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Investigação Criminal

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1 
 
Disciplina: Investigação Criminal 
Autor: Esp. Marcos Blank Aldrighi 
Revisão de Conteúdos: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm 
Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki 
Ano: 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
 
 
2 
 
Marcos Blank Aldrighi 
 
 
 
 
Investigação Criminal 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2019 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
 
3 
 
Editora São Braz 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Revisão de Conteúdos 
Alexandre Kramer Morgenterm 
 
Revisão Ortográfica 
Juliano de Paula Neitzki 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
ALDRIGHI, Marcos Blank. 
Investigação Criminal / Marcos Blank Aldrighi. – Curitiba: Editora São Braz, 
2019. 
151 p. 
ISBN: 978-85-5475-414-3 
1.Criminal. 2. Inquérito. 3. Investigação. 
Material didático da disciplina de Investigação Criminal – Faculdade São Braz 
(FSB), 2019. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade São Braz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Prefácio ..................................................................................................... 07 
Aula 1 – Conceito e teoria da investigação criminal ................................ 08 
Apresentação da aula 1 ............................................................................. 08 
1.1 Conceito e entendimento da investigação ................................ 08 
1.2 Investigação como pesquisa. Investigação científica ............... 09 
1.3 Administração e estratégia ....................................................... 11 
1.4 Fundamentos da investigação criminal .................................... 16 
Conclusão da aula 1 ................................................................................... 22 
Aula 2 – Fins, meios e limites da investigação criminal ............................ 23 
Apresentação da aula 2 ............................................................................. 23 
2.1 Considerações importantes na investigação criminal ............... 23 
2.2 Fins da investigação criminal ................................................... 24 
2.3 Meios de investigação criminal ................................................ 25 
2.3.1 Inquérito policial .................................................................... 27 
2.3.2. Investigação criminal pelo Ministério Público ....................... 40 
2.3.3. Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ............................ 42 
2.3.4. Investigação criminal por particulares ................................. 45 
2.4 Limites da investigação criminal .............................................. 47 
Conclusão da aula 2 .................................................................................. 59 
Aula 3 - Provas criminais ........................................................................... 60 
Apresentação da aula 3 ............................................................................. 60 
3.1 Discussões introdutórias e objetos de prova ........................... 60 
3.2 Provas proibidas ...................................................................... 67 
3.3 Provas em espécie ................................................................... 73 
Conclusão da aula 3 ................................................................................... 80 
Aula 4 – Teoria do crime ............................................................................ 82 
Apresentação da aula 4 ............................................................................. 82 
4.1 Conceito e classificação de crimes .......................................... 82 
4.2 Elementos do conceito analítico de crime ................................. 94 
4.2.1 Fato típico ............................................................................. 94 
4.2.2. Ilicitude ................................................................................. 117 
4.2.3 Culpabilidade ......................................................................... 126 
4.3 Concurso de pessoas ............................................................... 137 
 
 
6 
 
Conclusão da aula 4 ................................................................................... 144 
Conclusão da disciplina ............................................................................. 146 
Índice remissivo ......................................................................................... 148 
Referências ............................................................................................... 150 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Prefácio 
 
 Nesta disciplina serão abordados, hodiernamente, o tema envolto em 
várias produções televisivas, muitas vezes com tramas milionárias e com atores 
renomados interpretando policiais e assassinos em série. Em tais programas, a 
polícia, abruptamente, desvenda o crime juntando peças que simplesmente 
aparecem em sua frente. No ápice do filme, alguém tem uma “super” ideia e o 
crime é rapidamente desvendado com a morte do bandido, ocorrendo a 
promoção do policial e o casamento deste com a bela testemunha principal do 
caso. 
O problema é que essas produções hollywoodianas estão longe da 
realidade investigativa brasileira. Por aqui, para que o malfeitor seja preso e 
processado, procedimentos devem ser respeitados, assim como todos os seus 
direitos fundamentais. Caso isso não ocorra, toda a investigação pode ser 
anulada pela justiça e os policiais punidos. Ou seja, em nossa realidade não 
existe o glamour e heroísmo dos filmes, mas, sim, profissionais capacitados, 
limitações legais e procedimentais a serem seguidas e, com um pouco de sorte, 
o investigado na cadeia. 
O presente trabalho tem como finalidade expor ao aluno os vários 
procedimentos investigativos existentes em nosso país, bem como os trâmites a 
serem adotados desde o início até o oferecimento da ação penal e os limites 
legais impostos a cada um deles, evidenciando quem pode investigar e quem 
pode ser alvo da investigação criminal. Por fim, esta disciplina irá capacitar o 
aluno a distinguir a realidade fática e limitada do procedimento real de nosso país 
e da encenação mostrada no entretenimento internacional. 
Vale ressaltar ainda que não temos a intenção de esgotar o tema,pois 
cada subitem é, perfeitamente, capaz de ser objeto de uma complexa 
monografia. Além disso, a investigação ganha conceitos e adaptações novas 
todos os dias. Isso posto, convidamos o aluno a entrar no instigante tema da 
investigação e do processo penal. Seja bem-vindo! 
 
 
 
 
 
8 
 
Aula 1 – Conceito e teoria da investigação criminal 
 
Apresentação da aula 1 
 
Nesta primeira aula serão abordados assuntos inaugurais, como o 
conceito e teoria da investigação criminal, além da investigação como pesquisa, 
investigação científica e seus fundamentos. Tais conceitos capacitarão o aluno 
a compreender temas um pouco mais técnicos e complexos, os quais serão 
abordados em momento oportuno. 
 
1.1 Conceito e entendimento da investigação 
 
Antes de adentrarmos efetivamente nos meios e espécies de 
investigação, bem como no estudo das provas e limites legais, devemos ser 
capazes de conceituar e entender o instituto. Dessa forma, pode–se entender 
investigação como sendo a busca ou inquérito detalhado para averiguar algo ou 
alguém, apuração, investigação policial, entre outros. 
Em seu sentido jurídico, trata-se da reunião dos procedimentos ou 
diligências com o objetivo de atestar fatos e (ou) circunstâncias legais. Análises 
excessivamente rigorosas sobre alguma coisa geralmente cientifica ou, até 
mesmo, pesquisa. 
Para Aury Lopes Jr., a nomenclatura correta do termo deveria ser 
“Instrução Preliminar”: 
 
O termo que nos parece mais adequado é o de instrução preliminar. O 
primeiro vocábulo – instrução – vem do latim instruere, que significa 
ensinar, informar. Serve para aludir ao fundamento e à natureza da 
atividade levada a cabo, isto é, a aportação de dados fáticos e 
elementos de convicção que possam servir para formar a opinio delicti 
do acusador e justificar o processo ou o não processo. Ademais, faz 
referência ao conjunto de conhecimentos adquiridos, no sentido 
jurídico de cognição. Também reflete a existência de uma 
concatenação de atos logicamente organizados: um procedimento. 
para uma análise de sistemas abstratos e concretos de diversos 
países, o melhor é utilizar o termo instrução que investigação, não só 
pela maior abrangência do primeiro (pois pode referir-se tanto a uma 
atividade judicial – juiz instrutor – como também a uma sumária 
investigação policial), mas também porque poderia ser apontada uma 
incoerência lógica falar em investigação preliminar quando não existe 
uma investigação definitiva , ao passo que a uma instrução preliminar 
 
 
9 
 
corresponde uma definitiva, levada a cabo na fase processual. (LOPES 
JR., 2006, p38). 
 
1.2 Investigação como pesquisa. Investigação científica 
 
É bem verdade que, na maioria das hipóteses em que ocorre, a 
investigação está ligada a alguma conduta criminosa, mas não é sempre assim. 
No decorrer deste estudo, veremos que a investigação também pode ser feita 
por outros profissionais em suas respectivas áreas. 
Daniel Barcelos, em sua obra Homicídios – Métodos de Investigação – 
Técnicas de Entrevista e Interrogatório, afirma que a investigação é o estudo ou 
pesquisa sobre algum tema em área específica, seja científica ou artística. Diz 
ainda que, em seu sentido amplo, a investigação não é atividade exclusiva de 
órgãos policiais, mas, sim, atividade inerente a todo e qualquer pesquisador, em 
qualquer área de atuação humana. 
Assim sendo, jornalistas, médicos, engenheiros, advogados, entre 
outros profissionais, são investigadores. Em cada uma dessas áreas são 
experimentadas formas de se pesquisar que, uma vez validadas e racionalmente 
organizadas, formam métodos de investigação. Quando tais métodos cumprem 
requisitos específicos, estamos diante da pesquisa científica, a qual, por seu 
maior rigor na coleta das informações, atribui-se maior credibilidade às suas 
conclusões. 
Para ilustrar a investigação científica, o prof. Barcelos traz o seguinte 
exemplo: 
 
Suponhamos que uma pessoa apresente dor abdominal aguda que 
necessite de esclarecimento (investigação), buscando para tanto um 
hospital (agência de investigação). Essa pessoa apresentará o caso a 
um médico (investigador). De maneira geral, ele entrevistará essa 
pessoa por meio de anamnese (declarações da vítima), mas também 
ouvirá eventualmente outras pessoas de seu círculo de convivência e 
que possam acrescentar informações relevantes (testemunhas). 
Poderão ser analisados aspectos físicos específicos, clinicamente ou 
por meios de exames de sangue, de urina, de imagens ou outros 
(perícias e análises documentais). Feito isto, todos os dados serão 
analisados em um único contexto e organizados racionalmente para 
sustentar um diagnóstico (versão verossímil) para o fato apresentado. 
(BARCELOS, 2017, p 24-25). 
 
