Buscar

Jornalismo em Quadrinhos versão final

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 41 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 41 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 41 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

5 
 
1 DELIMITAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO 
 
A relação entre o jornalismo e as histórias em quadrinhos (HQs) data do 
século XIX. Moya (1986, p.20) descreve que os primeiros registros históricos no 
Brasil são de 1869, quando o periódico Vida Fuminense veiculou a primeira HQ 
chamada As aventuras de Nhô-Quim, na qual um menino do interior vinha para o 
Rio de Janeiro conhecer a rotina da cidade grande. 
De acordo com Medeiros e Gomes (2013, p. 5), oficialmente, os quadrinhos 
só passaram a ser uma ferramenta do jornalismo em 1997, quando Joe Sacco 
publicou Palestina: Uma Nação Ocupada, livro que conta os principais fatos sobre a 
guerra da Palestina e Israel no formato de uma HQ. A partir daí, Sacco ficou 
conhecido como o pai do Jornalismo em Quadrinhos (JQ) e vários outros autores 
surgiram no mundo. 
 
Figura 1: Livro-reportagem Palestina: Uma Nação Ocupada 
 
Fonte: Portal G1, 2011
1
 
 
 
 
 
 
 
1 Tento buscar termas universais’, diz autor de ‘Palestina’ e ‘Gorazde’. Disponível em: 
http://g1.globo.com/flip/2011/noticia/2011/07/tento-buscar-temas-universais-diz-autor-de-palestina-e-
gorazde.html. Acesso em 27/10/2017. 
 
 6 
 
O que diferencia a JQ de outras publicações em jornais, como por exemplo, 
as charges e tirinhas, é exatamente o fato de os personagens serem reais, ou seja, 
aquele que é ilustrado é tratado como qualquer outra fonte, entrevistado ou 
especialista no assunto. Além disso, os fatos elencados são reais e requerem o 
mesmo cuidado e pesquisa jornalística como qualquer outra reportagem. Gomes 
(2009, p. 7), destaca que: 
 
O jornalismo em quadrinhos não se refere tão-somente a um exercício 
artístico ou de estilo, pois nem todo jornalista sabe desenhar (e houve quem 
nem por isso deixou de lançar uma reportagem em HQ), mas sim a um 
reflexo de como caminha a comunicação para uma convergência maior com 
as artes, uma hibridação de formas de comunicação e cultura. 
 
 
No Brasil, Alexandre de Maio é um ilustrador especializado em JQ. Ele já 
trabalhou em veículos de comunicação como a Playboy, Veja e Catraca Livre. 
Durante um ano, em parceria com o personagem fictício CarlosCarlos, ele 
desenvolveu reportagens para a Revista Fórum sobre diversos temas da realidade 
brasileira. 
 Pensando nesse cenário, este trabalho visa comparar o JQ com o jornalismo 
impresso. Para fazer isso, será analisada a reportagem em quadrinhos Pixação: 
uma questão de classe???, veiculada na revista Fórum em abril de 2013, que 
apresenta uma entrevista com Cripta Djan, pichador que pratica esta atividade 
desde 1990. Todo o texto é desenvolvido com desenhos em quadrinhos e o 
personagem do repórter, que representa todos os jornalistas da Fórum, conduz a 
conversa passando por vários momentos da história nos quais o entrevistado e 
membros de sua gangue passam por situações de discriminação e apreciação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
 
Figura 2 – Reportagem em quadrinhos Pixação: uma questão de 
classe??? 
 
Fonte: Portfólio oficial de Alexandre de Maio, 2013
2
 
 
 
Para realizar o contraponto, também será analisada a entrevista Cripta Djan: 
‘o pixador é o artista que transcendeu as telas’, veiculada em novembro de 2012 na 
revista O Viés. O texto tem o mesmo personagem principal e trata sobre as mesmas 
questões trazidas na reportagem em quadrinhos. 
Por meio do estudo pretende-se responder à seguinte problemática: O uso 
das histórias em quadrinhos pode ser avaliado como um novo formato jornalístico 
que auxilia na discussão de assuntos sociais relevantes? 
Para responder a esta pergunta, parte-se da hipótese de que o JQ é um novo 
objeto do jornalismo cultural, já que ele se apropria de um elemento popular para 
apresentar notícias e reportagens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2
 Pixação – Revista Fórum. Disponível em: https://alexandredemaio.myportfolio.com/pixacao-revista-
forum. Acesso em 28/10/2017. 
 8 
 
2 OBJETIVOS 
 
2.1 OBJETIVO GERAL 
 
Estudar as especificidades do formato “Jornalismo em quadrinhos” a partir de uma 
análise comparativa entre uma reportagem em quadrinhos e um texto jornalístico da 
mesma temática. 
 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
- Analisar a estrutura de ambas as matérias, considerando seus aspectos estéticos e 
textuais; 
- Estabelecer as principais diferenças e semelhanças entre os produtos; 
- Discutir as possibilidades do jornalismo em quadrinhos ser usado com mais 
frequência na mídia tradicional. 
 
 9 
 
3 JUSTIFICATIVA 
 
Não se sabe com exatidão quando o jornalismo surgiu, mas, de acordo com 
Sousa (2008, p. 34), a teoria mais aceita é que a Acta Diurna, uma publicação oficial 
do imperador romano Júlio César, foi o primeiro jornal do mundo. Criado em 59 a.C, 
trazia notícias sobre os principais acontecimentos de Roma no âmbito social e 
político, além da agenda com os eventos das cidades próximas. 
No decorrer do tempo o jornalismo se reinventou, adaptando-se a vários 
meios, linguagens e veículos de comunicação. O que começou apenas com 
publicações impressas acabou acompanhando o surgimento das novas plataformas 
como a televisão e o rádio até chegar à internet, este último com crescente número 
de usuários. De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídias (2016, p. 48), 49% da 
população utiliza a internet como meio para se informar, 7% a mais do que em 2015. 
Fato é que com a popularização da internet, a espontaneidade de ler notícias 
ficou cada vez menor, ou seja, o receptor só se interessa em ler um texto quando 
este passa pela timeline das redes sociais. Boczkowski e Mitchelstein (2003, 
tradução nossa) destacam que “hoje, o consumo de notícias é ‘incidental’: o acesso 
à informação deixa de ser uma atividade independente e torna-se parte da 
sociabilidade das redes”.3 
A apropriação dos quadrinhos como uma nova forma de linguagem para o 
jornalismo se mostra como uma alternativa para atrair novos leitores para o consumo 
de notícias de maneira espontânea. Além disso, o JQ tem o papel de resgatar o lado 
crítico das HQs que surgiram dentro dos veículos impressos como um elemento 
usado para expor os problemas sociais. Nicolau (2007, p. 8) explica que: 
 
[...] a tirinha que, mesmo dando origem aos quadrinhos de humor e 
aventura em suplementos dominicais e revistas próprias, mantém-se nas 
páginas de jornais de boa parte do mundo, proporcionando uma leitura 
divertida e provocativa de uma realidade metaforizada. 
 
