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22/09/2016 1 LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA PARASITOLOGIA Definição A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) , também conhecida com os nomes de ferida brava ou úlcera de Bauru, é uma doença primariamente zoonótica, causada por diversos parasitas do gênero Leishmania, envolvendo uma grande variedade de mamíferos silvestres, reservatórios do parasita, transmitida por diferentes insetos vetores da família Psychodidae, subfamília Phlebotaminae. Histórico 1885 - As primeiras suspeitas sobre a ocorrência da doença nas Américas, época em que já se registravam casos no Brasil. 1909 - Encontro por Lindenberg, de leishmanias em úlceras cutâneas de pacientes no Estado de São Paulo. 1911 - Splendore, diagnosticou forma mucosa da doença . Gaspar Vianna propôs o nome de Leishmania(Vianna)brasiliense. 1922 - Aragão, demonstrou pela primeira vez o papel do flebotomíneo na transmissão da LTA. 1939/1940 Pessôa descreve a LTA como doença profissional da margem de mata. 1958 - Forattini, encontrou roedores silvestres parasitados, em áreas florestais do Estado de São Paulo. 1993 - Organização Mundial de Saúde, considera as Leishmanioses como a 2ª doença causada por protozoários de importância em saúde pública. Agente Etiológico Leishmania (Vianna) guyanensis - Floch, 1954, responsável pela forma cutânea difusa da leishmaniose. Leishmania (Leishmania) amazonensis - Lainson e Shaw, 1972, responsável pela forma clínica cutânea, porém alguns casos podem desenvolver a forma clínica difusa e incurável da doença; em casos mais avançados pode haver o comprometimento nasofaríngeo. Leishmania (Vianna) braziliensis, Vianna, 1911, responsável pela forma cutâneo-mucosa. No Estado de São Paulo é a espécie incriminada como o agente etiológico da doença, principalmente, da forma cutânea. A forma clínica mucosa é detectada em apenas 3 a 5% dos casos de LTA. Vetores Os vetores da LTA são dípteros da família Psychodidae denominados flebotomíneos, também conhecidos como: Cangalha, Cangalhinha, mosquito-palha, birigui, tatuíra, etc. Características: São menores que os pernilongos comuns; Apresentam-se muito pilosos e de coloração clara (cor de palha ou castanhos claros); Facilmente reconhecidos pela atitude que adotam quando pousam, pois as asas permanecem erectas e entreabertas; As fêmeas exercem hematofagia, preferencialmente, no horário noturno a partir das 20:00 horas. Agente Transmissor Os vetores LTA são dípteros da família Psychodidae. É comumente chamado de flebotomíneo e popularmente conhecido por mosquito palha, birigui ou cangalhinha. É pequeno, coberto de pêlos e de coloração clara (cor de palha ou castanho claro). 22/09/2016 2 Agente Transmissor Das 700 espécies de flebotomíneos conhecidas no mundo, 400 ocorrem no continente americano e em São Paulo são conhecidas 60 espécies embora nem todas possam ser incriminadas como vetoras das leishmanioses. Agente Transmissor É facilmente reconhecível pelo seu comportamento ao voar em saltitos e pousar com as asas entreabertas e ligeiramente levantadas, em vez de se cruzarem sobre o dorso. Agente Transmissor Vivem, preferencialmente, ao nível do solo, próximos a vegetação em raízes e/ou troncos de árvores, podendo ser encontrados em tocas de animais. Gostam de lugares com pouca luz, úmidos, sem vento e que tenham alimento por perto. Agente Transmissor De um modo geral, para seu desenvolvimento requerem temperaturas entre 20 e 30ºC, umidade superiores a 80% e matéria orgânica. Ambos os sexos necessitam de carboidratos, que são extraídos da seiva de plantas como fonte energética. Agente Transmissor As fêmeas precisam ingerir sangue para o desenvolvimento dos ovos. Costumam então picar a partir do por do sol até a madrugada. Ciclo evolutivo As fêmeas geralmente realizam um repasto sanguíneo completo para se dar um ciclo gonotrófico. O ciclo de vida completo compõem-se da seguinte forma: Fase embrionária, de 7 a 10 dias, fase larvária de 15 a 60 dias, fase