 
 
10 
 
Dentre os diversos materiais consultados para a elaboração deste 
trabalho, todos eles compartilham a ideia de que a pesquisa científica é a 
investigação desenvolvida e planejada de acordo com as normas da metodologia 
consagrada pela ciência, ou seja, a principal diferença entre a pesquisa científica 
e a pesquisa livre é que aquela tem métodos pré-estabelecidos a serem seguidos 
e esta pode ser realizada de forma livre pelo pesquisador. 
 
É exatamente nessa perspectiva que conceituamos a investigação 
criminal de homicídio: uma pesquisa integralmente científica que reúne 
informações de fontes diversas e as reúne para elaborar a versão mais 
verossímil possível de um fato penalmente relevante, com o objetivo 
de convencer um determinado destinatário. É imprescindível, portanto, 
que a investigação criminal ocorra por meio de métodos próprios que 
assegurem a credibilidade das conclusões dela resultantes. 
(BARCELOS, 2017, p 24). 
 
Luiz Julião Ribeiro, em sua obra: “Investigação Criminal Homicídio”, 
atenta para o fato de que a investigação criminal tem se tornado uma atividade 
cada vez mais complexa em virtude da permanente incorporação dos 
conhecimentos científicos e tecnológicos, por parte dos criminosos, nas ações 
delituosas. E continua: 
 
Por isso, a participação de especialistas nas mais diversas áreas do 
conhecimento, na investigação criminal, como é o caso dos peritos 
criminais, se torna cada vez mais imprescindível. Em busca da 
verdade, os peritos criminais conhecimentos das áreas de engenharia, 
biologia, química, física, geologia, informática, contabilidade, 
papiloscopia, entre muitas outras. (RIBEIRO, 2006, p,48). 
 
De outra forma, a investigação como pesquisa, sem o viés criminal ou 
científico, também pode ser feita quando, por exemplo, em uma grande empresa, 
o responsável pelos Recursos Humanos pesquisa a vida pregressa de seus 
funcionários nas redes sociais, buscando mais informações sobre seus 
costumes, locais frequentados nos momentos de lazer e até mesmo suas 
ideologias e pensamentos. 
Sendo assim, é realizado investigação a todo momento. Quando 
queremos trocar de veículo, não vamos à concessionária e compramos o 
primeiro que o vendedor nos oferece. O mais prudente é que façamos uma 
pesquisa (investigação) minuciosa para descobrir qual é o modelo que melhor 
nos satisfaz dentro de nossas peculiares necessidades. 
 
 
11 
 
 
Tanto a pesquisa livre quanto a pesquisa científica devem 
respeitar os direitos fundamentais da pessoa a ser investigada, 
além de respeitar estritamente os parâmetros impostos pela lei, 
sob pena de responsabilização civil e criminal. 
 
1.3 Administração e estratégia 
 
Em toda pesquisa investigativa, o investigador deve ter em mente o 
melhor caminho a ser percorrido para alcançar seu objetivo. Para isso, assim 
que souber de que meios investigatórios dispõe e de quais irá precisar, ele deve 
traçar a estratégia correspondente. 
Vocabula rio 
Estratégia: é a forma ardilosa que se utiliza quando se quer 
obter alguma coisa. Ou ainda, a habilidade, astúcia, 
esperteza. 
 
 
 Indo ao encontro do conceito acima descrito, não raras vezes, nosdeparamos com reportagens televisivas em que policiais se disfarçam de 
moradores de rua, ou carteiros, entre outros possíveis disfarces para se 
infiltrarem na comunidade em que se esconde seu alvo ou seu objeto 
investigativo, pois, se o fizessem de forma ostensiva, certamente haveria 
confronto armado (entre bandidos, até parte da comunidade e a força policial 
destacada para a ocorrência) e vidas poderiam se perder diante de tais 
ocorridos. 
Vocabula rio 
Ostensiva: é uma tática de vigilância da polícia em que a 
sua presença é intencionalmente notada por todas as 
pessoas da localidade, com o uso de viaturas e uniformes 
que os caracterizam como forças de policiamento. Em suma, 
consiste na polícia uniformizada, fardada e visivelmente 
identificada. 
 
 
12 
 
 
Assim, sem serem percebidos, se cercam, pacientemente, de toda 
informação necessária para realizar a abordagem e prender o suspeito. A 
probabilidade de sucesso nesse tipo de procedimento é de quase 100%, o único 
problema que identificamos na infiltração de agentes é o perigo real que o próprio 
investigador corre. Por isso, as leis que tratam desse meio de investigação – 
agentes infiltrados - permitem sua execução apenas para condutas criminosas 
consideradas graves, mediante prévia autorização judicial e desde que 
preenchidos determinados requisitos. 
Seguem alguns exemplos da legislação nacional que permitem a 
infiltração de agentes em comunidades. Primeiramente analisaremos a lei 
referente às drogas (capítulo III) e consequentemente analisaremos a lei que 
define as organizações criminosas, no caráter da investigação e dos meios de 
obtenção das provas. 
 
 
 
LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006 
 
 
 
Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas 
sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção 
do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e 
dependentes de drogas; estabelece normas para 
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de 
drogas; define crimes e dá outras providências. 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte 
Lei: 
CAPÍTULO III 
DO PROCEDIMENTO PENAL 
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta 
Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o 
Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: 
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos 
órgãos especializados pertinentes; 
Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
 
 
13 
 
 
 
LEI Nº 12.850, DE 02 DE AGOSTO DE 2013 
 
 
Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações 
penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código 
Penal); revoga a Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. 
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte 
Lei: 
DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA 
Seção III 
Da Infiltração de Agentes 
Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada 
pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica do 
delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de 
circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites. 
§ 2o Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art. 
1o e se a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis. 
§ 3o A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de 
eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade. 
§ 4o Findo o prazo previsto no § 3o, o relatório circunstanciado será apresentado ao juiz 
competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público. 
§ 5o No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus 
agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade de 
infiltração. 
Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de polícia 
para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da medida, o 
alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas 
investigadas e o local da infiltração. 
Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter 
informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será 
infiltrado. 
§ 1o As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão dirigidas 
diretamente ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após 
manifestação do Ministério Público na hipótese de representação do delegado de polícia, 
devendo-se adotar as medidas necessárias para o êxito das investigações e a segurança do 
agente infiltrado. 
 
 
14 
 
§ 2o Os autos contendo as informações da operação de infiltração acompanharão a 
denúncia do Ministério Público, quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a 
preservação da identidade do agente. 
§ 3o Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a 
operação será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, 
dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial. 
Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a 
finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados. 
Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente 
infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa. 
Art. 14. São direitos do agente: 
I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada; 
II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9o da Lei 
no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a testemunhas; 
III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais 
preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial em 
contrário; 
IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de 
comunicação, sem sua prévia autorização por escrito. 
 
Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm 
 
Como se pode notar, a lei de organizações criminosas faculta ainda ao 
agente infiltrado sua concordância na participação, ter seu nome alterado e, em 
hipótese alguma, ser filmado ou fotografado durante a operação; tamanha a 
periculosidade da conduta. 
Já na investigação privada, a título de exemplo, imaginemos que um 
detetive particular tenha sido contratado por uma esposa que desconfie que seu 
marido a esteja traindo. Primeiramente, deve o profissional identificar o possível 
traidor e seguir seus passos, fazer parte, ardilosamente, de seu dia a dia, cercar-
se de toda a informação possível sobre sua rotina e costumes, mas em nenhuma 
hipótese se fazer descobrir. 
Afinal, tanto na investigação oficial quanto na privada, o tempo que o 
investigador demora para atingir sua meta não é importante, mas, sim, que o 
serviço seja realizado da melhor forma possível e com pouco ou nenhum dano. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9807.htm#art9
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9807.htm#art9
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm
 
 
15 
 
A melhor estratégia a ser adotada pelo investigador deve ser o planejamento 
antes da ação e paciência durante a execução. 
Curiosidade 
Afoiteza e investigação não são compatíveis, mesmo em 
momentos de tensão.Essa é a mesma linha de raciocínio assumida por Sun Tzu em “A arte 
da guerra”: 
 
As consequências desastrosas de atitudes como a impaciência, o 
julgamento precipitado e as decisões impensadas são, muitas vezes, 
irremediáveis, pois geram prejuízos e danos vitais. Calma, bom senso 
e planejamento são os antídotos para prevenir e remediar aquelas 
atitudes compulsivas; já os danos e prejuízos, esses não têm remédio. 
(TZU, 2008, p 48) 
 
Concluindo o subitem, podemos afirmar que não se pode dar início a 
uma investigação sem que haja uma estratégia voltada ao ardil, ou seja, o 
pesquisador deve desenvolver sua missão quase que como um fantasma, 
alguém que não se deixe notar. Tal fato é tão verdadeiro e eficiente que foi 
incorporado pelo estrategista militar Sun Tzu, no século IV, a.c. 
Vocabula rio 
Ardil: ação que se vale de astúcia, manha, sagacidade; 
ardileza, ou ainda, ação que visa iludir, lograr (pessoa ou 
animal); armação, cilada. 
 
 
 
Infelizmente, notamos exatamente o contrário nos dias de hoje, quando 
assistimos pela televisão autoridades policiais e militares contando com detalhes 
à imprensa como se deram as investigações que culminaram na prisão do 
investigado. Vale ressaltar que outros bandidos também assistem à reportagem 
 
 
16 
 
e aprendem com ela, o que torna cada vez mais difícil a captura desses 
foragidos. 
 
1.4 Fundamentos da investigação criminal 
 
 A partir desse ponto, começamos efetivamente a nos debruçar sobre o 
estudo da investigação criminal. Estudar os fundamentos da investigação é 
descobrir o porquê de sua existência e qual a sua importância para a apuração 
de um fato determinado. 
 
Investigação criminal 
Fonte: https://br.depositphotos.com/stock-photos/investiga%C3%A7%C3%A3o-crimina 
l.html?filter=all&qview=4234377 
 
Aury Lopes Jr. entende que o principal fundamento da investigação 
criminal é evitar acusações infundadas e assim transmitir à sociedade a 
certeza de uma punição efetiva ao transgressor da norma, mas sem o abuso do 
poder estatal. Uma punição exemplar é aquela em que o real autor do delito é 
processado e punido após o inequívoco procedimento investigativo criminal, com 
seus respectivos direitos fundamentais respeitados. Senão, vejamos: 
 
O processo penal tem como fundamento de sua existência à 
instrumentalidade garantista e esse também será o ponto de partida 
para justificar a investigação preliminar. Ela não pode afastar-se dos 
 
 
17 
 
fundamentos do instrumento maior ao qual presta serviço. Sem 
embargo, dentro desse fim de instrumento de garantia a investigação 
preliminar. Beling afirma que o pré-processo judicial serve ao 
esclarecimento do suposto fato na medida necessária para fazer 
possível a resolução sobre a abertura ou não do juízo oral (fase 
processual). Sem embargo do acerto de tal afirmação, para 
compreender a existência da instrução preliminar não é suficiente 
apontar exclusivamente para sua instrumentalidade. É imprescindível 
analisar em que termos atua essa instrumentalidade e em que se 
funda. A instrumentalidade respeito ao processo é o ponto de início da 
formação do conceito, e não o ponto final. Do mesmo modo que o 
processo não tem como único fundamento a instrumentalidade, a 
investigação preliminar também atende a um patente interesse 
garantista, para evitar as acusações e os processos infundados. 
Nesse sentido, Carnelutti defende que a investigação preliminar não se 
faz para a comprovação do delito, mas somente para excluir uma 
acusação aventurada. Em outro momento, afirma que, para evitar 
equívocos, a função do procedimento preliminar não deve ser 
entendida no sentido de uma preparação do procedimento defifnitivo, 
senão ao contrário, como um obstáculo a superar antes de poder abrir 
procedimento judicial. (LOPES JR., 2006, p. 49) 
 
Concordamos que a sensação de impunidade traz o mesmo sentimento 
de insegurança social de que quando um inocente é condenado e preso, é 
justamente isso que o correto e legal procedimento investigatório busca evitar. 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
 
 
 
 
Para entender um pouco mais do 
tema desta aula, sugere-se a 
leitura do livro Direito Processual 
Penal. De autoria de Aury Lopes 
Junior. 
 
 
 
 
O professor ainda cita mais três fundamentos, porém em caráter 
complementar, afinal eles são inerentes à função principal, que é evitar 
acusações infundadas. São eles: 
 
 
 
18 
 
Busca de fato oculto Função simbólica Filtro processual 
Verificação de justa 
causa, ou seja, se o 
caderno investigativo traz 
elementos suficientes de 
autoria e materialidade, 
consubstanciando assim 
base para o oferecimento 
da denúncia. Ou, do 
latim, a presença do 
“fumus comissi delicti”. 
É justamente o 
sentimento popular de 
pleno funcionamento do 
aparato estatal de 
segurança e o 
afastamento do 
sentimento de 
impunidade causado 
quando do cometimento 
de um crime. 
Simplesmente não ver 
um indivíduo 
processado sem 
indícios suficientes de 
autoria e 
materialidade. 
Percebe-se que este 
último fundamento se 
confunde com o 
primeiro, daí seu 
caráter complementar. 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
Dentre os fundamentos já apontados, vale ressaltar também que 
qualquer investigação realizada deve respeitar os direitos fundamentais do 
investigado, bem como a inviolabilidade do domicílio, a cláusula constitucional 
de jurisdição, o direito de não culpabilidade e os princípios constitucionais 
aplicáveis. 
Outro fundamento importante para a investigação é o sistema 
inquisitorial, adotado, atualmente, pelo CPP, quando na fase investigatória. O 
promotor militar federal Renato Brasileiro de Lima, em sua obra “Código de 
Processo Penal Comentado”, explica o citado sistema: 
 
Nos dias de hoje, não existem sistemas acusatórios ou inquisitórios 
“puros”. Na verdade, ora o processo penal é predominantemente 
acusatório, ora apresenta características peculiares dos sistemas 
inquisitoriais. Quando o nosso Código de Processo Penal entrou em 
vigor no dia 1 de janeiro de 1942, prevalecia o entendimento de que o 
sistema nele previsto era misto. A fase inicial da persecução penal, 
caracterizada pelo inquérito policial, era inquisitorial. Porém, uma vez 
iniciado o processo, tínhamos uma fase acusatória. Porém, com o 
advento da Constituição Federal, que prevê de maneira expressa a 
separação das funções de acusar, defender e julgar (art. 129, I), 
estando assegurado o contraditório e a ampla defesa, além do princípio 
da presunção de não culpabilidade, estamos diante de um sistema 
acusatório, é bem verdade que não se trata de um sistema acusatório 
puro. De fato, há de se ter em mente que o Código de Processo Penal 
tem nítida inspiração no modelo facista italiano. (BRASILEIRO, 2017, 
p 17). 
 
 
 
 
19 
 
Fundamentos da Investigação criminal: 
→ Evitar acusações infundadas; 
→ Busca de fato oculto; 
 → Função Simbólica; 
 → Filtro processual. 
 
Após a leitura da obra do mestre Renato Brasileiro, podemos concluir 
que o sistema inquisitorial é predominante na fase de investigação, mas não 
absoluto. Para melhor o entendermos, vamos conhecer as principais 
características desse sistema: 
Importante 
1) as funções de acusar, defender e julgar encontram-se 
concentradas em uma única autoridade, chamado de juiz 
inquisidor; 
2) não há fala em contraditório, a qual nem sequer seria 
concebível em virtude da falta de contraposição entre acusação 
e defesa; 
3) o juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, tendo 
liberdade para determinar, de ofício, a colheita de provas, seja 
no curso das investigações, seja no curso do processo penal, 
independentemente de sua proposição pela acusação ou pelo 
acusado. A gestão das provas estava concentrada, assim, nas 
mãos do juiz, que, a partir da prova do fato e tomando como 
parâmetro a lei, podia chegarà conclusão que desejasse; 
4) como se admite o princípio da verdade real, o acusado não é 
sujeito de direitos, sendo tratado como mero objeto do processo, 
daí por que se admite inclusive a tortura como meio de se obter 
a verdade absoluta; 
5) a concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa 
acusatória dela decorrente é incompatível com a garantia da 
imparcialidade (CADH, art. 8º, § 1º) e com o princípio do devido 
processo legal; 
 
Compreendendo à leitura, podemos entender que algumas 
características desse sistema não mais são compatíveis com nosso Estado 
Democrático de Direito. Em nosso ordenamento jurídico, não mais se admite a 
figura de um juiz inquisidor, seu papel na fase de investigação é de juiz de 
 
 
20 
 
garantias, ou seja, toda vez que o investigador se deparar com alguma situação 
coberta por uma cláusula constitucional de jurisdição, deve ir ao judiciário e fazer 
o pedido formalmente. 
Por exemplo, a autoridade policial não pode interceptar os telefones do 
investigado por sua discricionariedade. Havendo indícios suficientes de 
materialidade do cometimento de crime punido com reclusão, o delegado de 
polícia deve solicitar ao juiz tal medida cautelar com base na lei própria. 
 
