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5 1 DELIMITAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO A relação entre o jornalismo e as histórias em quadrinhos (HQs) data do século XIX. Moya (1986, p.20) descreve que os primeiros registros históricos no Brasil são de 1869, quando o periódico Vida Fuminense veiculou a primeira HQ chamada As aventuras de Nhô-Quim, na qual um menino do interior vinha para o Rio de Janeiro conhecer a rotina da cidade grande. De acordo com Medeiros e Gomes (2013, p. 5), oficialmente, os quadrinhos só passaram a ser uma ferramenta do jornalismo em 1997, quando Joe Sacco publicou Palestina: Uma Nação Ocupada, livro que conta os principais fatos sobre a guerra da Palestina e Israel no formato de uma HQ. A partir daí, Sacco ficou conhecido como o pai do Jornalismo em Quadrinhos (JQ) e vários outros autores surgiram no mundo. Figura 1: Livro-reportagem Palestina: Uma Nação Ocupada Fonte: Portal G1, 2011 1 1 Tento buscar termas universais’, diz autor de ‘Palestina’ e ‘Gorazde’. Disponível em: http://g1.globo.com/flip/2011/noticia/2011/07/tento-buscar-temas-universais-diz-autor-de-palestina-e- gorazde.html. Acesso em 27/10/2017. 6 O que diferencia a JQ de outras publicações em jornais, como por exemplo, as charges e tirinhas, é exatamente o fato de os personagens serem reais, ou seja, aquele que é ilustrado é tratado como qualquer outra fonte, entrevistado ou especialista no assunto. Além disso, os fatos elencados são reais e requerem o mesmo cuidado e pesquisa jornalística como qualquer outra reportagem. Gomes (2009, p. 7), destaca que: O jornalismo em quadrinhos não se refere tão-somente a um exercício artístico ou de estilo, pois nem todo jornalista sabe desenhar (e houve quem nem por isso deixou de lançar uma reportagem em HQ), mas sim a um reflexo de como caminha a comunicação para uma convergência maior com as artes, uma hibridação de formas de comunicação e cultura. No Brasil, Alexandre de Maio é um ilustrador especializado em JQ. Ele já trabalhou em veículos de comunicação como a Playboy, Veja e Catraca Livre. Durante um ano, em parceria com o personagem fictício CarlosCarlos, ele desenvolveu reportagens para a Revista Fórum sobre diversos temas da realidade brasileira. Pensando nesse cenário, este trabalho visa comparar o JQ com o jornalismo impresso. Para fazer isso, será analisada a reportagem em quadrinhos Pixação: uma questão de classe???, veiculada na revista Fórum em abril de 2013, que apresenta uma entrevista com Cripta Djan, pichador que pratica esta atividade desde 1990. Todo o texto é desenvolvido com desenhos em quadrinhos e o personagem do repórter, que representa todos os jornalistas da Fórum, conduz a conversa passando por vários momentos da história nos quais o entrevistado e membros de sua gangue passam por situações de discriminação e apreciação. 7 Figura 2 – Reportagem em quadrinhos Pixação: uma questão de classe??? Fonte: Portfólio oficial de Alexandre de Maio, 2013 2 Para realizar o contraponto, também será analisada a entrevista Cripta Djan: ‘o pixador é o artista que transcendeu as telas’, veiculada em novembro de 2012 na revista O Viés. O texto tem o mesmo personagem principal e trata sobre as mesmas questões trazidas na reportagem em quadrinhos. Por meio do estudo pretende-se responder à seguinte problemática: O uso das histórias em quadrinhos pode ser avaliado como um novo formato jornalístico que auxilia na discussão de assuntos sociais relevantes? Para responder a esta pergunta, parte-se da hipótese de que o JQ é um novo objeto do jornalismo cultural, já que ele se apropria de um elemento popular para apresentar notícias e reportagens. 2 Pixação – Revista Fórum. Disponível em: https://alexandredemaio.myportfolio.com/pixacao-revista- forum. Acesso em 28/10/2017. 8 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Estudar as especificidades do formato “Jornalismo em quadrinhos” a partir de uma análise comparativa entre uma reportagem em quadrinhos e um texto jornalístico da mesma temática. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Analisar a estrutura de ambas as matérias, considerando seus aspectos estéticos e textuais; - Estabelecer as principais diferenças e semelhanças entre os produtos; - Discutir as possibilidades do jornalismo em quadrinhos ser usado com mais frequência na mídia tradicional. 