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Teoria Geral do Processo Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin Norma Processual, Jurisdição e Competência • Introdução • Fontes do Direito Processual • Eficácia da Lei Processual no Espaço • Eficácia da Lei Processual no Tempo • Interpretação e Integração da Lei Processual • Jurisdição • Competência • Considerações Finais · Nesta Unidade, iremos aprender como a norma processual pode ser criada, bem como quais são as regras específicas que regulam a sua eficácia no tempo e no espaço. Também iremos verificar como ela deve ser interpretada e quais os mecanismos de integração aplicáveis a ela. · Em seguida, vamos conhecer a forma como a jurisdição está organizada, inclusive no plano internacional. · Por fim, vamos conhecer o que é a competência e como ela afeta o papel da jurisdição. OBJETIVO DE APRENDIZADO Olá, aluno(a)! Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre um importante tema “A Norma Processual, Jurisdição e Competência”. Então, procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Não esqueça! A leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de registrá-las e transmiti-las ao professor tutor. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra no ambiente mais interativo possível, na pasta de atividades você também encontrará as atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a videoaula. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado. ORIENTAÇÕES Norma Processual, Jurisdição e Competência UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência Contextualização A Grande Estrutura do Poder Judiciário e a Necessidade de Regras de Gestão desse Sistema Com a passar do Curso, cada vez mais os alunos conhecem detalhes sobre o funcionamento do Poder Judiciário brasileiro. Ele possui órgãos superiores (tribunais) e órgãos inferiores (os juízes). Há órgãos especializados em áreas determinadas do Direito (Justiça Eleitoral, Militar e Trabalhista) e aqueles que atuam na grande maioria dos litígios (a chamada Justiça Comum). Há órgãos da Justiça Federal e órgãos da Justiça Estadual. Ou seja, são tantos os órgãos que se faz necessário estabelecer uma forma coerente e racional de divisão de trabalho entre eles. Para começarmos a entender como ocorre essa divisão de tarefas, a chamada “competência”, é necessário saber um pouco mais sobre a jurisdição e também detalhes sobre as normas processuais. 6 7 Introdução O Direito Processual é o ramo do Direito Público que trata da atividade jurisdicional do Estado, sendo que também rege as outras formas de solução de conflitos, em especial, a arbitragem e a mediação. Para compreendermos um pouco mais sobre a jurisdição, é necessário conhecer como as normas processuais são formadas e interpretadas. Em seguida, iremos tratar da jurisdição e da competência. Fontes do Direito Processual Nos termos do artigo 22, inciso I, da Constituição Federal, compete à União legislar sobre Direito Processual: Constituição Federal Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; Considerando as características de nosso sistema normativo e, em especial, o comando constitucional acima transcrito, temos que: · O Código de Processo Penal (CPP) deve ser considerado uma lei ordinária federal. Assim, se houver a criação de uma nova norma desse tipo ou qualquer alteração no código atualmente existente, somente pode se dar por força de uma lei ordinária federal . · Entrou em vigor em 2016 o novo Código de Processo Civil (CPC), que foi criado pela Lei n.º 13.105, de 16 de março de 2015. Com o seu início de vigência, foi revogado o CPC anterior, que foi instituído pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 . Como esse Código é uma lei ordinária federal, somente por meio de outra lei desse tipo poderá ocorrer a sua alteração. Importante! O atual Código de Processo Penal (CPP) foi criado pelo Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, quando ainda estava vigente a Constituição de 1937. Nesse período, normas desse tipo eram criadas com o uso de decretos-leis, espécie normativa inexistente em nosso atual sistema jurídico. Como o atual CPP, em quase a sua totalidade, guarda compatibilidade como a Constituição Federal de 1988, falamos que ele foi recepcionado, passando a ter o status de lei ordinária, razão pela qual qualquer alteração nele inserida se faz por essa espécie de norma. Você Sabia? 