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Os Filósofos e Teoria Contratualista

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INTRODUÇÃO
A Filosofia é o estudo das inquietações e problemas da existência humana, dos valores morais, estéticos, do conhecimento em suas diversas manifestações e conceitos, visando à verdade; porém, sem se considerar como verdade absoluta, nem tentando achar essa máxima como verdade absoluta.
Ela se distingue de outras vertentes de conhecimento como a mitologia grega e a religião, visto que tenta, por meio do pensamento racional, explicar os fenômenos e questões humanas. Mas também não pode ser igualada, em termo de métodos, às ciências que têm a pesquisa empírica e experimentos práticos como fundamentos, uma vez que a Filosofia não se atém (não sendo descartada essa hipótese) a experimentos. Os métodos dos estudos filosóficos estão fundamentados na análise do pensamento, experiências práticas e da mente, na lógica e na análise conceitual.
A Filosofia clássica foi o berço de todas as ciências, onde o ser humano começou a cortar o laço com a mitologia comum, e a buscar respostas para as grandes questões da vida. Explicações "divinas" já não satisfaziam completamente as pessoas que buscavam conhecimento principalmente por meio da Razão Humana.
A palavra Filosofia ou [amor ao conhecimento] foi utilizada pela primeira vez pelo pré-socrático Pitágoras por volta do século VI a.C. quando se inicia a necessidade do homem de buscar o conhecimento por meio da razão. Os filósofos da época se situaram em um quadro social e cultural, que durou cerca de mil anos e que constitui a época antiga, terminada no ano de 476 d.C., quando caiu o Império Romano em mãos das novas nações do Ocidente.
FILÓSOFOS CLÁSSICOS
Sócrates, Platão e Aristóteles formam a tríade do período clássico, pois são considerados os verdadeiros inauguradores da Filosofia, formulando teoria não só sobre o mundo, mas também sobre o homem e sua alma.
Sócrates
469 a. C – 399 a.C. Atenas, Grécia Antiga.
Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental, é até hoje uma figura enigmática, conhecida principalmente através dos relatos em obras de escritores que viveram mais tarde, especialmente dois de seus alunos, Platão e Xenofonte, bem como as peças teatrais de seu contemporâneo Aristófanes. 
Sócrates ficou conhecido por não publicar nenhum livro de sua autoria porque segundo ele "os livros não discutem" e por aceitar a pena de morte imposta a ele sob a acusação de corromper os jovens, ou seja, de promover o livre pensar.
Foi contemporâneo dos sofistas – homens que criaram uma crítica social. Se ocupava das pessoas e de suas vidas, levando-as a refletir por si mesmas sobre coisas como os costumes, o bem e o mal. Se diferia dos sofistas por não se considerar um sábio, não cobrava por seus ensinamentos e tinha a convicção de que nada sabia. Era um racionalista convicto e em 399 a. C foi acusado de corromper a juventude e de reconhecer a existência dos deuses. Foi julgado, considerado culpado e condenado à morte.
Platão
428 a.C. - 348 a.C.  Atenas na Grécia Antiga.
Platão, cujo verdadeiro nome era Aristócles, nasceu em Atenas em 428 a.C e lá morreu em 347. Platão é um nome que, segundo alguns, derivou de seu vigor físico e da largueza de seus ombros (platôs significa largueza). 
Ele era filho de uma abastada família, aparentada com famosos políticos importantes, por isso não espanta que a primeira paixão de Platão tenha sido a política. Fundou a Academia em Atenas, a primeira instituição de ensino superior do mundo ocidental.
Mundo das ideias: Platão acreditava na dualidade humana, ou seja, que o homem possui um corpo (que flui e uma alma imortal (a morada da razão). Ele também achava que a alma já existia antes de vir habitar nosso corpo (ela ficava no mundo das ideias) e que quando passava a habitá-lo, esquecia-se das ideias perfeitas. Também pensava que alma desejava se libertar do homem e isso propiciava um anseio, uma saudade, que chamou de EROS (amor).
Aristóteles
384 a.C. - 322 a.C.  Estagira, Norte da Grécia Antiga.
Filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, Aristóteles e é considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos e criador do pensamento lógico. Prestou contribuições importantes em diversas áreas do conhecimento humano: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural. Filho de Nicômaco, amigo e médico pessoal do rei macedônio Amintas II. Com cerca de 16 ou 17 anos partiu para Atenas, maior centro intelectual e artístico da Grécia. Estudou por vinte anos Academia platônica. Mudou-se para Assos, fundou um pequeno círculo filosófico. Lá ficou por três anos e casou-se com Pítias. Em 336 a.C, voltou a Atenas, fundou Liceu, onde ensinava ao ar livre, muitas vezes sob as árvores que cercavam a escola. O Liceu privilegiava as ciências naturais. 
Aristóteles, reconhecido como o maior filósofo do mundo, criou a lógica, com o seu silogismo. O silogismo de Aristóteles pode ser definido assim: é um trio de termos, no qual o último, que é a conclusão, contém uma verdade que se chega através das outras duas. A é B, C é A, portanto C é B. O exemplo clássico de silogismo pode ser dado pelo trio de frases a seguir: A. Todos os homens são mortais B. Sócrates é homem. C. Logo, Sócrates é mortal. 
Foi discípulo de Platão mas discordou do mestre. Para ele, o mundo das ideias não corresponde à verdade. Não acreditava que existisse um mundo das ideias abrangedoras de tudo que existe; achava que a realidade está no que percebemos e sentimos com os sentidos, que todas as nossas ideias e pensamentos tinham entrado em nossa consciência através do que víamos e ouvíamos e que o homem possuía uma razão inata, mas não ideias inatas. Acusado de infidelidade ao mestre declarou: “Amigo de Platão, mas mais amigo da verdade”.
