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Estabilização de solo argiloso com cinzas de carvão com fins de aplicação em sub-base de pavimento no Perú. Rocío del Carmen Pérez Collantes Universidad Nacional de Ingeniería, Lima, Perú, pcrocio@yahoo.com Carolina Alejandra Pérez Collantes Universidad Nacional de Ingeniería, Lima, Perú, carolina4899@hotmail.com Gino Omar Calderón Vizcarra Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, ginocalderon@hotmail.com José Gutiérrez Lázares Universidad Nacional de Ingeniería, Lima, Perú, ghama@speedy.com.pe RESUMO: A usina termoelétrica Ilo, no Perú, produz 20 toneladas por dia de cinzas de carvão, cuja disposição gera um problema ambiental. Atualmente existem 150,000 metros cúbicos acumulados no local, e que poderia ser utilizado em obras rodoviárias. O objetivo das investigações é estudar o efeito da adição de cinza volante de carvão para um solo regional, com a finalidade de utilizá-lo em obras de pavimentação. Realizaram-se ensaios de caracterização física, química para o solo, cinzas volantes de carvão e misturas solo-cinza em diferentes percentagens. Ensaios de compactação e CBR foram realizados, assim como também um projeto de pavimento típico para comparar o desempenho da cinza volante. Adicionalmente alguns parâmetros como tempo de cura e teor de umidade foram avaliados. Conclui-se que a cinza volante de carvão é viável de ser utilizada para estabilização de solos para pavimentos, sendo que este aumentou o valor de CBR e diminuiu a expansão do material. Palavras – Chave: Estabilização, cinza volante, pavimentação. 1 INTRODUÇÃO A cinza volante é um resíduo que se produz na Planta Termoeléctrica de Ilo, localizada no Perú. Preocupações respeito à adequada disposição deste, motivaram este estudo, que visa o seu aproveitamento em obras de pavimentação. Entre as vantagens da utilização de resíduos temos: Agrega valor ao cinza volante de carvão. Diminui gastos de ocupação com áreas de deposição. O custo do material para pavimentação pode baixar. 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL 2.1 Materiais Os materiais utilizados na investigação são: argila de alta plasticidade (Figura 1) que provem de uma jazida na região de Villarica na Amazônia peruana e Cinza Volante que é um subproduto da incineração de carvão numa usina termoelétrica e que provem da região de Ilo no sul do Perú (Figura 2). Figura 1. Argila cor vermelho Figura 2. Cinza volante de carvão cor gris. Misturas solo–cinza: O solo e as cinzas foram secados ao ar e dosadas em peso. Após a mistura á seco foi adicionada a quantidade de água necessária para conseguir o teor de umidade desejado na compactação. Na tabela 1 apresentam-se as misturas de materiais utilizados. Tabela 1. Símbolos referentes a cada material Material/Mistura Solo (%) Cinza Volante (%) Cimento (%) Solo (S) 100 - - S80/CV20 80 20 - S60/CV40 60 40 - S90/CV7/C3 90 7 3 S80/CV17/C3 80 17 3 S70/CV27/C3 70 27 3 Cinza volante (CV) - 100 - 2.2 Ensaios de Laboratório O programa de ensaios estabelecido tem como objetivo principal investigar e identificar o efeito da adição de cinzas volante de carvão nas propriedades mecânicas de um solo residual. Os ensaios de laboratório considerados para o solo residual, as cinzas de carvão e para as misturas deles, a fim de determinar suas propriedades físicas e mecânicas são os seguintes: Tabela 2. Ensaios desenvolvidos Ensaio Norma Peruana Norma ASTM Análise granulometrica NTP. 339.128 D 422 Teor de umidade NTP. 339.127 D 2216 Limite liquido NTP. 339.129 D 4318 Limite plástico NTP. 339.129 D 4318 Densidade real dos grãos NTP. 339.131 D 854 Compactacão Proctor MTC. E-115 D 1557 CBR MTC. E-132 D 1883 3 RESULTADOS E ANALISE 3.1 Difração de raios X O resultado do ensaio de difração de raios X está na Figura 3. 3.2 Densidade Real dos grãos As variações da densidade real dos grãos com o teor de cinza volante apresentam-se nas Figuras 4 e 5. Os resultados indicam que ao adicionar cinza volante ao solo, o Gs diminui, mas no caso de adição de cinza volante mais cimento, o Gs aumenta até atingir um pico, depois do qual começa a diminuir. Figura 4. Variação do Gs com o Teor de cinza volante. Figura 5. Variação do Gs com o Teor de cinza volante e cimento. 