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Teoria Geral do Processo - resumo caderno

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1 
 
Teoria Geral do 
Processo 
_____________________________________ 
UNIDADE 01 
O Direito Processual e a Jurisdição 
Necessidade do Direito 
O Direito se firmou desde os primórdios dos 
tempos como uma necessidade nos grupos 
sociais que historicamente foram se 
estabelecendo. 
Sem normas que criem uma mínima 
organização social, a convivência humana se 
mostra caótica, pois, naturalmente, em todo 
grupo social as relações entre seus membros 
(relações intersubjetivas) acabam por criar 
conflitos que precisam ser resolvidos. 
Podemos dizer que a “tarefa da ordem jurídica é 
exatamente a de harmonizar as relações 
intersubjetivas, a fim de ensejar a máxima 
realização dos valores humanos com o mínimo 
de sacrifício e desgaste” (CINTRA, GRINOVER 
e DINAMARCO, 2012, p. 27). 
Esses conflitos intersubjetivos, ou seja, conflitos 
entre os componentes de um grupo social, 
podem ocorrer em razão de uma série de 
situações, mas, em geral, eles se estabelecem 
em razão da pretensão de um sujeito em 
relação a um bem. 
Há, basicamente, três possibilidades de 
eliminação do conflito, ou seja, ele pode ser 
resolvido: 
• Por obra de um dos sujeitos em conflito; 
• Por obra de ambos os sujeitos em conflito; 
• Em razão da atuação de um terceiro. 
Formas de Solução de Litígios 
Há três formas básicas de solução: a 
autotutela, a autocomposição e a 
heterocomposição. 
Autotutela 
A autotutela, também conhecida como 
autodefesa, é a forma mais primitiva de 
resolução de um conflito intersubjetivo. Ela foi, 
particularmente, importante quando não havia 
um Estado capaz de impor suas decisões sobre 
os indivíduos. 
Caracteriza-se pelo uso da força própria para 
obter a satisfação de suas pretensões, ou seja, 
a questão era resolvida por meio da força e da 
ameaça, prevalecendo a vontade daquele que 
era mais forte e astuto, sem qualquer 
consideração sobre o que seria justo no conflito. 
Autocomposição 
Na autocomposição, uma ou as duas partes em 
conflito concordam em dispor, total ou 
parcialmente, do interesse que gerou o conflito. 
Há três formas: 
• Desistência: caracteriza-se pela renúncia à 
pretensão; 
• Submissão: o sujeito renúncia ao bem, 
deixando de oferecer resistência à pretensão da 
outra parte; 
• Transação: caracterizada por concessões 
recíprocas 
**IMPORTANTE: 
• Em nosso sistema jurídico, a autocomposição 
somente pode ocorrer se a lide recair sobre 
direitos disponíveis, ou seja: 
[...] sempre que não se trate de direitos tão 
intimamente ligados ao próprio modo de ser da 
pessoa, que sua perda a degrade a situações 
intoleráveis. 
Trata-se dos chamados direitos de 
personalidade (vida, incolumidade física, 
liberdade, honra, propriedade intelectual, 
intimidade, estado etc.). Quando a causa versar 
sobre interesses dessa ordem, diz-se que as 
partes não têm disponibilidade de seus próprios 
interesses (matéria penal, direito de família etc.) 
(CINTRA; GRINOVER;DINAMARCO, 2012, p. 
37-38). 
• A autocomposição pode ocorrer tanto no 
âmbito exclusivo das partes em conflito, sem 
qualquer forma de atuação estatal ou de 
terceiros (hipóteses em que será classificada 
como extraprocessual), quanto no interior de um 
processo judicial (enquadrando-se como 
endoprocessual). 
Muito embora seja sempre a melhor solução, a 
autocomposição não é suficiente para resolver 
todos os conflitos, pois ela é dependente da 
vontade das partes em discutir a questão e abrir 
mão, ainda que parcialmente, de suas 
pretensões. 
2 
 
Assim, sem essa vontade em discutir e de 
chegar a um acordo, não é viável a 
autocomposição. 
Heterocomposição 
Como muitas vezes os sujeitos permanecem 
intransigentes em relação ao conflito ou não 
conseguem sozinhos chegar a uma solução, o 
melhor é buscar um terceiro (árbitro ou juiz) que 
resolverá o litígio. 
Nos primórdios, muitas das vezes, o papel de 
árbitro era desempenhado por sacerdotes ou 
por anciãos, os quais, em geral, tinham maior 
conhecimento dos costumes daquele grupo 
social e, com esse critério, decidiam a questão 
que lhes era posta. Pouco a pouco, contudo, o 
Estado se fortalece e passa a assumir o papel 
de decidir esses conflitos,bem como impor suas 
decisões aos indivíduos. 
Essas características decorrem da onopolização 
do uso da força de que a ordem coercitiva, 
representada pelo Direito, se vale. 
 
O Direito é uma organização da força. 
Porque o Direito vincula certas condições 
para o uso da força apenas por certos 
indivíduos e sob certas circunstâncias. 
(KELSEN, 2000, p. 30) 
______________________________________ 
Ao assumir a função de decidir os conflitos, o 
Estado diminui a importância da autotutela. 
Com essa passagem do poder de julgar para o 
Estado, passamos a falar em jurisdição. 
Como decorrência da jurisdição, o Estado pode 
decidir imperativamente as pretensões a ele 
apresentadas, bem como impõe suas decisões 
às partes que estavam em conflito. 
Muito embora os costumes ainda tenham 
destacada importância como fonte de Direito,a 
passagem da justiça privada para a justiça 
pública trouxe como consequência o aumento 
da importância da lei como fonte para reger as 
condutas dos componentes da sociedade em 
suas relações. Outro ponto que precisamos 
destacar é que a jurisdição atua mediante um 
instrumento denominado processo. 
Panorama Atual 
É importante destacar que não ocorreu um 
desenvolvimento linear dessas fases em todos 
os lugares, sendo que houve avanços e 
retrocessos. 
Nos dias atuais, em razão da vedação do 
emprego da autotutela, esse tipo de proceder se 
caracteriza como crime definido no artigo 345 
do Código Penal – denominado 
“Exercício arbitrário das próprias razões”. 
A despeito dessa regra, excepcionalmente, a 
autotutela é admitida em nosso sistema jurídico, 
tal como ocorre nas seguintes situações: 
O desforço imediato para a defesa da posse: 
 
Código Civil 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser 
mantido na posse em caso de turbação, 
restituído no de esbulho, e segurado de 
violência iminente, se tiver justo receio de ser 
molestado. 
§ 1º. O possuidor turbado, ou esbulhado, 
poderá manter-se ou restituir-se por sua própria 
força, contanto que o faça logo; os atos de 
defesa, ou de desforço, não podem ir além do 
indispensável à manutenção, ou restituição da 
posse. [...] 
 
Na legítima defesa: 
Código Penal 
Legítima defesa 
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, 
usando moderadamente dos meios necessários, 
repele injusta agressão, atual ou iminente, a 
direito seu ou de outrem. [...] 
Essas situações excepcionais são admitidas em 
nosso ordenamento jurídico, em especial, “pela 
impossibilidade de estar o Estado-juiz presente 
sempre que um direito esteja sendo violado ou 
prestes a sê-lo” (CINTRA; GRINOVER; 
DINAMARCO, 2012, p. 37). 
Nas últimas décadas, ocorreu um importante 
fenômeno de valorização da autocomposição e 
da arbitragem, as quais passaram a ser vistas 
como destacadas alternativas à jurisdição 
estatal, em razão da total incapacidade do 
Estado em resolver todos os conflitos 
intersubjetivos, o que acarretou severos 
prejuízos à sua função de pacificação das 
relações sociais. 
3 
 
Esse movimento fez com que fossem criados 
mecanismos processuais e extraprocessuais 
que buscassem a composição dos interesses, 
tal como ocorreu nas seguintes situações: 
• Criação da figura do “conciliador” no Juizado 
Especial Civil – artigo 7º da Lei 9.099/95; 
• Criação da composição civil de danos no 
Juizado Especial Criminal – artigo 72 da Lei 
9.099/95; 
• Expressa determinação, constante do § 3º do 
artigo 3º do Código de Processo Civil, para que 
“a conciliação, a mediação e outros métodos 
de solução consensual de conflitos” sejam 
“estimulados por juízes, advogados, 
defensores públicos e membros do 
Ministério Público, inclusive no curso do 
processo judicial”. 
A arbitragem ganhou grande impulso em nosso 
país com a Lei 9.307/96 e, posteriormente, com 
a Lei 13.129/15 passou a ser aplicada também 
para litígios relativosa direitos patrimoniais 
disponíveis que envolvam a Administração 
Pública. 
Lei 9.307/96 - Art. 1º. As pessoas capazes de 
contratar poderão valer-se da arbitragem para 
dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais 
disponíveis. 
§ 1º. A administração pública direta e indireta 
poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir 
conflitos relativos a direitos patrimoniais 
disponíveis. 
[...] 
Mais recentemente, houve um despertar para a 
mediação como forma de solução de conflitos, o 
que se materializou, particularmente, com a Lei 
13.140/15. 
A mediação se caracteriza por ser uma forma 
de autocomposição em que as tratativas das 
partes são acompanhadas e incentivadas por 
um mediador. 
A mediação pode ser realizada fora do processo 
judicial (mediação extrajudicial) ou no curso dele 
(mediação judicial). 
Além de particulares, a mediação poderá 
envolver controvérsias que têm como partes a 
União, os Estados, o Distrito Federal, os 
Municípios e suas autarquias e fundações. 
Essas duas formas de resolução de litígios 
possuem algumas semelhanças e 
diferenças,sendo que em relação a essas 
últimas devemos destacar que: 
• Na arbitragem o litígio é resolvido por um 
árbitro; 
• Na mediação a lide é resolvida pelas partes, 
incentivadas e orientadas pelo mediador. 
No atual Código de Processo Civil se verifica 
uma destacada preocupação em se incentivar a 
autocomposição, por meio da mediação, 
havendo vários dispositivos que destacam essa 
forma de composição de litígios. 
Código de Processo Civil 
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários 
de solução consensual de conflitos, 
responsáveis pela realização de sessões e 
audiências de conciliação e mediação e pelo 
desenvolvimento de programas destinados a 
auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. 
[...] 
Direito Material e Direito Processual 
Vamos supor que “A” é proprietário de um anel 
de diamantes, sendo que esse bem cai de seu 
dedo quando visitava a casa de “B”. 
“B” fica sabendo que “A” perdeu a joia em sua 
casa e, após procurá-la, consegue localizar o 
anel. Como o anel foi achado em sua casa, “B” 
se diz o novo dono desse bem e se nega a 
devolvê-lo para “A”. 
Como não poderia deixar de ser, “A” não 
concorda com isso e quer o anel de volta. 
Diante da pretensão resistida, formou-se uma 
lide entre “A” e “B”. 
Se verificarmos a nossa legislação, vamos 
encontrar uma importante norma que rege 
situações como essas. 
Código Civil 
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia 
perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo 
possuidor. [...] 
“B”, contudo não aceita a aplicação dessa 
norma e ingressa com uma ação judicial na qual 
solicita que o Poder Judiciário declare que ele é 
o novo dono do anel. 
Ao final do processo, o juiz declara a 
improcedência da ação, pois “B” não é o 
verdadeiro dono do anel. 
Em Síntese 
4 
 
