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11 CIC do Imigrante T1

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE
Arthur Mendonça, Beatriz Chequetto, Diogo Tohmé, Giovanna Premero e Isabella Spadoni
IMIGRANTES LATINO-AMERICANOS NA CADEIA TÊXTIL, NO ESTADO DE SÃO PAULO – CIC DO IMIGRANTE
São Paulo
2016
SUMÁRIO
1 Introdução.................................................................................................................3
2 CIC do Imigrante.....................................................................................................5
3 Problemática.............................................................................................................7
4 Desenvolvimento.....................................................................................................9
	 4.1 Ciências Sociais.............................................................................................9
	 4.2 Psicologia.....................................................................................................10
	 4.3 Marketing.....................................................................................................12
 4.4 Fundamentos da Administração...................................................................14
5 Considerações finais...............................................................................................17
6 Bibliografia.............................................................................................................20
7 Anexos....................................................................................................................21
INTRODUÇÃO
O século XXI é certamente marcado por importantes evoluções nos mais diversos setores do conhecimento, como a tecnologia, ciência e saúde. O segmento têxtil não escapou desta tendência, e atingiu crescimentos exponenciais até inaugurar o que se entende hoje por indústria “fast fashion”. Grandes empresas, marcas e patentes se valem deste novo padrão. Num mundo cada vez mais globalizado, observa-se a sólida interdependência da cadeia têxtil e processo produtivo, alocando pessoas e recursos das mais abastadas partes do mundo.
Nos últimos anos, foi frequente o acontecimento de escândalos relacionados a grandes marcas de roupa e formas de trabalho abusivas análogas à escravidão, locais de produção perigosos e insalubres, jornadas extremamente longas e até mesmo o trabalho infantil. Da maneira que esses acontecimentos são apresentados na mídia, torna-se possível pensar que essas condições de trabalho estão presentes apenas em países distantes e em alguns casos específicos. Entretanto, as formas de exploração encontram-se muito mais presentes nos centros urbanos de destaque do que o senso comum imagina.
Esta obra objetiva, então, expor, debater, instigar e desmistificar a indústria têxtil e seus desdobramentos, aprofundando em uma análise acerca de toda a cadeia produtiva deste setor, a fim de interligar as condições de trabalho dos imigrantes latino-americanos do Estado de São Paulo com o caráter sustentável e holístico do sistema. O trabalho busca também convidar o leitor a uma reflexão direcionada a precipuidade das relações de trabalho e condições sociais quando o assunto é cadeia têxtil: existe uma humanização do trabalho? A escravidão moderna ainda perdura? Os imigrantes latinos americanos se enxergam como escravos neste setor? Ou desejam atuar nessas condições?
Existem organizações, governamentais e não governamentais, que buscam atender as necessidades dos empregados estrangeiras, visando, além de regularizar a permanência destes no Brasil, lutar contra as formas de exploração e condições precárias de trabalho que ferem o sistema judiciário brasileiro. O CIC do Imigrante - uma entidade do governo do Estado de São Paulo criada em 2014 - é uma destas instituições, e será comtemplada em análise aprofundada no conteúdo desta composição.
Em adjacente, este trabalho realiza expor as oportunidades econômicas que são geradas neste setor têxtil, estruturando o crivo sobre o desenvolvimento de negócios e empreendimentos no ramo, bem como a relação de tais oportunidades com a noção de relações de trabalho e suas legalidades.
CIC do Imigrante
O CIC (Centro de Integração da Cidadania) faz parte do projeto do Governo do Estado de São Paulo e promove ações que proporcionam à sociedade acesso aos seus benefícios e deveres como cidadãos, de forma a facilitar o alcance à justiça, por exemplo. Neste centro – que possui diversas unidades espalhadas no Estado - são realizadas palestras educativas, projetos e eventos culturais, oficinas, entre outras formas de instrução, objetivando criar uma consciência social em relação aos direitos humanos e cidadania. Apesar do CIC poder emitir documentos pessoais como a carteira de identidade, carteira de trabalho, 2º via de certidões entre outros, seu principal objetivo é o encaminhamento adequado da solução de problemas que envolvam questões da condição de cidadão. Por ser um órgão do Governo, conta com uma gama de parceiros, entre eles o Ministério Público, Tribunal da Justiça, Secretária da Educação etc.
Em 2014, os comitês de enfrentamento ao tráfico de pessoas, combate ao trabalho escravo e atenção aos refugiados - coordenados pela Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania - identificaram uma demanda por uma forma de assessoria que permitisse que imigrantes pudessem se estabelecer no Brasil. Visando suprir tal demanda, foi criado o CIC do Imigrante. O atendimento a imigrantes também é realizado em outras unidades do CIC, porém esta nova unidade veio com uma proposta de atendimento mais preparado e atencioso em relação a este público. 