de pupa, de 7 a 14 dias e adulto, cuja longevidade é de 20 dias. 22/09/2016 3 Ciclo evolutivo O tempo do desenvolvimento do ovo ao adulto é de aproximadamente 30 dias, a temperaturas médias de 20ºC. As temperaturas inferiores afetam o crescimento larvário e a atividade do inseto adulto torna-se diminuída, aumentando portanto o tempo de desenvolvimento do ovo ao adulto. Transmissão Se dá pela picada da fêmea durante o repasto sanguíneo. No Brasil, diversas investigações tem apontado algumas espécies envolvidas com a transmissão de leishmaniose tegumentar americana. Entre elas estão: Lutzomyia intermedia sensu lato (s.l.), L. whitmani, L. pessoai, L. migonei, L. fischeri, L. flaviscutellata, L. umbratilis e L. wellcomei. Transmissão Estas espécies com exceção da L. fischeri já foram encontradas naturalmente infectadas e todas elas estavam relacionadas a áreas onde ocorreu a transmissão de LTA. No país, a questão vetorial deve ser analisada à luz de duas feições paisagísticas bem definidas: A primeira tem caráter silvestre, envolvendo o caráter florestal preservado e a segunda, envolvendo o ambiente antrópico com gradientes diferenciados de alterações. Transmissão No Estado de São Paulo, os primeiros trabalhos sobre os vetores implicados na transmissão de LTA apontam L. whitmani e L. pessoai como os mais importantes. Devido ao alto grau de devastação do ambiente natural, observou-se a sobrevivência de um flebotomíneo que vem demonstrando importância epidemiológica na transmissão da leishmaniose tegumentar americana. Transmissão Trata-se da L. intermedia, que tem sido demonstrada em elevada freqüência no ambiente domiciliar. A L. intermedia demonstra forte associação com o homem e os animais domésticos e é apontada como a espécie mais importante entre os demais vetores transmissores na Região Sudeste do Brasil. Esta espécie é encontrada, com mais freqüência, em ambientes alterados ou domiciliares, demonstrando alto grau de antropofilia. 22/09/2016 4 Reservatórios A LTA é uma doença essencialmente zoonótica, pois ocorre na natureza entre populações de animais silvestres na qual os roedores das florestas são primariamente reservatórios da Leishmania e outros animais, como os marsupiais, desempenham papel secundário (Nery- Guimarães et alii., 1968, Mackenzie, 1972 & Gomes, 1975). Reservatórios Algumas investigações a respeito dos prováveis reservatórios, realizadas na Região Neotropical, detectaram infecções em marsupiais primatas, desdentados, roedores e carnívoros (Gomes, 1975). Reservatórios Segundo Lainson & Shaw (1974), parece definido que o reservatório silvestre para a Leishmania braziliensis é o Choloepus hoffmanni. Reservatórios No Estado de São Paulo, a transformação das feições paisagísticas provocou o estabelecimento de novos ciclos de transmissão da Leishmania em animais silvestres como os roedores Proechimys, Rhipidomys, Oryzomys, Akodon e Rattus e marsupiais Didelphis, e em animais domésticos. Reservatórios Os eqüinos e os cães são considerados o reservatório do parasita, uma vez que estes animais vêm sendo freqüentemente encontradoscom Leishmania em lesões de pele. Biologia e Comportamento Ovos: A oviposição é feita em número de 40-70 ovos, sendo que estes agrupam-se em lugares úmidos e com matéria orgânica, ficam aderentes ao substrato, graças a substâncias viscosas que acompanham as desovas. O período de incubação estende-se de 6 a 17 dias, variando conforme a temperatura. A eclosão, geralmente se dá de 7 a 10 dias após a postura. Larvas : Possuem 4 mudas , que variam no seu período de desenvolvimento, conforme a espécie, a temperatura, a umidade e o alimento disponível, podendo durar de 18 dias até meses, nas épocas frias e secas 22/09/2016 5 Biologia e Comportamento Pupas: A pupa não se alimenta, permanecendo imóvel. A duração do período pupal varia de 7-12 dias, dependentes também da temperatura e de fatores genéticos. Adultos: A eclosão dos machos, inicia-se antes das fêmeas , ocorrendo preferencialmente à noite. A cópula ocorre em superfície, podendo