Diante desse exemplo, podemos chegar à 
conclusão de que há duas situações distintas 
que não se confundem: 
• Há uma norma geral que determina um 
comportamento das pessoas em sociedade 
(que as coisas perdidas devem ser devolvidas 
aos donos, por exemplo); 
• Há o direito da parte em litígio de ingressar 
com uma ação judicial para que sua pretensão 
(ou suposta pretensão) seja reconhecida pelo 
Estado-juiz, em razão da jurisdição. 
Assim, temos prescrições normativas sobre a 
forma como deve ser o comportamento das 
pessoas em suas relações, estipulando direitos 
e obrigações referentes a bens e utilidades da 
vida. A esse corpo de norma chamamos de 
Direito Material. 
Essas normas encontram-se no Direito Civil, 
Direito Penal, Direito Tributário, Direito 
Trabalhista etc. 
Há, por outro lado, outro complexo de normas e 
princípios que disciplinam a forma como deve a 
jurisdição atuar, ou seja, qual é o método de 
trabalho (os prazos, as etapas a serem 
seguidas etc.) para que se reconheça a 
pretensão fundamentada pelo Direito Material. A 
esse conjunto de princípios e normas 
chamamos de Direito Processual. 
O Direito Processual é veiculado, em especial, 
pelo Direito Processual Civil, Direito Processual 
Penal, Direito Processual do Trabalho etc. 
Apesar de estarem interligados, o Direito 
Material e o Direito Processual não se 
confundem. 
_____________________________________ 
O direito processual é, assim, do ponto de 
vista de sua função jurídica, um instrumento a 
serviço do direito material: todos os seus 
institutos básicos (jurisdição, ação, exceção, 
processo) são concebidos e justificam-se no 
quadro das instituições do Estado pela 
necessidade de garantir a autoridade do 
ordenamento jurídico. (CINTRA; GRINOVER; 
DINAMARCO, 2012, p. 49) 
______________________________________ 
Temos, portanto, que aquele que tem seu direito 
material violado tem, diante do comportamento 
da outra parte do conflito de interesses, o direito 
de apresentar ao Estado sua pretensão, para 
que ele, no exercício da jurisdição, resolva a 
questão. 
“O direito ao exercício da função jurisdicional é 
denominado direito de ação, sendo conferido a 
todas as pessoas, físicas e jurídicas, de direito 
público e de direito privado” (MONTENEGRO 
FILHO, 2010, p. 106). 
Já o processo “é o instrumento de que se utiliza 
a parte que exercitou o direito de ação na busca 
de uma resposta judicial que ponha fim ao 
conflito de interesses instaurado ou em via de 
sê-lo” (MONTENEGRO FILHO, 2010, p. 155). 
O Direito Processual 
O direito processual é um ramo do Direito 
Público, uma vez que trata da atividade 
jurisdicional do Estado. 
Mesmo quando trata de direitos disponíveis, o 
direito processual não perde a sua feição 
publicista, pois a relação de direito material não 
se confunde com a relação processual formada 
pelas partes da lide, pois esta sempre será de 
Direito Público. 
Particularmente, com a Constituição Federal de 
1988, podemos mencionar que esse ramo do 
Direito se apresenta permeado de diversas 
normas e princípios emanados de nossa Carta 
Magna, o que potencializou sua vocação como 
instrumento de distribuição do justo e do 
equitativo. 
Fontes do Direito Processual 
A principal fonte do direito processual é a lei, 
sendo que, nos termos do artigo 22,inciso I, da 
Constituição Federal, compete à União legislar 
sobre Direito Processual. 
Com isso, as principais normas processuais 
são: 
• O Código de Processo Penal (CPP), 
estabelecido pelo Decreto-Lei 3.689/41, que ao 
longo dos anos passou por diversas alterações; 
• O Código de Processo Civil (CPC), que foi 
criado pela Lei 13.105, de 16 de março de 2015. 
Destacando o seu papel como norma mais 
importante da jurisdição civil, o CPC se inicia 
com a seguinte disposição: 
CPC 
Art. 1º. O processo civil será ordenado, 
disciplinado e interpretado conforme os valores 
5 
 
e as normas fundamentais estabelecidos na 
Constituição da República Federativa do Brasil, 
observando-se as disposições deste Código. 
Além da lei, podemos apontar outras fontes 
do direito processual, em especial as 
seguintes: 
• Constituição Federal; 
• Tratados e Convenções Internacionais; 
• Regimentos Internos de Tribunais. 
Nosso país é signatário de vários tratados e 
convenções internacionais que apresentam 
regras e princípios processuais, os quais, após 
o processo de internalização, podem ser 
aplicados na solução de litígios que são 
apresentados ao Poder Judiciário. 
Por fim, os tribunais, para regular diversas 
situações internas de sua estrutura, editam 
regimentos internos, os quais acabam por tratar 
de algumas questões processuais relacionadas 
a processos e recursos de suas competências. 
Eficácia da Lei Processual no Espaço 
As leis processuais obedecem ao Princípio da 
Territorialidade, ou seja, é a lei processual 
nacional, em especial o Código de Processo 
Civil e o Código de Processo Penal,que deve 
ser aplicada aos processos nos quais atua a 
jurisdição de nosso país. 
Nesse sentido, encontramos as disposições do 
artigo 13 do Código de Processo Civil e o 
artigo 1º do Código de Processo Penal. 
Códigode Processo Civil 
Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas 
normas processuais brasileiras,ressalvadas as 
disposições específicas previstas em tratados, 
convenções ou acordos internacionais de que o 
Brasil seja parte. 
 
Código de Processo Penal 
Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo o 
território brasileiro [...] 
Eficácia da Lei Processual no Tempo 
A lei processual está sujeita à regra geral de 
vigência de leis no tempo, a qual está prescrita 
no caput do artigo 2º da Lei de Introdução às 
Normas do Direito Brasileiro, ou seja, 
a lei, após entrar em vigor, somente será 
revogada por outra lei posteriormente editada. 
Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro 
Art. 2º. Não se destinando à vigência 
temporária, a lei terá vigor até que outra a 
modifique ou revogue. [...] 
Na sucessão de leis processuais no tempo, ou 
seja, quando uma lei processual revoga uma lei 
processual anterior, devemos aplicar as 
seguintes regras: 
• A nova lei processual deve ser imediatamente 
aplicada aos processos em curso; 
• Os atos processuais praticados na vigência da 
lei anterior continuam válidos. 
Nesse sentido, dispõe o artigo 2º do Código 
de Processo Penal que: 
 
Código de Processo Penal 
Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á 
desde logo, sem prejuízo da validade dos atos 
realizados sob a vigência da lei anterior. 
No Código de Processo Civil, as questões 
intertemporais estão dispostas, particularmente, 
no seu artigo 14. 
Código de Processo Civil 
Art. 14. A norma processual não retroagirá e 
será aplicável imediatamente aos processos em 
curso, respeitados os atos processuais 
praticados e as situações jurídicas consolidadas 
sob a vigência da norma revogada. 
Interpretação e Integração da Lei Processual 
A lei processual segue as mesmas regras e 
princípios das leis em geral em relação à sua 
interpretação e integração, ou seja, aqui deve 
ter plena aplicação o disposto nos artigos 4º e 
5º da Lei de Introdução às Normas do Direito 
brasileiro. 
Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro 
Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o 
caso de acordo com a analogia, os costumes e 
os princípios gerais de direito. 
Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos 
fins sociais a que ela se dirige e às exigências 
do bem comum. 
Seguindo a mesma linha indicada na Lei de 
Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro,estabelece o artigo 8º do CPC que: 
6 
 
Código de Processo Civil 
Art. 8º. Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz 
atenderá aos fins sociais e às exigências do 
bem comum, resguardando e promovendo a 
dignidade da pessoa humana e observando a 
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, 
a publicidade e a eficiência. 
Também, ao tratar da interpretação e integração 
de normas processuais, estabelece o artigo 3º 
do Código de Processo Penal a possibilidade da 
interpretação extensiva, da analogia e dos 
princípios gerais do Direito. 
Código de Processo Penal 
Art. 3º. A lei processual penal admitirá 
interpretação extensiva e aplicação analógica 
bem como o suplemento dos princípios gerais 
de direito. 
Jurisdição 
Um dos elementos caracterizadores de um 
Estado é a sua soberania, sendo que dela 
decorre a jurisdição. 
Jurisdição é uma das funções estatais que 
decorre da soberania do Estado, mediante a 
qual este “substitui os titulares dos interesses 
em conflito para, imparcialmente, buscar a 
pacificação do conflito que os envolve, com 
justiça (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 
2012, p. 155). 
Como decorrência da jurisdição, o Estado pode 
decidir imperativamente sobre as pretensões a 
ele apresentadas, bem como impor suas 
decisões às partes que estão em conflito. 
Seguindo os ensinamentos da escola 
processual italiana, a jurisdição, pelo seu 
aspecto jurídico, apresenta os seguintes 
elementos caracterizadores: 
• Caráter substitutivo; 
• Escopo de atuação do direito; 
• Lide; 
• Inércia; e 
• Definitividade. 
Características da Jurisdição 
Caráter Substitutivo 
Quando as partes apresentam à jurisdição suas 
pretensões, esta passará a atuar em 
substituição às atividades daquelas, pois não 
caberá aos litigantes definir como o conflito 
deve ser resolvido, pois essa missão caberá ao 
Estado-Juiz. 
Assim, não são as partes em litígio que definem 
qual delas tem sua pretensão amparada pelo 
Direito, bem como não cabe a qualquer delas 
invadir a esfera jurídica da outra para executar a 
decisão anteriormente proferida. Tudo isso se 
dará por atuação da jurisdição. 
 
