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1 DIREITO PENAL – PARTE GERAL CONCURSO DE PESSOAS - O crime pode ser praticado por uma ou mais pessoas. Não raro o delito é produto da concorrência de condutas referentes a dois ou mais sujeitos distintos. Quando isso ocorre estamos diante do concurso de pessoas ou codelinquência, concurso de agentes, coautoria, participação, coparticipação. - Alguns crimes, chamados monossubjetivos ou de concurso eventual, podem se cometidos por um ou mais agentes, como o homicídio, por exemplo; outros, no entanto, denominados plurissubjetivos ou de concurso necessário, só podem ser praticados por uma pluralidade de agentes, como o crime de quadrilha ou bando. - Os crimes plurissubjetivos podem ser de condutas paralelas (artigo 288), de condutas convergentes (artigo 240) ou de condutas contrapostas (artigo 137). > Teoria pluralística ou pluralista: - Estabelece que os autores de uma mesma conduta criminosa devem responder por artigos diferentes de acordo com sua conduta no intercriminis. - Para esta teoria, o código penal deveria descrever muito mais condutas. > Teoria dualista: - Propõe que as leis penais descrevam contribuições de duas categorias de pessoas: os autores e os partícipes, fixando penas específicas para cada. > Teoria monista ou monística ou unitária: - Estabelece que todos os concorrentes de um crime vão responder pelo mesmo artigo, ainda que cada um tenha contribuído de maneira diferente. - Foi a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro, em seu artigo 29, caput, com alguns resquícios das duas teorias citadas anteriormente, como se vislumbra nos §§ 1º e 2º do mesmo artigo e quando o legislador descreveu condutas diferentes de acordo com o autor, como por exemplo no caso do aborto: Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. > Requisitos para o concurso de agentes: a) Pluralidade de participantes e de condutas; b) Relevância causal de cada conduta; c) Vínculo (liame) subjetivo entre os participantes: devem os envolvidos querer a prática criminosa. Não necessariamente significa acordo prévio entre os agentes. d) Unidade de infração penal. 2 ➔ Autoria e coautoria >> Teorias > Teoria extensiva - Não existe distinção entre coautor e partícipe; todos são chamados de coautores, realizem o verbo ou concorram para a consecução do crime. Segue o critério causal-naturalístico. - Não adotada no direito penal brasileiro. > Teoria restritiva - Para esta teoria, autor é quem pratica o verbo-núcleo descrito no tipo penal. - Quem contribui de outra maneira seria considerado partícipe. - A teoria é falha pois não aborda a questão do mandante do crime, que não poderia ser classificado como autor nem partícipe pois não executa o verbo-núcleo nem contribui efetivamente de outra maneira. > Teoria do domínio do fato (objetivo-subjetiva) - Autores de um crime são todos os agentes que, mesmo sem praticar o verbo, concorrem para a produção final do resultado, tendo o domínio completo de todas as ações até o momento consumativo. - O que importa não é se o agente pratica ou não o verbo, mas se detém o controle dos fatos, podendo decidir sobre sua prática, interrupção e circunstâncias, do início da execução até a produção do resultado. - Adota um critério objetivo-subjetivo. Essa teoria tem base finalista, explicando a questão da autoria mediata. - O critério de imputação denominado "domínio do fato" é utilizado para atribuir responsabilidade: 1) ao autor intelectual que utiliza um inimputável como instrumento para realização da conduta; 2) àquele que, por sua vontade, realiza pessoalmente a conduta, ou seja, executa o núcleo do tipo; 3) àquele que planeja o crime, que será executado por outras pessoas - autor intelectual. - A doutrina diz que nosso ordenamento jurídico adotou a teoria restritiva complementada pela teoria do domínio do fato. >> Diferentes tipos de autorias > Autoria imediata - Ocorre quando o próprio sujeito executa o delito, seja de forma direta (atuando pessoalmente – desferindo um tiro mortal, v.g.), seja de forma indireta (quando o agente se vale de animais, por exemplo, para o cometimento do crime). > Autoria mediata - Ocorre quando o autor domina a vontade alheia