3.3 Granulometría As curvas granulométricas do solo e misturas com a cinza volante ficaram com uma granulometria maior da que o solo puro (Figuras 6 e 7), isto pode-se relacionar à cimentação e/ou formação de gel que se produz ao redor das partículas finas da argila. Figura 6. Curva granulométrica de misturas solo–cinza volante de carvão. 2.670 2.574 2.605 2.420 2.300 2.400 2.500 2.600 2.700 0 20 40 100 G s Teor de cinza volante (%) 2.670 2.695 2.683 2.672 2.420 2.300 2.400 2.500 2.600 2.700 0 7 17 27 100 G s Teor de cinza volante (%) 4 .7 6 N º4 2 .0 0 N º1 0 0 .8 4 N º2 0 0 .5 9 N º3 0 0 .4 2 6 N º4 0 0 .2 5 N º6 0 0 .1 4 9 N º1 0 0 0 .0 7 4 N º2 0 0 0 .0 6 3 0 .0 6 3 0 .0 0 5 0 .0 0 5 0 .0 0 1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 .0 0 1 0 .0 1 0 .11 P er ce n ta g em a cu m u la d a p as sa n te ( % ) Abertura (mm) S S80/CV20 S60/CV40 CV Figura 3. Difractograma da Cinza volante Figura 7. Curva granulométrica de misturas solo – cinza volante de carvão e cimento. 3.4 Limites de Atterberg Os Limites de Attemberg para a cinza volante pura não puderam ser realizados, devido ao comportamento granular do material, que durante o ensaio não apresentou características plásticas para a sua realização. Segundo, que a inserção da cinza volante diminui o limite liquido e o índice de plasticidade, e aumenta o limite plástico do solo no caso de adição de cimento, como mostrado nas Figuras 8 e 9. Estes resultados são comparáveis ao estudo feito por Bin-Shafique (2009), no qual a adição de cinza volante de carvão reduziu o índice de plasticidade de um solo expansivo (de 57% até 32%, para um teor de 5% de cinza) e de um solo mole (de 26% a 18%, para um teor de 5% de cinza), ambos os solos do estado de Texas, EUA. Nalbantoglu (2004) testou uma cinza volante de carvão para avaliar o seu efeito estabilizador sobre dois solos expansivos da ilha de Chipre. No seu estudo determinou que a cinza volante diminuiu o índice de plasticidade de solos altamente plásticos, mas tem menor influência no índice de plasticidade de solos de baixa plasticidade. Ele atribui que partículas menores, maiores superfícies especificas e menor cristalinidade faz com que os minerais de argila tenham maior susceptibilidade à ação da cinza. Figura 8. Variação dos Limites de Atterberg com o teor de cinza volante Figura 9. Variação do Índice de plasticidade com o teor de cinza volante 3.5 Compactação Das curvas de compactação do solo edas misturas com cinza volante obtidas a partir dos ensaios de Proctor Modificado, pode-se indicar que, ao aumentar o teor de cinza volante na mistura, a máxima densidade aparente seca tende a se manter e no caso de adição de cimento tende a diminuir levemente, o qual é concordante com pesquisas feitas por Nicholson (2003), sobre utilização de cinzas de carvão para estabilizar solos tropicais. Reparou-se também que o teor de umidade ótima decresce para ambos os casos (Figura 10). 4 .7 6 N º4 2 .0 0 N º1 0 0 .8 4 N º2 0 0 .5 9 N º3 0 0 .4 2 6 N º4 0 0 .2 5 N º6 0 0 .1 4 9 N º1 0 0 0 .0 7 4 N º2 0 0 0 .0 6 3 0 .0 6 3 0 .0 0 5 0 .0 0 5 0 .0 0 1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 .0 0 1 0 .0 1 0 .11 P er ce n ta g em a cu m u la d a p as sa n te ( % ) Abertura (mm) S S90/CV7/C3 S80/CV17/C3 S70/CV27/C3 CV 0 10 20 30 40 50 60 70 0 20 40 60 T eo r d e u m id ad e Teor de Cinza Volante (%) LL LP LL (+3%C) LP (+3%C) 0 5 10 15 20 25 30 0 20 40 60 T eo r d e u m id ad e Teor de Cinza Volante (%) IP IP (+3%C) Figura 10. MEAS vs. Teor de umidade dos materiais estudados. 3.6 Índice de Suporte de Califórnia (CBR) Os valores de expansão e de CBR se apresentam nas Figuras 11 e 12, respectivamente. Observa-se que a cinza volante aumenta o valor de CBR, sendo que isto é mais expressivo quando é adicionado cimento; em contrapartida, a mistura solo- cinza-cimento, tem menor diminuição da expansão que a obtida na mistura solo-cinza. Figura 11. Curva CBR vs. Teor de cinza volante. Figura 12. Curva Expansão vs. Teor de cinza volante. 