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AVALIAÇÃO DA RESISTENCIA AO CISALHAMENTO DE UM SOLO ARGILOS COM ADIÇÃO DE FIBRAS DE PAPEL KRAFT

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Avaliação da Resistência ao Cisalhamento de um Solo Argiloso 
com Adição de Fibras de Papel Kraft 
 
Daphne Rossana León Mogrovejo 
Unicamp, Campinas, São Paulo, Brasil, daphne_mafis@hotmail.com 
 
Paulo José Rocha de Albuquerque 
Unicamp, Campinas, São Paulo, Brasil, pjra@fec.unicamp.br 
 
RESUMO: O objetivo deste trabalho é verificar a hipótese de que as fibras dispersas de papel Kraft, 
provenientes do processo de reciclagem de embalagens de cimento, podem ser utilizadas como 
estabilizante para melhorar a resistência ao cisalhamento de um solo argiloso. Após realizar ensaios 
em laboratório de caracterização física, compactação e cisalhamento direto com o solo na umidade 
ótima a partir de amostras deformadas, foram realizadas análises comparativas do solo sem fibra 
com as misturas de tal solo com 5%, 10% e 15%, em peso seco do solo, das fibras dispersas de 
papel Kraft. A partir da realização dos ensaios com três repetições, constatou-se um melhor 
desempenho da mistura quando adiciona-se 5% de fibras, resultando um aumento do ângulo de 
atrito da ordem de 48% em relação ao solo sem fibra. Os resultados indicam que a adição deste 
compósito pode ser mais uma alternativa econômica e sustentável para a estabilização de solos. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Solo, Embalagens de Cimento, Reciclagem, Ensaios de Laboratório, 
Avaliação. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Dentre os maiores problemas da atualidade 
enfrentados pela gestão ambiental, pode-se 
destacar o impacto provocado principalmente 
pela grande geração de resíduos sólidos da 
Indústria da Construção Civil e posterior 
descarte na natureza. 
A construção civil é certamente o maior 
gerador de resíduos de toda a sociedade e seu 
impacto ambiental está associado ao uso 
intensivo de recursos naturais não renováveis, 
além de um grande volume de resíduos gerados 
e não aproveitados em sua grande maioria. 
Dentre os materiais descartados das 
construções, pode-se ressaltar o papel Kraft 
multifoliado proveniente das embalagens de 
cimento (sacos). Quase que invariavelmente 
essas embalagens não são reaproveitadas ou 
recicladas após o seu uso nas obras, gerando 
assim, um grande volume deste material. 
Segundo Buson (2009), após sua utilização, 
a embalagem acaba não sendo utilizada pelas 
empresas de reciclagem por encontrar-se 
contaminada pelo cimento. 
O papel utilizado nas embalagens de cimento 
é produzido seguindo as especificações rígidas 
definidas pelos fabricantes e usuários de sacos 
multifoliados. Estas especificações exigem a 
utilização de uma celulose sulfato de alta 
resistência, de fibra longa, geralmente 
empregada pura, o que garante à sua fibra 
excelentes propriedades físicas e mecânicas 
(BUSON, 2009). 
Estes materiais, contudo, possuem 
características importantes e poderiam ser úteis 
do ponto de vista geotécnico, pois muitas vezes 
o solo de um determinado local não apresenta 
as condições adequadas para a aplicação em 
construções. Ele pode ser pouco resistente, 
muito compressível ou apresentar 
características que deixam a desejar do ponto de 
vista econômico. Neste contexto, uma das 
alternativas é avaliar a possibilidade de 
melhorar as propriedades de engenharia do solo. 
O uso da estabilização não está associado 
somente a uma medida corretiva, mais do que 
isso, a uma medida preventiva ou de segurança 
contra condições adversas, que se desenvolvem 
durante a construção ou durante a vida da 
estrutura. 
 