7 UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência Destacando o seu papel como norma mais importante da jurisdição civil, o CPC se inicia com a seguinte disposição: CPC Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. Também deve ser destacada a competência concorrente da União e dos Estados para legislar sobre “procedimentos em matéria processual” – inciso XI do artigo 24 da Constituição Federal. Nesse particular, define a doutrina que, aqui, está estabelecida a competência para tratar de procedimentos administrativos de apoio ao processo. Deve ser ainda acrescentada a competência da União e dos Estados para elaborar as suas leis de organização judiciária que, como indica o nome, irá definir quais são os órgãos judiciais em cada um desses membros da Federação, tendo também essa norma o condão de estabelecer elementos que são utilizados na fixação da competência desses órgãos. Em nosso sistema jurídico, as principais fontes formais do Direito Processual são: · Constituição Federal; · Leis; · Tratados e Convenções internacionais; · Regimentos Internos de Tribunais. As últimas duas fontes devem ser destacadas. Nosso país é signatário de vários Tratados e Convenções Internacionais que apresentam regras e princípios processuais, os quais, após o processo de internalização, podem ser aplicados na solução de litígios que são apresentados ao Poder Judiciário. Por fim, os tribunais, para regular diversas situações internas de sua estrutura, editam regimentos internos, os quais acabam por tratar de algumas questões processuais relacionadas a processos e recursos de suas competências. 8 9 Efi cácia da Lei Processual no Espaço As leis processuais obedecem ao Princípio da Territorialidade, ou seja, é a lei processual nacional, em especial o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal, que deve ser aplicada aos processos nos quais atua a jurisdição de nosso país. Nesse sentido, encontramos as disposições do artigo 13 do Código de Processo Civil e o artigo 1º do Código de Processo Penal: Código de Processo Civil Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. Código de Processo Penal Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro [...] Efi cácia da Lei Processual no Tempo A lei processual está sujeita à regra geral de vigência de leis no tempo, a qual está prescrita no caput do artigo 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, ou seja, a lei, após entrar em vigor, somente será revogada por outra lei posteriormente editada: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Art. 2º - Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. [...] Na sucessão de leis processuais no tempo, ou seja, quando uma lei processualrevoga uma lei processual anterior, devemos aplicar as seguintes regras: · A nova lei processual deve ser imediatamente aplicada aos processos em curso; · Os atos processuais praticados na vigência da lei anterior continuam válidos. Nesse sentido, dispõe o artigo 2º do Código de Processo Penal que: Código de Processo Penal Art. 2º - A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. 9 UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência No Código de Processo Civil, as questões intertemporais estão dispostas, particularmente, no seu artigo 14: Código de Processo Civil Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Interpretação e Integração da Lei Processual A lei processual segue as mesmas regras e princípios das leis em geral em relação à sua interpretação e integração, ou seja, aqui deve ter plena aplicação o disposto nos artigos 4º e 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Art. 5º - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Seguindo a mesma linha indicada na Lei de Introdução às Normas do Direito brasileiro, estabelece o artigo 8º do CPC que: Código de Processo Civil Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Também ao tratar da interpretação e integração de normas processuais, estabelece o artigo 3º do Código de Processo Penal a possibilidade da interpretação extensiva, da analogia e dos princípios gerais do Direito: Código de Processo Penal Art. 3º - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. 