3.7 Projeto de pavimento Realizou-se o projeto de um pavimento típico comparando as espessuras do pavimento, segundo a metodologia NAASRA (National Association of Australian State Road Authorities). Pose-se notar na Figura 13, que a adicao de cinza volante e cimento diminuem a espessura necessaria para atender uma determinada solicitacao, respeito ao solo puro. Figura 13. Curva Espessura de pavimento vs Teor de cinza volante. 6 CONCLUSÕES Baseado nos resultados dos ensaios de laboratório, temos as seguintes conclusões: Os resultados obtidos permitem concluir que o solo estudado nesta pesquisa é do S80/CV20 S60/CV40 S90/CV7/ C3 S80/CV17 /C3 S70/CV27 /C3 S CV 15.00 15.50 16.00 16.50 17.00 19 20 21 22 M E A S ( k N /m 3 ) Teor de umidade (%) MEAS (S+CV) MEAS (S+CV+3%C) MEAS (S) MEAS (CV) 0 10 20 30 40 50 60 0 20 40 60 C B R ( % ) Teor de Cinza Volante (%) CBR CBR (+3%C) 0 1 2 3 4 5 6 0 20 40 60 E x p an sã o ( % ) Teor de Cinza Volante (%) Expansão Expansão (+3%C) 0 50 100 150 200 250 300 350 0 20 40 60 E sp es su ra d e p av im en to ( m m ) Teor de Cinza Volante (%) e e (+3%C) tipo CL (argila inorgânica de mediana plasticidade) na classificação SUCS, o comportamento mecânico deste material não é recomendável para ser utilizado como solo de sub-base de pavimentos. A influência da cinza volante ao solo proporciona o desenvolvimento de um novo material geotécnico com características próprias, observado pela melhoria das propriedades mecânicas deste novo material. As misturas solo-cinza volante com presença de cimento apresentaram melhores resultados respeito ao valor de CBR, ao serem comparados com as misturas só com a presença das cinzas volantes. A cinza volante de carvão é viável de ser utilizada para estabilização de solos para pavimentos, sendo que este aumentou o valor de CBR e diminuiu a expansão do solo puro. Os resultados obtidos foram satisfatórios, sendo dependentes do teor utilizado e da presença de cimento. Tais fatos ressaltam o emprego positivo da cinza volante de carvão mineral para aplicação em camadas de sub-base de pavimentos rodoviários, minimizando problemas atuais de disposição de resíduos em lixo e aterros sanitários, dando um fim mais nobre a este material. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a ENERSUR-PERU, pelo fornecimento das cinzas e informações para a elaboração do presente estudo. REFERÊNCIAS American Society For Testing And Materials (1998). D 5239-98. Standard Practice for Characterizing Fly Ash for Use in Soil Stabilization. Estados Unidos. Bin-Shafique, S., Kahman, K., Yaykiran, M., Azfar, I. (2009) The Long-term performance of two fly ash stabilized fin-grained soil subbases. Resources, Conservation and Recycling. Cabral, G. L. L. (2005), Metodologia de produção e emprego de agregados de argila calcinada para pavimentação. Dissertação de M.Sc. Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, RJ. . Acosta H.A., Edil, T.B., Benson, C.H. (2003). “Soil stabilization and drying using fly ash”. Geo Engineering Report No. 03-03 Department of Civil and Environmental Engineering, University of Wisconsin-Madison. Calderon, G. (2010) Aplicabilidade de Cinzas de Residuo Sólido Urbano para Base de Pavimentos. Dissertação de M.Sc. Departamento de Engenharia Civil. Pontificia Universidade Católica de Rio de Janeiro. Erasmi, L. (2012) Análise do Comportamiento Mecánico e Ambiental de Misturas Solo- Cinzas de Carvão Mineral para Camadas de Base de Pavimentos. Dissertação de M.Sc. Departamento de Engenharia Civil. Pontificia Universidade Católica de Rio de Janeiro. Nalbantoglu, Z. (2004) Effectiviness of Class C fly ash as an expansive soil stabilizer. Construction and Building Materials. Vol. 18, p. 377-381. Nicholson, P.G. (2003) Fly Stabilization of Tropical Hawaiian Soils. Fly Ash for soil improvement. ASCE.
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