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Dos Crimes Contra a Honra
Honra objetiva e subjetiva 
A CR/88, em seu art. 5°, X, menciona, expressamente, serem invioláveis a honra e a imagem das pessoas. A honra portanto é um direito fundamental do ser humano, protegido constitucionalmente e penalmente. No capítulo V do título I CPB trata a norma repressiva dos crimes contra a honra, que visam proteger o conceito, as qualidades físicas, morais e intelectuais, que a pessoa goza perante a comunidade na qual está inserida, a chamada honra objetiva (boa imagem). Os crimes de calúnia e difamação atacam a honra objetiva. 
A honra subjetiva, por sua vez, é o sentimento que cada pessoa possui acerca das suas próprias qualidades físicas, morais e intelectuais. É o juízo que cada um faz de si mesmo (autoestima). Subdivide-se em honra-dignidade e honra-decoro. Honra-dignidade é o conjunto de qualidades morais do indivíduo, enquanto a honra-decoro é o conjunto de qualidades físicas e intelectuais. Neste capítulo estão tipificadas a calúnia (art. 138), a difamação (art. 139) e a injúria (art.140). 
Calúnia (art. 138, CP)
Conceito: É fazer uma acusação falsa, tirando a credibilidade de uma pessoa no meio social. Consiste em atribuir falsamente a alguém a prática de um fato definido como crime. Caluniar significa atribuir (assim o tipo penal fala em duas vezes em atribuir). A calúnia é uma difamação qualificada, ou seja, uma espécie de difamação. Atinge a honra objetiva.
Sujeito ativo e passivo: Qualquer pessoa. Por ser um crime comum, qualquer pessoa humana pode ser o sujeito ativo. No pólo passivo, diante da lei 9.605/98, que prevê a possibilidade da pessoa jurídica delinqüir, pode se considerar essa pessoa, em casos relativos a crimes contra o meio ambiente. Necessário que a ofensa se dirija contra pessoa certa e determinada.
Inimputáveis e pessoas mortas: Os primeiro podem ser sujeitos passivos do crime de calúnia porque a lei fala em atribuir a prática de “fato definido como crime”, e não apenas em “crime”. Segundo Nucci, há figuras típicas (fatos) passiveis de serem praticados por menores e loucos, como o homicídio por exemplo, embora não sejam crimes por lhes faltar o indispensável elemento, que é a culpabilidade. Quanto aos mortos, há expressa determinação legal, §2°, art. 138. Levam-se em conta a memória e o respeito aos mortos. 
Elemento normativo do tipo: É indispensável que a imputação de fato definido como crime seja falsa. Pode ser falsa a existência do crime ou se verdadeiro, pode ser falsa a autoria. Assim, caso seja verdadeira, ou o autor da atribuição esteja em razoável dúvida, não se pode considerar preenchido o referido tipo penal. 
 Elemento subjetivo do tipo: Pune-se o agente quando esse agir dolosamente, portanto não há forma culposa. Entretanto, exige-se majoritariamente (doutrina e jurisprudência), o elemento subjetivo do tipo específico, que é a especial intenção de ofender, magoar, macular a honra alheia. Este elemento intencional está implícito no tipo. É perfeitamente possível que uma pessoa fale a outra de um fato falso atribuído a terceira pessoa como crime, embora assim esteja agindo com animus jocandi, ou seja, fazendo uma brincadeira. O preenchimento do tipo aparentemente houve (dolo existiu) mas não a específica vontade de macular a honra alheia (dolo específico).
Contravenção penal: Trata-se de um tipo penal incriminador, de interpretação restritiva. Pode nesse casso, haver difamação. A calúnia é espécie de difamação. 
 
Consumação: Considera consumado quando a imputação falsa chega ao conhecimento de terceiro, que não a vítima (honra objetiva). Se a atribuição falsa dirigir-se direta e exclusivamente à vítima, configura-se a injúria, pois ofendeu-se somente a honra subjetiva. Tentativa é possível na forma escrita ou através de e-mail. 
Segundo núcleo do tipo (§1°, art. 138): Propalar ou divulgar. Propalar é relatar verbalmente, enquanto divulgar consiste em relatar por qualquer outro meio (exemplos: panfletos, outdoors, gestos etc.) 
Exceção da verdade: Trata-se de um incidente processual, portanto deve ser decido antes da causa principal. É uma forma de defesa indireta, através da qual o acusado do crime de calúnia pretende provar a veracidade do que alegou. Imagine a imputação de um crime de homicídio, é interesse do Estado em conhecer a autoria delitiva, crime este de ação pública incondicionada.
Vedação à exceção da verdade: a) referente à ação penal privada: não pode o acusado (querelado ou réu) ajuizar exceção da verdade tentando demonstrar a veracidade de suas informações, quanto à imputação à vítima constitua crime de ação penal privada e não houve condenação definitiva sobre o assunto. Ex: Mévio imputa a Beltrano a prática de crime de calúnia contra a sua prima. A prima de Mévio nada faz, operado a decadência. Não pode Mévio, sendo processado por Beltrano, pretender provar a verdade do alegado, pois estaria substituindo prima de Mévio, a única legitimada a processar Beltrano.
b) em razão da pessoa envolvida: Não se admite exceção da verdade quando a calúnia envolver o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro. Argumentam que quanto ao primeiro, seria demais admitir em um singelo processo para provar a pratica de um delito contra o chefe do poder executivo, até mesmo porque, para processá-lo por pratica de crime comum se faz necessário autorização da Câmara Federal e o processamento originário perante o STF. Quanto ao segundo seria inócuo, pois o mesmo possui imunidade diplomática. Ora, em um regime democrático, no qual a verdade não admite restrição à sua emergência a qualquer que seja a autoridade envolvida. 
c) por ter havido absolvição: Afrontaria a coisa julgada.
Difamação (art. 139, CP)
Conceito: Difamar significa desacreditar publicamente uma pessoa, maculando a sua reputação. Verifica-se que não se trata de qualquer fato inconveniente ou negativo, mas sim de fato ofensivo à sua reputação. Com isso excluiu os fatos definidos como crime, bem como qualquer vinculação à falsidade ou veracidade dos mesmos. Assim, difamar uma pessoa implica em divulgar fatos infamantes a sua honra objetiva, sejam eles verdadeiros ou falsos.
Sujeitos ativos e passivos: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa humana. No pólo passivo, pode-se considerar a possibilidade de ser sujeito passivo, além da pessoa humana, jurídica que goza de reputação no meio social. 
Elemento subjetivo do tipo: Pune-se o agente quando esse agir dolosamente, portanto não há forma culposa. Entretanto, exige-se majoritariamente (doutrina e jurisprudência), o elemento subjetivo do tipo específico, que é a especial intenção de ofender, magoar, macular a honra alheia. Este elemento intencional está implícito no tipo. É perfeitamente possível que uma pessoa fale a outra de um fato desairoso atribuído a terceiro, embora assim esteja agindo com animus narrandi, ou seja, vontade de contar algo que ouviu, buscando por exemplo confirmação. O preenchimento do tipo aparentemente houve (dolo existiu) mas não a específica vontade de macular a honra alheia (dolo específico). Ex: Narrativa de testemunha que se limita a expor os fatos de acordo com a sua ótica respondendo o que lhe foi indagado.
Consumação: Considera consumado quando a imputação falsa chega ao conhecimento de terceiro, que não a vítima (honra objetiva). Se a atribuição falsa dirigir-se direta e exclusivamente à vítima, configura-se a injúria, pois ofendeu-se somente a honra subjetiva. 
Exceção da verdade: Neste caso a regra é a impossibilidade de se utilizar à exceção da verdade, pois é indiferente que o fato infamante seja verdadeiro ou falso. Contudo, tratando de funcionário público, é interesse do Estado apurar a veracidade do que esta sendo alegado, muito embora o alegado não seja um crime. 
Injúria (art. 140, CP)
Conceito: Injuriar significa ofender ou insultar (vulgarmente, xingar). Contudo, só isso não basta, é preciso que a ofensa atinja a dignidade (respeitabilidade, amor-próprio)ou o decoro de alguém (atribuição de qualidade negativa). Portanto é um insulto que macula a honra subjetiva, arranhando o conceito que a vítima faz de si mesma.
Sujeitos ativos e passivos: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa humana. No pólo passivo, pode-se considerar a possibilidade de ser sujeito passivo apenas a pessoa humana, a pessoa jurídica, em que pese gozar de reputação no meio social, não tem amor próprio a ser atingido.
Inimputáveis e pessoas mortas: Apenas no caso concreto pose se aferir se o menor ou o louco tem noção do que seja dignidade ou decoro. Quanto aos mortos, não há determinação legal. 
Elemento subjetivo do tipo: Pune-se o agente quando esse agir dolosamente, portanto não há forma culposa. Entretanto, exige-se majoritariamente (doutrina e jurisprudência), o elemento subjetivo do tipo específico, que é a especial intenção de ofender, magoar, macular a honra alheia. Este elemento intencional está implícito no tipo. É perfeitamente possível que uma pessoa ofenda a outra, embora assim esteja agindo com animus criticandi ou até animus corrigendi, ou seja, existe a especial vontade de criticar uma conduta errônea para que o agente não torne a fazê-la contar algo que ouviu, buscando por exemplo confirmação. O preenchimento do tipo aparentemente pode haver (dolo existiu) mas não a específica vontade de macular a honra alheia (dolo específico). Ex: Também não é crime a injúria proferida no calor da discussão, por faltar o elemento subjetivo específico, que é a especial vontade de magoar e ofender. É comum em discussões acaloradas, que os participantes profiram injúrias a esmo, sem controle e com a intenção de desabafar. Arrependendo do que foi dito, tão logo acalmam-se. O que está a evidenciar a falta de intenção de ofender. 
Consumação: Considera-se o delito consumado quando a ofensa chega ao conhecimento da vítima. Não é necessário que terceiro dela tome conhecimento.