Obra Aristotélica A filosofia de Aristóteles é um sistema de relação e de conexão entre as várias áreas pensadas por ele. Seus escritos falam sobre praticamente todos os ramos do conhecimento de sua época (menos as matemáticas). Dividiam-se em 'exotéricas' e 'acroamáticas'. As exotéricas eram obras de caráter introdutório dirigidas ao público em geral e compostas na forma de diálogo. As acroamáticas, eram destinadas apenas aos discípulos do Liceu e compostas na forma de tratados. O conjunto das obras de Aristóteles é conhecido entre os especialistas como corpus aristotelicum. 
Marco Túlio Cícero
106 a.C – 43 a.C. Arpino, Itália
Advogado, político, escritor, orador e filósofo romano, recebeu aprimorada educação, com os maiores oradores e jurisconsultos de sua época.
Seu primeiro triunfo no Fórum de Roma ocorreu em 80 a.C., quando defendeu Sextio Róscio Amerino, num processo que assumiu importância política, pois contra o acusado estava o ditador Sila. Para escapar à vingança, Cícero viajou para a Grécia, onde se dedicou ao estudo da filosofia. Voltou a Roma depois da morte de Sila, já com grande prestígio.
Em 76 a.C. foi eleito questor para servir na Sicília, fazendo-se respeitar pelo povo como administrador justo. Sua reputação cresceu em 70 a.C., com a acusação ao ex-governador da Sicília, Caio Licínio Verres, por extorsões. Pouco depois foi eleito edil (69 a.C.) e pretor (66 a.C.).[1: Administrador financeiro na Roma antiga. Os questores coletavam impostos e supervisionavam o tesouro e a contabilidade do Estado. Em cada província romana, um questor pagava o exército e os funcionários do governo, coletava impostos e era a principal autoridade depois do governador da província.][2: Vereador; cada um dos funcionários que, eleitos pelo povo, fazem parte do poder legislativo, da câmara municipal, de uma cidade.][3: Funcionário da justiça na Roma antiga. Os cidadãos apresentavam suas queixas ao pretor e este decidia quais eram justificadas e as despachava para serem julgadas pelos juízes. Quando um pretor assumia o cargo, publicava um edito que estabelecia a maneira como interpretaria a lei ao conceder julgamentos. Cada novo pretor em geral copiava ou melhorava os editos dos pretoresanteriores.]
Como pretor, Cícero fez seu primeiro pronunciamento político importante ao reivindicar para Pompeu o comando das tropas romanas, com o apoio dos "optimates" (elementos conservadores do Senado). Em 63 a.C., eleito cônsul, tem duas vitórias expressivas: defende, com êxito, o senador Caio Rabírio contra a acusação de traição lançada por Júlio César, e denuncia a conspiração do anarquista Catilina, pronunciando as quatro célebres "Catilinárias".
Ainda contra a vontade de César, pede ao Senado a morte dos conspiradores, sem julgamento, o que é aprovado. A ameaça de Catilina havia unido todos os conservadores, e Cícero, no auge da sua carreira, aclamado como salvador da república, pretende estabelecer a política do "acordo entre as classes".
Para realizar seu propósito, necessitava de forte apoio político e pensou encontrá-lo em Pompeu, mas este se uniu no primeiro triunvirato a César e Crasso, permitindo a eleição de Clódio, inimigo político de Cícero, para o tribunato. Ameaçado por Clódio, que substituía César em Roma durante a guerra na Gália, Cícero exilou-se.
Um ano mais tarde, volta em triunfo a Roma, chamado por Pompeu, mas evita os compromissos políticos, dedicando-se a escrever livros. O assassino de Clódio deu-lhe oportunidade de defender o criminoso, mas, tendo que se submeter às novas regras processuais, não conseguiu ler o elaborado discurso que havia preparado, o que provocou a condenação do réu, Milone.
No ano seguinte, Cícero foi designado como procônsul, para o governo da Cilícia. Ao regressar, no final do ano 50 a.C., encontra Roma mergulhada na guerra civil entre as tropas de Pompeu e César. Ligado ao primeiro, abandonou-o, contudo, após a derrota de Farsália, mas, tornando-se suspeito tanto aos olhos dos vencidos como aos dos vencedores, teve de esperar pelo perdão de César para voltar a Roma.
Cícero permaneceu afastado da política por quase dois anos, elaborando suas obras filosóficas. Em 44 a.C., contudo, o assassinato de César permite a ascensão de Marco Antônio, cujas ambições ditatoriais Cícero denuncia nas veementes "Filípicas". Na última das "Filípicas", ele exalta a vitória de Otávio, filho adotivo de César, cujas reivindicações estimulara contra Marco Antônio.
Otávio, no entanto, vencedor na guerra, constitui com Marco Antônio e Lépido o segundo triunvirato. Seguem-se as execuções dos oposicionistas, e Cícero é um dos primeiros a cair, em dezembro de 43. Sua cabeça e suas mãos decepadas são expostas ao povo nas tribunas dos oradores no fórum romano.
Cícero teve um caráter indeciso, além de exagerada vaidade, e cometeu numerosos erros políticos. Sempre subestimou seus oponentes e exagerou as virtudes dos amigos. Parecia não compreender a debilidade fundamental da administração da república romana: ausência de mecanismos asseguradores da lei e da ordem e o controle dos exércitos. Mas sua honestidade, patriotismo e dons intelectuais são incontestáveis. De temperamento moderado e oportunista, soube mostrar grande energia ao debelar a conspiração de Catilina e opor-se a Marco Antônio, no fim da vida.
TEORIA CONTRATUALISTA	
O que é Contratualismo: 
Contratualismo é um conjunto de correntes filosóficas que explica a origem e a importância da construção das sociedades e das ordens sociais para o ser humano. De um modo geral, o contrato social ou contratualismo consiste na ideia de um acordo firmado entre os diferentes membros de uma sociedade, que se unem com o intuito de obterem as vantagens garantidas a partir da ordem social.
