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Proteção Penal ao Patrimônio

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09/02/21
Furto
Art. 155, CP.
Considerações iniciais
O bem jurídico tutelado, no crime de furto, é o patrimônio.
Nos termos do art. 5º, caput, da CF, garante-se a inviolabilidade do direto à propriedade.
Nesse contexto, o crime de furto objetiva forçar essa garantia de inviolabilidade.
Sujeito ativo e sujeito passivo
Sujeito ativo – qualquer pessoa, menos o proprietário.
· O possuidor também não pode ser sujeito ativo, Caso contrário, haverá apropriação.
Sujeito passivo – são o proprietário, o possuidor e, eventualmente, até mesmo o detentor da coisa alheia móvel, desde que tenha algum interesse legítimo sobre a coisa subtraída.
Obs: ladrão que rouba ladrão, em direito penal, não tem 100 anos de perdão. O agente responderá por furto. Nesse caso, a vítima do delito é o proprietário originário.
O furto pressupõe que o bem seja de alguém. Contudo, o fato de não ser descoberto ou identificado o dono original não anulará o crime.
 
Tipo objetivo
A conduta típica é subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
Subtrair
Subtrair é retirar, surrupiar, tirar às escondidas.
Não se trata de simples retirada da coisa do lugar onde se encontrava.
É necessário sujeitá-la ao poder de disposição do agente.
O objetivo do agente é dispor da coisa, com animus definitivo, para si ou para outrem.
Coisa alheia
Alheia é o elemento normativo do furto. Pressupõe-se que o juiz verifique se o bem não pertencia a quem o subtraiu.
Para que uma coisa seja considerada alheia, é necessário que ela tenha dono. Dessa forma, não são objeto de furto coisa que nunca teve dono, coisa abandonada e coisa de uso comum.
Coisa móvel
O objeto do furto é coisa móvel.
Coisa é tudo aquilo que existe, podendo tratar-se de objetos inanimados ou de semoventes. Pode ser corpo sólido, líquido ou gasoso.
Coisa móvel, por sua vez, em direito penal, é aquela que se desloca de um lugar para outro.
Para si ou para outrem
Quando o tipo penal do furto exige que o agente subtraia o bem para si ou para outrem, está exigindo o ânimo de assenhoramento definitivo.
É a intenção de manter a coisa e seu poder ou de repassá-la a terceiro de forma não transitória. É o que se chama de animus rem sibi habendi, o dolo genérico de praticar come de furto, por sua vez, é denominado animus furandi.
Poe força dessa exigência, não é crime o furto de uso, que ocorre quando o agente se apossa clandestinamente de coisa alheia para usá-la momentaneamente e, logo em seguida, devolve à vítima.
O que é subtrair?
Subtrair é retirar, surrupiar, tirar às escondidas.
É extremamente importante compreender que a subtração pode se dar de duas formas, a saber:
1. Forma mais comum – o agente, sem estar autorizado, retira e se apodera de coisa alheia e leva embora, causando prejuízo econômico à vítima. Ex: alguém vê uma bicicleta na rua, pega o objeto e leva embora (furto);
2. Forma menos comum – a própria vítima entrega o objeto ao agente, dando-lhe a posse vigiada, ou seja, a vítima não autoriza que o agente deixe o local com o objeto. Ex: pessoa vai até uma loja de celulares, o vendedor o entrega um aparelho (sem autorização para sair), e a pessoa sai da loja com o objeto. 
Obs: deve-se tomar cuidado para não confundir essa forma menos comum de furto com um outro crime, a apropriação indébita. O que diferencia essas duas condutas é a existência ou não de posse vigiada. Se a posse for vigiada, haverá furto. Se a posse for desvigiada, o crime é apropriação indébita.
Obs: para que a posse seja considerada vigiada, basta que o agente tenha recebido o bem, mas não tenha autorização para sair com o objeto do local. Para ser vigiada a posse, não é preciso que a vítima esteja efetivamente olhando para o agente (vigiando o agente). Basta que não tenha autorizado o agente a se retirar o local.
O que é coisa móvel?
Coisa é tudo aquilo que existe, podendo tratar-se de objetos inanimados ou de semoventes. Pode ser corpo sólido, líquido ou gasoso.
Coisa móvel, por sua vez, em Direito Penal, é aquela que se desloca de um lugar para o outro.
Qualquer objeto inanimado + semoventes (animais).
É muito importante compreender que as ficções do Direito Civil não tem aplicação em Direito Penal. Por exemplo, o art. 81 do CC prevê que são imóveis os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem; para o Direito Penal, contudo, esses bens são móveis, caso sejam subtraídos, haverá crime de furto. 
Como dizia Nelson Hungria, “a noção desta (coisa móvel), em direito penal, é escrupulosamente realística, não admitindo as equiparações fictícias do direto civil”.
Obs: em relação ao talonário de cheques, prevalecia que não configurava furto, pela ausência econômico, indispensável para a configuração dos crimes patrimoniais. Atualmente, contudo, o STJ passou a entender que o talonário de cheques possui sim valo econômico (STJ, CC 112.108/SP).
Furto de energia elétrica
O art. 155, §3º, do CP, expressamente equipara a energia elétrica e outras formas de energia que tenham valor econômico à coisa móvel. Podendo, portanto, serem objeto de furto. Após muita discussão, o STJ voltou a entender que o pagamento de débito oriundo de furto de energia elétrica antes do recebimento da denúncia não é causa de extinção da punibilidade. 
No caso de furto de energia elétrica mediante fraude, o adimplemento do débito antes do recebimento da denúncia não extingue a punibilidade. 
O furto de energia elétrica não pode receber o mesmo tratamento dado ao inadimplemento tributário, de modo que o pagamento do débito antes do recebimento da denúncia não configura causa extintiva de punibilidade, mas causa de redução de pena relativa ao arrependimento posterior (art. 16, CP). Isso porque nos crimes contra a ordem tributária, o legislador, ao consagrar a possibilidade da extinção da punibilidade pelo pagamento do débito, adota política que visa a garantir a higidez do patrimônio público, somente. A sanção penal é invocada pela norma tributária como forma de fortalecer a ideia de cumprimento da obrigação fiscal.
Já nos crimes patrimoniais, como o furto de energia elétrica, existe previsão legal específica de causa de diminuição da pena para os casos de pagamento da “dívida” antes do recebimento da denúncia. Em tais hipóteses, o CP, no art. 16, prevê o instituto do arrependimento posterior, que em nada afeta a pretensão punitiva, apenas constitui causa de diminuição de pena.
Outrossim, a jurisprudência se consolidou no sentido de que a natureza jurídica da remuneração pela prestação de serviço público, no caso de fornecimento de energia elétrica, prestado por concessionaria, é de tarifa ou preço público, não possuindo caráter tributário. Não há como se atribuir o efeito pretendido aos diversos institutos legais, considerando que o disposto no art. 34 da Lei nº 9249/95 e no art. 9º da Lei nº 10684/03 fazem referência expressa e, por isso, taxativa, aos tributos e contribuições sociais, não dizendo respeito às tarifas ou preços públicos.
 Distinção do STJ:
	“GATO”
	· O agente desvia a energia elétrica de sua fonte natural por meio de ligação clandestina, sem passar pelo medidor.
· Trata-se de FURTO;
· No furto, a fraude tem por objetivo diminuir a vigilância da vítima e possibilitar a subtração da coisa (inversão da posse);
· O bem é retirado sem que a vítima perceba que está sendo despojada de sua posse. A concessionária não sabe que está fornecendo energia elétrica para aquele indivíduo. Ele está desviando (subtraindo) a energia da rede.
	ALTERAÇÃO DO SISTEMA DE MEDIÇÃO
	· O agente altera o sistema de medição, mediante fraude, para que aponde resultado menor do que o real consumo;
· Trata-se de ESTELIONATO;
· A fraude tem por finalidade fazer com que a vítima incida em erro e, voluntariamente, entregue o objeto ao agente criminoso, baseada em uma falsa percepção da realidade;
· A concessionária sabe que está fornecendo energia elétrica para aquele consumidor, mas a fraude faz com que ela não perceba que ele está pagamento menos do que deveria.
22/02/21
continuação...
O que é coisa alheia?
Para que ocrime de furto seja praticado é necessário que seja contra coisa pertencente física, ou juridicamente, a outra pessoa.
Coisas que não poderão ser objeto de furto:
A. Coisa própria;
B. Coisa que não pertence a ninguém (res nullius). Quem se apoderar de coisa que não tem dono, que nunca pertenceu a ninguém, não praticará crime de furto, o fato será penalmente atípico;
C. Coisa abandonada (res derelicta);
Obs: coisa abandonada é diferente de coisa perdida, podendo a coisa perdida ser objeto de crime de furto.
D. Coisas de uso comum, como calor do sol, ar que respiramos, água do mar e rios.
De acordo com a jurisprudência majoritária, configura-se crime de furto quando a pessoa subtrai coisa de loja com monitoramento (Súmula 567, STJ). Ou seja, sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto. 