Exceção da verdade: É inadmissível, pois não se pode pretender provar um insulto ou uma afronta. Seria um absurdo alguém provar que alguém é imbecil.
Perdão judicial (§1°, art. 140): a) Provocação reprovável: hipótese semelhante à violenta emoção, seguida de injusta provocação da vítima. Não haveria razão moral para o Estado punir que injuriou a pessoa que o provocou. Extinção de punibilidade. b) retorsão imediata: é uma modalidade anômala de legítima defesa, pois esta tem por escopo fazer cessar a agressão injusta que, no caso da injúria, já aconteceu. A devolução do ultrage acaba, internamente, compensando quem a produz. Por isso o Estado acaba perdoando o agressor.
Primeira Forma Qualificada (§2°, art. 140) Injúria Real: Violência é ofensa a integridade corporal, já as vias de fato, embora represente uma forma de violência, não chega a lesionar a integridade física ou a saúde de uma pessoa. Se houver violência, é possível o concurso de lesões com a injúria real, se houver apenas vias de fato, a contravenção fica absorvida pela injúria real. Contudo, não basta apenas haver lesões corporais ou vias de fato, mesmo que o agente tenha a intenção de humilhar, é preciso que tal agressão seja considerada aviltante – humilhante, desprezível – através do meio utilizado ou pela própria natureza.
Segunda Forma Qualificada (§3°, art. 140) Injúria Preconceituosa ou Discriminatória: A lei 9459/97 estabeleceu a qualificadora quando o agente busca ofender a dignidade ou decoro da vítima utilizando de referencia à raça, cor, etnia, religião ou origem desta. Racismo: Lei 7.716-89, art. 5, inc. XLII, CR-88, (manifestações preconceituosas generalizadas ou segregação racial. 
Autor: Alexandre Victor de Carvalho. Desembargador do TJMG. Atualização: Prof. Gustavo Bernardes
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO - PARTE I
I - FURTO (Art. 155, CP)
1 - Sujeito Ativo: qualquer pessoa. O dono não pode, apesar de entendimento em sentido contrário de Noronha, que assim o defende quando o proprietário a subtraia do legítimo possuidor. Mas no atual Código há tipificação do delito no art. 346 do CP.
1.1 - Legítimo possuidor: Não é, pois detém a posse e pratica, se for o caso, apropriação indébita.
1.2 - Detentor: O detentor é sujeito ativo do crime de furto, pois tem posse vigiada sobre a coisa e realiza o delito quando transforma tal posse transitória e precária em propriedade ou posse tranqüila, ainda que momentânea.
2 - Tipo objetivo:
2.1 - Conceito de subtração: significa tirar a coisa da esfera de disponibilidade da vítima. Todavia, não há
necessidade de se retirar a coisa do local onde se encontra.
2.2 - Conceito de coisa: É toda substância corpórea, material, ainda que não tangível, suscetível de apreensão e transporte, incluindo os corpos gasosos, os instrumentos ou títulos (quando não se tratar de documento, cuja subtração configura o delito previsto no art. 305) e também as partes do solo.
2.3 - Coisas comuns ou de uso comum: O ar, a luz, a água dos rios ou mares somente poderão ser objeto do crime de furto se forem destacadas. Exs. Ar comprimido, água captada, energia elétrica fornecida. O desvio da corrente de água pode configurar o crime do art. 161, § 1º, inciso I, CP.
2.4 - Coisas que nunca tiveram dono: as chamadas res nullius não são coisas passíveis de subtração, a teor inclusive do disposto no artigo 1263 do Novo Código Civil, permitidor, nestes casos, da denominada ocupação, modo originário de aquisição de domínio.
2.5 - Coisas abandonadas: também a denominada res derelicta não pode ser objeto de furto, pois, com espeque no mesmo artigo 1263 do CC, trata-se de hipótese de ocupação permitida.
2.6 - Coisas perdidas: a res desperdita não pode ser objeto de furto, mas possibilita a prática do crime previsto no art. 169, § único, inciso II, CP.
2.7 - Coisas esquecidas: a coisa esquecida pode ser objeto de furto.
2.8 - Coisas de valor sentimental: São objeto do delito de furto, pois o patrimônio não compreende apenas as relações jurídicas economicamente apreciáveis - os direitos avaliáveis em dinheiro - mas também as que versam sobre coisas que têm mero valor de afeição, pois tais coisas fazem parte do patrimônio e, assim, a ofensa a elas constitui dano patrimonial. A expressão valor tem um duplo significado, pois tanto se refere ao valor de troca, como ao valor de uso, abrangendo este uma relação que pode até mesmo ter um puro caráter afetivo para o proprietário ou possuidor.
2.9 - Coisas úteis: são objeto do crime de furto em face do seu valor de uso. Ex. talonário de cheques não assinados quando não possuírem valor econômico.
2.10 - Subtração de ser humano vivo: não configura o crime de furto e sim seqüestro, rapto ou subtração de incapazes. Porém, é possível falar em furto de partes do corpo humano vivo (como cabelos, dentes), assim como de membros ou objetos postiços (pernas ortopédicas, dentaduras, perucas). Quanto ao cadáver, tendo valor econômico e havendo subtração para tal fim, há furto e não subtração de cadáver (art. 211, CP).
2.11 - Direitos obrigacionais: não podem ser objeto de furto, mas os títulos que os constituem, ainda que nominativos, podem.
2.12 - Energia (art. 155, § 3º, CP): O Código equipara à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico (solar, térmica, luminosa, sonora, mecânica, atômica, inclusive a genética). O crime é permanente e não continuado, pois a consumação prolonga-se, protrai-se no tempo.
3 - Tipo subjetivo:
3.1 - Elemento subjetivo do tipo (ou do injusto): está expresso na locução para si ou para outrem (animus rem sibi habendi). O motivo do crime não interessa para a caracterização do fato, podendo influir na medida da pena. Contudo o ânimo de lucro, não referido expressamente no art. 155, é essencial ao furto e está implícito na expressão para si ou para outrem. Isto porque, se a subtração é feita sem a intenção de obtenção de lucro, mas tão-somente visando a satisfação de uma pretensão, legítima ou não, o crime a identificar é o do art.345 do CP. Ex. a empregada que, seduzida pelo patrão, foge de casa levando alguns objetos valiosos deste, para poder atender aos gastos com o parto.
3.2 - Furto de uso
3.2.1 - Requisitos: vontade de usar a coisa e devolvê-la; o uso deve ser momentâneo e imediato; a coisa deve ser devolvida ao dono ou no local em que foi subtraída (abandono da coisa ou devolução forçada afastam o furto de uso); a coisa deve ser infungível; a devolução deve ser da coisa íntegra, devendo ser levado em conta o desgaste natural de seus componentes. A jurisprudência registra julgados de condenações por crimes de furto em hipóteses em que os agentes subtraíram para uso o veículo mas não devolveram o bem com a gasolina no nível em que estava quando da subtração.
4 - Consumação e tentativa:
4.1 - Teorias sobre a consumação do furto:
4.1.1 - Concretatio:basta tocar a coisa.Apprehensio rei: é suficiente segurá-la; Amotio: exige-se a remoção de lugar. Ablatio: a coisa deve ser colocada no local a que se destinava, em segurança.
4.2 - Solução da jurisprudência: Segundo o STJ, 5ª e 6ª turmas, o momento consumativo do furto ocorre quando o agente se torna possuidor da coisa, ainda que por breve espaço de tempo, sendo prescindível que o bem saia da esfera de vigilância da vítima. Há outro entendimento, especialmente doutrinário, mas agasalhado em alguns Tribunais estaduais, pelo qual o momento consumativo exigiria a posse tranqüila da coisa pelo agente e sua saída da esfera de vigilância do ofendido, e não apenas da esfera de disponibilidade. Casos especiais: o furto se consuma quando a coisa se perde, total ou parcialmente, para o dono ou possuidor. Se a coisa se perde, ainda quando do ato de subtração, o crime se consuma, porque houve a diminuição patrimonial da vítima, e o que interessa não é o proveito do agente, mas o prejuízo patrimonial do ofendido; se a coisa fica danificada, ainda que a vítima a recupere,há furto consumado, pois o lesado sofreu prejuízo em seu patrimônio com a subtração efetivada pelo agente. Ex. veículo furtado que colide e fica danificado; por fim, a relação de posse não exige uma constante vinculação física do dono com a coisa. Salvo a hipótese de coisa perdida, no conceito de coisa alheia também está abrangido o poder simbólico da vítima sobre a coisa, como os montes de lenha cortada e empilhada, as aves e animais domésticos de dono conhecido, soltos na via pública. Assim, havendo subtração de tais coisas alheias há furto consumado.
4.3 - Tentativa: sendo o delito material e, em regra, plurissubsistente, é admissível a tentativa. Entretanto, não se pode limitar as hipóteses de tentativa apenas quando o agente começar a realizar a ação típica (iniciar o ato de subtração), porquanto devem ser utilizadas como complemento à teoria objetivo-formal as teorias objetivo-material (há tentativa quando houver cometimento de atos necessariamente vinculados à conduta típica, que apareçam como partes integrantes dela, em uma verdadeira unidade natural – como por exemplo ingressar na residência onde se encontram os objetos a serem subtraídos e ser abordado antes de prosseguir) e objetivo-subjetiva (constitui tentativa toda atividade que apareça, no plano do agente, como integrante da ação executiva típica e que conduza diretamente à realização do tipo).
4.4 - Crime impossível: ocorre no furto quando não houver patrimônio a ser subtraído (hipótese de objeto absolutamente impróprio) ou no denominado delito de ensaio ou de experiência, em que a existência de vigilância ou segurança abolutamente idônea torna o crime impossível por absoluta ineficácia do meio (furto de bens em hipermercados em que a vítima é monitorada todo o tempo e pega quando não vai ao caixa para efetuar o pagamento do bem subtraído).(567 C.STJ)
5 - Furto noturno (art. 155, § 1º, CP): É o período, durante a noite, em que pessoas de uma coletividade descansam, repousam, segundo os costumes locais. É inaplicável ao furto qualificado. Furto noturno e lugar habitado: há entendimento no sentido de que o fundamento exclusivo da majorante é a menor possibilidade de defesa privada, portanto não seria necessária a presença de pessoas descansando no local do cometimento do crime. Mas há doutrinadores e juízes que consideram visar a majorante, especificamente, a proteção do descanso das pessoas e, desta forma, só haveria a majorante em local onde alguém descansasse.
