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RELATORIO BATUIRA certo

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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP
Instituto de Ciências Humanas
Curso de Psicologia
RELATÓRIO DE VISITA AO INSTITUTO ESPÍRITA BATUÍRA DE SAÚDE MENTAL
Goiânia/ Dezembro
2016
UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP
Instituto de Ciências Humanas
Curso de Psicologia
RELATÓRIO DE VISITA AO INSTITUTO ESPÍRITA BATUÍRA DE SAÚDE MENTAL
Relatório apresentado a UNIP como requisito parcial da disciplina de Psicopatologia Especial, sob a orientação da Professora Ms. Elaine Miranda.
Goiânia/ Dezembro
2016
RELATÓRIO
I – Identificação
Autora: Gleides Aparecida Ramos Ribeiro - RA: B7120D9, estagiária supervisionada pela Professora Msª. Elaine Miranda, CRP 009/3426.
Interessados: Universidade Paulista – UNIP;
 Instituto Espírita Batuíra De Saúde Mental.
Assunto: Realização de oficinas terapêuticas;
 Entrevista técnica de um paciente psiquiátrico.
Período de avaliação: maio de 2016 a dezembro 2016 
II - Descrição da Demanda
As visitas propostas pelo programa de estágio supervisionado, teve como intuito a vivência no ambiente psiquiátrico da Instituição Espírita Batuíra de Saúde Mental, no qual acolhe pacientes em sofrimento psíquico e dependentes químicos em geral. A instituição está de acordo com as diretrizes estabelecidas pela Lei no 10.216, de 6 de abril de 2001. Onde descreve que o ambiente deve proporcionar os direitos das pessoas com transtornos mentais. No parágrafo único da referida lei estão descritos os direitos tais como:
“Acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde; ser tratada com humildade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde; visando alcançar sua recuperação pela inserção na família e na comunidade; receber o maior número de informação a respeito de sua doença e de seu tratamento; ser tratada preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. ”
	
As visitas realizadas na Instituição foram permeadas por oficinas terapêuticas e entrevista com um paciente. As oficinas terapêuticas proporcionam o acesso ao mundo psíquico dos pacientes, além da sua ressocialização, para Gabbard (1998), as oficinas terapêuticas têm o papel de ressocialização e reabilitação psicossocial dos usuários. 
Já a entrevista tem como papel aprofundar em uma pesquisa sistemática da vida do paciente, Dalgalarrondo (2008, p. 66), relata que a “técnica e a habilidade de realizar entrevistas são atributos fundamentais e insubstituíveis do profissional de saúde geral”. Ele afirma ainda a importância do acolhimento ao paciente em seu sofrimento, ressalta a importância do profissional treinar sua escuta além do seu interesse. Durante a entrevista o paciente traz muitas informações pertinentes ao seu sofrimento e o feeling do terapeuta neste momento faz a diferença no decorrer do tratamento, transmitindo ao paciente confiança e segurança. O entrevistador tem vários instrumentos para realizar a entrevista, neste contexto foi utilizado como instrumento o Questionário de História Vital de Lázarus (1980), no qual tem intuito de obter mais dados acerca da história de vida do paciente.
Portanto o objetivo das visitas e entrevista foi aprofundar os conhecimentos relacionados ao mundo psiquiátrico, vivenciar as atividades entre pessoas em sofrimento psíquico. Podendo promover o exercício da cidadania a expressão de liberdade e ressocialização, além de humanizar e compreender o outro em sua totalidade.
III - Procedimentos
Foram realizadas três visitas na Instituição Espírita Batuíra de Saúde Mental, sendo duas visitas técnicas e uma visita para entrevista com um dos pacientes, todas com duração de uma hora e quarenta minutos.
 A primeira visita foi realizada no dia 25 de maio de 2016, com o objetivo de conhecer a instituição e sua estrutura física, nesta visita pode-se observar que a instituição é constituída por uma equipe multidisciplinar contando com equipe de serviços gerais, técnicos de enfermagem, uma psicóloga, terapeutas ocupacionais, nutricionista, assistente social, médicos psiquiatras e médicos plantonistas que compõem a estruturação funcional. A instituição realiza atendimento e acolhimento a pacientes em estágio de recuperação encaminhados pelos Sistema Único de Saúde (SUS), são aceitos pacientes de ambos os sexos, com idade superior a 18 anos.