9 3 JUSTIFICATIVA Não se sabe com exatidão quando o jornalismo surgiu, mas, de acordo com Sousa (2008, p. 34), a teoria mais aceita é que a Acta Diurna, uma publicação oficial do imperador romano Júlio César, foi o primeiro jornal do mundo. Criado em 59 a.C, trazia notícias sobre os principais acontecimentos de Roma no âmbito social e político, além da agenda com os eventos das cidades próximas. No decorrer do tempo o jornalismo se reinventou, adaptando-se a vários meios, linguagens e veículos de comunicação. O que começou apenas com publicações impressas acabou acompanhando o surgimento das novas plataformas como a televisão e o rádio até chegar à internet, este último com crescente número de usuários. De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídias (2016, p. 48), 49% da população utiliza a internet como meio para se informar, 7% a mais do que em 2015. Fato é que com a popularização da internet, a espontaneidade de ler notícias ficou cada vez menor, ou seja, o receptor só se interessa em ler um texto quando este passa pela timeline das redes sociais. Boczkowski e Mitchelstein (2003, tradução nossa) destacam que “hoje, o consumo de notícias é ‘incidental’: o acesso à informação deixa de ser uma atividade independente e torna-se parte da sociabilidade das redes”.3 A apropriação dos quadrinhos como uma nova forma de linguagem para o jornalismo se mostra como uma alternativa para atrair novos leitores para o consumo de notícias de maneira espontânea. Além disso, o JQ tem o papel de resgatar o lado crítico das HQs que surgiram dentro dos veículos impressos como um elemento usado para expor os problemas sociais. Nicolau (2007, p. 8) explica que: [...] a tirinha que, mesmo dando origem aos quadrinhos de humor e aventura em suplementos dominicais e revistas próprias, mantém-se nas páginas de jornais de boa parte do mundo, proporcionando uma leitura divertida e provocativa de uma realidade metaforizada. O JQ é visto como um novo método que se apropria de um elemento cultural para oferecer histórias que são construídas por meio de critérios jornalísticos e apuração precisa. Segundo Medeiros e Gomes (2013 p.6), o JQ: 3 “Hoy el consumo noticioso es “incidental”: el acceso a la información deja de ser una actividad independiente y pasa a ser parte de la sociabilidad en las redes”. (BOCZKOWSKI e MITCHELSTEIN 2003). 10 [...] se apresenta aqui como um novo gênero jornalístico, pois relatar uma história com uma sequência de imagens não é algo inédito. O que são algumas pinturas rupestres senão uma história sequencial? O diferencial é a intencionalidade e o caráter cultural na mescla de linguagens, na intenção comunicacional. Além do mais, o JQ se mostra como uma nova forma de produção cultural, área considerada por muitos autores como escassa na elaboração de produtos jornalísticos de qualidade. Segundo Assis (2008, p. 184), entre os pesquisadores “há sempre os que reconhecem o valor dosprodutos desta natureza e se interessam em pensar alternativas para melhorar sua qualidade, como também há os que classificam essa modalidade do jornalismo como algo sem muita importância”. É necessário comparar o JQ com o jornalismo impresso, pois são compostos por linguagens muito similares que utilizam de imagens e palavras para apresentar fatos, sustentar argumentos e expor a visão de entrevistados e personagens. No entanto, a forma como o discurso é construído é que determina a atração que o leitor sentirá para dar atenção àquilo que está sendo apresentado. Por ser um gênero recente, o JQ ainda é pouco explorado nos ambientes acadêmicos. Muitas universidades não inserem esta modalidade jornalística em seus planos de ensino e diversos profissionais acabam não tendo contato com o assunto. Paim (2011, p. 27) cita que a ligação do JQ com a academia é muito benéfica: “É só com o crescimento e a qualificação de pesquisas acadêmicas na área que o Jornalismo em Quadrinhos pode crescer e se consolidar com gênero jornalístico e também como objeto teórico merecedor de estudos”. A escolha da pichação como tema de ambas as matérias se justifica pelo fato de ser um problema social recorrente nas cidades brasileiras já que ela “[...] pode ser entendida como um fator agressivo a estimular, de forma constante, os sentidos do passante”. (SPINELLI, 2007, p. 116) A escolha da Revista Fórum e O Viés também foi estratégica, já que são publicações segmentadas que trabalham com produções mais aprofundadas e linguagens similares. Ambos os objetos de estudo utilizam do mesmo personagem e mesmo formato: uma entrevista. 11 4. REFERENCIAL TEÓRICO Para pensar como o jornalismo em quadrinhos se insere na atual realidade da comunicação e disseminação da informação, se faz necessário resgatar alguns conceitos, como o de arte no contexto de massificação, jornalismo cultural e de revista e quadrinhos no jornalismo impresso. 