10 11 Jurisdição Considerações Iniciais Um dos elementos caracterizadores de um Estado é a sua soberania, sendo que dela decorre a jurisdição. Jurisdição é uma das funções estatais que decorre da soberania do Estado, mediante a qual este: “substitui os titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça” (CINTRA, GRINOVER, & DINAMARCO, 2012, p. 155). Como decorrência da jurisdição, o Estado pode decidir imperativamente sobre as pretensões a ele apresentadas, bem como impor suas decisões às partes que estão em conflito. Seguindo os ensinamentos da escola processual italiana, a jurisdição, pelo seu aspecto jurídico, apresenta os seguintes elementos caracterizadores: · Caráter substitutivo; · Escopo de atuação do Direito; · Lide; · Inércia; e · Definitividade. Vamos ver cada uma dessas características. Características da Jurisdição Caráter Substitutivo Quando as partes apresentam à jurisdição suas pretensões, esta passará a atuar em substituição às atividades daquelas, pois não caberá aos litigantes definir como o conflito deve ser resolvido, pois essa missão caberá ao Estado-Juiz. Assim, não são as partes em litígio que definem qual delas tem sua pretensão amparada pelo Direito, bem como não cabe a qualquer delas invadir a esfera jurídica da outra para executar a decisão anteriormente proferida. Tudo isso se dará por atuação da jurisdição. A característica essencial da jurisdição (...) é a substitutividade, porque o Estado, por uma atividade sua, substitui a atividade daqueles que estão em conflito na lide, os quais, aliás, estão proibidos de ‘fazer justiça com as próprias mãos’, tentando satisfazer pessoalmente pretensão, ainda que legítima (GRECO FILHO, 2010, p. 202). 11 UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência Como essa atividade estatal atua por meio de pessoas físicas, ou seja, o juiz e seus auxiliares, a participação delas somente pode ocorrer se houver a garantia de imparcialidade, sob pena de não haver legitimidade da atuação da jurisdição. Escopo de Atuação do Direito Um dos mais importantes objetivos na atuação da jurisdição é fazer com que os conflitos intersubjetivos sejam solucionados, sendo que o critério a ser utilizado para isso é a aplicação das normas de direito material. Vamos ver um exemplo dessa situação: José, proprietário de uma casa, resolve locá-la para Pedro, sendo lavrado um contrato com fiel obediência das disposições legais que tratam do assunto. Dois meses depois, o locador se arrepende do negócio e avisa Pedro que ele tem quinze dias para sair da residência. Pedro, para garantir seu direito de permanecer no imóvel, ingressa com uma ação judicial. Qual é o critério que o juiz deverá utilizar para resolver esse litígio? O juiz irá verificar o que estipulam as normas legais (direito material) sobre o assunto, sendo que, nesse caso, há uma importante regra, no artigo 4º da Lei de Locações (Lei n.º 8.245/91), que estipula que “Durante o prazo estipulado para a duração do contrato, não poderá o locador reaver o imóvel alugado. [...]”. Será com base nessa norma que a lide será resolvida. Dessa forma, por intermédio da jurisdição, as normas de direito material que não foram espontaneamente observadas e que, por isso, causaram o litígio, são reafirmadas. O juiz, em sua decisão, irá declarar, expressamente, qual é a norma de direito material que deve regular a relação entre as partes. Lide A jurisdição não se presta a realizar uma função consultiva, pois somente pode atuar se estiver caracterizada lide. Lide (...) é o conflito de interesses qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela resistência do outro. Ou, mais sinteticamente, lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida (SANTOS, 2010, p. 9). Sem que haja a caracterização do litígio, não cabe ao Estado, por intermédio da jurisdição, imiscuir-se nas relações que não são conflituosas. 12 13 Inércia São as partes em conflito que devem buscar a jurisdição, nunca o contrário. A jurisdição deve permanecer inerte, somente podendo atuar se houver a provocação das partes em litígio. Isso faz com que o juiz não tenha o poder de iniciar o processo (ne procedat iudex ex officio), sendo que essa iniciativa cabe ao autor, ficando sempre sujeita à sua vontade (nemo iudex sine actore). Se o juiz agisse sem ter sido provocado pelas partes em conflito, ele estaria psicologicamente comprometido com o resultado, o que prejudicaria a sua imparcialidade. Além disso, não podemos perder de vista que a atuação da jurisdição deve buscar a pacificação dos conflitos intersubjetivos. Se o juiz agisse sem provocação, ele poderia gerar um conflito ao invés de pacificá-lo. Há, contudo, situações excepcionais em que o juiz pode atuar de ofício. Nessas exceções, há fundadas razões de ordem pública que justificam a quebra desse princípio. No atual Código de Processo