A característica essencial da jurisdição [...] é 
a substitutividade, porque o Estado, por uma 
atividade sua, substitui a atividade daqueles que 
estão em conflito na lide, os quais, aliás, estão 
proibidos de ‘fazer justiça com as próprias 
mãos’, tentando satisfazer pessoalmente 
pretensão, ainda que legítima. (GRECO FILHO, 
2010, p. 202). 
___________________________________ 
Como essa atividade estatal atua por meio de 
pessoas físicas, ou seja, o juiz e seus auxiliares, 
a participação delas somente pode ocorrer se 
houver a garantia de imparcialidade, sob pena 
de não haver legitimidade da atuação da 
jurisdição. 
Escopo de Atuação do Direito 
Um dos mais importantes objetivos na atuação 
da jurisdição é fazer com que os conflitos 
intersubjetivos sejam solucionados, sendo que o 
critério a ser utilizado para isso é a aplicação 
das normas de direito material. 
José, proprietário de uma casa, resolve 
locá-la para Pedro, sendo lavrado um 
contrato com fiel obediência das disposições 
legais que tratam do assunto. 
Dois meses depois, o locador se arrepende 
do negócio e avisa Pedro que ele tem quinze 
dias para sair da residência. 
Pedro, para garantir seu direito de 
permanecer no imóvel, ingressa com uma 
ação judicial. 
Qual é o critério que o juiz deverá utilizar 
para resolver esse litígio? 
O juiz irá verificar o que estipulam as normas 
legais (direito material) sobre o assunto, 
sendo que, nesse caso, há uma importante 
regra, no artigo 4º da Lei de Locações (Lei 
8.245/91), que estipula que “Durante o prazo 
estipulado para a duração do contrato, não 
poderá o locador reaver o imóvel alugado. 
[...]”. Será com base nessa norma que a lide 
será resolvida. 
7 
 
 
Dessa forma, por intermédio da jurisdição, as 
normas de direito material que não foram 
espontaneamente observadas, e que por isso 
causaram o litígio, são reafirmadas. 
O juiz, em sua decisão, irá declarar, 
expressamente, qual é a norma de direito 
material que deve regular a relação entre as 
partes. 
Lide 
A jurisdição não se presta a realizar uma função 
consultiva, pois somente pode atuar se estiver 
caracterizada lide. 
 
Lide [...] é o conflito de interesses qualificados 
pela pretensão de um dos interessados e pela 
resistência do outro. Ou, mais sinteticamente, 
lide é conflito de interesses qualificados por uma 
pretensão resistida. (SANTOS, 2010, p. 9) 
_____________________________________ 
Temos dois elementos que formam esse 
conceito: 
• A pretensão de mais de um sujeito em relação 
a um bem; 
• A resistência das pessoas envolvidas, que não 
desejam “abrir mão” de suas pretensões. 
 
Devemos destacar que o bem que é o objeto da 
lide não se restringe a bens materiais, podendo 
abranger bens imateriais e direitos. 
Sem que haja a caracterização do litígio, não 
cabe ao Estado, por intermédio da jurisdição, 
imiscuir-se nas relações que não são 
conflituosas. 
Inércia 
São as partes em conflito que devem buscar a 
jurisdição, nunca o contrário. A jurisdição deve 
permanecer inerte, somente podendo atuar se 
houver a provocação das partes em litígio. 
Isso faz com que o juiz não tenha o poder de 
iniciar o processo (ne procedat iudex ex 
officio), sendo que essa iniciativa cabe ao 
autor, ficando sempre sujeita à sua vontade 
(nemo iudex sine actore). 
Se o juiz agisse sem ter sido provocado pelas 
partes em conflito, ele estaria psicologicamente 
comprometido com o resultado, o que 
prejudicaria a sua imparcialidade. 
Alémdisso, não podemos perder de vista que a 
atuação da jurisdição deve buscar a pacificação 
dos conflitos intersubjetivos. Se o juiz agisse 
sem provocação, ele poderia gerar um conflito 
ao invés de pacificá-lo. 
Há, contudo, situações excepcionais em que o 
juiz pode atuar de ofício. Nessas exceções,há 
fundadas razões de ordem pública que 
justificam a quebra desse princípio. 
No atual Código de Processo Civil, podemos 
indicar como situações em que isso ocorre 
a arrecadação judicial dos bens vagos (art. 738) 
e dos bens que fazem parte da herança jacente 
(art. 744). 
Uma vez que o autor tenha apresentado a lide à 
jurisdição, a inércia deixa de existir,cabendo ao 
juiz determinar a realização dos atos 
processuais, bem como a adoção de outras 
medidas para que todas as etapas estipuladas 
no direito processual sejam vencidas até o final 
do processo. A essa iniciativa do juiz para que 
haja o avanço do processo chamamos de 
“Princípio do Impulso Oficial”. 
Definitividade 
Ao final do processo, a decisão proferida pelo 
juiz, se houver uma apreciação do mérito do 
litígio, tornar-se-á definitiva, não podendo mais 
ser alterada – por vontade das partes, pela 
vontade do juiz ou de qualquer outra pessoa. 
[...] o poder, a função e a atividade jurisdicional 
têm o caráter de definitividade,isto é, ao se 
encerrar o desenvolvimento legal do processo, a 
manifestação do juiz torna-se imutável, não 
admitindo revisão por outro poder. (GRECO 
FILHO, 2010, p. 202) 
Essa característica faz com que haja sempre 
um ponto final de qualquer litígio, pois a decisão 
tornar-se-á imutável, ou seja, formar-se-á a 
coisa julgada. 
Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos 
de uma sentença, em virtude da qual nem as 
partes podem repropor a mesma demanda em 
juízo ou comportar-se de modo diferente daquele 
preceituado, nem os juízes podem voltar a decidir 
a respeito, nem o próprio legislador pode emitir 
preceitos que contrariem, para as partes, o que 
ficou definitivamente julgado (CINTRA; 
GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 160) . 
8 
 
 
Limites da Jurisdição 
Nosso texto constitucional estabelece a 
impossibilidade de a legislação afastar a 
jurisdição na apreciação de lesões a ameaças 
de direito. 
Constituição Federal 
Artigo 5º [...] 
XXXV – a lei não excluirá da apreciação do 
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. 
Limites Internos 
A Constituição Federal de 1988 estabelece uma 
única limitação interna para a atuação de nossa 
jurisdição, a qual se refere à impossibilidade de 
o Poder Judiciário apreciar questões referentes 
à disciplina e às competições desportivas antes 
de esgotados os recursos da chamada Justiça 
Desportiva. 
Constituição Federal 
Artigo 217 
§ 1º. O Poder Judiciário só admitirá ações 
relativas à disciplina e às competições 
desportivas após esgotarem-se as instâncias da 
justiça desportiva, regulada em lei. 
É importante destacar que esses órgãos da 
Justiça Desportiva não integram a estrutura 
do Poder Judiciário e nem seus membros 
são magistrados. 
 
Limites Internacionais 
Os limites internacionais da jurisdição brasileira 
são estipulados por nossa soberania com a 
preocupação de ser importante a convivência de 
nosso país com os diversos Estados nacionais, 
bem como por critérios de conveniência e 
viabilidade. 
Essas limitações são impostas pelas normas 
internas de cada Estado, sendo que não há 
grande interesse em aumentar exageradamente 
a área de abrangência de sua jurisdição para 
fora de seu território. 
 
[...] o legislador não leva muito longe a 
jurisdição de seu país, tendo em conta 
principalmente duas ponderações ditadas pela 
experiência e pela necessidade de coexistência 
com outros Estados soberanos: 
a) a conveniência (excluem-se os conflitos 
irrelevantes para o Estado, porque o que lhe 
interessa, afinal, é a pacificação no seio da sua 
própria convivência social); 
b) a viabilidade (excluem-se os casos em que 
não será possível a imposição da autoridade do 
cumprimento da sentença).(CINTRA; 
GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 175, Grifos 
nossos) 
 
Como decorrência dessas limitações, o 
legislador brasileiro estabeleceu os limites 
internacionais da jurisdição brasileira no artigo 
12 da Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro, ou seja, podem ser propostas ações 
judiciais em nosso país: 
• Quando o réu for domiciliado no Brasil; 
• Se a obrigação tiver que ser cumprida em 
nosso país; 
• Se o litígio tiver, por objeto, imóvel aqui 
situado. 
 