 
O JQ é visto como um novo método que se apropria de um elemento cultural 
para oferecer histórias que são construídas por meio de critérios jornalísticos e 
apuração precisa. Segundo Medeiros e Gomes (2013 p.6), o JQ: 
 
 
3
 “Hoy el consumo noticioso es “incidental”: el acceso a la información deja de ser una actividad 
independiente y pasa a ser parte de la sociabilidad en las redes”. (BOCZKOWSKI e MITCHELSTEIN 
2003). 
 10 
 
[...] se apresenta aqui como um novo gênero jornalístico, pois relatar uma 
história com uma sequência de imagens não é algo inédito. O que são 
algumas pinturas rupestres senão uma história sequencial? O diferencial é a 
intencionalidade e o caráter cultural na mescla de linguagens, na intenção 
comunicacional. 
 
 
Além do mais, o JQ se mostra como uma nova forma de produção cultural, 
área considerada por muitos autores como escassa na elaboração de produtos 
jornalísticos de qualidade. Segundo Assis (2008, p. 184), entre os pesquisadores “há 
sempre os que reconhecem o valor dosprodutos desta natureza e se interessam em 
pensar alternativas para melhorar sua qualidade, como também há os que 
classificam essa modalidade do jornalismo como algo sem muita importância”. 
É necessário comparar o JQ com o jornalismo impresso, pois são compostos 
por linguagens muito similares que utilizam de imagens e palavras para apresentar 
fatos, sustentar argumentos e expor a visão de entrevistados e personagens. No 
entanto, a forma como o discurso é construído é que determina a atração que o 
leitor sentirá para dar atenção àquilo que está sendo apresentado. 
Por ser um gênero recente, o JQ ainda é pouco explorado nos ambientes 
acadêmicos. Muitas universidades não inserem esta modalidade jornalística em 
seus planos de ensino e diversos profissionais acabam não tendo contato com o 
assunto. Paim (2011, p. 27) cita que a ligação do JQ com a academia é muito 
benéfica: “É só com o crescimento e a qualificação de pesquisas acadêmicas na 
área que o Jornalismo em Quadrinhos pode crescer e se consolidar com gênero 
jornalístico e também como objeto teórico merecedor de estudos”. 
A escolha da pichação como tema de ambas as matérias se justifica pelo fato 
de ser um problema social recorrente nas cidades brasileiras já que ela “[...] pode 
ser entendida como um fator agressivo a estimular, de forma constante, os sentidos 
do passante”. (SPINELLI, 2007, p. 116) 
A escolha da Revista Fórum e O Viés também foi estratégica, já que são 
publicações segmentadas que trabalham com produções mais aprofundadas e 
linguagens similares. Ambos os objetos de estudo utilizam do mesmo personagem e 
mesmo formato: uma entrevista. 
 
 11 
 
4. REFERENCIAL TEÓRICO 
 
Para pensar como o jornalismo em quadrinhos se insere na atual realidade da 
comunicação e disseminação da informação, se faz necessário resgatar alguns 
conceitos, como o de arte no contexto de massificação, jornalismo cultural e de 
revista e quadrinhos no jornalismo impresso. 
 
4.1 CONCEITO DE INDÚSTRIA CULTURAL 
 
A escola de Frankfurt marca o surgimento de pesquisas críticas na área da 
comunicação e mídia. Fundado em 1923 pelo doutor em ciências políticas Félix J. 
Weil, o instituto surgiu com a promessa de expandir o conceito do marxismo, teoria 
criada por Karl Marx que critica a estrutura estabelecida pelo capitalismo e os meios 
de produção (MOTTA; AQUINO, 2004, p. 3-5). 
Sob a direção de Carl Grünberg, primeiro diretor do instituto, foram 
desenvolvidos estudos em defesa do socialismo e do marxismo. Na época, a atitude 
foi considera inovadora, já que as academias não utilizavam o movimento operário 
como objeto de pesquisa (MOGENDORFF, 2012, p. 153). Durante este período, 
Max Horkheimer entrou para a equipe de pesquisadores e acabou assumindo a 
direção da escola em 1931, abrindo espaço para a entrada de Theodor Adorno um 
ano mais tarde. 
Juntos, eles foram responsáveis pela estruturação da teoria crítica, vertente 
de estudos que surgiu para contrapor a teoria tradicionalista. De acordo com Vilela 
(2006, p. 13): 
 
[...] a Teoria Tradicional, de fundamentação positivista, pretensamente 
neutra, fornecia uma análise descontextualizada e com pretensão de 
universalidade, reproduzindo uma imagem fetichista do mundo, tal como ele 
era numa categoria de aparentemente dado (das ist), assim o justificava e o 
reproduzia. Como contraponto, uma Teoria Crítica, tal como era formulada 
no ISF de Frankfurt, fundava uma ciência contextualizada, não neutra, 
engajada na transformação do mundo. 
 
 
O principal argumento da teoria crítica é que a lógica capitalista funciona por 
meio dos interesses da classe dominante, ou seja, os membros da burguesia 
estabelecem aquilo que será reproduzido, comercializado e veiculado através de 
critérios que favorecem a eles mesmos. 
 12 
 
Foi por meio desta linha de pensamento que surgiu o termo indústria cultural, 
estabelecido em 1940 na obra conhecida como Dialética do esclarecimento. De 
acordo com Santos (2014, p. 26), “as críticas feitas pelos frakfurtianos à indústria 
cultural visam mostrar como na sociedade moderna a cultura transformou-se em 
uma grande força capaz de transmutar a arte em qualquer mercadoria”. 
Com o término da Segunda Guerra Mundial, houve uma crescente formação 
de potências econômicas que estabeleceram novos parâmetros para a dinâmica de 
produção dos bens de consumo. Adorno e Horkheimer defendiam a criação de uma 
ciência social crítica que estimulasse a discussão deste assunto, já que o novo 
cenário econômico criou um processo de massificação da cultura, ou seja, abriu a 
possibilidade de replicar algo que antes era único. 
Mogendorff (2012, p. 155) destaca que: 
 
É interessante atentar para terminologia pois a expressão “indústria cultural” 
por vezes pode se confundir com as indústrias produtoras ou mesmo com 
as técnicas utilizadas para difundir esses bens. A indústria cultural se refere 
sim ao processo social de transformação da cultura em bem de consumo 
tendo como plano de fundo uma sociedade imersa no capitalismo 
avançado. 
 
