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1 Teoria Geral do Processo _____________________________________ UNIDADE 01 O Direito Processual e a Jurisdição Necessidade do Direito O Direito se firmou desde os primórdios dos tempos como uma necessidade nos grupos sociais que historicamente foram se estabelecendo. Sem normas que criem uma mínima organização social, a convivência humana se mostra caótica, pois, naturalmente, em todo grupo social as relações entre seus membros (relações intersubjetivas) acabam por criar conflitos que precisam ser resolvidos. Podemos dizer que a “tarefa da ordem jurídica é exatamente a de harmonizar as relações intersubjetivas, a fim de ensejar a máxima realização dos valores humanos com o mínimo de sacrifício e desgaste” (CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO, 2012, p. 27). Esses conflitos intersubjetivos, ou seja, conflitos entre os componentes de um grupo social, podem ocorrer em razão de uma série de situações, mas, em geral, eles se estabelecem em razão da pretensão de um sujeito em relação a um bem. Há, basicamente, três possibilidades de eliminação do conflito, ou seja, ele pode ser resolvido: • Por obra de um dos sujeitos em conflito; • Por obra de ambos os sujeitos em conflito; • Em razão da atuação de um terceiro. Formas de Solução de Litígios Há três formas básicas de solução: a autotutela, a autocomposição e a heterocomposição. Autotutela A autotutela, também conhecida como autodefesa, é a forma mais primitiva de resolução de um conflito intersubjetivo. Ela foi, particularmente, importante quando não havia um Estado capaz de impor suas decisões sobre os indivíduos. Caracteriza-se pelo uso da força própria para obter a satisfação de suas pretensões, ou seja, a questão era resolvida por meio da força e da ameaça, prevalecendo a vontade daquele que era mais forte e astuto, sem qualquer consideração sobre o que seria justo no conflito. Autocomposição Na autocomposição, uma ou as duas partes em conflito concordam em dispor, total ou parcialmente, do interesse que gerou o conflito. Há três formas: • Desistência: caracteriza-se pela renúncia à pretensão; • Submissão: o sujeito renúncia ao bem, deixando de oferecer resistência à pretensão da outra parte; • Transação: caracterizada por concessões recíprocas **IMPORTANTE: • Em nosso sistema jurídico, a autocomposição somente pode ocorrer se a lide recair sobre direitos disponíveis, ou seja: [...] sempre que não se trate de direitos tão intimamente ligados ao próprio modo de ser da pessoa, que sua perda a degrade a situações intoleráveis. Trata-se dos chamados direitos de personalidade (vida, incolumidade física, liberdade, honra, propriedade intelectual, intimidade, estado etc.). Quando a causa versar sobre interesses dessa ordem, diz-se que as partes não têm disponibilidade de seus próprios interesses (matéria penal, direito de família etc.) (CINTRA; GRINOVER;DINAMARCO, 2012, p. 37-38). • A autocomposição pode ocorrer tanto no âmbito exclusivo das partes em conflito, sem qualquer forma de atuação estatal ou de terceiros (hipóteses em que será classificada como extraprocessual), quanto no interior de um processo judicial (enquadrando-se como endoprocessual). Muito embora seja sempre a melhor solução, a autocomposição não é suficiente para resolver todos os conflitos, pois ela é dependente da vontade das partes em discutir a questão e abrir mão, ainda que parcialmente, de suas pretensões. 2 Assim, sem essa vontade em discutir e de chegar a um acordo, não é viável a autocomposição. Heterocomposição Como muitas vezes os sujeitos permanecem intransigentes em relação ao conflito ou não conseguem sozinhos chegar a uma solução, o melhor é buscar um terceiro (árbitro ou juiz) que resolverá o litígio. Nos primórdios, muitas das vezes, o papel de árbitro era desempenhado por sacerdotes ou por anciãos, os quais, em geral, tinham maior conhecimento dos costumes daquele grupo social e, com esse critério, decidiam a questão que lhes era posta. Pouco a pouco, contudo, o Estado se fortalece e passa a assumir o papel de decidir esses conflitos,bem como impor suas decisões aos indivíduos. Essas características decorrem da onopolização do uso da força de que a ordem coercitiva, representada pelo Direito, se vale. O Direito é uma organização da força. Porque o Direito vincula certas condições para o uso da força apenas por certos indivíduos e sob certas circunstâncias. (KELSEN, 2000, p. 30) ______________________________________ Ao assumir a função de decidir os conflitos, o Estado diminui a importância da autotutela. Com essa passagem do poder de julgar para o Estado, passamos a falar em jurisdição. Como decorrência da jurisdição, o Estado pode decidir imperativamente as pretensões a ele apresentadas, bem como impõe suas decisões às partes que estavam em conflito. Muito embora os costumes ainda tenham destacada importância como fonte de Direito,a passagem da justiça privada para a justiça pública trouxe como consequência o aumento da importância da lei como fonte para reger as condutas dos componentes da sociedade em suas relações. Outro ponto que precisamos destacar é que a jurisdição atua mediante um instrumento denominado processo. Panorama Atual É importante destacar que não ocorreu um desenvolvimento linear dessas fases em todos os lugares, sendo que houve avanços e retrocessos. Nos dias atuais, em razão da vedação do emprego da autotutela, esse tipo de proceder se caracteriza como crime definido no artigo 345 do Código Penal – denominado “Exercício arbitrário das próprias razões”. A despeito dessa regra, excepcionalmente, a autotutela é admitida em nosso sistema jurídico, tal como ocorre nas seguintes situações: O desforço imediato para a defesa da posse: Código Civil Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1º. O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. [...] Na legítima defesa: Código Penal Legítima defesa Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. [...] Essas situações excepcionais são admitidas em nosso ordenamento jurídico, em especial, “pela impossibilidade de estar o Estado-juiz presente sempre que um direito esteja sendo violado ou prestes a sê-lo” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 37). Nas últimas décadas, ocorreu um importante fenômeno de valorização da autocomposição e da arbitragem, as quais passaram a ser vistas como destacadas alternativas à jurisdição estatal, em razão da total incapacidade do Estado em resolver todos os conflitos intersubjetivos, o que acarretou severos prejuízos à sua função de pacificação das relações sociais. 3 Esse movimento fez com que fossem criados mecanismos processuais e extraprocessuais que buscassem a composição dos interesses, tal como ocorreu nas seguintes situações: • Criação da figura do “conciliador” no Juizado Especial Civil – artigo 7º da Lei 9.099/95; • Criação da composição civil de danos no Juizado Especial Criminal – artigo 72 da Lei 9.099/95; • Expressa determinação, constante do § 3º do artigo 3º do Código de Processo Civil, para que “a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos” sejam “estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”. A arbitragem ganhou grande impulso em nosso país com a Lei 9.307/96 e, posteriormente, com a Lei 13.129/15 passou a ser aplicada também para litígios relativosa direitos patrimoniais disponíveis que envolvam a Administração Pública. Lei 9.307/96 - Art. 1º. As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. § 1º. A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis. [...] Mais recentemente, houve um despertar para a mediação como forma de solução de conflitos, o que se materializou, particularmente, com a Lei 13.140/15. A mediação se caracteriza por ser uma forma de autocomposição em que as tratativas das partes são acompanhadas e incentivadas por um mediador. A mediação pode ser realizada fora do processo judicial (mediação extrajudicial) ou no curso dele (mediação judicial). Além de particulares, a mediação poderá envolver controvérsias que têm como partes a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações. Essas duas formas de resolução de litígios possuem algumas semelhanças e diferenças,sendo que em relação a essas últimas devemos destacar que: • Na arbitragem o litígio é resolvido por um árbitro; • Na mediação a lide é resolvida pelas partes, incentivadas e orientadas pelo mediador. No atual Código de Processo Civil se verifica uma destacada preocupação em se incentivar a autocomposição, por meio da mediação, havendo vários dispositivos que destacam essa forma de composição de litígios. Código de Processo Civil Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. [...] Direito Material e Direito Processual Vamos supor que “A” é proprietário de um anel de diamantes, sendo que esse bem cai de seu