Civil, podemos indicar como situações em que isso ocorre a arrecadação judicial dos bens vagos (art. 738) e dos bens que fazem parte da herança jacente (art. 744): Código de Processo Civil Art. 738. Nos casos em que a lei considere jacente a herança, o juiz em cuja comarca tiver domicílio o falecido procederá imediatamente à arrecadação dos respectivos bens. [...] Art. 744. Declarada a ausência nos casos previstos em lei, o juiz mandará arrecadar os bens do ausente e nomear-lhes-á curador na forma estabelecida na Seção VI, observando-se o dispostoem lei. Uma vez que o autor tenha apresentada a lide à jurisdição, a inércia deixa de existir, cabendo ao juiz determinar a realização dos atos processuais, bem como a adoção de outras medidas para que todas as etapas estipuladas no direito processual sejam vencidas até o final do processo. A essa iniciativa do juiz para que haja o avanço do processo chamamos de “Princípio do Impulso Oficial”. Importante! Cabe ao autor apresentar a demanda em juízo, não podendo o juiz instalar, de ofício, a relação processual (Princípio da Inércia da Jurisdição); porém, uma vez apresentada a lide para a jurisdição, ao juiz incumbe fazer com que todas as etapas do processo sejam efetivadas, sem que haja injustifi cadas delongas (Princípio do Impulso Ofi cial). Importante! 13 UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência Sobre esses aspectos, encontramos no Código de Processo Civil a seguinte disposição: Código de Processo Civil Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Em razão do Princípio do Impulso Oficial, a inércia das partes pode acarretar a preclusão e a extinção do processo sem que haja decisão de mérito: Código de Processo Civil Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: (...) I. o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; II. por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; (...) Definitividade Ao final do processo, a decisão proferida pelo juiz, se houver uma apreciação do mérito do litígio, tornar-se-á definitiva, não podendo mais ser alterada – por vontade das partes, pela vontade do juiz ou de qualquer outra pessoa. [...] o poder, a função e a atividade jurisdicional têm o caráter de definitividade, isto é, ao se encerrar o desenvolvimento legal do processo, a manifestação do juiz torna-se imutável, não admitindo revisão por outro poder (GRECO FILHO, 2010, p. 202) Essa característica faz com que haja sempre um ponto final de qualquer litígio, pois a decisão tornar-se-á imutável, ou seja, será formada a coisa julgada. Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos de uma sentença, em virtude da qual nem as partes podem repropor a mesma demanda em juízo ou comportar-se de modo diferente daquele preceituado, nem os juízes podem voltar a decidir a respeito, nem o próprio legislador pode emitir preceitos que contrariem, para as partes, o que ficou definitivamente julgado (CINTRA, GRINOVER, & DINAMARCO, 2012, p. 160). 14 15 A essência da preclusão, para Chiovenda, vem a ser a perda, extinção ou consumação de uma faculdade processual pelo fato de se haverem alcançado os limites assinalados por lei para o seu exercício” (THEODORO JÚNIOR, H.Curso de direito processual civil. v. 1. 56.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1103). É o que ocorre, por exemplo, se o juiz estipular que parte tem cinco dias para juntar um determinado documento aos autos – se ela não o fizer no prazo assinalado, não poderá fazê-lo posteriormente em razão da preclusão. Espécies de Jurisdição Ao mesmo tempo em que a doutrina ressalta que a jurisdição é una (pois decorre da soberania estatal), ela estabelece algumas classificações com o objetivo de facilitar o estudo e melhorar a compreensão da estrutura de competência dos diversos órgãos jurisdicionais (juízes e tribunais). Jurisdição Penal e Jurisdição Civil Há diferentes áreas de atuação da jurisdição, voltadas às diversas áreas do direito material. Dessa forma, temos processos que tratam de pretensões penais, civis, trabalhistas, empresariais e tributárias, entre outras. Nessa linha, é corriqueiro que, na competência dada a determinado órgão jurisdicional, haja uma divisão, quanto à atuação, entre juízes que têm competência penal e juízes com competência não penal. Com base nisso, podemos dividir a jurisdição em duas grandes áreas: · Jurisdição Penal: é aquela afeta às lides de natureza penal; · Jurisdição Civil (ou Cível): é aquela afeta a todas as demais áreas de direito material. Observando-se a forma como é organizado o Poder Judiciário nacional, podemos constatar que jurisdição penal é exercida pelos seguintes órgãos: · Justiça Comum estadual e federal; · Justiça Militar estadual e federal; · Justiça Eleitoral. Dessa forma, podemos dizer que somente a Justiça do Trabalho não exerce a jurisdição penal. 