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O inquérito policial e o princípio da publicidade

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O inquérito policial e o princípio da publicidade 
 
A persecução criminal é dever do Estado, sendo assim, uma vez praticada a infração penal, 
cumpre a ele, a apuração e o esclarecimento dos fatos e de todas as suas circunstâncias. 
Para tanto, é deferido a determinados órgãos a competência para a investigação dos crimes, a 
fim de que se esclareça a existência do ato ilícito, bem como indícios de autoria. Oliveira (2011), nesse 
sentido, diz que tal determinação cabe à polícia judiciária, presente no art. 144 da CRFB/88, do qual se 
pode notar que este procedimento tem natureza administrativa e é realizada anteriormente à provocação 
da jurisdição penal. 
Mirabete (2005, p. 23) completa, “uma das tarefas essenciais do Estado é regular a conduta 
dos cidadãos por meio de normas objetivas sem as quais a vida em sociedade seria praticamente 
impossível". Segundo o autor ainda, "para que se proponha a ação penal, entretanto, é necessário que o 
Estado disponha de um mínimo de elementos que indiquem a ocorrência de uma infração penal e de sua 
autoria”. 
Grecco (2010, p. 151) assevera que "não se inicia investigações por puro capricho, por 
curiosidade, por leviandade, mas sim quando se tem um mínimo necessário de provas que possa conduzir 
a investigação à descoberta de um fato criminoso e de seu provável autor". 
A fase de investigação, portanto, é pré processual, tratando-se de procedimento cabal ao 
esclarecimento do fato típico ocorrido, destinado, conforme Oliveira (2011) à formação do 
convencimento do responsável pela acusação. O juiz deve permanecer inerte e alheio nesta fase, podendo 
intervir apenas para tutelar violações ou ameaças de lesões à direitos e garantias individuais dos 
investigados, bem como para resguardar a efetividade da função jurisdicional. 
Para Lopes Jr. (2012, p. 207-208): 
 
A investigação preliminar é uma peça fundamental para o processo penal [...] é 
absolutamente imprescindível, pois um processo penal sem a investigação preliminar é 
um processo irracional, uma figura inconcebível segundo a razão e os postulados 
básicos do processo penal constitucional [...] Não se deve começar um processo penal 
de forma imediata. Em primeiro lugar deve-se preparar, investigar e reunir elementos 
que justifiquem o processo ou não-processo. É um grave equívoco que primeiro se 
acuse, para depois investigar e ao final julgar. 
 
Ademais, em posicionamento adverso, Oliveira (2011) defende que o inquérito não é 
indispensável à propositura da ação penal, uma vez que a acusação pode vir a tomar conhecimento e 
formar seu convencimento sobre o fato delitivo e autoria de outras formas ou elementos informativos. 
Assim, a investigação preliminar é início da persecução penal que, por sua vez, tem como 
fundamento as normas constitucionais. Contudo, conforme expõe Lopes Jr. (2012), o convencimento do 
encarregado da acusação pode decorrer também de procedimento administrativo levados por outras 
autoridades administrativas e até mesmo por atuação de particular, do qual se tenha informações 
suficientes para a formação da opinião delitiva. 
A legislação brasileira começou a contar com o inquérito policial através da Lei 2.033 
regulamentada por meio do decreto 4.824 de 1971, cujo nome foi mantido da mesma forma até os dias 
atuais. 
Nesse sentido Nucci (2014, p. 109) expõe: 
 
A denominação inquérito policial, no Brasil, surgiu com a edição da Lei 2.033, de 20 de 
setembro de 1871, regulamentada pelo Decreto-lei 4.824, de 28 de novembro de 1871, 
encontrando-se no art. 42 daquela Lei a seguinte definição: “O inquérito policial 
consiste em todas as diligências necessárias para o descobrimento dos fatos criminosos, 
de suas circunstâncias e de seus autores e cúmplices, devendo ser reduzido a 
instrumento escrito”. Passou a ser função da polícia judiciária a sua elaboração. Apesar 
de seu nome ter sido mencionado pela primeira vez na referida Lei 2.033/71, suas 
funções, que são da natureza do processo criminal, existem de longa data e tornaram-se 
especializadas com a aplicação efetiva do princípio da separação da polícia e da 
judicatura. Portanto, já havia no Código de Processo de 1832 alguns dispositivos sobre 
o procedimento informativo, mas não havia o nomen juris de inquérito policial. 
 