Assim, os indivíduos abdicam de certos direitos ou liberdades para que possam organizar um governo, liderado por um poder maior ou um conjunto de autoridades.
De acordo com a maioria das correntes teóricas do contratualismo, o medo, a insegurança e a instabilidade da natureza humana garantiram com que os indivíduos pudessem conceder poderes a determinadas pessoas em específico para que pudesse ser organizada uma ordem em suas vidas, garantindo estabilidade e principalmente a segurança.
 Neste sentido, surge o compromisso coletivo de obedecer e acatar as normas estabelecidas pelo governo, assim como este também deve estar ciente das suas obrigações para garantir o bem-estar do povo.
Teorias que explicam o contratualismo emergiram durante os séculos XVI e XVIII, sendo que os principais representantes e filósofos contratualistas da história foram: Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.
2.2. Contratualismo de Hobbes
O Filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) faz parte de uma tradição que reúne tanto o humanismo renascentista passando pelo realismo político de Maquiavel, quanto dos teóricos da lei natural (jusnaturalismo) que procuram justificar a origem das leis civis e do poder político (STRAUSS, 1963; SKINNER, 1996). No que diz respeito a este último aspecto Hobbes é considerado um contratualista, ou seja, é um daqueles filósofos que afirmaram na modernidade que a origem do Estado e/ou da sociedade está em um contrato social (MATTEUCCI, 1998; OAKESHOTT, 1992; POLIN, 1953): “[...] os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização – que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de convívio social e de subordinação política” (RIBEIRO, 2001, p. 53). Contratualismo “ é a doutrina que abarca as teorias políticas que situam a origem da sociedade e a fundamentação do poder político em um pacto social, também chamado contrato, dando o termo contratualismo” (VILALON, 2011, p. 49). Tal pacto representa um acordo entre os indivíduos de uma mesma localidade geográfica e que farão parte do mesmo corpo político.
Além disso, as teorias do homem e do Estado, formuladas por Hobbes (seja no Leviatã ou em Do Cidadão) inserem-se num processo histórico bastante definido: o conflito entre o poder real e o poder do Parlamento, na Inglaterra do século XVII. Em 1689, as forças liberais (inspiradas nas ideias de John Locke) que predominavam no Parlamento inglês derrotaram o absolutismo real. Na introdução de sua obra mais conhecida, Leviatã (1997) (Hobbes usa a figura bíblica do Leviatã: um monstro marinho que representa um animal monstruoso, mas que de certa forma defende os peixes menores de serem engolidos pelos mais fortes. Simbolicamente esta seria a figura que representa o Estado, o poder do Estado absoluto, simbolizado com inúmeras cabeças e empunhando os símbolos dos dois poderes: civil e religioso) Hobbes estabelece alguns pontos principais que pretende trabalhar em sua obra: Como e através de que convenções é feito o Corpo Político? Quais são os direitos e o justo poder ou autoridade de um soberano? O que o preserva e/ou desagrega?
Para o filósofo inglês, a resposta a estas perguntas pressupõem uma análise da própria natureza humana, sendo que o mesmo acredita que o homem não é sociável por natureza. A situação dos homens deixados a si próprios é de anarquia, insegurança, medo. Predominam interesses egoístas e o homem se torna um lobo para o próprio homem (homo homini lupus). O homem em seu estado de natureza (um estágio anterior a vida em sociedade como veremos mais adiante) é agressivo. O estado natural em que o homem se encontra é o estado de “guerra de todos contra todos”. O homem, movido por suas paixões e desejos não hesita em matar e destruir seu semelhante.
 Ao descrever o homem em seu estado natural, o autor do Leviatã aponta a igualdade entre todos como característica básica. Falamos então de uma igualdade de direitos. Esses direitos não têm limites: todos indistintamente têm direito a tudo que lhes aprouver. Não existindo um poder comum que garanta a preservação das posses, a única garantia de que algo vai continuar em poder daquele que o tomou para si é o uso da força e do ataque como formas de defesa. Qualquer bem existente na natureza pertence a todos que o queiram. É comum, por sua vez, que dois ou mais indivíduos se interessem pela mesma coisa. É a partir desse direito, quando dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela sergozada por ambos que surgem as atitudes que irão levá-los à condição de guerra no estado de natureza. A guerra de todos contra todos se refere a essa condição (GOMES, 2006, p. 13).
Todos os autores contratualistas admitem, antes da formação da Sociedade, a existência de um “estado de natureza”. A principal característica do “estado de natureza” e com a qual todos os contratualistas concordam é a ausência de uma organização social.
A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. Porque quanto à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo mesmo perigo (HOBBES, 2003, cap. XIII, p. 106).
Essa passagem é utilizada por Renato Janine Ribeiro (2001) para justificar a ideia hobbesiana de que se, no estado de natureza, eu não sei o que os outros homens desejam, é preciso pressupor com uma certa razoabilidade que existe sempre a possibilidade de um ataque, já que não existe um poder do Estado controlando ou reprimindo. Entregues a si mesmos o conflito de uns contra os outros é a atitude mais racional que se pode adotar. E se dois homens desejarem a mesma coisa, ao mesmo tempo, sendo impossível a ambos gozá-la simultaneamente, é forçoso que se vejam como inimigos. E disto decorre que se alguém planta, semeia, constrói ou possui um lugar cômodo, espera-se que provavelmente outros venham preparados com forças conjugadas, para o desapossar e privar, não apenas do fruto do seu trabalho, mas também da sua vida ou da sua liberdade. Por sua vez, o invasor ficará no mesmo perigo em relação aos outros. E por causa desta desconfiança de uns em relação aos outros, nenhuma maneira de se garantir é tão razoável como a antecipação, isto é, pela força ou pela astúcia subjugar as pessoas de todos os homens que puder, durante o tempo necessário para chegar ao momento em que não veja nenhum outro poder suficientemente grande o ameaçar (HOBBES, 2003, cap. XIII, p. 107-108).