O CIC do Imigrante tem como objetivo integrar os estrangeiros à sociedade brasileira através de regularização, ajudando-os com a emissão de documentos, carteiras de trabalho etc. Conta ainda com serviços da Defensoria Pública Estadual e Federal, do Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT) e do PROCON. Em adjacente, o centro oferece uma série de cursos de capacitação abertos ao público, como: curso de economia básica; preparação para o vestibular; jardinagem; artesanato; cursos de idioma. Além do mais, promove aulas informativas sobre o código do consumidor e sobre os direitos do cidadão brasileiro, a fim de alertar o imigrante caso este esteja sofrendo qualquer tipo de abuso pela simples ignorância em relação às leis que regem o Brasil.
Em relação à Cadeia Têxtil, as informações coletadas do Centro do Imigrante mostram-se extremamente esclarecedoras, uma vez que se percebe grande segregação dos grupos provenientes de diferentes países. Por exemplo, o número de imigrantes latinos que passam pelo local na busca por empregos de carteira assinada e regularização de documentação é extremamente pequeno quando comparado às pessoas vindas de países da África (principalmente Angola) e do Haiti. Entre os motivos desta situação está a proximidade geográfica dos países latinos, a qual permite uma taxa de retorno à terra natal muito maior, o que justifica a vontade de querer trabalhar independentemente das condições com o intuito de não pagar tributos e arrecadar o maior montante monetário possível. 
Os latinos também possuem diversos grupos de apoio na cidade, o que acaba os afastando da procura por atendimento do CIC. Quando aparecem, costumam, normalmente, buscar por empregos na Cadeia Têxtil. Sobre o fato, entende-se que em países latinos como a Bolívia, por exemplo, quando não há grande qualificação, as pessoas costumam aderir a ofícios na área têxtil, uma vez em que as habilidades dessa área são geralmente ensinadas desde a infância, além de não precisar de alta escolaridade para exercer a profissão. Nesses países, porém, a remuneração é extremamente baixa e as qualidades do trabalho são precárias. Por isso, há intensa imigração em direção ao Brasil, que, mesmo quando os empregos oferecidos são também precáriose com salários baixos, ainda proporcionam melhores qualidades de vida do que nos países latinos. Ademais, o Real é uma moeda mais valorizada, portanto, ao receber em real e repassar o dinheiro para parentes e/ou usá-lo ao retornar aos países de origem, os imigrantes acabam com mais dinheiro em mãos. 
Em suma, o CIC é uma plataforma de atendimento dinâmica que busca auxiliar o imigrante quando este chega ao país em busca de melhores condições de vida. Malgrado oferecer diversas oportunidades de regularização e ampliação da cidadania, mostra-se ineficiente em alguns casos, como o dos latinos na Cadeia Têxtil mencionados acima, que, na maioria das vezes, não objetivam a regularização por não enxergarem vantagens socioeconômicas ou pessoais no contato com o CIC.
PROBLEMÁTICA
	O atual modelo mundial de consumo excessivo, baseado em um forte capitalismo e na globalização, faz com que, a cada ano, uma maior quantidade de peças de roupas seja demandada pelo mercado. Surge assim a tendência do “fast fashion”, um padrão de produção e consumo no qual a peça é fabricada, consumida e descartada muito rapidamente. Tal arquétipo criou uma busca incessante por uma maior rapidez na produção, além de um maciço corte de custos que atinge toda a cadeia produtiva, desde a compra da matéria-prima até o transporte para as lojas de varejo, o que ocasionou uma grande terceirização do setor como um todo.
	Comumente, as grandes empresas do setor, com as quais o consumidor tem contato, atuam como varejistas, dispondo de grandes lojas e centros de compras. Porém, as peças vendidas nestes locais são produzidas por diversas oficinas de costura independentes - dentro e fora do país - que são contratadas para reduzir os custos e, assim, otimizar o processo.
	A terceirização de serviços como estamparia, bordados e costura maximiza os lucros - já na casa dos bilhões - das grandes confecções que atuam no setor devido ao corte de gastos com salários de trabalhadores, nos quais se incide uma alta carga tributária. Em suma, a terceirização retira da responsabilidade das grandes empresas todos os custos com os costureiros, reduzindo os seus direitos e o seu bem-estar.