Para o autor, o inquérito policial é um procedimento preparatório da ação penal, conduzido 
pela polícia judiciária, voltado à colheita preliminar de provas a fim de apurar a prática de uma infração 
penal e sua autoria. 
Capez (2012, p. 42) por sua vez, conceitua o inquérito policial como sendo "o conjunto de 
diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim 
de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (CPP, art. 4º)". 
Para Avena (2014), o inquérito policial possui natureza administrativa, na medida que se é 
instaurado pela autoridade policial, tratando de um procedimento inquisitorial, destinado a angariar 
informações para proceder à elucidação de crimes. 
Mirabete (2005, p. 60) afirma ainda, que se trata “de instrução provisória, preparatória, 
informativa, em que se colhem elementos por vezes difíceis de obter na instrução judiciária”. 
Dessa forma, para uma conceituação precisa, além de cumprir a finalidade de apuração da 
materialidade delitiva e de indícios da sua autoria, o inquérito policial cumpre o precípuo papel de 
resguardo das provas cautelares, não repetíveis e antecipadas, mos termos do art. 155 do CPP. 
Nota-se que a finalidade do inquérito policial tem por base a segurança da ação judicial 
posterior e do próprio acusado, uma vez que fazendo-se uma instrução prévia, por meio do inquérito, é 
que será possível a reunião de todas as provas preliminares que suficientemente apontam a ocorrência do 
delito e o seu autor. 
Nesse sentido, Nucci (2014, p. 108) assevera que " o simples ajuizamento da ação penal 
contra alguém provoca um fardo à pessoa de bem, não podendo, pois, ser ato leviano, desprovido de 
provas e sem um exame pré-constituído de legalidade". 
Outra característica que compõem a formação do inquérito policial é a da oficialidade. Nesse 
sentido Capez (2012) explica que a CRFB/88 informa que a autoridade que preside o inquérito policial 
constitui-se em órgão oficial do Estado. Esta característica do inquérito é e, decorrência do princípio da 
legalidade, uma vez que os referidos órgãos da perquirição criminal são criados por lei, tendo por 
fundamento o art. 144 da Constituição. 
A autoridade que preside o inquérito policial é o delegado de polícia. Portanto, o inquérito 
policial também é caracterizado por autoritariedade, uma vez que é autoridade pública que preside seus 
procedimentos, possuindo, para tanto, poder de decisão e mando. 
Outra peculariedade do inquérito policial, conforme explica Avena (2014) é quanto a 
oficiosidade e indisponibilidade, uma vez que não é necessário provocação para ser iniciado, sendo sua 
instauração obrigatória quando estar-se diante da notícia de uma infração penal, nos termos do art. 5º, I, 
do CPP, ressalvados, sobretudo, os casos de ação penal pública condicionada e ação penal privada (art. 5º, 
II, do CPP). 
Ademais, a lei 11.690/2008 trouxe subsídios para que o magistrado busque equilíbrio 
durante a investigação criminal. O inquérito é um meio adequado para que se afaste eventuais dúvidas e 
se corrija o prumo da investigação, evitando-se o indesejável erro judiciário. 
Desde o início da persecução criminal, deve o Estado possuir elementos confiáveis para agir 
contra o investigado, a fim de que se torne mais improvável a ocorrência de equívocos na indicação da 
autoria do crime. Por outro lado, além da segurança, deve o Estado ainda fornecer a oportunidade docolhimento de provas cujo perecimento é um perigo iminente, sob pena de deturpação irreversível. 
Lopes Jr. (2012, p. 211-216) ainda expõe: 
 