4.1 CONCEITO DE INDÚSTRIA CULTURAL A escola de Frankfurt marca o surgimento de pesquisas críticas na área da comunicação e mídia. Fundado em 1923 pelo doutor em ciências políticas Félix J. Weil, o instituto surgiu com a promessa de expandir o conceito do marxismo, teoria criada por Karl Marx que critica a estrutura estabelecida pelo capitalismo e os meios de produção (MOTTA; AQUINO, 2004, p. 3-5). Sob a direção de Carl Grünberg, primeiro diretor do instituto, foram desenvolvidos estudos em defesa do socialismo e do marxismo. Na época, a atitude foi considera inovadora, já que as academias não utilizavam o movimento operário como objeto de pesquisa (MOGENDORFF, 2012, p. 153). Durante este período, Max Horkheimer entrou para a equipe de pesquisadores e acabou assumindo a direção da escola em 1931, abrindo espaço para a entrada de Theodor Adorno um ano mais tarde. Juntos, eles foram responsáveis pela estruturação da teoria crítica, vertente de estudos que surgiu para contrapor a teoria tradicionalista. De acordo com Vilela (2006, p. 13): [...] a Teoria Tradicional, de fundamentação positivista, pretensamente neutra, fornecia uma análise descontextualizada e com pretensão de universalidade, reproduzindo uma imagem fetichista do mundo, tal como ele era numa categoria de aparentemente dado (das ist), assim o justificava e o reproduzia. Como contraponto, uma Teoria Crítica, tal como era formulada no ISF de Frankfurt, fundava uma ciência contextualizada, não neutra, engajada na transformação do mundo. O principal argumento da teoria crítica é que a lógica capitalista funciona por meio dos interesses da classe dominante, ou seja, os membros da burguesia estabelecem aquilo que será reproduzido, comercializado e veiculado através de critérios que favorecem a eles mesmos. 12 Foi por meio desta linha de pensamento que surgiu o termo indústria cultural, estabelecido em 1940 na obra conhecida como Dialética do esclarecimento. De acordo com Santos (2014, p. 26), “as críticas feitas pelos frakfurtianos à indústria cultural visam mostrar como na sociedade moderna a cultura transformou-se em uma grande força capaz de transmutar a arte em qualquer mercadoria”. Com o término da Segunda Guerra Mundial, houve uma crescente formação de potências econômicas que estabeleceram novos parâmetros para a dinâmica de produção dos bens de consumo. Adorno e Horkheimer defendiam a criação de uma ciência social crítica que estimulasse a discussão deste assunto, já que o novo cenário econômico criou um processo de massificação da cultura, ou seja, abriu a possibilidade de replicar algo que antes era único. Mogendorff (2012, p. 155) destaca que: É interessante atentar para terminologia pois a expressão “indústria cultural” por vezes pode se confundir com as indústrias produtoras ou mesmo com as técnicas utilizadas para difundir esses bens. A indústria cultural se refere sim ao processo social de transformação da cultura em bem de consumo tendo como plano de fundo uma sociedade imersa no capitalismo avançado. Esclarecendo o significado do termo pode-se entender como a fragmentação da economia e a massificação contribuíram para a criação de novas possibilidades comunicacionais. Mogendorff (2012, p.154) destaca que o cinema e o rádio foram os principais veículos a contribuir para a disseminação de produtos culturais. 4.1.1 A questão da estética de massa Para entender de maneira aprofundada a relação entre a comunicação e a cultura de massa, se faz necessário esmiuçar a questão estética em torno da indústria cultural. De acordo com Noyama (2016, p.98), o termo estética foi cunhado no século XVIII, por Alexander Baumgarten que delimitava o mesmo como uma área de conhecimento da filosofia que tratava o belo muito além da reflexão racional. Para ele, a beleza estava ligada a imaginação e despertava o lado sensível dos indivíduos. Nesta época, a arte era vista como “[...] o lugar privilegiado da beleza, uma vez que ela visava produzir as representações perfeitas” (CARVALHO, 2010, p. 75). 13 Para Adorno (1970, p. 268), a arte perdeu esta característica a partir de sua inserção na realidade das massas: A arte tornou-se vulgar pela condescendência: quando, sobretudo através do humor, invocou a consciência deformada e a confirmou. Seria conveniente para a dominação, na sua lógica, se aquilo que fez das massas e a razão por que as condicionou se atribuísse às próprias massas. A partir do momento em que a arte perde sua essência pura e de representação, uma nova dinâmica estética é estabelecida. Souza (2012, p. 95) explica que “ [...] para Adorno, ainda que, em alguns momentos a racionalidade da técnica industrial não se apresente com uma racionalidade da dominação [...], é sempre a própria indústria que determina este consumo pela padronização do gosto”. Bertoni (2001, p. 77) complementa ainda que “[...] o indivíduo precisa consumir os produtos da Indústria Cultural para se sentir parte de um todo”. Essa nova dinâmica estética dita anteriormente é explicada por Walter Benjamin (2017, p. 17): E a reprodução tal como aparece no jornal ilustrado ou nas atualidades filmadas, distingue-se inconfundivelmente do original. Existência única e duração estão neste tão intimamente associadas como a fugacidade e a possibilidade de repetição naquela. Tirar do objeto a capa que o envolve, destruir a sua aura, é a marca da percepção cujo “sentido de tudo o que é o semelhante ao mundo” cresceu a ponto de, por meio da reprodução, ela atribuir também