 
 
LEI Nº 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996 
 
 
Regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição Federal. 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e 
eu sanciono a seguinte Lei: 
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova 
em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e 
dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. 
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo 
juiz, de ofício ou a requerimento: 
I - da autoridade policial, na investigação criminal; 
II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução 
processual penal. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9296.htm 
 
Com relação à iniciativa probatória do juiz, a melhor doutrina afirma que 
só é possível na fase processual, afinal, na investigação, o juiz é apenas 
garantista. O sistema inquisitorial ainda afirma que o investigador busca a 
verdade real, porém, atualmente, se entende que a verdade real é impossível de 
ser encontrada porque simplesmente não se pode voltar no tempo para saber ao 
certo o que ocorreu. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9296.htm
 
 
21 
 
Saiba Mais 
Cláusula Constitucional de Jurisdição: o Ministro do 
Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, no julgamento do 
MS 23452-RJ, conceituou o instituto como sendo: “o 
postulado de reserva constitucional de jurisdição 
importa em submeter, à esfera única de decisão dos 
magistrados, a prática de determinados atos cuja 
realização, por efeito de explícita determinação 
constante do próprio texto da Carta Política , somente 
pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive 
daqueles a quem haja eventualmente atribuído o 
exercício de poderes de investigação próprios das 
autoridades judiciais". 
 
Assim sendo, o ideal é que se busque a verdade processual por meio da 
investigação, ou seja, a colheita de todos os elementos de informação e provas 
que o leve à realidade processual mais próxima do fato ocorrido, sendo 
impossível voltar à realidade do fato material em si. 
 
Historicamente, está demonstrado empiricamente que o processo 
penal, sempre que buscou uma “verdade mais material e consistente” 
e com menos limites na atividade de busca, produziu uma “verdade” 
de menor qualidade e com pior trato para o imputado. Esse processo, 
que não conhecia a ideia de limites – admitindo inclusive a tortura -, 
levou mais gente a confessar não só os delitos mais cometidos, mas 
também alguns impossíveis de serem realizados. O mito da verdade 
real está intimamente relacionado com a estrutura do sistema 
inquisitório; com o “interesse público” (clausula geral que serviu de 
argumento para as maiores atrocidades); com sistemas políticos 
autoritários; com a busca de uma “verdade” a qualquer custo 
(chegando a legitimar a tortura em determinados momentos históricos); 
e com a figura do juiz-ator (inquisidor) (...) Destarte, há que se descobrir 
a origem e a finalidade do mito da verdade real: nasce na inquisição e, 
a partir daí, é usada para justificar os atos abusivos do Estado, na 
mesma lógica de que “os fins justificam os meios”. Assim, no processo 
penal, só se legitima a verdade formal ou processual. Trata-se de uma 
verdade perseguida pelo modelo formalista como fundamento de uma 
condenação e que só pode ser alcançada mediante o respeito das 
regras precisas e relativas aos fatos e circunstancias considerados 
como penalmente relevantes. (LOPES JR., 2006, p.209-211). 
 
Por fim, se depreende da leitura que o sistema inquisitivo concentra no 
juiz inquisidor as funções de acusar, defender e julgar. Mais uma vez tal 
afirmação não encontra fundamentos no Brasil democrático, em que cabe ao 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
 
 
22 
 
Ministério Público julgar a Defensoria Pública ou advogados regularmente 
inscritos na OAB à função de defender e ao magistrado à função de julgar. 
Com o término da primeira etapa da ementa, já somos capazes de 
conceituar investigação criminal e entender o seu funcionamento. Sabemos 
também que a investigação não é um procedimento exclusivo de órgãos 
policiais. Além de pontuarmos a diferença entre investigação como pesquisa e 
científica, também conseguimos conceituar os fundamentos da investigação 
criminal. 
Mas, em se tratando de investigação criminal, seu objetivo sempre será 
o “fumus commissi delicti”, ou seja, a preparação da justa causa para o 
oferecimento da denúncia. 
 
Conclusão da aula 1 
 
Com relação à definição de investigação criminal, pode-se perceber que 
o conceito não se resume apenas ao dicionário. Aury Lopes Jr. leciona que é 
errado definir o ato de buscar informações sobre determinado fato de 
investigação preliminar, afinal, não existe uma investigação definitiva. A 
nomenclatura correta seria instrução preliminar, tendo em vista que a próxima 
fase é a instrução definitiva ou apenas processo criminal, mas, na prática, não 
há prejuízo algum confundir os conceitos. 
Quanto à investigação como pesquisa, estudamos que pode ser feita 
sem um procedimento padrão. O pesquisador pode usar toda sua 
discricionariedade para coletar dados sobre seu assunto. Já no tocante à 
investigação científica, existe um procedimento pré-definido e, por seguir um 
método mais rigoroso, seus resultados exprimem maior credibilidade. 
Com relação ao subitem 1.2, concluímos que a melhor estratégia para 
uma investigação satisfatória consiste em um planejamento anterior e 
complacência durante sua execução. Tal método é tão eficiente que já era usado 
na China Imperial, no século XVII, antes de cristo, conforme ilustramos com o 
livro “A arte da guerra” de Sun Tzu. 
 No tópico final, concluímos que o principal fundamento da investigação 
criminal é evitar acusações infundadas. Além dele, existem outros três 
complementares: busca de fato oculto, ou simplesmente, a verificação de justa 
 
 
23 
 
causa; função simbólica, ou seja, o sentimento popular de pleno funcionamento 
do aparato estatal; e finalmente, o filtro processual, cujo conceito se confunde 
com o primeiro, qual seja, evitar que um processo penal seja iniciado sem o 
devido preparo. 
Atividade de Aprendizagem 
Caro aluno(a)! 
Redija um texto dissertativo, de no mínimo 10 e no máximo 30 
linhas, abordando os fundamentos da investigação criminal 
trazidos por Aury Lopes Jr. Além disso, exemplifique uma 
situação hipotética de investigação ilustrando tais conceitos. 
O exemplo de investigaçãopode ser tanto científico como de 
simples pesquisa. 
 
 
 
Aula 2 – Fins, meios e limites da investigação criminal 
 
Apresentação da aula 2 
 
Vencida a etapa da apresentação da matéria e dos conceitos iniciais, 
convidamos o aluno a adentrar no conteúdo propriamente dito da investigação 
criminal. Na aula 2, estudaremos os instrumentos pelos quais a investigação 
toma forma, além de conhecer os limites que os investigadores devem respeitar, 
sob pena de ter todo o procedimento investigatório anulado pela justiça. Por fim, 
estudaremos qual a sua finalidade. 
 
2.1 Considerações importantes na investigação criminal 
 
Vivemos em um Estado Democrático de Direito, isso significa que 
podemos fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Por esse princípio se rege a 
investigação particular, contudo, quando a investigação criminal for regida pelo 
poder público, o princípio norteador será o da estrita legalidade, os órgãos da 
 
 
24 
 
persecução penal devem respeitar um rígido procedimento que objetive a 
colheita de elementos informativos com o objetivo de denunciar ou condenar 
alguém. A sequência em que montamos a aula não é aleatória, assim, o estudo 
dos fins, meios e limites da investigação criminal deve ser seguido nessa 
ordem para melhor compreensão do aluno. Vamos lá! 
 