dedo quando visitava a casa de “B”. “B” fica sabendo que “A” perdeu a joia em sua casa e, após procurá-la, consegue localizar o anel. Como o anel foi achado em sua casa, “B” se diz o novo dono desse bem e se nega a devolvê-lo para “A”. Como não poderia deixar de ser, “A” não concorda com isso e quer o anel de volta. Diante da pretensão resistida, formou-se uma lide entre “A” e “B”. Se verificarmos a nossa legislação, vamos encontrar uma importante norma que rege situações como essas. Código Civil Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. [...] “B”, contudo não aceita a aplicação dessa norma e ingressa com uma ação judicial na qual solicita que o Poder Judiciário declare que ele é o novo dono do anel. Ao final do processo, o juiz declara a improcedência da ação, pois “B” não é o verdadeiro dono do anel. Em Síntese 4 Diante desse exemplo, podemos chegar à conclusão de que há duas situações distintas que não se confundem: • Há uma norma geral que determina um comportamento das pessoas em sociedade (que as coisas perdidas devem ser devolvidas aos donos, por exemplo); • Há o direito da parte em litígio de ingressar com uma ação judicial para que sua pretensão (ou suposta pretensão) seja reconhecida pelo Estado-juiz, em razão da jurisdição. Assim, temos prescrições normativas sobre a forma como deve ser o comportamento das pessoas em suas relações, estipulando direitos e obrigações referentes a bens e utilidades da vida. A esse corpo de norma chamamos de Direito Material. Essas normas encontram-se no Direito Civil, Direito Penal, Direito Tributário, Direito Trabalhista etc. Há, por outro lado, outro complexo de normas e princípios que disciplinam a forma como deve a jurisdição atuar, ou seja, qual é o método de trabalho (os prazos, as etapas a serem seguidas etc.) para que se reconheça a pretensão fundamentada pelo Direito Material. A esse conjunto de princípios e normas chamamos de Direito Processual. O Direito Processual é veiculado, em especial, pelo Direito Processual Civil, Direito Processual Penal, Direito Processual do Trabalho etc. Apesar de estarem interligados, o Direito Material e o Direito Processual não se confundem. _____________________________________ O direito processual é, assim, do ponto de vista de sua função jurídica, um instrumento a serviço do direito material: todos os seus institutos básicos (jurisdição, ação, exceção, processo) são concebidos e justificam-se no quadro das instituições do Estado pela necessidade de garantir a autoridade do ordenamento jurídico. (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 49) ______________________________________ Temos, portanto, que aquele que tem seu direito material violado tem, diante do comportamento da outra parte do conflito de interesses, o direito de apresentar ao Estado sua pretensão, para que ele, no exercício da jurisdição, resolva a questão. “O direito ao exercício da função jurisdicional é denominado direito de ação, sendo conferido a todas as pessoas, físicas e jurídicas, de direito público e de direito privado” (MONTENEGRO FILHO, 2010, p. 106). Já o processo “é o instrumento de que se utiliza a parte que exercitou o direito de ação na busca de uma resposta judicial que ponha fim ao conflito de interesses instaurado ou em via de sê-lo” (MONTENEGRO FILHO, 2010, p. 155). O Direito Processual O direito processual é um ramo do Direito Público, uma vez que trata da atividade jurisdicional do Estado. Mesmo quando trata de direitos disponíveis, o direito processual não perde a sua feição publicista, pois a relação de direito material não se confunde com a relação processual formada pelas partes da lide, pois esta sempre será de Direito Público. Particularmente, com a Constituição Federal de 1988, podemos mencionar que esse ramo do Direito se apresenta permeado de diversas normas e princípios emanados de nossa Carta Magna, o que potencializou sua vocação como instrumento de distribuição do justo e do equitativo. Fontes do Direito Processual A principal fonte do direito processual é a lei, sendo que, nos termos do artigo 22,inciso I, da Constituição Federal, compete à União legislar sobre Direito Processual. Com isso, as principais normas processuais são: • O Código de Processo Penal (CPP), estabelecido pelo Decreto-Lei 3.689/41, que ao longo dos anos passou por diversas alterações; • O Código de Processo Civil (CPC), que foi criado pela Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Destacando o seu papel como norma mais importante da jurisdição civil, o CPC se inicia com a seguinte disposição: CPC Art. 1º. O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores 5 e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. Além da lei, podemos apontar outras fontes do direito processual, em especial as seguintes: • Constituição Federal; • Tratados e Convenções Internacionais; • Regimentos Internos de Tribunais. Nosso país é signatário de vários tratados e convenções internacionais que apresentam regras e princípios processuais, os quais, após o processo de internalização, podem ser aplicados na solução de litígios que são apresentados ao Poder Judiciário. Por fim, os tribunais, para regular diversas situações internas de sua estrutura, editam regimentos internos, os quais acabam por tratar de algumas questões processuais relacionadas a processos e recursos de suas competências. Eficácia da Lei Processual no Espaço As leis processuais obedecem ao Princípio da Territorialidade, ou seja, é a lei processual nacional, em especial o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal,que deve ser aplicada aos processos nos quais atua a jurisdição de nosso país. Nesse sentido, encontramos as disposições do artigo 13 do Código de Processo Civil e o artigo 1º do Código de Processo Penal. Códigode Processo Civil Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras,ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. Código de Processo Penal Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro [...] Eficácia da Lei Processual no Tempo A lei processual está sujeita à regra geral de vigência de leis no tempo, a qual está prescrita no caput do artigo 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, ou seja, a lei, após entrar em vigor, somente será revogada por outra lei posteriormente editada. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. [...] Na sucessão de leis processuais no tempo, ou seja, quando uma lei processual revoga uma lei processual anterior, devemos aplicar as seguintes regras: • A nova lei processual deve ser imediatamente aplicada aos processos em curso; • Os atos processuais praticados na vigência da lei anterior continuam válidos. Nesse sentido, dispõe o artigo 2º do Código de Processo Penal que: Código de Processo Penal Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. No Código de Processo Civil, as questões intertemporais estão dispostas, particularmente, no seu artigo 14. Código de Processo Civil Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Interpretação e Integração da Lei Processual A lei processual segue as mesmas regras e princípios das leis em geral em relação à sua interpretação e integração, ou seja, aqui deve ter plena aplicação o disposto nos artigos 4º e 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito brasileiro. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Seguindo a mesma linha indicada na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro,estabelece o artigo 8º do CPC que: 6 Código de Processo Civil Art. 8º. Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Também, ao tratar da interpretação e integração de normas processuais, estabelece o artigo 3º do Código de Processo Penal a possibilidade da interpretação extensiva, da analogia e dos princípios gerais do Direito. Código de Processo Penal Art. 3º. A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. Jurisdição Um dos elementos caracterizadores de um Estado é a sua soberania, sendo que dela decorre a jurisdição. Jurisdição é uma das funções estatais que decorre da soberania do Estado, mediante a qual este “substitui os titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 155). Como decorrência da jurisdição, o Estado pode decidir imperativamente sobre as pretensões a ele apresentadas, bem como impor suas decisões às partes que estão em conflito. Seguindo os ensinamentos da escola processual italiana, a jurisdição, pelo seu aspecto jurídico, apresenta os seguintes elementos caracterizadores: • Caráter substitutivo; • Escopo de atuação do direito; • Lide; • Inércia; e • Definitividade. Características da Jurisdição Caráter Substitutivo Quando as partes apresentam à jurisdição suas pretensões, esta passará a atuar em substituição às atividades daquelas, pois não caberá aos litigantes definir como o conflito deve ser resolvido, pois essa missão caberá ao