 
Esclarecendo o significado do termo pode-se entender como a fragmentação 
da economia e a massificação contribuíram para a criação de novas possibilidades 
comunicacionais. Mogendorff (2012, p.154) destaca que o cinema e o rádio foram os 
principais veículos a contribuir para a disseminação de produtos culturais. 
 
4.1.1 A questão da estética de massa 
 
Para entender de maneira aprofundada a relação entre a comunicação e a 
cultura de massa, se faz necessário esmiuçar a questão estética em torno da 
indústria cultural. De acordo com Noyama (2016, p.98), o termo estética foi cunhado 
no século XVIII, por Alexander Baumgarten que delimitava o mesmo como uma área 
de conhecimento da filosofia que tratava o belo muito além da reflexão racional. 
Para ele, a beleza estava ligada a imaginação e despertava o lado sensível dos 
indivíduos. Nesta época, a arte era vista como “[...] o lugar privilegiado da beleza, 
uma vez que ela visava produzir as representações perfeitas” (CARVALHO, 2010, p. 
75). 
 13 
 
Para Adorno (1970, p. 268), a arte perdeu esta característica a partir de sua 
inserção na realidade das massas: 
 
A arte tornou-se vulgar pela condescendência: quando, sobretudo através 
do humor, invocou a consciência deformada e a confirmou. Seria 
conveniente para a dominação, na sua lógica, se aquilo que fez das massas 
e a razão por que as condicionou se atribuísse às próprias massas. 
 
 
A partir do momento em que a arte perde sua essência pura e de 
representação, uma nova dinâmica estética é estabelecida. Souza (2012, p. 95) 
explica que “ [...] para Adorno, ainda que, em alguns momentos a racionalidade da 
técnica industrial não se apresente com uma racionalidade da dominação [...], é 
sempre a própria indústria que determina este consumo pela padronização do 
gosto”. Bertoni (2001, p. 77) complementa ainda que “[...] o indivíduo precisa 
consumir os produtos da Indústria Cultural para se sentir parte de um todo”. 
Essa nova dinâmica estética dita anteriormente é explicada por Walter 
Benjamin (2017, p. 17): 
 
E a reprodução tal como aparece no jornal ilustrado ou nas atualidades 
filmadas, distingue-se inconfundivelmente do original. Existência única e 
duração estão neste tão intimamente associadas como a fugacidade e a 
possibilidade de repetição naquela. Tirar do objeto a capa que o envolve, 
destruir a sua aura, é a marca da percepção cujo “sentido de tudo o que é o 
semelhante ao mundo” cresceu a ponto de, por meio da reprodução, ela 
atribuir também este sentido ao que tem existência única. 
 
 
Ao citar o jornal ilustrado e as atualidades filmadas, podemos usar comoexemplo alguns produtos comunicacionais populares na realidade atual. Entre eles 
estão o rádio, a televisão, o cinema e a fotografia, este último, destacado por 
Benjamin como um dos grandes avanços na possibilidade da reprodução da arte: 
“Com o advento da fotografia, as obras de arte foram libertadas de seus espaços 
originais e a reprodução dessas imagens começaram a circular por todo o globo” 
(SOUZA, 2017, p.81). 
É importante destacar que apesar de pertencerem à mesma escola, Adorno, 
Horkheimer e Benjamin veem a indústria cultural de maneira distinta. Enquanto, os 
primeiros se posicionam com um olhar negativo, o último analisa de maneira crítica, 
sem deixar de reconhecer a contribuição da reprodutibilidade para os meios sociais: 
 
É importante destacarmos que Benjamin não é pessimista em relação aos 
novos modos de produção e circulação de imagens, mas apenas posiciona-
se como observador crítico e com certa desconfiança em relação às 
 14 
 
mudanças que estavam ocorrendo na Europa. Ele não faz propriamente um 
julgamento de valor sobre os acontecimentos de sua época, mas os coloca 
em suspensão abrindo possibilidade para novas reflexões. (SOUZA, 2017, 
p. 82). 
 
 
A postura estabelecida por Benjamin mostra que, apesar da massificação 
fazer a arte perder seu caráter único, é possível criar produtos com características 
estéticas particulares que podem agregar informação e conhecimento sem 
prejudicar a capacidade de reprodutibilidade. Este pensamento representa a 
dinâmica do jornalismo cultural que, apesar de poder atingir um maior número de 
pessoas com produtos multiplicáveis, mantém sua essência de informar usando, 
muitas vezes, aspectos estéticos e artísticos. 
 
4.2 JORNALISMO CULTURAL 
 
Assim como o próprio jornalismo, não se sabe ao certo quando surgiu o 
jornalismo cultural. De acordo com Piza (2010, p. 11), pode-se considerar como 
marco o surgimento da revista The Spectator, no século XVII. O impresso falava 
sobre temas corriqueiros, discutidos, na época, somente em universidades e salas 
de aula, como a música, o teatro e a literatura. O principal objetivo do periódico era 
trazer a discussão desses temas para as mesas de ambientes comuns como os 
cafés e bares. 
Foi apenas com o advento da revolução industrial, ocorrida no início do século 
XIX, que o jornalismo cultural (JC) se estruturou popularmente já que, neste 
momento, era possível replicar um produto em grandes quantidades. Mesmo com 
sua vertente na Europa, o JC “[...] atravessou o Atlântico e se tornou influente em 
países como os EUA e o Brasil” (PIZA, 2010, p. 16). Edgar Allan Poe foi o precursor 
desta modalidade jornalística em terras americanas. Já no Brasil, foram os ensaios 
de Machado de Assis que iniciaram as prime iras inspirações para produções 
deste gênero. 
Importante destacar que ambos os autores iniciaram sua carreira através da 
crítica. Por consequência, durante muito tempo o JC só tinha produções opinativas e 
não era comum ver trabalhos que exploravam a cultura por meio de apuração 
precisa e critérios de noticiabilidade. Gadini (2003, p. 9) explica que com a 
 15 
 
possibilidade da circulação em massa, os jornais passam a publicar críticas como 
forma de expandir o conhecimento sobre as artes para todo o tipo de público. 
Assis (2008, p. 184) destaca que foi a partir da década de 70 que o jornalismo 
cultural começou a estabelecer novas características e destinar espaços específicos 
para assuntos deste gênero. No entanto, ele acabou perdendo seu caráter crítico 
com matérias superficiais, muitas vezes pautadas através da relação com os 
departamentos de marketing de empresas: 
 
Nessa época, a mídia impressa passou a reservar espaços diferenciados – 
muitas vezes, cadernos individuais – para pautas dessa natureza e, 
também, começou a dar destaque para assuntos populares, de forma não 
muito consistente. Essa, por assim dizer, “popularização” do jornalismo 
cultural – que transformou os “segundos cadernos” dos jornais diários e as 
revistas semanais e especializadas em produtos prioritariamente pautados 
por agendamento – acabou por banalizar sua produção, desencadeando 
sérias discussões sobre sua legitimidade. (ASSIS, 2008, p.184). 
 
