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Capítulo 5 - Flip-Flops e Dispositivos Correlatos Introdução: Os circuitos considerados até o momento eram todos circuitos combinacionais, onde a saída é determinada pelos valores presentes nas entradas, independente dos valores anteriores. Os sistemas digitais são construídos usando tanto circuitos combinacionais como dispositivos de memória (circuitos seqüenciais). O mais importante dispositivo de memória é o flip-flop (abreviatura FF), construído a partir de combinação de portas lógicas combinacionais: Saída normal Entradas Saída invertida Q FF Q Um flip-flop é um dispositivo digital que possui duas saídas Q e Q , que estão sempre em estados opostos: ¾ Se Q=1 e Q =0, o FF está no estado 1 ou estado ALTO ou ativado (estado SET). ¾ Se Q=0 e Q =1, o FF está no estado 0 ou estado BAIXO ou desativado (estado RESET ou CLEAR). Existem diversos tipos de flip-flops e diferentes entradas de controle que determinam o estado da saída. O FF pode manter o estado de saída após os sinais de entrada, que produziram o estado atual, mudarem. Desse modo o FF pode armazenar uma informação de 1 bit. Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 44 5.1 Latch com Portas NAND SET CLEAR Saída 1 1 Não muda 0 1 Q = 1 1 0 Q = 0 0 0 Inválido Símbolo simplificado: 5.2 Latch com Portas NOR SET CLEAR Saída 0 0 Não muda 1 0 Q = 1 0 1 Q = 0 1 1 Inválido Símbolo simplificado: Obs.: o estado inicial do latch, ao se ligar o circuito, é imprevisível. SET CLEAR ou RESET Q Q S Q FF C Q SET CLEAR ou RESET Q Q S Q FF C Q Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 45 5.4 Sinais de Clock e Flip-Flops Síncronos Os sistemas digitais podem operar síncrona ou assincronamente. Nos sistemas assíncronos, as saídas dos circuitos lógicos podem mudar de nível lógico, sempre que o nível de uma ou mais entradas mude. Nos sistemas síncronos, os instantes de tempo nos quais as saídas são alteradas são determinados por um sinal chamado clock: Transição positiva (subida) Transição negativa (descida) Flip-Flops Síncronos: O flip-flop síncrono pode possuir diferentes entradas de controle que deixam o FF pronto para mudar de estado, que irá ocorrer na transição do sinal de CLK. Q CLK Q Q CLK Q 0 1 Transição positiva (subida) Transição negativa (descida) Tempo de Setup e Tempo de Hold: Entradas de controle e síncronas Entrada de Clock tS tH Tempo de setup Tempo de hold Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 46 5.5 Flip-Flop S-C Síncrono S C CLK Saída 0 0 ↑ Não muda 1 0 ↑ Q = 1 0 1 ↑ Q = 0 1 1 ↑ Ambíguo S Q CLK FF gatilha na transição positiva C Q S CLK CLK* C Circuito-piloto Circuitos Detector de Transição: CLK CLK CLK CLK CLK CLK CLK* CLK* Retardo provocado pela porta NOT (~nanossegundos) Nota: Se implementado por portas individuais, é necessário de 3 a 5 inversores 7404 para produzir um atraso suficiente. LATCH COM NAND Q Q SET CLEAR Detector de Transição CLK CLK* CLK CLK* Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 47 5.6 Flip-Flop J-K Síncrono S C CLK Saída 0 0 ↑ Q0 (não muda) 1 0 ↑ Q = 1 0 1 ↑ Q = 0 1 1 ↑ J Q CLK K Q (comuta) 0Q Q0 = estado anterior Se J = K = 1, o estado da saída muda a cada transição positiva do sinal de CLK, operando no modo comutado (toggle mode). Circuito interno do Flip-Flop J-K Gatilhado: LATCH COM NAND SET CLEAR Detector de Transição K CLK CLK* J Q Q 5.6 Flip-Flop D Síncrono D CLK Q 0 ↑ 0 1 ↑ 1 D Q CLK Q O Flip-Flop D possui apenas uma entrada síncrona D (data). Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 48 Implementação do Flip-Flop D: 5.8 Latch D S Q CLK C Q D CLK J Q CLK K Q CLK D Q Q LATCH COM NAND D ENABLE (EN) SET CLEAR EN D Q 0 X Qo (não muda) 1 0 0 1 1 1 EN Q D Q X = “tanto faz” Qo = estado anterior O flip-flop D responde à entrada D somente na transição do sinal de clock. No latch D, a saída irá acompanhar a entrada D para EN = 1 (operação “transparente”) e a saída será fixa quando EN = 0. Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 49 5.9 Entradas Assíncronas As entradas S, C, J, K e D dos FF síncronos, chamadas de entradas de controle, também são denominadas de entradas síncronas, em função de seu efeito ser sincronizado com o sinal de clock. Muitos FFs possuem entradas assíncronas, que operam independentes das entradas síncronas e da entrada de clock, e são usados para levar o FF a um determinado estado passando por cima das demais entradas: DC SET DC CLEAR Resposta do FF 1 1 Operação síncrona* 0 1 Q = 1 1 0 Q = 0 0 0 Não usado J DC Q SET CLK DC K CLEAR Q Designações para as Entradas Assíncronas: Entrada Assíncrona SET Entrada Assíncrona CLEAR DC SET PRESET (PRE) SET SD (set direto) DC CLEAR CLEAR (CLR) RESET CD (clear direto) Quando as entradas assíncronas forem ativas-BAIXO, utiliza- se uma barra sobre o nome da entrada para mostrar sua característica de ativa-BAIXO: PRE , CLR Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 50 5.10 Símbolos IEEE/ANSI A simbologia IEEE/ANSI utiliza a letra “C” para qualquer entrada que mantenha o controle do dispositivo, como a entrada clock ou enable: Latch D: 7475 Observe que no CI TTL 7475, as entradas enable C1 e C2 estão conectadas internamente, usando um único pino do CI. Flip-flops J-K gatilhado na transição de subida: 74LS112 D C 1 Q 1Q ENABLE 1D C1ENABLE 1D 2 Q 2Q C2 2D2D 3 Q 3Q 3D C3ENABLE 3D 4 Q 4Q C4 D4 Q 4D Q PRE J S C K R S 2J C2 2K R S 1J C1 1K R 1Q Q CLK 1 Q Q 2Q CLR 2 Q Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 51 5.11 Considerações Sobre Temporização de Flip-Flops Tempos de Setup (tS) e Hold (tH): Entradas de controle e síncronas Entrada de Clock tS tH Retardos de propagação: CLK CLK Q Q tPLH tPHL Frequência máxima de Clock, fmax. Tempos de duração dos pulsos ALTO e BAIXO do Clock: 1 CLOCK 0 tW(H) tW(L) Largura de um pulso assíncrono ativo: 1 PRE ou CLR 0 tW(L) Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 52 Tempos de transição do Clock (característico da família lógica): 50ns, TTL e 200ns, CMOS. Valores de parâmetros de FFs (em nanosegundos): TTL CMOS 7474 74LS112 4013B 74HC112 ts 20 20 60 25 tH 5 0 0 0 tPLH de CLK para Q 40 24 200 31 tPHL de CLK para Q 25 16 200 31 tPLH de CLR para Q 40 24 225 41 tPHL de PRE para Q 25 16 225 41 tW(L) de CLOCK 37 15 100 25 tW(H) de CLOCK 30 20 100 25 tW(L) emPREou CLR 30 15 60 25 fMAX do CLOCK (MHz) 15 30 5 20 5.13 Problemas de Temporização de Circuitos com Flip-Flops 1 CLK Q1=J2 1 Q2 ↑ tPLH de Q2 Q2 responderá adequadamente ao nível lógico presente em Q1 antes da transição negativa do clock, desde que tH referente a Q2 seja menor que o retardo de propagação de Q1. J1 Q1 CLK K1 Q 1 J2 Q2 CLK K2 Q 2 Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 53 5.13 Flip-Flop Mestre-Escravo Antes do desenvolvimento de FF’s gatilhados pela transição