	Na busca por uma maior quantidade de peças e a um preço menor, muitas oficinas partem para a ilegalidade ou já são contratadas sendo ilegais. Elas costumam ter funcionários não registrados, que recebem valores abaixo do salário mínimo local, recebendo muitas vezes por peça confeccionada, o que os leva a trabalhar muitas horas ao dia, ao ponto de exaustão. Sem direitos trabalhistas e em ambientes insalubres - onde ocorre até mesmo trabalho infantil e falta desde iluminação, ventilação, equipamentos de segurança até respeito para com o próximo - essas pessoas vivem uma dolorosa realidade, distante da dos empresários e dos consumidores, mas que existe e deve ser discutida. 
É possível também analisar toda esta problemática sob outra óptica: a dos próprios trabalhadores. Em busca de sustento para suas famílias e na ânsia pela maior arrecadação de capital possível, os imigrantes latino-americanos têm, muitas vezes, seus destinos traçados com consciência. Já partem de suas terras-natais com a noção do trabalho que os esperam. Jornadas exaustivas, locais insalubres e trabalho infantil já são sabidos antes de partirem. São os próprios amigos e/ou conhecidos que os levam para esta nova jornada debruçada na busca incessante do que as redondezas não podem conceder: dinheiro. Sendo assim, vale uma reflexão mais profunda acerca do tema. A problemática pode estar mais enraizada do que o popular acredita, mais direcionada não tanto às oficinas de costura, mas sim à situação caótica e desesperançada dos países emissores desta mão de obra.
	O problema do trabalho análogo à escravidão na cadeia têxtil ocorre em todo o mundo, principalmente em países do sudeste asiático, mas não está restrito apenas a essas regiões. No Brasil e no Estado de São Paulo, a mão de obra imigrante é maciçamente empregada em tais oficinas, focada nos trabalhadores latino-americanos, em situação ilegal, que fogem do desemprego e da pobreza que atingem seus países de origem. O poder público mostra-se ineficiente na fiscalização e na punição de tais oficinas e grandes confecções e no amparo aos imigrantes, e a grande maioria dos consumidores da moda parece ignorar a existência dessa questão social e humanitária. 
	
 
CIÊNCIAS SOCIAIS
	A exploração da mão de obra de imigrantes latino-americanos na cadeia têxtil a níveis análogos a escravidão é um fato que desencadeia diversas discussões no âmbito da moral e da ética. Tão presente na sociedade atual, pode-se considerar este tipo de exploração, segundo a visão de Durkheim, como um Fato Social passível de estudo. 
	Quanto objeto sociológico, a compreensão deste tipo de abuso envolve o entendimento das relações entre os agentes diretos e indiretos. No caso dos atores indiretos, considerados os consumidores, ao comprarem as roupas de determinada marca, acabam contribuindo para a manutenção desse grande ciclo de explorações, uma vez em que pagar pelos produtos é investir recursos para que haja continuidade do processo produtivo. 
	É certo que os consumidores, muitas vezes, não têm a consciência de como os produtos comprados foram produzidos. Nos últimos anos, porém, tornaram-se recorrentes as denúncias sobre a mão de obra explorada na produção têxtil. A grande massa foi informada sobre companhias que se beneficiavam deste tipo de trabalho e, por mais que o consenso geral fosse de indignação e luta pelos direitos humanos, observou-se que este fato costumava tomar dimensões de perturbações sociais.
	Assim como afirma Wright Mills, uma perturbação é qualquer tipo de fato que vá contra princípios e virtudes pessoais, de modo a gerar desconforto e inquietação. Apesar de andar na contra mão da ideologia pessoal, uma perturbação tem dimensão pequena e afeta o individuo em sua limitada esfera de convívio. Entendendo este conceito, percebe-se que o abuso de mão de obra sofrido pelos latinos não pode ser tratada como simples perturbação, ou seja, um consumidor, ao ter conhecimento deste fato, não deveria tratá-lo como simples incomodo pessoal, uma vez que a exploração transcende o mero âmbito individual e estabelece questionamentos em uma dimensão social geral. 
	Para W. Mills, ao usar-se da imaginação sociológica, o individuo é capaz de compreender as relações entre sua vida pessoal e o curso histórico da sociedade. Esta “espiritualidade” é a base para que o homem ultrapasse a bolha da própria perturbação e enxergue quando os valores ameaçados são coletivos e correspondem a uma grande questão social. O caso da exploração latina é um exemplo de questão social, pois fere a concepção de direitos humanos, além da ética e da moral social. O importante é, então, tornar a ignorância apática dos consumidores em consciência esclarecedora da questão pública em relação ao trabalho análogo à escravidão na cadeia têxtil, dando, assim, a devida atenção que este fato social carece. 