ocorrer mesmo quando à fêmea está se alimentando. Ambos os sexos necessitam de carboidratos como fonte energética, que são extraídos de néctar de flores e frutos. Duração total do ciclo = 28 a 75 dias Comportamento As fêmeas necessitam de sangue para o desenvolvimento dos ovos. A longevidade varia em torno de 1 mês em laboratório com dietas de açucares e sangue. Movem-se de modo saltitante, com vôos curtos; Podendo ser coletados tanto em copa, como em solo. Comportamento Os criadouros em ambientes extra domiciliares são: Raízes tubulares de árvores, ocos, depressões e buracos de tronco e toca de animais: Entre e sob as rochas, fendas e juntas. No ambiente domiciliar e peridomiciliar: Chiqueiro de porcos, bananais, tendo, algumas espécies, grande capacidade de se adaptarem ao ambiente domiciliar humano, quando ocorre destruição do seu habitat natural. Comportamento A sazonalidade e a densidade são dependentes de alguns fatores como temperatura, umidade(chuva), velocidade dos ventos; Podendo aumentar em número nos meses quentes e úmidos, diminuindo seu número nos meses frios e secos. Diagnóstico Clínico Características gerais: O quadro cutâneo, inicia-se pelo aparecimento de pequena lesão eritemato-papulosa no local da picada do vetor, posteriormente há formação de um nódulo que pode atingir 1 cm de diâmetro e aproximadamente 4 semanas de evolução, com o aparecimento de uma crosta central. A perda desta crosta dá origem a uma úlcera, que evolui formando úlcera leishmaniótica clássica, de formato arrendondado, com bordas elevadas e infiltradas. Diagnóstico Clínico A lesão inicial pode ser única ou múltipla, dependendo do número de picadas infectantes. A mucosa mais freqüentemente acometida é a da região nasal, os principais sinais e sintomas são epistaxis, eliminação de crostas e obstrução nasal. 22/09/2016 6 Diagnóstico Clínico Existem duas formas extremas: A ulcerativa e não ulcerativa e as formas intermediárias. Além das lesões nasais, podem ocorre lesões em lábios, língua, pálato, orofaringe e laringe. Diagnóstico Epidemiológico Deve-se levar em conta as informações sobre a procedência do paciente, residências anteriores, atividades relacionadas com desmatamento ou atividades de lazer em florestas. Diagnóstico Laboratorial Os métodos laboratoriais usados para diagnóstico da LTA podem ser divididos em dois grupos: Métodos de demonstração do parasita: Exame parasitológico direto (esfregaço de raspado da lesão) Cultura em meio de N.N.N. ou similar - inoculação em hamster (isolamento para classificação de leishmanias) Exame histopatológico ( biópsia da lesão). Diagnóstico Laboratorial Métodos indiretos ou imunológicos: Reação intradérmica de Montenegro (IRM) Reação imunofluorescência indireta (RIFI) Reação de hemaglutinação passiva Reação de fixação do complemento (RFC) Reação de aglutinação direta Reação de Elisa Reação de Dot Elisa Tratamento O tratamento é feito com o objetivo de obter a cura clínica dos doentes, evitar recidivas e evolução das formas cutâneas para muco- cutâneas e prevenir o aparecimento de lesões mutilantes. A droga de primeira escolha para todas as formas clínicas da leishmaniose é o antimonial pentavalente conhecido por glucantime. Tratamento A droga é de fácil aplicação com poucos efeitos colaterais e baixa toxicidade. Como efeito colateral pode ocorrer dores musculares e articulares, náuseas, dores abdominais, febre, dor de cabeça. Geralmente, estes sintomas são discretos e não exigem a suspensão do tratamento. A posologia varia de idade para idade. 