptado de Burmister (1948) RESISTÊNCIA NÃO DRENADA DE ARGILAS SATURADAS Décourt (1989) com base em resultados de ensaios laboratoriais e sondagens confiáveis recomenda que a resistência não drenada de argilas saturadas* seja dada por CU = 12.5 N (kN/m 2). Resistências obtidas a partir de ensaios de compressão triaxial rápidos (Q), também conhecidos como não adensados e não drenados (LU), com o cuidado de se procurar reproduzir cm laboratório as tensões octaédricas "in situ". MÓDULO DE ELASTICIDADE Décourt et al (1989) sugerem a correlação: E = 30 N72 (MN/m²). Essa correlação seria em princípio válida para fundações circulares rígidas em qualquer solo, para um nível de recalque da ordem de 1% de seu diâmetro. Recentemente, procurou-se aperfeiçoar essa correlação, fazendo-se distinção entre três tipos de solo e reconhecendo-se a elevada não linearidade da variação de E com o nível de tensão e/ou de deformação, Décourt (1995). Na tabela abaixo são apresentadas essas correlações aprimoradas, válidas para sapatas quadradas rígidas com recalques da ordem de 1% do seu lado. Tabela - Valores de E (MN/m²) em função de N-SPT, sapatas quadradas rígidas, s/B=1%. MÓDULO DE CISALHAMENTO MÁXIMO (GO ou Gmax) Segundo Stroud (1988), Go pode ser avaliado por: Para argilas lateríticas, Barros (1992) sugere: TENSÃO DE RUPTURA DE FUNDAÇÕES DIRETAS EM AREIAS Segundo Décourt (1991b e 1995), Briaud e Jeanjean (1994) a tensão convencional de ruptura de fundações quadradas, rasas, em areias, pode ser aproximadamente avaliada por: Cumpre esclarecer que a ruptura acima considerada não é a física mais sim a convencional, definida como a carga correspondente a uma deformação de 10% da largura da sapata. TENSÃO DE RUPTURA DE PONTA E DE ATRITO LATERAL EM ESTACAS Esse tema deverá ser pesquisado junto ao Capítulo 8, do livro HACHICH, W; FALCONI, F F; SAES, J L. Fundações - Teoria e Prática, 2a Edição, Editora PINI, São Paulo, 2012. PRESSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO DE ARGILAS (’p) Para os solos da BSTSP, Décourt (1989) sugere: BIBLIOGRAFIA CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e suas Aplicações. Vol. 1, 2, 3. Editora LTC, Rio de Janeiro, 4ª/6ª ed. 2012/2013/2014. HACHICH, W ; FALCONI, F F ; SAES, J L. Fundações - Teoria e Prática, 2a Edição, Editora PINI, São Paulo, 2012. VELLOSO, D.; LOPES, F.R. Fundações: Fundações Profundas. Volume 2, Editora Oficina Texto/COPPE-UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.
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