Subtrair para si ou para outrem
Elemento subjetivo, intenção do sujeito ativo do furto.
Assenhoramento definitivo – quando a pessoa pega algo de alguém é necessário que o faça com a intenção de pegar para ela ou de repassar para terceiro (finalidade de assenhoramento definitivo – animus rem sibi habendi) Exige-se o dolo específico, ou seja, ter o objeto para si ou para outrem.
Obs: distingue-se o crime de furto da conduta do furto de uso (não é crime), sendo esse um fato penalmente irrelevante, atípico, pois falta o elemento subjetivo do tipo, o dolo específico, a finalidade de assenhoramento atípico. 
Obs: a doutrina define requisitos para ser configurado crime de furto de uso, sendo: objetivo (devolver a coisa no mesmo estado de conservação que a pegou) e subjetivo (é necessário que haja a intenção de devolver a coisa desde o momento que o agente a pegou).
Consumação e tentativa
A doutrina se divide em relação ao momento de consumação do furto, formando-se, assim, duas posições bem visualizáveis, da seguinte forma:
1. O furto se consuma no momento em que a res é retirada da esfera de posse e disponibilidade da vítima, ingressando, consequentemente, na do agente, ainda que não tenha ele a posse tranquila sobre a coisa;
2. A consumação somente ocorre quando a res é retirada da esfera de posse e disponibilidade da vítima, ingressando, consequentemente, na do agente, que, obrigatoriamente, deverá exercer, mesmo que por curto espaço de tempo, a posse tranquila sobre a coisa.
Considera-se consumado o crime de furto de acordo com a segunda teoria, tendo o agente, portanto, que ter a posse tranquila do bem por determinado tempo, mesmo que curto.
A perseguição e a retomada do bem configura crime consumado.
O crime de furto tentado seria, por exemplo, quando em uma loja a pessoa que furtou é descoberta na porta de saída.
Furto noturno (repouso noturno)
É considerado causa de aumento de pena quando o furto é praticado durante o repouso noturno da vítima. O §1º do art. 155 do CP determina que a pena seja aumentada de 1/3.
Dessa forma, o CP visa única e exclusivamente assegurar a propriedade móvel contra maior precariedade de vigilância e defesa durante o recolhimento das pessoas para o repouso durante a noite.
Não há um consenso por sobre o significado de repouso noturno pela doutrina, porém, para maior seguridade jurídica, é considerado como sendo o período entre o pôr-do-sol e o nascer-do-sol. 
Obs: ainda que a pessoa trabalhe no período noturno e descanse durante o dia, não será considerado crime de furto noturno durante seu período de repouso.
Recentemente, a doutrina considerou que mesmo que não haja ninguém dormindo no local do furto ou que este seja praticado em comércio, ainda será considerado furto noturno pois há menor incidência de pessoas na rua, menor vigilância.
Obs: Súmula 567, STJ – “sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto”.
Pouco importa se o crime seja qualificado ou simples de acordo com o novo entendimento da doutrina.
23/02/21
continuação...
Furto privilegiado
Art. 155, §2º.
No furto privilegiado o legislador verifica que, na situação, há menor reprovabilidade, concedendo uma diminuição de pena ao acusado.
Pode haver diminuição de pena de 1 a 2/3.
O furto privilegiado ocorre quando o criminoso é primário e a coisa furtada é de pequeno valor. São requisitos cumulativos, ou seja, os dois devem estar presentes na situação para que possa ser reconhecido o privilégio. Sendo esses:
1. Réu primário;
2. Coisa de pequeno valor.
O reincidente não tem direito a furto privilegiado, ainda que seja contra coisa de pequeno valor. Não haverá diminuição de pena ou regime mais benéfico.
Transcorrido o período de 5 anos após última sentença condenatória, não será mais considerado reincidente. O período começa a ser contado do dia que a pena é considerada cumprida pelo juiz da condenação. 
Obs: de acordo com a jurisprudência pacificada nos tribunais superiores, coisa de pequeno valor é aquela que não ultrapassa o valor de um salário-mínimo na data do fato (e não na data que o fato será julgado).
Importante destacar que coisa de pequeno valor é diferente de valor insignificante. Valor insignificante é aquele que, no caso concreto, não tem o poder de impactar/lesar no valor do patrimônio (roubar clipes por exemplo). princípio da bagatela/insignificância
Este princípio afastará a tipicidade do fato, não podendo configurar crime.
Obs: nada impede que essa redução de pena de 1 a 2/3 possa ser aplicado no furto qualificado se presentes os dois requisitos de ordem objetiva (réu primário e coisa de pequeno valor) – Súmula 511, STJ.
Obs: os institutos do furto privilegiado e furto noturno podem existir simultaneamente, bastando ser praticado durante o furto noturno e a coisa ser de pequeno valor. Juiz poderá aplicar o aumento de pena do furto noturno e logo após diminuir devido ao furto privilegiado (pode compensar uma causa de aumento com uma de diminuição – aumenta 1/3 e diminui 1/3 – ou poderá apenas diminuir – aumenta 1/3 e diminui 2/3 (Súmula 511, STJ).
Furto qualificado
Art. 155, §§4º, 4º-A, 5º, 6º e 7º.
Furto qualificado é aquele em que ocorre a destruição ou rompimento de obstáculo; abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; emprego de chave falsa ou mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa
Segundo a doutrina, considera-se obstáculo tudo aquilo que tenha a finalidade precípua de proteger a coisa e que também não seja a ela naturalmente inerente.
A pena será de reclusão de 1 a 4 anos e multa.
Um exemplo seria arrombar a porta de uma casa para subtrair coisa lá dentro, ou destruir cofre.
Obs: de acordo com o entendimento atual de alguns penalistas e doutrinas, mesmo que a pessoa rompa o vidro do próprio carro para roubar este, será considerado furto qualificado. Não é necessário que seja com objetivo de furtar algo dentro do carro, e sim o próprio carro (a própria coisa está sendo furtada). Antes, não era considerado furto pois a destruição não é para roubar coisa dentro do carro, e sim o carro.
Há a necessidade de que seja feito um exame pericial para comprovar esse rompimento, ou destruição. Todo crime que deixa vestígio, sendo patrimonial ou não, necessita de exame pericial (art. 168, CPP). Porém, excepcionalmente, quando não for mais possível o exame pericial, a prova testemunhal pode ser considerada (art. 167, CPP).
Abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza
Abuso de confiança – é preciso que tenha havido uma relação de confiança entre o agente e a vítima. Caso contrário, se isso não ocorreu, o furto deverá ser reconhecido como simples ou deve-se aplicar, se for o caso, outra qualificadora. Abusa o agente da confiança que nele fora depositada quando se aproveita dessa relação de fidelidade existente anteriormente para praticar a subtração.
Mediante fraude – utilização de meios ardilosos, insidiosos, fazendo comque a vítima incorra ou seja mantida em erro, a fim de que o próprio agente pratique a subtração. A fraude, portanto, é utilizada pelo agente a fim de facilitar a subtração por ele levada a efeito. Ex: colocar vinho caro na caixa de vinho barato (agente induziu supermercado em erro).
Escalada – ocorre quando a pessoa se vale de um meio anormal para conseguir subtrair a coisa. Subir, literalmente, em algo para facilitar o furto. Ex: subir no muro e pular na casa. É necessário que o agente pratique um esforço incomum para ter acesso à coisa. Será aplicada somente nas hipóteses em que o corpo do agente ingresse, por inteiro, no prédio, ou se poderá ser levada a efeito sua aplicação na hipótese de ingresso parcial.
Obs: de acordo com a maioria da doutrina e jurisprudência, essa escalada não significa apenas “subir”, e sim a utilização de meios anormais como, por exemplo, a escavação de um túnel, ou ingresso por meio de rede de esgoto.
Destreza – habilidade especial que o agente possui para furtar a coisa, fazendo com que a vítima não perceba a subtração. Ex: agente rouba a carteira da bolsa da vítima sem esta sentir qualquer movimento estranho.
01/03/21
continuação...
Chave falsa
Qualquer instrumento que pode ser utilizado para abrir uma fechadura (não é necessário ter o formato de chave). Ex: grampos, cartões magnéticos.
Pena passa de 1 a 4 anos para 2 a 8 anos.
Qualquer chave, desde que não seja a verdadeira, utilizada para abrir fechaduras, deve ser considerada falsa, inclusive a cópia da chave verdadeira.
Concurso de duas ou mais pessoas
Não é necessário que todas as pessoas envolvidas subtraiam a coisa, basta a participação.
Tanto faz a coautoria (todos realizam o núcleo do tipo), ou por induzimento, instigação ou auxílio material.
Para que se configure basta, tão somente, que um dos agentes seja imputável, não importando se os demais participantes possuam ou não esse status. Assim, se três pessoas resolverem praticar uma subtração, sendo que duas delas são menores de 18 anos, ainda assim estaremos diante da possibilidade de aplicação da qualificadora.