2.2 Fins da investigação criminal 
 
Primeiramente, vale ressaltar que, doutrinariamente falando, o conceito 
de investigação criminal se confunde com o de inquérito policial, afinal, os fins 
deste se confunde com os daquele. Tal fato se dá pelo escasso número de obras 
literárias que abordam sobre o tema, por outro lado, existem incontáveis livros 
cujo tema principal é o processo penal, fase posterior à investigação. 
Concordamos com Daniel Barcelos quando afirma em sua obra 
Homicídios. Métodos de Investigação – Técnicas de Entrevista e Interrogatório, 
pg. 156, que o tratamento da investigação criminal como sinônimo de inquérito 
policial é extremamente equivocado e deve ser abolido, sendo salutar a 
elaboração de doutrinas investigativas na esfera criminal. É notório que a 
investigação criminal é muito mais abrangente que o inquérito policial, sendo 
este, um meio de investigação. 
Isso posto, sem medo de errar, podemos concluir que a finalidade da 
investigação criminal é reunir em um caderno investigatório (instrumento) 
todos os elementos de informação relativos à autoria e materialidade para 
a formação da “opinio delicti” e posterior oferecimento da denúncia por 
parte do Ministério Público e o consequente início do Processo Penal. 
Vocabula rio 
Opinio Delicti: convicção do titular da ação penal para o 
oferecimento ou não da denúncia e o, consequente, início da 
ação penal. 
 
 
O conceito acima transcrito é uníssono para a doutrina majoritária, 
todavia é importante anotar o pensamento de Bruno Taufner Zanotti, delegado 
 
 
25 
 
de polícia no Estado do Espírito Santo, em sua obra Delegado de Polícia em 
Ação, o qual concorda com o conceito, mas faz algumas ressalvas: 
 
Faz-se necessário desconstruir algumas conclusões que são 
colocadas de maneira pacífica na doutrina. O ponto relativo à finalidade 
do inquérito policial é uma delas. Admitir que o fim do inquérito seja 
fornecer justa causa para uma futura ação penal, significa concluir que 
a Polícia Civil trabalha a serviço do Ministério Público ou da vítima, no 
sentido de que as suas investigações são direcionadas a fornecer 
autoria e materialidade para uma ação penal, ou seja, a demonstrar a 
existência de um ilícito penal em face de um determinado cidadão. Não 
se nega que o inquérito policial possa ter essa consequência; 
mas, não se pode admitir que essa seja a sua finalidade. Essa 
distinção se faz necessária, em especial, para conscientizar que o 
instrumento em estudo não pode ser direcionado a um fim que vá de 
encontro ás prerrogativas do cargo de Delegado de Polícia, como a 
imparcialidade. Nesse contexto, a finalidade do inquérito policial, a 
partir da base teórica exposta nos capítulos anteriores, deve ser a 
produção de diligencias investigativas de modo a se colher todos 
os possíveis pontos de vista do fato, devidamente respeitados os 
direitos fundamentais dos afetos pela investigação policial, 
confirmando (ou não) a autoria e a materialidade. (ZANOTTI, 2018, 
p148.149) 
 
2.3 Meios de investigação criminal 
 
Neste trabalho entenderemos os meios como sendo instrumentos 
pelos quais a investigação se concretiza materialmente para que possa atingir 
seu objetivo. Estudamos na aula 1 que não são apenas os órgãos policias os 
responsáveis pelo monopólio da investigação criminal, porém, como já vimos 
anteriormente, muitos autores tratam como sinônimos os termos investigação 
criminal e inquérito policial, por isso, analisaremos em maior escala esse 
instrumento, sem negligenciar os demais. 
 Podemos afirmar que os principais meios (instrumentos) utilizados para 
concretizar a investigação são: 
 
 Inquérito Policial; 
 Investigação Criminal pelo Ministério Público; 
 Comissões Parlamentares de Inquérito; 
 Investigação Criminal por Particulares. 
 
Para que não haja mais dúvidas entre aqueles que defendem o monopólio 
do inquérito policial como único método de investigação criminal, tomamos a 
 
 
26 
 
liberdade de colacionar o parágrafo único do art. 4 do CPP, o qual confirma o 
caráter não exclusivo desse instrumento. 
 
 
DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 03 DE OUTUBRO DE 1941 
 
 
Código de Processo Penal. 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que Ihe confere o art. 180 da Constituição, decreta 
a seguinte Lei: 
TÍTULO II 
DO INQUÉRITO POLICIAL 
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas 
respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua 
autoria. 
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades 
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. 
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm 
 
Nesse mesmo sentido, Fernando Capez: 
 
O art. 4, parágrafo único, do Código de Processo Penal deixa claro que 
o inquérito realizado pela polícia judiciaria não é a única forma de 
investigação criminal. Há outras, como, por exemplo, o inquérito 
realizado pelas autoridades militares para a apuração de infrações de 
competência da justiça militar (IPM); as investigações efetuadas pelas 
Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), as quais terão poderes 
de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros 
previstos nos regimentos das respectivas Casas, e serão criadas pela 
Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou 
separadamente, mediante requerimento de 1.3 de seus membros, para 
a apuração de fato determinado, com duração limitada no tempo (CF, 
art. 58, pg 3); o inquérito civil público instaurado pelo Ministério Público 
para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de 
outros interesses difusos e coletivos (CF, art. 129, III) e que, 
eventualmente, poderá apurar também a existência de crimes conexo 
ao objeto da investigação; o inquérito em caso de infração penal 
cometida na sede ou dependências do Supremo Tribunal Federal 
(RISTF, art. 43); o inquérito instaurado pela Câmara dos Deputados ou 
Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências, 
hipótese em que, de acordo com o que dispuser o respectivo regimento 
interno, caberão à Casa a prisão em flagrante e a realização do 
inquérito (Súmula 397 do STF); a lavratura de auto de prisão em 
flagrante presidida pela autoridade judiciaria, quando o crime for 
 
 
27 
 
praticado na sua presença ou contra ela (CPP, art. 307). (CAPEZ, 
2018, p,117) 
 
2.3.1 Inquérito policial 
 
Consideramos o conceito de inquérito policial trazido pelo professor e 
promotor militar Renato Brasileiro de Lima. Brasileiro o define como o 
procedimentoadministrativo inquisitório e preparatório, presidido pela 
autoridade policial com o objetivo de identificar fontes de prova e colher 
elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, 
bem como permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. 
 
Inquérito policial: é o instrumento, no direito processual penal, 
que, legalmente materializa a investigação criminal, presidida 
pela autoridade policial, nos termos do art. 4 do Código de 
Processo Penal. (ANSELMO, 2016, p62) 
 
Uma vez conceituado o instrumento, julgamos ser a melhor forma de 
entender esse procedimento desdobrando seu conceito e compreendendo cada 
expressão isoladamente. 
 
 Procedimento administrativo inquisitório: o primeiro substrato 
do conceito é importante para o aluno entender que o inquérito não 
é um processo e sim um procedimento, pois, ao seu término, não 
será aplicada nenhuma sanção ao investigado, diferentemente do 
que ocorre no processo; 
 
O professor Fernando Capez, em sua obra Curso de Processo Penal, 
afirma ser administrativo por ter caráter preventivo, ou seja, visa a impedir a 
prática de atos lesivos a bens individuais e coletivos. 
Importante 
Por ser um procedimento administrativo, eventuais vícios do 
inquérito policial não contaminam o futuro processo penal, salvo 
provas ilícitas. 
 
 
28 
 
 Preparatório: fornece elementos de informação para que o titular 
da ação penal possa ingressar em juízo, além de acautelar meios 
de prova que poderiam desaparecer com o decurso de tempo; 
 
 Presidido pela autoridade policial: com o advento da lei 12.830 
de 2013 foi dada ao delegado de polícia a fundamentação legal 
para a condução do inquérito policial. Essa lei também trouxe um 
dispositivo que dá retaguarda jurídica a este profissional na 
condução de seu trabalho, assegurando que sua remoção só 
ocorrerá de forma fundamentada; 
 
 O novo artigo é importante porque, não raras vezes, observamos 
delegados de polícia sendo removidos, durante uma investigação, porque 
chegaram próximo a suspeitos endinheirados e com certo poder de influência. 
Nesses casos, a depender da força política do investigado, por meio de uma 
“canetada”, de uma hora para outra, o profissional é removido para outra unidade 
apenas com o único objetivo de suspender a investigação. 
 
 
LEI Nº 12.830, DE 20 DE JUNHO DE 2013 
 
 
Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia. 
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu 
sanciono a seguinte Lei: 
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de 
polícia. 
Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo 
delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. 
§ 1o Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da 
investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em 
lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das 
infrações penais. 
 
