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2018 AULA 2 POSSE

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2. POSSE
2.1. Conceito
Para savigny, posse é “a possibilidade de disposição física da coisa com ânimo de tê-la como sua e de defendê-la contra terceiros”. Para Ihering, posse é “a exteriorização ou visibilidade do domínio” (bastaria o ato de propriedade para ser possuidor).
O nosso sistema jurídico adota com maior intensidade o conceito de Ihering, no entanto, não é um conceito puro, visto que o conceito de Savigny também foi utilizado pelo Código Civil.
Para Arnoldo Wald: posse é “uma situação de fato que gera consequências jurídicas”. Protege-se essa situação de fato, visto que há uma hipótese de que, naquela situação de fato, exista um proprietário.
PORÉM, o conceito mais moderno, tido como mais “completo”, é o seguinte: POSSE é o poder fático de ingerência socioeconômica, absoluto ou relativo, direto ou indireto, sobre determinado bem da vida, que se manifesta através do exercício ou possibilidade de exercício inerente à propriedade ou outro direito real suscetível de posse.
2.2. Natureza Jurídica
Há duas teorias clássicas a respeito da natureza jurídica da posse:
a) Teoria subjetiva (Friedrich Carl von Savigny)
Nessa teoria tem-se um elemento objetivo (corpus), que é a relação material estabelecida com a coisa, e tem-se um elemento subjetivo (animus rem sibi habendi), que é a vontade de ter a coisa como sua.
Estabeleceram-se esses dois elementos para se distinguir posse de mera detenção, visto que em ambas as figuras existe a relação material com a coisa. Na detenção, no entanto, essa relação material não gera efeitos jurídicos.
b) Teoria objetiva (Rudolf Von Ihering)
Nessa teoria tem-se apenas o elemento objetivo (corpus). Afirma-se que o animus está inserido no corpus e que o elemento subjetivo é dispensável. Essa teoria é adotada pelo Direito brasileiro, não havendo, então, necessidade de comprovar o animus.
Savigny afirmava que a posse é um direito real, tendo em vista os efeitos serem reais. Ihering afirmou que não se pode dizer que a posse é um direito real, visto que não existe registro, sendo, então, um direito pessoal.
O sistema brasileiro, no entanto, adota outro entendimento, no qual a posse é tão-somente um fato, não sendo direito real, nem pessoal, mas um fato tão absolutamente (vide o conceito) poderoso, que dele são gerados efeitos tão diversos e importantes que não permitem enquadrá-los como direitos meramente pessoais. Daí porque do seu enquadramento como “Direito das Coisas”, já que estes poderes a assemelham muito aos tão poderosos direitos reais.
Vão notar que entre os arts. 1.196 e 1.224 do CC há indicação expressa de poderes semelhantes aos direitos reais para a posse, corroborando essas afirmativas aí.
2.3. Efeitos
Em primeiro lugar deve-se distinguir jus possidendi e jus possessionis. Jus possidendi é a posse que tem por substrato uma propriedade– é o proprietário-possuidor. Jus possessionis é a posse que não tem substrato jurídico que não na própria posse, criando uma esfera de direitos chamada commoda possessionis.
 A posse tem quatro efeitos básicos:
Proteção possessória (interdicta): é a tutela possessória, que consiste em a pessoa poder se valer do instrumento processual para proteger a relação jurídica. São as ações de manutenção, de reintegração e o interdito proibitório. Neste efeito ainda encontramos a possibilidade de legítima defesa da posse (desforço pessoal da posse), um sistema de autotutela permitido ao possuidor.
Acessórios da coisa: a posse gera direitos diversos em relação aos frutos e benfeitorias da coisa.
Responsabilidade sobre deterioração: res perit domino, gerando, quando o caso, a responsabilidade civil, que encontra parâmetros diferentes ao possuidor, de acordo com as características com as quais a posse é exercida.
Prescrição aquisitiva: é a possibilidade de transformar a posse em propriedade ou em outro direito real, conforme o animus com o qual ela é exercida.
Esses efeitos, entretanto, variam no jus possidendi e no jus possessionis:
No jus possidendi o titular tem como prerrogativa a proteção possessória, inclusive com a legítima defesa da posse, e o direito aos acessórios e responsabilidade pela deterioração se vinculam mais ao direito do que à posse. Não tem direito a prescrição aquisitiva (por óbvio).
No jus possessionis, a commoda possessionis engloba todos os efeitos em si.
2.4. Espécies
2.4.1. Posse direta e posse indireta (CC, art. 1.197)
2.4.2. Posse justa e posse injusta (1.200)
2.4.3. Posse de boa-fé e posse de má-fé (1.201, 1.202 e 1.203)[1: Salvo a Interversio possessionis - ? (pergunte). ]
2.4.4. Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapione”
2.4.5. Posse nova e posse velha
2.4.6. Posse natural e posse civil
2.4.7. Composse
2.5. Aquisição da Posse
O Código Civil de 1916 tratava da aquisição e perda da posse, nos Capítulos II e IV, tal qual o Código atual. Porém, a grande crítica em relação ao Código Civil de 1916 é que, para a aquisição da posse, o Código Civil anterior adotava a teoria de Savigny (corpus + animus). Se fosse utilizada a teoria de Ihering, não haveria formas de aquisição da posse, tendo em vista que qualquer relação material geraria a aquisição da posse.
