Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Intervenção e autocrítica / Fortalecimento do usuário Segundo Faleiros (2001), a prática profissional só deixará de ser repetitiva, pragmática, empiricista se os profissionais souberem vincular as intervenções no cotidiano, por meio da relação entre teoria e prática, a um processo de construção e de desconstrução permanente de categorias que permitam a crítica do conhecimento e da intervenção e a autocrítica. É por isso que, em todas as aulas, falamos sobre a importância da leitura, do estudo permanente. Cursar uma faculdade, dedicar-se a uma profissão significa se comprometer com a qualidade dos serviços prestados. Um trabalho de excelência requer atualização constante, visando desenvolver as atividades profissionais da melhor forma possível, considerando o estatuto teórico da profissão, bem como o Código de Ética Profissional, tema de aulas anteriores. Crítica não significa apenas lançar o olhar sobre o outro, mas sobretudo sobre si mesmo, realizar uma autocrítica quanto a seu fazer profissional. Uma crítica permanente considera o autoaprimoramento e busca uma base teórica para respaldar as propostas profissionais. Essa crítica revela também outra face, que é a possibilidade de o profissional construir conhecimento sobre uma determinada realidade de trabalho, mas contribui especialmente para a emancipação política dos usuários. A questão do fortalecimento do usuário, considerando as questões concretas da esfera profissional, é um dos temas do quinto capítulo, intitulado “Articulação estratégica e intervenção profissional”. De acordo com Faleiros: “A articulação de estratégias é um processo que pode ter tanto um efeito de fortalecimento do usuário no seu processo de capitalização como um efeito, que poderíamos qualificar de perverso, de fragilizar ainda mais o usuário com atitudes autoritárias, rotulativas, discriminatórias, clientelistas, tecnocráticas. O profissional pode dizer não ou sim num determinado campo de possibilidades, usando das normas existentes para oprimir ainda mais o usuário de forma a não negociar com ele, a não elaborar um contrato de ação, a não se comprometer com nada, enfim, sendo autoritário. Pode rotular o usuário de viciado, fujão, revoltado, preguiçoso, ou de outras etiquetas que o inferiorizam, fazendo-o ver-se mais ainda desprovido de condições para enfrentar o cotidiano. Pode também tomar atitudes discriminatórias em vez de empreender ações afirmativas para lutar contra o racismo, o patriarcalismo, a discriminação quanto à orientação sexual do usuário. Pode usar as normas, os encaminhamentos para justificar uma ação meramente tecnocrática ou apelar para atitudes e ações paternalistas” (2001, p. 94). Esse assunto é muito importante. Até que ponto a ação profissional tutela o usuário e retira seu poder de decisão em relação à própria trajetória de vida? O discurso em defesa da autonomia e da emancipação precisa estar atrelado a ações concretas, em que os usuários possam se expressar politicamente e travar um diálogo de fato com os diversos profissionais envolvidos nos serviços oferecidos. Dessa forma, o profissional precisa estar comprometido com as forças sociais de mudança para uma solução política a fim de contribuir para a emancipação e a autonomia dos usuários. Isso não depende somente da definição de metodologias, tecnocracias e burocratismo. Depende de uma prática profissional comprometida com a qualidade dos serviços oferecidos.
Compartilhar