15 UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência Por outro lado, os órgãos que exercem a jurisdição civil são os seguintes: · Justiça Comum estadual e federal; · Justiça Militar estadual; · Justiça Eleitoral; · Justiça do Trabalho. Jurisdição Comum e Jurisdição Especial Em decorrência do Princípio do Juiz Natural (estabelecido pelas disposições contidas nos incisos XXXVII e LIII do artigo 5º de nossa Constituição Federal), todos os órgãos jurisdicionais têm expressa previsão em nosso texto constitucional, que também se preocupa em estabelecer o âmbito de suas competências. Para alguns órgãos jurisdicionais, o constituinte procurou dar uma competência voltada a um determinado ramo de direito material. Assim sendo, em razão dessa especificação, dizemos que esses órgãos atuam na chamada jurisdição especial. Esses órgãos são os seguintes: · Justiça Eleitoral; · Justiça do Trabalho; · Justiça Militar federal e estadual. Em relação aos processos eleitorais e trabalhistas, bem como aos processos administrativos, devemos destacar a possibilidade de aplicação do Código de Processo Civil, de forma supletiva ou subsidiária: Código de Processo Civil Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. Os demais órgãos, ou seja, aqueles que exercem a jurisdição sobre as demais áreas do direito material integram a chamada jurisdição comum. Integram esse tipo de jurisdição: Importante! O inciso XXXVII do artigo 5º da Constituição Federal tem a seguinte redação “não haverá juízo ou tribunal de exceção”. A redação do inciso LIII do artigo 5º da Constituição Federal é a seguinte: “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” Importante! Dessa forma, podemos dizer que somente a Justiça Militar federal não exerce a jurisdição civil. 16 17 Os demais órgãos, ou seja, aqueles que exercem a jurisdição sobre as demais áreas do direito material integram a chamada jurisdição comum. Integram esse tipo de jurisdição: · Justiça Federal; · Justiça Estadual. Jurisdição Inferior e Jurisdição Superior Decorre do Princípio do Duplo Grau de Jurisdição a necessidade de que, na estruturação dos órgãos jurisdicionais, alguns deles apreciem inicialmente os processos e outros tenham competência para julgar recursos decorrentes de decisões anteriormente proferidas. Assim, os órgãos que apreciam inicialmente o processo formam a chamada jurisdição inferior, sendo esta exercida pelos juízes de primeira instância. Já os tribunais que reapreciam os recursos decorrentes da inconformidade das partes em litígio em relação a decisões proferidas pela jurisdição inferior exercem a chamada jurisdição superior. O mais comum é que esses recursos sejam julgados por tribunais de segundo grau (Tribunais de Justiça, Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais do Trabalho), os quais formam a chamada segunda instância. Por outro lado, muito embora os tribunais tenham preponderante função revisora das decisões proferidas pelos juízes de instâncias inferiores, em algumas situações, a Constituição Federal e as leis processuais lhes atribuem competência para, inicialmente, processar e julgar litígios que lhes são apresentados.Ou seja, nesses casos, os tribunais não terão função recursal, pois serão os primeiros órgãos a apreciar a lide. A isso chamamos de competência originária do tribunal. É o que ocorre, entre outros exemplos, quando o Superior Tribunal de Justiça aprecia, originariamente, crimes praticados por Governadores de Estado e do Distrito Federal – alínea “a” do inciso I do artigo 105 da Constituição Federal: Constituição Federal Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, [...] 