Obs: existem alguns tipos de delito, denominados de concurso necessário, que pressupõem a participação de mais de uma pessoa para sua consumação, como quadrilhas, não sendo confundida com essa qualificadora de concurso no furto.
Outras qualificadoras 
Foram criadas a partir das necessidades sociais existentes ao passar do tempo.
Furto mediante emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum
Art. 155, §4º-A. Incluído pela Lei nº 13654/2018.
O que gerou a criação dessa qualificadora foram os roubos à caixas eletrônicos.
Explosivo, de acordo com o Esquadrão Antibombas, é o produto que, por meio de uma excitação adequada se transforma rápida e violentamente de estado gerando gases, altas pressões e elevadas temperaturas.
Subtração de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior
Art. 155, §5º. Incluído pela Lei nº 9426/96.
O objeto material da nova qualificadora é o veículo automotor (automóveis, caminhões, lanchas, motocicletas etc.) desde que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Dessa forma, se o agente subtraí veículo automotor sem a finalidade de ultrapassar a barreira de seu Estado, o furto será simples, e não qualificado.
Assim, é a conjugação do objeto material, com o efetivo transporte do veículo automotor, para outro Estado ou mesmo para o exterior, que qualifica a subtração.
Subtração de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes do local da subtração
Art. 155, §6º. Incluído pela Lei nº 13330/2016.
Por semovente domesticável de produção entende-se o animal não selvagem destinado à produção pecuária de alimentos, como os gados bovinos, suínos, ovinos etc., ou seja, que dizem respeito à criação para o abate de mercado.
Não importa se o animal tenha sido retirado, ainda vivo, do local da subtração, ou mesmo se tenha sido ali abatido ou divido em partes, como é comum acontecer.
Obs: normalmente essa modalidade de subtração não é praticada por somente um único agente, havendo, outrossim, o chamado concurso de pessoas.
Obs: o furto de gado é conhecido por abigeato.
Subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego
Art. 155, §7º. Incluído pela Lei nº 13654/2018.
A conduta do agente é levada no sentido de levar a efeito a própria subtração do explosivo, evitando-se, assim, seu emprego futuro na prática de outras infrações penais.
Obs: não pode ser considerada como tentativa pois não teve início a fase de execução, apenas ocorre o transporte ou armazenamento do explosivo.
Não existe a possibilidade de aplicar cumulatividade duas qualificadoras, devendo o juiz analisar o caso concreto e aplicar a qualificadora que possui a maior pena.
Furto de coisa comum
Art. 156, CP – “subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para ou si para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum”.
Somente quando houver um condomínio, uma herança ainda comum aos coerdeiros, bem como uma sociedade é que se poderá cogitar do delito de furto comum.
· Sujeito ativo – condômino, coerdeiro ou sócio da coisa comum;
Obs: evidencia-se que estamos diante de um crime próprio, que somente pode ser praticado por um grupo determinado de pessoas que goze de uma qualidade ou condição especial.
· Sujeito passivo – aquele que detém legitimidade da coisa, podendo ser o condômino, coerdeiro, sócio ou, mesmo, um terceiro.
O núcleo subtrair pressupõe um comportamento ativo do agente, vale dizer, uma conduta dirigida finalisticamente a retirar, de quem legitimamente detinha a coisa comum, para si ou para outrem.
É possível o raciocínio da subtração por omissão, desde que o agente goze do status de garantidor, nos termos do art. 13, §2º, CP.
· Este crime apenas se procederá mediante representação;
· Não é punível a subtração de coisa comum fungível (que pode ser substituída por outra coisa), cujo valor não exceda a quota a que tem direito o agente (excludente de ilicitude).
02/03/21
Roubo (assalto)
Introdução
Art. 157, CP.
Subtração de coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante violência ou grave ameaça a pessoa.
O crime de roubo é considerado ou crime complexo, ou seja, o art. 157 protege mais de um bem jurídico da vítima, dessa forma protege tanto o patrimônio quanto a liberdade e integridade física da vítima. Pode acontecer que a violência ou ameaça e o roubo em si podem ocorrer em pessoas diferentes. Ex: agente ameaça a vida da filha visando roubar o dinheiro do pai.
Obs: há um entendimento que o princípio da bagatela não se aplica no roubo, pois, embora no caso concreto o valor da coisa seja ínfimo, há a violência (esta sendo de grande reprovabilidade social).
Obs: de acordo com o entendimento majoritário, quando a pessoa subtrai algo e logo após a devolve para a vítima no mesmo estado de conservação que a pegou (furto de uso), não é considerado crime pelo direito penal, porém, no roubo isso não ocorre por conta da violência utilizada pelo agente sobre a vítima antes da subtração, não sendo possível o roubo de uso.
Espécies – roubo simples
· Roubo próprio – caput do art. 157. A violência, ou grave ameaça, é empregada antes ou durante a subtração;
· Roubo impróprio - §1º do art. 157. A violência, ou grave ameaça, é empregada após a subtração.
Roubo próprio
Art. 157, caput – “subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem, grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”.
· Violência física – prática de lesão corporal (ainda que leve) ou mesmo em vias de fato. As vias de fato podem ser entendidas como sendo aquelas agressões que não possuem gravidade suficiente para serem reconhecidas como lesão corporal. Ex: empurrões, tapas;
Obs: há uma discussão pela doutrina por considerar ou não a subtração chamada de “trombada” como sendo furto ou roubo. Porém, majoritariamente, é considerado roubopois o agente esbarra na vítima para subtrair a coisa, tendo contato físico, mesmo não sendo grave, sendo considerado vias de fato.
· Grave ameaça – aquela capaz de intimidar a vítima, permitindo que seja subjugada pelo agente que, assim, subtrai-lhe os bens. Na maioria das vezes é feita através de arme de fogo, ou simulação de arma de fogo;
· Redução da possibilidade de resistência – O meio capaz de reduzir a possibilidade de resistência deve ser compreendido como todo aquele que seja apto a tornar diminuta a capacidade de apresentar repulsa a subtração patrimonial. Ex: boa noite cinderela. Também é conhecida como violência imprópria.tanto pode ser considerado com o emprego de violência física ou com grave ameaça
Consumação e tentativa
Basta a detenção momentânea do bem para que o crime de roubo seja considerado consumado.
Súmula 582, STJ – o crime de roubo fica consumado com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada
O roubo tentado ocorre quando o agente emprega violência ou grave ameaça, mas não consegue subtrair a coisa por resistência da vítima ou por interferência de terceiros.
Concurso formal de crimes
Art. 70, CP.
Ocorre quando o agente, em uma só ameaça ou violência, subtrai bens de várias vítimas ao mesmo tempo (única ação com pluralidade de resultados). Ex: assalto em ônibus.
A consequência prática será que o agente responderá pelo crime de roubo e sua pena será aumentada de 1/6 a ½, a depender da quantidade de vítimas que tiveram seu patrimônio lesado.
Roubo impróprio
Art. 157, §1º – “na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro”.
Até então seria considerado furto, porém, após subtrair o bem da vítima, emprega-lhe violência, se tornando roubo.
É considerado impróprio pois a violência não foi praticada como condição para o crime, e sim com o objetivo de garantir a impunidade do crime ou a detenção da coisa.
Consumação e tentativa
Há uma discussão sobre se existe ou não a tentativa de roubo, tendo dois entendimentos:
1. Não existe a possibilidade de tentativa de roubo próprio pois, ou o agente emprega violência ou grave ameaça e o fato é roubo, ou não emprega e o fato é furto;
2. Existe a possibilidade no caso em que o agente subtrai o bem, porém a vítima ou terceiro impedem a consumação. Ex: agente subtrai celular de um balcão, vítima vê e pede para devolver, o agente volta para bater na vítima e terceiro o impede. 
08/03/21
continuação...
Roubo circunstanciado 
Causas de aumento de pena (não são consideradas qualificadoras).
É comumente conhecido como roubo qualificado, porém, em termos de acepção jurídica, esse nome não se aplica.
Concurso de duas ou mais pessoas
Aumento de 1/3 a ½ da pena.
Comporta tanto a coautoria quanto a participação. Não é preciso de que todos os agentes pratiquem grave ameaça ou violência, basta que um o faça.
Tal como ocorre no furto, a qualificadora exige que os agentes participem da execução do crime, intervenham em seu cometimento, estejam presentes no local e momento do fato.
Não há necessidade que todos os partícipes sejam identificados no caso concreto, ou que os envolvidos sejam maior de idade.
Vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância
Os valores transportados devem ser de terceiros.
Valores – dinheiro, ou qualquer outro efeito que se costuma transportar, como pedras preciosas, ouro em pó ou em barra, selos, estampilhas, títulos ao portador etc.
Subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior
O objeto material da nova qualificadora é o veículo automotor (automóveis, caminhões, lanchas, motocicletas etc.) desde que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Dessa forma, se o agente subtraí veículo automotor sem a finalidade de ultrapassar a barreira de seu Estado, o furto será simples, e não qualificado.
Agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
O agente deve manter a vítima de modo que a impeça de tomar providências acerca de impedir o roubo, como chamar a polícia.
A doutrina tem visualizado duas situações que permitiriam a incidência da causa de aumento de pena em questão:
1. Quando a privação da liberdade da vítima for um meio de execução do roubo;
2. Quando essa mesma privação de liberdade for uma garantia, em benefício do agente, contra a ação policial.
É necessário que essa restrição seja feita antes da consumação do roubo, pois, caso contrário, não incidirá como qualificadora. Se a restrição ocorrer após a consumação será considerada parte do crime de sequestro.
Subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego
A conduta do agente é levada no sentido de levar a efeito a própria subtração do explosivo, evitando-se, assim, seu emprego futuro na prática de outras infrações penais
Violência ou grave ameaça é exercida com o emprego de arma branca
As armas brancas podem ser classificadas em 7 espécies, a saber:
1. Cortantes – navalhas, lâminas;
2. Perfurantes – florete, chave de fenda;
3. Perfurocortantes – faca, cacos de vidro;
4. Contundentes – martelo, pedaço de pau;
5. Contocontundentes – machado, foice;
6. Perfurocontundentes – lança, arpão;
7. Perfurocortocontundentes – facão.
Há outra classificação, sendo:
· Armas próprias – armas criadas para servir como meio de ataque, essa é a finalidade de sua criação;Arma de brinquedo (réplica), não é considerada arma e, dessa forma, não considerada causa de aumento de pena.
· Armas impróprias – não foram criadas com a finalidade de ataque, mas podem ser usadas para tal no caso concreto.Todas as armas brancas são consideradas armas impróprias.
Violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo
Aumento de 2/3.
O emprego da arma de fogo agrava especialmente a pena em virtude de sua potencialidade ofensiva, conjugada com o maior poder de intimidação sobre a vítima.
Obs: não se pode permitir o aumento da pena quando a arma de fogo utilizada pelo agente não tinha, no momento da sua ação, qualquer potencialidade ofensiva por estar sem munição ou mesmo com um defeito mecânico que impossibilitava o disparo, embora tivesse a possibilidade de amedrontar a vítima, facilitando a subtração.
Aqui considera-se, implicitamente, apenas armas de fogo consideradas de uso permitido.
A arma de fogo não precisa ser apreendida no caso concreto para que seja configurada a causa de pena, desde que a existência dessa arma seja comprovada por outros meios, como testemunhas por exemplo (entendimento predominante pela doutrina).
Se a arma vier a ser apreendida deve ser periciada para que seja atestada sua capacidade de efetuar disparo, de lesar alguém. Ficando-se comprovada a incapacidade de efetuação de disparo, não configurará causa de aumento. Obs: porém há entendimentos contrários de que, mesmo assim, configuraria causa de aumento, pois há capacidade de intimidação, pouco importando se a arma se encontra operante ou não.
Se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum
A lei exige que o emprego de explosivo ou do artefato análogo cause perigo comum, ou seja, a um número indeterminado de pessoas.
Violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido
Aplica-se em dobro a pena.
Arma de fogo de uso restrito – armas de fogo automáticas ou semiautomáticas ou de repetição que sejam:
· Não portáteis;
· De porte;
· Portáteis de alma raiada.
Arma de fogo de uso proibido – armas de fogo classificadas de uso proibido em acordos e tratados internacionais ou armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos.
09/03/21
Roubo qualificadoArt. 157, §3º, CP. 
Roubo qualificado pelo resultado.
Considerações iniciais
Admite dois resultados advindos do roubo:
1. Lesão corporal grave;
2. Morte.
Obs: nestes casos, não interessa se o agente agiu de forma dolosa ou culposa, apenas leva-se em consideração o resultado.
Crimes qualificados pelo resultado – art. 19, CP. O resultado que agrava a pena pode ter sido desejado pelo sujeito ou não (doloso ou culposo), porém, de qualquer forma, irá responder pelo crime qualificado pelo resultado.
Crime preterdoloso – aquele que tem dolo no antecedente (neste caso, vontade de roubar) e culpa no resultado (não tinha a intenção da morte).
 As qualificadoras – lesão corporal grave e morte – são aplicadas em ambas as espécies de roubo, o roubo próprio, bem como o roubo impróprio. O importante é que tenha sido consequência da violência utilizada.
Independente da ocorrência das causas de aumento estudadas anteriormente, se se encaixarem nas qualificadoras do §3º haverá o aumento de pena referente a qualificadora.
O latrocínio é considerado um crime hediondo.
Lesão corporal de natureza grave
Art. 129, §1º e §2º, CP.
Se resulta:
1. Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias;
2. Perigo de vida;
3. Debilidade permanente de membro, sentido ou função;
4. Aceleração de parto;
5. Incapacidade permanente para o trabalho;
6. Enfermidade incurável;
7. Perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
8. Deformidade permanente;
9. Aborto.
A pena, que até então seria de 4 a 10 anos de reclusão, se houver o resultado lesão grave ou gravíssima, passa a ser de 7 a 18 anos de reclusão.
O resultado pode ser sofrido tanto pela vítima patrimonial, quanto por terceiro.
Latrocínio
Tanto faz se a morte for da vítima ou de terceiros, ou se foi cometida de forma dolosa ou culposa, o agente irá responder por latrocínio. Único requisito necessário é que o resultado tenha sido decorrente de grave ameaça.
A pena, que até então era de 4 a 10 anos, passa a ser de 20 a 30 anos de reclusão.
Existem 4 situações possíveis quanto a consumação e tentativa do latrocínio:
1. Quando a morte é tentada, e a subtração é tentada, estamos diante do latrocínio tentado;
2. Quando a morte é consumada, e a subtração também é consumada, temos o latrocínio consumado;
3. Se uma das duas não passe da esfera tentada, como o roubo não sendo consumado, porém ocorre a morte advinda da violência, temos latrocínio consumado;
4. Em caso de roubo consumado e morte tentada, temos latrocínio tentado.
Obs: o entendimento é o de que, independente dos detalhes do crime, como o roubo consumado ou não, leva-se em conta somente se houve ou não a morte.
Há uma discussão sobre a competência para julgar o crime, porém, este é considerado crime contra o patrimônio, e não doloso contra a vida, sendo de competência do juiz de direito comum, juízo singular (Súmula nº 603).
Morte de terceira pessoa que não seja a vítima patrimonial será considerado crime de latrocínio da mesma forma.
Quem é condenado pelo crime de latrocínio não fica sujeito ao livramento condicional ou saidinha temporária.
15/03/21
Extorsão
Considerações iniciais
Art. 158, CP – “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa”.
Pena é reclusão de 4 a 10 anos e multa.
Elementos que integram o delito de extorsão:
A. Constrangimento, constituído pela violência física (vis corporalis) ou grave ameaça (vis compulsiva), obrigando a vítima a fazer, tolerar que se faça ou a deixar de fazer alguma coisa;
B. Especial fim de agir, caracterizado pela finalidade do agente em obter indevida vantagem econômica, para si ou para outrem.A ameaça não necessariamente deverá ser em relação a vítima, pode-se ter o crime de extorsão com a grave ameaça ao bem patrimonial, moral, privacidade, liberdade religiosa etc.
 
 
Obs: ameaça de processo judicial não se configura crime de extorsão, pois o agente apenas está colocando em prática o seu direito de ingressar com ação contra uma pessoa.
Em relação a obtenção da vantagem econômica indevida, temos que por indevida deve-se ser entendida como aquela vantagem a que o agente não tinha direito, pois, caso contrário, se fosse devida a vantagem, poderia, dependendo do caso concreto, haver desclassificação para o delito de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345, CP).
O constrangimento, seja exercido com o emprego de violência ou grave ameaça, deve ter sempre uma finalidade especial, a obtenção de indevida vantagem econômica, para si ou para outrem. A ausência dessa finalidade especial descaracterizará o crime de extorsão, podendo se configurar, por exemplo, no delito de constrangimento ilegal (art. 146, CP).
Obs: o ponto principal para diferenciação do roubo para a extorsão é de que, no roubo a participação ativa da vítima não é necessária para se consumar o delito (se a vítima não entregar o bem o agente o pega a força), já na extorsão é preciso que a vítima participe ativamente de maneira a entregar necessariamente a coisa para se configurar o crime (participação da vítima é condição essencial).
Quando a extorsão é feita por funcionário pública em razão do cargo, não é configurado extorsão, e sim de concussão (art. 316, CP). Porém, é possível que o funcionário público pratique extorsão, sendo necessário que este pratique o crime além do seu cargo, de fato praticando grave ameaça.
Consumação
Tendo em vista sua natureza de crime formal, consuma-se a extorsão no momento em que o agente pratica a conduta, constranger, obrigando a vítima mediante violência ou grave ameaça.
Não é necessário que o agente consiga a vantagem indevida patrimonial, consumando-se apenas com o constrangimento.