este sentido ao que tem existência única. Ao citar o jornal ilustrado e as atualidades filmadas, podemos usar comoexemplo alguns produtos comunicacionais populares na realidade atual. Entre eles estão o rádio, a televisão, o cinema e a fotografia, este último, destacado por Benjamin como um dos grandes avanços na possibilidade da reprodução da arte: “Com o advento da fotografia, as obras de arte foram libertadas de seus espaços originais e a reprodução dessas imagens começaram a circular por todo o globo” (SOUZA, 2017, p.81). É importante destacar que apesar de pertencerem à mesma escola, Adorno, Horkheimer e Benjamin veem a indústria cultural de maneira distinta. Enquanto, os primeiros se posicionam com um olhar negativo, o último analisa de maneira crítica, sem deixar de reconhecer a contribuição da reprodutibilidade para os meios sociais: É importante destacarmos que Benjamin não é pessimista em relação aos novos modos de produção e circulação de imagens, mas apenas posiciona- se como observador crítico e com certa desconfiança em relação às 14 mudanças que estavam ocorrendo na Europa. Ele não faz propriamente um julgamento de valor sobre os acontecimentos de sua época, mas os coloca em suspensão abrindo possibilidade para novas reflexões. (SOUZA, 2017, p. 82). A postura estabelecida por Benjamin mostra que, apesar da massificação fazer a arte perder seu caráter único, é possível criar produtos com características estéticas particulares que podem agregar informação e conhecimento sem prejudicar a capacidade de reprodutibilidade. Este pensamento representa a dinâmica do jornalismo cultural que, apesar de poder atingir um maior número de pessoas com produtos multiplicáveis, mantém sua essência de informar usando, muitas vezes, aspectos estéticos e artísticos. 4.2 JORNALISMO CULTURAL Assim como o próprio jornalismo, não se sabe ao certo quando surgiu o jornalismo cultural. De acordo com Piza (2010, p. 11), pode-se considerar como marco o surgimento da revista The Spectator, no século XVII. O impresso falava sobre temas corriqueiros, discutidos, na época, somente em universidades e salas de aula, como a música, o teatro e a literatura. O principal objetivo do periódico era trazer a discussão desses temas para as mesas de ambientes comuns como os cafés e bares. Foi apenas com o advento da revolução industrial, ocorrida no início do século XIX, que o jornalismo cultural (JC) se estruturou popularmente já que, neste momento, era possível replicar um produto em grandes quantidades. Mesmo com sua vertente na Europa, o JC “[...] atravessou o Atlântico e se tornou influente em países como os EUA e o Brasil” (PIZA, 2010, p. 16). Edgar Allan Poe foi o precursor desta modalidade jornalística em terras americanas. Já no Brasil, foram os ensaios de Machado de Assis que iniciaram as prime iras inspirações para produções deste gênero. Importante destacar que ambos os autores iniciaram sua carreira através da crítica. Por consequência, durante muito tempo o JC só tinha produções opinativas e não era comum ver trabalhos que exploravam a cultura por meio de apuração precisa e critérios de noticiabilidade. Gadini (2003, p. 9) explica que com a 15 possibilidade da circulação em massa, os jornais passam a publicar críticas como forma de expandir o conhecimento sobre as artes para todo o tipo de público. Assis (2008, p. 184) destaca que foi a partir da década de 70 que o jornalismo cultural começou a estabelecer novas características e destinar espaços específicos para assuntos deste gênero. No entanto, ele acabou perdendo seu caráter crítico com matérias superficiais, muitas vezes pautadas através da relação com os departamentos de marketing de empresas: Nessa época, a mídia impressa passou a reservar espaços diferenciados – muitas vezes, cadernos individuais – para pautas dessa natureza e, também, começou a dar destaque para assuntos populares, de forma não muito consistente. Essa, por assim dizer, “popularização” do jornalismo cultural – que transformou os “segundos cadernos” dos jornais diários e as revistas semanais e especializadas em produtos prioritariamente pautados por agendamento – acabou por banalizar sua produção, desencadeando sérias discussões sobre sua legitimidade. (ASSIS, 2008, p.184). É pensando justamente neste contexto que este trabalho parte da hipótese de que o jornalismo em quadrinhos pode ser uma nova ferramenta do JC, já que este teve sua origem atrelada à cultura e crítica social. Além do mais, sua construção textual e linguagem podem ser facilmente incorporadas nas seções de variedades dos jornais ou nas revistas segmentadas, este último com vários exemplos de especialização do conteúdo cultural. 