O medo é o grande vilão dessa história. O medo, sobretudo de morte violenta, faz com que o mais seguro a se fazer seja atacar antes de ser atacado. Como não há no estado de natureza um poder comum que mantenha o respeito entre todos, sempre existirá alguém querendo tirar do outro algum objeto de desejo que esteja em suas mãos, inclusive a própria vida.
A ameaça constante, mesmo que não concretizada, caracteriza a condição de guerra que, segundo o filósofo inglês, é típica da condição natural da humanidade. Outra característica de igual importância é a inexistência de um poder comum capaz de manter a paz. Não há nesse estado um poder comum ou leis que proíbam as paixões, acabando com a discórdia. Não pode haver, consequentemente, desobediência ou crime. Não existe bem ou mal, nem noção de justiça ou injustiça. “Para essa situação de discórdia, que é a condição de guerra, Hobbes cita três causas principais: a competição, que visa ao lucro; a desconfiança, que visa a segurança; e a glória, para a qual se procura uma melhor reputação” (GOMES, 2006, p, 14). Ou nas próprias palavras de Hobbes:
 A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os primeiros usam a violência para se tornarem senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros homens; os segundos, para defender; e os terceiros, por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma opinião diferente, e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido às suas pessoas, quer indiretamente aos seus parentes, amigos, nação, profissão ou ao seu nome (HOBBES, 2003, cap. XIII, p. 108).
Ao analisar a natureza humana, Hobbes entende que o homem é movido por suas paixões; que a sua vontade resulta apenas da soma dessas paixões e a liberdade nada mais é do que a ausência de impedimento para a ação. É esse constante estado de insegurança e medo, bem como o desejo de paz, que leva os homens a estabelecerem um pacto e fundar um Estado social, abdicando de seus direitos em favor de um soberano cuja autoridade terá um poder absoluto, encarregado de prescrever leis, julgar, recompensar, punir, escolher seus conselheiros, de fazer a guerra e a paz, enfim.
Com a finalidade de cuidar da própria conservação e de ter uma vida mais satisfeita, o Estado é então instituído. Eis o que é o pacto nas palavras de Hobbes: “Autorizo e transfiro o meu direito de me governar a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires para ele o teu direito, autorizando de uma maneira semelhante todas as suas ações” (HOBBES, 2003, cap. XVII, p. 147). O pacto através do qual se dá a instituição do Estado consiste na submissão de cada um a um representante, para o qual será transmitido o direito ao uso da força para proteção dos representados. Daí aparece a ideia do soberano representante em Hobbes.
O contrato social descrito no Leviatã se encontra diretamente ligado à ideia de representação. A essência do Estado está na pessoa do representante, que é o soberano. Quando há voluntariamente esse acordo entre os indivíduos de se submeterem a um homem, ou a uma assembleia de homens, dá-se a instituição do Estado. É a partir desse consentimento geral, motivado e preservado pela busca de segurança (por medo da morte), que derivam os direitos dos soberanos. A autoridade concedida ao representante contém em si o maior poder do Estado. O poder do representante não encontra poder maior que o que lhe foi concedido, nem mesmo na união daqueles que lhe concederam. Assim é possível em Hobbes o uso da expressão soberano representante, pois ele tudo pode.
 Através do contrato os homens transferem o direito de governar a si mesmo ao soberano que passa agora a representar todos os indivíduos contratantes. O acordo traz implícito a ideia da renúncia deste direito feita por cada um dos indivíduos e aqui temos a teoria da representação como eixo da filosofia política hobbesiana. O fundamento do pacto político está em que cada um dos indivíduos acorda em instituir a “pessoa civil” do Estado como autoridade representativa.
Não existe nenhuma garantia, no estado de natureza, que serão respeitadas as liberdades individuais e, por conseguinte, a ordem e a paz. Basta a mera suspeita de que o outro não respeitará a minha liberdade para que haja desconfiança e desconforto. Cada um se torna rival e adversário cuja consequência última será a guerra com a imposição de um sobre outro (LYRA, 2006; VILALON, 2011). É preciso resolver essa situação através de um poder comum, situado acima dos indivíduos, com direito e força suficiente para impor o cumprimento da ordem, segurança e paz. “Dessa maneira, a sociedade civil só surge com o Estado: é a saída do homem do Estado de Natureza. Para que o homem possa voltar a ter a segurança fundamental para usufruir do seu próprio labor, sem temer a sua própria sobrevivência” (FARIAS, 2013, p. 151).
O Estado, de acordo com Hobbes é instituído quando uma multidão de homens concorda e pactua que qualquer homem ou assembleia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de representá-los (ou seja, de ser seu representante), todos sem exceção, tanto os que votaram a favor como contra ele, deverão autorizar todos os seus atos (do homem ou assembleia de homens), tal como se fossem seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos do restante dos homens (DIAS, 2008, p. 69).
É no momento mesmo em que é firmado o pacto social que surge, por assim dizer, o direito. O contrato social, “[...] em que se transfere autoridade, força e poder a um ou a vários homens que representarãoa vontade da comunidade, coincide com o momento de criação do direito propriamente dito” (MARUYAMA, 2009, p. 54). 
O direito de natureza, liberdade natural do homem, pode, então, ser legitimamente limitado pelas leis da comunidade política. A finalidade da lei é essa restrição, sem a qual, de certo modo, não haveria paz. No Capítulo 26, sobre a lei civil, no Leviatã, Hobbes é enfático: a lei foi trazida ao mundo para limitar a liberdade natural dos indivíduos (MARUYAMA, 2009, p. 57).