6 - Furto privilegiado (art. 155, § 2º, CP):
6.1 - Agente primário: quem não é tecnicamente reincidente (art. 63,CP). Os maus antecedentes para uns impedem o benefício, porque este é faculdade judicial devendo preponderar as circunstâncias subjetivas para a sua concessão, enquanto para outros a questão é de tipicidade, exigindo o tipo penal derivado apenas duas elementares, cuja presença determina a aplicação da regra.
6.2 - Coisa de pequeno valor: a que não excede a um salário mínimo ao tempo do fato.
6.3 - Prejuízo sofrido pela vítima: apesar de alguns assim entenderem, o pequeno prejuízo sofrido pela vítima é irrelevante para a caracterização do privilégio.
6.4- Aplicação ao furto qualificado: Súmula 511 do STJ - É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.
7 - Furto qualificado (art. 155, § 4º, incisos I a IV, CP):
7.1 - Destruição ou rompimento de obstáculo: destruir é demolir, aniquilar. Romper é abrir brecha, arrombar. A conduta deve atingir o obstáculo à subtração e não a própria coisa (há julgados no sentido de que se o meliante rompe o quebra-vento visando subtrair o veículo não há a qualificadora, pois o quebra-vento não se constitui em obstáculo à subtração do carro mas sim em parte integrante deste; todavia, se o agente rompe o quebra-vento visando subtrair objetos que estejam dentro do veículo responderá por furto qualificado, porquanto o quebra-vento constitui-se em verdadeiro obstáculo à subtração dos bens que não integram o veículo). O desparafusamento ou remoção não configuram a qualificadora. A qualificadora existe se o rompimento ocorrer antes da consumação (o termo subtração refere-se à consumação). É indispensável a perícia.
7.2 - Abuso de confiança: há de haver confiança, não bastando a presença da relação de emprego ou de coabitação.
7.3 - Fraude: é o meio enganoso, o embuste, o ardil. A fraude como meio para o furto visa reduzir a vigilância da vítima sobre a coisa, facilitando a subtração do bem. Diferentemente, no estelionato a fraude visa enganar a inteligência da vítima, fazendo com que ela voluntariamente (por equívoco) entregue a coisa ao agente, que obtém vantagem em prejuízo do ofendido.
7.4 - Escalada: utilização de via anormal para penetração no local da subtração. Ou o agente se utiliza de instrumentos (escada,corda) ou realiza esforço incomum. Dispensa o exame pericial.
7.5 - Destreza: habilidade física ou manual do agente que permite a subtração sem que a vítima a perceba. Ex. punga. É preciso que a vítima esteja presente e possa normalmente perceber a subtração, o que não ocorre por habilidade especial do agente.
7.6 - Chave falsa: todo instrumento utilizado pelo agente para fazer funcionar o mecanismo de uma fechadura. Exs. grampos, arames, imitação da verdadeira. O STF já decidiu haver a qualificadora no furto cometido com chave verdadeira furtada de forma fraudulenta. Porém, a opinião majoritária é que não há a qualificadora, mas sim furto mediante fraude. A gazua ou chave mixa para a maioria é chave falsa, mas há quem entenda em sentido contrário, ao argumento de que chave falsa é chave mesmo, não se lhe equiparando o objeto cujo trabalho do agente conduziu ao contorno da chave, como no caso da mixa.
7.7 - Concurso de pessoas: circunstância que denota maior periculosidade dos agentes. Ocorre mesmo que um deles seja inimputável ou não identificado. A opinião de Hungria, acatada por um julgado do STF, nosentido de ser necessária a presença dos concorrentes no local, cooperando na fase executiva do delito não é aceita pela doutrina e jurisprudência majoritárias, que aceitam a qualificadora mesmo que um dos agentes não participe da execução (interpretação feita a contrario sensu do disposto no art. 146, § 1º, do CP). Há de haver, diferentemente do que ocorre com o concurso de pessoas como causa de extensão da figura típica, um liame subjetivo entre os agentes, não se exigindo pactum sceleris (acordo prévio de vontades). Segundo posicionamento do STF não ocorre a qualificadora quando houver comprovação do delito de quadrilha, pois haveria bis in idem, subsistindo o crime de furto simples (ou qualificado por outra circunstância) em combinação com o delito de quadrilha (art. 288, CP).
8 - Furto de veículo automotor (art. 155, § 5º, CP): É indispensável à entrada do veículo no outro Estado ou no Exterior para a qualificadora se configurar, em caso contrário ela não se caracteriza. O transporte pode ter sido efetuado por terceira pessoa, sendo que o verbo transportar abrange o verbo conduzir. Se o carro for transportado de um Estado para o Distrito Federal não há que se falar na qualificadora, pois quando a lei penal quer se referir ao DF ela o faz claramente (art. 7º, inciso I, letra "b", CP).
9 - Distinção entre crimes:
9.1 - Furto e favorecimento real (art. 349, CP): se o sujeito apenas auxilia o autor do furto a esconder o produto da subtração, trata-se de favorecimento real. Entretanto, mesmo que o agente esconda o produto da subtração, caso tenha auxiliado, cooperado na execução do crime, responderá por furto;
9.2 - Furto e exercício arbitrário das próprias razões (art. 345, CP): responde pelo crime de exercício arbitrário das próprias razões e não furto aquele que subtrai coisa alheia para se pagar ou se ressarcir de prejuízos.
9.3 - Furto e supressão de documento (art. 305, CP): a subtração de nota promissória e sua destruição caracteriza o crime de supressão de documento.
10 - Concurso aparente ou real de crimes:
10.1 - Furto e roubo (art. 157, CP): em regra não cabe a continuidade delitiva, segundo posicionamento do STF, pois não são crimes da mesma espécie, por não possuírem as mesmas elementares.
10.2 - Furto e estelionato (art. 171, CP): o furto simples é absorvido pelo estelionato no caso de fraude com cheques furtados. Mas em se tratando de furto qualificado, ou absorve o estelionato ou há concurso de crimes (concurso formal próprio por política criminal).
11 - Excludentes de tipicidade e ilicitude:
11.1 - Princípio da insignificância: aplica-se quando não houver lesão significativa ao patrimônio da vítima. Mas não se aplica na hipótese de coisa de valor sentimental, por absoluta impossibilidade de se dimensionar nesta hipótese a irrelevância da lesão ao bem jurídico.
11.2 - Consentimento do ofendido: é cabível, tratando-se de bem jurídico disponível.
12 - Classificação do delito: crime comum; material; de forma livre; comissivo, em regra ; instantâneo; de dano; unissubjetivo; plurissubsistente em regra.
II - ROUBO (Art. 157, CP):
1 - Sujeito passivo: proprietário, possuidor ou detentor da coisa e qualquer pessoa atingida pela violência ou ameaça.
2 - Roubo próprio (art. 157, caput, CP):
2.1 - Tipo objetivo:
2.1.1 - Violência própria: é a vis absoluta, o emprego de força material contra uma pessoa visando vencer-lhe a resistência.
2.1.2 - Grave ameaça: vis compulsiva. É a promessa da prática de um mal a alguém, dependente da vontade do agente, perturbando-lhe a liberdade psíquica e a tranqüilidade.
2.1.3 - Violência imprópria: Consiste em um meio capaz de vencer a resistência da vítima, distinto da violência propriamente dita. Exs. Narcóticos, bebidas alcoólicas, soníferos, hipnose.
2.1.4 - Arrebatamento causador de lesão: é a subtração por arrebatamento, em que a vítima sofre lesão corporal em decorrência da ação do agente de retirar-lhe a coisa (colar no pescoço da vítima). A violência é dirigida à coisa, não à vítima (aqui a lesão é conseqüência da subtração). Para o STJ, 5ª turma, é roubo. Para vários Tribunais estaduais e mesmo alguns ministros do STJ (6ª turma) é furto.
2.2 - Tipo subjetivo:
2.2.1 - Roubo de uso: não se admite, em face da presença da violência, própria ou imprópria, ou grave ameaça.
2.3 - Consumação e tentativa:
2.3.1 - Consumação: segundo entendimento dominante no STJ, seguindo anterior orientação do STF, o delito de roubo se consuma no momento em que o agente se torna possuidor da res subtraída mediante grave ameaça ou violência, sendo prescindível saia a coisa da esfera da vigilância do antigo possuidor, bastando que cesse a clandestinidade ou a violência. Posse precária, por pouco tempo, configura o roubo consumado. Casos especiais: o roubo se consuma quando a coisa se perde, total ou parcialmente, para o dono ou possuidor. Se a coisa se perde, ainda quando do ato de subtração, o crime se consuma, porque houve a diminuição patrimonial da vítima, e o que interessa não é o proveito do agente, mas o prejuízo patrimonial do ofendido; se a coisa fica danificada, ainda que a vítima a recupere, há roubo consumado, pois o lesado sofreu prejuízo em seu patrimônio com a subtração efetivada pelo agente. Ex. veículo roubado que colide e fica danificado.
2.3.2 - Tentativa: ocorre durante o emprego da violência ou grave ameaça ou, mesmo, se após tais fatos o agente não obtiver a posse da coisa.
3 - Roubo impróprio (art. 157, § 1º, CP):
3.1 - Tipo objetivo: a violência ou grave ameaça ocorre após a subtração, para o agente assegurar a posse da coisa subtraída ou a impunidade do crime. Por absoluta ausência de previsão típica, é impossível a configuração do delito mediante emprego de violência imprópria. Aquele que é detido por furto e imediatamente após ministra narcótico ao copo de bebida do policial que aguarda a chegada da viatura para levá-lo à prisão em virtude do flagrante somente responde por furto, não havendo roubo impróprio nem resistência, pois esta também só se configura por violência própria ou grave ameaça, não admitindo a violência imprópria. Deve haver imediatidade do emprego de violência ou grave ameaça após a subtração, não se caracterizando a figura típica se houver um intervalo de tempo razoável entre os atos da subtração e o emprego da violência.
