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A Representação Simbólica nas Artes Visuais

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A representação simbólica nas Artes Visuais
Leandro Souza
Licenciatura em Artes Visuais – UNIGRANRIO
A pesquisa tem como objetivos investigar a relação entre espectador e imagem, compreender 
suas possíveis leituras, polissemia, potência e valores simbólicos, considerando seu contexto 
e sua abrangência. A leitura de imagens é relevante na compreensão do ‘mundo’ e das artes 
visuais, visto que são legíveis e ainda que complexas, comunicam seu espaçotempo.
Símbolo; cotidiano; comunicação.
La recherche a comme des objectifs enquêter la relation entre spectateur et image, comprendre 
leurs possibles lectures, polysémie, pouvoir et valeurs symboliques, en considérant son 
contexte et sa portée. La lecture d’image est importante dans la compréhension du ‘monde’ 
et des arts visuels, si on considére que les images sont lisibles et malgré leur complexité elles 
communiquent son espace et son temps.
Symbole, communication, quotidien.
O que leva a humanidade, ao longo dos tempos, a representar seu mundo, 
realidade e ideias através da imagem? Qual a motivação que conduz o homem a 
produzir uma imagem? Figurativas ou abstratas, de algum modo estas produções 
estéticas revelam algo sobre a ‘condição criativa humana’. Eis o primeiro desafio: 
relacionar imagem e as possíveis razões para sua criação, bem como as diferentes 
formas de sua recepção. No livro da Gênese (apud: FRUTIGER, 2001) diz-se que 
“no princípio”, a terra era sem forma e vazia. No âmbito da produção humana, não 
existiriam elementos visuais por acaso; é intrínseca ao homem a ordenação visual, 
III semana de pesquisa em artes
10 a 13 de novembro de 2009 art uerj
teoria e historiografia da arte
427
428 art uerj III semana de pesquisa em artes
o que abrange até mesmo o mais simples rabisco. A criação de um símbolo não 
ocorre por acaso ou acidentalmente. Sobre cada representação há uma diversidade 
de elementos a serem relacionados. O caráter simbólico da obra, seus sentidos, 
significados se dão como mostram os estudos sobre semiologia e gramática visual. 
O símbolo é apresentado como algo que carrega um conceito anterior a si, dentro de 
seu contexto; e este fator permite ao símbolo assumir diferentes possibilidades de 
leitura. 
Uma imagem é composta de uma sintaxe própria, uma gramática visual que 
organiza a sua existência e conduz a sua compreensão. Para que esta se estabeleça, 
então, são agrupados elementos, tais como ponto, que exerce uma visível e grande 
atração sobre o olhar, raramente apresentado isoladamente, considerado o “átomo” 
de toda expressão pictórica (idem, 2007, p. 07), a linha, que constrói as formas e 
determina sua complexidade, e ainda o plano, a cor, a textura e o movimento, os 
quais podem inscrever-se sobre os mais variados suportes. Todas as imagens, 
da pintura à imagética virtual são constituídas e dependem da articulação destes 
conceitos. 
Os elementos visuais manifestam a capacidade humana de interpretar 
e organizar o mundo. Desde os primórdios do que se entende por arte, esses 
elementos são desenvolvidos a fim de representar as visões e as ideias dos criadores 
de imagens.
Na produção estética da Pré-História percebemos nas imagens rupestres de 
várias partes do mundo, as tentativas do homem de externar, de forma plástica, o 
que via ao ser redor, criando assim uma gramática visual própria, uma linguagem, por 
assim dizer. São exemplos desta criação, as cores a partir de pigmentos naturais, as 
linhas simples e as formas estilizadas que representam realidades distantes. 
Feita para ser vista (AUMONT, 1997, p.77), a imagem destaca o órgão da 
visão, o qual não é neutro, simplesmente transmitindo dados de uma determinada 
realidade, mas é o ponto de encontro do espectador com mundo e de como ele 
será capaz de visualizá-lo e relacionar-se com ele. A cada movimentação do olhar a 
imagem estará presente.
As imagens são relevantes, sobretudo, a partir do momento em que expressam 
429 art uerj III semana de pesquisa em artes
nossa própria concepção do que é externo à nossa existência. Isto parece ocorrer nas 
imagens mais antigas produzidas pelo homem, no desenho mais simples da criança, 
ou na obra mais elaborada do pintor. Estes casos apresentam visões, ainda que 
distintas, de concepções de mundo, olhares e leituras diversificados e instigantes.