 2.3. Contratualismo de Locke
John Locke (1632 –1704) foi um filósofo inglês considerado como precursor e ideólogo do liberalismo – “a mais ponderada e perene alma do liberalismo” (HORTA, 2004, p. 240) e o “pai espiritual do liberalismo moderno” (MONCADA, 1950, p. 203) –, além de ser considerado como o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contratualismo (HORTA, 2002 e 2004): teoria segundo a qual a sociedade surge a partir de um pacto, um contrato estabelecido entre os homens, que faz com que estes abandonem o estado de natureza e se organizem em sociedade. Além disso, o livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da sociedade, o livre consentimento da comunidade para a formação do governo, a proteção dos direitos de propriedade pelo governo, o controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade, são, para Locke, os principais fundamentos do estado civil. 
Considerado um contratualista tal como o filósofo inglês Thomas Hobbes ou o francês Jean-Jacques Rousseau, Locke se distingue de ambos pois a forma como entende essa estrutura (estado de natureza, pacto, estado civil) é bem diversa de Hobbes e Rousseau.
A grande divergência entre os contratualistas é precisamente no tocante às características de tal ordem, o que os levaria a distintas posições acerca do Estado Político que, num dado momento, os cidadãos acordaram em instituir — do autoritarismo hobbesiano ao democratismo rousseauniano (HORTA, 2004, p. 246).
Para Locke o “estado de natureza” não é caracterizado necessariamente por um “estado de guerra” hobbesiano. E embora Locke concorde quanto a possibilidade de existência de um “estado de guerra”, para Locke o estado de guerra se dá quando se usa a força contra a pessoa de outrem e não existe um superior comum a quem apelar. A ausência de uma autoridade superior, um juiz comum com autoridade, coloca todos os homens em um estado de natureza; a força sem o direito sobre a pessoa de outro, onde não há superior comum para chamar em socorro provoca um estado de guerra (LOCKE, 1994). O que caracteriza o “estado de natureza” é, portanto, a vida em comunidade, mas sem uma autoridade superior que dite as normas e as regras de como os homens devem agir. Por isso não há razão para Locke dizer que o que levou os homens a necessidade de criar um acordo, um pacto entre si, foi a necessidade de garantir a sobrevivência da espécie e evitar as consequências do estado de natureza. Para Locke o contrato social surge de duas características fundamentais: a confiança e o consentimento. A partir do momento em que uma determinada comunidade sente a necessidade de administrar as relações sociais, centralizando esta administração em uma figura comum, os membros de tal comunidade chegam a um consenso (consentimento) delegando poderes a um governante que tem por obrigação garantir os direitos individuais já existentes no estado natural como a liberdade, além de assegurar segurança jurídica e o direito à propriedade privada. Essa relação estado-indivíduo para Locke deve ser baseada em uma relação de consentimento e confiança e, uma vez quebrada esta confiança por parte do governante, agindo por má-fé ou não garantindo os direitos individuais ou naturais, deve ser destituída do poder.
Assim, o ponto de partida e a verdadeira constituição de qualquer sociedade política não é nada mais que o consentimento de um número qualquer de homens livres, cuja maioria é capaz de se unir e se incorporar em tal sociedade. Esta é a única origem possível de todos os governos legais do mundo (LOCKE, 1994, p. 141 apud HORTA, 2004, p. 250).
O estado de natureza, relativamente pacífico, não está isento de inconvenientes, como a violação da propriedade (vida, liberdade e bens) que, na falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de força coercitiva para impor a execução das sentenças, coloca os indivíduos singulares em estado de guerra uns contra os outros. É a necessidade de superar esses inconvenientes que, segundo Locke, leva os homens a se unirem e estabelecerem livremente entre si o contrato social, que realiza a passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil. Seu objetivo precípuo é a preservação da propriedade e a proteção da comunidade tanto dos perigos internos quanto das invasões estrangeiras.
Eis como deve ser o contrato para Locke: um pacto de consentimento em que os homens concordam livremente em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os direitos que possuíam originalmente no estado de natureza com a instituição de um governo a fim de proteger os direitos naturais que são: o direito à vida, à liberdade e à propriedade. Estes direitos devem ser assegurados pelo Estado e quando isso acontece os cidadãos lhe devem obediência, caso contrário eles tem todo o direito de se rebelar, como o que aconteceu com a Revolução Inglesa do século XVII que pretendeu coibir os abusos do rei instaurando uma monarquia constitucional. O papel do governo restringe-se a tais garantias. Sua função é “mínima”: proteger a propriedade, defender os cidadãos de ataques externos, preservar a ordem pública e garantir que este contrato seja cumprido.
É preciso considerar que as visões políticas do filósofo inglês se formaram no contexto da Revolução Inglesa se opondo ao regime absolutista. Por isso Locke é considerado como filósofo e teórico da “Revolução Gloriosa” de 1688, que instituiu uma monarquia constitucional (HORTA, 2004). Locke forneceu à posterior a justificação moral, política e ideológica para a Revolução Gloriosa e para a monarquia parlamentar inglesa. Locke influenciou também a revolução norte-americana, onde a declaração de independência foi redigida e a guerra de libertação foi travada em termos de direitos naturais e de direito de resistência para fundamentar a ruptura com o sistema colonial britânico.
A tese contratualista lockeana parte do princípio de que o poder e, consequentemente, a legitimidade desse advém e repousa no consentimento mútuo dos pactuantes, cabendo única e exclusivamente a esses decidir sobre quem e como devem governar. Ora, para Locke, tanto o governante quanto a forma de governo estariam submetidos ao jugo dos membros do pacto, cabendo a esses se insurgirem contra os governantes que deixassem de cumprir as funções para as quais fora designado, ou seja, garantir os direitos naturais. No momento em que o governante deixa de garantir os direitos naturais, colocando em risco a condição de igualdade e liberdade entre os indivíduos, esses retornam ao estado de guerra contra o governante, dissolvendo o Estado e proclamando um novo estado de natureza do qual poderia nascer um novo contrato político (SILVA, 2011, p. 131).