 
29 
 
 § 2o Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de 
perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos. 
 § 3o (VETADO). 
 § 4o O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente 
poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho 
fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos 
procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da 
investigação. 
 § 5o A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado. 
 § 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, 
mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas 
circunstâncias. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12830.htm 
 
 Fontes de prova: por ora, entenderemos esse instituto como 
sendo todas as pessoas ou coisas que têm algum conhecimento 
sobre o fato delituoso. Por exemplo: uma testemunha presencial, 
um equipamento de vigilância eletrônica, uma faca suja de 
sangue, entre outros. Maiores detalhes sobre prova e suas 
espécies serão tratadas na aula 3; 
 
Prova do crime! 
Fonte: https://br.freepik.com/fotos-premium/oficial-mostrando-uma-faca-com-sangue-c 
omo-prova-na-sala-de-interrogatorio_3872982.htm 
 
 Elementos de informação: são aquelas informações trazidas a 
conhecimento por meio do inquérito policial. Ainda não passaram 
pelo crivo do contraditório. A sua comparação com o conceito de 
“provas” também será estudada na próxima aula. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12830.htm
 
 
30 
 
 A função preservadora do inquérito policial se confunde com o principal 
fundamento da investigação criminal, ou seja, a existência prévia de um inquérito 
inibe a instauração de um processo penal infundado, temerário, resguardando a 
liberdade do inocente e evitando custos desnecessários para o Estado. 
 Não podemos entender essa função como um simples conceito teórico; 
ela é mais importante que isso. Imagine um cidadão que nunca teve problemas 
com a justiça e, consequentemente, nunca pisou em uma delegacia, seguidor de 
regras e que, além disso, sonha em ter um cargo público. Certa feita, ao pedir 
que seu vizinho de muro abaixasse o som, é por ele injuriado. No dia seguinte o 
vizinho afirma ao delegado de polícia que o foi ele quem o insultou e o ameaçou 
de morte com uma arma de fogo em mãos. 
Nessa situação hipotética cabe ao delegado de polícia se cercar de todas 
as informações necessárias antes de relatar o inquérito e o mandar para a 
justiça, caso não o faça, pode arruinar a vida inteira desse cidadão modelo. 
 Uma vez estudado, satisfatoriamente, o conceito de inquérito policial, 
passemos a estudar agora suas características. 
 
 1 – Escrito: o art. 9 do CPP informa que todas as peças do inquérito 
policial serão, num só, processadas e serão reduzidas a escrito ou 
datilografadas. Vale lembrar que alguns termos do citado diploma 
legal ainda são originais de 1942, ano do código. 
 
Sobre a característica “escrito” não se têm muitos comentários a fazer, 
apenas que ele deve ser um documento reduzido a termo, mas devemos sim 
tecer alguns comentários quanto às modernas técnicas de gravações 
audiovisuais, muito usadas atualmente. Não se pode negar que elas facilitam 
muito o trabalho de policiais e juízes, mas essa prática não seria contraria a essa 
característica do inquérito? Doutrina majoritária afirma que não; concordamos 
com o posicionamento do professor Renato Brasileiro sobre o tema: 
 
Diante do teor do art. 9 do CPP, discute-se, na doutrina, acerca da 
possibilidade de se utilizar de recursos de gravação audiovisual no 
curso das investigações policiais. A nosso juízo, apesar de o CPP não 
fazer menção á gravação audiovisual de diligencias realizadas no 
curso do inquérito policial, deve atentar para a data em que o referido 
 
 
31 
 
códex entrou em vigor (1 de janeiro de 1942). Destarte, seja por força 
de uma interpretação progressiva, seja por conta de uma aplicação 
subsidiaria do art. 405, pg 1 do CPP, há de se admitir a utilização 
desses novos meios tecnológicos no curso do inquérito. Portanto, 
sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, do 
indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos 
de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive 
audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações. 
(BRASILEIRO, 2017, p.85) 
 
 2 – Dispensável: significa dizer que, por mais completo e bem 
preparado que esteja, o Ministério Público não precisa dele para 
oferecer a denúncia. Se, por outras peças de informação, o 
membrodo MP entender que já possui a justa causa para o 
oferecimento da ação penal, poderá fazê-lo sem o inquérito 
policial. 
 
 A ideia de dispensabilidade do IP está prescrita no art. 27 do CPP: 
“qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos 
casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações 
sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de 
convicção”. Bruno Taufner Zanotti pontua: 
 
De fato, caso existam elementos suficientes, o Ministério Público pode, 
independentemente da existência do inquérito policial, propor a 
denúncia. No entanto, esses casos são a exceção e a imensa maioria 
das ações penais é instruída pelo inquérito policial, que se mostra 
como importante procedimento para se verificar indícios de autoria e 
prova de materialidade. Na verdade, o inquérito policial é um dos 
principais instrumentos penais porque materializa praticamente todo o 
conjunto probatório. Afinal, além de a instrução em juízo ser pouco 
efetiva, ela basicamente reitera as provas produzidas e sede de 
inquérito policial. Isso sem contar que existem diversas provas que, por 
sua natureza, são irrepetiveis, como a interceptação telefônica, o 
cumprimento de busca e apreensão, a confecção de uma perícia, entre 
outros. Trata-se, por tanto de uma dispensabilidade regrada, na 
medida em que o inquérito policial, de fato, só é dispensável nos 
poucos casos em que a vítima ou o Ministério Público possuírem 
documentos suficientes de autoria e materialidade do fato. Nas demais 
hipóteses, o inquérito policial mostra-se como instrumento necessário 
e indispensável para o funcionamento da justiça criminal. Afinal, cabe 
ao Delegado de Polícia eleger as linhas de investigação, de modo que 
as suas atitudes dependerá, em geral, do êxito da acusação. 
(ZANOTTI, 2018, p. 150). 
 
 Ou seja, mesmo sendo dispensável, o IP é uma peça muito útil para a 
formação da “opinio delicti” tendo em vista ser um procedimento completo e com 
 
 
32 
 
muitas informações sobre o fato delituoso. Na prática, a maioria das ações 
penais em curso são fundamentadas pelo inquérito policial prévio, afinal, a 
maioria das provas trazidas ao processo pela acusação são os elementos de 
informação colhidos na investigação que passaram pelo contraditório. 
 
 3 – Sigiloso: é bem verdade que o inquérito é um ato 
administrativo, afinal é produzido por funcionário público no 
exercício de sua função, também é sabido que, como regra, os 
atos públicos obedecem ao Princípio da Publicidade por 
questões de transparência administrativa. Porém, no processo 
penal, o que precisa ser público é o processo e não o inquérito, 
afinal, o sigilo é indispensável para a eficácia das investigações. 
 
Pensemos na hipótese em que um investigado tenha livre acesso aos 
autos de investigação, então ele decide ir até a delegacia de polícia, folheia o 
inquérito em que é acusado de tráfico de drogas e percebe que na manhã do dia 
seguinte será cumprido um mandado de busca e apreensão em sua residência. 
Com certeza a diligência seria inócua. 
Vocabula rio 
Diligência: interesse ou cuidado aplicado na execução de uma 
tarefa. 
 Inócua: Inofensiva; que não é perigosa; que não causa dano ou 
prejuízos. 
 
 Vale ressaltar que para alguns atores da persecução penal não se impõe 
o sigilo, são eles: o juiz da causa, o membro do MP, o Delegado presidente, os 
policias da investigação e ao advogado constituído. Sobre este último, algumas 
considerações se fazem necessárias. 
Vocabula rio 
Persecução penal: tem como função uma soma de atividade 
investigatória e com ação penal promovida pelo ministério Público. 
 
 
 
33 
 
LEI Nº 8.906, DE 04 DE JULHO DE 1994 
 
 
Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu 
sanciono a seguinte lei: 
TÍTULO I 
Da Advocacia 
CAPÍTULO II 
Dos Direitos do Advogado 
Art. 7º São direitos do advogado: 
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, 
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, 
findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar 
apontamentos, em meio físico ou digital; 
§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o 
exercício dos direitos de que trata o inciso XIV. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) 
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o 
acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em 
andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de 
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm 
 
Como se pode compreender após a leitura do art. 7 do estatuto da 
advocacia, o advogado tem acesso aos autos de inquérito policial na defesa de 
seu cliente, mas esse direito não é absoluto, está restrito às diligências já 
documentadas e não àquelas ainda em andamento. 
Essa explicação é bastante lógica, imagine que o aparelho telefônico de 
um investigado esteja sendo objeto de interceptação telefônica (diligência em 
andamento), se seu advogado pudesse ter acesso à diligência, ele certamente 
comunicaria seu cliente que, imediatamente, pararia de falar ao telefone; 
inutilizando, desta forma, por completo a medida cautelar e paralisando a 
investigação. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13245.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm
 