17 UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência Limites da Jurisdição Nosso texto constitucional estabelece a impossibilidade de a legislação afastar a jurisdição na apreciação de lesões a ameaças de direito: Constituição Federal Artigo 5º [...] XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito Com redação semelhante, temos essa mesma disposição no caput do artigo 3º do Código de Processo Civil: Código de Processo Civil Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. [...] Limites Internos A Constituição Federal de 1988 estabelece uma única limitação interna para a atuação de nossa jurisdição, a qual se refere à impossibilidade do Poder Judiciário apreciar questões referentes à disciplina e às competições desportivas antes de esgotados os recursos da chamada Justiça Desportiva: Constituição Federal Artigo 217 § 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei Importante! É importante destacar que esses órgãos da Justiça Desportiva não integram a estrutura do Poder Judiciário e nem seus membros são magistrados. Importante! Limites Internacionais Os limites internacionais da jurisdição brasileira são estipulados por nossa soberania com a preocupação de ser importante a convivência de nosso país com os diversos Estados nacionais, bem como por critérios de conveniência e viabilidade. Essas limitações são impostas pelas normas internas de cada Estado, sendo que não há grande interesse em aumentar exageradamente a área de abrangência de sua jurisdição para fora de seu território. 18 19 [...] o legislador não leva muito longe a jurisdição de seu país, tendo em conta principalmente duas ponderações ditadas pela experiência e pela necessidade de coexistência com outros Estados soberanos: a) a conveniência (excluem-se os conflitos irrelevantes para o Estado, porque o que lhe interessa, afinal, é a pacificação no seio da sua própria convivência social); b) a viabilidade (excluem-se os casos em que não será possível a imposição da autoridade do cumprimento da sentença) (CINTRA, GRINOVER, & DINAMARCO, 2012, p. 175) – destaquei. Como decorrência dessas limitações, o legislador brasileiro estabeleceu os limites internacionais da jurisdição brasileira no artigo 12 da Lei de Introdução às Normas do Direito brasileiro, ou seja, podem ser propostas ações judiciais em nosso país: · quando o réu for domiciliado no Brasil; · se a obrigação tiver que ser cumprida em nosso país; · se o litígio tiver, por objeto, imóvel aqui situado. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. § 1º Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil. [...] No Código de Processo Civil, essas questões estão disciplinadas nos artigos 21 a 23, que seguem, em grande parte, as linhas da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: Código de Processo Civil Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: I - de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional. 19 UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência As hipóteses dos artigos 21 e 22 do Código de Processo Civil se referem a ações: · Em que a jurisdição do Estado Brasileiro poderá atuar; · Essas normas indicam hipóteses em que também é possível que a ação possa ser proposta em jurisdição de outro país, desde que haja essa possibilidade na legislação estrangeira. Assim, são hipóteses denominadas de jurisdição concorrente, ou seja, poderá atuar a jurisdição brasileira ou a jurisdição de um Estado estrangeiro, sem que, para o sistema jurídico brasileiro, haja qualquer nulidade ou defeito. Situação diversa ocorre nas hipóteses do artigo 23 do Código: Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Nas situações descritas no artigo 23 do Código de Processo Civil, somente a jurisdição brasileira poderá atuar, não se reconhecendo em nosso país qualquer efeito para eventuais decisões ou medidas judiciais que tratem desses temas. Nessas situações, falamos em jurisdição exclusiva. Outra questão bastante importante refere-se à impossibilidade de caracterização da litispendência em relação a ações judiciais em trâmite em nosso país e aquelas que correm no exterior: Código de Processo Civil Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil. [...] As ações são identificadas por três elementos: as partes, a causa de pedir e o pedido. Esses elementos possuem, entre outras funções, a de impossibilitar que duas ações idênticas sejam apreciadas pelo Poder Judiciário. Diante da constatação de que há duas ações idênticas, estando ambas em curso, estará caracterizada a litispendência, devendo o juiz extinguir o processo sem resolução do mérito (art. 485, inciso V, do Código de Processo Civil), ou seja, ele não chegará a apreciar o pedido formulado pelo autor. 