O ponto de partida da investigação preliminar é a notitia criminis e, por consequência, o 
fumus commissi delicti. Essa conduta delitiva é geralmente, praticada de forma 
dissimulada, oculta, de índole secreta, basicamente por dois motivos: pra não frustrar os 
próprios fins do crime e para evitar a pena como efeito jurídico. Por isso, o autor do 
delito buscará ocultar os instrumentos, meios, motivos e a própria conduta praticada [...] 
A investigação preliminar também atende a uma função simbólica [...] ao contribuir 
para restabelecer a tranquilidade social abalada pelo crime. Significa que [...] contribui 
para amenizar o mal-estar causado pelo crime através da sensação que os órgãos estatais 
atuarão, evitando a impunidade [...] A nosso juízo, a função de evitar acusações 
infundadas é o principal fundamento da investigação preliminar, pois, em realidade, 
evitar acusações infundadas significa esclarecer o fato oculto (juízo provisório e de 
probabilidade) e com isso assegurar à sociedade de que não existirão abusos por parte 
do poder persecutório estatal. 
 
Assim, em prol dessa instrumentalidade constitucional da investigação preliminar, resta 
evidente a função de comprovar a noticia crime, bem como suas circunstâncias, visando, sobretudo, a dar 
uma resposta estatal de forma imediata e justificar a instauração ou arquivamento de eventual processo, 
mediante a observância das razões que o fundamentam, a busca do fato oculto, evitando, entretanto, 
acusações infundadas. 
Conforme disposto no art. 20 do CPP, a autoridade policial assegurará o sigilo necessário à 
elucidação dos fatos para o inquérito policial, ficando pois ao seu critério discricionário, conforme 
oportunidade e conveniência. Assim, sempre que achar necessário, a referida autoridade poderá decretar a 
quebra do sigilo do ato, desde que justifique nos autos do inquérito. 
Nesse sentido, Tourinho Filho (2010) diz que a polícia judiciária é de fundamental 
importância dentro da persecução criminal, uma vez que o proprio inquérito policial formulado por ela 
pode concluir a inocência ou pela falta de provas de autoria em desfavor do investigado. 
Para tanto, o delegado de polícia deve manter o sigilo necessário aos autos, já que a 
divulgação precipitada de fatos na fase de investigação pode acabar por prejudicando a completa 
elucidação do caso. 
Capez (2012), em complemento, diz que o sigilo em questão não se estende ao representante 
do Ministério Público nem à autoridade judiciária. Os advogados poderão consultar os autos do inquérito, 
uma vez que o próprio STF já decidiu que a sua oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria garantia 
constitucional do acusado previsto no art. 5º, LXIII, da CRFB/88. 
Nesse sentido, expõe Reis (2012, p. 51-52): 
 
Essa regra, porém, perdeu parte substancial de sua relevância, na medida em que o art. 
7º, XIV, da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB) confere aos advogados o direito de 
“examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e 
de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo 
copiar peças e tomar apontamentos”. Ademais, a Súmula Vinculante n. 14 do Supremo 
Tribunal Federal determina que “é direito do defensor, no interesse do representado, ter 
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento 
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito 
ao exercício do direito de defesa”. Esta súmula deixa claro que os defensores têm direito 
de acesso somente às provas já documentadas, ou seja, já incorporadas aos autos. Essa 
mesma prerrogativa não existe em relação às provas em produção, como, por exemplo, 
a interceptação telefônica, pois isso, evidentemente, tornaria inócua a diligência em 
andamento. 
 