Lei de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro 
Art. 12. É competente a autoridade judiciária 
brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil 
ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. 
§ 1º. Só à autoridade judiciária brasileira 
compete conhecer das ações relativas a imóveis 
situados no Brasil. 
[...] 
No Código de Processo Civil, essas questões 
estão disciplinadas nos artigos 21 a 23, que 
seguem, em grande parte, as linhas da Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro. 
Código de Processo Civil 
Art. 21. Compete à autoridade judiciária 
brasileira processar e julgar as ações em que: 
I – o réu, qualquer que seja a sua 
nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; 
II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; 
III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato 
praticado no Brasil. 
Parágrafo único. Para o fim do disposto no 
inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a 
pessoa jurídica estrangeira que nele tiver 
agência, filial ou sucursal. 
9 
 
Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária 
brasileira processar e julgar as ações: 
I – de alimentos, quando: 
a) o credor tiver domicílio ou residência no 
Brasil; 
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como 
posse ou propriedade de bens, recebimento de 
renda ou obtenção de benefícios econômicos. 
II – decorrentes de relações de consumo, 
quando o consumidor tiver domicílio ou 
residência no Brasil; 
III – em que as partes, expressa ou tacitamente, 
se submeterem à jurisdição 
nacional. 
As hipóteses dos artigos 21 e 22 do Código de 
Processo Civil se referem a ações: 
• Em que a jurisdição do Estado Brasileiro 
poderá atuar; 
• Essas normas indicam hipóteses em que 
também é possível que a ação possa ser 
proposta em jurisdição de outro país, desde que 
haja essa possibilidade na legislação 
estrangeira. 
Assim, são hipóteses denominadas de 
jurisdição concorrente, ou seja, poderá atuar a 
jurisdição brasileira ou a jurisdição de um 
Estado estrangeiro, sem que, para o sistema 
jurídico brasileiro, haja qualquer nulidade ou 
defeito. 
Assim, são hipóteses denominadas de 
jurisdição concorrente, ou seja, poderá atuar 
a jurisdição brasileira ou a jurisdição de um 
Estado estrangeiro, sem que, para o sistema 
jurídico brasileiro, haja qualquer nulidade ou 
defeito. 
Situação diversa ocorre nas hipóteses do artigo 
23 do Código. 
Art. 23. Compete à autoridade judiciária 
brasileira, com exclusão de qualquer outra: 
I – conhecer de ações relativas a imóveis 
situados no Brasil; 
II – em matéria de sucessão hereditária, 
proceder à confirmação de testamento particular 
e ao inventário e à partilha de bens situados no 
Brasil, ainda que o autor da herança seja de 
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio 
fora do território nacional; 
III – em divórcio, separação judicial ou 
dissolução de união estável, proceder à partilha 
de bens situados no Brasil, ainda que o titular 
seja de nacionalidade estrangeira ou tenha 
domicílio fora do território nacional. 
Nas situações descritas no artigo 23 do Código 
de Processo Civil, somente a jurisdição 
brasileira poderá atuar, não se reconhecendo 
em nosso país qualquer efeito para eventuais 
decisões ou medidas judiciais que tratem 
desses temas. Nessas situações, falamos em 
jurisdição exclusiva. 
Devemos destacar, igualmente, que a jurisdição 
internacional penal é delimitada pelo âmbito de 
aplicação no espaço da lei penal brasileira. 
Portanto, quando o direito penal brasileiro for 
aplicado, também será aplicadaa legislação 
processual penal brasileira e sempre atuará um 
órgão jurisdicional nacional. 
A definição da aplicação da lei penal brasileira 
no espaço encontra-se nos artigos 5º a 7º do 
Código Penal. 
Jurisdição Voluntária e Jurisdição 
Contenciosa 
Pelo que já estudamos, podemos constatar que 
todo litígio apresenta, intrinsecamente,uma 
animosidade, uma relação jurídica contenciosa. 
Decorre dessa premissa que a jurisdição 
carrega em si a ideia de conflito. Sendo assim, 
falamos de jurisdição contenciosa. 
Há, contudo, certas situações em que os juízes 
são chamados, em razão da lei, a participar de 
relações em que essa contraposição de 
interesses não existe. Nesses casos, não há 
propriamente o exercício do poder jurisdicional, 
mas mera administração pública de interesses 
privados. Nesses casos, apesar de não haver a 
aplicação da jurisdição propriamente dita, 
falamos em jurisdição voluntária. 
Jurisdição Voluntária, é de todo impróprio, 
pois não existe o exercício do poder 
jurisdicional, mas uma atividade administrativa 
desempenhada pelos juízes. 
Alguns doutrinadores afirmam que, na 
jurisdição voluntária, também denominada 
graciosa ou administrativa, não vislumbramos 
a presença de partes, mas de interessados, 
10 
 
nem de processo, mas tão-somente de 
procedimento, que se apresenta como um 
minus em relação ao primeiro. (MONTENEGRO 
FILHO, 2010, p. 49) 
 Um exemplo de jurisdição voluntária 
ocorre quando um casal com filhos 
incapazes, de forma consensual, resolve 
se divorciar. Em situações como essa, fica 
muito clara a intenção do legislador em realizar 
o direto acompanhamento estatal desse 
importante 
ato da vida pessoal dos interessados, contudo 
não podemos falar na existência de uma 
lide que precise ser resolvida pelo Poder 
Judiciário. 
Também há jurisdição voluntária na abertura, 
registro e cumprimento de testamentos 
e codicilos; na arrecadação de bens da herança 
jacente; na interdição, dentre outros 
diversos exemplos. 
Competência 
Em razão do Princípio da Aderência, em todos 
os litígios havidos em nosso território, sempre 
deve haver um órgão jurisdicional que possua o 
poder de apreciar o conflito que lhe está sendo 
apresentado. 
Por outro lado, até mesmo por razões de 
racionalização e organização na prestação 
dessa importante função pública, seria 
inconcebível que os juízes pudessem apreciar 
litígios de todas as naturezas (penais, 
tributários, previdenciários, empresariais etc.) 
havidos em qualquer parte de nosso território. 
Isso demonstra a necessidade de se estipular 
uma área material e territorial de aplicação da 
jurisdição de cada um desses órgãos. Essa 
estipulação chamamos de competência. 
A competência, portanto, é o poder que tem 
um órgão jurisdicional de fazer atuar a jurisdição 
diante de um caso concreto. Decorre esse 
poder de uma delimitação prévia, 
constitucional e legal, estabelecida segundo 
critérios de especialização da justiça, 
distribuição territorial e divisão de serviço. 
(GRECO FILHO, 2010, p. 204). 
As principais fontes para a determinação da 
competência de cada órgão jurisdicional são as 
seguintes: 
• Constituição Federal; 
• Leis processuais; 
• Lei de Organização Judiciária Nacional e 
Estaduais. 
A Organização Judiciária 
Já conhecemos o que é a jurisdição e vimos 
que, de forma concreta, ela atua por meio de 
órgãos judiciais, juízes e tribunais. 
Outro ponto importante de nosso estudo é a 
necessidade de se organizar, de forma eficiente 
e racional, o trabalho de cada um desses 
órgãos, o que se denomina competência. 
Conhecer as características e a organização 
judiciária brasileira é de extrema importância 
para o profissional do Direito, pois é com esses 
órgãos que ele irá, em grande parte de seu 
tempo, se relacionar no desempenho de suas 
funções. Além disso, esse conhecimento é de 
extrema importância para a definição da 
competência de cada um deles. 
Em razão do Princípio do Juiz Natural, a 
existência prévia desses órgãos é uma 
exigência para que as lides sejam resolvidas 
com justiça e imparcialidade. Dessa forma, 
todos os órgãos do Poder Judiciário estão 
previstos em nosso texto constitucional. 
Supremo Tribunal Federal 
O Supremo Tribunal Federal é o guardião da 
Constituição Federal, assim, em qualquer 
processo em que se cogite a aplicação ou não 
de determinado dispositivo nela inserido, é esse 
tribunal quem tem a palavra final. 
Ele é composto por onze ministros, todos 
brasileiros natos, exigência imposta unicamente 
nesse tribunal – § 3º do artigo 12 do texto 
constitucional. 
A nomeação de seus membros é realizada pelo 
Presidente da República, sendo necessária a 
prévia aprovação do indicado pela maioria 
absoluta dos membros do Senado Federal. 
Além dos anteriormente apontados, exige-se 
que o indicado tenha “notório saber jurídico” 
e “reputação ilibada”. 
Sua competência é detalhada pelo artigo 102 
da Constituição Federal. 
Outro ponto que deve ser destacado em sua 
atuação jurisdicional é que esse tribunal pode 
editar as chamadas súmulas vinculantes. 
As súmulas representam o entendimento do 
tribunal que as editou sobre determinada 
11 
 
matéria. Elas nunca vincularam as instâncias 
inferiores, contudo, nas súmulas vinculantes a 
situação é diferente. O chamado “efeito 
vinculante” se aplica aos demais órgãos do 
Poder Judiciário e à administração pública e 
estabelece a obrigatoriedade de acatamento da 
interpretação dada pelo Supremo Tribunal 
Federal para a questão que é objeto de seu 
texto. 
Além das súmulas vinculantes, o Supremo 
Tribunal Federal edita súmulas normais, ou 
seja, aquelas não vinculantes. 
Conselho Nacional de Justiça 
O Conselho Nacional de Justiça foi criado pela 
Emenda Constitucional 45/2004, sendo que ele 
não é propriamente um órgão jurisdicional, mas 
um órgão responsável pelo controle externo do 
Poder Judiciário. Esse controle externo não se 
destina a rever decisões judiciais, e sim o 
controle da atuação administrativa e financeira 
do Poder Judiciário e do cumprimento dos 
deveres funcionais dos juízes. 
Justiça Comum 
A competência da Justiça Comum é 
determinada de forma residual, ou seja, ela irá 
processar e julgar as causas que não estejam 
sob a competência da Justiça Especial 
(trabalhista, eleitoral e militar), existindo tanto na 
esfera federal quanto na estadual, sendo seu 
principal tribunal o Superior Tribunal de Justiça. 
Superior Tribunal de Justiça 
O Superior Tribunal de Justiça é composto por, 
no mínimo, trinta e três ministros, que são 
nomeados pelo Presidente da República – 
dentre brasileiros natos ou naturalizados, com 
idade entre 35 e 65 anos, de notável saber 
jurídico e reputação ilibada – depois de 
aprovada a escolha pela maioria absoluta do 
Senado Federal. 
Esse tribunal é o guardião da legislação federal, 
realizando uma unificação na sua aplicação, 
sendo que sua competência é detalhada no 
artigo 105 da Constituição Federal. 
Justiça Federal 
A Justiça Comum Federal é composta por 
Tribunais Regionais Federais (em segunda 
instância) e pelos Juízes Federais (em primeira 
instância). 
Há, em nosso país, cinco desses tribunais: 
• TRF da 1ª Região: está instalado em Brasília, 
tem competência para julgar as causas do 
Distrito Federal, de toda a Região Norte, de toda 
a região Centro-Oeste, exceto Mato Grosso do 
Sul, mais os Estados do Maranhão, Piauí, Bahia 
e Minas Gerais; 
• TRF da 2ª Região: com sede no Rio de 
Janeiro, julga causas oriundas desse Estado e 
do Espírito Santo; 
• TRF da 3ª Região: sediado em São Paulo, 
julga as causas desse Estado e do Mato Grosso 
do Sul; 
• TRF da 4ª Região: sediado em Porto Alegre, 
julga as causas afetas à Região Sul; 
• TRF da 5ª Região: sediado em Recife, julga 
as causas referentes aos Estados de Alagoas, 
Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do 
Norte e Sergipe. 
Cada um desses tribunais é formado, no 
mínimo, por sete Desembargadores Federais, 
cuja competência está descrita no artigo 108 da 
Constituição Federal.Em primeira instância, na Justiça Comum 
Federal, atuam os juízes federais, cuja 
competência é definida no artigo 109 da 
Constituição Federal. 
Justiça Estadual 
Antes de qualquer coisa, devemos observar que 
a Justiça Comum Estadual possui competência 
residual, ou seja, ela irá processar e julgar 
aquelas causas que não são da competência da 
Justiça Especializada (Eleitoral, Trabalhista e 
Militar da União), bem como não são da Justiça 
Comum Federal. 
Justiça Comum Estadual 
O órgão máximo da Justiça Estadual é o 
Tribunal de Justiça, no qual os magistrados são 
chamados de Desembargadores. 
A Emenda Constitucional 73, de 6 de junho 
de 2013, criou mais quatro Tribunais 
Regionais Federais (6º ao 9º), redistribuindo 
a competência territorial de todos os 
tribunais desse tipo, contudo, esses novos 
órgãos ainda não foram, efetivamente, 
instalados, em razão da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (ADI) 5017. 
12 
 
