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CONCURSO DE PESSOAS

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36 CONCURSO DE PESSOAS
36.1.
NOMENCLATURA
É também conhecido por codelinquência, concurso de agentes e concurso de delinquentes.
36.2.
ESPÉCIES DE CRIMES QUANTO AO CONCURSO DE PESSOAS
Monossubjetivos: podem ser cometidos por um ou mais agentes
(homicídio, furto etc.).
Plurissubjetivos: só podem ser praticados por uma pluralidade de agentes (quadrilha ou bando).
36.3.
ESPÉCIES DE CRIMES PLURISSUBJETIVOS
De condutas paralelas: as condutas auxiliam-se mutuamente visando à produção de um resultado comum. Exemplo: crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CP).
De condutas convergentes: as condutas tendem a encontrar-se e desse encontro surge o resultado. Exemplo: o revogado crime de adultério, o qual constava do art. 240 do CP.
De condutas contrapostas: as condutas são praticadas umas contra as outras. Exemplo: crime de rixa (art. 137 do CP).
36.4.
ESPÉCIES DE CONCURSO DE PESSOAS
Concurso necessário: refere-se aos crimes plurissubjetivos, que exigem o concurso de, pelo menos, duas pessoas.
Concurso eventual: refere-se aos crimes monossubjetivos, que podem ser praticados por um só agente.
36.5.
AUTORIA
Autor é aquele que realiza a conduta expressa no verbo da figura típica, ou seja, a conduta descrita no tipo. É, portanto, aquele que “mata”, “subtrai”, “obtém a vantagem ilícita” etc. De acordo com esse entendimento, o mandante de um crime não pode ser considerado seu autor, uma vez que não lhe competiram os atos de execução do núcleo do tipo (quem manda matar não mata, logo não realiza o verbo do tipo). Pelo mesmo entendimento, se um agente segura a vítima, enquanto o outro com ela mantém conjunção carnal, ambos devem ser considerados autores de estupro, já que a figura típica do art. 213 do CP tem como núcleo a conduta de “constranger” (forçar a vítima a ter conjunção carnal ou a praticar outro ato libidinoso), e não a de “manter conjunção carnal”.
Há uma segunda corrente que sustenta que autor é todo aquele que detém o controle final da situação, de modo a ter o domínio total do fato até a sua consumação. Essa teoria denomina-se “Teoria do Domínio do Fato”, para a qual pouco importa se foram ou não realizados os atos de execução ou se foi praticado o verbo do tipo. Autor é o mandante, aquele que planeja toda a ação delituosa, que coordena e dirige a atuação dos demais, enfim, qualquer um que detenha o domínio pleno da ação, embora não a realize materialmente.
Segundo a teoria do domínio do fato, lembrada no ensinamento de
Wessels (1976, p. 119), autor é quem, como “figura central” (= figura-chave) do acontecimento, possui o domínio do fato (dirigido planificadamente ou de forma coconfigurada) e pode, assim, deter ou deixar decorrer, segundo a sua vontade, a realização do tipo. Partícipe é quem, sem um domínio próprio do fato, ocasiona ou de qualquer forma promove, como “figura lateral” do acontecimento real, o seu cometimento.
Assim, autor é quem dirige a ação tendo o completo domínio sobre a produção do resultado, enquanto partícipe é um simples concorrente acessório.
Preferimos a primeira corrente.
36.5.1.
 Teorias sobre a autoria
Restritiva: autor é só aquele que realiza a conduta típica.
Extensiva: autor é também todo aquele que concorre de qualquer modo para o crime.
Domínio do fato: autor é todo aquele que detém o controle final da produção do resultado, possuindo, assim, o domínio completo de todas as ações até a eclosão do evento pretendido. Não importa se realizou ou não o núcleo do tipo (o verbo, ou seja, a conduta principal). Para essa teoria, o mandante e aquele que planeja a ação (autor intelectual) são também considerados autores, muito embora não executem a ação material.
36.5.2.
 Teoria adotada pelo Código Penal
Teoria restritiva.
Autor é só aquele que realiza a conduta principal contida no núcleo do tipo, ou seja, aquele que subtrai, que mata, que constrange à conjunção carnal etc.
Todo aquele que, sem realizar conduta típica, concorrer para a sua realização não será considerado autor, mas mero partícipe.