Sob um ponto de vista weberiano, cabe uma análise acerca do consumo no setor têxtil através da sociologia compreensiva. Este ramo do pensamento sociológico ocupa-se em compreender o sentido que os sujeitos atribuem às suas próprias ações ou a determinadas condutas – aliado ao significado que essas ações possuem em um contexto social amplificado. Transferindo o conceito para o contexto do trabalho, é possível observar que o principal fator que motiva os trabalhadores latino-americanos a imergirem no mundo de exploração é a busca de recursos econômicos que não são conseguidas em suas terras natais. O senso comum veria este fato sob um viés crítico, alegando que o trabalho na cadeia têxtil rompe com o legado moral e ético humano. Entretanto, o sentido que os atores atribuem podem ser diferentes, uma vez que, em grande parte das vezes, não se enxergam como explorados. Em realidade, buscam – na essência – obter o máximo de renda possível para sustentar suas famílias,submetendo-se às condições com consciência.
PSICOLOGIA
O deslocamento dos imigrantes latino-americanos para o Brasil, como grande parte dos deslocamentos no mundo atualmente, é motivado pela esperança de ascensão social. A proximidade e facilidade de acesso ilegalmente, devido a grande extensão territorial, faz com que o Brasil seja um grande centro emigratório. No entanto, devido às condições degradantes às quais os latinos ficam expostos, essa jornada em busca de uma vida melhor pode ser classificada como tráfico humano.  
A definição de tráfico humano, muito ligado à escravidão moderna, consiste em “pessoas que ultrapassam fronteiras e logo após mediante coerção, fraude ou força estarão sujeitas a um tipo de exploração ou de abuso” (Cacciamali e Azevedo (2006)). Sabe-se que grande parte destes imigrantes é recrutada em seu país de origem por pessoas já ligadas às cadeias produtivas dentro do estado de São Paulo. Dessa forma, mesmo que mediadores contribuam para uma perspectiva positiva da imigração - apesar da condição de exploração a que os estrangeiros serão submetidos, a imigração representa uma esperança em suas vidas - é possível reiterar que muitos deles fazem parte do tráfico mundial de pessoas.  
O dilema vivido pelos imigrantes entre submeter-se ou não à migração é compreensível. Normalmente em seus países de origem, a situação de pobreza e miséria é mais grave do que aquelas em que viverão no Brasil. A necessidade de alcançar uma vida melhor e a perspectiva de qualidade de vida para a família e para si próprio são as fontes de energia para estes trabalhadores. 
Dentro do Brasil, no entanto, passa-se por outros dilemas. A ilegalidade faz com que sejam vistos muito mais como criminosos do que como vítimas e cria-se uma situação de medo e desamparo. Além disso, há grande questão em relação ao preconceito sofrido. Os imigrantes, em geral, são mal vistos aos olhos da população em geral e não apenas pelas forças policiais. Submetem-se, assim, cada vez mais à exploração, a qual, em situações extremas, leva à prostituição, tráfico de órgãos e etc.  
É possível afirmar, portanto, que os empregadores dos trabalhadores imigrantes inseridos na cadeia têxtil no Brasil, no geral, aproveitam-se da situação de vulnerabilidade destes trabalhadores e terminam por tratá-los como seres humanos descartáveis, submetendo-os a situações de trabalho degradantes e exploratórias. Assim, é fundamental que, além de buscar uma forma de regularização deste tipo de trabalho, haja uma maior preocupação com a saúde do trabalhador inserido nessa cadeia. 
Na aplicação da psicologia no ramo do trabalho, costuma-se fazer uma divisão da maneira com que uma empresa se relaciona com seus trabalhadores entre Psicologia do Trabalho e Psicologia Social do Trabalho. Na primeira, a empresa, defendendo seus próprios interesses, trata a saúde do trabalhador como um recurso, preocupando-se com o ambiente em que este está inserido apenas para que ele se mantenha produzindo. Já a segunda preocupa-se de fato com o sujeito que trabalha, interessando-se também pela relação empresa-trabalhador e com o processo de trabalho.
O filme “Biutiful”1, do premiado diretor mexicano Alejandro González Iñarritu, retrata com destreza situações de enquadramento com a Psicologia do Trabalho. Em diversas cenas é mostrado o real ambiente vivido pelos imigrantes na cadeia têxtil. Em quartos pequenos e abarrotados de pessoas, os trabalhadores respiravam a insalubridade de um ambiente de sufoco e sujeira. O ápice do trágico é alcançado em um assassínio em massa: o gás advindo de aquecedores antigos (comprado pelo menor preço possível) acabou por matar toda a mão de obra da oficina ilegal. Esta cena retrata com fidelidade a realidade de muitos imigrantes neste setor. Demonstra o campo de estudo da Psicologia do Trabalho, ao evidenciar a preocupação do empregador restrita aos seus próprios interesses, não se importando com a saúde mental de seus subordinados. O desfecho pode então, muitas vezes, resultar em mortes.