Com base nos bons resultados de ensaios 
físicos e mecânicos obtidos por Buson (2009) 
no desenvolvimento e análise preliminar de 
blocos de terra compactada (BTCs), com a 
incorporação de fibras dispersas de papel Kraft 
provenientes da reciclagem das embalagens de 
cimento, esta pesquisa propõe um método de 
estabilização a partir da adição de fibras 
dispersas de papel Kraft a um solo argiloso, 
para avaliar a melhoria de suas propriedades 
mecânicas, por meio de ensaios laboratoriais; 
ressaltando que esta proposta é pioneira na área 
de geotecnia no Brasil. 
Sendo assim, o desenvolvimento desta 
pesquisa está associado à análise do 
comportamento da adição de 5%, 10% e 15%, 
em peso seco do solo, de fibras dispersas de 
papel Kraft, provenientes da reciclagem de 
embalagens de cimento, na resistência ao 
cisalhamento de um solo. 
 
 
2 ASPECTOS GERAIS SOBRE 
APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS E 
ESTABILIZAÇÕES 
 
2.1. Aproveitamento de Resíduos 
 
Segundo Hiwatashi (1998), a reciclagem é o 
resultado de um processo através do qual os 
materiais que se tornariam lixo, ou estão no 
lixo, são separados, coletados adequadamente, 
triados e processados para serem utilizados 
como matéria-prima pela indústria, envolvendo 
uma série de agentes e atividades sem os quais 
não seria viável a recuperação do resíduo. 
A Norma ABNT NBR 10004/04 ressalta que 
os resíduos nos estados sólido e semi-sólido são 
aqueles que resultam das atividades de origem 
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, 
agrícola, de serviços e de varrição. Ainda 
segundo a Norma em menção, os resíduos são 
classificados quanto aos seus riscos potenciais 
ao meio ambiente e à saúde humana em duas 
classes: Classe I (perigosos) e Classe II (não 
perigosos), sendo esta última subdividida em 
Classe II A (não inertes) e Classe II B (inertes); 
os resíduos de papel e papelão pertencem à 
classe II A, com a codificação A006. 
Conforme Marson et. al. (2010), a Política 
Estadual de Resíduos Sólidos – PERS –, 
estabelecida pela Lei Estadual N° 12300/06 e 
regulamentada pelo Decreto N° 54645/09, 
define as seguintes categorias de resíduos 
sólidos para fins de gestão e gerenciamento: 
resíduos urbanos (provenientes de residências e 
estabelecimentos comerciais); resíduos 
industriais (de atividades industriais, mineração 
e estações de tratamento); resíduos de serviços 
de saúde (de atividades médico-assistencial 
humana e animal); resíduos de atividades rurais 
(da atividade agropecuária); resíduos 
provenientes de portos, aeroportos, terminais 
rodoviários e ferroviários, postos de fronteira e 
estruturas similares; e, resíduos da construção 
civil (de obras de construção civil e afines). 
Conforme a Resolução 307 do CONAMA de 
17 de julho de 2002 e alterada pelas resoluções 
448/12, 431/11 e 348/04, os resíduos da 
construção civil são classificados em quatro 
classes: classe A (resíduos reutilizáveis ou 
recicláveis como agregados); classe B (resíduos 
recicláveis para outras destinações. Ex: papel 
Kraft); classe C (resíduos para os quais não 
foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações 
economicamente viáveis que permitam a sua 
reciclagem ou recuperação) e classe D (resíduos 
perigosos oriundos do processo de construção). 
As experiências bem sucedidas com o 
desenvolvimento de produtos para a construção 
civil utilizando resíduos incorporados são 
impulsionadas, principalmente, pela legislação 
ambiental onde há uma verdadeira política que 
visa reduzir a eliminação direta de resíduos em 
aterros industriais ou sanitários, sem prévia 
valorização ou tratamento (BUSON, 2009). 
O papel Kraft natural para embalagens 
multifoliadas é fabricado com pasta química de 
sulfato não branqueada, essencialmente de fibra 
longa, em geral nas gramaturas de 80 a 90 g/m
2
. 
É altamente resistente ao rasgo e com boa 
resistência ao estouro (BRACELPA, 2013). 
Anualmente são produzidas no Brasil 
aproximadamente 337.000 toneladas de papel 
Kraft natural para embalagens multifolhadas, o 
que equivale a 3,3% da produção brasileira de 
papel (BRACELPA, 2013). Nem todo essepapel é utilizado para o ensacamento de 
cimento, mas caso o fosse, representaria 2,2 
bilhões de embalagens de 50 kg de cimento por 
ano. 
 