Portanto, ainda que decretado sigilo do inquérito, não fica o advogado privado de acesso aos 
autos. De tal modo, Avena (2014) assevera que o acesso amplo assegurado pela referida súmula não é 
sinônimo de acesso irrestrito, podendo ser oferecido ao advogado desde que este não comprometa o 
regular andamento das investigações. 
Desse modo, assegurado acesso aos autos, o defensor também pode estar presente no 
interrogatório do acusado e na oitiva de testemunhas. Contudo, o inquérito deve permanecer 
relativamente secreto, a fim de que a autoridade policial possa ter total liberdade para agir no desempenho 
de suas funções. 
Em que pese tais argumentos, cabe ressaltar ainda que o art. 7º, XIII da Lei 8.906/94, o 
Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, acrescenta ao rol de direitos do advogado, a 
possibilidade de exame, em qualquer órgão do Poder Judiciário, Legislativo e da Administração Pública 
em geral, dos autos de processos finalizados ou mesmo em andamento, ainda que o advogado não tenha 
procuração, desde que não estejam sujeitos a sigilo, podendo o referido procurador obter cópias ou 
realizar anotações. Assim, desde que se parta da premissa que o referido dispositivo se estende ao 
inquérito policial, resta presumível que quando decretado o segredo de justiça pela autoridade 
competente, não há o que se falar de acesso aos atos investigativos pelo defensor. 
Neste sentido, Capez (2012) assevera ainda que frente a decretação do segredo de justiça, 
através de decisão judicial, não será permitido ao advogado acompanhar a realização dos atos 
procedimentais. 
Em conformidade com este entendimento, Nucci (2014, p. 110) diz que: 
 
"[...] em confronto estão o direito individual de vista dos autos de procedimento 
inquisitorial, de um lado, e de outro, o interesse público de manter o sigilo da 
investigação, ante a necessidade de preservar-se a segurança do Estado e da sociedade 
(artigo 5º, XXXIII, da CF). Incidente o princípio da razoabilidade, o interesse de menor 
relevância (privado) cede em homenagem àquele que garante o interesse coletivo 
(público), consubstanciado este no direito estatal de perquirir sobre possíveis ilícitos de 
extremada repercussão social." 
 
 Franco (1992, p. 20), corroborando tal entendimento, aduz que: 
 
Normalmente, nos casos em que esteja envolvida vítima de estupro, nos crimes contra a 
honra e mesmo nos delitos relacionados com tóxicos, devem ser apurados com sigilo, e, 
para que o fato não seja ventilado e explorado publicamente, para assegurar o sigilo, a 
autoridade deve decretá-lo nos autos de inquérito, não podendo fornecer informações 
nem mesmo a imprensa [...]. 
 