Esse órgão jurisdicional tem, essencialmente, 
uma função recursal, cabe a ele julgar os 
recursos impetrados em razão das decisões 
proferidas pela primeira instância, a qual é 
composta pelos Juízes de Direito. 
Justiça Especializada 
A chamada “Justiça Especializada” é 
composta por órgãos jurisdicionais que atuam 
em três áreas bem específicas, sendo composta 
pela: Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e 
Justiça Militar. 
Justiça Eleitoral 
A característica mais marcante da Justiça 
Eleitoral é a de que ela é composta por 
magistrados que estão em outros ramos do 
Poder Judiciário e de advogados que, somente 
temporariamente, fazem parte de seus quadros. 
Os órgãos da Justiça Eleitoral são: 
• Tribunal Superior Eleitoral; 
• Tribunais Regionais Eleitorais; 
• Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais. 
O Tribunal Superior Eleitoral é composto por, no 
mínimo, sete Ministros, sendo que essa 
composição mínima que é a utilizada 
atualmente. 
Cada Estado e o Distrito Federal possuem um 
Tribunal Regional Eleitoral instalado em sua 
Capital. 
Os membros do Tribunal Superior Eleitoral e 
dos Tribunais Regionais Eleitorais, salvo motivo 
justificado, servirão a esses tribunais por dois 
anos. Terminado esse prazo, serão substituídos 
por outros, respeitadas as mesmas regras de 
escolha que acabamos de ver. 
Nenhum deles poderá servir por mais de dois 
biênios consecutivos. 
Em primeira instância na Justiça Eleitoral atuam 
os Juízes Eleitorais. Esses magistrados são 
Juízes de Direito que acumulam, em suas 
comarcas, essa função. 
Justiça do Trabalho 
A Justiça do Trabalho é composta pelo Tribunal 
Superior do Trabalho, pelos Tribunais Regionais 
do Trabalho e pelos Juízes do Trabalho. 
O Tribunal Superior do Trabalho tem por 
principal função uniformizar a jurisprudência 
trabalhista. Para tanto, julga recursos de revista, 
recursos ordinários e agravos de instrumento 
contra decisões de Tribunais Regionais do 
Trabalho e dissídios coletivos de categorias 
organizadas em nível nacional, além de 
mandados de segurança, embargos opostos a 
suas decisões e ações rescisórias. 
Na segunda instância da Justiça do Trabalho, 
há vinte e quatro Tribunais Regionais do 
Trabalho, os quais julgam, sobretudo, recursos 
relativos às decisões da primeira instância, que 
é constituída pelos Juízes do Trabalho – que 
atuam nas Varas do Trabalho. 
 
Justiça Militar 
Esse ramo do Poder Judiciário é composto pelo 
Superior Tribunal Militar, pelos Tribunais e 
Juízes Militares. 
A Constituição Federal fala de Tribunais 
Militares, contudo eles não existem, 
atualmente,na estrutura da Justiça Militar da 
União. Dessa forma, nesse ramo da justiça 
especializada, temos somente duas instâncias: 
a primeira, composta pelos Conselhos de 
Justiça, e a segunda, composta pelo Superior 
Tribunal Militar. 
Na primeira instância da Justiça Militar da União 
temos os Conselhos de Justiça, que são 
formados por um Juiz Auditor e quatro Oficiais 
das Forças Armadas. 
A Constituição Federal define que a Justiça 
Militar da União é competente para processar e 
julgar os crimes militares definidos em lei. Esses 
crimes são definidos no Código Penal Militar 
(Decreto-Lei 1.001/69), e o processo na Justiça 
Militar é regido pelo Código de Processo Penal 
Militar (Decreto-Lei 1.002/69). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
UNIDADE 2 
A Competência no Direito Processual 
Civil 
A jurisdição é uma atribuição estatal, que 
decorre de nossa soberania, sendo que a nossa 
legislação estabelece as situações em que a 
jurisdição brasileira poderá atuar de forma 
concorrente ou de forma exclusiva. 
Firmadas as hipóteses de atuação de nossa 
jurisdição, faz-se necessário entender em que 
situações cada órgão judicial poderá atuar. Para 
isso, precisamos conhecer a forma como o 
nosso direito processual estipula a competência 
de cada um dos órgãos do Poder Judiciário. 
Competência de Foro e de Juízo 
A legislação processual civil, em especial, o 
Código de Processo Civil utiliza para 
estipulação da competência dos órgãos 
jurisdicionais os conceitos de foro e de juízo, 
razão pela qual é necessário compreendê-los. 
Foro se refere à área territorial em que um 
determinado órgão jurisdicional (juízo ou 
tribunal) exerce a sua competência. 
Em primeira instância, esse conceito 
corresponde: 
• Na Justiça Comum Estadual, ao conceito de 
Comarca; 
• Na Justiça Comum Federal, ao conceito de 
Seção Judiciária (ou subseção). 
Considerando esses elementos, temos, por 
exemplo: 
• O foro do Supremo Tribunal Federal e do 
Superior Tribunal de Justiça abrange todo o 
território nacional; 
• O foro dos Tribunais Regionais Federais 
abrange a totalidade da área dos Estados que 
fazem parte de suas regiões, assim, por 
exemplo, o foro do Tribunal Regional Federal da 
3ª Região compreende o território dos Estados 
de São Paulo e Mato Grosso do Sul; 
• O foro dos Tribunais de Justiça equivale ao 
território do estado onde ele foi constituído; 
dessa forma, o foro do Tribunal de Justiça de 
Minas Gerais corresponde a todo o território 
mineiro. 
A comarca tem área mínima de um município, 
sendo que essa estipulação é realizada pela Lei 
de Organização Judiciária de cada Estado. 
Assim, podemos ter: 
• Comarcas que abrangem somente um 
município; 
• Comarcas que abrangem as áreas de vários 
municípios contíguos. 
Já o conceito de juízo se refere a uma unidade 
judiciária composta pelo juiz e seus auxiliares, 
os quais exercem, em primeira instância, suas 
atribuições em uma das varas judiciais. 
Na Justiça Comum Estadual de primeira 
instância, por exemplo, podemos ter: 
• Juízos que tratam de questões específicas e 
relacionadas a determinadas matérias (ratione 
materiae) ou que envolvam determinadas 
pessoas, como parte ou interveniente (ratione 
personae). Dessa forma, temos, dentre outras, 
Varas de Família (que somente tratam de 
questões próprias do Direito de Família),Varas 
de Falência e Recuperação Judicial (que 
somente tratam de lides que envolvam a 
falência ou recuperação judicial de empresários) 
e Varas da Fazenda Pública (em que uma das 
partes ou interveniente é o Estado, o Distrito 
Federal, os Municípios etc.); 
• Juízos com competência não especializada, 
as chamadas Varas Cíveis. 
Cabe à Lei de Organização Judiciária estipular 
quais são os juízos que existem em cada uma 
das comarcas ou seções judiciárias, bem como 
se esses órgãos possuem ou não alguma 
especialização. 
Juntando esses conceitos, podemos ter: 
• Comarcas que possuem um único juízo 
(somente uma vara); 
• Comarcas que possuem vários juízos (várias 
varas). 
Em se tratando de uma ação que deve ser 
apresentada para a Justiça Comum, para 
responder a essa pergunta, no âmbito da 
primeira instância, precisamos: 
• Verificar qual é o foro competente: para tanto, 
precisamos conhecer as regras estipuladas pelo 
Código de Processo Civil para definir em que 
seção judiciária ou comarca essa ação deva ser 
proposta; 
14 
 
• Em seguida, é necessário verificar qual é o 
juízo competente e, para tanto, podemosnos 
deparar com duas possibilidades: 
» No foro (seção judiciária ou comarca), 
somente há um juízo de primeira instância, 
assim, ele será o competente para apreciação 
da ação; 
» No foro (seção judiciária ou comarca), há 
vários juízos de primeira instância: aqui será 
necessário verificar na Lei de Organização 
Judiciária em quais ações cada um poderá 
atuar. 
Competência Absoluta e Relativa 
O atual Código de Processo Civil estabelece 
duas modalidades de competência: absoluta e 
a relativa. 
Essa diferenciação leva em consideração a 
possibilidade de a competência sofrer ou não 
algum tipo de alteração, em especial, em razão 
de eventual facilidade para as partes. 
 