Obs: a obtenção da indevida vantagem econômica é considerada mero exaurimento do crime, tendo repercussões, entretanto, para efeitos de aplicação de pena, quando das chamadas circunstâncias judiciais (art. 59, CP).
Tentativa
De acordo com a doutrina, para se entender a tentativa do crime de extorsão, é necessário dividi-lo em três etapas:
1. O agente emprega a violência ou a grave ameaça e faz a exigência;
2. Vítima faz ou deixa de fazer alguma coisa;
3. Obtenção da vantagem.
Para a doutrina, se a primeira etapa é concluída, mas não se chega na segunda (vítima não faz) será configurada a tentativa. 
Causas de aumento de pena
Art. 158, §1º, CP.
O crime será aumentado de 1/3 a ½ se for cometido por duas ou mais pessoas (concurso de pessoas), ou com emprego de arma.
Forma qualificada
Art. 158, §2º, CP.
· Em caso de lesão grave a pena será de 7 a 18 anos;
· Se resultar em morte pena será de 20 a 30 anos.
Sequestro relâmpago
Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima (art. 158, §3º, CP).
Pena de reclusão de 6 a 12 anos, além de multa. 
Consiste em manter a vítima com sua liberdade de locomoção impedida, sendo esta situação imprescindível para a consumação do crime.
 É possível que ocorra o crime de roube e extorsão na mesma ação. Ex: agente rouba os bens da vítima e após isso a leva para um caixa eletrônico para obter vantagem econômica mediante a grave ameaça.
Agente responderá pelos dois crimes em concurso formal.
Se o crime de sequestro relâmpago resultar em morte ou lesão agrave, responderá o agente pelo crime de extorsão, porém aplica-se a pena em razão do resultado.
16/03/21
Extorsão mediante sequestro
Considerações iniciais
Art. 159, CP – “sequestrar alguém com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço de resgate”.
A objetividade jurídica aqui é o patrimônio, integridade física/vida e liberdade (há mais de um bem jurídico a ser protegido).
Pena de reclusão de 8 a 15 anos.
Não é exatamente qualquer vantagem que permite o raciocínio do crime de extorsão mediante sequestro, mas tão somente a vantagem que tenha valor econômico, de natureza patrimonial (uma vez que o art. 159 está inserido no Título II do CP, relativo aos crimes contra o patrimônio).
Obs: há discussõesacerca desse assunto, alguns doutrinadores entendem que não necessariamente deverá ser vantagem patrimonial, podendo ser de qualquer natureza. Os dois entendimentos podem ser levados em consideração.
A consumação, neste crime, se protrai no tempo, ou seja, todo o tempo em que a vítima se encontra no cativeiro (todo o tempo da privação de liberdade) o crime é considerado cometido/consumado a todo momento, de forma constante. Consequências:
1. Durante todo o tempo em que a vítima está sendo mantida em cárcere privado admite-se a prisão em flagrante (prisão em flagrante possível enquanto não cessada a permanência);
2. A prescrição só começa a correr quando for cessada a situação de permanência.
Formas qualificadoras
São elas:
· Vítima menor de 18, maior de 60 anos ou crime cometido por associação criminosa – pena de 12 a 20 anos de reclusão;
Obs: a idade é levada em conta no momento em que a vítima é levada pelo agente. Ex: se a vítima fizer aniversário de 18 anos enquanto estiver no cativeiro o crime será qualificado pois na época do sequestro ele tinha 17 anos.
· Se o fato resulta lesão grave – pena de 16 a 24 anos de reclusão;
· Se resulta morte – pena de 24 a 30 anos de reclusão.
Delação eficaz (premiada)
Art. 159, §4º, CP.
Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de 1/3 a 2/3.
O agente deve denunciar, isto é, levar ao conhecimento da autoridade o sequestro, não havendo necessidade de indicar o coparticipante, mas de tão somente informar a prática do crime.
Obs: a autoridade mencionada pode ser delegado de polícia, promotor de justiça, juiz de direito, enfim, qualquer autoridade que possa conduzir a solução do caso.
Exige-se que a denúncia do coparticipante facilite a libertação do sequestrado. Na verdade, a denúncia deve conduzir, obrigatoriamente, à libertação do sequestrado, pois a delação premiada tem em vista a vítima do sequestro. Se, por exemplo, após denunciar à autoridade a prática do sequestro, indicando o local do cativeiro, a vítima tiver sido transferida para outro lugar, obviamente que não poderá o agente ser beneficiado, pois a sua delação em nada facilitou a sua libertação.
22/03/21
Extorsão indireta
Art. 160, CP – “exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro”. Ex: agiotagem (Lei nº 1521/51).
Pena de reclusão de 1 a 3 anos e multa.
Apenas é conferido ao banco a autorização para empréstimo de dinheiro mediante juros, qualquer situação diferente desta configura crime.
O delito de extorsão indireta requer, para o seu reconhecimento, a presença dos seguintes elementos:
A. Conduta de exigir, ou mesmo tão somente de receber documento que possa dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro;
B. Existência de um dívida entre o sujeito passivo e o sujeito ativo;
C. Abuso da situação de inferioridade em que se encontra o sujeito passivo;
D. Finalidade de, por meio do documento exigido, garantir o pagamento do sujeito passivo, sob a ameaça de um processo penal.
Usurpação
Encontra-se no Capítulo III do Título II do CP.
Divide-se em:
· Alteração de limites;
· Usurpação de águas;
· Esbulho possessório;
· Supressão ou alteração de marca de animais.
Alteração de limites
Art. 161, caput, CP – “suprir ou deslocar tapume, marco ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia”.
Um exemplo seria alguém deslocar aos poucos sua cerca para a propriedade vizinha na esperança de aumentar a extensão de seu bem.
É crime de ação penal privada, tendo a vítima que entrar com ação contra o agente, por meio de queixa-crime, salvo se houver emprego de violência ou grave ameaça (neste caso se tornando ação penal pública).
Usurpação de águas
Art. 161, §1º, I, CP – aquele que desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias.
Obs: art. 1290, CC – “o proprietário de nascente, ou do solo onde caem as águas pluviais, satisfeitas as necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar o curso natural das águas remanescentes pelos prédios inferiores”.
Ação será privativa do indivíduo quando a propriedade for particular e não houver violência ou grave ameaça.
Esbulho possessório
Art. 161, §1º, II, CP – quando alguém invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
· Se o agente usar de violência, incorre também na pena a esta cominada;
· Se a propriedade for particular, e não houver emprego de violência, somente se procederá mediante queixa (ação penal privada).
É um crime pluriofensivo, ou seja, consiste em um ilícito civil e penal.
A lei civil autoriza o uso de força necessária e proporcional para repelir a invasão de sua propriedade (legítima defesa no campo penal).
A ação penal será privativa do indivíduo salvo se houver emprego de violência ou grave ameaça, ou se a propriedade for do Estado (ação peal pública incondicionada).
 Há uma discussão acerca de se movimentos sociais como o Movimento Sem-Teto e o Movimento Sem-Terra são considerados esbulho possessório. Entende-se de duas formas:
1. É configurado o esbulho possessório pois entra-se na propriedade com o intuito de dolo, de prejuízo a propriedade, com a finalidade de esbulho;
2. Não é configurado pois, quando o sem-terra invade, não há a intenção de prejuízo e sim de reivindicar um direito previsto na CF, o direito de reforma agrária.
Supressão ou alteração de marca de animais
Art. 162, CP – “suprir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade”.
Pena de detenção de 6 meses a 3 anos, e multa.
No que diz respeito ao gado, a denominação será abigeato.
Dano
Considerações iniciais
Art. 163, CP – “destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia”.
Pena de detenção de 1 a 6 meses, ou multa.
Obs: como não se especifica se a coisa é móvel ou imóvel, considera-se crime de dano em ambas as opções.
Significado dos núcleos (modalidades):
· Destruir – eliminar, aniquilar, extinguir;
· Inutilizar – tornar inútil, imprestável a coisa para os fins originais a que era destinada, mesmo que não destruída;
· Deteriorar – estragar, arruinar a coisa.
Deve ser estudado em conjunto com a Lei nº 9605/98 (crimes ambientais) por se tratar a lei também de objetos materiais urbanos.
Art. 62, Lei nº 9605/98 – destruir, inutilizar ou deteriorar:
I. bem especialmente protegido por lei, ato adm ou decisão judicial;
II. arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato adm ou decisão judicial.
Pena de reclusão de 1 a 3 anos, e multa.
Obs: os art. 165 e 166 do CP foram revogados tacitamente pela Lei dos Crimes Ambientais.
A pichação é considerado crime de dano pois deteriora onde foi feito, sendo tipificado pelo art. 65 da Lei dos Crimes Ambientais (pelo princípio da especialidade não será considerado a tipificação do CP e sim de lei específica).
Os maus tratos aos animais, embora seja deterioração, não será crime de dano previsto no art. 163 do CP, pois existe tipo penal específico, respondendo pelo art. 32 da Lei dos Crimes Ambientais.