 
É pensando justamente neste contexto que este trabalho parte da hipótese de 
que o jornalismo em quadrinhos pode ser uma nova ferramenta do JC, já que este 
teve sua origem atrelada à cultura e crítica social. Além do mais, sua construção 
textual e linguagem podem ser facilmente incorporadas nas seções de variedades 
dos jornais ou nas revistas segmentadas, este último com vários exemplos de 
especialização do conteúdo cultural. 
 
4.2.1 Revistas e o conteúdo cultural 
 
De acordo como Piza (2010, p. 19), após a popularização do JC no mundo, 
“quem continuou a desempenhar papel fundamental no jornalismo cultural foram as 
revistas, incluindo na categoria os tabloides literários semanais e quinzenais”. 
Scalzo (2010, p. 19) explica que as primeiras publicações surgiram a partir do século 
XVII, mas ainda estavam longe do que se têm hoje em dia. Mesmo assim, o 
surgimento delas “[...] deixam clara a missão do novo tipo de periódico que surgia: 
destinar-se a públicos específicos e aprofundar os assuntos mais que os jornais, 
menos que os livros”. 
O aprofundamento aliado à segmentação são as principais características que 
tornam as revistas fortes dentro do mercado impresso, já que “[...] os textos de 
revista buscam elaborar interpretações a fim de esclarecer o público leitor sobre os 
principais fatos do cotidiano” (BAPTISTA E ABREU, 2010, p. 23). 
 16 
 
São exatamente estes conceitos que permitiram o surgimento de revistas no 
ramo cultural. Conforme vimos anteriormente, o JC só surgiu quando assuntos 
comuns como dança, música e teatro passaram a ocupar páginas de publicações 
especializadas e dedicadas totalmente a estes temas. Este cenário vem ao encontro 
da ideia estabelecida por Scalzo: (2010, p. 12): 
 
Revista também é um encontro entre um editor e um leitor, um contato que 
se estabelece por um fio invisível que une um grupo de pessoas e, nesse 
sentido, ajuda a compor a personalidade, isto é, estabelece identificações, 
dando a sensação de pertencer a um determinado grupo. 
 
 
Este sentimento de pertencimento citado acima se relaciona diretamente com 
o próprio conceito de cultura, estabelecido por Edward Taylor no século XIX, que 
entendia o mesmo como um conjunto de características sociais que influenciavam 
os mais diversos grupos sociais (RANGEL, 2008, p. 9). 
E para apresentar cultura aos leitores é necessária uma intensa inovação no 
conteúdo. Scalzo (2010, p. 61), destaca que “antigamente, era possível manter uma 
revista praticamente inalterada, sem submetê-la a transformações gráficas e 
editoriais por um longo período de tempo. Hoje não é mais possível. Se o editor não 
se der conta disso, o leitor o ultrapassa correndo”. A autora explica ainda que a 
inovação dever ser feita em todos os elementos, desde a capa até os próprios 
textos. Pensando neste contexto, é possível afirmar que o jornalismo em quadrinhos 
se mostra como um novo aliado para renovação da linguagem das revistas, bem 
como a atração de novos leitores. 
 
4.2.2 História dos quadrinhos no jornalismo impresso 
 
O surgimento dos quadrinhos está ligado diretamente com os primórdios da 
humanidade. De acordo com Araújo (2009, p. 19), “para buscarmos as origens das 
histórias em quadrinhos, devemos primeiramente nos retroceder até a pré-história, 
onde o homem das cavernas, gravou imagens em pedras, nos deixando as 
primeiras expressões da natureza humana de que se tem conhecimento”. 
No decorrer da história,são várias as expressões neste estilo. Os hieróglifos 
egípcios e as obras de arte são exemplos disso. No entanto, considera-se como 
marco das HQs a publicação de Yellow Kid, de Richard Outcault, no jornal New York 
World, no final do século XIX. Esta seria a primeira vez que uma história em 
 17 
 
quadrinhos seria veiculada em um meio de comunicação de massa (LUYTEN, 1987, 
p. 16). 
Figura 3: Quadrinho The Yellow Kid 
 
Fonte: The Comics Journal, 2016
4
 
 
 
Anselmo (1975, p. 42) relata que “é comum dizer-se que os EUA são ‘a pátria 
dos quadrinhos’”. A autora comenta ainda que, ao ver seu concorrente prosperando 
com a publicação de Outcault, William Randolph Hearst fundou o Morning Jornal. 
Juntamente com o New York World, os impressos foram responsáveis pela 
disseminação e popularização dos quadrinhos que, segundo Luytan (1987, p. 20), 
eram publicados “[...] nos suplementos dominicais, que eram, na época, parte mais 
procurada do jornal, com os leitores aguardando ansiosamente o momento de 
reencontrar seus heróis”. 
No Brasil, As Aventuras de Nhô-Quim, iniciada por Angelo Agostini e 
finalizada por Cândido de Faria, entre 1869 e 1872, na revista Vida Fluminense, é 
considerada a primeira história em quadrinhos do país. (CARDOSO, 2013, p. 22). 
Após isso, através da Revista Ilustrada, Don Quixote e O Malho, são publicados 
cerca de 100 capítulos de As aventuras de Zé Caipora, narrativa que conta as 
peripécias do personagem José Corimba. 
 
4
 Outcault, Goddard, the Comics, and the Yellow Kid. Disponível em: http://www.tcj.com/outcault-
goddard-the-comics-and-the-yellow-kid/. Acesso em 29/10/2017. 
 18 
 
Figura 4: Quadrinho As aventuras de Nhô-Quim 
 
Fonte: Olhar Direto, 2014
5
 
 
 
Analisando este cenário, pode-se constatar que as HQs se desenvolveram 
graças as sua vertente dentro dos jornais. Gomes (2010, p. 32), explica que “a 
ligação entre quadrinhos e imprensa existe há tempos, quando os jornais norte-
americanos e europeus publicavam caricaturas de veia humorística com alguns 
diálogos [...]”. Luyten (1987, p. 18) defende ainda que a inserção das histórias em 
quadrinhos nos veículos impressos ajudaram a alavancar a venda dos jornais, o que 
fez com a imprensa voltasse seu olhar para os desenhistas da época: 
 
A supervalorização das HQ, devido à exigência dos leitores, mostrou aos 
empresários que os quadrinhos tinham o seu lugar assegurado, e eles 
“compreenderam” rapidamente o fenômeno saindo à procura de autores 
cada vez melhores, criando uma efervescência no setor. 
 