20 21 Devemos destacar, igualmente, que a jurisdição internacional penal é delimitada pelo âmbito de aplicação no espaço da lei penal brasileira. Portanto, quando o direito penal brasileiro for aplicado, também será aplicada a legislação processual penal brasileira e sempre atuará um órgão jurisdicional nacional. A definição da aplicação da lei penal brasileira no espaço encontra-se nos artigos 5º a 7ºdo Código Penal: Código Penal Territorialidade Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando- se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Lugar do crime Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Extraterritorialidade Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II. os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; 21 UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Jurisdição Voluntária e Jurisdição Contenciosa Pelo que já estudamos, podemos constatar que todo litígio apresenta, intrinsecamente, uma animosidade, uma relação jurídica contenciosa. Decorre dessa premissa que a jurisdição carrega em si a ideia de conflito. Sendo assim, falamos de jurisdição contenciosa. Há, contudo, certas situações em que os juízes são chamados, em razão da lei, a participar de relações em que essa contraposição de interesses não existe. Nesses casos, não há propriamente o exercício do poder jurisdicional, mas mera administração pública de interesses privados. Assim, por não haver a aplicação da jurisdição propriamente dita, falamos em jurisdição voluntária. 22 23 Para parte da doutrina, esse nome jurisdição voluntária é de todo impróprio, pois não existe o exercício do poder jurisdicional, mas uma atividade administrativa desempenhada pelos juízes. Alguns doutrinadores afirmam que, na jurisdição voluntária, também denominada graciosa ou administrativa, não vislumbramos a presença de partes, mas de interessados, nem de processo, mas tão-somente de procedimento, que se apresenta como um minus em relação ao primeiro (MONTENEGRO FILHO, 2010, p. 49). Um exemplo de jurisdição voluntária ocorre quando um casal com filhos incapazes, de forma consensual, resolve se divorciar. Em situações como esta, fica muito clara a intenção do legislador em realizar o direto acompanhamento estatal desse importante ato da vida pessoal dos interessados; contudo, não podemos falar na existência de uma lide que precise ser resolvida pelo Poder Judiciário. Também há jurisdição voluntária na abertura, registro e cumprimento de testamentos e codicilos; na arrecadação de bens da herança jacente e na interdição, entre outros diversos exemplos. Competência Em razão do Princípio da Aderência , em todos os litígios havidos em nosso território, sempre deve haver um órgão jurisdicional que possua o poder de apreciar o conflito que lhe está sendo apresentado. Segundo esse princípio, a jurisdição, por ser uma expressão da soberania do Estado brasileiro, em regra, somente pode ser aplicada a fatos havidos em nosso território. Dessa forma, em todo o território nacional há sempre um órgão jurisdicional competente para apreciar litígios que nele ocorram. Por outro lado, até mesmo por razões de racionalização e organização na prestação dessa importante função pública, seria inconcebível que os juízes pudessem apreciar litígios de todas as naturezas (penais, tributários, previdenciários, empresariais etc.) havidos em qualquer parte de nosso território. Isso demonstra a necessidade de se estipular uma área material e territorial de aplicação da jurisdição de cada um desses órgãos. A essa estipulação chamamos de competência: A competência, portanto, é o poder que tem um órgão jurisdicional de fazer atuar a jurisdição diante de um caso concreto. Decorre esse poder de uma delimitação prévia, constitucional e legal, estabelecida segundo critérios de especialização da justiça, distribuição territorial e divisão de serviço (GRECO FILHO, 2010, p. 204). 23 UNIDADE Norma Processual, Jurisdição e Competência As principais fontes para a determinação da competência de cada órgão jurisdicional são as seguintes: · Constituição Federal; · Leis processuais; · Lei de Organização Judiciária nacional e estaduais. Seguindo o proposto por Vicente Greco Filho, a definição da competência dos órgãos jurisdicionais é realizada, em geral, pela verificação de uma série de etapas: 1ª Etapa É necessário verificar se a jurisdição brasileira pode atuar no litígio. Como vimos acima, em se tratando de jurisdição civil, essas situações estão tratadas nos artigos 21 e 22 (hipóteses de atuação concorrente da jurisdição do Estado brasileiro), bem como no artigo 23 (hipóteses de atuação exclusiva da jurisdição brasileira), todos do Código de Processo Civil. 