e, desse modo, se serve de outra pessoa que atua como instrumento. - A autoria mediata pode resultar de: I) ausência de capacidade penal; II) provocação de erro de tipo escusável; 3 III) coação moral irresistível; IV) obediência hierárquica a ordem não manifestamente ilegal. - Importante: Não há concurso de agentes entre o autor mediato e o executor, pois somente o autor mediato responderá, porque praticou o crime utilizando terceiro como mero instrumento. > Autoria colateral - Ocorre autoria colateral quando duas ou mais pessoas executam o fato (contexto fático único) sem nenhum vínculo subjetivo entre elas. - Exemplo: policiais de duas viaturas distintas, sem nenhum acordo ou vínculo entre eles, abusivamente, disparam contra vítima comum, que vem a falecer em razão de um dos disparos. - Como fica a responsabilidade penal nesse caso? O policial autor do disparo fatal responde por homicídio doloso consumado enquanto o outro, autor do disparo não letal, responde por tentativa de homicídio doloso. - Na autoria colateral, cada pessoa responde pelo seu fato. Não há uma obra comum. Há delitos vários, regidos pela teoria pluralística, ou seja, cada um responde pelo que fez. - A autoria colateral pode ocorrer nos crimes dolosos bem como nos culposos. Nos culposos a autoria colateral é denominada de "concorrência de culpas", que se expressa por meio de crimes culposos paralelos ou recíprocos ou sucessivos. → Autoria incerta: ocorre quando, na autoria colateral, não se sabe quem produziu o resultado. A consequência é a responsabilização de todos os autores por tentativa, visto que não se sabe qual deles provocou o resultado (princípio in dubio pro reo). > Coautoria - Quando há o concurso de duas ou mais pessoas para a realização do fato. - Todas as vezes que houver uma divisão de tarefas para a prática de uma infração penal, estará presente a hipótese de coautoria, e cada agente responderá como coautor. Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. > Participação - O partícipe é identificado se induziu, instigou ou prestou auxílio para o cometimento de um crime. - Formas de Participação: I) Participação moral ↪ Induzimento: fazer nascer a ideia no autor; ↪ Instigação: reforçar a ideia já existente na mente do autor. II) Participação material: prestou auxílio. É aquela que ocorre por meio de atos materiais. É o auxílio, como por exemplo, emprestar a arma do crime. Cúmplice é o partícipe que concorre para o crime por meio de auxílio. 4 - Devido à discussão sobre os requisitos que devem existir para que se possa falar da presença e responsabilização da figura do partícipe, em relação à conduta do autor/autores, foram criadas as seguintes teorias: • Acessoriedade mínima: exige tão somente que o autor tenha cometido fato típico. • Acessoriedade limitada: autor praticar fato típico e antijurídico. ↪ Adotada pelo ordenamento jurídico. • Acessoriedade extremada: autor praticar fato típico, antijurídico e culpável. • Hiperacessoriedade: autor praticar fato típico, antijurídico, culpávele punível. OBS.: Não se admite a participação dolosa em crime culposo e nem a participação culposa em crimes dolosos. Nestes casos, cada um dos envolvidos responde por crime autônomo, não havendo concurso de agentes. >> Comunicabilidade e Incomunicabilidade de Elementares e Circunstâncias Circunstâncias incomunicáveis Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. - Podemos, assim, extrair três regras: 1ª) circunstâncias subjetivas/de caráter pessoal → jamais se comunicam. Cada sujeito responderá de acordo com as suas condições (menoridade, reincidência, parentesco etc.). 2ª) circunstâncias objetivas/de caráter não-pessoal, podem comunicar-se, desde que o coautor ou partícipe delas tenha conhecimento; 3ª) elementares, subjetivas ou objetivas → sempre se comunicam. Exemplo disto é o que se dá no crime de peculato, quando o coautor ou partícipe do funcionário público, que não pertence aos quadros da administração pública, incide nas penas deste delito ↪ Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. - Participação impunível: Casos de impunibilidade Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.
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