com tempos de hold nulos ou muito pequenos, os problemas de temporização eram resolvidos com FF’s chamados mestre-escravo (master-slave). Os FF’s mestre-escravo são compostos por dois FF’s. Na transição positiva do clock os níveis das entradas de controle (D, J, K) são usado para determinar a saída do FF mestre. Na transição negativa do clock o estado do mestre é transferido para o FF escravo. O FF mestre-escravo funciona como se fosse um FF gatilhado na transição negativa do clock. No FF mestre-escravo padrão as entrada de controle devem permanecer estáveis enquando o sinal de clock estiver no nível alto. Esse problema foi resolvido com os FF’s mestre- escravo com lockout de dados. Flip-Flop D Mestre-Escravo (se D = Q → Filp-Flop T (toggle)): Q Clock Mestre D Q’ Clock Escravo Q Os FFs mestre escravo se tornaram obsoletos mas ainda são encontrados na forma padrão (7473, 7476 e 74107) e na versão com lockout de dados (74110 e 7411). As novas tecnologias (74LS, 74AS, 74ALS, 74HC, 74HCT) não incluem FF’s mestre-escravo. Q D Q’ Q ’ Mestre Escravo Clock Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 54 5.17 Armazenamento e Transferência de Informações A maior utilização dos FF’s é no armazenamento de informações. As informações representadas por códigos binários são armazenadas em grupos de FF’s, denominados registradores. A operação mais freqüente com as informações em registradores é a transferência. Transferência síncrona de informações: TRANSFER TRANSFER Transferência de informações assíncrona: Habilitação de Transferência A transferência de informações entre registradores pode ser feita em paralelo ou em série. S A CLK C A S B CLK C B J A CLK K A J B CLK K B D A CLK A D B CLK B J PRE B CLK K CLR B J A CLK K A Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 55 5.18 Registradores de Deslocamento Um registrador de deslocamento é um grupo de FF’s, ligados de tal forma que os valores binários armazenados sejam deslocados de um FF para o outro, a cada ocorrência do pulso de clock: J3 Q3 CLK K3 Q 3 J2 Q2 CLK K2 Q 2 DATA IN J1 Q1 CLK K1 Q 1 J0 Q0 CLK K0 Q 0 A cada pulso de clock, cada FF assume o valor do FF à esquerda, imediatamente antes da transição, e Q3 assume o valor da entrada DATA IN. Ex: Transferência serial do valor binário 1101 CLK DATA IN 1 0 1 1 Q3 1 Q2 1 Q1 0 Q0 1 Nota: os registradores de deslocamento devem ser implementados por FF’s gatilhados na transição, que possuam tH menor que o tempo de retardo de propagação entre o clock e a saída, condição que é satisfeita na maioria dos FF’s modernos. Na transferência paralela, toda informação é transmitida simultaneamente na ocorrência de um único pulso de clock. Na transmissão serial são necessários N pulsos de clock para transmitir N bits. Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 56 5.19 Divisão e Contagem de Freqüência 1 1 1 1 1 1 Pulso de clock 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 CLK Q0 Q1 Q2 Diagrama de Transição de Estados: Cada círculo representa um dos possíveis estados. Cada seta representa a ocorrência de um pulso de clock. O diagrama de transição de estados será usado para descrever, analisar e projetar contadores e outros circuitos seqüenciais. J2 Q2 CLK K2 Q 2 J1 Q1 CLK K1 Q 1 J0 Q0 CLK K0 Q 0 101 011 111 001 110 100 010 000 Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 57 5.21 Dispositivos Schmitt-Trigger Se os