2ª Etapa Deve ser verificado se o litígio se enquadra na competência originária de algum tribunal, pois essa forma de competência deflui diretamente do texto da Constituição Federal ou das Constituições Estaduais (neste último caso, em razão de delegação dada por aquela), excluindo a possibilidade de atuação de qualquer outro órgão jurisdicional. 3ª Etapa É preciso verificar se a lide está afeta a uma das Justiças Especiais (Militar, Eleitoral ou Trabalhista), as quais possuem competência ditada pela Constituição Federal e por outras leis que regulamentam suas disposições. 4ª Etapa Não estando enquadrada na competência de nenhuma Justiça Especializada, a lide deverá ser apreciada pela Justiça Comum, Federal ou Estadual. Inicialmente, devemos verificar se há competência da Justiça Comum Federal, nos termos do artigo 109 da Constituição Federal. Se não houver enquadramento em nenhuma das hipóteses lá apresentadas, a competência será da Justiça Comum Estadual. 5ª Etapa Sendo da competência da Justiça Comum – federal ou estadual – será necessário definira competência territorial (denominada “competência de foro”), ou seja, em que seção judiciária ou comarca deverá ser proposta a ação. Seção judiciária é a denominação utilizada na Justiça federal para a divisão do território nacional, considerando a competência dos juízes federais (da Justiça Comum Federal). Elas constituem unidades territoriais que delimitam o exercício da jurisdição pelos Juízes Federais. 24 25 Em seu artigo 110, caput, a Constituição Federal estabelece, que “cada Estado, bem como o Distrito Federal, constituirá uma seção judiciária, que terá por sede a respectiva capital, e varas localizadas segundo o disposto em lei”. Dessa forma, inicialmente, a Justiça Federal somente tinha suas sedes nas Capitais; contudo, posteriormente, foram criadas Varas Federais em cidades do interior, razão pela qual, dentro da mesma unidade federativa, foi necessário criar- se uma subdivisão, para se delimitar a atuação dos juízes federais, nascendo o conceito de Subseções Judiciárias. Com isso, por exemplo, na Seção Judiciária de Minas Gerais há, em razão da existência de varas federais na Capital e em cidades do interior, as Subseções Judiciárias, que estabelecem o âmbito territorial de atuação desses magistrados. Já Comarca é o nome dado à área territorial de competência de um juiz de direito (da Justiça Comum Estadual). O critério para a determinação da competência territorial está, em geral, definido no Código de Processo Civil e no Código de Processo Penal. 6ª Etapa Por fim, poderemos nos deparar com a possibilidade de que, em uma mesma seção judiciária ou comarca, haja mais de um juiz com a mesma competência material. Nesses casos, a definição da competência, normalmente, é realizada pela distribuição ou por especialização de assuntos afetos a determinadas varas judiciais. Devemos destacar que esse procedimento de verificação da competência pode sofrer algumas variações em razão de especiais características de algumas leis processuais. Considerações Finais Com os elementos apresentados nesta aula podemos avançar no estudo da Teoria Geral do Processo e conhecer a estrutura do Poder Judiciário brasileiro, bem como entender como se desenvolve a atividade jurisdicional diante de um litígio que é apresentado à sua apreciação. 25 UNIDADE Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Constituição Federal http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm Código de Processo Penal http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm Código de Processo Civil http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm Lei dos Juizados Cíveis e Criminais http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm Lei n.º 9.307/96, que trata da arbitragem http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9307.htm Lei n.º 13.140/15, que trata da mediação http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm 26 27 Referências CINTRA, A., GRINOVER, A.; DINAMARCO, C. Teoria Geral do Processo. 28.ed. São Paulo: Malheiros, 2012. GRECO FILHO, V. Direito Processual Civil Brasileiro. 23.ed. São Paulo: Saraiva, 2013. v.1. MONTENEGRO FILHO, M. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 11.ed. São Paulo: Atlas, 2015. v 1. SANTOS, M. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 27.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v.1 THEODORO JÚNIOR, H. Curso De Direito Processual Civil. 56.ed. Rio de Janeiro: Forense. 2015. v.1 27
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