A experiência visual humana possibilita a compreensão do entorno, tornando 
possível reagir a ele (DONDIS, 1997, p. 07). Ver é uma experiência que ocorre 
interiormente, ou seja, ao visualizar formam-se imagens mentais as quais levam 
a descobertas e soluções práticas diante do mundo. O desenvolvimento da 
comunicação se deu junto com o desenvolvimento das imagens. Observamos a esse 
respeito que o alfabeto é a representação gráfica/visual – fonética – do som que nos 
leva a compreender o que é dito. Logo, estes sistemas simbólicos, relacionam o ato 
de ver, comunicar e compreender. Não seria aceitável, nem aconselhável, delimitar 
a compreensão de determinada imagem, ou símbolo, a um único olhar, ou seja, é 
preciso considerar o repertório particular do espectador, a possível universalidade e 
particularidades da imagem. Num contraponto, a cultura artística ocidental dominante 
nos ensinou a interpretar as imagens como registros e indicações da intenção do 
artista (GOMBRICH, 1986). Entretanto, o ato de compreender uma mensagem/
imagem visual deve-se ao processo de utilização do mecanismo perceptivo universal 
humano, relacionando interativamente os elementos visuais em conformidade 
com suas significações locais, para se alcançar o resultado dessa ação, ou seja, 
a composição (DONDIS, 1997). Distintamente, o ato de ver, trata da absorção da 
imagem pelos olhos, onde o que a imagem representa fica a cargo do significado 
compartilhado. No caso da pintura figurativa, por exemplo, a mente do observador 
tem sua participação na convocação mimética, o recurso à semelhança. No processo 
de ‘reconhecimento’ acessamos às imagens armazenadas em nossa mente, e desse 
ponto se dá a compreensão da figura (GOMBRICH, 1986, p. 160). 
Uma imagem não é feita ao acaso. Carrega consigo um objetivo, um significado 
apoiados em uma gramática visual que lhe é anterior. Como vimos anteriormente, 
ponto, linha e cor superam os problemas visuais desde os primórdios. Ao longo dos 
tempos e eras, o homem é capaz de criar elementos visuais que representam seu 
mundo, suas ideias e afirmam sua própria existência. 
A Pré-história apresenta os primeiros registros de representação simbólica que 
temos conhecimento, e a partir desse período, podemos compreender e justificar a 
produção artística humana. A informação visual é o registro mais antigo de nossa 
história (DONDIS, 1997, p. 07). São nas paredes das cavernas e também fora delas 
que vamos encontrar as pinturas que relatam o mundo tal como era visto há mais de 
30.000 anos atrás. São expressões estéticas que demonstram as primeiras formas de 
visualizar o mundo.
A fidelidade na representação paleolítica aponta para muitos momentos da 
História da Arte, onde a natureza é expressa afirmativamente, lançando o conceito do 
figurativo. Por volta de 10.000 a.C., no período chamado Neolítico, ocorre a primeira 
modificação estilística de toda a História da Arte (HAUSER, 1997, p. 23). A atitude 
figurativa e naturalista abre espaço para a estilização geométrica. Nesse momento, 
as imagens poetizam mais do que reproduzem o real, são ideais, conceituais, 
carregam uma possível essência formal das coisas. Ao invés de reproduções fiéis 
do objeto, nascem símbolos, esquemas. A figura humana é traduzida a partir de dois 
ou três esboços sintéticos, geométricos. É o ponto de partida para uma nova era 
na produção estética humana. Nasce o conceito de abstração. Ao final do século 
XIX, com o surgimento da fotografia, a pintura tende para a abstração, entendendo 
que a representaçãofiel da realidade fica a cargo da imagem escrita com a luz. A 
representação é conceitual, simbólica, icônica.
O processo de intelectualização e racionalização da Arte têm um novo 
fôlego. As formas concretas da representação cedem espaço para sinais e 
símbolos, abstrações etc. As experiências visuais diretas voltam-se aos conceitos e 
interpretações (HAUSER, 1997, p.26). Ocorre a quebra de paradigmas, os discursos 
outrora universais são relativizados e desconstruídos. Alegoricamente, estas pontas 
de pêndulo, nos remetem à dicotomia da produção artística que se intensificaria com 
os movimentos artísticos antagônicos que surgiriam mais tarde e caracterizariam, de 
certa forma, o modernismo. 