 
34 
 
A controversa questão do acesso advocatício aos autos de IP envolve 
um aparente impasse entre os direitos fundamentais e a natureza inquisitiva do 
inquérito. De um lado, temos a proteção à testemunha e o seu caráter sigiloso, 
de outro, o acesso do advogado como prerrogativa e desdobramento lógico do 
princípio do contraditório e ampla defesa. 
Para tentar facilitar esse entendimento e colocar um ponto final nas 
discussões, o Supremo Tribunal Federal editou a súmula vinculante n.14: “É 
direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos 
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório 
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao 
exercício do direito de defesa.” 
Interpretada essa súmula, Rodrigo Carneiro Gomes, em sua obra 
Investigação Criminal pela Polícia Judiciaria, aponta três situações: 
 
Situação 1. Advogado sem procuração. Embora a lei preveja o 
acesso da investigação ao advogado (constituído) sem procuração, 
este deve atuar no interesse da defesa de seu cliente, ou seja, o 
investigado deve possuir um relacionamento direto com o profissional 
que o representa, ainda que este se apresente na repartição pública 
sem procuração. Não são raras as situações de advogados que se 
apresentam em delegacias, ao tomarem conhecimento de prisões em 
flagrante, e se identificam como advogado do preso sem nem sequer 
saber o nome de quem o constituiu. Nessa linha, o advogado alheio à 
investigação ou desconhecido do investigado não tem garantido por lei 
o direito de “peneirar” inquéritos, investigações e processos 
administrativos em repartições públicas para, num posterior momento, 
“oferecer” seus serviços aos potenciais investigados. O delegado de 
polícia zelará para que seja feito contato com o investigado e 
confirmado se o profissional que ali se apresenta o faz no interesse de 
seu cliente. A lei busca garantir um rol de prerrogativas para o 
advogado e de garantias para o acesso da investigação pelo 
interessado, e não a mercantilização de serviços advocatícios. Nesse 
sentido, o STF (HC 93767, relator ministro Celso de Mello) decidiu que 
“o sistema normativo brasileiro assegura ao advogado regularmente 
constituído pelo indiciado (ou por aquelesubmetido a atos da 
persecução estatal) o direito de pleno acesso aos autos de persecução 
penal, mesmo que sujeita, em juízo ou fora dele, a regime de sigilo 
(necessariamente excepcional)”. Situação 2. Prazo para deferimento 
de vista. Na omissão da lei, deve-se adotar, por analogia e salvo 
motivo de força maior, os prazos previstos pela lei 9784.99, que regula 
o processo administrativo público federal, a qual, em seu artigo 24 
dispõe que: “Inexistindo disposição especifica, os atos do órgão ou 
autoridade responsável pelo processo e dos administrados que dele 
precisem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo motivo 
de força maior. Paragrafo único. O prazo previsto nesse artigo pode 
ser dilatado até o dobro, mediante comprovada justificação”. Situação 
3. Examinar autos de flagrante e de investigação de qualquer 
natureza. A legislação não restringiu o acesso a qualquer tipo de 
investigação, portanto, o acesso do advogado, na defesa de seu cliente 
 
 
35 
 
(previamente constituído ou na pratica do ato), não se limita, quanto ao 
tipo de investigação, à investigação criminal ou administrativa, 
preparatória ou incidental, procedimento administrativo criminal ou 
investigatório criminal (PAC-PIC)(GOMES, 2016,p. 175.176) 
 
 Somados a súmula vinculante e o estudo dessas situações, não há mais 
lacunas sobre a atuação do advogado na fase preliminar. 
 
 4 – Inquisitorial: na fase de inquérito, não é necessária a 
observância do contraditório e da ampla defesa. 
 
Entende-se por contraditória a ciência bilateral, por parte do 
investigado, dos atos ou termos do processo e a possibilidade de contrariá-los. 
Ou seja, o direito que o investigado tem de saber que existe um procedimento 
investigatório contra ele e a possibilidade de questioná-lo. 
Para Renato Brasileiro: consiste na ciência bilateral dos atos ou termos 
do processo e a possibilidade de contrariá-los. Eis o motivo pelo qual se vale a 
doutrina da expressão “audiência bilateral”, consubstanciada pela expressão em 
latim audiatur et altera pars (seja ouvida também a parte adversa). 
Já o princípio da ampla defesa se divide em defesa técnica e autodefesa. 
A defesa técnica é aquela exercida por profissional da advocacia regularmente 
escrito na OAB. A autodefesa, que é exercida pelo próprio acusado, se subdivide 
em: 
AUTODEFESA 
A) Direito de 
audiência 
B) Direito de presença 
C) Capacidade 
postulatória 
autônoma do 
acusado 
Nada mais é do que o 
direito que o acusado tem 
de ser ouvido pelo Juiz. 
 
É o direito que o 
acusado possui de 
acompanhar os atos da 
instrução probatória. 
O ordenamento 
jurídico confere ao 
acusado capacidade 
postulatória autônoma 
para praticar certos 
atos processuais, 
ainda que ele não 
seja profissional da 
advocacia, como o 
habeas corpus por 
exemplo. 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
 
36 
 
 5 – Discricionário: significa apenas que o delegado de polícia é 
livre para presidir o inquérito da forma que melhor lhe convier, 
certamente, sempre dentro dos limites legais. 
 
Sobre essa característica, surge uma questão bastante incontroversa 
entre os doutrinadores, que seria uma exceção sobre a discricionariedade do 
delegado. Seria ele obrigado a atender às requisições do membro do MP? Sem 
muitas delongas, concordamos com parte da doutrina que diz que sim, ele é 
obrigado. 
Compartilhamos o entendimento do art. 129 VIII da CF: “São funções 
institucionais do Ministério Público: VIII - requisitar diligências investigatórias e a 
instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas 
manifestações processuais”. O verbo requisitar tem sinônimo de ordem e não 
simples pedido. Além disso, cabe ao ministério público o oferecimento da 
denúncia, assim, nada mais justo que requisitar ao delegado algumas diligências 
que facilitem essa prerrogativa. 
 6 – Indisponível: significa apenas que o delegado de polícia jamais 
poderá, por autoridade própria, arquivar autos de inquérito, 
conforme dispõe o art. 17 do CPP: “ A autoridade policial não 
poderá mandar arquivar autos de inquérito”. 
 7 – Temporário: o inquérito policial precisa respeitar a razoável 
duração do “processo”, mesmo não sendo um. Trata-se de um 
direito subjetivo do investigado. 
 8 – Oficialidade: segundo Capez, o inquérito policial é uma 
atividade investigatória feita por órgãos oficiais, ainda que a 
titularidade da ação penal seja atribuída ao ofendido, não podendo 
ficar a cargo do particular. 
 9 – Oficiosidade: assim que souber do cometimento de uma 
infração penal, independentemente de qualquer espécie de 
provocação, o delegado de polícia é obrigado a instaurar o 
competente inquérito, desde que a ação penal seja 
incondicionada. 
 
 
37 
 
 
Esgotadas as características do inquérito, passemos agora a conhecer 
as formas de instauração, as quais dependerão da espécie de ação penal a qual 
se sujeita o crime. Se estiver diante de crimes de ação penal pública 
condicionada à representação ou de ação penal de iniciativa privada, o inquérito 
não pode ser instaurado de ofício, dependerá de prévia manifestação da vítima 
ou de seu representante legal. 
Nesses casos, não há necessidade de formalismo, precisando apenas 
de alguma indicação por parte da vítima de que ela tenha interesse na 
persecução penal, por exemplo, boletim de ocorrência. Por outro lado, nos 
crimes de ação penal pública incondicionada, que é a regra em relação aos 
delitos, o inquérito poderá ser instaurado: 
 
 De ofício: quando o delegado toma conhecimento e por meio de 
uma portaria determina a instauração do inquérito; 
 Requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: 
essa requisição da autoridade judiciária não é compatível com o 
nosso sistema acusatório. Não é conveniente que o Juiz requisite 
a instauração de um inquérito, pois estaria comprometendo sua 
imparcialidade e o próprio sistema acusatório. Nesses casos, o 
ideal é encaminhar a notícia ao órgão ministerial, para que o 
Ministério Público requisite a instauração do inquérito; 
 Requerimento do ofendido (ou de seu representante legal): 
nesses casos poderá ocorrer o indeferimento pelo Delegado, pois 
ele não é obrigado a instaurar o inquérito. 
 