Absoluta é competência insuscetível de sofrer 
modificação, seja pela vontade das partes, seja, 
pelos motivos legais de prorrogação (conexão 
ou continência). Trata-se de regra fixada em 
atenção ao interesse público. 
Relativa, ao contrário, é a competência passível 
de modificação por vontade das partes ou 
prorrogação oriunda da conexão ou continência, 
porque atende principalmente ao interesse 
particular. (THEODORO JUNIOR, 2015, p. 205) 
Em especial, no Código de Processo Civil de 
1973 (lei atualmente revogada), os critérios 
estabelecidos para a fixação da competência 
eram baseados em: 
• Critério relativo ao valor atribuído à causa; 
• Critério relativo à matéria discutida na causa 
ou às pessoas que devem figurar como partes 
ou intervenientes; 
• Critério territorial; 
• Critério funcional ou hierárquico. 
Ainda que não sejam tão explícitos, esses 
mesmos critérios foram adotados no atual 
Código de Processo Civil, razão pela qual 
precisamos conhecer um pouco mais sobre 
eles. 
As competências relativas ao valor atribuído 
à causa e à matéria (ratione materiae) e a 
pessoas intervenientes ou que devem ser 
partes (ratione personae): 
• não são tratadas pelo Código de Processo 
Civil; 
• esse assunto é tratado pelas Leis de 
Organização Judiciária para estipular, dentro de 
uma mesma comarca, qual seja o juízo 
competente. 
Também deve ser destacado que a 
competência ratione personae é utilizada pela 
Constituição Federal, especialmente para 
quando trata da competência da Justiça Comum 
Federal . 
 
A competência territorial é definida segundo 
critérios estipulados pelo Código de Processo 
Civil, pois, com ela, chegaremos ao foro 
competente. 
A competência hierárquica ou funcional 
identifica quando um tribunal pode apreciar 
eventuais recursos ou as hipóteses em que se 
caracterizam as suas competências 
originárias. Aqui também temos algumas 
situações em que uma ação deve ser destinada 
a um determinado juízo em razão da existência 
de outra ação anteriormente ajuizada e que com 
ela guarda alguma ligação (conexão ou 
continência). 
Já a competência relativa ao valor da causa 
possibilita que a Lei de Organização Judiciária 
estabeleça esse critério para definir o juízo 
competente. É o que ocorre na Comarca de São 
Paulo, onde a Lei de Organização Judiciária 
estipula que ações até 500 salários mínimos 
devam tramitar nas Varas Cíveis dos Foros 
Regionais e acima desse valor nas Varas Cíveis 
do Foro Central. 
 
Sobre a competência absoluta e relativa, 
Humberto Theodoro Junior ainda acrescenta 
que: 
São relativas, segundo o Código, as 
competências que decorrem do valor e do 
território (art. 63) e absolutas a ratione materiae, 
ratione personae e funcional (art. 62). (2015, p. 
205) 
• As competências absolutas: 
» São de ordem pública, assim, não podem ser 
modificadas pelas partes; 
15 
 
» Podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz e, 
se não o fizer, as partes podem apresentar essa 
questão em qualquer tempo. 
• As competências relativas: 
» São criadas no interesse das partes, assim, 
elas podem ser modificadas em razão de 
eventual interesse demonstrado no caso 
concreto. Isso se dá: por prorrogação, pela 
eleição de foro, pela conexão e pela 
continência; 
» Não pode ser declarada de ofício pelo juiz; 
 
 
» Se o réu não a alegar no momento adequado 
(na preliminar de sua contestação), não poderá 
mais fazê-lo. Essa inércia acarreta a 
prorrogação da competência do juiz que 
recebeu a ação. 
 
Lembre-se, no âmbito da Justiça 
Comum, dos passos que precisamos 
seguir, os quais são os seguintes: 
• Verificar se a ação deve ser proposta na 
Justiça Comum Federal ou na Justiça 
Comum Estadual; 
• Em seguida, verificar qual é o foro competente 
– nesse caso, vamos utilizar 
as regras de competência territorial 
estabelecidas no Código de Processo Civil; 
• Por fim, havendo mais de um juízo no foro 
(seção judicial ou comarca), é necessário 
verificar qual é o juízo competente, de acordo 
com as regras estipuladas pela Lei de 
Organização Judiciária. 
 
 
Perpetuação da Competência 
Esse assunto também é conhecido como 
perpetuatio jurisdictionis, sendo previsto 
no artigo 43 do Código de Processo Civil. 
 
O dispositivo é claro ao estabelecer que a 
competência do órgão jurisdicional é 
firmada no momento em que a petição inicial é 
registrada ou distribuída (este último caso 
ocorre quando há mais de um juízo que poderia, 
inicialmente, receber a ação). 
Com isso, são irrelevantes para a competência 
do órgão jurisdicional posteriores modificações 
de fato ou de direito que ocorrerem durante o 
processo: 
 
• Mudanças em situações de fato: é o que 
ocorre, por exemplo, se a competência 
foi firmada pelo local de domicílio do réu e ele 
se muda no curso do processo. 
Isso não altera a competência do juízo; 
• Mudanças em situações de direito: é o que 
ocorre, por exemplo, se o autor vier a falecer 
durante o trâmite do processo. Isso não causa 
qualquer alteração na competência do órgão 
jurisdicional. 
 
A única exceção apontada pelo Código de 
Processo Civil se dá na extinção do órgão ou na 
modificação de sua competência absoluta. 
 
• A extinção acarreta a remessa dos processos 
para o órgão que irá sucedê-lo; 
 
• Situação diferente ocorre na modificação da 
competência absoluta. 
 
Competência da Justiça Comum Federal 
A competência da Justiça Comum federal está 
estipulada no artigo 109 da Constituição 
Federal, sendo que, nela, há matéria criminal e 
cível. 
Em relação às questões cíveis, os critérios 
adotados são fundados na qualidade das 
pessoas que participam do processo ou na 
matéria que nele deve ser discutida. 
Dentre as hipóteses de natureza cível, deve ser 
destacada a hipótese mencionada no inciso I, 
que trata da participação da União, suas 
autarquias e empresas públicas como partes ou 
intervenientes no processo, exceto quando a 
questão envolver: 
• falência (e a recuperação judicial); 
• acidentes do trabalho; 
• questões afetas ao direito eleitoral ou 
trabalhista. 
Nessas exceções: 
• nas duas primeiras hipóteses, a ação deve ser 
proposta na Justiça Comum Estadual; 
• na última, na Justiça Especializada. 
Destaque-se que essas hipóteses são todas de 
competência absoluta. 
Súmula 33 do Superior Tribunal de 
Justiça 
A incompetência relativa não pode 
ser declarada de ofício. 
16 
 
Para se estabelecer o foro competente para 
essas ações, é necessário verificar o disposto 
nos parágrafos do artigo 109 da Constituição 
Federal. 
Art. 109. [...] 
§ 1º. As causas em que a União for autora 
serão aforadas na seção judiciária onde tiver 
domicílio a outra parte; 
§ 2º. As causas intentadas contra a União 
poderão ser aforadas na seção judiciária em 
que for domiciliado o autor, naquela onde 
houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à 
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, 
ainda, no Distrito Federal. 
Assim: 
• Se a União propõe uma ação contra qualquer 
pessoa, deverá fazê-lo na seção judiciária em 
que essa pessoa tem domicílio (foro 
competente); 
• Se qualquer pessoa apresenta à jurisdição 
uma ação contra a União, o foro competente é o 
do domicílio do proponente da ação. 
Regulando esse dispositivo, estabelece o 
Código de Processo Civil que: 
Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu 
para as causasem que seja autora a União. 
Parágrafo único. Se a União for a demandada, 
a ação poderá ser proposta no foro de domicílio 
do autor, no de ocorrência do ato ou fato que 
originou a demanda, no de situação da coisa ou 
no Distrito Federal. 
 
Regras para Definição do Foro Competente 
no Código de Processo Civil 
Trazendo à colação as explicações de Marcus 
Vinícius Rios Gonçalves, temos que: 
As principais regras de competência de foro 
formuladas pelo CPC estão nos arts. 46 a 53. 
A regra geral é a prevista no art. 46, caput, do 
CPC. Os arts. 48, 49 e 50 constituem apenas 
explicações dessa norma geral, que institui o 
foro comum. 
Já os arts. 47, 51, parágrafo único, 52, 
parágrafo único, e 53 constituem exceções, os 
chamados foros especiais. (GONÇALVES, 
2016, p. 128) 
 
Regras do Foro Comum 
A regra do artigo 46, caput, em que se 
estabelece o chamado “foro comum” éa 
seguinte: 
Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou 
em direito real sobre bens móveis será 
proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. 
[...] 
Essas ações podem tratar de assuntos 
variados, tais como obrigações, 
ontratos,responsabilidade civil etc. 
Aqui são cabíveis os seguintes destaques: 
• Essa regra geral deve ceder ante a presença, 
no caso concreto, de uma regra específica. 
• A definição de domicílio é dada pelos artigos 
70 a 78 do Código Civil. 
• Por se tratar de um critério territorial, essa 
regra cria uma forma de competência relativa. 
Os parágrafos do artigo 46 apenas detalham 
situações específicas ligadas a essa regra. 
Art. 46. [...] 
§ 1º. Tendo mais de um domicílio, o réu será 
demandado no foro de qualquer deles; 
§ 2º. Sendo incerto ou desconhecido o domicílio 
do réu, ele poderá ser demandado onde for 
encontrado ou no foro de domicílio do autor; 
§ 3º. Quando o réu não tiver domicílio ou 
residência no Brasil, a ação será proposta no 
foro de domicílio do autor, e, se este também 
residir fora do Brasil, a ação será proposta em 
qualquer foro; 
§ 4º. Havendo 2 (dois) ou mais réus com 
diferentes domicílios, serão demandados no 
foro de qualquer deles, à escolha do autor; 
§ 5º. A execução fiscal será proposta no foro de 
domicílio do réu, no de sua residência ou no do 
lugar onde for encontrado. 
 