Cabe ao espectador a dinamização dos processos de produção/percepção 
imagética, pois, é ele quem, sob diversos aspectos, produz o que frui. Assim a 
imagem possibilita descobertas, onde segundo Gombrich (apud: Aumont, 2002, 
430 art uerj III semana de pesquisa em artes
p. 90) garante, reforça, reafirma e explicita nossa relação com o mundo visual, 
aperfeiçoando e possibilitando domínio da ‘realidade’, utilizando-se do intelecto, do 
raciocínio ou apreendendo o visível de forma sensorial. Para que haja comunicação, 
a linguagem verbal e a pictórica são relevantes (FRUTIGER, 2007, p. 196). Tanto 
em uma quanto em outra, o vocabulário e o seu aprendizado são adquiridos e em 
processo constante.
A potência simbólica de uma imagem veicula saberes e códigos 
compartilhados, articulando relações sociais com o cotidiano onde foi criada e se 
destina. Antes da escrita, houve um sistema de comunicação potencialmente capaz 
de registrar e conectar a linguagem com o real. A fala, se houve, não se manteve, 
mas o registro plástico pré-histórico nos possibilita acessar, sustentar e compreender 
nossa necessidade de manifestar o que entendemos como vida, morte, futuro e 
conquistas.
De acordo com Marcondes (1998), um símbolo é a representação convencional 
figurada de uma ideia ou de um conceito, seja de ordem moral ou intelectual; para 
que se estabeleça, tal representação é convencionada e torna-se comum. Diz 
também que simbolismo é o uso sistemático de símbolos, concretos ou abstratos, em 
uma imagem ou numa coleção delas, representando objetos reais ou ideias abstratas. 
Chilvers (2001) afirma que por analogia, um símbolo representa ou substitui outra 
coisa, se coloca no lugar de algo. Semiologicamente, uma imagem simbólica pode até 
possuir certa estabilidade, mas este fator não é fixo nem constante, é refeito ao longo 
dos tempos e dos espaços por onde percorre. O que representa, suas analogias, o 
que motiva e suas adequações dependem de como se relacionam no espaçotempo.
A estruturação do sentido das imagens se dá no contexto ao qual pertence, 
a abrangência e suas relações com o cotidiano são variáveis, afinal uma imagem 
pode ser lida de diversas maneiras. São intensas as forças em jogo na compreensão 
de imagens, fazem seu fruidor render-se diante delas. Para que isso ocorra, como 
mencionado anteriormente, o significado compartilhado e o repertório do observador 
são acessados numa atividade mental que conecta autor, espectador e o mundo 
visível.
O homem é o único animal capaz de deixar registros intencionais atrás de si, e 
431 art uerj III semana de pesquisa em artes
que está consciente da relação de significação entre tais registros (PANOFSKY, 2004, 
p. 23). O gesto simples de cumprimentar com as mãos, provoca uma reação imediata 
a partir de objetos e fatos, embora, para ser compreendido, depende da familiarização 
cotidiana com este movimento e da sintonia de interpretação; possibilitando, dentro 
de determinado contexto, compreender se a outra pessoa está bem, mal, triste, 
etc. O significado do gesto (código) necessita ser inteligível e não simplesmente 
sensível. Do mesmo modo, uma obra de arte tem seu significado apreendido de 
algumas maneiras específicas segundo Panofsky (2004). Naturalmente, pelas formas 
puras, de relação imediata com acontecimentos ou fatos; convencionalmente, onde 
motivos e combinações relacionam assuntos e conceitos, veiculando ideias; ou por 
seu conteúdo, revelando atitudes, condensadas numa obra, possuindo princípios 
e determinado valor simbólico. Os elementos visuais têm um papel fundamental 
nestas relações e o significado de uma produção emerge do contexto onde ela está, 
e não exclusivamente nela mesma (ARCHER, 2001), portanto, os elementos visuais 
guardam, em suas articulações, conexões contextuais.
Ao longo da História, podemos perceber a freqüente utilização de símbolos na 
produção gráfica humana. O que significam e o que está por trás deles são questões 
instigantes. Frutiger (2007) levanta a questão do conteúdo simbólico na imagem 
como um valor implícito, intermediando a realidade reconhecível e o invisível, como 
se o artista mediasse, cifrasse o visível e o invisível, onde a representação revela-
se ao observador e o inspira. É um signo convencional e geral, remete ao objeto, 
associando suas ideias gerais, e a interpretação acontecerá por referência a esse 
objeto; são signos mentais e gerais (DUBOIS, 1993, p. 64).