22/09/2016 7 Medidas de Prevenção Pelo fato de ser uma zoonose primitiva das florestas, a leishmaniose tegumentar americana resiste a qualquer medida preventiva aplicável as doenças transmitidas por vetores. Na maior parte das áreas endêmicas , onde se observa o padrão clássico de transmissão, quase nada pode ser feito no momento em relação a profilaxia da doença, dada a impossibilidade de se atuar sobre a fonte de infecção silvestre. Portanto, algumas medidas devem ser adotadas, tais como Medidas clínicas, diagnóstico precoce e tratamento. Toda a pessoa que apresentar ferida de difícil cicatrização deverá procurar a Unidade Básica de Saúde, para a realização do exame específico e tratamento. Medidas de proteção individual, são meios mecânicos através do uso de mosquiteiros simples, telas finas em portas e janelas , evitar a freqüência na mata, principalmente no horário noturno, a partir das 20:00 horas (crepúsculo) sem o uso de roupas adequadas,boné, camisas de manga comprida, calças compridas e botas além do uso de repelentes. Medidas de Prevenção Medidas educativas, as atividades de educação em saúde devem estar inseridas em todos os serviços que desenvolvem as ações de controle de LTA, requerendo o envolvimento efetivo das equipes multiprofissionais e multiinstitucionais com vistas ao trabalho articulado nas diferentes unidades de prestação de serviço. Medidas de Prevenção Capacitação das equipes, englobando conhecimento técnico, os aspectos psicológicos e a prática profissional em relação à doença e ao doente; Adoção de medidas profiláticas ,considerando o conhecimento da doença, atitudes e práticas da população, relacionadas às condições de vida e trabalho das pessoas; Estabelecimento de relação dinâmica entre o conhecimento do profissional e vivência dos diferentes extratos sociais através da compreensão global do processo saúde/doença, no qual intervêm fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. Medidas de Controle Notificação do caso suspeito de autoctonia. Complementação da ficha de investigação epidemiológica; Delimitação da área de foco Foco: Definido como espaço de transmissão que poderá ser a residência, local de trabalho ou área para onde o paciente tenha se deslocado; Aonde existam fatores de risco necessários para a transmissão de LTA, isto é, o relacionamento da população humana local com flebotomíneos transmissores em áreas onde houve modificação do ambiente natural e onde tenha sido detectado um ou mais casos autóctones; Busca ativa; Atividades de educação/divulgação. 22/09/2016 8Controle Químico Condição: - Transmissão domiciliar - Ocorrência de 2 ou mais casos na área de foco, período de 6 meses. Método: Inseticidas de ação residual: Piretróides Deltametrina SC ou CE 2,5% (200 ml produto para 8 litros de solvente). Deltametrina SC 5,0% (100 ml produto para 8 litros de solvente). 1 ciclo de borrifação, em todas as unidades domiciliares da área delimitada, teto ao chão e beirais. Repetição de novo ciclo a cada 6 meses(até completar 6 meses), na condição de ocorrência de novos casos. Pesquisa Entomológica Objetivo: Conhecer as espécies predominantes na área, segundo local provável de transmissão cuja presença, no domicílio desencadeará as demais medidas de controle. Pesquisa Entomológica Intradomicílio CDC - 12 horas Lençol - 3 horas - a partir do crepúsculo, nas paredes internas do domicílio, ou anexo. - capturador de castro - aspirador manual Peridomicílio Anexos (chiqueiro, galinheiro, paiol., estábulos...) CDC - 12 horas Lençol - 3 horas - capturador de castro - aspirador manual Pesquisa Entomológica Barraca de Shannon - instalada a 100 metros da residência ou local de trabalho, de preferência de captura, por período mínimo de 3 horas a partir do crepúsculo vespertino. Capturador de castro. Câmara mortífera. Margem da Mata - CDC - 12 horas - Barraca de Shannon - 3 horas. Identificação do Provável Local de Transmissão Domiciliar - pesquisa entomológica positiva, isto é, ocorrência de pelo menos um exemplar de qualquer espécie de flebotomíneo de importância epidemiológica, no intra ou peridomicílio( em qualquer um de seus anexos) e analisada a luz da interpretação dos dados epidemiológicos. Identificação do Provável Local de Transmissão Extradomiciliar - quando a história epidemiológica apontar para a possibilidade de transmissão em área de mata ou marginal a ela, associada a ausência de flebotomíneos no local de moradia ou de trabalho. 22/09/2016 9
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