36.6.
FORMAS DE CONCURSO DE PESSOAS
Coautoria: todos os agentes, em colaboração recíproca e visando ao mesmo fim, realizam a conduta principal. Na lição de Johannes Wessels (1976, p. 121), “coautoria é o cometimento comunitário de um fato punível mediante uma atuação conjunta consciente e querida”. Ocorre a coautoria, portanto, quando dois ou mais agentes, conjuntamente, realizarem o verbo do tipo.
Participação: os partícipes apenas concorrem para que o autor ou os coautores realizem a conduta principal. Partícipe é aquele que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de algum modo para a produção do resultado.
36.6
.1. Diferença entre autor e partícipe
Autor é aquele que realiza a conduta principal descrita no tipo incriminador.
Partícipe é aquele que, sem realizar a conduta descrita no tipo, concorre para a sua realização.
De acordo com o que dispõe nosso Código Penal, pode-se dizer que autor é aquele que realiza a ação nuclear do tipo (o verbo do tipo), enquanto partícipe é aquele que, sem realizar o núcleo (verbo) do tipo, concorre de alguma maneira para a produção do resultado ou para a consumação do crime.
36.6.2.
 Natureza jurídica do concurso de agentes
Teoria unitária: todos os que contribuem para a prática do delito cometem o mesmo crime.
Teoria dualista: há um só delito para os autores e outro para os partícipes.
Teoria pluralística: cada um dos participantes responde por delito próprio.
36.6.2.1.
 Teoria adotada quanto à natureza do concurso de pessoas
O CP adotou, como regra, a teoria unitária, também conhecida como monista. Nesse passo, seu art. 29, caput, dispõe:
Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
Assim, todos aqueles que, na qualidade de coautores ou partícipes, deram a sua contribuição para o resultado típico devem por ele responder, o que vale dizer todos respondem em regra pelo mesmo crime.
36.6.2.2.
 Exceção pluralística
No § 2o desse dispositivo, fez-se, porém, uma ressalva pluralística:
Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lheá aplicada a pena deste [...]
Embora todos os coautores e partícipes devam responder pelo mesmo crime, excepcionalmente, com o fito de evitar a responsabilidade objetiva, o legislador determina a imputação por outro crime, quando o agente quis participar de infração menos grave. É o caso do motorista que conscientemente conduz três larápios a uma residência para o cometimento de um furto. Enquanto aguarda, candidamente, no carro, os executores matam e estupram moradores. O partícipe responderá apenas pelo crime do qual quis tomar parte, qual seja o furto. Interessante: o delito principal foi latrocínio e estupro, mas o partícipe somente responde por furto, único fato que passou pela sua mente (se o resultado mais grave for previsível, a pena pode ser aumentada até a metade). Outras exceções pluralísticas em que o partícipe responde como autor de crime autônomo: o provocador do aborto responde pela figura do art. 126 do CP, ao passo que a gestante que consentiu as manobras abortivas, em vez de ser partícipe, responderá por crime autônomo (art. 124 do CP); casamento entre pessoa casada e outra solteira (art. 235, caput e § 1o, respectivamente, do CP).
36.6.3.
 Natureza jurídica da participação
De acordo com a teoria da acessoriedade, a participação é uma conduta acessória à do autor, tida por principal. Considerando que o tipo penal somente contém o núcleo (verbo) e os elementos da conduta principal, os atos do partícipe acabam não tendo qualquer enquadramento. Não existe descrição típica específica para quem ajuda a matar ou induz a furtar, mas tão somente para quem pratica diretamente o próprio verbo do tipo. Tratando-se de comportamento acessório e não havendo correspondência entre a conduta do partícipe e as elementares do tipo, faz-se necessária uma norma de extensão que leve a participação até o tipo incriminador. Trata-se do art. 29 do CP, segundo o qual qualquer
um que concorrer para um crime por ele responderá. Essa norma faz com que o agente que contribuiu para um resultado, sem, no entanto, praticar o verbo, possa ser enquadrado no tipo descritivo da conduta principal. Assim, quem ajudou a matar não praticou a conduta descrita no art. 121 do CP, mas como concorreu para o seu cometimento será alcançado pelo tipo do homicídio, graças à regra do art. 29. Por essa razão, a norma é chamada de norma de extensão ou ampliação da figura típica, sendo essa extensão chamada de pessoal (faz com que o tipo alcance pessoas diversas do autor principal) e espacial (atinge condutas distintas da do autor). Opera-se, assim, uma adequação típica mediata ou indireta. Não existe correspondência direta entre o comportamento e o tipo, uma vez que o partícipe não praticou o verbo do tipo, inexistindo, portanto, enquadramento. Por força do art. 29 do CP, no entanto, denominado norma de extensão, a figura típica é ampliada e alcança o partícipe. Por essa razão, o nome “norma de extensão” pessoal (alcança outras pessoas além do autor) e espacial (atinge outras condutas no espaço, além da do autor).