É preciso ressaltar que há situações em que imigrantes ilegais não desejam a legalidade por fatores financeiros. No entanto, o foco dessa análise está naqueles que tem sua legalidade obstruída ou obscurecida. Por fim, é de extrema importância realçar também o caráter volitivo da imigração, como dito no texto ''Entre o tráfico humano e a opção da mobilidade social: a situação dos imigrantes bolivianos na cidade de São Paulo'' de Maria Cristina Cacciamali e Flávio Antonio Gomes de Azevedo, em que a vinda destes trabalhadores caracteriza-se não só pela fuga da miséria, mas também pelo reconhecimento da ambição e aceitação da vontade de ascensão social. Assim, a questão do imigrante é muito mais ampla e também psicológica do que se imagina. Os imigrantes existem e é preciso enxergá-los, de maneira a atendê-los como humanos, e não apenas como partes de um processo migratório.  
1 – Anexo 
MARKETING
As grandes confecções envolvidas em escândalos relacionados a denúncias de trabalho análogo à escravidão ou formas similares de exploração da mão de obra têm a sua imagem seriamente abalada quando a mídia noticia tais escândalos. Na atualidade, com a internet e as mídias sociais, as informações circulam com mais rapidez e atingem um público maior, gerando grandes danos à imagem e ao faturamento das empresas envolvidas. Como forma de reverter tais danos, as grandes confecções estão cada vez mais preocupadas em se certificar da origem das peças vendidas em suas lojas, ao menos teoricamente.
Como pequena parte dos consumidores da indústria da moda já tem ciência do que está implícito por trás das peças de roupa, as grandes varejistas, na busca de manter a maximização de seus lucros bilionários à custa da exploração da mão de obra e da degradação humana, cobram, cada vez mais, ações de suas confecções para que estas assumam a responsabilidade socioeconômica inerente à cadeia produtiva. 
A grande varejista Zara®, pertencente ao grupo espanhol Inditex®, teve o seu nome fortemente ligado a irregularidades em oficinas terceirizadas. Na busca de desassociar a imagem da marca à imagem do trabalho análogo à escravidão, criou iniciativas como a “Fabricado no Brasil”, na qual as etiquetas de peças produzidas em território brasileiro contêm informações do local de produção da roupa, certificando o consumidor da preocupação da marca com a origem de seus produtos. Tal medida faz parte do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado entre a Zara® e o Ministério Público do Trabalho em 2013, devido ao flagrante da ocorrência da exploração da mão de obra em suas terceirizadas na cidade de São Paulo, em 2011. 
A C&A®, através de seu Instituto, também busca implementar medidas de combate ao trabalho ilegal em oficinas de costura. Para associar a imagem de sua marca à de uma empresa engajada socialmente e atrair a afeição dos consumidores preocupados com estas questões bem como sua própria promoção, investe em grande estratégia de marketing. Através de programas e projetos, como o Tecendo a Mudança (inovações para uma indústria têxtil sustentável), e por dentro das redes sociais como Twitter e Facebook, o Instituto C&A® busca aproximar os consumidores e a população em geral da problemática envolta no setor têxtil, e a C&A®, notando essa tendência do mercado, implementa políticas em seu Instituto.
Já o CIC do imigrante, como centro sem fins lucrativos e que visa apenas servir como base de apoio àqueles estrangeiros em situações de desamparo, desemprego e/ou ilegalidade, não têm uma proposta de marketing agressiva. O marketing praticado, portanto, é o da informação, o que evidencia que esta área funcional é presente nas mais diversas atmosferas, e não somente nas estratégias de grandes corporações.