Caso o delegado de polícia não instaure o IP solicitado pela vítima ou 
por seu representante legal, o CPP prevê um recurso inominado para o chefe de 
polícia (Secretário de Segurança Pública ou Superintendente da Polícia Federal 
ou Delegado geral da polícia Civil). 
Faz-se importante a menção sobre a chamada “denúncia anônima”. A 
principal discussão reside na ideia de se ela é capaz de, isoladamente, iniciar 
um inquérito policial, entende que o delegado de polícia, frente a uma “denúncia 
anônima”, deve determinar diligências investigatórias com o objetivo de verificar 
 
 
38 
 
se procedem; se sim, determina-se a instauração de inquérito, se não, faz-se um 
relatório de diligências informando a situação. 
Além disso, a CF veda o anonimato justamente pelo fato de inviabilizar 
uma possível reparação de danos caso haja má-fé. Posicionamento 
compartilhado pelo nosso tribunal maior: STF: “[...] Firmou-se a orientação de 
que a autoridade policial, ao receber uma denúncia anônima, deve antes de 
realizar diligências preliminares para averiguar se os fatos narrados nessa 
“denuncia” são materialmente verdadeiros, para, só então, iniciar as 
investigações”. (STF, 1 Turma, HC 95.244-PE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 
23.03.2010, DJe 76 29.04.2010). 
Com relação aos prazos para encerramento do inquérito policial, 
passamos a leitura do artigo 10º do CPP: “O inquérito deverá terminar no prazo 
de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso 
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se 
executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, 
mediantefiança ou sem ela”. 
Com a leitura do diploma legal, percebe que, se o indiciado estiver preso, 
o delegado tem 10 dias para concluí-lo, já, se o indiciado estiver solto, terá 30 
dias. Esse é o prazo da justiça estadual, na legislação extravagante, e na justiça 
federal existem outros prazos diferenciados para a conclusão do procedimento. 
Relação excepcional dos prazos para encerramento do IP. 
Prazo Solto Preso 
Justiça Estadual 30 dias 10 dias 
Justiça Federal 30 dias 15 + 15 dias 
Lei de Drogas 90 + 90 dias 30 + 30 dias 
Justiça Militar 40 dias 20 dias 
Crimes contra a Economia 
Popular 
10 dias 10 dias 
Prisão Temporária em 
Crimes Hediondos 
Não se aplica 30 + 30 dias. 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
 
 
39 
 
O indiciamento é atribuição exclusiva do delegado de polícia. É uma 
exceção quando as requisições são feitas pelo MP, nesse caso, o delegado 
poderá se negar a indiciar alguém a pedido do promotor de justiça. 
Vocabula rio 
Indiciamento: atribuir, formalmente, a alguém o 
cometimento de uma infração penal. 
 
 
 
A última peça do inquérito policial é o relatório da autoridade. Trata-se de 
uma peça de caráter descritivo, em que o delegado de polícia descreve as 
principais diligências investigatórias realizadas e o porquê das não realizadas. 
Ele não deve expor sua opinião pessoal no relatório, salvo no caso de drogas 
para diferenciar a posse do porte conforme se depreende da leitura do inciso 1 
do art. 52 da lei de drogas: “Art. 52. I - Relatará sumariamente as circunstâncias 
do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, 
indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o 
local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias 
da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente”. 
 Terminado o relatório, o delegado de polícia enviará os autos para o juiz 
competente que, por sua vez, encaminhará para o membro do MP, o qual poderá 
adotar três posturas frente ao recebimento do inquérito: 
 
 Oferecimento da denúncia; 
 Promoção do arquivamento; 
 Requerimento de novas diligências. 
 
 Alguns autores ainda afirmam que o promotor de justiça ou procurador da 
república, no caso da justiça federal, poderá suscitar conflito de competência ou 
ainda declinação de competência, mas essa discussão não é interessante para 
o presente trabalho, mas, sim, para que o aluno tenha ciência de sua existência. 
 
 
40 
 
Saiba Mais 
Declinação de Competência: ocorre quando o membro de 
MP entende que o juízo perante o qual atua não é 
competente para o julgamento do feito. 
Conflito de Competência: neste caso, já houve uma 
manifestação judicial anterior de incompetência. Por exemplo 
o juízo federal julgando que não se trata de moeda falsa (sua 
competência) e sim de falsificação grosseira (competência da 
justiça estadual). 
 
 Temos ciência de que o tema inquérito policial não foi esgotado e que 
ainda existem vários pormenores a serem estudados, mas como dissemos na 
apresentação da disciplina, o objetivo do presente material é capacitar o aluno a 
conhecer um pouco mais sobre a investigação criminal e seus meios. Temos 
certeza de que esse objetivo foi alcançado. 
Pesquise 
Recomendamos para o tema “Inquérito Policial” a leitura de 
qualquer Código de Processo Penal Comentado desde que 
atualizado. Ou ainda obras direcionadas ao estudo das 
atribuições do cargo de Delegado de Polícia. 
Recomendamos “Delegado de Polícia em Ação” dos autores 
Bruno Taufner Zanotti e Cleopas Isaias Santos. 
 
2.3.2. Investigação criminal pelo Ministério Público 
 
 Atualmente, a discussão que existe sobre a possibilidade de o MP 
investigar é meramente doutrinária, uma vez que, em 14 de maio de 2015, foi 
editado o informativo 785 do STF, entendendo perfeitamente possível a 
investigação criminal por parte do órgão. O informativo tem como base o 
seguinte julgado do Ministro Gilmar Mendes: 
 
O Ministério Público dispõe de competência para promover, por 
autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza 
penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a 
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, 
observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva 
constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas de que se 
acham investidos, em nosso país, os advogados, sem prejuízo da 
 
 
41 
 
possibilidade, – sempre presente no Estado democrático de Direito – 
do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente 
documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados pelos 
membros dessa Instituição. [...] A legitimidade do poder 
investigatório do órgão seria extraída da Constituição, a partir de 
cláusula que outorgaria o monopólio da ação penal pública e o 
controle externo sobre a atividade policial. O “parquet”, porém, não 
poderia presidir o inquérito policial, por ser função precípua da 
autoridade policial. Ademais, a função investigatória do Ministério 
Público não se converteria em atividade ordinária, mas excepcional, a 
legitimar a sua atuação em casos de abuso de autoridade, prática de 
delito por policiais, crimes contra a Administração Pública, inércia dos 
organismos policiais, ou procrastinação indevida no desempenho de 
investigação penal, situações que, exemplificativamente, justificariam 
a intervenção subsidiária do órgão ministerial [...]. (RE 593.727) 
 
 Os autores contrários à investigação trazem, basicamente, quatro pontos 
como fundamentos para a inadmissibilidade da investigação: 
 
 A investigação pelo membro do MP atenta contra o sistema 
acusatório; 
 A Constituição Federal dotou o MP do poder de requisitar diligências 
e a instauração de inquéritos, mas não o de presidir inquéritos 
policiais; 
 A atividade investigatória é exclusiva da Polícia Judiciária; 
 Não há previsão legal de instrumento idôneo para as investigações 
pelo MP – procedimento investigatório criminal. 
 
 Tais argumentos são interessantes apenas em nível de discussão 
acadêmica, mas, de acordo com o julgado acima, o martelo já está batido quanto 
à admissibilidade da investigação pelo MP. A doutrina e a jurisprudência 
consagram como fundamento principal para o seu poder investigatório o 
Princípio da Teoria dos Poderes Implícitos. Teoria esta que também 
fundamentou o informativo exposto acima. 
 De acordo com Bruno Taufner Zanotti, sempre que a Constituição Federal 
confere uma atribuição a determinado órgão ou instituição, confere também, 
implicitamente, os poderes necessários para a execução dessa atribuição, desde 
que não haja limitação expressa. 
Com base nessa teoria, se o MP, consoante art. 129, inciso 1 da CF, pode 
promover a ação penal, possui, também, implicitamente, os meios necessários 
 
 
42 
 
para esse fim, qual seja, o poder de proceder as investigações necessárias para 
promover a ação penal. 
Alguns autores defendem que a CF, em seu art. 144, conferiu à Polícia 
Federal a “exclusividade” do exercício das funções de polícia judiciaria e, assim, 
a incompatibilidade da investigação do MPF. 
 
Por polícia investigativa compreendem-se as atribuições ligadas a 
colheita de elementos informativos quanto a autoria e materialidade 
das infrações penais. A expressão polícia judiciaria está relacionada ás 
atribuições de auxiliar o Poder Judiciário, cumprindo as ordens 
judiciarias relativas à execução de mandado de prisão, busca e 
apreensão, à condução coercitiva de testemunhas, etc. (BRASILEIRO, 
2017, p.59) 
 
Mas o certo é que não se confundem os conceitos de polícia judiciaria e 
polícia investigativa. 
Importante 
Pode-se afirmar que é dado ao Ministério Público o poder da 
investigação criminal, mas não o de conduzir inquéritos 
policiais. Os documentos produzidos pela investigação do órgão 
serão denominados peças informativas. 
Saiba Mais 
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