Exemplo: quatro ladrões pretendem praticar um furto. Três entram na residência escolhida e de lá subtraem para si diversos objetos de valor. O outro fica do lado de fora, cuidando para que ninguém se aproxime. Consumada a subtração, todos conseguem fugir.
Os três larápios que efetivamente realizaram a conduta descrita no tipo penal do furto são coautores de furto. O outro nada subtraiu.
Se inexistisse a norma de extensão, a conduta desse último seria atípica.
Veja bem: ele subtraiu alguma coisa? Não. Então, como enquadrar a conduta de quem apenas auxiliou o furto na figura típica do art. 155 do CP? Por meio da norma de extensão espacial e pessoal.
Aquele que segurou a vítima, enquanto o outro a matou, não praticou o verbo do tipo (matar). Não matou, apenas ajudou a matar.
Há quatro classes de acessoriedade: mínima (basta o partícipe concorrer para um fato típico); limitada (deve concorrer para um fato típico e ilícito); extrema (o fato deve ser típico, ilícito e culpável); hiperacessoriedade (o fato deve ser típico, ilícito e culpável, e o partícipe responderá pelas agravantes e atenuantes de caráter pessoal relativas ao autor principal). Nas edições anteriores, acompanhando o entendimento doutrinário dominante, adotávamos a acessoriedade limitada, sustentando que o fato principal não precisava ser culpável para que o agente dele fosse considerado partícipe. Bastava ser típico e ilícito (ou antijurídico). Passamos, no entanto, com Flávio Augusto Monteiro de Barros, a entender que deve ser aplicada a teoria da acessoriedade extremada (ou máxima) (CAPEZ, 2003, p. 318).
36.6.4.
 Autoria mediata
Autor mediato é aquele que se serve de outra pessoa, sem condições de discernimento, para realizar por ele a conduta típica. A pessoa é usada como um mero instrumento de atuação, como se fosse uma arma ou um animal irracional. O executor atua sem vontade ou sem consciência e, por essa razão, considera-se que a conduta principal foi realizada pelo autor mediato.
A autoria mediata distingue-se da autoria intelectual porque, nesta, o autor intelectual atua como mero partícipe, concorrendo para o crime sem realizar a ação nuclear do tipo. É que o executor (o que recebeu a ordem ou promessa de recompensa) sabe perfeitamente o que está fazendo, não podendo dizer que foi utilizado como instrumento de atuação. O executor é o autor principal, porque ele realizou o verbo do tipo, enquanto o mandante atua como partícipe pela instigação, induzimento ou auxílio. Exemplo: quem manda um pistoleiro matar alguém não mata, logo não realiza o núcleo do tipo e não pode ser considerado autor (o art. 121 não descreve a conduta de “mandar matar”, mas a de “matar alguém”); agora, se o agente manda um louco realizar a conduta, aí, sim, será autor (mediato), porque o insano foi usado como seu instrumento (longa manus).
A autoria mediata pode resultar de:
ausência de capacidade penal da pessoa da qual o autor mediato se serve. Exemplo: induzir um inimputável a praticar crime;
coação moral irresistível. Se a coação for física, haverá autoria imediata, desaparecendo a conduta do coato;
provocação de erro de tipo escusável. Exemplo: o autor mediato induz o agente a matar um inocente, fazendo-o crer que estava em legítima defesa;
obediência hierárquica. O autor da ordem sabe que ela é ilegal, mas aproveita-se do desconhecimento de seu subordinado.
Em todos esses casos, não foi a conduta do autor mediato que produziu o resultado, mas a da pessoa por ele usada como mero instrumento de seu ataque.
Não há autoria mediata nos crimes de mão própria, nem nos crimes culposos.