tempos de transição forem muito grandes, a saída de um dispositivo lógico comum pode oscilar ou mudar de estado erraticamente. Um dispositivo lógico com entrada Schmitt-trigger produzirá uma saída limpa, com transição rápida (da ordem de 10ns): Porta NOT padrão Not Schmitt-trigger ∫ ∫ VT+ VT- No dispositivo Schmitt-trigger a saída muda para nível alto quando a tensão de entrada é maior que a tensão de threshold VT+ e muda para nível baixo quando a tensão de entrada é menor que VT-. Exemplo de dispositivos Schmitt- trigger: 7414 (6 NOT) e 7413 (2 NAND de 4 entradas). 5.22 Multivibradores Monoestáveis Os multivibradores monoestáveis (MM), assim como os FFs, possuem duas saídas, Q e Q , mas, ao contrários dos FFs, possui apenas um estado estável, normalmente Q = 0. Ao ser gatilhado, a saída muda de estado por um período de tempo fixo tp, determinado por uma constante RC em função de um resistor e um capacitor externo ao circuito. Este estado é denominado estado quase-estável. Após o tempo tp, a saída retorna para seu estado quiescente. Existem dois tipos de MM na forma de CI: não-regatilhável e regatilhável. Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 58 Saída normalmente Estado Estável Entrada BAIXO Q = 0 e Q = 1 de gatilho Saída normalmente Estado quase- ALTO estável Q = 1 e Q = 0 RT CT T Q MM não-regatilhável Q MM regatilhável Q T MM Q 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Dispositivos disponíveis no mercado: MM não-regatilhável: 74121 e 74221 (duplo) MM regatilhável: 74122 e 74123 (duplo) 74121: ≥1 & 1 RI CX RX/CX ∫∫ RINT REXT/CEXT A1 A2 B Q T Q ∫ ∫ CEXT X indica conexão não lógica Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 59 5.23 Análise de Circuitos Seqüenciais Procedimento para analisar circuitos seqüenciais: 1. Examine o diagrama do circuito a procura de estruturas conhecidas como contadores e registradores. 2. Determine os níveis lógicos nas entradas dos FF’s antes da incidência do primeiro pulso de clock. 3. Use estes níveis para determinar o comportamento dos FF’sapós a incidência do primeiro pulso de clock. 4. Repita os passos 2 e 3 para cada pulso de clock subseqüente. Exemplo 5.17 1 1 1 1 1 1 RT CT tp=3,5ms J X CLK K X J Y CLK K Y J Z CLK K Z Clock de 1KHz Q T MM Q D W CLK W Entradas vinda X dos FF’s Y Z Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 60 5.24 Multivibrador Astável Os flip-flops possuem dois estados estáveis e por isso também são conhecidos como multivibradores biestáveis. Já os multivibradores monoestáveis recebem essa denominação por possuírem apenas um estado estável. Existe também um tipo de multivibrador que não possui nenhum estado estável, sendo conhecido como multivibrador astável ou free-running. O multivibrador astável é bastante utilizado para gerar o sinal de clock para os circuitos síncronos. Oscilador Schmitt-Trigger +5v R 14 1 2 4V VOUT 0V 7 C 7414 ⇒ Frequência ≈ 0,8/RC (R≤ 500Ω) 74LS14 ⇒ Frequência ≈ 0,8/RC (R≤ 2KΩ) 74HC14 ⇒ Frequência ≈ 1,2/RC (R≤ 10MΩ) C≥ 100pF CI Temporizador 555 como um Multivibrador Astável +5V T 4 8 RA 7 3 SAÍDA RB tB 1 t2 6 2 C 5 1 0,01μF ∫ ∫ Temporizador 555 5V 0V t1 = 0,693RBC B t2 = 0,693(RA+RB)C B T = t1 + t2 Frequência = 1/T RA ≥ 1KΩ RA + RB ≤ 6,6MΩ B C ≥ 600pF Prof. Eduardo Nunes Gonçalves Eletrônica Digital I 61 Capítulo 5 - Flip-Flops e Dispositivos Correlatos
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