3.2 - Tipo subjetivo:
3.2.1 - Elemento subjetivo do tipo (ou do injusto): fim especial de agir: para assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa.
3.3 - Consumação: ocorre com a violência ou grave ameaça, desde que já ocorrida a subtração.
3.4 - Tentativa: para a maioria não é possível, uma vez que este somente pode existir se a coisa já foi subtraída, se já foi colocada fora da esfera de disponibilidade da vítima. Neste caso a tentativa de violência caracterizaria a grave ameaça e consumaria o roubo impróprio. Quando há tentativa de furto e emprego de violência existem dois delitos em concurso material, o furto tentado e lesões corporais. Há autores que, neste caso, afirmam haver a tentativa de roubo impróprio, o que, data venia, colide com a redação do parágrafo primeiro, porque o termo subtração configura um furto consumado inicialmente e não tentado. Fragoso fala em tentativa de roubo impróprio quando o agente, completando a subtração, é preso quando tenta emprego da violência ou ameaça para assegurar a posse da coisa ou a impunidade.
4 - Roubo majorado (art. 157, § 2º, incs. I a V, CP):
4.1 - Emprego de arma: denota maior periculosidade do agente, como também uma ameaça maior à incolumidade física da vítima. Arma é todo instrumento que serve para o ataque ou defesa, hábil a vulnerar a integridade física de alguém. Arma de brinquedo era considerada pelo STJ como arma capaz de majorar o roubo, tendo havido, inclusive, a edição da Súmula 174. Todavia, tal Súmula foi cancelada, visando permitir o concurso formal de crimes entre o roubo, sem a majorante, e o delito previsto no artigo 10,§ 1º, inciso II, da Lei 9437/97. Arma descarregada ou desmuniciada qualifica, pois a inidoneidade para vulnerar é apenas acidental, segundo entendimento majoritário. Basta, para a qualificadora, o porte ostensivo da arma.
4.2 - Concurso de pessoas: não importa que um dos agentes seja inimputável ou não identificado ou que apenas um tenha praticado o ato executório do crime. Havendo o crime de quadrilha, fica afastada a qualificadora em virtude de bis in idem.
4.3 - Serviço de transporte de valores: é necessário que os valores não pertençam à pessoa que é deles desapossada e, também, que o agente saiba com antecedência que a pessoa está no transporte de valores.
4.4 - Roubo de veículo: é indispensável a entrada do veículo no outro Estado ou no Exterior para a qualificadora se configurar, em caso contrário ela não se caracteriza. O transporte pode ter sido efetuado por terceira pessoa, sendo que o verbo transportar abrange o verbo conduzir. Se o carro for transportado de um Estado para o Distrito Federal não há que se falar na qualificadora, pois quando a lei penal quer se referir ao DF ela o faz claramente (art. 7º, inciso I, letra "b", CP).
4.5 - Restrição da liberdade da vítima: pode ser de breve duração ou de maior duração. Caso a privação da liberdade permaneça de forma duradoura após a subtração consumada, configura-se o concurso material de crimes com o seqüestro.
5 - Roubo qualificado (art. 157, § 3º, CP):
5.1 - Roubo e lesão corporal grave: é indispensável que a lesão seja causada pela violência, não se caracterizando em caso de grave ameaça ou violência imprópria. Nesta hipótese haverá roubo simples e lesões corporais de natureza grave. Existe a agravação tanto no roubo próprio como no impróprio. Ocorrendo lesão grave, é irrelevante para a consumação do crime não ter o agente conseguido a subtração.
5.2 - Latrocínio: Havendo mais de uma morte, há um único crime de latrocínio. Inclusive havendo erro na execução, quando até um comparsa pode ser atingido. Aplicando-se a regra do art. 73 do CP, deve o agente responder como se tivesse praticado o crime contra quem queria atingir. Neste caso, se queria atingir a vítima ou outra pessoa, que não o comparsa, a existência do aberratio ictus não afasta o latrocínio.
5.2.1 - Dolo ou culpa na morte: o latrocínio se configura ainda quando a morte se dê por culpa, e não tão-somente por dolo, em face da redação do artigo 19 do CP, segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial.
5.2.2 - Consumação: subtração consumada e morte consumada (latrocínio consumado); subtração tentada e morte consumada (latrocínio consumado - Súmula 610 do STF);
5.2.3 - Tentativa: subtração tentada e morte tentada (latrocínio tentado); subtração consumada e morte tentada (tentativa de latrocínio); subtração tentada e morte culposa (tentativa de roubo seguida de morte) - art. 157, § 3º, posição de Heleno Fragoso.
6 - Distinção:
6.1 - Roubo e extorsão (art. 158, CP): a diferença não está no fato de no roubo haver subtração e na extorsão a vítima ser obrigada a entregar ao agente o produto do crime. Atualmente, há duas posições sobre a distinção entre estes delitos. A primeira afirma que a diferença está no fato de que no roubo a ação da vítima é desnecessária para que o agente obtenha a indevida vantagem patrimonial, enquanto na extorsão esta atuação da vítima seria imprescindível, sem ela o agente não teria como obter a indevida vantagem patrimonial. A segunda menciona estar a distinção no fato de que no roubo o mal prometido é próximo, a vítima não tem opção, não tem um período de tempo para escolher entre cumprir o que o agente determina ou não, e o recebimento da vantagem pelo ofensor seria imediata, enquanto na extorsão o mal prometido seria futuro, a vítima teria opção para cumprir ou não a determinação ilícita do ofensor e o recebimento da vantagem indevida pelo agente não seria imediata. Conforme o entendimento que se adote o denominado seqüestro-relâmpago pode ser tipificado como extorsão (primeira corrente) ou roubo (segunda corrente). A opinião majoritária nos tribunais é que se trata de roubo majorado pela privação da liberdade da vítima.
6.2 - Roubo e exercício arbitrário das próprias razões: se o apossamento da coisa alheia não objetiva subtração e sim a retenção do objeto até que seja saldada dívida, pratica o agente o crime de exercício arbitrário das próprias razões em concurso com eventual violência.
7 - Concurso de crimes:
7.1 - Roubo e seqüestro (art. 148, CP): privação da liberdade ocorrida após a subtração, haverá concurso material com seqüestro.
7.2 - Continuidade delitiva entre roubos: pela lei penal é admissível (artigo 71, § único, CP). Entretanto, por motivos de política criminal, os Tribunais vêm inadmitindo em regra.
7.3 - Roubo com pluralidade de vítimas: concurso formal de crimes, segundo posição do STF. Todavia há roubo único quando há violência ou grave ameaça perpetradas contra várias pessoas mas o patrimônio é único, por pertencer aos cônjuges ou a uma mesma família.
7.4 - Roubo em concurso de pessoas e quadrilha (art. 288,CP): há bis in idem. Mas não há entre roubo majorado com emprego de arma e quadrilha armada.
8 - Excludentes de tipicidade e ilicitude:
8.1 - Princípio da insignificância: não se admite, segundo entendimento majoritário, por se tratar de infração cometida com violência ou grave ameaça.
8.2 - Consentimento do ofendido: também não é admitido, porquanto o crime meio atinge bem jurídico indisponível.
9 - Classificação do delito: crime comum; material; de forma livre; comissivo, em regra; instantâneo; de dano; monossubjetivo; plurissubsistente.
III - EXTORSÃO (Art. 158, CP):
1 - Objeto jurídico: é crime contra o patrimônio, mas também atinge a inviolabilidade ou a liberdade individual.
- Funcionário público como sujeito ativo: agente da autoridade que constrange alguém, com emprego de violência ou grave ameaça, para obter proveito indevido, não incorre nas penas do delito de concussão: vai mais adiante, praticando uma extorsão.
3 - Tipo objetivo:
3.1 - Conceito de constrangimento: constranger é forçar, obrigar , coagir, através de meios idôneos.
3.2 - Violência ou grave ameaça: a ameaça pode constituir-se na promessa de revelar um segredo, um fato escandaloso, difamatório. A violência imprópria não é meio para configurar a extorsão.
3.3 - Vantagem econômica injusta: a exigência de vantagem devida, mesmo sob ameaça, não constitui extorsão e sim exercício arbitrário das próprias razões.
3.4 - Comportamento da vítima: prática de um ato (entregar ao agente certa quantia), omissão deste (não cobrar uma dívida) ou a sua permissão para algum ato ( destruição de um título de crédito de que é credor). Ato juridicamente nulo não caracteriza o delito, havendo crime impossível por absoluta impropriedade do objeto, em virtude de não poder acarretar nenhum benefício de ordem econômica.
4 - Tipo subjetivo: elemento subjetivo do tipo (vontade de obter uma vantagem econômica ilícita).
5 - Consumação: é um crime formal, consumando-se quando a vítima, sentindo-se constrangida, procura fazer, deixar de fazer ou tolerar que se faça alguma coisa. Segundo a doutrina majoritária, em especial Nilo Batista, o agente que ingressa no delito de extorsão após a consumação, mas antes do exaurimento (por ex. para poder pegar o dinheiro fruto da extorsão), na qualidade de co-autor sucessivo, responde pela extorsão. Para Mirabete o ato praticado por terceiro, após a consumação e antes do exaurimento, configura o crime de favorecimento real (art. 349).
6 - Tentativa: é admissível quando o crime for plurissubsistente. Exs. Quando a ameaça não chega ao conhecimento da vítima; quando esta não se intimida; quando o agente não consegue que se faça, tolera que se faça ou deixe de fazer alguma coisa.