Estado-Juiz. Assim, não são as partes em litígio que definem qual delas tem sua pretensão amparada pelo Direito, bem como não cabe a qualquer delas invadir a esfera jurídica da outra para executar a decisão anteriormente proferida. Tudo isso se dará por atuação da jurisdição. A característica essencial da jurisdição [...] é a substitutividade, porque o Estado, por uma atividade sua, substitui a atividade daqueles que estão em conflito na lide, os quais, aliás, estão proibidos de ‘fazer justiça com as próprias mãos’, tentando satisfazer pessoalmente pretensão, ainda que legítima. (GRECO FILHO, 2010, p. 202). ___________________________________ Como essa atividade estatal atua por meio de pessoas físicas, ou seja, o juiz e seus auxiliares, a participação delas somente pode ocorrer se houver a garantia de imparcialidade, sob pena de não haver legitimidade da atuação da jurisdição. Escopo de Atuação do Direito Um dos mais importantes objetivos na atuação da jurisdição é fazer com que os conflitos intersubjetivos sejam solucionados, sendo que o critério a ser utilizado para isso é a aplicação das normas de direito material. José, proprietário de uma casa, resolve locá-la para Pedro, sendo lavrado um contrato com fiel obediência das disposições legais que tratam do assunto. Dois meses depois, o locador se arrepende do negócio e avisa Pedro que ele tem quinze dias para sair da residência. Pedro, para garantir seu direito de permanecer no imóvel, ingressa com uma ação judicial. Qual é o critério que o juiz deverá utilizar para resolver esse litígio? O juiz irá verificar o que estipulam as normas legais (direito material) sobre o assunto, sendo que, nesse caso, há uma importante regra, no artigo 4º da Lei de Locações (Lei 8.245/91), que estipula que “Durante o prazo estipulado para a duração do contrato, não poderá o locador reaver o imóvel alugado. [...]”. Será com base nessa norma que a lide será resolvida. 7 Dessa forma, por intermédio da jurisdição, as normas de direito material que não foram espontaneamente observadas, e que por isso causaram o litígio, são reafirmadas. O juiz, em sua decisão, irá declarar, expressamente, qual é a norma de direito material que deve regular a relação entre as partes. Lide A jurisdição não se presta a realizar uma função consultiva, pois somente pode atuar se estiver caracterizada lide. Lide [...] é o conflito de interesses qualificados pela pretensão de um dos interessados e pela resistência do outro. Ou, mais sinteticamente, lide é conflito de interesses qualificados por uma pretensão resistida. (SANTOS, 2010, p. 9) _____________________________________ Temos dois elementos que formam esse conceito: • A pretensão de mais de um sujeito em relação a um bem; • A resistência das pessoas envolvidas, que não desejam “abrir mão” de suas pretensões. Devemos destacar que o bem que é o objeto da lide não se restringe a bens materiais, podendo abranger bens imateriais e direitos. Sem que haja a caracterização do litígio, não cabe ao Estado, por intermédio da jurisdição, imiscuir-se nas relações que não são conflituosas. Inércia São as partes em conflito que devem buscar a jurisdição, nunca o contrário. A jurisdição deve permanecer inerte, somente podendo atuar se houver a provocação das partes em litígio. Isso faz com que o juiz não tenha o poder de iniciar o processo (ne procedat iudex ex officio), sendo que essa iniciativa cabe ao autor, ficando sempre sujeita à sua vontade (nemo iudex sine actore). Se o juiz agisse sem ter sido provocado pelas partes em conflito, ele estaria psicologicamente comprometido com o resultado, o que prejudicaria a sua imparcialidade. Alémdisso, não podemos perder de vista que a atuação da jurisdição deve buscar a pacificação dos conflitos intersubjetivos. Se o juiz agisse sem provocação, ele poderia gerar um conflito ao invés de pacificá-lo. Há, contudo, situações excepcionais em que o juiz pode atuar de ofício. Nessas exceções,há fundadas razões de ordem pública que justificam a quebra desse princípio. No atual Código de Processo Civil, podemos indicar como situações em que isso ocorre a arrecadação judicial dos bens vagos (art. 738) e dos bens que fazem parte da herança jacente (art. 744). Uma vez que o autor tenha apresentado a lide à jurisdição, a inércia deixa de existir,cabendo ao juiz determinar a realização dos atos processuais, bem como a adoção de outras medidas para que todas as etapas estipuladas no direito processual sejam vencidas até o final do processo. A essa iniciativa do juiz para que haja o avanço do processo chamamos de “Princípio do Impulso Oficial”. Definitividade Ao final do processo, a decisão proferida pelo juiz, se houver uma apreciação do mérito do litígio, tornar-se-á definitiva, não podendo mais ser alterada – por vontade das partes, pela vontade do juiz ou de qualquer outra pessoa. [...] o poder, a função e a atividade jurisdicional têm o caráter de definitividade,isto é, ao se encerrar o desenvolvimento legal do processo, a manifestação do juiz torna-se imutável, não admitindo revisão por outro poder. (GRECO FILHO, 2010, p. 202) Essa característica faz com que haja sempre um ponto final de qualquer litígio, pois a decisão tornar-se-á imutável, ou seja, formar-se-á a coisa julgada. Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos de uma sentença, em virtude da qual nem as partes podem repropor a mesma demanda em juízo ou comportar-se de modo diferente daquele preceituado, nem os juízes podem voltar a decidir a respeito, nem o próprio legislador pode emitir preceitos que contrariem, para as partes, o que ficou definitivamente julgado (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 160) . 8 Limites da Jurisdição Nosso texto constitucional estabelece a impossibilidade de a legislação afastar a jurisdição na apreciação de lesões a ameaças de direito. Constituição Federal Artigo 5º [...] XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Limites Internos A Constituição Federal de 1988 estabelece uma única limitação interna para a atuação de nossa jurisdição, a qual se refere à impossibilidade de o Poder Judiciário apreciar questões referentes à disciplina e às competições desportivas antes de esgotados os recursos da chamada Justiça Desportiva. Constituição Federal Artigo 217 § 1º. O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. É importante destacar que esses órgãos da Justiça Desportiva não integram a estrutura do Poder Judiciário e nem seus membros são magistrados. Limites Internacionais Os limites internacionais da jurisdição brasileira são estipulados por nossa soberania com a preocupação de ser importante a convivência de nosso país com os diversos Estados nacionais, bem como por critérios de conveniência e viabilidade. Essas limitações são impostas pelas normas internas de cada Estado, sendo que não há grande interesse em aumentar exageradamente a área de abrangência de sua jurisdição para fora de seu território. [...] o legislador não leva muito longe a jurisdição de seu país, tendo em conta principalmente duas ponderações ditadas pela experiência e pela necessidade de coexistência com outros Estados soberanos: a) a conveniência (excluem-se os conflitos irrelevantes para o Estado, porque o que lhe interessa, afinal, é a pacificação no seio da sua própria convivência social); b) a viabilidade (excluem-se os casos em que não será possível a imposição da autoridade do cumprimento da sentença).(CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 175, Grifos nossos) Como decorrência dessas limitações, o legislador brasileiro estabeleceu os limites internacionais da jurisdição brasileira no artigo 12 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, ou seja, podem ser propostas ações judiciais em nosso país: • Quando o réu for domiciliado no Brasil; • Se a obrigação tiver que ser cumprida em nosso país; • Se o litígio tiver, por objeto, imóvel aqui situado. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. § 1º. Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil. [...] No Código de Processo Civil, essas questões estão disciplinadas nos artigos 21 a 23, que seguem, em grande parte, as linhas da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Código de Processo Civil Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. 9 Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: I – de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos. II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional. As hipóteses dos artigos 21 e 22 do Código de Processo Civil se referem a ações: • Em que a jurisdição do Estado Brasileiro poderá atuar; • Essas normas indicam hipóteses em que também é possível que a ação possa ser proposta em jurisdição de outro país, desde que haja essa possibilidade na legislação estrangeira. Assim, são hipóteses denominadas de jurisdição concorrente, ou seja, poderá atuar a jurisdição brasileira ou a jurisdição de um Estado estrangeiro, sem que, para o sistema jurídico brasileiro, haja qualquer nulidade ou defeito. Assim, são hipóteses denominadas de jurisdição concorrente, ou seja, poderá atuar a jurisdição brasileira ou a jurisdição de um Estado estrangeiro, sem que, para o sistema jurídico brasileiro, haja qualquer nulidade ou defeito. Situação diversa ocorre nas hipóteses do artigo 23 do Código. Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Nas situações descritas no artigo 23 do Código de Processo Civil, somente a jurisdição brasileira poderá atuar, não se reconhecendo em nosso país qualquer efeito para eventuais decisões ou medidas judiciais que tratem desses temas. Nessas situações, falamos em jurisdição exclusiva. Devemos destacar, igualmente, que a jurisdição internacional penal é delimitada pelo âmbito de aplicação no espaço da lei penal brasileira. Portanto, quando o direito penal brasileiro for aplicado, também será aplicadaa legislação processual penal brasileira e sempre atuará um órgão jurisdicional nacional. A definição da aplicação da lei penal brasileira no espaço encontra-se nos artigos 5º a 7º do Código Penal. Jurisdição Voluntária e Jurisdição Contenciosa Pelo que já estudamos, podemos constatar que todo litígio apresenta, intrinsecamente,uma animosidade, uma relação jurídica contenciosa. Decorre dessa premissa que a jurisdição carrega em si a ideia de conflito. Sendo assim, falamos de jurisdição contenciosa. Há, contudo, certas situações em que os juízes são chamados, em razão da lei, a participar de relações em que essa contraposição de interesses não existe. Nesses casos, não há propriamente o exercício do poder jurisdicional, mas mera administração pública de interesses privados. Nesses casos, apesar de não haver a aplicação da jurisdição propriamente dita, falamos em jurisdição voluntária. Jurisdição Voluntária, é de todo impróprio, pois não existe o exercício do poder jurisdicional, mas uma atividade administrativa desempenhada pelos juízes. Alguns doutrinadores afirmam que, na jurisdição voluntária, também denominada graciosa ou administrativa, não vislumbramos a presença de partes, mas de interessados, 10 nem de processo, mas tão-somente de procedimento, que se apresenta como um minus em relação ao primeiro. (MONTENEGRO FILHO, 2010, p. 49) Um exemplo de jurisdição voluntária ocorre quando um casal com filhos incapazes, de forma consensual, resolve se divorciar. Em situações como essa, fica muito clara a intenção do legislador em realizar o direto acompanhamento estatal desse importante ato da vida pessoal dos interessados, contudo não podemos falar na existência de uma lide que precise ser resolvida pelo Poder Judiciário. Também há jurisdição voluntária na abertura, registro e cumprimento de testamentos e codicilos; na arrecadação de bens da herança jacente; na interdição, dentre outros diversos exemplos. Competência Em razão do Princípio da Aderência, em todos os litígios havidos em nosso território, sempre deve haver um órgão jurisdicional que possua o poder de apreciar o conflito que lhe está sendo apresentado. Por outro lado, até mesmo por razões de racionalização e organização na prestação dessa importante função pública, seria inconcebível que os juízes pudessem apreciar litígios de todas as naturezas (penais, tributários, previdenciários, empresariais etc.) havidos em qualquer parte de nosso território. Isso demonstra a necessidade de se estipular uma área material e territorial de aplicação da jurisdição de cada um desses órgãos. Essa estipulação chamamos de competência. A competência, portanto, é o poder que tem um órgão jurisdicional de fazer atuar a jurisdição diante de um caso concreto. Decorre esse poder de uma delimitação prévia, constitucional e legal, estabelecida segundo critérios de especialização da justiça, distribuição territorial e divisão de serviço. (GRECO FILHO, 2010, p. 204). As principais fontes para a determinação da competência de cada órgão jurisdicional são as seguintes: • Constituição Federal; • Leis processuais; • Lei de Organização Judiciária Nacional e Estaduais. A Organização Judiciária Já conhecemos o que é a jurisdição e vimos que, de forma concreta, ela atua por meio de órgãos judiciais, juízes e tribunais. Outro ponto importante de nosso estudo é a necessidade de se organizar, de forma eficiente e racional, o trabalho de cada um desses órgãos, o que se denomina competência. Conhecer as características e a organização judiciária brasileira é de extrema importância para o profissional do Direito, pois é com esses órgãos que ele irá, em grande parte de seu tempo, se relacionar no desempenho de suas funções. Além disso, esse conhecimento é de extrema importância para a definição da competência de cada um deles. Em razão do Princípio do Juiz Natural, a existência prévia desses órgãos é uma exigência para que as lides sejam resolvidas com justiça e imparcialidade. Dessa forma, todos os órgãos do Poder Judiciário estão previstos em nosso texto constitucional. Supremo Tribunal Federal O Supremo Tribunal Federal é o guardião da Constituição Federal, assim, em qualquer processo em que se cogite a aplicação ou não de determinado dispositivo nela inserido, é esse tribunal quem tem a palavra final. Ele é composto por onze ministros, todos brasileiros natos, exigência imposta unicamente nesse tribunal – § 3º do artigo 12 do texto constitucional. A nomeação de seus membros é realizada pelo Presidente da República, sendo necessária a prévia aprovação do indicado pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal. Além dos anteriormente apontados, exige-se que o indicado tenha “notório saber jurídico” e “reputação ilibada”. Sua competência é detalhada pelo artigo 102 da Constituição Federal. Outro ponto que deve ser destacado em sua atuação jurisdicional é que esse tribunal pode editar as chamadas súmulas vinculantes. As súmulas representam o entendimento do tribunal que as editou sobre determinada 11 matéria. Elas nunca vincularam as instâncias inferiores, contudo, nas súmulas vinculantes a situação é diferente. O chamado “efeito vinculante” se aplica aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública e estabelece a obrigatoriedade de acatamento da interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal para a questão que é objeto de seu texto. Além das súmulas vinculantes, o Supremo Tribunal Federal edita súmulas normais, ou seja, aquelas não vinculantes. Conselho Nacional de Justiça O Conselho Nacional de Justiça foi criado pela Emenda Constitucional 45/2004, sendo que ele não é propriamente um órgão jurisdicional, mas um órgão responsável pelo controle externo do Poder Judiciário. Esse controle externo não se destina a rever decisões judiciais, e sim o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Justiça Comum A competência da Justiça Comum é determinada de forma residual, ou seja, ela irá processar e julgar as causas que não estejam sob a competência da Justiça Especial (trabalhista, eleitoral e militar), existindo tanto na esfera federal quanto na estadual, sendo seu principal tribunal o Superior Tribunal de Justiça. Superior Tribunal de Justiça O Superior Tribunal de Justiça é composto por, no mínimo, trinta e três ministros, que são nomeados pelo Presidente da República – dentre brasileiros natos ou naturalizados, com idade entre 35 e 65 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada – depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. Esse tribunal é o guardião da legislação federal, realizando uma unificação na sua aplicação, sendo que sua competência é detalhada no artigo 105 da Constituição Federal. Justiça Federal A Justiça Comum Federal é composta por Tribunais Regionais Federais (em segunda instância) e pelos Juízes Federais (em primeira instância). Há, em nosso país, cinco desses tribunais: • TRF da 1ª Região: está instalado em Brasília, tem competência para julgar as causas do Distrito Federal, de toda a Região Norte, de toda a região Centro-Oeste, exceto Mato Grosso do Sul, mais os Estados do Maranhão, Piauí, Bahia e Minas Gerais; • TRF da 2ª Região: com sede no Rio de Janeiro, julga causas oriundas desse Estado e do Espírito Santo; • TRF da 3ª Região: sediado em São Paulo, julga as causas desse Estado e do Mato Grosso do Sul; • TRF da 4ª Região: sediado em Porto Alegre, julga as causas afetas à Região Sul; • TRF da 5ª Região: sediado em Recife, julga as causas referentes aos Estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Cada um desses tribunais é formado, no mínimo, por sete Desembargadores Federais, cuja competência está descrita no artigo 108 da Constituição Federal.Em primeira instância, na Justiça Comum Federal, atuam os juízes federais, cuja competência é definida no artigo 109 da Constituição Federal. Justiça Estadual Antes de qualquer coisa, devemos observar que a Justiça Comum Estadual possui competência residual, ou seja, ela irá processar e julgar aquelas causas que não são da competência da Justiça Especializada (Eleitoral, Trabalhista e Militar da União), bem como não são da Justiça Comum Federal. Justiça Comum Estadual O órgão máximo da Justiça Estadual é o Tribunal de Justiça, no qual os magistrados são chamados de Desembargadores. A Emenda Constitucional 73, de 6 de junho de 2013, criou mais quatro Tribunais Regionais Federais (6º ao 9º), redistribuindo a competência territorial de todos os tribunais desse tipo, contudo, esses novos órgãos ainda não foram, efetivamente, instalados, em razão da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5017. 