	O que mais interessa o Centro é que seus serviços sejam de conhecimento do público em questão, a fim de ampliar sua rede de suporte a cidadania, e, assim, contribuir para que haja melhores relações entre o governo e os estrangeiros. Deste modo, percebe-se o grandeesforço para a disseminação das informações em relação à atuação do CIC, com panfletos em diferentes línguas, que apresentam desenhos e cores chamativas. 2
	O CIC busca, também, divulgar, tanto pela internet e pelos panfletos, seus diversos cursos de capacitação, que elevam a qualificação dos imigrantes e aumentam suas as chances de conseguirem empregos. Quando em visita ao CIC, percebe-se que as placas informativas em mais de uma língua (geralmente português e inglês) são costumeiramente postas em locais de fácil visualização e que chamem atenção, como: embaixo de aparelhos de televisão; em portas; no banheiro; e em bancadas a frente da entrada, tudo para facilitar a visualização dos informes pelos imigrantes. 3
Evidencia-se, portanto, uma tendência das grandes empresas do setor têxtil e de organizações atuantes no ramo em avaliar com grande prescrição o ambiente externo, em busca das tendências sociais da atualidade e da forma que sua marca é vista pelos consumidores e pela sociedade como um todo.
2 – Anexo 
3 – Anexo 
FUNDAMENTOS DE ADMINISTRAÇÃO
 
A cadeia têxtil é um importante setor da economia global que movimenta bilhões de dólares todos os anos. Dada a grandeza de suas operações, ficou comum a ocorrência de terceirizações e de quarteirizações nesse setor: fiação, malharia, tecelagem e confecção são algumas das operações terceirizadas. Em geral, por trás de uma grande empresa do setor existem centenas de outras microempresas atuando.
O fortalecimento da cadeia têxtil e a expansão do mercado impulsionaram milhares de microempreendedores a entrarem no setor. Mas, muitas vezes, as oficinas de costura, que realizam os serviços quarteirizados das grandes confecções, atuam de forma ilegal, não possuindo CNPJ ou qualquer validação perante o governo. São nestas oficinas ilegais que ocorrem casos de trabalho análogo à escravidão e outras tantas formas de exploração humana. A busca incessante pela maximização de lucros a toda custa e a falta de conhecimentos sobre gestão de negócios leva dezenas de microempreendedores à falência, seja por intervenção governamental ou por má administração.
A regulamentação das oficinas parece, muitas vezes, onerosa para o lucro dos microempreendedores. Porém, é necessária responsabilidade social e adequação ao sistema de leis vigentes no país onde atuam, além do respeito aos padrões instituídos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. O encargo pela ocorrência da exploração de imigrantes nessa cadeia não se limita aos microempreendedores, ele alcança também o setor do macroempreendedorismo, ou seja, as grandes corporações, que devem de fato se responsabilizar pelos serviços prestados por terceiros e pelo modo como são executados.
A falta de conhecimento sobre gestão de negócios é um fator determinante para o insucesso das oficinas de costura que prestam serviços ao decorrer da cadeia produtiva. O conceito de administração – gestão de recursos da maneira mais eficiente possível – não é aplicado em tais microempresas, causando perda de eficiência e de produtividade. Planejar e organizar são ações que faltam neste ramo, bem como o controle de todo o processo e a liderança para que tudo se encaminhe dentro dos parâmetros legais.
 Comumente, há uma deficiência em relação a uma visão estratégica e sistêmica que abranja todo o negócio em busca de falhas ou pontos fracos internos. A análise da inter-relação entre todos os subsistemas da cadeia têxtil - focando principalmente na relação com as grandes varejistas - traria uma eficiência em grau elevado para essas pequenas empresas, uma vez que poderiam se posicionar na estrutura organizacional e compreenderem seus papéis no processo produtivo, melhorando a comunicação entres os atores participantes e otimizando a eficiência de todo o procedimento. Entretanto, é entendido pelos microempreendedores que apenas atuando de forma ilegal e utilizando da exploração da mão de obra que conquistarão espaço no mercado e retorno financeiro.
A questão da terceirização é um fator imensamente discutido. É de interesse das grandes confecções que existam centenas de oficinas de costura terceirizadas, para que o processo seja otimizado com o corte de custos e, assim, maximização do lucro das empresas. Porém, a terceirização fornece a oportunidade para que o trabalho análogo à escravidão ocorra, uma vez que as muitas oficinas terceirizadas estão “invisíveis” aos olhos do consumidor e das autoridades. Desta forma, podem ocorrem jornadas de trabalho excessivas, pagamento de baixos salários, acidentes frequentes causados pelos locais insalubres e despreparados e todas as outras formas de exploração do trabalho.