Deteriorar cela, pelo entendimento do STF, não é considerado crime de dano, pois o agente não teria intenção/finalidade de danificar o patrimônio público. O mesmo entendimento se aplica a tornozeleira elétrica.
Obs: porém, se o preso deteriora cela com o intuito de fugir, considera-se crime de dano.
Não existe dano culposo, o crime de dano é sempre doloso (porém é possível que haja um ilícito civil – art. 186, CC).
A regra é de que a ação penal será privada do indivíduo que sofreu o dano.
23/03/21
continuação...
Dano qualificado
Art. 163, par. único, CP.
· Com violência à pessoa ou grave ameaça (ação pública incondicionada);
· Emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constituicrime mais grave (ação pública incondicionada);
· Contra o patrimônio da União, de Estado, DF, Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, SEM ou empresa concessionária de serviços públicos (ação pública incondicionada);
· Por motivo egoísta e com prejuízo considerável para a vítima (ação penal privada).
Pena de detenção de 6 meses a 3 anos, e multa, além da pena correspondente à violência (enuncia o concurso material nos casos de violência ou ameaça).
Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia
Art. 164 – introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que de fato resulte prejuízo.
Pena de detenção de 15 dias a 6 meses, ou multa.
Está em desuso nos dias atuais.
Art. 165 e 166, CP
Ambos foram revogados tacitamente pela Lei dos Crimes Ambientais por terem previsão em lei específica.
	ART. 165
	Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico.
Pena de detenção de 6 meses a 2 anos, e multa.
Relaciona-se com o art. 63 da Lei de Crimes Ambientais.
	ART. 166
	Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei.
Pena de detenção de 1 mês a 1 ano, ou multa.
Relaciona-se com o art. 64 da Lei de Crimes Ambientais.
Apropriação indébita
Introdução
Art. 168 – “apropriar-se de coisa alheia imóvel, de que tem a posse ou a detenção”.
Pena de reclusão de 1 a 4 anos, e multa.
O objeto material do crime de apropriação é o mesmo do crime de furto, ou seja, coisa alheia e móvel.
Requisitos:
1. Posse legítima da coisa – a vítima deve entregar a coisa de livre vontade ao agente, devendo este que ter a posse da coisa de forma lícita (se for ilícito configura-se o estelionato);
2. Posse de boa-fé – o autor deve ter a posse da coisa sem a intenção de pegá-la para si;
3. Inversão do ânimo da posse – comportamento de dono, a pessoa passa a agir como se fosse proprietária da coisa, que até então recebeu de boa-fé e de forma legítima.
Obs: no furto a posse da coisa é vigiada, já na apropriação indébita a posse é desvigiada. 
O delito de apropriação indébita somente pode ser praticado dolosamente, não existindo previsão para a modalidade de natureza culposa. O agente, portanto, deve agir com o chamado animus rem sibi habendi, ou seja, a vontade de ter a coisa para si, como se fosse dono.
29/03/21
continuação...
Sujeitos
Sujeito ativo – qualquer pessoa que possui a posse da coisa.
Obs: se o sujeito ativo for funcionário público o crime se transformará em peculato.
Sujeito passivo – proprietária da coisa alheia móvel que foi entregue de forma voluntária ao autor do crime.
Obs: quem se beneficia de bens advindo de aposentadoria, cometerá o crime previsto no art. 102 do Estatuto do Idoso.
Causas de aumento (qualificadoras)
Art. 168, §1º, CP.
A pena é aumentada em 1/3 quando o agente recebeu a coisa:
A. Em depósito necessário;O depósito necessário está previsto no art. 647 do CC, o qual é majorado no CP apenas em situações em que o autor se vale da apropriação em situações de calamidade, como incêndio, inundação, naufrágio ou saque.
B. Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
C. Em razão de ofício, emprego ou profissão.
Apropriação indébita privilegiada
Art. 170, CP.
Trata-se de dispositivo que atribui às modalidade de apropriação indébita tratamento idêntico ao conferido para o crime de furto privilegiado, quando a primariedade do autor e o pouco valor da coisa apropriada (inferior ao valor do salário-mínimo) autorizam a substituição da pena de reclusão pela de detenção, além da diminuição da privativa de liberdade de 1/3 a 2/3, tal como a possibilidade de aplicação apenas de pena de multa.
Apropriação indébita previdenciária
Introdução
Art. 168-A, CP – “deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal e convencional”.
Pena de reclusão de 2 a 5 anos, e multa.
Assim, para que se possa configurar o delito em questão, é preciso que, no caso concreto, sejam verificados os seguintes elementos:
· Conduta núcleo de deixar de repassar à previdência social;
· As contribuições já e anteriormente recolhidas dos contribuintes;
· No prazo e forma legal ou convencional.
Nas mesmas penas incorre quem deixar de (art. 168-A, §1º):
A. Recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a seguradoras, a terceiros ou arrecadada do público;
B. Recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;
C. Pagar benefício devido a seguradora, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.
Este tipo de delito não exige o dolo específico, ou seja, a intenção do indivíduo de permanecer com o dinheiro, bastando apenas a realização do delito para consumação (apenas por ele retirar o dinheiro será consumado o crime).
Obs: é uma espécie do gênero apropriação (há um entendimento de que já que o gênero apropriação exige o dolo específico, a apropriação indébita também deveria exigir, porém não é o que ocorre).
30/03/21
continuação...
Causa de extinção
Art. 168-A, §2º, CP – “é extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal”.
São vários os requisitos necessários que dão ensejo à declaração da extinção da punibilidade. Inicialmente, o agente deverá declarar, por exemplo, aquilo que efetivamente recolheu dos contribuintes e, ato contínuo, confessar que não levou a efeito o repasse das contribuições recolhidas à previdência social.
Em seguida, deverá efetuar o pagamento, tanto do principal quanto dos acessórios, das contribuições, importâncias ou valores, prestando todas as informações à previdência social relativas ao débito.
Segundo o entendimento predominante, o agente possui um direito absoluto de extinção, ou seja, o juiz não pode escolher conceder ou não a extinção, ela é obrigatória.
Perdão judicial
Art. 168-A, §3º, CP.
O dispositivo deixa à disposição do julgador duas opções – perdão judicial ou aplicação da pena de multa – que podem ser aplicadas ao agente primário de bons antecedentes que:
1. Tenha provido depois do início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento das contribuições devidas, incluindo os acessórios; 
2. O valor das contribuições devidas, inclusive acessórias, seja igual ou inferior àquela estabelecida pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para ajuizamento de suas execuções fiscais.
O juiz levará em conta as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do CP para decidir se irá ou não substituir a pena privativa de liberdade pelo perdão judicial ou multa.
A Lei 10684/2003 previu a hipótese de parcelamento do débito tributário para a pessoa física, suspendendo a pretensão punitiva do Estado (pagamento o débito até a última parcela é extinta a punibilidade). O juiz deverá declarar a extinção da punibilidade mesmo que as contribuições tenham sido recolhidas depois do oferecimento da denúncia.
Apropriação indébita de coisa havida por erro...
Apropriação indébita de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza, apropriação de tesouro e apropriação de coisa achada
Introdução
Art. 169 – “apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza”.
Pena de detenção de 1 mês a 1 ano, ou multa (crime de pequeno potencial ofensivo).
Ex: entregador entrega mercadoria errada e o agente se apropria desta sem questionar o erro (apropriação apenas se dá se a pessoa não sabe que a mercadoria está errada desde o princípio, caso isso ocorra será consideradocrime de estelionato).
Para que se possa configurar o delito é preciso que se constate a presença dos seguintes elementos:
A. A conduta de se apropriar de coisa alheia;
B. O fato de que a mencionada coisa alheia tenha vindo ao poder do agente por erro, caso fortuito ou força da natureza.
Caso fortuito e força da natureza são situações semelhantes que demonstram a ocorrência de um fato que não era dominado ou, pelo menos, dominável pela vontade humana.
Apropriação de tesouro
Art. 169, par. único, I, CP – “quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio”.
De acordo com as determinações contidas na lei civil, deve-se entender como tesouro as coisas antigas, preciosas e ocultas, de cujo dono não se haja memória.
Apropriação de coisa achada
Art. 169, par. único, II, CP – quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restitui-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de 15 dias.
O fato de encontrar a coisa perdida não se configura em infração penal, mas sim a vontade de dela se apropriar, tendo conhecimento de que se encontra perdida, ou seja, possui um dono que não abriu mão do seu domínio sobre ela.
A doutrina denomina este crime de “crime a prazo”, ou seja, o crime cuja consumação depende do decorro de tempo (sendo de 15 dias nesse caso).
 Art. 170 – nos crimes de apropriação indébita, apropriação indébita previdenciária, de coisa havida por erro, tesouro e coisa achada, aplica-se o disposto no art. 155, §2º, ou seja, se o criminoso é primário e a coisa furtada é de pequeno valor, pode o juiz substituir a pena de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou somente aplicar pena de multa.
05/04/21
Estelionato
Introdução
Art. 171, CP – “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.