12 Esse órgão jurisdicional tem, essencialmente, uma função recursal, cabe a ele julgar os recursos impetrados em razão das decisões proferidas pela primeira instância, a qual é composta pelos Juízes de Direito. Justiça Especializada A chamada “Justiça Especializada” é composta por órgãos jurisdicionais que atuam em três áreas bem específicas, sendo composta pela: Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e Justiça Militar. Justiça Eleitoral A característica mais marcante da Justiça Eleitoral é a de que ela é composta por magistrados que estão em outros ramos do Poder Judiciário e de advogados que, somente temporariamente, fazem parte de seus quadros. Os órgãos da Justiça Eleitoral são: • Tribunal Superior Eleitoral; • Tribunais Regionais Eleitorais; • Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais. O Tribunal Superior Eleitoral é composto por, no mínimo, sete Ministros, sendo que essa composição mínima que é a utilizada atualmente. Cada Estado e o Distrito Federal possuem um Tribunal Regional Eleitoral instalado em sua Capital. Os membros do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais, salvo motivo justificado, servirão a esses tribunais por dois anos. Terminado esse prazo, serão substituídos por outros, respeitadas as mesmas regras de escolha que acabamos de ver. Nenhum deles poderá servir por mais de dois biênios consecutivos. Em primeira instância na Justiça Eleitoral atuam os Juízes Eleitorais. Esses magistrados são Juízes de Direito que acumulam, em suas comarcas, essa função. Justiça do Trabalho A Justiça do Trabalho é composta pelo Tribunal Superior do Trabalho, pelos Tribunais Regionais do Trabalho e pelos Juízes do Trabalho. O Tribunal Superior do Trabalho tem por principal função uniformizar a jurisprudência trabalhista. Para tanto, julga recursos de revista, recursos ordinários e agravos de instrumento contra decisões de Tribunais Regionais do Trabalho e dissídios coletivos de categorias organizadas em nível nacional, além de mandados de segurança, embargos opostos a suas decisões e ações rescisórias. Na segunda instância da Justiça do Trabalho, há vinte e quatro Tribunais Regionais do Trabalho, os quais julgam, sobretudo, recursos relativos às decisões da primeira instância, que é constituída pelos Juízes do Trabalho – que atuam nas Varas do Trabalho. Justiça Militar Esse ramo do Poder Judiciário é composto pelo Superior Tribunal Militar, pelos Tribunais e Juízes Militares. A Constituição Federal fala de Tribunais Militares, contudo eles não existem, atualmente,na estrutura da Justiça Militar da União. Dessa forma, nesse ramo da justiça especializada, temos somente duas instâncias: a primeira, composta pelos Conselhos de Justiça, e a segunda, composta pelo Superior Tribunal Militar. Na primeira instância da Justiça Militar da União temos os Conselhos de Justiça, que são formados por um Juiz Auditor e quatro Oficiais das Forças Armadas. A Constituição Federal define que a Justiça Militar da União é competente para processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Esses crimes são definidos no Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/69), e o processo na Justiça Militar é regido pelo Código de Processo Penal Militar (Decreto-Lei 1.002/69). 13 UNIDADE 2 A Competência no Direito Processual Civil A jurisdição é uma atribuição estatal, que decorre de nossa soberania, sendo que a nossa legislação estabelece as situações em que a jurisdição brasileira poderá atuar de forma concorrente ou de forma exclusiva. Firmadas as hipóteses de atuação de nossa jurisdição, faz-se necessário entender em que situações cada órgão judicial poderá atuar. Para isso, precisamos conhecer a forma como o nosso direito processual estipula a competência de cada um dos órgãos do Poder Judiciário. Competência de Foro e de Juízo A legislação processual civil, em especial, o Código de Processo Civil utiliza para estipulação da competência dos órgãos jurisdicionais os conceitos de foro e de juízo, razão pela qual é necessário compreendê-los. Foro se refere à área territorial em que um determinado órgão jurisdicional (juízo ou tribunal) exerce a sua competência. Em primeira instância, esse conceito corresponde: • Na Justiça Comum Estadual, ao conceito de Comarca; • Na Justiça Comum Federal, ao conceito de Seção Judiciária (ou subseção). Considerando esses elementos, temos, por exemplo: • O foro do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça abrange todo o território nacional; • O foro dos Tribunais Regionais Federais abrange a totalidade da área dos Estados que fazem parte de suas regiões, assim, por exemplo, o foro do Tribunal Regional Federal da 3ª Região compreende o território dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul; • O foro dos Tribunais de Justiça equivale ao território do estado onde ele foi constituído; dessa forma, o foro do Tribunal de Justiça de Minas Gerais corresponde a todo o território mineiro. A comarca tem área mínima de um município, sendo que essa estipulação é realizada pela Lei de Organização Judiciária de cada Estado. Assim, podemos ter: • Comarcas que abrangem somente um município; • Comarcas que abrangem as áreas de vários municípios contíguos. Já o conceito de juízo se refere a uma unidade judiciária composta pelo juiz e seus auxiliares, os quais exercem, em primeira instância, suas atribuições em uma das varas judiciais. Na Justiça Comum Estadual de primeira instância, por exemplo, podemos ter: • Juízos que tratam de questões específicas e relacionadas a determinadas matérias (ratione materiae) ou que envolvam determinadas pessoas, como parte ou interveniente (ratione personae). Dessa forma, temos, dentre outras, Varas de Família (que somente tratam de questões próprias do Direito de Família),Varas de Falência e Recuperação Judicial (que somente tratam de lides que envolvam a falência ou recuperação judicial de empresários) e Varas da Fazenda Pública (em que uma das partes ou interveniente é o Estado, o Distrito Federal, os Municípios etc.); • Juízos com competência não especializada, as chamadas Varas Cíveis. Cabe à Lei de Organização Judiciária estipular quais são os juízos que existem em cada uma das comarcas ou seções judiciárias, bem como se esses órgãos possuem ou não alguma especialização. Juntando esses conceitos, podemos ter: • Comarcas que possuem um único juízo (somente uma vara); • Comarcas que possuem vários juízos (várias varas). Em se tratando de uma ação que deve ser apresentada para a Justiça Comum, para responder a essa pergunta, no âmbito da primeira instância, precisamos: • Verificar qual é o foro competente: para tanto, precisamos conhecer as regras estipuladas pelo Código de Processo Civil para definir em que seção judiciária ou comarca essa ação deva ser proposta; 14 • Em seguida, é necessário verificar qual é o juízo competente e, para tanto, podemosnos deparar com duas possibilidades: » No foro (seção judiciária ou comarca), somente há um juízo de primeira instância, assim, ele será o competente para apreciação da ação; » No foro (seção judiciária ou comarca), há vários juízos de primeira instância: aqui será necessário verificar na Lei de Organização Judiciária em quais ações cada um poderá atuar. Competência Absoluta e Relativa O atual Código de Processo Civil estabelece duas modalidades de competência: absoluta e a relativa. Essa diferenciação leva em consideração a possibilidade de a competência sofrer ou não algum tipo de alteração, em especial, em razão de eventual facilidade para as partes. Absoluta é competência insuscetível de sofrer modificação, seja pela vontade das partes, seja, pelos motivos legais de prorrogação (conexão ou continência). Trata-se de regra fixada em atenção ao interesse público. Relativa, ao contrário, é a competência passível de modificação por vontade das partes ou prorrogação oriunda da conexão ou continência, porque atende principalmente ao interesse particular. (THEODORO JUNIOR, 2015, p. 205) Em especial, no Código de Processo Civil de 1973 (lei