Em relação a sua estrutura física a Instituição conta com 130 leitos, divididos entre a ala masculina e feminina, farmácia, cozinha, refeitório, sala de atendimento psicológico, pátio, salão de preces, entre outros. Os pacientes da instituição contam com atendimento de enfermeiros e médicos 24 horas por dia. Além do atendimento psiquiátrico a Instituição é responsável pela alimentação e vestimentas dos internos.
A segunda visita foi realizada no dia 26 de outubro de 2016 por um grupo constituído de quatro estagiários, foi realizado a oficina de criatividade terapêutica, foi proposto a pintura no pratinho de isopor com tinta guache e pincéis, com intuito de observar a postura, interação e a dinâmica utilizadas pelos pacientes. No decorrer da atividade alguns pacientes mostraram-se participativos, possibilitando interação e abertura para o diálogo sobre si. Com a conversa descobrimos seus nomes, surgiram assuntos sobre suas famílias, sobre seus possíveis transtornos, dentre as perguntas abertas obteve-se em alguns casos respostas lógicas e em outras confusas. 
Pode-se ilustrar está segunda visita com Guerra (2004), que diferencia as oficinas como recurso terapêutico, onde o sujeito tem a possibilidade de trabalhar com o concreto, segundo sua definição é a “Materialidade do Produto”. Neste sentido as oficinas podem produzir efeitos subjetivos e socializantes. Estariam as oficinas, segundo a autora, num campo inédito onde se une clínica e política. Pode se entender aí como política o lidar nas relações dos participantes das oficinas. Nesta convivência das oficinas o sujeito vai se introduzindo na cultura, "inserir-se em alguma forma de liame social, ou seja, participar de um conjunto de signos que o inscrevam enquanto ser social e político à medida que lhe for possível" (GUERRA, 2004).
Na terceira visita foi realizado a entrevista com o paciente, Leonardo Lúcio Pinheiro. Caballo e Simón (2005), definem que a entrevista é uma fonte de dados sobre o comportamento do paciente além de ser uma intervenção verbal, realizada entre duas pessoas ou mais, no qual se desenvolvem uma complexa rede de influências, não sendo completamente previsível, sendo possível identificar e definir o problema, e descobrir os comportamentos metas ao qual se deseja modificação.
IV – Analise 
Na segunda visita foi realizada a Oficina de criatividade terapêutica, participaram desta atividade três mulheres, Maria Aparecida, Maria Bonfim e Marlene com idades entre 30 e 50 anos. Cada uma teve a sua particularidade e pude realizar observações individuais.
Durante a visita a paciente Maria Aparecida, demonstrou ser espontânea dando abertura para perguntas e relatando seus sentimentos e gostos, principalmente com a pintura, Maria relatou que gosta muito de pintar e logo pediu ajuda para que pudesse iniciar seus desenhos, relatou também que gosta da cor vermelha por representar o amor e que gostaria de pintar uma casa, diante o material de pintura, de forma livre com traços finos, desenhou uma casa, e um casal, segundo ela é o seu amor, expondo assim, seu desejo de ter uma casa e relacionamento.
Não muito diferente a paciente Maria Bonfim, muito falante, já foi demostrando sua vontade em desenhar uma boneca e dizendo que sua cor preferida é amarela, em seguida pegou sua tinta preferida e começou então seu desenho, demonstrou um pouco de dificuldade, pois estava com suas mãos tremulas. A paciente começou a ficar insatisfeita com seu desenho dizendo que estava ficando feia sua pintura que não daria conta. Maria Bonfim ao fazer seu desenho estava colocando muita força no pincel contra o prato de isopor, como já estava dizendo que não conseguiria
para estimula-la a continuar a atividade falei que ela é capaz de fazer o desenho e dei dicas para que ele conseguisse com mais facilidade, falei para passar o pincel com menos força no prato, assim, de seu jeito ela foi lentamente pegando a tinta com o pincel e de forma forte pressionando o pincel com um pouco a mais de tinta até conseguir finalizar o desenho. Ao descrever o que havia desenhado falou que seria sua boneca amarela e um tapete, revelando no final que era seu quarto com a boneca na cama e o tapete no chão.