Ademais, por um lado, com o poder de decretar o sigilo, o Estado afasta eventuais 
possibilidades de trazer prejuízo às investigações, bem como resguarda o direito constitucional da 
presunção de inocência dos investigados, uma vez que ainda não há, efetivamente, nenhuma acusação a 
estes. Por tal razão, a divulgação desenfreada de fatos acusatórios poderá atingir pessoas que, 
posteriormente, resta provado inocência. 
Nesse sentido, Tourinho Filho (2010, p. 197) expõe que se em juízo, o princípio da 
publicidade "sofre restrições, não é de se estranhar deva haver sigilo na fase do inquérito policial, na fase 
em que se colhem as primeiras informações, os primeiros elementos de convicção a respeito da existência 
da infração penal e sua autoria." 
O sigilo é, portanto, a essência do inquérito policial. Oliveira (2011) aduz que não respeitar 
essa premissa é abrir campo para que se fruste e macule o perfeito andamento da persecução criminal. 
Contudo, nem sempre é possível afirmar que a juntada de elementos de prova implique a desnecessidade 
do sigilo. 
Nesse sentido, Avena (2014 p.240), ressalta que o sigilo que poderá ser conferido ao 
inquérito policial é, "unicamente, aquele que impedirá as pessoas do povo e o próprio investigado de 
manusear os respectivos autos ou tomar contato direito com o resultado de diligências realizadas no seu 
curso". 
Cabe ressaltar o parágrafo único do art. 20 do CPP, acrescentado pela lei 6.900, de 14 de 
abril de 1981 e modificada redação pela Lei nº 12.681, de 2012, do qual estabelece que: "nos atestados de 
antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações 
referentes a instauração de inquérito contra os requerentes". 
Este preceito reflete o princípio da presunção de inocência, segundo o qual, conforme 
esclarece Capez (2012), ninguém pode ser considerado culpado senão depois do trânsito em julgado da 
sentença penal condenatória. Assim, o atestado de bons antecedentes deve ser deferido, mesmo quando 
houver qualquer inquérito ou processo criminal em andamento. 
Com isto, verifica-se a preocupação legislativa na proteção da intimidade, vida, honra e 
imagem do investigado. Dessa forma, cabe a autoridade policial, quando está a frente da condução do 
inquérito policial, ater-se à colheita das provas, com o fim de buscar provas que corroboram com a 
verdade dos fatos, seguindo a justa instauração da ação penal, no caso houver elementos para tanto. 
A globalização pressupõe a necessidade de informações. Frente as complexidades do mundo 
atual, a busca por informações é uma tarefa cada vez mais árdua para os indivíduos. Daí a importância da 
mídia na busca das atualizações acerca do que ocorre no mundo. A mídia deve buscar filtrar as 
informações, atuando com clareza e imparcialidade. 
Conforme exposto, os atos emanados pelo Estado são públicos, uma vez que há, com isso, o 
exercício do monopólio sobre o poder jurisdicional. O sigilo ou segredo de justiça é uma exceção. A 
publicidade tem o intuído de atribuir maior credibilidade aos processos judiciais, umz vez que os 
julgamentos secretos podem vir a dificultar a fiscalização e censura da população. Com isso, conforme 
explica Giacomolli (2014), há a redução das arbitrariedades por parte do Poder Público, bem como 
aumenta a crença na Justiça na população. 
Ainda de acordo com o autor "um processo probatório ético não admite o sigilo, o anonimato 
e nem o absolutismo da fé pública; é um espaço público de purificação dialética e não de exploração e de 
ocultação" (GIACOMOLLI, 2014. p.339). 
Portanto, o sigilo presente nas investigações criminais se ligam a ideia de autoritarismo e 
arbitrariedade por parte do Estado, remetendo ainda à características inquisitoriais, contrárias aos 
princípios democráticos do modelo acusatório. Entretanto, para coibir essa ideia e trazer a parcialidade 
dos julgadores é que surge a publicidade. 
Dessa forma, em prol do princípio da publicidade, o art. 93, inc. IX, da CRFB/88 consagra: 
 
Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas 
todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em 
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos 
nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique 
o interesse público à informação. 
 
A partir disso, conforme ensina Lima (2011), pode-se afirmar que a publicidade consiste em 
garantir o acesso de todo e qualquer cidadão aos atos processuais, a fim de assegurar maior transparência, 
pois possibilita a fiscalização das atividades estatais pelas partes ou por qualquer pessoa que assim o 
deseja, demonstrando clara adequação ao Estado Democrático de Direito. 
O inquérito polícia, como visto, ocorre em sigilo quando necessário à elucidação do fato ou 
exigido pelo interesse da sociedade, nos conformes do art. 20 do CPP, a fim de impedir que algo 
indevidamente interfira no regular andamento da investigação. Ademais, Muccio (2011, p. 47) esclarece 
ainda que "o inquérito policial é peça informativa, não fazendo parte do processo stricto sensu. A 
Constituição Federal assegura a publicidade dos atos processuais, não abrangendo aqueles do 
inquisitório". 
Tendo em vista a proteção constitucional da intimidade, da vida privada, da honra e da 
imagem do indivíduo, conforme Lopes Jr. (2012) a proteção dos direitos do investigado deve ser 
priorizada face a publicização e exposição do inquérito policial à mídia, ainda mais considerando que a 
liberdade de imprensa não é absoluta. 
 
Para Lopes Jr. (2012, p. 126) ainda, 
 
[...] desde a perspectiva de máxima eficácia da atuação estatal na repressão dos delitos, 
o segredo externo (e o impedimento da publicidade plena) serviria para garantir a 
utilidade da persecução. [...]"a imparcialidade e a tranquilidade do órgão encarregado da 
investigação preliminar (policial, judicial ou a cargo do MP) estarão mais garantidas 
pela ausência da pressão pública e dos meios de difusão de massa. 
 