Inexiste concurso de agentes entre o autor mediato e o executor usado.
36.6.5.
 Requisitos do concurso de pessoas
36.6.5.1.
 Pluralidade de condutas
Sem pluralidade de condutas nunca haverá uma principal e outra acessória, mínimo exigido para o concurso.
36.6.5.2.
 Relevância causal de todas as condutas
Ocorre se a conduta não tem relevância causal, então o agente não concorreu para nada, desaparecendo o concurso.
36.6.5.3.
 Liame subjetivo
É imprescindível a unidade de desígnios, isto é, a vontade de todos contribuírem para a produção do resultado, sendo o crime produto de uma cooperação desejada e recíproca. É necessária a homogeneidade de elemento subjetivo (não se admite participação dolosa em crime culposo e vice-versa).
Não se exige prévio acordo de vontades, bastando apenas que uma vontade adira à outra. Exemplo: a doméstica pode abrir a porta para o ladrão, com a finalidade de prejudicar a patroa, sem que ele saiba que está sendo ajudado.
36.6.5.4.
 Identidade de infração para todos
Em regra, todos devem responder pelo mesmo crime, salvo as exceções pluralísticas.
36.6.6.
 Formas de participação
a) Moral: instigação e induzimento:
Instigar é reforçar uma ideia existente. O agente tem a ideia em mente, a qual é apenas reforçada pelo partícipe.
Induzir é fazer brotar a ideia no agente. O agente não tinha ideia de cometer o crime, mas ela é colocada em sua mente.
b) Material: auxílio (emprestar arma, segurar a vítima etc.).
Há quem sustente que cúmplice é aquele que contribui para o crime prestando auxílio ao autor ou partícipe, exteriorizando a conduta por um comportamento ativo (a condução da vítima até o local do crime, a revelação de horário de menor vigilância em instituições bancárias etc.). Em que pese esse conceito, entendemos que cúmplice é o partícipe que concorre para o crime por meio de auxílio.
36.7.
CONCEITOS FINAIS
36.7.1.
 Autoria colateral
Mais de um agente realiza, cada qual, a sua conduta, sem que exista liame subjetivo entre eles. Exemplo: “A” e “B” executam simultaneamente a vítima, sem que um conheça a conduta do outro.
36.7.2.
 Autoria incerta
Ocorre quando, na autoria colateral, não se sabe quem foi o causador do resultado. Note: sabe-se quem realizou a conduta, mas não quem deu causa ao resultado (é certo que “A” e “B” atiraram, mas, se as armas têm o mesmo calibre, como saber qual o projétil causador da morte?).
36.7.3.
 Autoria ignorada
Não se consegue apurar qual o realizador da conduta, ou seja, não se sabe nem quem foi o autor da conduta.
36.7.4.
 Participação de participação
Uma conduta é acessória de outra conduta acessória. É o auxílio do auxílio, o induzimento ao instigador etc.
36.7.5.
 Participação sucessiva
Após uma conduta, que assessora a principal, ocorre outra. Exemplo: o partícipe induz o autor a praticar um crime e depois o auxilia.
36.7.6.
 Conivência ou participação negativa
Ocorre quando o omitente não tem o dever jurídico de impedir o resultado; quando tiver, ocorrerá a participação por omissão.
36.8.
PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL
Ocorre quando o fato principal não chega a ingressar em sua fase executória. Como antes dessa fase o fato não pode ser punido, a participação também restará impune (art. 31 do CP).
37 COMUNICABILIDADE E INCOMUNICABILIDADE DE ELEMENTARES
E CIRCUNSTÂNCIAS
37.1.
INTRODUÇÃO
Dispõe o art. 30 do CP:
Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
Assim, de acordo com essa redação, as circunstâncias pessoais somente se comunicam ao coautor ou partícipe quando não forem circunstâncias, mas elementares.
Podemos, então, extrair três regras:
1a) As circunstâncias subjetivas, também chamadas circunstâncias de caráter pessoal, jamais se comunicam no concurso de agentes.
2a) As circunstâncias objetivas, de caráter não pessoal, podem comunicar-se, desde que o coautor ou partícipe delas tenha conhecimento.
3a) As elementares, pouco importando se subjetivas (de caráter pessoal) ou objetivas, sempre se comunicam.
37.2.