Pena de reclusão de 1 a 5 anos, e multa.
Há a necessidade de preenchimento de certos requisitos para que seja configurado o estelionato:
1. Que a vítima seja induzida ou mantida em erro (erro é a falsa percepção da realidade);
2. Emprego de meio fraudulento (artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento capaz de colocar a vítima em erro – fraude civil – torpeza bilateral);
Obs: na fraude civil, o agente visa o lucro do negócio. Na penal, o autor almeja o lucro ilícito.
Obs: torpeza bilateral – ocorre quando a própria vítima do estelionato também atua com má-fé. São os conhecidos casos do “bilhete premiado” e outros golpes que somente funcionam quando a pessoa visada pelo agente também obra de maneira torpe.
3. Finalidade de obter, para si ou para outrem, uma vantagem ilícita em prejuízo alheio.
 Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo (até um salário-mínimo), o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, §2º.
Obs: alguns não consideram pequeno valor o salário-mínimo, sendo analisado de acordo com cada caso, com observância em relação a condição econômica da vítima.
Obs: não se confunde pequeno valor com valor insignificante. Sendo insignificante o valor não se configurará o tipo penal, pois este seria irrelevante.
Obs: trabalhos religiosos como macumba, tarot, não são considerados estelionato pois são resultado da liberdade religiosa.
O estelionato é considerado um crime instantâneo, ou seja, o crime se configura no momento do ato.
Porém, há um entendimento do STF de que, o crime de estelionato praticado contra a Previdência Social, ensejando a percepção sucessiva e irregular de benefícios previdenciários, constitui crime permanente (estelionato previdenciário).
Sujeitos
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo no crime de estelionato, pois o tipo penal não exige qualidade ou condição especial daquele que pratica o comportamento típico.
Da mesma forma, qualquer pessoa pode figurar como sujeito passivo.
Há necessidade, entretanto, que o sujeito passivo seja determinado, pois, caso contrário, se for praticado contra um número indefinido de pessoas, o delito poderá ser desclassificado para uma das hipóteses previstas na Lei nº 1521/51 (crimes contra economia popular).
 O sujeito passivo do crime de estelionato deverá possuir capacidade de discernimento para que possa ser induzido ou mantido em erro. Se lhe falta capacidade, tal como ocorre com alguns incapazes, o fato poderá ser desclassificado.
Aplica-se a pena em dobro se o crime for praticado contra idoso (art. 171, §4º - estelionato contra idoso).
Modalidades
Nas mesmas penas incorre quem:
· Disposição de coisa alheia como própria – vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;
· Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria – vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria alienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer das circunstâncias;
· Defraudação de penhor – defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto emprenhado;
· Fraude na entrega da coisa – defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
· Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro – destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;
· Fraude no pagamento por meio de cheque – emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento;
Obs: a pena aumenta-se em 1/3 se o crime for cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.
· Estelionato contra idoso – aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso (+70 anos).
Somente se procederá mediante representação, salvo se a vítima for:
A. A Adm Pública, direta ou indireta;
B. Criança ou adolescente;
C. Pessoa com deficiência mental;
D. Maior de 70 anos de idade ou incapaz.
Consumação
Se consuma quando o autor/golpista obtém a vantagem indevida para si, ou seja, no momento em que o dinheiro é creditado em sua conta.
É importante que se saiba o momento da consumação para que se possa aferir o local de ocorrência do crime e, consequentemente, estipular qual comarca terá a competência territorial para julgar o crime. Considera-se o local do crime o lugar (cidade) onde o golpista tiver a conta que irá receber o dinheiro.
Obs: é de vital importância apontar o momento a partir do qual se pode entender como o início da execução, haja vista que os atos que lhe forem antecedentes se não se constituírem, per se, em infrações penais autônomas serão consideradas um indiferente penal.
Súmula nº 17, STJ – quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade. A súmula decorre da aplicação do princípio da consunção, no qual o crime-meio é absorvido pelo crime-fim. Trata-se de uma das modalidades de solução do chamado “conflito a parente de normas”.  E, apesar dos questionamentos, em especial quanto à gravidade do crime de falsificação ser maior quando comparada ao estelionato tendo em vista as penas aplicadas, a súmula continua válida e aplicável.
06/04/21
continuação...
Tentativa
Se, depois de iniciados os atos de execução configurados na fraude empregada na prática do delito, o agente não conseguir obter a vantagem ilícita em virtude de circunstâncias alheias à sua vontade, o crime restará tentado.
Apenas será considerada tentativa quando o agente conseguir enganar a vítima, porém a obtenção da vantagem econômica não for completada.
Obs: no estelionato, crime que requer a cooperação da vítima, o início de sua execução se dá com o engano da vítima. Quando o agente não consegue enganar a vítima, o simples emprego de artifício ou ardil caracteriza apenas a prática dos atos preparatórios,não se podendo cogitar de tentativa.
Princípio da insignificância
Exclui as condutas que apresentam um pequeno potencial ofensivo, pois sua capacidade de ofender a sociedade não deve ser objeto do direito penal, evitando-se, assim, a desproporcionalidade de aplicação da pena diante um caso irrelevante.
No que concerne aos requisitos objetivos, deve haver uma mínima periculosidade da conduta e o insignificante valor da coisa. Já em relação aos requisitos subjetivos, o dano ocasionado à vítima deve ter valor insignificante em relação ao seu patrimônio, sendo necessário observar que é possível considerar o valor afetivo do objeto para a exclusão da aplicação do princípio, bem como o agente da conduta deve ter circunstâncias favoráveis a si.
Súmula 599, STJ – o princípio da insignificância não é aplicável aos crimes contra a adm pública.
12/04/21
continuação...
Causas de aumento de pena
A pena irá aumentar em 1/3 se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência (art. 171, §3º) (Súmula nº 24, STJ).
Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso (§4º).
Quando o sujeito passivo do crime é o INSS há aumento de pena de 1/3.
Arrependimento posterior
Causa de redução de pena.
Se a reparação do dano for até o recebimento da denúncia, a pena reduzirá de 1 a 2/3.
Art. 175, III, CP – reparação for feita após o recebimento da denúncia.
Ação penal
Os crimes de estelionato dependem de manifestação de vontade da vítima, ou seja, representação da vítima – condição de procedibilidade (Lei nº 13964/2019). 
Dessa forma, o crime estará sujeito a ação penal pública condicionada.
Obs: prevalece o entendimento de que a Lei possui uma natureza mista, processual e de direito penal material, sendo assim, a lei penal mais benéfica será retroativa, alcançando os fatos praticados antes de sua vigência.
Essa é a regra geral, porém existem exceções previstas no art. 171, §5º, as quais a ação penal será pública incondicionada, quando a vítima for:
A. Adm Pública, direta ou indireta;
B. Criança ou adolescente;
C. Pessoa com deficiência mental;
D. Maior de 70 anos de idade ou incapaz.
Figuras equiparadas ao crime de estelionato
Art. 171, §2º, CP.
Disposição de coisa alheia como própria
Quem permuta, vende, dá em pagamento, locação ou garantia coisa alheia como se fosse própria.
A consumação ocorre quando, efetivamente, consegue a vantagem ilícita em prejuízo alheio, sendo possível, como acontece com a modalidade fundamental de estelionato, o raciocínio correspondente à tentativa.
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
Aquele que vende, permuta, dá em pagamento ou garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometera vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias.
Defraudação de penhor
A pessoa que defrauda (lesa), mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia (bem), quando tem a posse do objeto emprenhado.
 Art. 1431, CC (define penhor) – “constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação”.
Constitui-se o penhor pela efetiva entrega da coisa móvel, suscetível de alienação, do devedor pignoratício ao credor pignoratício, como garantia de pagamento de uma dívida principal.
Obs: credor pignoratício é a pessoa que possui um título de penhor instituído em seu favor e o devedor pignoratício. O devedor pignoratício é quem figura como devedor em contrato de penhor, é o sujeito passivo da obrigação, ou seja, pessoa que deverá pagar o benefício estabelecido em garantia do credor.
Fraude na entrega da coisa
Quem defrauda (lesa) substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém.
O crime pune a conduta daquele que vende um determinado objeto, mas entrega outro. Ex: vende uma joia de diamante e entrega joia de zircônio.
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
Aquele que destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor do seguro.
Fraude no pagamento por meio de cheque
Aquele que emite cheque, sem suficiência provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
A ausência de provisão suficiente de fundos deve ocorrer no momento da emissão do cheque, ou seja, a partir do momento em que o agente o coloca em circulação, entregando-o a terceiro, e não com seu simples preenchimento.
Importante destacar que somente poderá ser responsabilizado pelo delito de estelionato na modalidade de fraude no pagamento por meio de cheque, o agente que tiver agido dolosamente quando da sua emissão. Isso significa que aquele que por descuido, pelo fato de controlar mal o saldo em sua conta corrente, emitir um cheque acreditando na suficiência de fundos quando, na realidade, não possuía, não poderá responder pelo delito em questão, pois não há previsão para a modalidade culposa dessa infração penal.