Como analisado, o processo produtivo na cadeia têxtil envolve diversos setores. A questão das terceirizações e quarteirizações atingem seus ápices em tempos hodiernos. Entre outras tantas causas e conflitos analisados durante essa obra, fica explícito também um problema na má gestão das empresas e oficinas que constituem o sistema de análise. Alia-se ao palco dos problemas, por fim, a incessante busca pela maximização dos lucros, a qual “obriga”, muitas vezes, as grandes corporações acatarem com os riscos de oficinas ilegais. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conteúdo desta obra buscou abordar o tema dos imigrantes latino-americanos na têxtil no Estado de São Paulo sob diversas perspectivas. O âmbito das análises compreendeu o aprofundamento em áreas como a Psicologia, Marketing, Administração e Sociologia. Envolto em casos conturbados e em polêmicas que giram a mídia com frequência, este tema expõe um assunto que está presente no cotidiano, explicando os pilares implícitos na cadeia produtiva deste setor.
Como ressaltado na introdução, existem várias instituições no Brasil, como o CIC do Imigrante, responsáveis por tentar solucionar problemas relacionados aos imigrantes e a ilegalidade. Entretanto, ainda existe uma ineficiência nessas soluções devido a inúmeros motivos, entre eles a falta de informação, a fiscalização inadequada e/ou inexistente, a falta de interesse da população e até mesmo do público atingido. Esses motivos, no entanto, não são justificativas para acreditar que o problema irá solucionar-se por si só. É necessário compreender que a imigração latina para a cadeia têxtil tem alcançado níveis de escravidão moderna em vários casos, nos quais os trabalhadores são presos ao empregador e podem ser manipulados em situações mais graves, como prostituição, por exemplo. Por outro lado, é importante lembrar também que os imigrantes, na maioria das vezes, não se enxergam como escravos neste setor e têm como objetivo permanecer na ilegalidade, de forma a conseguir arrecadar o maior montante de dinheiro possível. 
 As soluções devem considerar os diversos lados que esta problemática traz, e colocar em discussão que é preciso rever a atual situação da fiscalização das empresas e das suas terceirizações. Vale ponderar que o problema abrange esferas acima de um controle direto dos agentes da cadeia, uma vez em que parte de um problema estrutural tanto dos países de origem dos imigrantes quanto do Brasil, que sofre de extrema corrupção e impunidade. O Brasil deve atuar junto aos países latinos para conseguir mapear tal imigração e torná-la favorável a todos. Além disso, o país deve responsabilizar-se por uma fiscalização mais rígida e democrática, através de um maior comprometimento de ambos os lados em relação às leis, impedindo que situações miseráveis como a de diversas oficinas, em que os direitos humanos são feridos, ocorram.
Em relação ao CIC do Imigrante, entende-se que este centro é, se não, parte do que poderia ser uma solução para a asseguração dos direitos dos latino-americanos situados no Brasil, e que enfrentam situações relacionadas à exploração do trabalho e a dificuldade de estabilidade financeira. O centro em si, busca de diversas maneiras, auxiliar o estrangeiro em questões que envolvam tanto seu destino, no sentido de busca de empregos dignos e legais,quanto à capacitação do individuo, de modo a garantir-lhe uma perspectiva mais ampla de futuro no Brasil. 
Outra grande questão envolvida é a falta de conhecimentos sobre gestão de negócios por parte dos microempreendedores que são responsáveis pela administração das oficinas de costura, o que os leva a uma perda de eficiência e de produtividade, facilitando o caminho para a ilegalidade. Um meio de resolver esse contratempo é através de cursos de capacitação em negócios, como o oferecido pela Aliança Empreendedora no CIC do Imigrante, permitindo que o microempreendedor, ao aplicar conceitos desenvolvidos durante o curso, consiga aumentar a geração de valor na cadeia sem partir para a ilegalidade. 
O problema em questão, então, é a falta de comunicação e contato entre o centro e os imigrantes latinos. Como meio de propagação das informações em relação ao CIC, uma proposta seria a de inserção de representantes do centro em grupos de assistência normalmente procurados por esses indivíduos, de modo a ampliar o canal de mensagens entre os dois pontos.
A ideia consiste na criação de um programa de bolsas para imigrantes voluntários, o “Amigo Latino” 4. Em essência, o foco principal é o recrutamento, a partir de um processo seletivo, de imigrantes já vinculados ao CIC do Imigrante. O candidato selecionado, então, receberia uma quantia mensal em dinheiro para despender funções de comunicação. Ele iria se integrar a outros centros e grupos de apoio, principalmente os com foco em imigrantes latino-americanos, e servir de “ponte” para promoção do próprio CIC do Imigrante, a fim de mostrar os benefícios - pouco conhecidos- que o centro agregaria às suas vidas. 