Portanto, em vista do caráter instrumental do inquérito policial, a publicidade da 
investigação pode ser inócua, a depender do caso. Não valendo, portanto, o risco de se espalhar para a 
mídia. 
No mesmo sentido, Giacomolli (2014, p. 339) entende que: 
 
Defender a publicidade externa de fatos relacionados ao âmbito criminal não é vinculá-
la aos interesses midiáticos de exploração da miséria das vítimas e de seus familiares e 
nem às finalidades econômicas e de manutenção da permanência do grande auditório. A 
comunicação e revelação do processo a terceiros encontra limites. 
 
Ademais, visando as garantias constitucionais do investigado, segundo Lopes Jr. (2012, p. 
126) a publicização "abusiva dos atos da investigação preliminar é, desde o ponto de vista do sujeito 
passivo, o mais grave prejuízo que pode sofrer um inocente, (...), pois coloca-o prematuramente no banco 
dos acusados". 
Com isso, resta visível que a publicidade plena em determinados casos torna o princípio da 
presunção de inocência maculado, haja visto a formação antecipada do juízo condenatório do investigado, 
além de prejuízo à honra, imagem e intimidade do mesmo. 
Contudo, não é de hoje o interesse da mídia por questões criminais, o crime tem sido um dos 
principais produtos deste meio desde sempre. Entretanto, o interesse em questão ganhou espaço no campo 
jornalístico com o desenvolvimentos dos meios de comunicação em massa no fim do século. 
Nesse sentido, Pina (2009, p. 89) diz que o crescimento adveio com o "aparecimento da 
rádio e da televisão e o desenvolvimento de um mercado cada vez mais concorrencial entre imprensa, 
rádio e TV na disputa de audiências e recursos publicitários, a situação acentuou-se ao longo de todo o 
século XX até os dias de hoje". 
Porém, o que inicia-se com intuitos nobres pode acabar levando ao uso exacerbado e 
errôneo. Daí restringir a publicidade externa pode significar a proteção do estado de inocência do 
indiciado, pois, conforme Giacomolli (2014, p. 341), "o que importa ao Estado de Direito é que a infração 
criminal está senso apurada, que o Estado está cumprindo as suas funções" e "não a exposição da imagem 
do suspeito, o seu nome completo, a de seus familiares e onde reside". 
Imperioso considerar a responsabilidade do Poder Judiciário, quando na proteção dos 
direitos e garantias do investigado, frente ao uso exacerbado da publicidade midiática. Nesse sentido, 
expõe Lopes Jr (2012, p. 126): 
 
Também os agentes do Poder Público possuem uma grande parcela de responsabilidade 
pela publicidade abusiva e sensacionalista. Não são poucos juízes, promotores e 
policiais que, estimulados pela vaidade, fazem clamorosas e ao mesmo tempo 
precipitadas declarações em público e aos meios de comunicação,fomentando a 
estigmatização do sujeito passivo e prejudicando seriamente a administração e o 
funcionamento da justiça. Inclusive, o gravame é maior conforme o status e a 
credibilidade dessas pessoas e a função que desempenham 
 
Ademais, o conflito de interesses entre o público e privado do acusado acaba por ser 
prejudicado, haja visto que as garantias constitucionais do mesmo também compõe o rol do interesse 
público, ou seja, é a defesa contra qualquer arbitrariedade, seja advindo do Estado ou pela mídia. 
Nesse sentido Lopes Jr. (2012, p. 129) aduz que por tal razão, na fase pré-processual, "a 
publicidade externa deve ser restringida para proteger a intimidade e a imagem do acusado, até porque ao 
lado desse direito fundamental está outro, de grande importância: a presunção de inocência". 
Portanto, a publicidade do inquérito policial não pode ser confundida com pré julgamento ou 
mesmo trazer a violação a direitos fundamentais do indiciado, restando de fundamental importância 
manter o privilegio ao direitos fundamentais da intimidade, vida privada, honra e imagem dos 
investigados. 
Cabe ao magistrado limitar os autos do inquérito policial sempre achar prudente, a fim de 
assegurar os direitos do investigados e evitar prejuízos que uma eventual absolvição posterior não tem o 
poder de restabelecer: a perca do status de inocência perante a sociedade. 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
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