7 - Extorsão majorada (art. 158, § 1º, CP):
7.1 - Concurso de agentes: nesta hipótese a descrição da majorante exige que duas pessoas ou mais pratiquemato executivo do delito, ao contrário do que ocorre no furto e no roubo.
7.2 - Emprego de arma: denota maior periculosidade do agente, como também uma ameaça maior à incolumidade física da vítima. Arma é todo instrumento que serve para o ataque ou defesa, hábil a vulnerar a integridade física de alguém. 
8 - Extorsão qualificada (art. 158, § 2º, CP):
8.1 - Extorsão e lesão corporal grave: é indispensável que a lesão seja causada pela violência, não se caracterizando em caso de grave ameaça. Nesta hipótese haverá extorsão simples e lesões corporais de natureza grave. Ocorrendo lesão grave, é irrelevante para a consumação do crime não ter o agente conseguido a subtração.
8.2 - Extorsão e morte: constrangimento consumado e morte consumada (crime qualificado consumado); constrangimento tentado e morte consumada (crime qualificado consumado); constrangimento tentado e morte tentada (crime qualificado tentado); constrangimento consumado e morte tentada (crime qualificado tentado); constrangimento tentado e morte culposa (tentativa de extorsão seguida de morte).
8.3 – Sequestro-relâmpago (Art. 158, § 3º, CP)
Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.
9 - Distinção:
9.1 - Extorsão e estelionato (art. 171, CP): reside no estado de ânimo da vítima. Na extorsão, a vítima entrega a coisa obrigada. No estelionato, a vítima, de boa vontade, entrega a coisa voluntariamente, por ter seu consentimento viciado.
10 - Concurso de crimes:
10.1 - Extorsão e roubo (art. 157,CP): alguns admitem a continuidade delitiva.
10.2 - Continuidade delitiva entre extorsões: o agente exige e obtém, por várias vezes, vantagem ilícita da mesma pessoa.
10.3 - Uma ação desdobrada em atos sucessivos: vantagem econômica indevida obtida de forma parcelada. HÁ CRIME ÚNICO.
11 - Classificação do delito: crime comum; formal; de forma livre; comissivo, em regra; instantâneo; de dano; monossubjetivo; podendo ser plurissubsistente, por isto admitindo tentativa.
EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO (Art. 159, CP):
1 - Sujeito ativo:
1.1 - Autoridade policial: se o objetivo da autoridade policial foi o de privar a vítima de sua liberdade para dela extorquir vantagem indevida, o delito é o do art. 159 e não os previstos no art. 316 ou na lei de abuso de autoridade (4898/65)
2 - Sujeito passivo:
- Subtração de cadáver e exigência de vantagem econômica: neste caso há o concurso material entre os crimes previstos nos artigos 211 e 158.
3 - Tipo objetivo:
3.1 - Conceito de seqüestro: MAGALHÃES NORONHA defende que não há o crime quando houver cárcere privado e não seqüestro. Mas a opinião mais acertada, pronunciada entre outros por Hungria, Damásio e Fragoso, é que o termo seqüestro tem acepção ampla, envolvendo também o cárcere privado. Diferença entre seqüestro e cárcere privado: no cárcere privado há clausura, encerramento em recinto fechado; no seqüestro há detenção ou retenção que impossibilita a vítima de se afastar do local em que o agente a colocou. No seqüestro há enclausuramento, no cárcere confinamento. Vítima retida em uma casa é cárcere privado; em uma ilha é seqüestro.
4 - Tipo subjetivo:
4.1 - Elemento subjetivo do tipo (ou do injusto): desejo de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem.
4.2 - Conceito de vantagem: para alguns, qualquer vantagem, não apenas de cunho econômico. Mas para a maioria, tratando de crime patrimonial, a vantagem há de ser de cunho econômico (dinheiro, títulos, cargo remunerado).
5 - Consumação: o crime é formal, consumando-se com a prática do seqüestro com o fim de obter vantagem econômica indevida, não havendo necessidade de que a vítima pratique o ato exigido e muito menos que o agente obtenha a vantagem econômica.
6 - Tentativa: Admite-se a tentativa, já que a conduta permite fracionamento, por se constituir em delito plurissubsistente.
7 - Extorsão mediante seqüestro qualificada (art. 159, §§ 1º, 2º e 3º, CP):
7.1 - Privação da liberdade por mais de 24 horas: Existe nesta hipótese um maior dano à liberdade e um maior sofrimento dos familiares, justificando a severidade da reprimenda.
7.2 - Seqüestrado menor de 18 anos: havendo menor resistência, existe um maior agravamento da pena. Nesta hipótese, não se aplica a regra de aumento da pena prevista no artigo 9º da Lei 8072/90, subsistindo a circunstância qualificadora.
7.3 - Bando ou quadrilha: não é suficiente o mero concurso de agentes, mas indispensável a caracterização do delito do art. 288 do CP. Devem ser os agentes punidos pelos dois delitos, o do art. 159 na forma básica.
7.4 - Seqüestrado lesionado gravemente: a lesão corporal de natureza grave deve atingir o seqüestrado, apenas.
7.5 - Morte do seqüestrado: a qualificadora existe somente se a morte for do seqüestrado. Haverá homicídio se outra pessoa for morta pelo agente durante a consumação do crime, ocorrendo concurso formal com o delito do art. 159. Nesta hipótese, diferentemente do que ocorre no roubo e na extorsão, a lesão grave ou a morte qualificam a extorsão mediante seqüestro ainda que provenham de grave ameaça ou de violência imprópria.
8 - Delação premiada (art. 159, § 4º, CP): não é caracterizada pela simples confissão da prática do delito, o que enseja uma circunstância atenuante (65, III, d e 66).
9 - Classificação do delito: crime comum; formal; de forma livre; comissivo; permanente; monossubjetivo; plurissubsistente, via de regra, admitindo tentativa; hediondo.
CRIME DE DANO (Art. 163, CP)
 A maioria dos crimes ou delitos possui uma característica em comum, ou seja, o fato de significarem dano à vítima. A expressão pressupõe uma perda ou diminuição de um bem jurídico, ainda que momentaneamente. Na lição de Heleno Fragoso, “dano é a alteração prejudicial de um bem; a destruição ou diminuição de um bem; o sacrifício ou restrição de um interesse jurídico” (Lições de direito penal: a nova parte geral, 1985, p. 173). São exemplos de crimes de dano: homicídio, lesões corporais, peculato, roubo, estupro etc.
 Em termos de específica tipicidade, no entanto, denomina o Código Penal como crime de dano, limitado à esfera patrimonial, o fato de destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
 A matéria está inserida no Código Penal, Parte Especial, Título II, Capítulo IV (Do dano). Eis o teor do art. 163:
Dano
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista; (Redação da Lei nº 5.346, de 3.11.1967)
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
Vejamos o que pode ser dito sobre a estrutura jurídica do crime em análise.
2. Objetividade jurídica
 Cuida-se da proteção ou tutela de bens alheios públicos ou particulares, móveis ou imóveis, no sentido de preservação de suas qualidades intrínsecas e integridade material, no todo ou em parte. Não se exige no tipo o escopo de obtenção de vantagem econômica. 
 3. Natureza jurídica
 Sem embargo de alguma divergência, o delito de dano constitui crime comum, pois não exige condição especial do sujeito ativo; unissubjetivo, por sua compatibilidade com a conduta de um só agente; de dano (sentido genérico), em termos de efetiva lesão aos direitos inerentesà propriedade da coisa; doloso, por força do art. 18, parágrafo único, do Código Penal; material, no sentido de exigir para a consumação a efetiva destruição, inutilização ou deterioração da coisa alheia; instantâneo, ao coincidir a consumação – sem se protrair no tempo – com a referida destruição, inutilização ou deterioração.
4. Sujeitos ativo e passivo
 Qualquer pessoa pode praticar o delito, com exceção do proprietário do bem. Em relação à coisa comum, no entanto, faz sentido incluí-lo como sujeito ativo. Por analogia benigna, ainda assim, é possível que escape o condômino do campo de incidência da norma (CP, art. 156, § 2º – coisa comum fungível cujo valor não excede a cota a que tem direito o agente).
 Sujeito passivo é o proprietário; por extensão, o possuidor do bem danificado.
 5. Tipo objetivo
 A coisa, móvel ou imóvel, pública ou particular, é tutelada em sua materialidade física. E a destruição, inutilização ou deterioração constitui o resultado de uma conduta livre, entrelaçada pelo vínculo de causalidade.
 Destruir é aniquilar, destroçar, estraçalhar. Em sua radicalidade, atinge o bem na sua própria essência, como na hipótese de quem mata um cão de guarda ou reduz a cinzas um quadro de Martinho de Haro.
 Inutilizar, como indica o vocábulo, é atingir a coisa em sua utilidade objetiva. Inutiliza um automóvel quem lhe retira o motor, mesmo sem destruí-lo; quem arranca, aleatoriamente, muitas páginas de uma obra literária; quem emudece, por lesão, a um pássaro canoro várias vezes premiado. (tornar emprestável)
 Deteriorar um bem é o mesmo que estragá-lo, levando-o a estado de ruína ou decomposição. Pratica o fato, por exemplo, quem expõe o bem à intempérie, enferrujando-o completamente; em se tratando de comestível, tornando-o impróprio para consumo.
 Esses resultados não se mostram estanques ou intercomunicáveis. Inutiliza e ao mesmo tempo deteriora aquele que arranha as lentes de um par de óculos ou derrama na areia precioso vinho (como se verá mais adiante). 
 O dano é compatível, além disso, com a forma omissiva – omissão imprópria – desde que presentes os pressupostos legais do CP, art. 13, § 2º. Assim, respondem pelo resultado de dano vinculado à omissão dolosa todos os que, por lei, contrato ou situação análoga, ou comportamento gerador do risco, deveriam garantir a integridade do bem.
 Nélson Hungria inclui no tipo, “por força de compreensão, o fazer desaparecer uma coisa, de modo a tornar inviável a sua recuperação (ex.: atirando-a a um abismo impraticável)” (Comentários ao código penal, v. 7, 1955, p. 102). A tese vem sendo corretamente contestada, pois traduz, em verdade, autêntica analogia in malam partem.