 
Esta abertura dada pelos impressos fez com que novas possibilidades 
comunicacionais surgissem para as HQs. No início do século XX, além das 
publicações periódicas em jornais, surgiu a comercialização através dos syndicates, 
órgãos especializados em distribuição de histórias em quadrinhos, o que possibilitou 
a criação de personagens icônicos como Rupert, Mickey Mouse e Flash Gordon. 
(ANSELMO, 1975, p 50-53). 
 
 
 
5
 Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos remete à 1869, ano de criação da HQ no Brasil. 
Disponível em: http://www.olhardireto.com.br/conceito/noticias/exibir.asp?id=3841&noticia=dia-
nacional-das-historias-em-quadrinhos-remete-a-1869-ano-de-criacao-da-hq-no-brasil. Acesso em 
29/10/2017. 
 19 
 
Figura 5: Quadrinho Mickey Mouse 
 
Fonte: Portal Uol, 2014
6
 
 
Atualmente, o entretenimento é o ramo mais forte das HQs. As editoras 
Marvel e DC Comics dominam a venda de histórias em quadrinhos. De acordo com 
uma pesquisa publicada no site oficial da distribuidora Diamond Comics, Marvel 
Legacy (Marvel), Dark Nights Metal (DC) e Venomverse (Marvel) foram os títulos 
mais vendidos durante setembro de 2017 na Índia. 7 
No Brasil, as editoras Panini e Abril movimentam o mercado, a primeira, com 
a tradução de títulos da Marvel e DC e, a segunda, com os personagens da Disney. 
Quanto às produções nacionais, pode-se citar a contribuição de Maurício de Sousa 
com a Turma da Mônica, voltada para o público infanto-juvenil. Nos jornalismo 
impresso, os quadrinhos são mais explorados através de charges e tiras. Laerte, 
Jaguar e Ziraldo estão entre os principais nomes do gênero no país. 
 
4.3 QUADRINHOS COMO GÊNERO JORNALÍSTICO 
 
4.3.1 A diferença entre quadrinhos de entretenimento e quadrinhos 
jornalísticos 
 
Antes de explanar sobre as características dos quadrinhos bem como do JQ, 
se faz necessário esmiuçar sobre a diferença entre quadrinhos de entretenimento e 
quadrinhos no meio jornalístico. Para estabelecer essa diferença é primordial 
entender os conceitos dos termos. 
 
6 Mickey Mouse comemora 82 anos de sua primeira tira. Disponível em: 
https://entretenimento.uol.com.br/album/mickey-82anos_album.jhtm#fotoNav=1. Acesso em 
29/10/2017. 
 
7 Top 100 Comics: September 2017. Disponível em: 
https://www.diamondcomics.com/Home/1/1/3/597?articleID=200837. Acesso em 29/10/2017. 
 
 20 
 
Bucci (2007) cita que a palavra entretenimento é de origem latina e que pode 
ser entendida “[...] como aquilo que ocorre no tempo do lazer – que não pertence ao 
tempo do trabalho –, nas horas vagas, no passatempo, no intervalo entre duas 
atividades ditas sérias”. Quanto ao jornalismo, Traquina (2005, p. 19) entende o 
mesmo como um relato, através das notícias, de “[...] tudo o que é importante e/ou 
interessante”. 
Aprofundando um pouco mais nos conceitos, pode-se entender que o 
jornalismo trabalha com aquilo que é real, que acontece em nosso cotidiano, 
buscando uma análise crítica dos acontecimentos. Já o entretenimento está atrelado 
com a criação e contação de histórias, sem fiel compromisso com a realidade ou a 
reflexão dos fatos. 
A dinâmica dos quadrinhos exemplifica na prática a diferença entre os 
conceitos. Conforme falado anteriormente, as HQs surgiram no jornalismo impresso 
e, apesar de sua veia humorística, a crítica social era um dos principais elementos 
observados na época. Furlan (1984, p. 26) dá como exemplo disso as histórias de 
Richard Outcault: “‘Down Hogan’s Alley’ pode ser considerada uma predecessora do 
gênero de HQ, pois utiliza-se do balão, além de, por sua natureza debochada e 
sensacionalista, ter dado origem à expressão ‘imprensa amarela’ nos EUA [...]”. 
Assim como as histórias em quadrinhos evoluíram no decorrer do tempo, o 
mesmo aconteceu com as críticas sociais constantes nelas, que passaram a ser 
cada vez mais pautadas nas próprias notícias dos jornais. Nicolau (2007, p. 3) 
discorre que a criação das tirinhas serviu como um marco desta questão: 
 
[...] as tiras de humor tinham liberdade crítica sobre os costumes e a moral 
da época muito mais que outros gêneros, pois se tratava de uma forma de 
expressão inédita e inesperada, com características próprias. E os 
humoristas desenvolveram uma comunicação com o público que se 
sustentava intensamente nesta liberdade. 
 
 
O humor aliado à crítica foi o que permitiu com que os leitores se 
aproximassem cada vez mais dos quadrinhos e quanto mais essa relação era 
construída, mais se sentiu a necessidade de propor novos conceitos. Soares (1984, 
p. 59) explica que no Brasil, os quadrinhos tinham essencialmente um realce 
americano voltado a criação de uma realidade que não condizia com o que se vivia 
aqui. No entanto, sindicatos, igrejas e outros órgãos foram responsáveis pelas 
primeiras tentativas de popularização por meio de produções próprias. 
 21 
 
A partir do momento em que as HQs deixam de ser exclusividade do 
jornalismo impresso, umnovo conceito se estabelece. Os quadrinhos, agora, podem 
atender a interesses específicos das instituições, além serem usados como meio de 
entretenimento: 
 
Em 1948, aconteceu a maior proliferação de novos títulos e gibis de 
histórias policiais. No mínimo, uma dezena de novas revistas foram 
lançadas [...]. As vendas alcançavam números astronômicos por ser uma 
forma de entretenimento popular e barata. A influência que esse tipo de 
publicação podia exercer sobre a juventude não passou despercebida das 
autoridades americanas, preocupadas em preservar os valores morais em 
que acreditavam. (RIO DE JANEIRO, 2003, p. 5). 
 