O artigo 493 do Código Civil anterior apresentava um rol exemplificativo das formas de aquisição da posse:
“pela aquisição da coisa (apreender para si)”; 
“pela disposição da coisa (tirar de si)”; 
“por qualquer outra forma” 
O atual Código Civil, no seu artigo 1204, por adotar a teoria de Ihering apenas estabelece: "Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade".
E o que isso significa, afinal?
Há que se saber bem o conceito de posse versus o de detenção (CC, art. 1.198) para a exata compreensão.
2.5.1. Classificação dos modos de aquisição da posse
a) Quanto ao ato de vontade
Unilateral:
disposição; é a venda, troca, doação, destruição etc. de um bem, a qual, como poder da propriedade (jus disponendi ou abutendi) caracteriza posse quando de FATO é desempenhado;
apreensão: basta apanhar um bem e iniciar a exercer poderes da propriedade sobre ele, notadamente o USO, não importando se isso é lícito ou não;
exercício do direito: a apreensão pressupõe mero ato de vontade, sem causa específica. O exercício de direito exige que exista uma “autorização” prévia, dada pela aquisição de um direito que permita (mas não obrigue) a posse (usufruto, pex.), e daí advenha a vontade unilateral do adquirente em passar a exercê-la.
Bilateral:
É a posse recebida por contrato (tradição). Na relação contratual, a tradição (entrega da coisa) pode acontecer de três maneiras:
efetiva: ocorre a entrega da própria coisa na relação contratual;
simbólica: não ocorre a entrega da coisa e, sim, da representação da mesma;
constituto possessório: não ocorre a entrega efetiva da coisa e, sim, uma mera ficção.
b) Quanto aos efeitos
Originária: é aquela em que não existe relação de causalidade entre o possuidor atual e o possuidor anterior (ex.: esbulho).
Derivada: é aquela em que existe o nexo de causalidade entre o possuidor atual e o possuidor anterior (ex.: com a morte do pai, a posse transmite-se ao filho; os contratos de aquisição de bens em geral).
Os efeitos que decorrem dessa classificação são:
Ninguém pode transmitir mais direitos do que tem, ou seja, a posse é transmitida com o mesmo caráter que ela possui (ex.: havendo posse precária, se transmitida, ainda será precária) – Princípio de Clodovil.
Acessão da posse: é a soma do tempo da posse atual com o da posse anterior, na posse derivada. Jamais poderá acontecer na posse originária, tendo em vista que há necessidade de nexo de causalidade para que seja somado o tempo.
2.5.2. Aquisição a título universal
É a aquisição do conjunto de bens e direitos do indivíduo, sem discriminação ou individualização de quais bens compõe o patrimônio. Só ocorre na hipótese de causa mortis, ou seja, não se transmite a universalidade de bens a não ser por herança. Essa transmissão se
dá, sempre, pelo modo derivado. O bem nunca pode ficar sem um titular (Princípio da Saisine), ou seja, quando morre o titular do bem, esse bem será imediatamente transmitido para os seus herdeiros.
2.5.3. Aquisição a título singular
É a aquisição de posse de bem ou beNS singularizado(s), individualizado(s). Pode se dar inter vivos ou causa mortis (legado). A transmissão do legado pode se dar tanto pelo modo originário quanto pelo modo derivado, dependendo da vontade do legatário (artigo 1.207 do Código Civil), ou seja, o legatário irá escolher se a transmissão se fará pelo modo derivado ou pelo modo originário. 
Toda aquisição à título universal tende a se transformar em aquisição singular, quando da PARTILHA.
2.6. Perda da Posse
	Perde-se a posse por meio de três vias: perda do corpus, perda do animus, ou perda do corpus e do animus.
2.6.1. Perda do corpus
Perde-se o corpus nas seguintes hipóteses:
a) Perecimento
O artigo 78 do Código Civil de 1916 informava as hipóteses de perecimento:
perda das qualidades essenciais ou valor econômico (o valor econômico é fundamental, tendo em vista ser a diferenciação entre coisa e bem);
quando se torna intangível ou inseparável de outro bem.
Quando não for mais possível qualquer relação de uso, gozo, disposição ou reivindicação da coisa.
2.6.2. Perda do “animus”
Perde-se o animus por meio do constituto possessório e da traditio brevi manu. Perde-se um “tipo” de posse, mesmo que no instante se adquira outro “tipo” de posse, ou seja, de possuidor proprietário para possuidor direto, ou vice versa.
2.6.3. Perda do “corpus” e do “animus”
Perde-se o corpus e o animus pela alienação ou pelo abandono, tendo em vista que eles cessam os efeitos decorrentes da relação material com a coisa.
Observação 1: Pelo disposto no artigo 1.209 do Código Civil, presume-se que o possuidor do bem imóvel é possuidor de todos os bens móveis que o compõe ou que estão sobre ele (presunção juris tantum). Como decorrência disso existe também um princípio no direito de família: “Todos os bens móveis no casamento pertencem à comunhão”. O interessado em provar eventual direito exclusivo sobre as coisas é quem deve comprovar o fato.
Observação 2: O artigo 1.224 do Código Civil apresenta o princípio de aderência (direito de sequela) para a posse. Este artigo é um dos que fundamentam o chamado princípio da simetria do direito (aplicação de efeitos iguais em institutos análogos). Curioso é que o entendimento é de que esse artigo será aplicado ao roubo e ao furto, não podendo, entretanto, ser estendido à apropriação indébita, tendo em vista haver a entrega voluntária da coisa.

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