Além disso, um estado de guerra imposto ao povo pelo governo configura a dissolução do estado civil e o retorno ao estado de natureza, caracterizado pela inexistência de um juiz e onde os impasses só podem ser decididos pela força. Para evitar este estado, Locke defende o “direito de resistência”: Locke reconhece a doutrina da legitimidade da resistência contra o exercício ilegal do poder, reconhecendo ao povo, quando este não tem outro recurso ou a quem apelar para sua proteção, o direito de recorrer à força para a deposição do governo rebelde. O direito do povo à resistência é legítimo tanto para defender-se da opressão de um governo tirânico como para libertar-se do domínio de uma nação estrangeira.
Os Dois tratados de Locke, escritos provavelmente em 1679-80, só foram publicados na Inglaterraem 1690, após o triunfo da Revolução Gloriosa. John Locke, como opositor dos Stuart, se encontrava refugiado na Holanda e retornou à Inglaterra somente após o triunfo da Revolução Gloriosa. O século XVII foi marcado pelo antagonismo entre a Coroa e o Parlamento, controlados, respectivamente, pela dinastia Stuart, defensora do absolutismo, contra a burguesia ascendente, partidária do liberalismo. Segundo Jean-Jacques Chevalier, John Locke retornou à Inglaterra no mesmo navio que a nova Mary, esposa de Guilherme de Orange: “A princesa Mary [...] tem por passageiro em seu navio, o Izabella, um cavalheiro afável, médico e filósofo, chamado John Locke — que as circunstâncias levaram a desempenhar um papel ativo como conselheiro político” (1983, p. 29 apud HORTA, 2004, p. 243).
Para Locke, a propriedade já existe no estado de natureza e, sendo uma instituição anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado. Além disso, o direito à propriedade é um direito que deve ser assegurado pelo governo instituído através do contrato social.
 
O homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho. Como a terra fora dada por Deus em comum a todos os homens, ao incorporar seu trabalho à matéria bruta que se encontrava em estado natural o homem tornava-a sua propriedade privada, estabelecendo sobre ela um direito próprio do qual estavam excluídos todos os outros homens. O trabalho era, pois, na concepção de Locke, o fundamento originário da propriedade: “o trabalho é responsável pela maior parte do valor das coisas de que desfrutamos neste mundo” (LOCKE, 1994, p. 107 apud HORTA, 2004, p. 245). E ao situar o trabalho humano como algo que dá valor às coisas, Locke revela seu interesse em economia a partir da ideia do “princípio do valor do trabalho” que será tema nos séculos seguintes (WOLKMER, 2003). Já Luiz Pinto destaca a influência do protestantismo na visão do trabalho em John Locke:
A defesa do trabalho como fundamento originário da propriedade que pode ser interpretada por muitos como uma defesa do capitalismo e de um liberalismo sem limites deve ser vista com ressalvas, pois o filósofo fala claramente no segundo tratado como o homem deve utilizar o seu trabalho sem retirar com isso vantagens para sua existência, evitando todo e qualquer desperdício pois “Tudo o que excede a este limite é mais que a sua parte e pertence aos outros. Deus não criou nada para que os homens desperdiçassem ou destruíssem” (LOCKE, 1994, p. 100 apud HORTA, 2004, p. 246) e a regra de propriedade estabelecida por Locke afirma que “[...] cada homem deve ter tanto quanto pode utilizar [...]” (id., ibidem, p. 246) e foi a instituição do dinheiro que, a partir de um acordo tático entre os homens, estabeleceu um valor para que o homem introduzisse posses maiores e o direito a elas.
Foi o aparecimento do dinheiro que alterou a situação entre propriedade e trabalho. Com o dinheiro surgiu o comércio e também uma nova forma de aquisição da propriedade, que, além do trabalho, poderia ser adquirida pela compra. O uso da moeda levou, finalmente, à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre os homens. Esse foi, para Locke, grosso modo, o processo que determinou a passagem da propriedade limitada, baseada no trabalho, à propriedade ilimitada, fundada na acumulação possibilitada pelo advento do dinheiro.
O debate em torno do direito à propriedade, do valor do trabalho, do comércio, do dinheiro, da moeda e do valor da moeda (ouro e prata) colocam John Locke como um dos precursores da Economia Política, no sentido de que as formulações levadas à cabo pelo filósofo inglês confere um caráter particular à relação entre política e economia, embora seja necessário salientar que a Economia enquanto ciência ainda não existia.
Se nós levarmos em consideração que o surgimento da Economia enquanto ciência está de alguma forma ligada aos princípios do liberalismo, então temos pelo menos uma forte razão para incluir John Locke neste debate, embora Locke não advogue que o princípio da liberdade individual seja aplicado à economia, como o fez claramente Adam Smith. Mas o liberalismo foi um dos responsáveis para que as questões econômicas pudessem de alguma forma estar relacionadas com a política, dando origem à economia política clássica. E como afirma Luiz Pinto: “O individualismo característico do liberalismo econômico encontra suas raízes no protestantismo calvinista, o que Locke aplicou a sua teoria política” (2007, p. 48).
2.4. Contratualismo de Rousseau
Tal como o filósofo inglês Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau sustenta que a sociedade surge a partir de um pacto, um contrato estabelecido entre os homens, que faz com que estes abandonem o estado de natureza e se organizem em sociedade. Contudo, diferentemente de Hobbes, Rousseau sustenta em sua obra, Do Contrato Social, que a soberania pertence ao povo, que livremente deve transferir seu exercício ao governante. Suas ideias democráticas inspiraram os líderes da revolução francesa e contribuíram para a queda da monarquia absoluta, a extinção dos privilégios da nobreza e do clero e a tomada do poder pela burguesia. O filósofo, no conjunto de suas obras, nos alertaria para a complexa relação homem-sociedade enfatizando, sobretudo, as inúmeras formas de “corrupção” do homem pela sociedade. O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe, diz o filósofo. O homem em seu estado natural é um ser puro, desprovido de quaisquer formas de corrupção. Contudo, através do seu convívio na sociedade ele adquire novas “necessidades”, e com elas, surgem novos desejos que objetivam ser realizados. 