A importância do aproveitamento de 
resíduos deve-se basicamente à possibilidade de 
desenvolver materiais com boa qualidade e 
baixo custo a partir de subprodutos industriais, 
disponíveis localmente, por meio da 
investigação de suas potencialidades e à 
interface direta do setor da construção com a 
cadeia produtiva fornecedora de insumos 
(ROCHA E CHERIAF, 2003). 
 
2.2. Estabilizações de Solos com Fibras 
 
Nogami & Villibor (1995) definiram a 
estabilização de solos e materiais relacionados 
(areia, pedregulho etc.), in-situ ou transportado, 
compactado artificialmente, como sendo a 
modificação de qualquer propriedade dos solos 
que melhore seu comportamento mecânico e 
hídrico, quando sob a ação de cargas e das 
intempéries. 
Sabe-se que, a estabilização de solos tem 
como propósito melhorar as propriedades de: 
estabilidade volumétrica, resistência, 
permeabilidade, compressibilidade e 
durabilidade, através dos mecanismos de 
estabilização que podem ser mecânica, física e 
química. 
Os três métodos mais comuns de 
estabilização (química) são: a adição de 
cimento, de cal e de produtos asfálticos. 
Existem outras estabilizações não 
convencionais, mas de aplicação restrita por 
razões econômicas ou de ordem prática. 
Algumas destas são: adição de licor negro Kraft 
(VIEIRA, 1994), de DS-328, de cinzas 
volantes, de vinhoto, de RBI grade 81, de ácido 
fosfórico, entre outras. 
Porém, existe também a possibilidade de 
reforçar materiais e solos com fibras, desde as 
naturais até as fabricadas pelo homem. Suas 
características são inerentes ao tipo de material 
do qual são compostas e seu processo de 
fabricação. As fibras dispersas de papel Kraft 
utilizadas nesta pesquisa, por serem 
provenientes da polpa de celulose das 
embalagens de cimento, encontram-se na 
família das fibras naturais. 
Conforme Bento (2006), a técnica de 
inclusão de fibras no solo é parte integrante da 
tecnologia dos materiais compósitos (que são 
aqueles formados pela combinação de dois ou 
mais materiais, constituindo um conjunto 
polifásico que apresenta duas fases básicas: as 
fibras e a matriz em que as mesmas estão 
incluídas, sendo as propriedades do conjunto, 
superior às de seus componentes em separado). 
No trabalho de Buson (2009), procedeu-se à 
avaliação de diferentes composições de 
materiais em compósitos do tipo Krafterra 
(solos com a incorporação de fibras dispersas de 
papel Kraft e uma fração de cimento) para a 
produção de componentes construtivos do tipo 
Blocos de Terra Compactada – BTCs – e de 
elementos construtivos para vedação vertical. 
Para tal, foram realizados estudos e análises 
com o objetivo de caracterizar o novo material, 
bem como verificar o desempenho físico-
mecânico dos seus componentes e elementos 
construtivos. 
 
 
3 MATERIAL E MÉTODOS 
 
3.1. Solo 
 
Para o desenvolvimento desta pesquisa, optou-
se por utilizar um tipo de solo de textura 
argilosa, proveniente da região Metropolitana 
de Campinas, coletado de escavações em obras 
próximas ao Campo Experimental de Mecânica 
dos Solos e Fundações da Unicamp (FEC) no 
município de Campinas/SP. 
Foram realizados ensaios de caracterização 
física no solo, normatizados pela ABNT. 
 