Um símbolo é fácil de ser lembrado; surge de nossa atividade mental 
intensa, da crescente abstração que experimentamos ao longo dos tempos como 
já registramos. Exprimem sem palavras, noções gerais. O objeto e o suporte em 
comunhão com a inteligência do homem possibilitaram a partir de seu uso, uma 
relação sobrenatural, a tal ponto desta relação elevar o objeto em questão a um 
caráter simbólico e devidamente estilizado nos desenhos. Como é o caso das 
imagens nos escudos medievais, moedas dos povos, etc. É a representação gráfica 
de algo, a ponto de substituí-la. Um exemplo, no mundo ocidental, seria o Cristo 
432 art uerj III semana de pesquisa em artes
crucificado, ou mesmo a cruz vazia – redução máxima de uma imagem simbólica, 
que se assemelha à silhueta humana, e pertence à categoria dos símbolos abstratos 
– que aponta para a ressurreição de Jesus, também pode simbolizar a morte ou o 
seu local. Tal representação ultrapassa o cristianismo, no entanto, a expressividade 
permanece e caracteriza. Como é sabido, a religião utiliza intensamente a arte para 
propagar suas convicções, mitos etc. A pintura de temática cristã, por exemplo, 
foi desenvolvida durante séculos a arte a serviço da igreja. As histórias bíblicas 
foram registradas por diversos artistas, antes da consolidação do entendimento 
contemporâneo de ‘arte’ e de ‘artista’. A Arte Bizantina, Românica, Gótica e muito 
da produção paleocristã são excelentes exemplos da produção imagética a serviço 
de determinado fluxo comunicativo; o Renascimento, ainda que retomando ideais 
clássicos e o humanismo, foi utilizado para promover determinada concepção 
de mundo; e o Barroco, foi fruto também de interesses específicos das políticas 
eclesiásticas.
O homem, um ser simbólico, imerso em processos de intelectualização 
e racionalização das formas, na concretização das imagens, reverbera suas 
experiências diretas com os fenômenos vividos, por meio de acentuações, 
exageros, distorções, reduções, etc. Portanto, essas imagens traduzem ideias, 
valores, conceitos e seu próprio cotidiano (HAUSER, 1997, p. 26) repensados e 
ressignificados. Como ocorreu na Pré-história e ainda vivemos na arte e imagética 
contemporânea. 
As considerações apresentadas fornecem o pano de fundo para pensarmos 
o jogo simbólico na fotografia contemporânea, aspecto do universo imagético com o 
qual interrompemos as reflexões desse trabalho. 
A imagem fotográfica na cena contemporânea se desdobra em consonância 
com a profusão de estímulos, formulações e práticas da atualidade. Os materiais 
clássicos das artes visuais como tinta, metal, pedra cedem espaço ao ar, ao som, 
às palavras, aos gestos e à luz, ratificando a força do conceito como elementoindispensável à obra, ou seja, o status da imagem nos suportes tradicionais (pintura, 
gravura e mesmo a escultura) é enfraquecido para dar lugar a novas energias 
poéticas para as quais a fotografia mostra pertinência e adequação.
433 art uerj III semana de pesquisa em artes
Na produção artística contemporânea, a profusão de elementos híbridos conduz 
a uma alfabetização estética inovadora via a intensa participação do ’conceito’. Impõe-
se nesse contexto, muitas questões novas, como, por exemplo, se é o método ou a 
técnica que determina algo como arte. A riqueza e diversidade de práticas artísticas 
recentes partem da reinterpretação e desenvolvimento de gestos antes experimentados 
nas vanguardas (ARCHER, 2001). A fotografia como uma imagem em trabalho, 
envolve o ato de sua captura, de sua produção, da percepção e da contemplação, sem 
desconsiderar o sujeito, o autor em processo (DUBOIS, 1993, p. 15). 