Rousseau foi um autêntico teórico revolucionário, assim como Voltaire e Montesquieu. Numa Europa ainda dominada pelo espírito absolutista do Antigo Regime, Rousseau enfrentou sérios problemas uma vez que em sua obra Do Contrato Social, apontava o povo como origem legítima do governo, afirmação que causou a condenação de sua obra e de seu autor pelo parlamento de Paris, além de ter sido decretada sua prisão.
O Contrato Social é um clássico de filosofia e política, um estudo minucioso, profundo e sistemático das teorias políticas em meados do século XVIII. Nele, são discutidas as questões da origem, formação e manutenção das sociedades humanas entendidas sobre a base da celebração de um acordo ou contrato entre os homens. O povo aparece como a origem legítima do poder soberano e não mais a figura do monarca. O povo passa a ser o soberano e o governante (monarca ou administrador eleito) restringe-se à função de agente do soberano. Rousseau torna-se, desta forma, um dos maiores defensores da democracia, forma de governo segundo a qual o poder político deve estar integralmente nas mãos do povo.
Em sua obra Do Contrato Social Rousseau situa duas etapas determinantes do processo de transição do estado de natureza para o estado civil (surgimento da sociedade): primeiro, o início da sociedade civil com a instituição da propriedade privada e, segundo, como simultâneo ao aparecimento das desigualdades sociais, fala da condição natural do homem em contraste com a sua condição social, resultando destas duas condições duas formas de liberdade (natural e social). 
Suas faculdades se exercem e se desenvolvem, suas ideias se alargam, seus sentimentos se enobrecem, toda sua alma se eleva a tal ponto que, se os abusos dessa nova condição não o degradassem frequentemente a uma condição inferior àquela donde saiu, deveria sem cessar bendizer o instante feliz que dela o arrancou para sempre e fez, de um animal estúpido e limitado, um ser inteligente e um homem (ROUSSEAU, 1973, p. 36).
Esse ato de associação produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quantos são os votos da assembleia, e que, por esse mesmo ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. Essa pessoa pública que se forma, desse modo, pela união de todas as outras, tomavaantigamente o nome de cidade e, hoje, o de república ou de corpo político. Quanto aos associados, recebem eles, coletivamente, o nome de povo e se chamam, em particular, cidadãos, enquanto partícipes da autoridade soberana, e súditos enquanto submetidos às leis do Estado (ROUSSEAU, 1973, p. 33-34).
O pacto social que fez surgir a Sociedade civil resultou de um processo que deu origem as desigualdades sociais entre os homens que, por sua vez, surge com a instituição da propriedade privada: “O verdadeiro fundador da sociedade foi o primeiro homem que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer ‘isto é meu’, encontrou pessoas simples e humildes o suficiente para acreditá-lo” (ROUSSEAU, 1973). Rousseau exemplifica dessa forma a instituição da propriedade privada e a hipótese da desigualdade humana para o principal problema da organização política: divisão do trabalho, agricultura, metalurgia, tudo levando à descoberta da propriedade e dela à desigualdade e opressão. A propriedade determina o que é “meu” e o que é “teu” e, como há capacidades diferentes, fatalmente uns terão mais do que outros e quererão manter sua posse e transformá-la em propriedade.
Essa ideia aparece no Contrato quando Rousseau fala sobre o direito do primeiro ocupante. O direito do primeiro ocupante é posterior ao direito de propriedade. A instituição da propriedade, posse por parte de um (o primeiro ocupante) e aceitação pelos demais, aliada ao surgimento da agricultura e metalurgia, produziu a “grande revolução”. As desigualdades, que no estado natural eram “quase nulas” na significação de possibilidades ao homem, tornam-se políticas, e excludentes. Os “ricos” (donos de propriedades) praticam usurpações, e os “pobres” (que não tem propriedade) precisam pilhar para sobreviver.
Não se trata de dizer que não existam desigualdades, mas de refletir sobre o modo como elas existem. Já no Discurso sobre as origens e os fundamentos das desigualdades entre os homens, veremos que Rousseau designa um tipo de desigualdade como sendo natural ou física e o outro tipo como sendo moral ou política:
Concebo na espécie humana dois tipos de desigualdade: uma a que chamo de natural ou física, por ser estabelecida pela natureza, e que consiste na diferença de idades, de saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito ou da alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral, ou política, porque depende de uma espécie de convenção, e é estabelecida, ou pelo menos autorizada pelo consentimento dos homens. Esta consiste diferentes privilégios, de que gozam alguns em prejuízo de outros, como o de serem mais ricos, mais homenageados, mais poderosos ou mesmo o de se fazerem obedecer (1973, p. 48).
O pacto social, na realidade, foi um pacto proposto pelos mais aquinhoados que, ao invés de restabelecer a igualdade e a liberdade naturais, perpetuaria as relações injustas então prevalecentes. Este pacto seria o reconhecimento público da desigualdade e a vitória da propriedade sobre a liberdade.
Por esta sociedade política se constituir numa iniciativa dos “ricos”, este pacto ou contrato de formação da sociedade política assume o caráter de um pacto dos “ricos”. Ou seja, os “ricos” vão tomar a iniciativa de sua constituição. Tratava-se, portanto, de criar um poder político que garantisse, no fundo, a propriedade daqueles que a possuíam.
Neste sentido, podemos dizer que para Rousseau existem dois tipos de contrato: uma factual e outro ideal. Rousseau nos apresenta dois tipos de contrato entre os indivíduos: um que teria sido forjado pelos “ricos”, aqueles que se tornaram os donos da propriedade privada (contrato factual) e outro contrato que deveria ser firmado entre cidadãos livres e iguais (contrato ideal).