A ideia de conceber uma bolsa em valor monetário a um imigrante é de ter um impacto social. Esta ação conciliaria o interesse do candidato de geração de renda em sua jornada no Brasil com a necessidade do CIC em ajudar cada vez mais pessoas. Como o foco é o público latino - um público com pouca frequência no centro - a preferência de seleção é um voluntário também latino, uma vez que traria uma maior confiança no relacionamento com o público-alvo (imigrantes dos centros visitados) e mais credibilidade para as informações repassadas, que, no caso, seriam as vantagens de relacionar com o CIC.
O processo seletivo de contemplação exigirá alguns pré-requisitos: que o contemplado seja, ao menos, um imigrante - de preferência latino-americano - há no mínimo 1 ano no Brasil; que fale português em um nível intermediário; que comprove uma maior necessidade em relação aos outros candidatos (ainda sem emprego fixo, por exemplo). Tendo sido contemplado, o voluntário também possuiria metas: como principal, teria de trazer um número - estipulado pelo centro (3, como sugestão) - de imigrantes latino-americanos que se cadastrem no sistema do CIC do Imigrante.
Exercendo as ações, o voluntário se integraria a outros centros conforme supracitado (como o CAMI - Centro de Apoio e Pastoral do Imigrante). Em campo, se relacionaria com os integrantes a fim de coletar dados (formulário escrito, contato de telefone, e-mail, entre outros) e convidá-los a conhecer o CIC, explanando as funções do centro, numa espécie de “marketing boca-a-boca”.
Em relação à captação de verbas para a viabilização do “Amigo Latino”, o CIC do Imigrante teria que se comunicar com alguns atores. Um deles seria a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, em que seria discutida a possibilidade de fornecimento de apoio financeiro. Além de trazer uma boa imagem ao órgão e ao Governo, seria um investimento que traria um benefício a longo prazo, já que mais imigrantes seriam regularizados e gerariam retorno econômico e social para a população. Outro ator seria as empresas varejistas envolvidas em escândalos das ilegalidades da cadeia têxtil: como forma de punição e/ou compensação social, essas empresas forneceriam suporte financeiro para a realização do “Amigo Latino”. 
O programa proposto acima se mostra como uma solução para os problemas de divulgação e comunicação citados em entrevista com as colaboradoras do CIC do Imigrante. Trata-se de um projeto com resultados previstos para o longo prazo. Como o centro é muito recente, a ideia de uma divulgação inicial mais abrangente se mostra necessária. Portanto, a viabilização seria uma proposta para transformar o CIC do Imigrante, dentro de alguns anos, em uma referência entre os imigrantes e como ação social, podendo, até mesmo, expandir suas unidades em âmbito intra e interestadual.
BIBLIOGRAFIA
As marcas da moda flagradas com trabalho escravo. REPÓRTER BRASIL. Disponível em:<http://reporterbrasil.org.br/2012/07/especial-flagrantes-de-trabalho-escravo-na-industria-textil-no-brasil> Acesso em: 11/06/16
MARIA CRISTINA CACCIAMALI E FLAVIO ANTONIO GOMES DE AZEVEDO. Entre o Tráfico Humano e a opção da mobilidade social: a situação dos imigrantes bolivianos na cidade de São Paulo. 2006.
PEREIRA, Silvana Paula. CIC do Imigrante. 2016. Entrevista concedida a Arthur Mendonça, Beatriz Chequetto, Diogo Tohmé, Giovanna Premero e Isabella Spadoni
ALCÂNTARA, Thaís. PAT- CIC do Imigrante. 2016. Entrevista concedida a Arthur Mendonça, Beatriz Chequetto, Diogo Tohmé, Giovanna Premero e Isabella Spadoni
IÑÁRRITU, Alejandro. BOVAIRA, Fernando. Biutiful. Produção de Fernando Bovaira e Alejandro Iñárritu, direção de Alejandro Iñárritu. Estados Unidos, Paris Filmes, 2010.147 min, color, son.
MILLS, C. Wright. A Imaginação Sociológica. 1ª ed. Editora Zahar, 1965
JANNY TEIXEIRA, H., MATTOSO SALOMAO, S. e JANNY TEIXEIRA, C. Fundamentos de Administração: A busca do essencial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015
ANEXOS
Anexo 1
Capa do Filme “Biutiful” (2010) do premiado diretor Alejandro Iñarritú. Fonte:<http://www.memoriacinematografica.com.br/2011/09/biutiful-2/ > 
Anexo 2
Panfletos distribuídos pelo CIC do Imigrante. Foto: Isabella Spadoni.
Anexo 3
Placa informativa do CIC do Imigrante. Foto: Giovanna Premero
Anexo 4
Logotipo proposto para o projeto. Imagem: Public Domain. Elaboração: Giovanna Premero

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