3.2. Reciclagem das Embalagens de Cimento 
 
Conforme o procedimento de reciclagem das 
embalagens de cimento proposto por Buson 
(2009), mas com algumas modificações feitas 
para esta pesquisa, foram realizados os 
seguintes procedimentos: limpeza das 
embalagens de cimento, fragmentação do papel, 
imersão das embalagens de cimento em água, 
trituração do papel, retirada do excesso de água 
da polpa de celulose e dispersão das fibras de 
papel Kraft em uma argamassadeira. 
Quanto mais eficiente for a retirada da água 
em excesso da polpa de celulose, mais fácil será 
o processo de dispersão das fibras. Entretanto, 
deve-se evitar que a polpa fique totalmente 
 
seca, pois isso dificulta o processo de mistura 
com o solo. 
A Figura 1 apresenta com detalhe a polpa de 
celulose e a fibra obtida no processo. 
 
 
 
Figura 1. Detalhe da polpa de celulose e das fibras dispersas de papel Kraft. 
 
3.3. Mistura Solos - Fibras Dispersas de Papel 
Kraft 
 
Buson (2009) apresenta um roteiro eficiente 
para a ordem de colocação dos materiais na 
mistura do solo com as fibras. Nesta pesquisa 
foram feitas algumas adaptações, conforme 
descrito a seguir: colocação das fibras em uma 
argamassadeira, acréscimo de uma pequena 
parte do solo para cobrirem-se uniformemente 
as fibras dispersas e acréscimo do solo restante 
a esta mistura, alternando com a água 
necessária para obter a umidade ótima de 
compactação. 
 
3.4. Preparação de Amostras e Programa de 
Ensaios 
 
Foram analisadas amostras do solo coletado em 
seu estado natural e quando estabilizado com 
5%, 10% e 15% de fibras dispersas de papel 
Kraft em relação ao peso de solo seco, com três 
repetições de cada ensaio. 
 
3.4.1. Ensaios de Compactação 
 
Os ensaios de compactação foram realizados na 
energia do ensaio Proctor Normal, segundo a 
metodologia descrita na Norma ABNT NBR 
7182/86, para fins de determinação do peso 
específico aparente seco máximo (γdmáx) e da 
umidade ótima (wót) no solo argiloso, no estado 
natural e após a incorporação das fibras. 
 
3.4.2. Moldagem dos corpos-de-prova 
 
Os corpos-de-prova utilizados nos ensaios de 
cisalhamento direto foram moldados nos 
parâmetros ótimos (wót e γdmáx) da energia de 
compactação supracitada. Os solos foram 
compactados dinamicamente no molde do 
ensaio de compactação Proctor com energia 
normal. A amostra compactada foi extraída e a 
partir dela se talharam os corpos-de-prova com 
ajuda de um anel metálico padronizado. Os 
corpos-de-prova mediram aproximadamente 30 
mm de altura e 63,5 mm de diâmetro. 
 
3.4.3. Ensaios de Cisalhamento Direto 
 
Os corpos de prova foram preparados seguindo 
a metodologia proposta pela Norma Técnica 
ASTM D3080/D3080M-11. Para a realização 
dos ensaios de cisalhamento direto, utilizaram-
se tensões normais de 50, 100 e 205 kPa. 
Para a obtenção dos parâmetros de 
resistência (ângulo de atrito (ϕ) e intercepto de 
coesão (c)), utilizou-se a média aritmética dos 
valores obtidos das envoltórias de resistência 
plotadas a partir das tensões de ruptura para 
cada tensão normal. 
Cabe ressaltar que o critério para definir as 
envoltórias foi de Mohr-Coulomb. 
 
 
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 
 
Na Tabela 1, encontram-se as informações 
sobre a distribuição granulométrica (NBR 
7181/84), os limites de Atterberg (LL: NBR 
6459/84, LP: NBR 7180/84 e LC: NBR 
7183/82), o peso específico dos grãos – γs 
(NBR 6508/84) e as classificações segundo os 
 
sistemas USCS (Unified Soil Classification 
System), AASHTO (American Association of 
State Highway and Transportation Officials) e 
MCT (DNER-CLA 259/96). 
 