Dessa forma, Rousseau afirma que o primeiro motivo que levou os homens a perceberem a conveniência de alguma espécie de contrato foi a tentativa de legitimar o pedaço de terra de que haviam se apossado, transformando-o em propriedade. Deu-se assim um pacto entre os ricos ou proprietários, que convenceram os não proprietários de que seria vantajoso também para eles um contrato em que todos se comprometessem em respeitar e proteger os bens adquiridos por cada um dos contratantes. O que aconteceu então foi uma espécie de pacto no qual alguns tiraram proveito da ingenuidade e pretensa astúcia de outros, fazendo-os acreditar que participavam da fundação de uma sociedade legítima. Falamos em ingenuidade e pretensa astúcia porque todos que concordaram com o pacto imaginavam que um dia também poderiam ter terras (GOMES, 2006, p. 18). 
O que é sugerido, então, é que os associados formem um único corpo que defenda a cada um dos indivíduos que o formam. Esse corpo seria o soberano e sua vontade, que deve ser sempre a única visada, é a vontade geral. Trata-se agora de tornar legítima uma associação já existente.
O pacto social legítimo tende a desfazer as chamadas desigualdades convencionais e restabelecer a liberdade, transformando a liberdade natural em liberdade civil. Esta consiste no fato de que os cidadãos, sendo ao mesmo tempo súditos e soberanos, obedecem às leis que eles mesmos estabeleceram.
O pacto social estabelece entre os cidadãos tal igualdade, que eles se comprometem todos nas mesmas condições e deve todos gozar dos mesmos direitos. Igualmente, devido à natureza do pacto, todo ato de soberania, isto é, todo ato autêntico da vontade geral, obriga ou favorece igualmente todos os cidadãos (ROUSSEAU, 1973, p. 50).
Resumindo: o contrato origina a sociedade, o corpo social. Os indivíduos alienam, em favor do corpo social, o seu poder, os seus bens e a sua liberdade. Mas a primeira forma de contrato não foi legítima, pois, como vimos a origem das sociedades políticas, do primeiro contrato, foi do interesse dos ricos. Somente eles tinham do que se preocupar. Mas então, haveria algum tipo legítimo de Contrato, que possa restabelecer a liberdade e igualdade na sociedade civil, tal como a existente no estado de natureza? É preciso um tipo de contrato que estabeleça o equilíbrio entre os interesses individuais e a força da vontade geral, entre a defesa da propriedade privada e a regulação do abuso dos poderosos, entre a igualdade perante a lei e a igualdade real, como condição e funcionamento do pacto e garantia de inclusão dos mais desprotegidos. Rousseau considera justa uma sociedade política se esta garantir a paz social e a liberdade de seus associados. Isto é possível se a implantação daquela for a expressão da “vontade geral”: o que cada homem quer em comum com todos os demais não reclamando para si mais do que ele pode querer ao mesmo tempo para todos os outros. Ordem política, ordem social, ordem moral. Tudo sustentado, na sociedade legítima, pela harmônica coordenação entre o “eu” e o “nós”. E isto só é possível, segundo Rousseau, se a soberania estiver nas mãos do povo: o contrato social, para ser legítimo, deve ser fundado na democracia. Eis o que é a democracia, no entendimento de Rousseau: 1) o poder político deve estar integralmente nas mãos do povo – que é, de fato, o soberano; 2) a quem, diretamente, cabe a aprovação das leis; 3) um governo que, na execução das leis, se limita a ser ministro da vontade geral.
CONCLUSÃO
O pensamento filosófico-científico, que surgiu por volta do século VI a.C, foi uma ruptura radical com o pensamento mítico e ainda hoje a cultura e o saber ocidental são tributários à mentalidade e à filosofia grega, do período clássico: quando falamos em corpo-alma estamos nos referindo aos conceitos originários de Platão. Quando pretendemos maior clareza de nosso interlocutor, e para isso lhe fazemos uma série de questionamentos, estamos nos reportando a Sócrates. Quando falamos em lógica, organização e sistematização de conhecimentos estão aplicando uma metodologia aristotélica.
Após suas mortes a filosofia entrou em um período de declínio, não por ter perdido qualidade ou preocupação com o saber, mas pelo fato de, por um longo período, não terem aparecidooutros grandes nomes propondo novos sistemas. 
O Contratualismo veio para explicar as formas que nos organizarmos como sociedade, pois o homem deixou viver em grupos isolados e passou a viver em comunidade, com necessidades em comum, tanto no campo da economia política e comportamento social. Os principais representantes do estudo do Contratualismo foram Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.
Para Thomas Hobbes o homem é mau por natureza, só pensa nos seus interesses, e quando o homem deixou de ser nômade e passou a fixar residência, a plantar, criar animais, e com medo de perder o que conquistou, através da força, chegou à conclusão de que o melhor seria a criação do Estado.
Para Hobbes o Estado é instituído por uma multidão de homens que concorda em eleger, em ceder suas liberdades para uma pessoa, ou um grupo de pessoas. 
Para John Locke o homem nasce livre, e por esta liberdade ele compactua livremente com outros homens em formar o Estado que preserve os seus direitos naturais, que são a vida, a liberdade e a propriedade. 
Para Jeans Jack Rousseau, o homem em sua natureza é bom, porem o meio em que ele vive o corrompe, o torna mau. E que o Estado só nasce pela vontade do povo, o povo é soberano, e o Estado simplesmente o seu represente, aquele que vai garantir os interesses do povo que o formou.
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10ª. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1994.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 10ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.
SITES:
http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/contratualismo.htm
https://educacao.uol.com.br/biografias/marco-tulio-cicero.htm
http://origem-da-filosofia.info/
https://www.significados.com.br/contratualismo/
https://sites.google.com/site/aloisiofritzen/Home/fotos/filosofia-conteudos
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