Dentre as pacientes Maria Aparecida e Maria Bonfim tive a oportunidade de manter um diálogo longo e com mais detalhes com a paciente Marlene, ela foi a última a juntar-se ao grupo, logo que se sentou expôs sua vontade de pintar e já foi pegando o material e pedindo para deixá-la pintar, pois, gostava muito, aproveitando sua espontaneidade iniciei um longo diálogo com a paciente, podendo saber além de seu nome e sua idade uma pouco mais de sua história e de sua família, de forma bem livre e clara, relatou que tem cinquenta anos, três filhos, nora e netos. Marlene posicionou-se dizendo que precisava ir embora da instituição, sem parar a pintura continuou falando sobre sua vida, mantendo sempre o contato visual e insistindo que precisava ir embora logo, quando questionada o motivo, falou que tinha que sair, pois, tem um bebê. Ao perguntar a ela a idade de seu bebê, respondeu sorrindo que - “ele tem oito anos, mas para mim é meu bebê”. 
Preocupada com sua família disse que precisa sair logo da instituição, se não iria perder seu benefício do bolsa família. Questionando sobre o que mais ela fazia e porque estava internada, ela relatou que é cabelereira e que trabalhava em casa de família. Marlene afirma que é provedora de sua família, porém está desempregada. Para conseguir trabalho ficou dias e noites perambulando e não encontrava, foi quando sua nora a internou. A paciente relata que os médicos a diagnosticaram com depressão. Marlene insistiu em pedir ajuda para sair da clínica, pois segundo ela tem uma dívida de alto valor e que não sabe o que fazer para pagar, pois segundo ela, vive em uma situação precária com sua família.
Para ter certeza de seu possível diagnóstico peguei informações com a terapeuta ocupacional, no qual relatou que a paciente Marlene era nova no local, realmente o possível diagnóstico dela é de depressão, falou sobre sua conduta na instituição em relação aos demais pacientes, mostrando ser calma e participativa nas atividades. Por mais que não esteja diagnosticado com certeza o transtorno de Marlene para classifica-la como transtorno depressivo segundo o DSM V (2014, p. 155) as características pertinentes ao transtorno Depressivo são: “humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo”. Segundo Dalgalarrondo (2008, p.307), a síndrome depressiva “caracteriza-se por uma multiplicidade de sintomas afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos e cognitivos, relativos à auto valoração, à vontade e a psicomotricidade”. Tais características mencionadas pelos autores ainda devem ser confirmadas na paciente Marlene, não podendo ainda ser afirmado que a mesma tem o transtorno, pois ainda está em fase de avaliação na clínica. 
	Ao concluir as visitas pode-se perceber que as paciente que participaram da oficina terapêutica, teve a oportunidade de expressar seus desejos e medos através de uma livre expressão, com um momento lúdico, assim como Carvalho (1995), defende a ideia de que é preciso ensinar aos pacientes os rudimentos da linguagem plástica para que possam expressar suas ideias e emoções. Ela descreve que uma atitude terapêutica deve estar baseada na aceitação, permissividade responsável, reflexão, limite, censura e acolhimento. E nessas duas visitas foi possível identificar as descrições da autora. 
Para finalizar o programa de estágio na Instituição Espírita Batuíra de Saúde Mental, foi realizado no último encontro a entrevista com o paciente Leonardo, a entrevista manteve a duração de uma hora e quarenta minutos. O paciente tem 43 anos, está na instituição a 4 dias, porém já esteve em outras instituições e estava em acompanhamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) há duas semanas, o paciente tem como hipótese diagnóstica transtorno bipolar e esquizofrenia. Leonardo foi levado a instituição pelo irmão no qual relata que o paciente não toma a medicação quando está em casa, tornando-se agressivo com os familiares, passa vários dias na rua, tem insônia, torna-se confuso com alucinações visuais e auditivas. 
A entrevista realizada com Leonardo teve como base o Questionário de Lázarus, o paciente relata ter tido uma infância normal, reconhece que quando está em casa não toma seus medicamentos e que fica muito agressivo. Revela já ter usado drogas e utiliza ocasionalmente bebidas alcoólicas. Apesar do Questionário de Lázarus ser um instrumento preciso, não foi possível obter muitas informações do paciente, pois o mesmo estava sob efeito de medicamentos e em muitos momentos da entrevista respondeu de forma confusa. Como por exemplo quando relata que sua cunhada o deixou trancado em um quarto por um dia, diz que quer vender a sua casa por R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais) para comprar um salão de cabelereiro, tem vontade de trabalhar, vontade de ganhar dinheiro.