atualmente revogada), os critérios estabelecidos para a fixação da competência eram baseados em: • Critério relativo ao valor atribuído à causa; • Critério relativo à matéria discutida na causa ou às pessoas que devem figurar como partes ou intervenientes; • Critério territorial; • Critério funcional ou hierárquico. Ainda que não sejam tão explícitos, esses mesmos critérios foram adotados no atual Código de Processo Civil, razão pela qual precisamos conhecer um pouco mais sobre eles. As competências relativas ao valor atribuído à causa e à matéria (ratione materiae) e a pessoas intervenientes ou que devem ser partes (ratione personae): • não são tratadas pelo Código de Processo Civil; • esse assunto é tratado pelas Leis de Organização Judiciária para estipular, dentro de uma mesma comarca, qual seja o juízo competente. Também deve ser destacado que a competência ratione personae é utilizada pela Constituição Federal, especialmente para quando trata da competência da Justiça Comum Federal . A competência territorial é definida segundo critérios estipulados pelo Código de Processo Civil, pois, com ela, chegaremos ao foro competente. A competência hierárquica ou funcional identifica quando um tribunal pode apreciar eventuais recursos ou as hipóteses em que se caracterizam as suas competências originárias. Aqui também temos algumas situações em que uma ação deve ser destinada a um determinado juízo em razão da existência de outra ação anteriormente ajuizada e que com ela guarda alguma ligação (conexão ou continência). Já a competência relativa ao valor da causa possibilita que a Lei de Organização Judiciária estabeleça esse critério para definir o juízo competente. É o que ocorre na Comarca de São Paulo, onde a Lei de Organização Judiciária estipula que ações até 500 salários mínimos devam tramitar nas Varas Cíveis dos Foros Regionais e acima desse valor nas Varas Cíveis do Foro Central. Sobre a competência absoluta e relativa, Humberto Theodoro Junior ainda acrescenta que: São relativas, segundo o Código, as competências que decorrem do valor e do território (art. 63) e absolutas a ratione materiae, ratione personae e funcional (art. 62). (2015, p. 205) • As competências absolutas: » São de ordem pública, assim, não podem ser modificadas pelas partes; 15 » Podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz e, se não o fizer, as partes podem apresentar essa questão em qualquer tempo. • As competências relativas: » São criadas no interesse das partes, assim, elas podem ser modificadas em razão de eventual interesse demonstrado no caso concreto. Isso se dá: por prorrogação, pela eleição de foro, pela conexão e pela continência; » Não pode ser declarada de ofício pelo juiz; » Se o réu não a alegar no momento adequado (na preliminar de sua contestação), não poderá mais fazê-lo. Essa inércia acarreta a prorrogação da competência do juiz que recebeu a ação. Lembre-se, no âmbito da Justiça Comum, dos passos que precisamos seguir, os quais são os seguintes: • Verificar se a ação deve ser proposta na Justiça Comum Federal ou na Justiça Comum Estadual; • Em seguida, verificar qual é o foro competente – nesse caso, vamos utilizar as regras de competência territorial estabelecidas no Código de Processo Civil; • Por fim, havendo mais de um juízo no foro (seção judicial ou comarca), é necessário verificar qual é o juízo competente, de acordo com as regras estipuladas pela Lei de Organização Judiciária. Perpetuação da Competência Esse assunto também é conhecido como perpetuatio jurisdictionis, sendo previsto no artigo 43 do Código de Processo Civil. O dispositivo é claro ao estabelecer que a competência do órgão jurisdicional é firmada no momento em que a petição inicial é registrada ou distribuída (este último caso ocorre quando há mais de um juízo que poderia, inicialmente, receber a ação). Com isso, são irrelevantes para a competência do órgão jurisdicional posteriores modificações de fato ou de direito que ocorrerem durante o processo: • Mudanças em situações de fato: é o que ocorre, por exemplo, se a competência foi firmada pelo local de domicílio do réu e ele se muda no curso do processo. Isso não altera a competência do juízo; • Mudanças em situações de direito: é o que ocorre, por exemplo, se o autor vier a falecer durante o trâmite do processo. Isso não causa qualquer alteração na competência do órgão jurisdicional. A única exceção apontada pelo Código de Processo Civil se dá na extinção do órgão ou na modificação de sua competência absoluta. • A extinção acarreta a remessa dos processos para o órgão que irá sucedê-lo; • Situação diferente ocorre na modificação da competência absoluta. Competência da Justiça Comum Federal A competência da Justiça Comum federal está estipulada no artigo 109 da Constituição Federal, sendo que, nela, há matéria criminal e cível. Em relação às questões cíveis, os critérios adotados são fundados na qualidade das pessoas que participam do processo ou na matéria que nele deve ser discutida. Dentre as hipóteses de natureza cível, deve ser destacada a hipótese mencionada no inciso I, que trata da participação da União, suas autarquias e empresas públicas como partes ou intervenientes no processo, exceto quando a questão envolver: • falência (e a recuperação judicial); • acidentes do trabalho; • questões afetas ao direito eleitoral ou trabalhista. Nessas exceções: • nas duas primeiras hipóteses, a ação deve ser proposta na Justiça Comum Estadual; • na última, na Justiça Especializada. Destaque-se que essas hipóteses são todas de competência absoluta. Súmula 33 do Superior Tribunal de Justiça A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício. 16 Para se estabelecer o foro competente para essas ações, é necessário verificar o disposto nos parágrafos do artigo 109 da Constituição Federal. Art. 109. [...] § 1º. As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte; § 2º. As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. Assim: • Se a União propõe uma ação contra qualquer pessoa, deverá fazê-lo na seção judiciária em que essa pessoa tem domicílio (foro competente); • Se qualquer pessoa apresenta à jurisdição uma ação contra a União, o foro competente é o do domicílio do proponente da ação. Regulando esse dispositivo, estabelece o Código de Processo Civil que: Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causasem que seja autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal. Regras para Definição do Foro Competente no Código de Processo Civil Trazendo à colação as explicações de Marcus Vinícius Rios Gonçalves, temos que: As principais regras de competência de foro formuladas pelo CPC estão nos arts. 46 a 53. A regra geral é a prevista no art. 46, caput, do CPC. Os arts. 48, 49 e 50 constituem apenas explicações dessa norma geral, que institui o foro comum. Já os arts. 47, 51, parágrafo único, 52, parágrafo único, e 53 constituem exceções, os chamados foros especiais. (GONÇALVES, 2016, p. 128) Regras do Foro Comum A regra do artigo 46, caput, em que se estabelece o chamado “foro comum” éa seguinte: Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. [...] Essas ações podem tratar de assuntos variados, tais como obrigações, ontratos,responsabilidade civil etc. Aqui são cabíveis os seguintes destaques: • Essa regra geral deve ceder ante a presença, no caso concreto, de uma regra específica. • A definição de domicílio é dada pelos artigos 70 a 78 do Código Civil. • Por se tratar de um critério territorial, essa regra cria uma forma de competência relativa. Os parágrafos do artigo 46 apenas detalham situações específicas ligadas a essa regra. Art. 46. [...] § 1º. Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles; § 2º. Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor; § 3º. Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro; § 4º. Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor; § 5º. A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado. Decorrem da regra do artigo 46, caput, as disposições dos artigos 48, 49 e 50 do Código de Processo Civil. O artigo 48 trata do foro competente para inventários, partilhas, arrecadações, cumprimento de disposições de última vontade, impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o 17 espólio for réu. Nesse caso, o processo deve tramitar no foro de domicílio do autor da herança ( O autor da herança é também conhecido pela expressão latina “de cujus”), ou seja, o domicílio da pessoa falecida. Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente: I – o foro de situação dos bens imóveis; II – havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; III – não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio. No caso do ausente, a ação deve ser proposta no foro de seu último domicílio (artigo 49). Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias. Já as ações contra incapaz devem ser propostas no foro do domicílio do seu representante ou assistente (artigo 50). Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente. Regras do Foro Especial Foro de Situação dos Imóveis em Ações Reais Imobiliárias Essa hipótese é tratada no artigo 47 do Código de Processo Civil que possui a seguinte redação: Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa; § 1º. O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova; § 2º. A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. Sobre essa regra, vamos destacar as seguintes situações: • A definição de bens imóveis está prevista nos artigos 79 a 81 do Código Civil, e os direitos reais estão enumerados no artigo 1.225 desse mesmo código. • Embora a posse não figure entre os direitos reais, a regra fixada no caput do artigo 47 é a ela aplicável em razão do disposto no seu § 2º. • Essa regra é de competência absoluta, contudo, se a ação não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e denunciação de obra nova, é admitida a estipulação de um foro de eleição, ou seja, essa exceção à regra é de competência relativa. Foro para Ações de Divórcio, Separação, Anulação de Casamento e Reconhecimento ou Dissolução de União Estável Essa questão está disciplinada no inciso I do artigo 53 do Código de Processo Civil. Art. 53. É competente o foro: I – para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; [...] Nesse caso, para a definição do foro competente, há as seguintes possibilidades: • Se houver filhos incapazes, a ação deve ser proposta no domicílio do guardião desse incapaz. É o que ocorre, por exemplo, se há uma separação de fato e a mãe permanece com a guarda (ainda que de fato) dos filhos menores. • Se não há filhos incapazes, a ação deve ser proposta no foro do último domicílio do casal. 18 • Contudo, se nenhum deles reside nesse mesmo foro, a ação deve ser proposta no foro do domicílio do réu. Trata-se de uma hipótese de competência relativa. Foro para Ações de Alimentos Essa questão é tratada pelo inciso II do artigo 53 do Código de Processo Civil. Art. 53. [...] II – de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos. Nesse caso, trata-se de uma ação em que alguém (alimentando) pede alimentos,em razão de sua necessidade pessoal. O Código estipula que o foro competente é o de domicílio ou residência do alimentando. Essa mesma regra vale se a ação de alimentos estiver cumulada com ação de investigação de paternidade. Súmula 1 do Superior Tribunal de Justiça O foro do domicilio ou da residência do alimentando e o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos. Trata-se de hipótese de competência relativa. Foro para Ações em Desfavor de Pessoa Jurídica Essa hipótese está descrita nas alíneas “a”, “b” e “c” do inciso III do artigo 53 do Código de Processo Civil. Art. 53. [...] III – do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica; b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu; c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica; Nesse caso, a ação deve ser proposta no foro da sede dessa pessoa jurídica. Uma situação cada vez mais comum se refere a pessoas jurídicas que não possuem sede em nosso país; nesse caso, a ação deve ser proposta no foro de sua agência ou sucursal. Se, contudo, a sociedade ou associação não possuir personalidade jurídica a ação deve ser apresentada no foro onde ela exerce suas atividades.Aqui também temos hipóteses de competência relativa. Foro para Ações de Inadimplemento de Obrigação O assunto é tratado pela alínea “d” do inciso III do artigo 53 do Código de Processo Civil. Art. 53. [...] III – do lugar: d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento. Se o autor exige o cumprimento de uma obrigação, tal como a entrega de um determinado bem comprado por uma indústria de outro fabricante, a ação deve ser proposta no local onde essa obrigação deveria ser satisfeita. Se o autor busca outras consequências derivadas do inadimplemento, tal como uma indenização, a ação deve ser proposta no foro comum – artigo 46. Por ser baseada em um critério territorial, trata-se de uma hipótese de competência relativa. Foro para Ações Fundadas no Estatuto do Idoso As ações fundadas em direito atribuído pelo Estatuto do Idoso – Lei n.º 10.741/03 – devem ser propostas no foro de residência do idoso. Nesse estatuto, o idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Devemos destacar que não se trata de uma regra aplicável para todas as ações que envolvem idosos, mas somente para aquelas que buscam direitos estipulados nessa norma. Art. 53. [...] III – do lugar: 19 e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto. Trata-se de uma regra de competência relativa. Foro para Ação de Reparação de Danos Causados por Serventia Notarial ou de Registro Essa hipótese está prevista na alínea “f” do inciso III do artigo 53 do Código de Processo Civil. Art. 53. [...] III – do lugar: f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício. Nesse caso, a ação deve ser proposta no foro onde se localiza a sede da serventia. Trata-se de uma regra de competência relativa. Foro para Ações de Reparação de Dano e em que for Réu Administrador ou Gestor de Negócios Alheios Nesses casos, previstos no inciso IV do artigo 53 do Código de Processo Civil, a ação deve ser proposta no lugar do ato ou fato que gerou o litígio. Art. 53. [...] IV – do lugar do ato ou fato para a ação: a) de reparação de dano; b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios. Se, contudo, a ação reparatória dos danos tiver como fundamento a prática de um delito (crime) ou danos sofridos em razão de acidente de veículos, inclusive aeronaves, a ação deverá ser proposta no domicílio do autor ou no foro do local onde os fatos geradores ocorreram (inciso V do artigo 53 do Código de Processo Civil). Art. 53. [...] V – de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves. Aqui, mais uma vez, temos a competência estabelecida por critérios territoriais, sendo assim, classificada como relativa. Foro nas Ações que Envolvam os Estados ou o Distrito Federal O artigo 52 do Código de Processo Civil trata das hipóteses de ações propostas pelos Estados ou pelo Distrito Federal ou em desfavor dessas pessoas de direito público. Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal; Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado. Quando o Estado ou o Distrito Federal forem autores da ação, a competência do foro segue a regra geral, ou seja, será competente o foro de domicílio do réu. Contudo, se eles forem demandados, a ação pode ser proposta: • No foro de domicílio do autor; • No foro onde ocorreu o ato ou fato que originou o litígio; • No foro da situação da coisa; • No foro da Capital da Unidade federativa. Por serem baseadas em critérios territoriais, essa competência é relativa. Competência dos Juizados Especiais Cíveis O Juizado Especial Civil foi criado pela Lei n.º 9.099/95 com a finalidade de processar e julgar com maior celeridade ações cíveis de menor complexidade. Posteriormente, foram criados: • Juizados Especiais Cíveis no âmbito da Justiça Federal pela Lei n.º 10.259/01; • Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios pela Lei n.º 12.153/09. Em relação às ações regidas pela Lei n.º 9.099/95, a competência material dos Juizados Especiais está firmada no artigo 3º da lei. Nessas hipóteses, pode o autor escolher propor a ação perante o Juizado Especial ou perante 20 uma Vara Cível comum, situação em que devem ser obedecidas as regras de competência de foro definidas no artigo 4º da Lei n.