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2. POSSE 2.1. Conceito Para savigny, posse é “a possibilidade de disposição física da coisa com ânimo de tê-la como sua e de defendê-la contra terceiros”. Para Ihering, posse é “a exteriorização ou visibilidade do domínio” (bastaria o ato de propriedade para ser possuidor). O nosso sistema jurídico adota com maior intensidade o conceito de Ihering, no entanto, não é um conceito puro, visto que o conceito de Savigny também foi utilizado pelo Código Civil. Para Arnoldo Wald: posse é “uma situação de fato que gera consequências jurídicas”. Protege-se essa situação de fato, visto que há uma hipótese de que, naquela situação de fato, exista um proprietário. PORÉM, o conceito mais moderno, tido como mais “completo”, é o seguinte: POSSE é o poder fático de ingerência socioeconômica, absoluto ou relativo, direto ou indireto, sobre determinado bem da vida, que se manifesta através do exercício ou possibilidade de exercício inerente à propriedade ou outro direito real suscetível de posse. 2.2. Natureza Jurídica Há duas teorias clássicas a respeito da natureza jurídica da posse: a) Teoria subjetiva (Friedrich Carl von Savigny) Nessa teoria tem-se um elemento objetivo (corpus), que é a relação material estabelecida com a coisa, e tem-se um elemento subjetivo (animus rem sibi habendi), que é a vontade de ter a coisa como sua. Estabeleceram-se esses dois elementos para se distinguir posse de mera detenção, visto que em ambas as figuras existe a relação material com a coisa. Na detenção, no entanto, essa relação material não gera efeitos jurídicos. b) Teoria objetiva (Rudolf Von Ihering) Nessa teoria tem-se apenas o elemento objetivo (corpus). Afirma-se que o animus está inserido no corpus e que o elemento subjetivo é dispensável. Essa teoria é adotada pelo Direito brasileiro, não havendo, então, necessidade de comprovar o animus. Savigny afirmava que a posse é um direito real, tendo em vista os efeitos serem reais. Ihering afirmou que não se pode dizer que a posse é um direito real, visto que não existe registro, sendo, então, um direito pessoal. O sistema brasileiro, no entanto, adota outro entendimento, no qual a posse é tão-somente um fato, não sendo direito real, nem pessoal, mas um fato tão absolutamente (vide o conceito) poderoso, que dele são gerados efeitos tão diversos e importantes que não permitem enquadrá-los como direitos meramente pessoais. Daí porque do seu enquadramento como “Direito das Coisas”, já que estes poderes a assemelham muito aos tão poderosos direitos reais. Vão notar que entre os arts. 1.196 e 1.224 do CC há indicação expressa de poderes semelhantes aos direitos reais para a posse, corroborando essas afirmativas aí. 2.3. Efeitos Em primeiro lugar deve-se distinguir jus possidendi e jus possessionis. Jus possidendi é a posse que tem por substrato uma propriedade– é o proprietário-possuidor. Jus possessionis é a posse que não tem substrato jurídico que não na própria posse, criando uma esfera de direitos chamada commoda possessionis. A posse tem quatro efeitos básicos: Proteção possessória (interdicta): é a tutela possessória, que consiste em a pessoa poder se valer do instrumento processual para proteger a relação jurídica. São as ações de manutenção, de reintegração e o interdito proibitório. Neste efeito ainda encontramos a possibilidade de legítima defesa da posse (desforço pessoal da posse), um sistema de autotutela permitido ao possuidor. Acessórios da coisa: a posse gera direitos diversos em relação aos frutos e benfeitorias da coisa. Responsabilidade sobre deterioração: res perit domino, gerando, quando o caso, a responsabilidade civil, que encontra parâmetros diferentes ao possuidor, de acordo com as características com as quais a posse é exercida. Prescrição aquisitiva: é a possibilidade de transformar a posse em propriedade ou em outro direito real, conforme o animus com o qual ela é exercida. Esses efeitos, entretanto, variam no jus possidendi e no jus possessionis: No jus possidendi o titular tem como prerrogativa a proteção possessória, inclusive com a legítima defesa da posse, e o direito aos acessórios e responsabilidade pela deterioração se vinculam mais ao direito do que à posse. Não tem direito a prescrição aquisitiva (por óbvio). No jus possessionis, a commoda possessionis engloba todos os efeitos em si. 2.4. Espécies 2.4.1. Posse direta e posse indireta (CC, art. 1.197) 2.4.2. Posse justa e posse injusta (1.200) 2.4.3. Posse de boa-fé e posse de má-fé (1.201, 1.202 e 1.203)[1: Salvo a Interversio possessionis - ? (pergunte). ] 2.4.4. Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapione” 2.4.5. Posse nova e posse velha 2.4.6. Posse natural e posse civil 2.4.7. Composse 2.5. Aquisição da Posse O Código Civil de 1916 tratava da aquisição e perda da posse, nos Capítulos II e IV, tal qual o Código atual. Porém, a grande crítica em relação ao Código Civil de 1916 é que, para a aquisição da posse, o Código Civil anterior adotava a teoria de Savigny (corpus + animus). Se fosse utilizada a teoria de Ihering, não haveria formas de aquisição da posse, tendo em vista que qualquer relação material geraria a aquisição da posse. O artigo 493 do Código Civil anterior apresentava um rol exemplificativo das formas de aquisição da posse: “pela aquisição da coisa (apreender para si)”; “pela disposição da coisa (tirar de si)”; “por qualquer outra forma” O atual Código Civil, no seu artigo 1204, por adotar a teoria de Ihering apenas estabelece: "Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade". E o que isso significa, afinal? Há que se saber bem o conceito de posse versus o de detenção (CC, art. 1.198) para a exata compreensão. 