 
A ascensão das HQs como um meio de entretenimento, aliado a diminuição 
do espaço dos jornais, fez com os quadrinhos tivessem uma menor exploração pelos 
veículos impressos comparado ao que se via em suas origens. O JQ tenta resgatar 
o espírito crítico dos primórdios das HQs, apresentando um novo formato de 
comunicação aliado às técnicas jornalísticas. 
 
4.3.2 A linguagem do jornalismo em quadrinhos 
 
Durante o desenvolvimento deste trabalho, não foram encontrados livros que 
contam sobre a história e características do jornalismo em quadrinhos. Os trabalhos 
voltados à área se resumem ao ambiente acadêmico, com produção de artigos e 
monografias. Analisando estes textos, pode-se notar que Iuri Barbosa Gomes é um 
pesquisador que vem desenvolvendo estudos sobre o tema. Seu trabalho mais 
recente, intitulado Jornalismo em Quadrinhos na Revista Fórum: Nova Prática 
Jornalística no Brasil foi feito em parceira com Eduardo Medeiros e publicado em 
2013. 
Em todos os textos do autor, pode-se perceber que a origem do JQ é bem 
clara. “O jornalismo em quadrinhos (JHQ) ganha visibilidade internacional com a 
publicação de Palestina, Uma Nação Ocupada, do jornalista maltês Joe Sacco, 
publicada em português no Brasil em 2004 – mas originalmente lançada em 1997.” 
(GOMES, 2009, p. 2). Ele ainda vai além e, em outro trabalho afirma que: “O 
jornalismo em quadrinhos [...] tem sua possível gênese em Ângelo Agostini, um 
desenhista italiano radicado no Brasil que no século XIX fazia espécie de 
 22 
 
reportagens ilustradas contra a escravidão. Porém, foi com Joe Sacco que a prática 
foi ‘sistematizada’”. (GOMES, 2010, p. 37). 
Ao citar a sistematização da prática, Gomes quer dizer que Sacco foi o 
primeiro jornalista a transformar um assunto com potencial de reportagem em uma 
história em quadrinhos, sem deixar de cumprir com os critérios de apuração e 
publicação de um texto jornalístico. Em entrevista ao portal Guia de Estudante 
(2017), Sacco explica como funciona a apuração de suas matérias: 
 
Eu ajo como qualquer outro jornalista: tomo notas, falo com as pessoas, 
faço entrevistas. A diferença é que, quando entrevisto as pessoas e quero 
apurar algo que já aconteceu, não pergunto “o que aconteceu com você?”, 
faço perguntas que envolvam o visual, que me ajudem a desenhar depois. 
Se falam de um campo, pergunto o que há nesse campo, como era, do que 
se lembram. 
 
 
O relato de Sacco exemplifica a complexidade de se fazer reportagens em 
quadrinhos, afinal o JQ é constituído de recursos verbais e não-verbais, o que 
caracteriza uma linguagem própria: “as histórias em quadrinhos representam 
aspectos de oralidade e reúnem os principais elementos narrativos, apresentados 
com o auxílio de convenções que formam o que estamos chamando de linguagem 
dos quadrinhos” (RAMOS, 2009, p.18). 
Vale ressaltar que o que torna o JQ um formato único é a premissa de que um 
fato é traduzido em imagens e uma sequência narrativa, logo, é necessária uma 
apropriação dos personagens envolvidos para construir a reportagem: “Essas 
apropriações trazem riquezas ao texto e as figuras são elaboradas de acordo com 
dados não ficcionais, ou seja, a veracidade não pode ser questionada por basear-se 
em documentos e entrevistas com fontes confiáveis”. (SANTOS E CAVIGNATO, 
2013, p. 221). 
Essa dinâmica do JQ traz novas possibilidades para a arte sequencial que, 
segundo Einser (1999, p. 5), é “[...] uma disciplina distinta, uma forma artística e 
literária que lida com a disposição de figuras ou imagens e palavras para narrar uma 
história ou dramatizar uma idéia.”, já que agora histórias reais podem ser contadas 
através da junção ente imagens e textos, ou seja, as ilustrações deixam de ser 
apenas objetos de complementação textual e passam a ser parte integrante e 
importante do discurso da reportagem. 
 
 23 
 
5. METODOLOGIA 
 
Este trabalho visa fazer uma análise comparativa entre o jornalismo em 
quadrinhos e o jornalismo impresso. A fim de realizar essa investigação, será 
utilizada a técnica de análise de contéudo que, de acordo com Bardin (1997, p. 9), 
se utiliza de “[...] técnicas múltiplas e multiplicadas – desde o cálculo de frequências, 
que fornece dados cifrados, até à extração de estruturas traduzíveis em modelos – é 
uma hermenêutica controlada, baseada na dedução: a inferência”. 
Para realizar este estudo, serão analisados dois trabalhos jornalísticos. O 
primeiro é uma reportagem em quadrinhos intitulada Pixação: uma questão de 
classe???, veiculada na revista Fórum em abril de 2013, já o segundo será a 
entrevista Cripta Djan: ‘o pixador é o artista que transcendeu as telas’, veiculada em 
novembro de 2012 na revista O Viés. Serão avaliadas as versões online do material, 
pois, durante o desenvolvimento deste trabalho não foram encontradas as versões 
impressas dos materiais. 
Considerando que o jornalismo em quadrinhos utiliza de recursos verbais e 
não verbais, a análise será feita através de duas vertentes: características textuais e 
aspectos visuais. Referente ao primeiro tópico, será levada em consideração a obra 
Elementos do jornalismo impresso, publicada em 2001 por Jorge Pedro Sousa.8 
Nela, são estabelecidos 14 princípios de construção textuais que, segundo o autor, 
são essenciais para se produzir um texto jornalístico de qualidade. Os princípios 
elencados por ele são: correção, clareza, simplicidade, funcionalidade, concisão, 
precisão, sedução, rigor, eficácia, coordenação, seletividade, utilidade, interesse e 
hierarquização. 
Será utilizado como instrumento de pesquisa um quadro comparativo de 
elaboração própria, que inserirá os princípios estabelecidos por Sousa e assinalará 
quais requisitos ambos os objetos atendem. O quadro está exemplificado na próxima 
página: 
 
 
 
 
8 Elementos do Jornalismo Impresso. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-
elementos-de-jornalismo-impresso.pdf. Acesso em 12/10/2017. 
 