4.2.1 Revistas e o conteúdo cultural De acordo como Piza (2010, p. 19), após a popularização do JC no mundo, “quem continuou a desempenhar papel fundamental no jornalismo cultural foram as revistas, incluindo na categoria os tabloides literários semanais e quinzenais”. Scalzo (2010, p. 19) explica que as primeiras publicações surgiram a partir do século XVII, mas ainda estavam longe do que se têm hoje em dia. Mesmo assim, o surgimento delas “[...] deixam clara a missão do novo tipo de periódico que surgia: destinar-se a públicos específicos e aprofundar os assuntos mais que os jornais, menos que os livros”. O aprofundamento aliado à segmentação são as principais características que tornam as revistas fortes dentro do mercado impresso, já que “[...] os textos de revista buscam elaborar interpretações a fim de esclarecer o público leitor sobre os principais fatos do cotidiano” (BAPTISTA E ABREU, 2010, p. 23). 16 São exatamente estes conceitos que permitiram o surgimento de revistas no ramo cultural. Conforme vimos anteriormente, o JC só surgiu quando assuntos comuns como dança, música e teatro passaram a ocupar páginas de publicações especializadas e dedicadas totalmente a estes temas. Este cenário vem ao encontro da ideia estabelecida por Scalzo: (2010, p. 12): Revista também é um encontro entre um editor e um leitor, um contato que se estabelece por um fio invisível que une um grupo de pessoas e, nesse sentido, ajuda a compor a personalidade, isto é, estabelece identificações, dando a sensação de pertencer a um determinado grupo. Este sentimento de pertencimento citado acima se relaciona diretamente com o próprio conceito de cultura, estabelecido por Edward Taylor no século XIX, que entendia o mesmo como um conjunto de características sociais que influenciavam os mais diversos grupos sociais (RANGEL, 2008, p. 9). E para apresentar cultura aos leitores é necessária uma intensa inovação no conteúdo. Scalzo (2010, p. 61), destaca que “antigamente, era possível manter uma revista praticamente inalterada, sem submetê-la a transformações gráficas e editoriais por um longo período de tempo. Hoje não é mais possível. Se o editor não se der conta disso, o leitor o ultrapassa correndo”. A autora explica ainda que a inovação dever ser feita em todos os elementos, desde a capa até os próprios textos. Pensando neste contexto, é possível afirmar que o jornalismo em quadrinhos se mostra como um novo aliado para renovação da linguagem das revistas, bem como a atração de novos leitores. 4.2.2 História dos quadrinhos no jornalismo impresso O surgimento dos quadrinhos está ligado diretamente com os primórdios da humanidade. De acordo com Araújo (2009, p. 19), “para buscarmos as origens das histórias em quadrinhos, devemos primeiramente nos retroceder até a pré-história, onde o homem das cavernas, gravou imagens em pedras, nos deixando as primeiras expressões da natureza humana de que se tem conhecimento”. No decorrer da história,são várias as expressões neste estilo. Os hieróglifos egípcios e as obras de arte são exemplos disso. No entanto, considera-se como marco das HQs a publicação de Yellow Kid, de Richard Outcault, no jornal New York World, no final do século XIX. Esta seria a primeira vez que uma história em 17 quadrinhos seria veiculada em um meio de comunicação de massa (LUYTEN, 1987, p. 16). Figura 3: Quadrinho The Yellow Kid Fonte: The Comics Journal, 2016 4 Anselmo (1975, p. 42) relata que “é comum dizer-se que os EUA são ‘a pátria dos quadrinhos’”. A autora comenta ainda que, ao ver seu concorrente prosperando com a publicação de Outcault, William Randolph Hearst fundou o Morning Jornal. Juntamente com o New York World, os impressos foram responsáveis pela disseminação e popularização dos quadrinhos que, segundo Luytan (1987, p. 20), eram publicados “[...] nos suplementos dominicais, que eram, na época, parte mais procurada do jornal, com os leitores aguardando ansiosamente o momento de reencontrar seus heróis”. No Brasil, As Aventuras de Nhô-Quim, iniciada por Angelo Agostini e finalizada por Cândido de Faria, entre 1869 e 1872, na revista Vida Fluminense, é considerada a primeira história em quadrinhos do país. (CARDOSO, 2013, p. 22). Após isso, através da Revista Ilustrada, Don Quixote e O Malho, são publicados cerca de 100 capítulos de As aventuras de Zé Caipora, narrativa que conta as peripécias do personagem José Corimba. 4 Outcault, Goddard, the Comics, and the Yellow Kid. Disponível em: http://www.tcj.com/outcault- goddard-the-comics-and-the-yellow-kid/. Acesso em 29/10/2017. 18 Figura 4: Quadrinho As aventuras de Nhô-Quim Fonte: Olhar Direto, 2014 5 Analisando este cenário, pode-se constatar que as HQs se desenvolveram graças as sua vertente dentro dos jornais. Gomes (2010, p. 32), explica que “a ligação entre quadrinhos e imprensa existe há tempos, quando os jornais norte- americanos e europeus publicavam caricaturas de veia humorística com alguns diálogos [...]”