Tabela 1. Caracterização física da amostra de solo e 
classificações respectivas, segundo os sistemas USCS, 
AASHTO e MCT. 
Propriedades analisadas 
 
 
Granulometria segundo ABNT – NBR 6502/95(%) 
Pedregulho (ϕ > 2 mm) 0 
Areia grossa (0,6 < ϕ ≤ 2 mm) 3 
Areia média (0,2 < ϕ ≤ 0,6 mm) 11 
Areia fina (0,06 < ϕ ≤ 0,2 mm) 17 
Silte (0,002 < ϕ ≤ 0,06 mm) 32 
Argila (ϕ ≤ 0,002 mm) 37 
γs (kN/m
3
) 29,3 
Limites de Atterberg (%) 
Limite de liquidez (LL) 46 
Limite de plasticidade(LP) 32 
Limite de contração (LC) 15 
Índice de plasticidade (IP) 14 
Classificações 
USCS ML 
AASHTO A-7-5 (10) 
MCT LG’ 
 
As classes nas quais se enquadra o solo 
pesquisado neste trabalho são: pela USCS, 
trata-se de um silte inorgânico de mediana 
compressibilidade com areia; pela AASHTO, é 
um solo argiloso, cujo comportamento como 
camada de pavimento é regular a mau e 
apresenta grandes variações de volume entre os 
estados seco e úmido e elevado limite de 
liquidez; e, pela metodologia MCT, é um solo 
laterítico argiloso que apresenta resistência à 
erosão hidráulica quando compactados 
apropriadamente, mas possui colapsibilidade 
em estado natural por imersão em água e alta 
permeabilidade quando apresentam agregados 
bem desenvolvidos. 
Na Tabela 2, encontram-se os valores dos 
parâmetros ótimos de compactação (wót e γdmáx) 
determinados para o solo, bem como para as 
respectivas misturas. A partir dos valores 
apresentados nesta tabela, notou-se que a adição 
das fibras dispersas de papel Kraft foi 
responsável por alterações nos parâmetros 
ótimos de compactação do solo estudado. A 
adição de 5%, 10% e 15% de fibras, em relação 
ao peso seco de solo, promoveu reduções da 
ordem de 4%, 8% e 11%, respectivamente, nos 
valores de peso específico aparente seco 
máximo no solo. Verificaram-se também, 
aumentos da ordem de 5%, 10% e 16%, 
respectivamente, nos valores de umidade ótima 
no solo. 
 
Tabela 2. Resultados dos ensaios de compactação. 
Parâmetros 
Porcentagem de fibras dispersas 
de papel Kraft 
0% 5% 10% 15% 
Peso 
específico 
aparente 
seco 
máximo - 
γdmáx 
(kN/m
3
) 
A 16,1 15,6 14,8 14,4 
B 16,0 15,6 14,8 14,5 
C 16,2 15,5 14,8 14,4 
X 16,1 15,5 14,8 14,4 
Sd 0,086 0,012 0,006 0,049 
CV(%) 0,54 0,07 0,04 0,34 
Teor de 
umidade 
ótima - 
wót (%) 
A 24,9 26,3 28,2 28,6 
B 25,2 26,1 28,3 28,9 
C 24,5 26,2 27,7 29,5 
X 24,9 26,2 28,1 29,0 
Sd 0,315 0,126 0,312 0,486 
CV(%) 1,3 0,5 1,1 1,7 
Onde: A, B, C são as repetições dos ensaios; X é a média; 
Sd é o desvio padrão; e CV é o coeficiente de variação. 
 