CONCEITO DE ELEMENTAR E DE CIRCUNSTÂNCIA
37.2.1.
 Elementar
É todo componente essencial da figura típica, sem o qual ela desaparece ou se transforma.
O termo origina-se de “elemento”, que significa tudo o que constitui e integra – como requisito essencial, básico – uma substância, palavra ou fato.
Exemplo: o crime de furto resulta da conjugação dos seguintes elementos:
subtrair (tirar contra a vontade);
para si ou para outrem (ânimo de assenhoreamento definitivo);
coisa alheia;
móvel.
Ausente 	qualquer 	desses 	componentes, 	o 	crime 	desaparecerá
(atipicidade absoluta) ou se transformará em outro (atipicidade relativa).
São, portanto, elementares do crime de furto. Do mesmo modo, quem participa no crime de peculato, em que a condição de funcionário público é elementar do delito, responde por este em concurso com o funcionário, ainda que seja estranho à Administração Pública. (MARTINS, 1974, p. 278)
37.2.2.
 Circunstância
É todo dado acessório agregado à figura típica, cuja função é tão somente a de influir na sanção penal.
A circunstância apenas circunda o crime, nunca o integra como sua essência. Consequentemente, ausente a circunstância, subsiste o crime.
Pode-se definir a circunstância como todo componente não essencial da figura típica situado ao seu redor com a finalidade de conferir-lhe características meramente acessórias, que levam a pena a ficar mais ou menos grave. Exemplo: o furto agravado pelo repouso noturno. O § 1o do art. 155 do CP prevê uma causa de aumento para o furto quando praticado durante o período em que as pessoas costumeiramente se recolhem para o descanso. Ser ou não praticado durante o repouso noturno é um dado meramente secundário, sem qualquer influência sobre a existência ou não desse crime. Em outras palavras: ainda que praticado em plena luz do dia, o fato continuará sendo furto. Trata-se, portanto, de simples circunstância que confere ao fato uma consequência penal mais rígida.
37.3.
REGRA
As elementares situam-se no caput do tipo incriminador, denominado tipo fundamental, enquanto as circunstâncias residem nos parágrafos, que são os tipos derivados.
37.4.
CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR
Seriam aqueles dados híbridos, situados entre as elementares e as circunstâncias comuns. Não são essenciais para a existência do crime, mas alteram os limites de pena, fixando o mínimo e o máximo. Tratar-seia das qualificadoras. Silva Franco et al. (1995, p. 382) a elas se referem ao dizer:
As circunstâncias são os fatos ou dados, de natureza objetiva ou subjetiva, que não interferem, porque acidentais, na configuração do tipo, destinando-se apenas a influir sobre a quantidade de pena cominada para efeito de aumentá-
-la ou de diminuí-la. Algumas circunstâncias participam, no entanto, da própria estrutura da figura criminosa e deixam, por via de consequência, de ser acidentais para se transformarem em circunstâncias essenciais ou elementares do tipo.
Entendemos que as “circunstâncias elementares” não existem, pois configuram uma contradição em si mesmas. Ou o componente típico é essencial para a existência do crime e denomina-se elementar ou é acessório e será chamado de circunstância. As qualificadoras são circunstâncias comuns, uma vez que sua exclusão não elimina o crime, que apenas passa de qualificado a simples, logo seguem a regra traçada pelo art. 30 do CP para as circunstâncias.
37.4.1.
 Espécies de circunstâncias
Objetivas: referem-se a aspectos objetivos do crime, como o tempo, o lugar, o modo de execução, os meios empregados, as qualidades do objeto, da vítima etc. Dizem, então, respeito ao fato e não ao agente.
Subjetivas: referem-se ao agente e não ao fato, como a reincidência, os antecedentes, a conduta social, a personalidade, a menoridade relativa, a maioridade senil e os motivos que levaram à prática do crime.
37.5.
CONCURSO DE PESSOAS NO INFANTICÍDIO
Esse crime é composto pelos seguintes elementos: ser mãe (crime próprio) + matar + o próprio filho + durante o parto ou logo após + sob influência do estado puerperal. É o crime em que a mãe mata o próprio filho, durante o parto ou logo após, sob influência do estado puerperal. Essa é a descrição típica contida no art. 123 do CP. Excluído algum dos dados constantes do infanticídio, a figura típica deixará de existir, passando a ser outro crime (atipicidade relativa).