 24 
 
 
Quadro 1 - Requisitos de construção textual 
 Reportagem em quadrinhos 
“pixação: uma questão de 
classe???” 
Entrevista em revista 
“Cripta Djan: ‘o pichador é o 
artista transcendeu às telas’” 
Correção 
Clareza 
Simplicidade 
Funcionalidade 
Concisão 
Precisão 
Sedução 
Rigor 
Eficácia 
Coordenação 
Seletividade 
Utilidade 
Interesse 
Hierarquização 
Fonte: O autor, 2017 
 
Quanto aos aspectos visuais, as ideias estabelecidas por Marília Scalzo na 
obra Jornalismo de revista, aliadas aos conceitos elencados no livro Produção 
gráfica: arte e técnica na direção de arte de Antonio Celso Collaro, servirão como 
base para a elaboração de outro quadro comparativo, que também está 
exemplificado abaixo: 
 
Quadro 2 – Requisitos visuais 
 Reportagem em quadrinhos 
“pixação: uma questão de 
classe???” 
Entrevista em revista 
“Cripta Djan: ‘o pichador é o 
artista transcendeu às telas’” 
Tipologia 
Tipografia 
Disposição textualCores 
Imagens 
Infográficos 
Desenhos 
Alinhamento 
Proximidade 
Repetição 
Contraste 
Fonte: O autor, 2017 
 
Quanto aos autores que respaldarão este trabalho, Milena Costa de Souza 
contribuirá com as ideias de indústria cultural, Daniel Piza servirá como base sobre 
jornalismo cultural, Nilson Lage complementará as características textuais com a 
obra Estrutura da notícia e Robin Williams contribuirá as ideias estabelecidas no livro 
 25 
 
Design para quem não é designer. Sobre o jornalismo em quadrinhos, serão 
analisados artigos acadêmicos produzidos por Iuri Gomes Barbosa, pois, ao longo 
do desenvolvimento deste projeto de pesquisa, percebeu-se que o autor vem 
elaborando trabalhos relacionados ao tema, no entanto, não tem uma definição clara 
se o JQ é considerado um gênero jornalístico. 
Considerando os itens elencados acima, pode-se considerar esta pesquisa 
como quantitativa já que, de acordo com Casarin e Casarin (2002, p. 36), ela irá “[...] 
quantificar ou mensurar uma ou mais variáveis estudadas”, mas com apresentação 
de dados qualitativa, pois ela “explora uma metodologia predominante descritiva 
[...]”, (CASARIN E CASARIN, 2002, p. 36). 
 
 26 
 
6. CRONOGRAMA DE PESQUISA 
 
# Etapas Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho 
1 
Pesquisa 
Bibliográfica 
X X X 
2 
Análise dos 
objetos de 
pesquisa 
 X 
3 
Redação do 
artigo 
 X X 
4 Revisão X X 
5 
Alterações do 
artigo 
 X 
6 Defesa X 
 
 
 27 
 
7 RESULTADOS ESPERADOS 
 
Partindo da hipótese de que o JQ é um objeto do jornalismo cultural, visa-se 
compreender se as reportagens e entrevistas em quadrinhos podem ser mais 
atrativas, despertando a curiosidade e a vontade de leitores desinteressados em 
notícias. Este estudo espera observar também as características profissionais, ou 
seja, se os princípios jornalísticos são atendidos na construção dos produtos do 
jornalismo em quadrinhos. Por fim, pretende-se entender como esta nova iniciativa 
comunicacional pode se comportar dentro da imprensa e em quais veículos ela pode 
encontrar mais espaço e visibilidade. 
 28 
 
REFERÊNCIAS 
 
ADORNO, Theodor W. Teoria Estética. Lisboa: edições 70, 1970. 
 
 
ANSELMO, Zilda Augusto. Histórias em quadrinhos. 1 ed. Petrópolis: Vozes, 1975. 
 
 
ARAÚJO, Gustavo Cunha. Criação e técnica: as histórias em quadrinhos como 
recurso metodológico para o ensino da arte. Universidade Federal de Uberlândia, 
Uberlândia, 2009. 
 
 
ASSIS, Francisco de. Jornalismo Cultural Brasileiro: aspectos e tendências. 
Revista Estudo de Comunicação, Curitiba, v.9, n 20, p 183-192, set/dez 2008. 
 
 
BAPTISTA, Íria Catarina Queiróz; ABREU, Karen Cristina Kraemer. A história das 
revistas no brasil: um olhar sobre o segmentado mercado editorial. Biblioteca 
online de ciências da comunicação, Unisinos/unisul BR, 2010. Disponível em: 
<http://www.infocambiouniversitario.com.br/pag/baptista-iria-abreu-karen-a-historia-
das-revistas-no-brasil.pdf>.Acesso em: 20 out. 2017. 
 
 
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. 
 
 
BENJAMIN, Walter. Estética e sociologia da arte. Edição e tradução de João 
Barrento. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. 
 
 
BERTONI, Luci Mara. Arte, Indústria Cultural e Educação. Caderno Cedes, ano 
XXI, nº 54, agosto/2001. 
 
 
BRASIL, Presidência da República. Secretaria Especial de Comunicação Social. 
Pesquisa brasileira de mídia 2016: hábitos de consumo de mídia pela 
população brasileira. Brasília: Secom 2016. Disponível em < 
file:///C:/Users/user/Downloads/Pesquisa%20Brasileira%20de%20Mi%CC%81dia%2
0-%20PBM%202016.pdf> Acesso em: 01 out 2017. 
 
 
BOCZKOWSKI, Pablo; MITCHELSTEIN, Eugenia. El media ya no es medio ni 
mensaje. Revista Anfibia, Universidad Nacional de San Martín, 2003. Disponível em 
<http://www.revistaanfibia.com/ensayo/medio-ya-no-mensaje/> Acesso em 27 out 
2017. 
 
 
 29 
 
BUCCI, Eugênio. Tv pública não deve fazer entretenimento. Observatório da 
Imprensa, 2007. Disponível em < http://observatoriodaimprensa.com.br/tv-em-
questao/tv-publica-nao-deve-fazer-entretenimento/> Acesso em 22 out 2017. 
 
 
CARDOSO, Athos Eichler. As Aventuras de Nhô-Quim & Caipora: os primeiros 
quadrinhos brasileiros 1869-1883/ Angelo Agostini. Brasília/DF: Senado Federal, 
Conselho Editorial, 2013. 
 
 
CARVALHO, Marcus Vinicius Corrêa. O surgimento da estética: algumas 
considerações sobre seu primeiro entrincheiramento dinâmico. Universidade 
Fumec, Belo Horizonte, ano 7, nº 9, p 71-83, jul/dez 2010. 
 
 
CASARIN, Helen De Castro Silva; CASARIN, Samuel José. Pesquisa científica: da 
teoria à prática 1 ed. Curitiba: Intersaberes, 2002. 
 