Observando as considerações feitas no século XIX com o advento da 
fotografia e todas as teorias advindas pós seu surgimento, conclui-se que o conceito 
de fotografia como uma reprodução perfeita e objetiva do real é falha, o qual 
desconsiderava a relevância do olhar fotográfico do artista. A objetiva não é um 
Da série Metanóia, 
2007. Leandro Souza
434 art uerj III semana de pesquisa em artes
olho imparcial, o olho humano é influenciado por sentimentos e gostos pessoais, as 
inclinações estéticas e psicológicas do fotógrafo, a escolha dos temas, a disposição e 
iluminação dos objetos, o enquadramento e o enfoque. Os procedimentos fotográficos 
são de ordem estética, assim como a pintura e a escultura. A fotografia torna-se 
artística no final do século XIX, quando se desprende do compromisso pictórico, 
cessando de pedir à pintura, assumindo a seu valor estético (ARGAN, 1992, p. 81). 
A imagem é um dos meios pelos quais podemos transmitir nossos 
pensamentos e impressões do/sobre o mundo, e que possibilita conhecer, evidenciar, 
explicar, etc., uma ideia, uma emoção, um estado de ânimo, um fato, favorece a 
conceituação, acessa as redes das subjetividades. Assim, a imagem simbólico-
fotográfica, ou os elementos simbólicos contidos nela, carregam consigo estes fatores 
e torna possível o conhecimento, partindo do esforço realizado para estruturar a 
representação, desenvolvendo novos sentidos, permitindo encontrar novas soluções, 
evocar detalhes, procurar, ver e lembrar. A imagem fotográfica propicia e inspira a 
percepção em pleno desenvolvimento (ZABALA, 1999, p. 88). 
Assim, a leitura de imagens é relevante para a compreensão do mundo, 
e neste, o papel e força das Artes Visuais, afinal, vivemos como nunca um fluxo 
intenso e profuso de trânsito e diversidade visual. Identificamos nas produções 
artísticas ao longo da história, a força simbólica das imagens, não apenas no sentido 
primeiro de substituição ‘signica’, mas de criação a partir do e no plano simbólico. 
Como observamos, sobretudo nas artes contemporâneas, nos contextos sociais, 
educacionais, religiosos, etc., o quanto as imagens a despeito da intenção de seus 
criadores se mantém polissêmicas e como ressignificam o mundo por meio de sua 
gramática visual que, embora complexa, é legível e comunicativa no contexto de seu 
espaçotempo. 
Defendemos também que a leitura de imagens é, de fato, possível, ainda que 
não represente algo concreto, podendo ocorrer de diversas maneiras e não apenas 
por meio dos métodos mais tradicionais, pois a compreensão de uma imagem 
simbólica depende do repertório do indivíduo, da sua abrangência e suas relações 
com o cotidiano no qual foi criada e a que se destina. Assim, a pesquisa reconhece 
a força das imagens como um poderoso elemento articulador das relações sociais, 
435 art uerj III semana de pesquisa em artes
na medida em que fortalece e marca pertencimentos e trânsitos sociais. Portanto, 
a leitura não é constante nem fixa, embora em muitos momentos mantenha certa 
estabilidade semiótica, é refeita ao longo do tempo e dos espaços pelos quais 
transita. Assim como os textos escriturísticos, as imagens também são da autoria 
de seus leitores e/ou fruidores, sem que se percam seus sentidos na estruturação e 
articulação social na qual se deram sua criação e leitura. 
Nos recortes fotográficos os repertórios particulares do artista são articulados 
codificando e tornando possível a visualização de elementos outrora não percebidos, 
ou até mesmo é evocada outra realidade, diferente da fotografada. A imagem 
fotográfica cede espaço à recriação de um novo mundo, proporcionando novos 
olhares, a partir de novas visualidades, dependendo de sua nitidez, contraste, cores, 
iluminação, um recorte carregado de sentidos, em constante diálogo com o receptor. 
Referências Bibliográficas
ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1992. 
AUMONT, Jacques. A Imagem. 10ª edição. São Paulo: Editora Papirus, 2002. 
CHILVERS, Ivan. Dicionário Oxford de Arte. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2001. 
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. São Paulo: Papirus, 1993. 
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 15° edição. LTC Editora. 2000. 
GOMBRICH, E. H. Arte e Ilusão. 3ª edição. Editora Martins Fontes, 2007. 
HAUSER, Arnold. História Social da Literatura e da Arte. São Paulo: Mestre Jou, 1972. 
MARCONDES, Luiz Fernando. Dicionário de Termos Artísticos: com equivalências em Inglês, 
Espanhol e Francês. Rio de Janeiro: Edições Pinakotheke, 1998. 
PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 2004.
436 art uerj III semana de pesquisa em artes

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