º 9.099/95. Tendo o autor optado por apresentar a ação no Juizado Especial, a competência deste é absoluta, mesmo quando baseada em critérios territoriais. Em relação aos Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal e da Fazenda Pública, não existe opção do autor para a apresentação da ação, havendo, da mesma forma, uma competência absoluta desses órgãos judiciais para atuar nas demandas que lhe são próprias. Modificação da Competência Relativa A competência absoluta não pode ser alterada pela vontade das partes, pois se baseia em critérios de ordem pública. Situação diversa ocorre nas hipóteses em que ficar configurada a competência relativa do órgão jurisdicional, podendo a modificação se dar por prorrogação, eleição de foro, conexão e continência. Prorrogação da Competência Se o autor apresentar a ação em um órgão judicial que não possui competência para aquela demanda e sendo essa incompetência relativa, poderá o réu na primeira oportunidade que tem para se manifestar nos autos, ou seja, na contestação, alegar essa situação. Se não o fizer, a competência daquele órgão será prorrogada e ele poderá, regularmente,processar e decidir o litígio. Nos termos da Súmula 33 do Superior Tribunal de Justiça, não pode o juiz declinar de sua competência de ofício, isto é, sem a provocação do réu. ELEIÇÃO DE FORO As partes, em geral nos contratos, podem estipular um foro específico, onde eventuais ações decorrentes dessa relação jurídica podem ser ajuizadas. Dessa forma, como essa eleição somente se baseia em critérios territoriais (as partes escolhem o foro), ela é admissível. Observe que as partes não podem eleger o juízo competente, pois as regras de juízo são de competência absoluta. O artigo 63 do Código de Processo Civil estabelece que essa eleição somente é possível se estivermos tratando de situações afetas ao Direito das Obrigações. CONEXÃO E CONTINÊNCIA A conexão e a continência são situações em que o legislador determinou que ações semelhantes devam ter um julgamento conjunto, principalmente para que não haja decisões conflitantes. A apuração dessa semelhança se dá com base nos chamados elementos identificadores de uma ação: • Partes; • Causa de pedir; • Pedido. » As partes identificam, em especial, o autor e o réu que estão integrados na relação processual; » A causa de pedir se relaciona aos fundamentos fáticos e jurídicos que sustentam a ação. É o que ocorre, por exemplo, em uma ação indenizatória fundada em um acidente de trânsito em que o veículo do autor acabou sendo danificado (fundamento fático). O autor, ao apresentar a lide à jurisdição, alega como fundamento de sua pretensão os artigos 927 e seguintes do Código Civil (fundamento jurídico); » O pedido é providência que o autor da ação busca junto à jurisdição. No exemplo acima, a condenação do réu para que ele seja obrigado a efetuar o pagamento dos prejuízos decorrentes do acidente. Dessa forma, a conexão se caracteriza, sendo o Código de Processo Civil: Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou acausa de pedir. Já a continência é ocorre na situação descrita no artigo 56: Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais. 21 UNIDADE 03 Os Princípios Processuais, a Ação, a Exceção e o Processo OS PRINCÍPIOS JURÍDICOS A jurisdição atua por intermédio de uma relação jurídica que liga as partes ao Estado-Juiz, sendo que essa relação jurídica está sujeita a uma série de normas, as quais são subdivididas em regras e princípios jurídicos, sendo que vamos agora estudar estes últimos. Importante, nesse sentido, é trazer à colação a clássica definição de Celso Antônio Bandeira de Mello para os princípios jurídicos: Princípio [...] é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. (MELLO, 2003, p. 817). ______________________________________ Seguindo essas lições, podemos concluir que é triplo o papel dos princípios. • Em primeiro lugar, eles desempenham a tarefa de estruturar o sistema jurídico dando seu caráter. Portanto, sua análise permite verificar a exata correlação os poderes do Estado e os direitos fundamentais dos cidadãos; • Em segundo lugar, os princípios servem como diretrizes maiores na elaboração normativa. Sem os princípios, o corpo normativo apresentar-se-ia disforme e sem consistência, pois a produção legislativa não teria um claro rumo a seguir; • Por último, os princípios desempenham um importante papel na interpretação das normas que compõem o sistema, visando trazer harmonia em sua aplicação. O Papel dos Princípios do Processo na Constituição Federal O fato de um princípio estar previsto em nossa Carta potencializa seu papel no sistema normativo, pois “o princípio da supremacia requer que todas as situações jurídicas se conformem com os princípios e preceitos da Constituição” (SILVA, 2000, p. 48). Nenhuma interpretação poderá ser havida por boa (e, portanto, por jurídica) se, direta ou indiretamente, vier a afrontar um princípio jurídico- constitucional. [...] O princípio cumpre uma função informadora dentro do Ordenamento jurídico e, assim, as diversas normas devem ser aplicadas em sintonia com ele. (CARRAZZA, 2004, pp. 37-38) Assim, “a interpretação de uma norma constitucional levará em conta todo o sistema, tal como positivado, dando-se ênfase, porém, para os princípios que foram valorizados pelo constituinte” (TEMER, 2003, p. 23). Aqui há, na verdade, uma dupla potencialização: • Em primeiro lugar, em razão do papel que os princípios possuem dentro do sistema normativo; • Também deve ser considerado o chamado Princípio da Supremacia Constitucional,que dá destacado poder normativo para as normas constitucionais, em razão do importante papel que esse diploma possui dentro do sistema jurídico. Dessa forma, um princípio constitucional acaba por ter um papel muito mais destacado no sistema normativo que um princípio que não possui essa mesma característica, pois o Princípio da Supremacia Constitucional exige que todas as normas do sistema jurídico se conformem com os princípios e preceitos constitucionais. Princípios Processuais Agora que já conhecemos o que são os princípios e a importância que eles representam no Direito Processual, vamos conhecer aqueles mais importantes. Princípio do Devido Processo Legal A correta aplicação da lei não pode prescindir de um processo que siga fielmente as premissas de respeito aos direitos fundamentais dos indivíduos. Assim, “o processo constitui a primeira e mais fundamental garantia do 22 indivíduo, pois é por meio desse instrumento que se realiza a proteção efetiva dos direitos fundamentais consagrados pela Constituição” (GOMES FILHO, 2001, p. 28). O princípio firma a ideia de que o processo deve guardar perfeita sintonia com o sistema normativo em que ele está inserido, não podendo ser utilizado como instrumento para a atuação arbitrária do Estado e nem se afastar, mesmo que ideologicamente,da estrita obediência dos direitos fundamentais do acusado. Por sua própria formulação, é certo que esse princípio passou a ser visto como um gênero que comporta como espécies constituintes outros, tais como o contraditório, a ampla defesa, a garantia do juiz natural, da motivação, da publicidade dos atos processuais, os quais, no conjunto, estão orientados para que o processo seja justo e legal. Além de expressamente previsto no texto constitucional (artigo 5º, inciso LIV), ele mencionado em diversos tratados e convenções internacionais de direitos humanos. Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório A estrutura dialética do processo coloca as partes em posições antagônicas, contudo, necessariamente, elas devem estar em equilíbrio, “com iguais direitos, ônus,obrigações e faculdades” (TOURINHO FILHO, 2000, p. 45). Essa igualdade é um dos consectários lógicos decorrentes do Princípio do Devido Processo Legal e do Estado Democrático de Direito. Dessa construção, verifica-se que os Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa estão ligados por umbilical relação de necessidade e complementaridade. Em nosso sistema constitucional, esses princípios foram inicialmente plasmados pela Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de novembro de 1937, sendo que eles acabaram sendo repetidos pelas demais Constituições Brasileiras, sendo que, na atual, estão previstos no inciso LV do artigo 5º, com a seguinte formulação: Art. 5º. [...] LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; A ampla defesa deve ser entendida como uma garantia que é dada “ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se, se entender necessário” (MORAES, 2005, p. 93). Para que se efetive, ela acaba por se desdobrar em outros princípios. Em primeiro lugar, podemos lembrar o direito de o réu ser assistido por defensor com conhecimentos técnico-jurídicos, mesmo que não tenha recursos suficientes para tal. Nesse particular, importante é a previsão constante em nossa Constituição, no artigo 5º, inciso LXXIV. Também engloba o conceito de ampla defesa, a possibilidade de o réu recorrer das decisões que lhes sejam desfavoráveis. Já o Princípio do Contraditório é, de forma clássica, definido entre nós como a “ciência bilateral dos atos e termos processuais e a possibilidade de contrariálos” (FERNANDES, 2005, p. 61). Diante de sua formulação, o contraditório tem, como primeiro aspecto, o direito de informação. A estrutura do processo acarreta a necessidade de a defesa ser inicialmente informada do exato conteúdo dos fatos ilícitos atribuídos ao réu bem como das consequências jurídicas a que este estará sujeito em caso de condenação. Em nossa legislação processual, essa função é desempenhada pela citação que, em geral, é acompanhada de cópia da denúncia ou da queixa (no processo penal) ou da petição inicial (no processo civil). Citação é um dos primeiros atos do processo. Por meio dela, o juiz informa ao réu os motivos pelo qual foi iniciado o processo, dando-lhe ciência sobre os termos da acusação que contra ele recai. Esse direito à informação não se esgota com a citação; também ele deverá ser observado durante todo o processo, sendo
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