2.5.1. Classificação dos modos de aquisição da posse a) Quanto ao ato de vontade Unilateral: disposição; é a venda, troca, doação, destruição etc. de um bem, a qual, como poder da propriedade (jus disponendi ou abutendi) caracteriza posse quando de FATO é desempenhado; apreensão: basta apanhar um bem e iniciar a exercer poderes da propriedade sobre ele, notadamente o USO, não importando se isso é lícito ou não; exercício do direito: a apreensão pressupõe mero ato de vontade, sem causa específica. O exercício de direito exige que exista uma “autorização” prévia, dada pela aquisição de um direito que permita (mas não obrigue) a posse (usufruto, pex.), e daí advenha a vontade unilateral do adquirente em passar a exercê-la. Bilateral: É a posse recebida por contrato (tradição). Na relação contratual, a tradição (entrega da coisa) pode acontecer de três maneiras: efetiva: ocorre a entrega da própria coisa na relação contratual; simbólica: não ocorre a entrega da coisa e, sim, da representação da mesma; constituto possessório: não ocorre a entrega efetiva da coisa e, sim, uma mera ficção. b) Quanto aos efeitos Originária: é aquela em que não existe relação de causalidade entre o possuidor atual e o possuidor anterior (ex.: esbulho). Derivada: é aquela em que existe o nexo de causalidade entre o possuidor atual e o possuidor anterior (ex.: com a morte do pai, a posse transmite-se ao filho; os contratos de aquisição de bens em geral). Os efeitos que decorrem dessa classificação são: Ninguém pode transmitir mais direitos do que tem, ou seja, a posse é transmitida com o mesmo caráter que ela possui (ex.: havendo posse precária, se transmitida, ainda será precária) – Princípio de Clodovil. Acessão da posse: é a soma do tempo da posse atual com o da posse anterior, na posse derivada. Jamais poderá acontecer na posse originária, tendo em vista que há necessidade de nexo de causalidade para que seja somado o tempo. 2.5.2. Aquisição a título universal É a aquisição do conjunto de bens e direitos do indivíduo, sem discriminação ou individualização de quais bens compõe o patrimônio. Só ocorre na hipótese de causa mortis, ou seja, não se transmite a universalidade de bens a não ser por herança. Essa transmissão se dá, sempre, pelo modo derivado. O bem nunca pode ficar sem um titular (Princípio da Saisine), ou seja, quando morre o titular do bem, esse bem será imediatamente transmitido para os seus herdeiros. 2.5.3. Aquisição a título singular É a aquisição de posse de bem ou beNS singularizado(s), individualizado(s). Pode se dar inter vivos ou causa mortis (legado). A transmissão do legado pode se dar tanto pelo modo originário quanto pelo modo derivado, dependendo da vontade do legatário (artigo 1.207 do Código Civil), ou seja, o legatário irá escolher se a transmissão se fará pelo modo derivado ou pelo modo originário. Toda aquisição à título universal tende a se transformar em aquisição singular, quando da PARTILHA. 2.6. Perda da Posse Perde-se a posse por meio de três vias: perda do corpus, perda do animus, ou perda do corpus e do animus. 2.6.1. Perda do corpus Perde-se o corpus nas seguintes hipóteses: a) Perecimento O artigo 78 do Código Civil de 1916 informava as hipóteses de perecimento: perda das qualidades essenciais ou valor econômico (o valor econômico é fundamental, tendo em vista ser a diferenciação entre coisa e bem); quando se torna intangível ou inseparável de outro bem. Quando não for mais possível qualquer relação de uso, gozo, disposição ou reivindicação da coisa. 2.6.2. Perda do “animus” Perde-se o animus por meio do constituto possessório e da traditio brevi manu. Perde-se um “tipo” de posse, mesmo que no instante se adquira outro “tipo” de posse, ou seja, de possuidor proprietário para possuidor direto, ou vice versa. 2.6.3. Perda do “corpus” e do “animus” Perde-se o corpus e o animus pela alienação ou pelo abandono, tendo em vista que eles cessam os efeitos decorrentes da relação material com a coisa. Observação 1: Pelo disposto no artigo 1.209 do Código Civil, presume-se que o possuidor do bem imóvel é possuidor de todos os bens móveis que o compõe ou que estão sobre ele (presunção juris tantum). Como decorrência disso existe também um princípio no direito de família: “Todos os bens móveis no casamento pertencem à comunhão”. O interessado em provar eventual direito exclusivo sobre as coisas é quem deve comprovar o fato. Observação 2: O artigo 1.224 do Código Civil apresenta o princípio de aderência (direito de sequela) para a posse. Este artigo é um dos que fundamentam o chamado princípio da simetria do direito (aplicação de efeitos iguais em institutos análogos). Curioso é que o entendimento é de que esse artigo será aplicado ao roubo e ao furto, não podendo, entretanto, ser estendido à apropriação indébita, tendo em vista haver a entrega voluntária da coisa.
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