 Parecem-nos imprecisos ou incompletos, no entanto, os exemplos de Paulo José da Costa Júnior para esse gênero de fato atípico. Costa Júnior considera impuníveis as condutas de “abrir um barril de vinho, esparramando-se todo o conteúdo pelo pavimento da adega” ou “soltar pássaro raro da gaiola” (Comentários ao código penal, v. 2, 1988, p. 238). Ora, o crime do art. 163 comporta o dolo eventual. Sendo assim, além de desaparecer sob o solo, o vinho esparramado sofre dano em suas qualidades intrínsecas, o que significa dizer que ele fica objetivamente inutilizado e deteriorado.
 De modo semelhante, não é comum a sobrevivência de pássaro raro que é liberado de sua gaiola para ser entregue à própria sorte. É preciso examinar as circunstâncias. Se a morte do pássaro, mais que previsível, é assumida previamente pelo sujeito, não se pode descartar a figura do crime de dano praticado com dolo eventual.
 Bem diferente é a hipótese, agora impunível, de conduzir para bem longe, sem dolo de furto, esse barril de vinho, ou soltar o pássaro em local em que se lhe garantam condições mínimas de sobrevivência.
Na lição de Túlio Lima Vianna, “o crime de dano previsto no art. 163 do Código Penal Brasileiro é perfeitamente aplicável à tutela dos dados informáticos, sendo completamente prescindível a criação de um novo tipo penal para tal fim. Trata-se de interpretação extensiva da palavra 'coisa', elemento objetivo do tipo penal.” E acrescenta: “A proteção patrimonial dos dados não se limita a seu valor econômico, pois a intentio legis é proteger todo patrimônio da vítima, compreendido não só como tutela de valores econômicos, mas também do valor-utilidade e do valor afetivo que porventura tenha a coisa” (Do delito de dano e de sua aplicação ao Direito Penal informático. Jus Navigandi, n. 482, 2004).
 A propósito, a tese da atipicidade do dano em coisas de valor meramente afetivo, porque sem preço de mercado, reflete uma visão dogmática dissociada de calor humano. Ao distinguir onde a lei não distingue, retira injustamente de proteção bens materiais que, por sua singularidade, mereceriam tutela redobrada. 
6. Tipo subjetivo
 Unanimidade na doutrina: o dano só existe na forma dolosa (CP, art. 163 c/c art. 18, parágrafo único). Fora do Código Penal, todavia, a lei admite a culpa em sentido estrito. Por exemplo: no Código Penal Militar, em certos bens de maior importância ou relevo (art. 266); e em vários tipos da Lei sobre Meio Ambiente (parágrafos únicos dos arts. 38, 39 e 49, entre outros). Esse último dispositivo traduz, aliás, um visível exagero, pois incrimina o dano culposo de “plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia”. 
 No Código Penal, como vimos, o crime de dano somente é compatível com o dolo, direto ou eventual. Mas o tema comporta uma nova indagação: basta a consciência e vontade de danificar coisa alheia? Em outras palavras: há necessidade do clássico “dolo específico”, ou seja, intenção ou fim de causar prejuízo?
 Nélson Hungria optou pela segunda alternativa: “É necessário o concomitante propósito de prejudicar o proprietário” (ob. cit., p. 104). Apesar de seu merecido prestígio, logrou o inolvidável mestre, nesse ponto, pouca receptividade na doutrina (v. bibliografia, no final).
 A jurisprudência, no entanto, até hoje se encontra dividida. Vejamos algumas hipóteses em que se considera suficiente o dolo genérico: 
STF. Segunda Turma. “I. - Comete o crime de dano qualificado o preso que, para fugir, danifica a cela do estabelecimento prisional em que está recolhido. Cod. Penal, art. 163, parag. único, III. II. - O crime de dano exige, para a sua configuração, apenas o dolo genérico. III. - H.C. indeferido” (HC 73189 / MS -. HC 73189/MS Relator: Min. Carlos Velloso. Julgamento: 23/02/1996).
TJSC. Segunda Câmara Criminal. “Crime contra o patrimônio - Destruição parcial de automóvel público (art. 163, parágrafo único, inciso III, do CP) - Agente que, obstado em sua fuga por policiais militares, chuta a lataria e provoca o deslocamento do vidro da porta lateral esquerda da viatura oficial - Configuração que independe de dolo específico” (Apelação Criminal n. 2003.024265-1, de Criciúma. Relator: Des. Irineu João da Silva. Data da decisão: 02/03/2004).
TJSC. Primeira Câmara Criminal. “Comete crime de dano ao patrimônio público o agente que danifica a cela e as demais instalações do ergástulo na tentativa de escapar da prisão” (Apelação Criminal n. 2007.052794-7, de São Miguel do Oeste. Relator: Des. Solon d'Eça Neves. Data da decisão: 06/12/2007).
TJSP. 14ª Câmara de Direito Criminal B. “Crime de dano qualificado. Responde pelo crime previsto no artigo 163, parágrafo único, III, do CP, o preso que danifica a parede da cela com brocas metálicas, objetivando fuga” (Apelação Criminal 10017313600, de Capão Bonito. Relator: Des. Alexandre Coelho. Data do julgamento: 14/02/2008).
TJPR. 3ª Câmara Criminal. “Ato praticado por presos que danificam a cela para fugir. Exigência apenas do dolo genérico. Ato criminoso configurado. Apelo provido. "I. - Comete o crime de dano qualificado o preso que, para fugir, danifica a cela do estabelecimento prisionalem que está recolhido. Cod. Penal, art. 163, parag. único, III. II. - O crime de dano exige, para a sua configuração, apenas o dolo genérico. III. - H.C. indeferido." (STF - HC nº 73.189 - 2ª T. - Rel. Min. Carlos Velloso - DJU de 29.03.96. p. 9.346)” (Apelação crime n. 0439556-0, Foro Regional de Colombo da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba. Relator: Juiz Convocado Rui Bacellar Filho. Data do julgamento: 24.04.2008).
 Recentemente, porém, firmou-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido da exigência de dolo específico (animus nocendi):
STJ. Quinta Turma. “O crime de dano exige, para sua configuração, animus nocendi, ou seja, a vontade deliberada de causar prejuízo patrimonial a outrem, requisito que não se vislumbra na espécie, em que os réus, embora tenham danificado o patrimônio público, o fizeram visando, tão-somente, à fuga do estabelecimento prisional” (HC 97.678/ MS. Relatora: Min. Laurita Vaz. Data do julgamento: 17/06/2008).
STJ. Quinta Turma. “O dano praticado contra estabelecimento prisional, em tentativa de fuga, não configura fato típico, posto que, para tal, exige-se o dolo específico de destruir, inutilizar ou deteriorar o bem, o que não ocorre quando o objetivo único da conduta é fugir” (HC 90840/MS. Relatora: Min. Jane Silva. Data do julgamento: 08/11/2007).
STJ. Sexta Turma. “Para a configuração do crime de dano, imprescindível o animus nocendi, ou seja, o dolo específico de causar prejuízo ao dono da coisa” (HC 48.284/MS Relator: Min. Hélio Quaglia Barbosa. Data do julgamento: 21/02/2006).
 Não temos dúvida de, nessa questão polêmica, endossar o ponto de vista de Magalhães Noronha: “Dizer que o agente que cientemente destrói uma coisa não quer prejudicar o dono não nos parece sustentável, pela simples razão de que esse prejuízo é consequência intrínseca, natural e obrigatória da destruição” (Direito penal, v. 2, 1986, p. 309).
 A tese contrária faz lembrar, por analogia, a atipicidade da conduta de quem, por motivos religiosos, pretende beneficiar o maníaco sexual através de sua castração; ou submete a cárcere privado, preso a uma corrente, o filho viciado em drogas ou afeito à prática de furtos; ou destrói o automóvel do reincidente em delitos de trânsito que não se convence do perigo de continuar a dirigir em estado de embriaguez; ou mata, contra a vontade da vítima, o doente incurável que padece de fortes dores.
7. Consumação
 O evento jurídico-normativo, no dano, é o prejuízo inerente ao resultado material da conduta. É esse resultado material que, vinculado à conduta, serve de parâmetro ou referência para o momento consumativo: destruição; inutilização; deterioração.
8. Tentativa
 Delito material, a implicar, como se viu, nexo causal objetivo entre conduta e resultado, enquadra-se o dano entre aqueles que admitem a tentativa. Assim, a partir do elemento subjetivo, não há dificuldade em se reconhecer essa figura na hipótese de um arremesso de instrumento contundente que, idôneo para danificar o lustre de cristal, por um triz não o alcança; ou na tocha de fogo que atinge o piso de pedra de um compartimento de casa isolada e desabitada, sem propagar-se ao tapete, cortinas e sofá.
 Segundo Túlio Lima Vianna, há pouco citado, a dolosa divulgação de vírus informáticos pode ser punida como “tentativa de dano, caso o resultado não se concretize, ou como dano consumado, caso o resultado naturalístico venha a ocorrer efetivamente” (ob.cit.).
10. Concurso de normas
 O crime de dano é lembrado por sua implícita faceta subsidiária; por seu caráter genérico diante de outros tipos; por sua função de rito de passagem (delito-meio) para delitos mais graves; por sua condição, até mesmo, de eventual fato posterior impunível. Cede espaço, pois, a outros tipos que o subentendem em suas formas simples ou qualificadas ou que se apresentam com detalhes indicativos de exclusividade.
 Lição de Nélson Hungria: o crime de dano “é sempre absorvido, nunca absorvente” (ob. cit., p. 100).