O teste de Dunnett (MONTGOMERY, 
2001), ao nível de significância de 5%, mostrou 
que a adição de fibras dispersas de papel Kraft, 
independentemente da porcentagem, diminuiu 
significativamente o valor do peso específico 
aparente seco máximo e aumentou 
significativamente o valor de umidade ótima no 
solo. 
Acredita-se que o aumento da umidade ótima 
com o acréscimo do teor de fibras dispersas de 
papel Kraft nas misturas, esteja relacionado ao 
maior consumo da água das fibras, ou seja, ao 
potencial de absorção. As reduções dos valores 
de peso específico aparente seco máximo 
podem ser atribuídas à formação de flocos, 
estabelecendo-se ligações entre as partículas 
menores e favorecendo (pelo agrupamento 
desses agregados menores formados pela adição 
das fibras) a formação de agregados maiores 
que, consequentemente, produzem um material 
com estrutura porosa. 
Das repetições realizadas nos ensaios, optou-
se por determinar a média das tensões 
cisalhantes máximas para cada tensão normal 
aplicada. Assim, as envoltórias médias para o 
solo e suas respectivas misturas estão ilustradas 
na Figura 2. 
 
 
Figura 2. Envoltórias médias de resistência do ensaio de cisalhamento direto. 
 
Na Tabela 3 encontram-se os valores de 
ângulo de atrito interno e intercepto de coesão, 
determinados a partir das envoltórias de 
resistência de cada ensaio, bem como os valores 
médios, desvio padrão e coeficiente de 
variação. 
 
Tabela 3. Resultados dos ensaios de cisalhamento direto. 
Parâmetros 
Porcentagem de fibras dispersas 
de papel Kraft 
0% 5% 10% 15% 
Ângulo 
de atrito 
interno - 
ϕ (º) 
A 26 37 30 31 
B 25 36 30 33 
C 25 37 32 29 
X 25 37 31 31 
Sd 0,39 0,81 1,29 1,69 
CV(%) 1,5 2,2 4,2 5,4 
Coesão - 
c (kPa) 
A 72 71 67 62 
B 75 85 67 59 
C 76 72 63 66 
X 74 76 66 62 
Sd 1,70 7,89 2,10 3,18 
CV(%) 2,3 10,3 3,2 5,1 
Onde: A, B, C são as repetições dos ensaios; X é a média; 
Sd é o desvio padrão; e CV é o coeficiente de variação. 
 
Analisando os resultados apresentados, 
observou-se que a inclusão de 5%, 10% e 15% 
de fibras dispersas de papel Kraft, em relação 
ao peso seco de solo, promoveu aumentos da 
ordem de 48%, 24% e 24%, respectivamente, 
nos valores de ângulo de atrito do solo. 
Verificou-se também aumento do intercepto de 
coesão da ordem de 3% quando adicionado 5% 
de fibras e redução da ordem de 12% e 16% 
quando adicionados 10% e 15% de fibras, 
respectivamente. 
O teste de Dunnett, ao nível de significância 
de 5%, mostrou que a adição de fibras dispersas 
de papel Kraft, independentemente da 
porcentagem, aumentou significativamente o 
valor do ângulo de atrito e indicou que não 
houve diferença significativa entre os valores 
do intercepto de coesão nos tratamentos com 
5% e 10% de fibras, mas houve diminuição 
significativa no tratamento com 15% de fibras. 
Cabe ressaltar que os valores obtidos dos 
desvios padrão e coeficientes de variação nos 
ensaios de compactação e resistência ao 
cisalhamento são aceitáveis, com valores 
menores do que 10%, indicando que as médias 
obtidas são válidas. 
Na Figura 3 apresentam-se as curvas médias 
da tensão cisalhante vs. deformação cisalhante 
específica horizontal do solo e das misturas 
solo-fibra Kraft. 
0
50
100
150
200
250
0 50 100 150 200 250
Te
n
sã
o
 c
is
al
h
an
te
 τ
 (
kP
a)
 
Tensão Normal σ (kPa) 
solo - 0% fibra Kraft solo - 5% fibra Kraft
solo - 10% fibra Kraft solo - 15% fibra Kraft
 
 
Figura 3. Curvas médias de tensão cisalhante vs. deformação específica horizontal das misturas do solo – fibra Kraft. 
 