	Conforme ressaltado no DSM-V (2014, p. 99), para que seja considerado como Transtorno Esquizofrênico deve-se conter pelo menos duas das seguintes características: “delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento catatônico, sintomas negativos”. Além de observar as características citadas deve averiguar a frequência que ocorre os episódios do transtorno. O paciente Leonardo já tem recorrência e utiliza medicação para auxílio do tratamento que são Haldol e Fenergan. O paciente tem também como hipótese diagnostica o transtorno bipolar que segundo Dalgarrondo (2008, p. 316) “caracterizam-se por seu caráter físico, episódico, semelhante ao de outros transtornos mentais e neurológicos. ”
Por fim observei que o paciente entrevistado tem características dos possíveis diagnósticos realizados, o mesmo já realiza o tratamento, porém tem realizado de forma intermitente o que prejudica a qualidade e eficácia do tratamento e medicamentos utilizados, além do uso etílico que não deveria ser utilizado diante da administração medicamentosa. O paciente tem ciência de seu transtorno e sabe que para não causar problemas para família é importante que siga o tratamento. Para que ele consiga ter uma melhor qualidade em sua vida seria indicada que tenha um acompanhamento multiprofissional e um acompanhamento rigoroso de seus familiares.
V - Conclusão
O objetivo desses encontros foi de reconhecimento das diferentes formas de adoecimento psíquico. Nas oficinas terapêuticas com os usuários dos serviços de saúde mental foi possível perceber os discursos desorganizados, ficando presente às características de cada transtorno apresentado nos pacientes. As atividades realizadas nas visitas, foram uma forma dos usuários poderem expressar sua criatividade, demonstrar suas habilidades, seus medos, suas angústias, sonhos, suas expectativas etc. Segundo Gabbard (1998), as oficinas têm um papel de ressocialização e reabilitação psicossocial dos usuários. Percebe-se que eles gostam da nossa presença no local, pois, é uma forma deles perceberem que não estão sozinhos e que a “loucura” não é algo particular de cada um. 
A atividade proposta de pinturas permitiu que os internos expressassem e falassem um pouco de si, sendo sim foi possível aprofundar em alguns casos. Ao realizar as oficinas terapêuticas percebe-se a diferença que faz no contexto da instituição psiquiátrica, pois nos mostrou a essencialidade e eficácia como uma das práticas de metodologias que desenvolvem um trabalho aos portadores de transtorno mental, o que permite um real conhecimento no que se refere à reconstrução de saberes e de
reflexões acerca do bem-estar destes usuários. Com essas atividades pode-se abordar questões relativas à sensibilização e podemos percebê-los enquanto sujeito biopsicossocial.
Em muitos casos clínicos, foi observado que o indivíduo é assujeitado e que acaba perdendo seu rotulo de normal para receber a sua titulação de esquizofrênico, depressiva, louco, entre vários outros rótulos utilizados até mesmo dentro do ambiente profissional psiquiátrico, fato que deveria ser mudado, pois estas pessoas estão em seus limites e o que menos precisam são de rótulos discriminativos, rótulos que fazem com que esses indivíduos sejam excluídos da sociedade “normal”. Vale ressaltar que esses pacientes psiquiátricos, quando recebem o tratamento adequado, tem condições de socializar com aquela sociedade que chamamos de “normal”, tendo a capacidade cuidar dos filhos, da casa, ter uma profissão, estudar, em fim tem uma vida dita normal dentro de sua subjetividade. 
Goiânia, 23 de novembro de 2016.
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Estagiária
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Profª. Ms. Elaine Miranda – CRP: 09/3426
Professora Supervisora de Estágio Psicopatologia Especial
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 10.216 de 06 de abril de 2001: Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília: Planalto: 2011.
CABALLO, V. E; SIMÓN, M. A. Manual de Psicologia Clínica Infantil e do Adolescente – Transtornos específicos. São Paulo: Santos, 2005.
CARVALHO, M. Margarida. A arte cura. São Paulo: PSY 11, 1 995.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2º ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
DSM-V Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais 5º ed. 2014.
GABBARD, G. Psiquiatria psicodinâmica. Porto Alegre: Artemed. 1998.
GUERRA, A. M. C. Oficinas em Saúde Mental: Percurso de uma História, Fundamentos de uma Prática. In Oficinas Terapêuticas em Saúde Mental – Sujeito, Produção e Cidadania. Rio de Janeiro. Contracapa. 2004.
LAZARUS, A.A, Psicoterapia Personalista: uma Visão Além dos Princípios de Condicionamento. Interlivros, 1980.
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