 São infindáveis as hipóteses ou exemplos de figuras delituosas que, uma vez identificadas, preponderam ou prevalecem com exclusividade sobre o crime do art. 163. Além da legislação especial (Código Penal Militar, art. 259; Lei do Meio Ambiente, arts. 62 e 65, por exemplo) merecem referência, no sistema do próprio Código Penal, entre outros: furto qualificado pelo rompimento ou destruição de obstáculo (art. 155, § 4, I); destruição de tapumes (art. 161); violação de sepultura (art. 210); incêndio (art. 250); explosão (art. 251); destruição de documento (art. 305); inutilização de livro ou documento (art. 314).
 11. Pena e ação penal
 Detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Somente se procede mediante queixa (art. 167). 
12. Dano qualificado: violência à pessoa ou grave ameaça.
 Trata-se da mesma violência ou grave ameaça mencionadas no crime de roubo. No caso, a grave ameaça é incorporada ao dano qualificado. Este absorve o delito do art. 147 (ameaça), tal como ocorre com as vias de fato (LCP, art. 21), incluídas no conceito de violência. A lesão corporal, contudo, além da incorporação, mantém sua autonomia, a indicar que as penas se somam, como se houvesse concurso material de crimes. Portanto, pouco importa se o dano e a lesão corporal se prendem a uma só conduta ou decorrem de condutas distintas.
 Por outro lado, a violência posterior não interfere na forma qualificada. Permanece o concurso material com o dano simples.
 Colhe-se de Código penal e sua interpretação – doutrina e jurisprudência, 8ª ed., 2007, sob a coordenação de Alberto Silva Franco e Rui Stoco:
“Somente restará configurada a qualificadora prevista no art. 163, parágrafo único, I, do CP, se for empregado violência ou grave ameaça à pessoa para a consecução do delito de dano. Vale dizer, a violência ou grave ameaça deve ser um meio para a prática do delito de dano, hipótese em que este será qualificado pelo modo no qual foi levado a efeito” (STJ – CE – AP 290 – Rel. Felix Fischer – DJU 26.09.2005).
“Para que se caracterize o crime de dano qualificado pela violência, é necessário que o agente a exerça contra a vítima para afastá-la e, assim, possa, desembaraçado, atingir o seu verdadeiro objetivo, ou seja, o de danificar a coisa a ela pertencente” (TACRIM-SP – AC – Rel. Edmeu Carmesini – JUTACRIM 78/414).
“Dano qualificado, com violência à pessoa, art. 163 parágrafo único, I. Não se reconhece a qualificadora quando evidente que a violência praticada não teve a finalidade de possibilitar a prática do crime, e nem foi exercida pelo agente como meio para assegurar a execução do delito” (TARS – AC – Rel. Érico Barone Pires – RT 675/412).
13. Dano qualificado: substância inflamável ou explosiva
 Substância inflamável é aquela que facilmente se deixa contaminar pelo fogo, oferecendo-lhe rápida expansão (álcool, petróleo e gasolina, por exemplo). Entende-se por substância explosiva aquela que é capaz de provocar detonação, estrondo, por força de decomposição química associada à violenta expansão de gases (por exemplo, pólvora negra, dinamite, TNT).
 Sua maior eficácia e periculosidade justificam a forma qualificada, que cede espaço, por sua vez, a outras figuras delituosas ainda mais graves, como incêndio e explosão (CP, arts. 250 e 251).
 Também aqui transparece, e agora de modo explícito (“se o fato não constituir crime mais grave”), a subsidiariedade do crime de dano.
 Assim: 
Estando comprovada a existência de perigo para a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, configurado está o crime de incêndio. Inexiste delito de dano qualificado se do emprego de substância inflamável ou explosiva resultar crime mais grave (artigo 163, parágrafo único, II, do CP) (TJSC. Primeira Câmara Criminal. Apelação Criminal n. 2003.026634-8, de São Bento do Sul. Relator: Des. Amaral e Silva. Datada decisão: 19/10/2004).
14. Dano qualificado: patrimônio público
 Trata-se de circunstância relacionada com a qualidade da coisa, em função do sujeito passivo. Nas palavras de Júlio Fabbrini Mirabete, “há violação de interesse público e protegem-se bens de natureza relevante” (Manual de direito penal, v. 2, 2004, p. 277). 
 A forma qualificada não impede o reconhecimento da atipicidade do fato insignificante:
Crime de dano ao patrimônio público. Ínfimo valor do bem danificado. Aplicação do princípio da insignificância. Precedentes desta Corte. (TJSC. Segunda Câmara Criminal. Apelação Criminal n. 2007.037818-6, de Rio Negrinho. Relator: Des. Torres Marques. Data da decisão: 29/11/2007).
 Não foi o caso, porém, das condutas a seguir descritas, relacionadas com o dano a telefone público nos Estados do Rio Grande o Sul e Santa Catarina:
Agente que destrói parcialmente telefone de orelhão. Ré a confessar o fato, dizendo que estava embriagada no momento da ação delitiva. Situação que não a beneficia. Declaração de policial a confirmar o dano realizado. Atipicidade do delito ditado pelo princípio da insignificância afastada, porque o bem destruído possui valor de relevância social, e ela registra antecedentes com trânsito em julgado (TJRS. Sétima Câmara Criminal. Apelação-crime n. 70023454564, de Bagé. Relator: Des. Alfredo Foerster. Data da decisão: 15 de maio de 2008). 
Apelação criminal. Dano qualificado. Destruição de telefone público. Pretendida absolvição. Impossibilidade. Autoria e materialidade comprovadas. "Comete o crime de dano qualificado, o acusado que se dirige a telefone público e, mediante o emprego de força física, arranca o respectivo fone ou punho, arrebentando os fios que o ligavam ao corpo do aparelho" (RT 699/323).Princípio da insignificância. Almejada aplicação ao caso concreto. Inviabilidade. (TJSC. Segunda Câmara Criminal. Apelação Criminal n. 2003.011732-6, de Lauro Müller. Relator: Des. Sérgio Paladino. Data da decisão: 19/08/2003).
 Não foi o caso, também, dos danos a posto policial e a metrô, no Estado de São Paulo:
Configura o crime do art. 163, parágrafo único, III, do CP a conduta do agente que chuta e quebra o vidro da folha da porta de composição do metrô, patrimônio de concessionária de serviço público. Para a caracterização do delito é desnecessário o fim específico de prejudicar e causar o dano, a noção do prejuízo encontra-se ínsita no próprio ato de chutar, socar, destruir, inutilizar ou deteriorar bem de outrem (TJSP. Apelação nº 1.389.505/9 – São Paulo – 9ª Câmara – Relator: Des. Francisco Vicente Rossi –12.5.2004).
Incorre nas penas do art. 163, parágrafo único, III, do CP, o agente que, nervoso e revoltado por não encontrar milicianos no posto policial, pega uma pedra e a atira contra o vidro da repartição, danificando-o. A ausência de funcionários explica a conduta do réu, mas não a justifica, de sorte que o local dos fatos é um patrimônio público e da comunidade (TJSP. Apelação nº 1.305.651/7 – Guarujá – 5ª Câmara – Relator: Des. Pereira da Silva –2.8.2004).
15. Dano qualificado: motivo egoístico ou considerável prejuízo
 Danifica-se um objeto, em regra, por motivo de vingança, despeito, indiferença afetiva ou prazer mórbido de lesar, nem sempre conectados a momentâneo acesso de cólera. Por detrás de tudo, ou quase tudo, vislumbra-se o denominador comum do egoísmo. Sendo assim, alertam os doutrinadores para uma indispensável interpretação restritiva do texto legal, em consonância com o espírito da lei.
 Mas a grande e dolorosa verdade é que permanecem vagos os próprios termos explicativos da doutrina. Na prática, motivo egoístico é aquele como tal considerado pelo juiz.
 A circunstância qualificadora reside no íntimo do sujeito ativo, que nela se enquadra quando pretende alcançar alguma vantagem no prejuízo provocado. É o que se passa com o dano aos bens de algum rival no plano artístico, amoroso ou profissional. Exemplo de Heleno Cláudio Fragoso: “destruição do trabalho de um concorrente, para evitar a competição ou dar mais valor ao próprio” (Lições de direito penal – parte especial, v. 1, 1962, p. 312). De modo semelhante, aquele que estraçalha o vestido de sua ex-noiva, na véspera do casamento com terceiro, revela um despeito identificável com o motivo egoístico preconizado em lei.
 Em síntese, é mais fácil falar em motivo egoístico quando o agente busca proveito pessoal. Não basta, então, o simples extravasamento da própria ira: 
TJSP. Terceira Câmara. “Dano qualificado. Agente que apenas extravasa a sua ira. Reconhecimento da qualificação pelo motivo egoístico. Impossibilidade: no crime de dano é impossível falar-se em qualificação pelo motivo egoístico, que tem por objetivo futuro proveito econômico ou moral, quando na sua conduta o agente apenas extravasa a sua ira, sendo necessário, para tanto, que vise a algum proveito pessoal” (Apelação. Ementa 119431. V.U. Relator: Des. Carlos Bueno. Data do julgamento: 23/10/2001).
 O “considerável prejuízo” tem conteúdo predominantemente objetivo. Melhor dizendo, necessita de uma certa contabilidade que leve em conta o grau de riqueza econômico-financeira da vítima. A destruição da motocicleta nova de um multimilionário não lhe causa prejuízo relevante, em contraste com o notório gravame ao patrimônio de um simples e modesto assalariado.
16. Desclassificação do crime (incêndio) e conjugação de qualificadoras (dano)
 Merece especial registro o acórdão da 2ª Câmara do 1º Grupo da Seção Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (Apelação Criminal n. 00495004.3/6-0000-000, da Comarca de Santa Cruz do Rio Pardo). Por força da ausência de “perigo concreto à integridade ou ao patrimônio de um número indeterminado de pessoas”, deu-se provimento parcial ao recurso, desclassificando-se o delito de incêndio (CP, art. 150 caput ) para o dano qualificado do CP, 163, § 1º, II e IV. Decretou-se ainda a extinção da punibilidade, pelo advento da prescrição da ação (CP, art.107, IV).