. Luyten (1987, p. 18) defende ainda que a inserção das histórias em quadrinhos nos veículos impressos ajudaram a alavancar a venda dos jornais, o que fez com a imprensa voltasse seu olhar para os desenhistas da época: A supervalorização das HQ, devido à exigência dos leitores, mostrou aos empresários que os quadrinhos tinham o seu lugar assegurado, e eles “compreenderam” rapidamente o fenômeno saindo à procura de autores cada vez melhores, criando uma efervescência no setor. Esta abertura dada pelos impressos fez com que novas possibilidades comunicacionais surgissem para as HQs. No início do século XX, além das publicações periódicas em jornais, surgiu a comercialização através dos syndicates, órgãos especializados em distribuição de histórias em quadrinhos, o que possibilitou a criação de personagens icônicos como Rupert, Mickey Mouse e Flash Gordon. (ANSELMO, 1975, p 50-53). 5 Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos remete à 1869, ano de criação da HQ no Brasil. Disponível em: http://www.olhardireto.com.br/conceito/noticias/exibir.asp?id=3841¬icia=dia- nacional-das-historias-em-quadrinhos-remete-a-1869-ano-de-criacao-da-hq-no-brasil. Acesso em 29/10/2017. 19 Figura 5: Quadrinho Mickey Mouse Fonte: Portal Uol, 2014 6 Atualmente, o entretenimento é o ramo mais forte das HQs. As editoras Marvel e DC Comics dominam a venda de histórias em quadrinhos. De acordo com uma pesquisa publicada no site oficial da distribuidora Diamond Comics, Marvel Legacy (Marvel), Dark Nights Metal (DC) e Venomverse (Marvel) foram os títulos mais vendidos durante setembro de 2017 na Índia. 7 No Brasil, as editoras Panini e Abril movimentam o mercado, a primeira, com a tradução de títulos da Marvel e DC e, a segunda, com os personagens da Disney. Quanto às produções nacionais, pode-se citar a contribuição de Maurício de Sousa com a Turma da Mônica, voltada para o público infanto-juvenil. Nos jornalismo impresso, os quadrinhos são mais explorados através de charges e tiras. Laerte, Jaguar e Ziraldo estão entre os principais nomes do gênero no país. 4.3 QUADRINHOS COMO GÊNERO JORNALÍSTICO 4.3.1 A diferença entre quadrinhos de entretenimento e quadrinhos jornalísticos Antes de explanar sobre as características dos quadrinhos bem como do JQ, se faz necessário esmiuçar sobre a diferença entre quadrinhos de entretenimento e quadrinhos no meio jornalístico. Para estabelecer essa diferença é primordial entender os conceitos dos termos. 6 Mickey Mouse comemora 82 anos de sua primeira tira. Disponível em: https://entretenimento.uol.com.br/album/mickey-82anos_album.jhtm#fotoNav=1. Acesso em 29/10/2017. 7 Top 100 Comics: September 2017. Disponível em: https://www.diamondcomics.com/Home/1/1/3/597?articleID=200837. Acesso em 29/10/2017. 20 Bucci (2007) cita que a palavra entretenimento é de origem latina e que pode ser entendida “[...] como aquilo que ocorre no tempo do lazer – que não pertence ao tempo do trabalho –, nas horas vagas, no passatempo, no intervalo entre duas atividades ditas sérias”. Quanto ao jornalismo, Traquina (2005, p. 19) entende o mesmo como um relato, através das notícias, de “[...] tudo o que é importante e/ou interessante”. Aprofundando um pouco mais nos conceitos, pode-se entender que o jornalismo trabalha com aquilo que é real, que acontece em nosso cotidiano, buscando uma análise crítica dos acontecimentos. Já o entretenimento está atrelado com a criação e contação de histórias, sem fiel compromisso com a realidade ou a reflexão dos fatos. A dinâmica dos quadrinhos exemplifica na prática a diferença entre os conceitos. Conforme falado anteriormente, as HQs surgiram no jornalismo impresso e, apesar de sua veia humorística, a crítica social era um dos principais elementos observados na época. Furlan (1984, p. 26) dá como exemplo disso as histórias de Richard Outcault: “‘Down Hogan’s Alley’ pode ser considerada uma predecessora do gênero de HQ, pois utiliza-se do balão, além de, por sua natureza debochada e sensacionalista, ter dado origem à expressão ‘imprensa amarela’ nos EUA [...]”. Assim como as histórias em quadrinhos evoluíram no decorrer do tempo, o mesmo aconteceu com as críticas sociais constantes nelas, que passaram a ser cada vez mais pautadas nas próprias notícias dos jornais. Nicolau (2007, p. 3) discorre que a criação das tirinhas serviu como um marco desta questão: [...] as tiras de humor tinham liberdade crítica sobre os costumes e a moral da época muito mais que outros gêneros, pois se tratava de uma forma de expressão inédita e inesperada, com características próprias. E os humoristas desenvolveram uma comunicação com o público que se sustentava intensamente nesta liberdade. O humor aliado à crítica foi o que permitiu com que os leitores se aproximassem cada vez mais dos quadrinhos e quanto mais essa relação era construída, mais se sentiu a necessidade de propor novos conceitos. Soares (1984, p. 59) explica que no Brasil, os quadrinhos tinham essencialmente um realce americano voltado a criação de uma realidade que não condizia com o que se vivia aqui. No entanto, sindicatos, igrejas e outros órgãos foram responsáveis pelas primeiras tentativas de popularização por meio de produções próprias. 