Decorrem da regra do artigo 46, caput, as 
disposições dos artigos 48, 49 e 50 do Código 
de Processo Civil. 
O artigo 48 trata do foro competente para 
inventários, partilhas, arrecadações, 
cumprimento de disposições de última vontade, 
impugnação ou anulação de partilha 
extrajudicial e para todas as ações em que o 
17 
 
espólio for réu. Nesse caso, o processo deve 
tramitar no foro de domicílio do autor da 
herança ( O autor da herança é também 
conhecido pela expressão latina “de cujus”), ou 
seja, o domicílio da pessoa falecida. 
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, 
no Brasil, é o competente para o inventário, a 
partilha, a arrecadação, o cumprimento de 
disposições de última vontade, a impugnação 
ou anulação de partilha extrajudicial e para 
todas as ações em que o espólio for réu, ainda 
que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. 
Parágrafo único. Se o autor da herança não 
possuía domicílio certo, é competente: 
I – o foro de situação dos bens imóveis; 
II – havendo bens imóveis em foros diferentes, 
qualquer destes; 
III – não havendo bens imóveis, o foro do local 
de qualquer dos bens do espólio. 
No caso do ausente, a ação deve ser proposta 
no foro de seu último domicílio (artigo 49). 
Art. 49. A ação em que o ausente for réu será 
proposta no foro de seu último domicílio, 
também competente para a arrecadação, o 
inventário, a partilha e o cumprimento de 
disposições testamentárias. 
Já as ações contra incapaz devem ser 
propostas no foro do domicílio do seu 
representante ou assistente (artigo 50). 
Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será 
proposta no foro de domicílio de seu 
representante ou assistente. 
Regras do Foro Especial 
Foro de Situação dos Imóveis em Ações 
Reais Imobiliárias 
Essa hipótese é tratada no artigo 47 do Código 
de Processo Civil que possui a seguinte 
redação: 
Art. 47. Para as ações fundadas em direito real 
sobre imóveis é competente o foro de situação 
da coisa; 
§ 1º. O autor pode optar pelo foro de domicílio 
do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não 
recair sobre direito de propriedade, vizinhança, 
servidão, divisão e demarcação de terras e de 
nunciação de obra nova; 
§ 2º. A ação possessória imobiliária será 
proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo 
tem competência absoluta. 
Sobre essa regra, vamos destacar as 
seguintes situações: 
• A definição de bens imóveis está prevista nos 
artigos 79 a 81 do Código Civil, e os direitos 
reais estão enumerados no artigo 1.225 desse 
mesmo código. 
• Embora a posse não figure entre os direitos 
reais, a regra fixada no caput do artigo 47 é a 
ela aplicável em razão do disposto no seu § 2º. 
• Essa regra é de competência absoluta, 
contudo, se a ação não recair sobre direito de 
propriedade, vizinhança, servidão, divisão e 
demarcação de terras e denunciação de obra 
nova, é admitida a estipulação de um foro de 
eleição, ou seja, essa exceção à regra é de 
competência relativa. 
Foro para Ações de Divórcio, Separação, 
Anulação de Casamento e Reconhecimento 
ou Dissolução de União Estável 
Essa questão está disciplinada no inciso I do 
artigo 53 do Código de Processo Civil. 
Art. 53. É competente o foro: 
I – para a ação de divórcio, separação, 
anulação de casamento e reconhecimento ou 
dissolução de união estável: 
a) de domicílio do guardião de filho incapaz; 
b) do último domicílio do casal, caso não haja 
filho incapaz; 
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes 
residir no antigo domicílio do casal; 
[...] 
 
Nesse caso, para a definição do foro 
competente, há as seguintes possibilidades: 
• Se houver filhos incapazes, a ação deve ser 
proposta no domicílio do guardião desse 
incapaz. É o que ocorre, por exemplo, se há 
uma separação de fato e a mãe permanece com 
a guarda (ainda que de fato) dos filhos menores. 
• Se não há filhos incapazes, a ação deve ser 
proposta no foro do último domicílio do casal. 
18 
 
• Contudo, se nenhum deles reside nesse 
mesmo foro, a ação deve ser proposta no foro 
do domicílio do réu. 
Trata-se de uma hipótese de competência 
relativa. 
Foro para Ações de Alimentos 
Essa questão é tratada pelo inciso II do artigo 
53 do Código de Processo Civil. 
Art. 53. [...] 
II – de domicílio ou residência do alimentando, 
para a ação em que se 
pedem alimentos. 
Nesse caso, trata-se de uma ação em que 
alguém (alimentando) pede alimentos,em razão 
de sua necessidade pessoal. 
O Código estipula que o foro competente é o de 
domicílio ou residência do alimentando. 
Essa mesma regra vale se a ação de alimentos 
estiver cumulada com ação de investigação de 
paternidade. 
Súmula 1 do Superior Tribunal de Justiça 
O foro do domicilio ou da residência do 
alimentando e o competente para a ação de 
investigação de paternidade, quando cumulada 
com a de alimentos. 
Trata-se de hipótese de competência relativa. 
 
Foro para Ações em Desfavor de Pessoa 
Jurídica 
Essa hipótese está descrita nas alíneas “a”, “b” 
e “c” do inciso III do artigo 53 do Código de 
Processo Civil. 
Art. 53. [...] 
III – do lugar: 
a) onde está a sede, para a ação em que for ré 
pessoa jurídica; 
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às 
obrigações que a pessoa jurídica contraiu; 
c) onde exerce suas atividades, para a ação em 
que for ré sociedade ou associação sem 
personalidade jurídica; 
Nesse caso, a ação deve ser proposta no foro 
da sede dessa pessoa jurídica. 
Uma situação cada vez mais comum se refere a 
pessoas jurídicas que não possuem sede em 
nosso país; nesse caso, a ação deve ser 
proposta no foro de sua agência ou sucursal. 
Se, contudo, a sociedade ou associação não 
possuir personalidade jurídica a ação deve ser 
apresentada no foro onde ela exerce suas 
atividades.Aqui também temos hipóteses de competência 
relativa. 
Foro para Ações de Inadimplemento de 
Obrigação 
O assunto é tratado pela alínea “d” do inciso III 
do artigo 53 do Código de Processo Civil. 
Art. 53. [...] 
III – do lugar: 
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a 
ação em que se lhe exigir o cumprimento. 
Se o autor exige o cumprimento de uma 
obrigação, tal como a entrega de um 
determinado bem comprado por uma indústria 
de outro fabricante, a ação deve ser proposta no 
local onde essa obrigação deveria ser satisfeita. 
Se o autor busca outras consequências 
derivadas do inadimplemento, tal como uma 
indenização, a ação deve ser proposta no foro 
comum – artigo 46. 
Por ser baseada em um critério territorial, 
trata-se de uma hipótese de competência 
relativa. 
Foro para Ações Fundadas no Estatuto do 
Idoso 
As ações fundadas em direito atribuído pelo 
Estatuto do Idoso – Lei n.º 10.741/03 
– devem ser propostas no foro de residência do 
idoso. 
Nesse estatuto, o idoso é a pessoa com idade 
igual ou superior a 60 anos. 
Devemos destacar que não se trata de uma 
regra aplicável para todas as ações que 
envolvem idosos, mas somente para aquelas 
que buscam direitos estipulados nessa norma. 
 
Art. 53. [...] 
III – do lugar: 
19 
 
e) de residência do idoso, para a causa que 
verse sobre direito previsto no respectivo 
estatuto. 
Trata-se de uma regra de competência relativa. 
Foro para Ação de Reparação de Danos 
Causados por Serventia Notarial ou de 
Registro 
Essa hipótese está prevista na alínea “f” do 
inciso III do artigo 53 do Código de Processo 
Civil. 
Art. 53. [...] 
III – do lugar: 
f) da sede da serventia notarial ou de registro, 
para a ação de reparação de dano por ato 
praticado em razão do ofício. 
Nesse caso, a ação deve ser proposta no foro 
onde se localiza a sede da serventia. 
Trata-se de uma regra de competência relativa. 
Foro para Ações de Reparação de Dano e em 
que for Réu Administrador ou Gestor de 
Negócios Alheios 
Nesses casos, previstos no inciso IV do artigo 
53 do Código de Processo Civil, a ação deve 
ser proposta no lugar do ato ou fato que gerou o 
litígio. 
Art. 53. [...] 
IV – do lugar do ato ou fato para a ação: 
a) de reparação de dano; 
b) em que for réu administrador ou gestor de 
negócios alheios. 
Se, contudo, a ação reparatória dos danos tiver 
como fundamento a prática de um delito (crime) 
ou danos sofridos em razão de acidente de 
veículos, inclusive aeronaves, a ação deverá ser 
proposta no domicílio do autor ou no foro do 
local onde os fatos geradores ocorreram (inciso 
V do artigo 53 do Código de Processo Civil). 
Art. 53. [...] 
V – de domicílio do autor ou do local do fato, 
para a ação de reparação de dano sofrido em 
razão de delito ou acidente de veículos, 
inclusive aeronaves. 
Aqui, mais uma vez, temos a competência 
estabelecida por critérios territoriais, sendo 
assim, classificada como relativa. 
Foro nas Ações que Envolvam os Estados 
ou o Distrito Federal 
O artigo 52 do Código de Processo Civil trata 
das hipóteses de ações propostas pelos 
Estados ou pelo Distrito Federal ou em desfavor 
dessas pessoas de direito público. 
Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu 
para as causas em que seja autor Estado ou o 
Distrito Federal; 
Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito 
Federal for o demandado, a ação poderá ser 
proposta no foro de domicílio do autor, no de 
ocorrência do ato ou fato que originou a 
demanda, no de situação da coisa ou na capital 
do respectivo ente federado. 
Quando o Estado ou o Distrito Federal forem 
autores da ação, a competência do foro segue a 
regra geral, ou seja, será competente o foro de 
domicílio do réu. 
Contudo, se eles forem demandados, a ação 
pode ser proposta: 
• No foro de domicílio do autor; 
• No foro onde ocorreu o ato ou fato que 
originou o litígio; 
• No foro da situação da coisa; 
• No foro da Capital da Unidade federativa. 
Por serem baseadas em critérios territoriais, 
essa competência é relativa. 
Competência dos Juizados Especiais Cíveis 
O Juizado Especial Civil foi criado pela Lei n.º 
9.099/95 com a finalidade de processar e julgar 
com maior celeridade ações cíveis de menor 
complexidade. 
Posteriormente, foram criados: 
• Juizados Especiais Cíveis no âmbito da 
Justiça Federal pela Lei n.º 10.259/01; 
• Juizados Especiais da Fazenda Pública no 
âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos 
Territórios e dos Municípios pela Lei n.º 
12.153/09. 
Em relação às ações regidas pela Lei n.º 
9.099/95, a competência material dos Juizados 
Especiais está firmada no artigo 3º da lei. 
Nessas hipóteses, pode o autor escolher propor 
a ação perante o Juizado Especial ou perante 
20 
 
uma Vara Cível comum, situação em que 
devem ser obedecidas as regras de 
competência de foro definidas no artigo 4º da 
Lei n.º 9.099/95. 
 