 Por que o dano triplamente qualificado? A prática do fato – colocação de fogo em edifício isolado, em que ninguém pernoitava – eliminou a figura do incêndio, mas revelou: a) danos de monta (considerável prejuízo); b) emprego de álcool (substância inflamável); c) o motivo egoístico vinculado à frustração em face da ausência de bens para furtar.
 Busquemos a fonte jurisprudencial:
O laudo pericial de fls. 89/92 esclareceu que ela provocou danos de monta no local dos fatos. Quebrou vidros, cadeiras e poltronas, e para causar ainda maior destruição, espalhou álcool e ateou fogo, dando causa a um incêndio proposital. A conclusão da prova técnica foi confirmada pelos relatos dos policiais João Alex e Alessandro, dos quais não há nenhuma razão para duvidar. Ao atenderem a ocorrência, eles ouviram da própria acusada a confissão de ter danificado e posto fogo no local, pelo simples fato de nada ter encontrado para furtar (TJSP. 2ª Câmara do 1º Grupo da Seção Criminal. Apelação Criminal n. 00495004.3/6-0000-000, de Santa Cruz do Rio Pardo. Relator: Des. Roberto Mortari. Data da decisão: 25 de junho de 2007).
17. Pena do dano qualificado.
 Eis a pena do dano qualificado: detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
 Vê-se uma radical alteração dos limites da pena privativa de liberdade. A multa, que era alternativa na hipótese de dano simples, tem agora caráter cumulativo. Tudo isso sem prejuízo da pena correspondente à violência, de que já tratamos acima.
 É visível, no entanto, o descompasso normativo quando se atenta, por exemplo, para os limites de pena do furto qualificado e outros crimes em que o agente, longe de danificar a coisa, pretende preservá-la em proveito próprio ou alheio. O legislador, de alguma forma, tolera o vândalo, que destrói o bem. Não gosta de quem o cobiça.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA (Art.168, CP):
1 - Sujeito passivo: é o proprietário, em regra.
1.1 - Possuidor: todo aquele que sofre a perda da coisa, como o possuidor, também é vítima do delito, como nos casos de credor pignoratício ou usufrutuário.
2 - Tipo objetivo:
2.1 - Conceito de coisa: toda substância corpórea, material, ainda que não tangível, suscetível de apreensão, inclusive os imóveis que podem ser mobilizados (frutos, árvores) e os semoventes.
1.3 - Coisa fungível: não pode, normalmente, ser objeto de apropriação.
1.4 - Coisa fora do comércio: pode ser objeto material do crime.
1.5 - Coisa imaterial: direitos e ações, coisas imateriais, não podem ser objeto de apropriação indébita, mas desde que venham a ser representados por coisas tangíveis, há objeto adequado ao delito.
1.6 - Coisa de valor sentimental: caracteriza o delito, por ter valor patrimonial de uso.
1.7 - Posse anterior: Posse é o exercício de fato dos poderes constitutivos do domínio ou propriedade, ou de algum deles somente (artigo 1196 do CC). A posse para gerar o delito de apropriação indébita deve revestir-se dos seguintes requisitos: tradição livre e consciente, origem legítima e disponibilidade de coisa pelo sujeito ativo, conforme Magalhães Noronha.
1.8 - Detenção anterior: Detenção é a posse natural, ou seja, a simples apreensão física da coisa sem a intenção de exercer sobre ela algum dos poderes inerentes à propriedade. É o elemento objetivo da posse, o corpus. Para caracterizar a apropriação indébita exige que não seja vigiada, pois a detenção vigiada configura furto (exemplo do empregado que utiliza ferramentas do empregador), e deve revestir-se dos requisitos já citados antes: tradição livre e consciente, origem legítima e disponibilidade da coisa pelo sujeito ativo.
1.9 - Continente e conteúdo: A posse do continente não implica na posse do conteúdo, podendo advir da hipótese crime de furto se o agente subtrai o conteúdo (exemplo do empregado que rompe o cofre para subtrair o dinheiro).
1.10 - Conceito de apropriação: disposição de fazer sua a coisa.
1.11 - Restituição da coisa: não descaracteriza o ilícito.
2 - Tipo subjetivo:
2.1 - Dolo subseqüente: havendo dolo ab initio há estelionato.
2.2 - Elemento subjetivo do tipo (ou do injusto): vontade de ter, como proprietário, a coisa para si ou para outrem.
3 - Consumação: opera-se quando o agente transforma a posse ou detenção em propriedade, ou seja, quando se inverte a posse em domínio. Na prática, a disposição é revelada por uma conduta externa do agente, incompatível com a vontade de restituir ou de dar o destino certo à coisa.
4 - Tentativa: admite-se a possibilidade, por se tratar de crime material, embora se reconheça a dificuldade de sua ocorrência. Ex. mensageiro infiel que é surpreendido ao usar os valores que carregava para efetuar compras, querendo deles apropriar-se. Para alguns, tal crime é consumado, já que existentes a posse e o animus rem sibi habendi.
5 - Apropriação indébita majorada (art. 168, § 1º, CP):
5.1 - Depósito necessário: as hipóteses de depósito necessário encontram-se previstas no artigo 647 do Código Civil. Depósito legal é o previsto no inciso I, decorrente de uma imposição da lei. Depósito miserável é o imposto por uma necessidade imprevista e inafastável, contido no inciso II. Às duas hipóteses é equiparado o depósito previsto no artigo 649, referente ás bagagens dos viajantes ou hóspedes nas hospedarias onde estiverem. Para Hungria, a majorante alcança apenas o depósito miserável. Na hipótese de depósito legal, Hungria considera que o sujeito recebe a coisa em razão de função pública e há peculato e no caso da equiparação prevista no art. 649 haveria a majorante do inc. III do § 1º do art. 168. Magalhães Noronha considera que a majorante abrange as três hipóteses, enquanto Mirabete concorda com Hungria em relação ao depósito legal, mas diz que em relação ao depósito equiparado a majorante o alcança.
5.2 - Qualidade da pessoa: justifica-se a majoração em razão da violação dos deveres inerentes aos cargos ocupados pelos agentes. O depositário judicial não é funcionário público, mas particular a quem o juiz incumbe do depósito. A enumeração legal é taxativa, razão porque não abrange outros cargos, múnus ou funções, como por exemplo a de concordatário.
5.3 - Ofício, emprego ou função: Ofício é a atividade com fim lucrativo, consistente na arte mecânica ou manual, como ocorre com costureiros, sapateiros. Emprego é a prestação de serviço com subordinação e dependência, requisitos que podem não existir no ofício. Função é um encargo derivado de lei, convenção ou decisão judicial (tutores, curadores, síndicos). A majorante se justifica pela existência de violação de dever inerente à qualidade dessas pessoas, revelando sempre abuso de confiança.
6 - Apropriação indébita privilegiada (art. 170, CP): coisa de pequeno valor e criminoso primário. Cabem nesta hipótese os mesmos comentários do furto privilegiado.
7 - Distinção:
7.1 - Apropriação indébita e estelionato (art. 171, CP): havendo dolo ab initio há estelionato, sendo o dolo subseqüente à posse há apropriação indébita.
7.2 - Apropriação indébita e furto (art. 155, CP): obtenção da coisa por tradição livre e consciente gera o primeiro crime, no segundo há efetiva subtração.
7.3 - Apropriação indébita e peculato-próprio (art. 312, caput,CP): o peculato-próprio exige a condição de funcionário público do agente e o fato de receber a coisa em razão do cargo. Ausentes tais elementares, trata-se de crime comum do art. 168.
9 - Excludentes de tipicidade e ilicitude:
9.1 - Princípio da insignificância: é cabível, desde que irrelevante a lesão patrimonial.
9.2 - Consentimento do ofendido: é admissível, pois trata-se de bem jurídico disponível.
10 - Classificação do delito: crime próprio (sujeito que recebeu a coisa em confiança), material, de forma livre, comissivo ou omissivo (apropriar-se pode implicar em ação ou omissão), instantâneo, de dano, monossubjetivo, unissubsistente ou plurissubsistente, admitindo neste caso tentativa.
VI - ESTELIONATO (Art. 171, CP)
1 - Distinção entre fraude penal e fraude civil: a questão é extremamente polêmica, mas tem-se dito que há fraude penal quando o fim do agente é o lucro ilícito e não o lucro do negócio, enquanto existe fraude meramente civil quando o lucro é basicamente o do negócio, admitindo-se que haja certa malícia entre as partes, mas não o engodo fraudulento, configurador do dolo de estelionato.
2 - Sujeito ativo: qualquer pessoa. O comerciante, desde que tenha sido decretada a falência, responde por crime falimentar. Se não houver previsão legal na Lei de Falências, responderá por estelionato.
3 - Sujeito passivo: é a pessoa que sofre a lesão patrimonial. Se o enganado por menor, louco etc, responderá o agente por crime de furto ou abuso de incapazes (art.173). Se o sujeito passivo forem vítimas indeterminadas (adulteração de bombas de gasolina, por ex.) o crime é contra a economia popular e não de estelionato.
4 - Tipo objetivo:
4.1 - Artifício: aparato que modifica, ao menos aparentemente, o aspecto material da coisa. Ex. disfarce.
4.2 - Ardil: é a astúcia, o engano intelectual. Ex. mentira.
4.3 - Qualquer outro meio fraudulento: idôneo a enganar a vítima, tais como o artifício e o ardil. Há crime impossível em relação ao meio que não é apto a enganar, analisada a questão no caso concreto. Ex. utilização de falsificação grosseira, perceptível a qualquer pessoa, em que não existe a preocupação da imitatio veri.
4.4 - Induzir a erro: o agente toma a iniciativa de causar o erro, levando o ofendido à falsa representação da realidade.
4.5 - Manter em erro: o erro preexiste e o agente prolonga-o, aproveitando-se dele.
4.6 - Vantagem ilícita: qualquer vantagem obtida em prol do sujeito ativo ou de terceiro: propriedade, crédito, execução de um ato.Para a maioria da doutrina, a vantagem tem de ser econômica. Não sendo, o crime

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