É possível observar que a deformação 
cisalhante específica horizontal aumenta 
conforme se eleva a porcentagem de fibras no 
solo estudado. Entretanto, o tratamento com 5% 
de fibras não apresentou grandes diferenças nas 
deformações específicas nem nas variações 
volumétricas, mas os tratamentos com 10% e 
15% acrescentaram ambos os parâmetros, quase 
ao dobro. Acredita-se, então, que a adição 
excessiva de fibras fornece ductilidade ao solo, 
o que faz apresentar maiores deformações e 
variações volumétricas nos corpos de prova dos 
ensaios de cisalhamento. 
As análises estatísticas mostraram que a 
adição de 5% de fibras no solo contribuiu a uma 
melhoria significativa nos valores de ângulo de 
atrito e variações pouco significativas nos 
parâmetros de compactação, quando comparado 
com o solo sem fibra; ademais, a mistura do 
solo com 5% de fibra não apresentou alteração 
na deformação dos corpos de prova dos ensaios 
de cisalhamento, sendo que o inverso aconteceu 
no solo com 10% e 15%. Portanto, com base 
nestas observações, optou-se por fazer uma 
otimização dos resultados do ensaio de 
cisalhamento, isto é, determinar o teor de fibra 
ideal que forneceria o máximo ângulo de atrito, 
realizando algoritmos no software Matlab 7.0, a 
partir do método de diferenças divididas para 
determinar o polinômio de interpolação 
(BURDEN E FAIRES, 2010) que permite 
otimizar o teor de fibra. A partir destas análises, 
verificou-se que o teor ótimo de fibra seria de 
4,7% e o ângulo de atrito máximo atingido seria 
de 37°. 
 
 
5 CONCLUSÕES 
 
O uso das fibras dispersas de papel Kraft está 
diretamente ligado com a preocupação 
ambiental do tema proposto. Entretanto, a 
contribuição deste trabalho não é unicamente a 
possibilidadede utilizar este material tão farto 
na sociedade como estabilizante, mas também 
auxiliar nos estudos para seu descarte. 
Independentemente dos percentuais de fibras 
utilizados nesta pesquisa, os valores de ângulo 
de atrito se elevaram significativamente, sendo 
o melhor resultado apresentado quando 
adicionado 5% de fibras, com um aumento da 
ordem de 48%. A coesão sofreu diminuições 
significativas com 10% e 15% de fibras. 
O possível teor ótimo de fibra para este solo 
melhorar as suas propriedades geotécnicas 
significativamente é de 4,7%. 
Considera-se, portanto, a mistura solo - 
fibras dispersas de papel Kraft como sendo mais 
uma alternativa para a estabilização de solos, 
desde que sejam feitas as análises respectivas 
das propriedades físicas e mecânicas dos solos; 
e também como uma alternativa para a redução 
do impacto ambiental causado pelo descarte 
0
50
100
150
200
250
0 5 10 15 20 25 30
Te
n
sã
o
 C
is
al
h
an
te
 τ
i (
kP
a)
 
Deformação cisalhante específica horizontal εhi (%) 
CP 50 kPa - 0% fibra Kraft CP 100 kPa - 0% fibra Kraft CP 205 kPa - 0% fibra Kraft
CP 50 kPa - 5% fibra Kraft CP 100 kPa - 5% fibra Kraft CP 205 kPa - 5% fibra Kraft
CP 50 kPa - 10% fibra Kraft CP 100 kPa - 10% fibra Kraft CP 205 kPa - 10% fibra Kraft
CP 50 kPa - 15% fibra Kraft CP 100 kPa - 15% fibra Kraft CP 205 kPa - 15% fibra Kraft
 
desordenado das embalagens de cimento nas 
obras. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao CNPq, pela concessão da bolsa de estudos 
ao primeiro autor e à Universidade Estadual de 
Campinas, por meio do Departamento de 
Geotecnia e Transportes da Faculdade de 
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, por 
ter possibilitado a execução do presente 
trabalho. Ao Eng. Eliezer Laister (Votorantim 
Cimentos) pela colaboração no fornecimento 
dos sacos de cimento. 
 
 
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