21 A partir do momento em que as HQs deixam de ser exclusividade do jornalismo impresso, umnovo conceito se estabelece. Os quadrinhos, agora, podem atender a interesses específicos das instituições, além serem usados como meio de entretenimento: Em 1948, aconteceu a maior proliferação de novos títulos e gibis de histórias policiais. No mínimo, uma dezena de novas revistas foram lançadas [...]. As vendas alcançavam números astronômicos por ser uma forma de entretenimento popular e barata. A influência que esse tipo de publicação podia exercer sobre a juventude não passou despercebida das autoridades americanas, preocupadas em preservar os valores morais em que acreditavam. (RIO DE JANEIRO, 2003, p. 5). A ascensão das HQs como um meio de entretenimento, aliado a diminuição do espaço dos jornais, fez com os quadrinhos tivessem uma menor exploração pelos veículos impressos comparado ao que se via em suas origens. O JQ tenta resgatar o espírito crítico dos primórdios das HQs, apresentando um novo formato de comunicação aliado às técnicas jornalísticas. 4.3.2 A linguagem do jornalismo em quadrinhos Durante o desenvolvimento deste trabalho, não foram encontrados livros que contam sobre a história e características do jornalismo em quadrinhos. Os trabalhos voltados à área se resumem ao ambiente acadêmico, com produção de artigos e monografias. Analisando estes textos, pode-se notar que Iuri Barbosa Gomes é um pesquisador que vem desenvolvendo estudos sobre o tema. Seu trabalho mais recente, intitulado Jornalismo em Quadrinhos na Revista Fórum: Nova Prática Jornalística no Brasil foi feito em parceira com Eduardo Medeiros e publicado em 2013. Em todos os textos do autor, pode-se perceber que a origem do JQ é bem clara. “O jornalismo em quadrinhos (JHQ) ganha visibilidade internacional com a publicação de Palestina, Uma Nação Ocupada, do jornalista maltês Joe Sacco, publicada em português no Brasil em 2004 – mas originalmente lançada em 1997.” (GOMES, 2009, p. 2). Ele ainda vai além e, em outro trabalho afirma que: “O jornalismo em quadrinhos [...] tem sua possível gênese em Ângelo Agostini, um desenhista italiano radicado no Brasil que no século XIX fazia espécie de 22 reportagens ilustradas contra a escravidão. Porém, foi com Joe Sacco que a prática foi ‘sistematizada’”. (GOMES, 2010, p. 37). Ao citar a sistematização da prática, Gomes quer dizer que Sacco foi o primeiro jornalista a transformar um assunto com potencial de reportagem em uma história em quadrinhos, sem deixar de cumprir com os critérios de apuração e publicação de um texto jornalístico. Em entrevista ao portal Guia de Estudante (2017), Sacco explica como funciona a apuração de suas matérias: Eu ajo como qualquer outro jornalista: tomo notas, falo com as pessoas, faço entrevistas. A diferença é que, quando entrevisto as pessoas e quero apurar algo que já aconteceu, não pergunto “o que aconteceu com você?”, faço perguntas que envolvam o visual, que me ajudem a desenhar depois. Se falam de um campo, pergunto o que há nesse campo, como era, do que se lembram. O relato de Sacco exemplifica a complexidade de se fazer reportagens em quadrinhos, afinal o JQ é constituído de recursos verbais e não-verbais, o que caracteriza uma linguagem própria: “as histórias em quadrinhos representam aspectos de oralidade e reúnem os principais elementos narrativos, apresentados com o auxílio de convenções que formam o que estamos chamando de linguagem dos quadrinhos” (RAMOS, 2009, p.18). Vale ressaltar que o que torna o JQ um formato único é a premissa de que um fato é traduzido em imagens e uma sequência narrativa, logo, é necessária uma apropriação dos personagens envolvidos para construir a reportagem: “Essas apropriações trazem riquezas ao texto e as figuras são elaboradas de acordo com dados não ficcionais, ou seja, a veracidade não pode ser questionada por basear-se em documentos e entrevistas com fontes confiáveis”. (SANTOS E CAVIGNATO, 2013, p. 221). Essa dinâmica do JQ traz novas possibilidades para a arte sequencial que, segundo Einser (1999, p. 5), é “[...] uma disciplina distinta, uma forma artística e literária que lida com a disposição de figuras ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma idéia.”, já que agora histórias reais podem ser contadas através da junção ente imagens e textos, ou seja, as ilustrações deixam de ser apenas objetos de complementação textual e passam a ser parte integrante e importante do discurso da reportagem. 