Todos os componentes do tipo, inclusive o estado puerperal, são, portanto, elementares desse crime. Sendo elementares, em regra, comunicam-se ao coautor ou partícipe, salvo se ele desconhece a sua existência, evitando a responsabilidade objetiva. Diferentes, porém, poderão ser as consequências, conforme o terceiro seja autor, coautor ou partícipe.
Há três situações possíveis:
1a) A mãe mata o próprio filho, contando com o auxílio de terceiro: mãe é autora de infanticídio, e as elementares desse crime comunicam-se ao partícipe, que, assim, responde também por infanticídio. Somente no caso de o terceiro desconhecer alguma elementar é que ele responderá por homicídio. A “circunstância” de caráter pessoal (estado puerperal) comunica-se ao partícipe justamente porque não é circunstância, mas elementar.
2a) O terceiro mata o recém-nascido, contando com a participação da mãe: aquele comete crime de homicídio, pois foi autor da conduta principal, inexistindo correspondência entre a sua ação e os elementos definidores do infanticídio. Opera-se a adequação típica imediata entre a sua conduta e a prevista no art. 121 do CP. Ele matou alguém, logo cometeu homicídio. A mãe foi sua partícipe, já que não realizou o núcleo do tipo
(não matou, apenas ajudou a matar), devendo responder por homicídio.
Embora essa, no entanto, seja a solução apontada pela boa técnica jurídica e a prevista no art. 29, caput, do CP (todo aquele que concorre para um crime incide nas penas a ele cominadas), não pode aqui ser adotada, pois levaria ao seguinte contrassenso: se a mãe mata a criança, responde por infanticídio, mas, como apenas ajudou a matar, responde por homicídio. Não seria lógico. Nessa segunda hipótese, a mãe, portanto, responde por infanticídio.
3a) Mãe e terceiro executam em coautoria a conduta principal, matando a vítima: a mãe será autora de infanticídio e o terceiro, por força da teoria unitária ou monista, responderá pelo mesmo crime nos termos expressos do art. 29, caput, do CP.
Durante muitos anos, uma corrente doutrinária defendida por Nélson Hungria e compartilhada por outros autores distinguiu as circunstâncias pessoais das personalíssimas, concluindo que, em relação a elas, não há comunicabilidade. Para essa corrente, o estado puerperal, apesar de elementar, não se comunica ao partícipe, o qual responderá por homicídio, evitando-se que ele se beneficie de um privilégio imerecido. Ocorre que, na última edição de sua obra, o maior penalista brasileiro de todos os tempos reformulou a sua posição, passando a sustentar que “em virtude do nosso Código, mesmo os terceiros que concorrem para o infanticídio respondem pelas penas a este cominadas, e não pelas do homicídio” (HUNGRIA, 1979, v. 5, p. 266). Com efeito, o art. 30 não distingue entre elementares pessoais e personalíssimas. Sendo elementar, comunica-se, salvo quando desconhecida.
37.6.
QUALIFICADORA DA PROMESSA DE RECOMPENSA NO HOMICÍDIO
O homicídio
continua existindo com ou sem essa qualificadora, por se tratar de mera circunstância. A lei procurou aumentar a pena do executor de homicídio que atua impelido pelo abjeto e egoístico motivo pecuniário, reservando tratamento mais severo para os chamados “matadores de aluguel”. A circunstância tem caráter pessoal porque se trata do motivo do crime, ou seja, algo ligado ao agente, não ao fato (é o autor quem tem motivos para fazer ou deixar de fazer alguma coisa, e não o fato). Assim, tratando-se de circunstância de caráter pessoal, não se comunica ao partícipe, nos termos expressos do art. 30. Exemplo: pai desesperado, que deseja eliminar perigoso marginal que estuprou e matou sua filha, contrata pistoleiro profissional, o qual comete o homicídio sem saber dos motivos de seu contratante, apenas pela promessa de paga. Evidentemente, não poderão responder pelo mesmo crime, pois seus motivos são diversos e incomunicáveis. O pai responderá por homicídio privilegiado (partícipe), e o executor, por crime qualificado (autor).
37.7.
PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL
São atípicos o auxílio, a instigação e o induzimento de fato que fica na fase preparatória, sem que haja início de execução (art. 31 do CP).

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