A segunda modalidade característica desse delito diz respeito à frustração ilegítima do pagamento. Para que se configure o delito por meio dessa modalidade, é preciso que o emitente tenha fundos suficientes em poder do sacado, pois, caso contrário, o fato se subsumirá ao primeiro comportamento.
Obs: mesmo que o agente restitua à vítima o dano causado, não haverá redução da pena.
Se o pagamento do cheque sem fundo for feita até o momento do recebimento da denúncia, fica extinta a punibilidade do agente (o entendimento surge a partir da interpretação da Súmula nº 554 do STF). Se o ressarcimento for feito após o recebimento da denúncia não se aplicará a extinção da punibilidade.
13/04/21
Duplicata simulada
Introdução
Art. 172, CP – “emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado”.
Pena de detenção de 2 a 4 anos, e multa.
O patrimônio é o bem juridicamente protegido pelo crime de duplicata simulada. O objeto material é a fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida.
Sujeitos
O sujeito ativo é aquele que emite a fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
O sujeito passivo é o recebedor, isto é, quem desconta a duplicata, aquele que aceita a duplicata como caução, e também o sacado de boa-fé, que corre o risco de ser protestado.
Consumação 
Consuma-se a infração penal no momento em que a duplicata é colocada em circulação, sendo apresentada para desconto, não havendo necessidade do efetivo prejuízo a terceiro.
Obs: mesmo que a pessoa não desconte a duplicata será considerado consumado o crime, pois esta consumou-se no momento em que foi colocada em circulação.
Outras fraudes previstas no Cap. VI
	
	1. Duplicata simulada (art. 172);
2. Abuso de incapazes (art. 173);
3. Induzimento à especulação (art. 174);
4. Fraude no comércio (art. 175);
5. Outras fraudes (art. 176);
6. Fraudes e abusos na fundação ou adm de sociedade por ações (art. 177);
7. Emissão irregular de conhecimento de depósito ou warrant (art. 178);
8. Fraude à execução (art. 179).
Abuso de incapazes
Art. 173 – “abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiros”.
Pena de reclusão de 2 a 6 anos, e multa.
O agente deverá saber que está lidando com um menor de 18 anos ou com uma pessoa alienada ou débil mental, pois, caso contrário, poderá incorrer no chamado erro de tipo, afastando-se a tipicidade de seu comportamento no que diz respeito ao crime de abuso de incapazes, podendo, contudo, dependendo do meio por ele utilizado,ser responsabilidade penalmente pelo crime de estelionato.
O prejuízo é sempre de natureza patrimonial, não sendo considerado crime de abuso de incapaz se o crime gerar apenas dano próprio a pessoa ou a terceiro.
Sujeitos:
· Sujeito ativo – é crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa;
· Sujeito passivo – somente menor ou alienado ou débil mental.
A consumação se dá quando o incapaz produz o ato pelo qual foi induzido, não havendo necessidade de, efetivamente, sofrer prejuízo patrimonial com seu comportamento que, se vier a acontecer, será considerado mero exaurimento do crime.
Induzimento à especulação
Art. 174 – “abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa”.
Pena de reclusão de 1 a 3 anos, e multa.
Sujeitos:
· Sujeito ativo – qualquer pessoa (crime comum);
· Sujeito passivo – pessoa inexperiente, simples ou de inferioridade mental. Em regra, é o menor, ou o homem rústico, ignorante, idoso ou ingênuo.
Consuma-se o delito no momento em que a vítima leva a efeito o comportamento a que fora induzida pelo agente, vale dizer, quando efetivamente participa do jogo, aposta ou especula com títulos ou mercadorias, independentemente da produção efetiva do resultado ruinoso ao seu patrimônio que, se ocorrer, será considerado mero exaurimento do crime.
Fraude no comércio
Art. 175 – “enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor:
I. vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;
II. entregando uma mercadoria por outra”.
Pena de detenção de 6 meses a 2 anos, ou multa.
Sujeitos:
· Sujeito ativo – comerciante ou comerciário;
· Sujeito passivo – adquirente ou o consumidor, dele não se exigindo qualquer qualidade ou condição especial, cuidando-se, aqui, de crime comum.
A consumação do delito de fraude no comércio ocorre a partir do momento em que a vítima percebe que recebeu mercadoria falsificada, deteriorada, trocada etc.
Se ao tentar fazer a entrega, a vítima percebe que se cuida de mercadoria falsificada, não a aceitado, o agente poderá ser responsabilizado pela tentativa.
O §1º do art. 175 prevê uma modalidade qualificada do delito de fraude no comércio.
Somente se procederá mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena (art. 176, par. único).
Art. 175, §1º – “alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso do metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, mental de outra qualidade”.
Dessa forma, pode-se visualizar na modalidade qualificada de fraude no comércio quatro comportamentos que podem ser levados a efeito, os quais, dada a sua maior gravidade, são punidos com uma pena de reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, a saber:
1. Alteração em obra que lhe é encomendada a qualidade ou peso do metal;
2. Substituição, no mesmo caso, de pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor;
3. Venda de pedra falsa por verdadeira;
4. Venda, como precioso, de metal de outra qualidade.
Obs: se o criminoso for primário ou de pequeno valor, a pena será diminuída de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena de multa, em concordância com o §2º do art. 175.
Outras fraudes
Art. 176 – “tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento”.
Pena de detenção de 15 dias a 2 meses, ou multa.
Sujeitos:
· Sujeito ativo – qualquer pessoa;
· Sujeito passivo – quem presta o serviço que deve ser pago, podendo ser tanto uma pessoa física quanto uma pessoa jurídica.
O crime irá se consumar no momento em que o agente pratica qualquer dos comportamentos previstos no tipo penal.
 
Será perfeitamente possível a aplicação do princípio da insignificância nas hipóteses previstas no tipo penal, afastando-se, pois, com a sua adoção, a tipicidade material, avaliada em sede de tipicidade conglobante.
Obs: princípio da insignificância – princípio de direito penal moderno que determina a não punição de crimes que geram uma ofensa irrelevante ao bem jurídico protegido pelo tipo penal.
Fraudes e abusos na fundação ou adm de sociedade por ações
Art. 177 – “promover a fundação de sociedade por ações fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo”.
Pena de reclusão de 1 a 4 anos, e multa, se o fato não constituir crime contra a economia popular.
Sujeitos:
· Sujeito ativo – aquele que fundou a sociedade por ações;
· Sujeito passivo – podem ser as pessoas físicas ou jurídicas que subscreveram o capital.
Não se exige, para a consumação, resultado externo ou estanho à ação do agente. Esta, por si só, é bastante para a integralização do delito. Comunicada, pelos meios indicados na lei, a afirmação ou omissão falsa, o crime está consumado, ainda que nenhuma ação seja subscrita.
Incorrerá na mesma pena, se o fato não constituir crime contra a economia popular (art. 177, §1º):
A. Diretor, gerente ou fiscal de sociedade por ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;
B. Diretor, gerente ou fiscal que promove, por qualquer artifício, falsa cotação das ações de outros títulos da sociedade;
C. Diretor ou gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembleia geral;
D. Diretor ou gerente que compra ou vende, por conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei permite;
E. Diretor ou gerente que, como garantia de crédito social, aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade;
F. Diretor ou gerente que, na falta de balanço, em desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou dividendos fictícios.
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou warrant 
Art. 178 – “emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal”.
Pena de reclusão de 1 a 4 anos, e multa.
Obs: warrant é um título emitido por estabelecimentos encarregados da guarda e conservação de mercadorias, passível de ser vendido ou negociado, e que atesta ao seu portador a propriedade do objeto em custódia.
Sujeitos:
· Sujeito ativo – emitente do conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal, sendo ele, quase sempre, o depositário da mercadoria;
· Sujeito passivo – portador ou endossatário dos títulos.
Consuma-se o delito no momento em que são colocados em circulação os títulos correspondentes ao conhecimento do depósito ou warrant.
A ação penal será de iniciativa pública incondicionada.
Fraude à execução
Art. 179 – “fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas”.
Pena de detenção de 6 meses a 2 anos, ou multa.
Somente se poderá reconhecer como típica a conduta do agente quando se estiver diante de uma execução judicial, afastando-se, portanto, as demais ações constantes do processo de conhecimento, bem como do processo cautelar. A conduta, portanto, diz respeito a fraudar processo de execução judicial.
Com a finalidade de fraudar a execução, o agente pode alienar, desviar, destruir ou danificar bens, bem como simular dívidas.
Sujeitos:
· Sujeito ativo – devedor contra o qual está sendo promovida a ação de execução judicial. É, portanto, o executado;
· Sujeito passivo – credor que ocupa a condição de exequente na ação de execução judicial e que se vê lesado em seu direito patrimonial com o comportamento praticado pelo sujeito ativo.
O delito se consuma com a prática de um dos comportamentos previstos pelo tipo, vale dizer, quando o agente aliena, desvia, destrói ou danifica

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