23 5. METODOLOGIA Este trabalho visa fazer uma análise comparativa entre o jornalismo em quadrinhos e o jornalismo impresso. A fim de realizar essa investigação, será utilizada a técnica de análise de contéudo que, de acordo com Bardin (1997, p. 9), se utiliza de “[...] técnicas múltiplas e multiplicadas – desde o cálculo de frequências, que fornece dados cifrados, até à extração de estruturas traduzíveis em modelos – é uma hermenêutica controlada, baseada na dedução: a inferência”. Para realizar este estudo, serão analisados dois trabalhos jornalísticos. O primeiro é uma reportagem em quadrinhos intitulada Pixação: uma questão de classe???, veiculada na revista Fórum em abril de 2013, já o segundo será a entrevista Cripta Djan: ‘o pixador é o artista que transcendeu as telas’, veiculada em novembro de 2012 na revista O Viés. Serão avaliadas as versões online do material, pois, durante o desenvolvimento deste trabalho não foram encontradas as versões impressas dos materiais. Considerando que o jornalismo em quadrinhos utiliza de recursos verbais e não verbais, a análise será feita através de duas vertentes: características textuais e aspectos visuais. Referente ao primeiro tópico, será levada em consideração a obra Elementos do jornalismo impresso, publicada em 2001 por Jorge Pedro Sousa.8 Nela, são estabelecidos 14 princípios de construção textuais que, segundo o autor, são essenciais para se produzir um texto jornalístico de qualidade. Os princípios elencados por ele são: correção, clareza, simplicidade, funcionalidade, concisão, precisão, sedução, rigor, eficácia, coordenação, seletividade, utilidade, interesse e hierarquização. Será utilizado como instrumento de pesquisa um quadro comparativo de elaboração própria, que inserirá os princípios estabelecidos por Sousa e assinalará quais requisitos ambos os objetos atendem. O quadro está exemplificado na próxima página: 8 Elementos do Jornalismo Impresso. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro- elementos-de-jornalismo-impresso.pdf. Acesso em 12/10/2017. 24 Quadro 1 - Requisitos de construção textual Reportagem em quadrinhos “pixação: uma questão de classe???” Entrevista em revista “Cripta Djan: ‘o pichador é o artista transcendeu às telas’” Correção Clareza Simplicidade Funcionalidade Concisão Precisão Sedução Rigor Eficácia Coordenação Seletividade Utilidade Interesse Hierarquização Fonte: O autor, 2017 Quanto aos aspectos visuais, as ideias estabelecidas por Marília Scalzo na obra Jornalismo de revista, aliadas aos conceitos elencados no livro Produção gráfica: arte e técnica na direção de arte de Antonio Celso Collaro, servirão como base para a elaboração de outro quadro comparativo, que também está exemplificado abaixo: Quadro 2 – Requisitos visuais Reportagem em quadrinhos “pixação: uma questão de classe???” Entrevista em revista “Cripta Djan: ‘o pichador é o artista transcendeu às telas’” Tipologia Tipografia Disposição textualCores Imagens Infográficos Desenhos Alinhamento Proximidade Repetição Contraste Fonte: O autor, 2017 Quanto aos autores que respaldarão este trabalho, Milena Costa de Souza contribuirá com as ideias de indústria cultural, Daniel Piza servirá como base sobre jornalismo cultural, Nilson Lage complementará as características textuais com a obra Estrutura da notícia e Robin Williams contribuirá as ideias estabelecidas no livro 25 Design para quem não é designer. Sobre o jornalismo em quadrinhos, serão analisados artigos acadêmicos produzidos por Iuri Gomes Barbosa, pois, ao longo do desenvolvimento deste projeto de pesquisa, percebeu-se que o autor vem elaborando trabalhos relacionados ao tema, no entanto, não tem uma definição clara se o JQ é considerado um gênero jornalístico. Considerando os itens elencados acima, pode-se considerar esta pesquisa como quantitativa já que, de acordo com Casarin e Casarin (2002, p. 36), ela irá “[...] quantificar ou mensurar uma ou mais variáveis estudadas”, mas com apresentação de dados qualitativa, pois ela “explora uma metodologia predominante descritiva [...]”, (CASARIN E CASARIN, 2002, p. 36). 26 6. CRONOGRAMA DE PESQUISA # Etapas Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho 1 Pesquisa Bibliográfica X X X 2 Análise dos objetos de pesquisa X 3 Redação do artigo X X 4 Revisão X X 5 Alterações do artigo X 6 Defesa X 27 7 RESULTADOS ESPERADOS Partindo da hipótese de que o JQ é um objeto do jornalismo cultural, visa-se compreender se as reportagens e entrevistas em quadrinhos podem ser mais atrativas, despertando a curiosidade e a vontade de leitores desinteressados em notícias. Este estudo espera observar também as características profissionais, ou seja, se os princípios jornalísticos são atendidos na construção dos produtos do jornalismo em quadrinhos. Por fim, pretende-se entender como esta nova iniciativa comunicacional pode se comportar dentro da imprensa e em quais veículos ela pode encontrar mais espaço e visibilidade. 28 REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. Teoria Estética. Lisboa: edições 70, 1970. ANSELMO, Zilda Augusto. Histórias em quadrinhos. 1 ed. Petrópolis: Vozes, 1975. 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