 
EISNER, Will. Quadrinhos e arte seqüencial. 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 
1999. 
 
 
FURLAN, Cleide. HQ e os “syndicates” norte-americanos. In: LUYTEN, Sonia. 
Histórias em quadrinhos: leitura crítica. São Paulo: Paulinas, 1984. p. 26 a 33. 
 
 
GADINI, Sérgio Luiz. A cultura como notícia no jornalismo brasileiro. 1 ed. Rio 
de Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação, 2003. 
 
 
GOMES, Iuri Barbosa. Jornalismo em Quadrinhos: território de linguagens. 
XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2009. Disponível em: 
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/R4-0894-1.pdf> Acesso 
em 27 ago 2017. 
 
 
__________________ Jornalismo em Quadrinhos: mediações e linguagens 
imbricadas nas reportagens Palestina – Uma Nação Ocupada e em O 
Fotógrafo. Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá, 2010. Disponível em < 
http://cpd1.ufmt.br/ecco/site/docs/dissertacoes/iuri_barbosa_gomes.pdf> Acesso em 
22 out 2017. 
 
 
LUYTEN, Sonia M. Bibe. O que é histórias em quadrinhos. 2 ed. São 
Paulo: Brasiliense, 1987. 
 
 
MEDEIROS, Eduardo Luis Mathias. GOMES, Iuri Barbosa. Jornalismo em 
Quadrinhos na Revista Fórum: Nova Prática Jornalística no Brasil. Universidade 
 30 
 
Estadual de Mato Grosso, 2013. Disponível em <http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-
nacionais-1/9o-encontro-2013/artigos/gt-historia-do-jornalismo/jornalismo-em-
quadrinhos-na-revista-forum-nova-pratica-jornalistica-no-brasil> Acesso em 03 set 
2017. 
 
 
MOGENDORFF, Janine Regina. A escola de Frankfurt e seu legado. Porto Alegre: 
Verso e Reverso, v. XXVI, nº 63, p. 152-159, set/dez 2012. 
 
 
MOTTA, Ana Paula Pinheiro; AQUINO, Rodolfo Anderson Bueno de. A escola de 
Frankfurt: fundação da teoria crítica à indústria cultural. 2004. Disponível em < 
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=5e04a15b7c5a842c> Acesso em 01 
out 2017. 
 
 
MOYA, Álvaro de. História das histórias em quadrinhos. Porto Alegre: L Pm, 
1986. 
 
 
NICOLAU, Marcos. As tiras de jornal como gênero jornalístico. Revista Eletrônica 
Temática, fevereiro de 2007. Disponível em < http://www.insite.pro.br/2007/05.pdf> 
Acesso em 17 set 2017. 
 
 
NOYAMA, Samon. Estética e filosofia da arte. Curitiba: Intersaberes, 2016. 
 
 
PAIM, Augusto Machado. Jornalismo em Quadrinhos: Reflexões sobre a 
utilização da arte sequencial como suporte ao conteúdo jornalístico. Centro de 
Educação Superior Norte – RS, julho de 2011. Disponível em 
<http://decom.ufsm.br/tcc/files/2011/09/TCC-marcos-corbari.pdf> Acesso em 09 set 
2017. Entrevista concedida a Marcos Antonio Corbari. 
 
 
PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 2010. (Coleção 
Comunicação). 
 
 
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. 1ª ed. São Paulo: Contexto, 2009. 
 
 
RANGEL, Leandro de Alencar. A construção do conceito de Direito à identidade 
cultural: diálogos entre o Direito, a Antropologia e a Sociologia. Pontíficia 
Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. 
 
 
RIO DE JANEIRO (estado). Prefeiturada Cidade do Rio de Janeiro: Secretaria 
Especial de Comunicação Social. A indústria dos quadrinhos. Rio de Janeiro: 
Cadernos de Comunicação, Série Estudos, v.10, 2003, 
 31 
 
SACCO, Joe. Joe Sacco, criador do jornalismo em quadrinhos, fala sobre como 
escolheu sua carreia. Maio de 2017. Disponível em < 
https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/joe-sacco-criador-do-jornalismo-em-
quadrinhos-fala-sobre-como-escolheu-sua-carreira/> Acesso em 22 out 2017. 
Entrevista concedida a portal Guia do Estudante. 
 
 
SANTOS, Roberto Elísio. CAVIGNATO, Denise. A renovação da linguagem 
jornalística no jornalismo em quadrinhos. Revista Estudos da Comunicação, 
Curitiba, v.14, n. 34, p 207-223, mai/ago 2013. 
 
 
SANTOS, Tamires Dias dos. Theodor Adorno: uma crítica à indústria cultural. 
Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência, vol. 7, nº 2, p. 25-36, mai/ago 
2014. 
 
 
SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2010. 
 
 
SOUSA, Jorge Pedro. Uma história breve do jornalismo no Ocidente. 
Universidade Fernando Pessoa e Centro de Investigação Media & Jornalismo, 2008. 
Disponível em < http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-uma-historia-breve-
do-jornalismo-no-ocidente.pdf> Acesso em 17 set 2017. 
 
 
SOUZA, Leandro Candido de. Estética do consumo: moda, mídia e indústria 
cultural. Revista online de filosofia e ciências humanas. nº 14, ano VIII, jan/2012. 
Disponível em < http://www.verinotio.org/conteudo/0.66741014334132.pdf> Acessm 
em 03 out 2017. 
 
 
SOUZA, Milena Costa de. Sociologia do consumo e Indústria Cultural. Curitiba: 
Intersaberes, 2017. (série de estudos de filosofia). 
 
 
SPINELLI, Luciano. Pichação e comunicação: um código sem regra. Revista 
LOGOS 26: comunicação e conflitos urbanos. Ano 14, 1o semestre 2007, p. 111-
121. 
 
 
TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são. 
Florianópolis: Insular, 2 ed, vol 1, 2005. 
 
 
VILELA, Rita Amélia Teixeira. A teoria crítica da educação de Theodor Adorno e 
sua apropriação para análise das questões atuais sobre o currículo e prática 
escolares. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2006. 
 
 
 32 
 
ANEXOS 
 
ANEXO A – Reportagem em quadrinhos Pixação: Uma questão de classe??? 
 
 
 
 
 33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 37 
 
ANEXO B – Entrevista Cripta Djan: “O Pixador é o artista que transcendeu as telas” 
 
 
 
 38 
 
 
 
 39 
 
 
 
 40 
 
 
 
 41 
 
 
 
 
 42 
 
 
 
 43 
 
 
 
 44 
 
 
 
 
 45

Outros materiais