Tendo o autor optado por apresentar a ação no 
Juizado Especial, a competência deste é 
absoluta, mesmo quando baseada em critérios 
territoriais. 
Em relação aos Juizados Especiais no âmbito 
da Justiça Federal e da Fazenda Pública, não 
existe opção do autor para a apresentação da 
ação, havendo, da mesma forma, uma 
competência absoluta desses órgãos judiciais 
para atuar nas demandas que lhe são próprias. 
Modificação da Competência Relativa 
A competência absoluta não pode ser alterada 
pela vontade das partes, pois se baseia em 
critérios de ordem pública. 
Situação diversa ocorre nas hipóteses em que 
ficar configurada a competência relativa do 
órgão jurisdicional, podendo a modificação se 
dar por prorrogação, eleição de foro, conexão e 
continência. 
Prorrogação da Competência 
Se o autor apresentar a ação em um órgão 
judicial que não possui competência para 
aquela demanda e sendo essa incompetência 
relativa, poderá o réu na primeira oportunidade 
que tem para se manifestar nos autos, ou seja, 
na contestação, alegar essa situação. 
Se não o fizer, a competência daquele órgão 
será prorrogada e ele poderá, 
regularmente,processar e decidir o litígio. 
Nos termos da Súmula 33 do Superior Tribunal 
de Justiça, não pode o juiz declinar de sua 
competência de ofício, isto é, sem a provocação 
do réu. 
ELEIÇÃO DE FORO 
As partes, em geral nos contratos, podem 
estipular um foro específico, onde eventuais 
ações decorrentes dessa relação jurídica podem 
ser ajuizadas. 
Dessa forma, como essa eleição somente se 
baseia em critérios territoriais (as partes 
escolhem o foro), ela é admissível. Observe que 
as partes não podem eleger o juízo competente, 
pois as regras de juízo são de competência 
absoluta. 
O artigo 63 do Código de Processo Civil 
estabelece que essa eleição somente é possível 
se estivermos tratando de situações afetas ao 
Direito das Obrigações. 
CONEXÃO E CONTINÊNCIA 
A conexão e a continência são situações em 
que o legislador determinou que ações 
semelhantes devam ter um julgamento conjunto, 
principalmente para que não haja decisões 
conflitantes. 
A apuração dessa semelhança se dá com base 
nos chamados elementos identificadores de 
uma ação: 
• Partes; 
• Causa de pedir; 
• Pedido. 
» As partes identificam, em especial, o autor e o 
réu que estão integrados na relação processual; 
» A causa de pedir se relaciona aos 
fundamentos fáticos e jurídicos que sustentam a 
ação. É o que ocorre, por exemplo, em uma 
ação indenizatória fundada em um acidente de 
trânsito em que o veículo do autor acabou 
sendo danificado (fundamento fático). O autor, 
ao apresentar a lide à jurisdição, alega como 
fundamento de sua pretensão os artigos 927 e 
seguintes do Código Civil (fundamento jurídico); 
» O pedido é providência que o autor da ação 
busca junto à jurisdição. 
No exemplo acima, a condenação do réu para 
que ele seja obrigado a efetuar o pagamento 
dos prejuízos decorrentes do acidente. 
 
Dessa forma, a conexão se caracteriza, 
sendo o Código de Processo Civil: 
Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais 
ações quando lhes for comum o pedido ou acausa de pedir. 
Já a continência é ocorre na situação descrita 
no artigo 56: 
Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou 
mais ações quando houver identidade quanto às 
partes e à causa de pedir, mas o pedido de 
uma, por ser mais amplo, abrange o das 
demais. 
 
 
21 
 
UNIDADE 03 
Os Princípios Processuais, a Ação, a 
Exceção e o Processo 
 
OS PRINCÍPIOS JURÍDICOS 
A jurisdição atua por intermédio de uma relação 
jurídica que liga as partes ao Estado-Juiz, sendo 
que essa relação jurídica está sujeita a uma 
série de normas, as quais são subdivididas em 
regras e princípios jurídicos, sendo que vamos 
agora estudar estes últimos. 
Importante, nesse sentido, é trazer à colação a 
clássica definição de Celso Antônio Bandeira de 
Mello para os princípios jurídicos: 
Princípio [...] é, por definição, mandamento 
nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, 
disposição fundamental que se irradia sobre 
diferentes normas compondo-lhes o espírito e 
servindo de critério para sua exata 
compreensão e inteligência exatamente por 
definir a lógica e a racionalidade do sistema 
normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá 
sentido harmônico. É o conhecimento dos 
princípios que preside a intelecção das 
diferentes partes componentes do todo unitário 
que há por nome sistema jurídico positivo. 
(MELLO, 2003, p. 817). 
______________________________________ 
Seguindo essas lições, podemos concluir que é 
triplo o papel dos princípios. 
• Em primeiro lugar, eles desempenham a tarefa 
de estruturar o sistema jurídico dando seu 
caráter. Portanto, sua análise permite verificar a 
exata correlação os poderes do Estado e os 
direitos fundamentais dos cidadãos; 
• Em segundo lugar, os princípios servem como 
diretrizes maiores na elaboração normativa. 
Sem os princípios, o corpo normativo 
apresentar-se-ia disforme e sem consistência, 
pois a produção legislativa não teria um claro 
rumo a seguir; 
• Por último, os princípios desempenham um 
importante papel na interpretação das normas 
que compõem o sistema, visando trazer 
harmonia em sua aplicação. 
O Papel dos Princípios do Processo na 
Constituição Federal 
O fato de um princípio estar previsto em nossa 
Carta potencializa seu papel no sistema 
normativo, pois “o princípio da supremacia 
requer que todas as situações jurídicas se 
conformem com os princípios e preceitos da 
Constituição” (SILVA, 2000, p. 48). 
Nenhuma interpretação poderá ser havida por 
boa (e, portanto, por jurídica) se, direta ou 
indiretamente, vier a afrontar um princípio 
jurídico- constitucional. 
[...] 
O princípio cumpre uma função informadora 
dentro do Ordenamento jurídico e, assim, as 
diversas normas devem ser aplicadas em 
sintonia com ele. (CARRAZZA, 2004, pp. 37-38) 
 
Assim, “a interpretação de uma norma 
constitucional levará em conta todo o sistema, 
tal como positivado, dando-se ênfase, porém, 
para os princípios que foram valorizados pelo 
constituinte” (TEMER, 2003, p. 23). 
Aqui há, na verdade, uma dupla 
potencialização: 
• Em primeiro lugar, em razão do papel que os 
princípios possuem dentro do sistema 
normativo; 
• Também deve ser considerado o chamado 
Princípio da Supremacia Constitucional,que dá 
destacado poder normativo para as normas 
constitucionais, em razão do importante papel 
que esse diploma possui dentro do sistema 
jurídico. 
Dessa forma, um princípio constitucional acaba 
por ter um papel muito mais destacado no 
sistema normativo que um princípio que não 
possui essa mesma característica, pois o 
Princípio da Supremacia Constitucional exige 
que todas as normas do sistema jurídico se 
conformem com os princípios e preceitos 
constitucionais. 
Princípios Processuais 
Agora que já conhecemos o que são os 
princípios e a importância que eles representam 
no Direito Processual, vamos conhecer aqueles 
mais importantes. 
Princípio do Devido Processo Legal 
A correta aplicação da lei não pode prescindir 
de um processo que siga fielmente as 
premissas de respeito aos direitos fundamentais 
dos indivíduos. Assim, “o processo constitui a 
primeira e mais fundamental garantia do 
22 
 
indivíduo, pois é por meio desse instrumento 
que se realiza a proteção efetiva dos direitos 
fundamentais consagrados pela Constituição” 
(GOMES FILHO, 2001, p. 28). 
O princípio firma a ideia de que o processo deve 
guardar perfeita sintonia com o sistema 
normativo em que ele está inserido, não 
podendo ser utilizado como instrumento para a 
atuação arbitrária do Estado e nem se afastar, 
mesmo que ideologicamente,da estrita 
obediência dos direitos fundamentais do 
acusado. 
Por sua própria formulação, é certo que esse 
princípio passou a ser visto como um gênero 
que comporta como espécies constituintes 
outros, tais como o contraditório, a ampla 
defesa, a garantia do juiz natural, da motivação, 
da publicidade dos atos processuais, os quais, 
no conjunto, estão orientados para que o 
processo seja justo e legal. 
Além de expressamente previsto no texto 
constitucional (artigo 5º, inciso LIV), ele 
mencionado em diversos tratados e convenções 
internacionais de direitos humanos. 
Princípios da Ampla Defesa e do 
Contraditório 
A estrutura dialética do processo coloca as 
partes em posições antagônicas, contudo, 
necessariamente, elas devem estar em 
equilíbrio, “com iguais direitos, 
ônus,obrigações e faculdades” (TOURINHO 
FILHO, 2000, p. 45). Essa igualdade é um dos 
consectários lógicos decorrentes do Princípio do 
Devido Processo Legal e do Estado 
Democrático de Direito. 
Dessa construção, verifica-se que os 
Princípios do Contraditório e da Ampla 
Defesa estão ligados por umbilical relação de 
necessidade e complementaridade. 
Em nosso sistema constitucional, esses 
princípios foram inicialmente plasmados pela 
Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 
10 de novembro de 1937, sendo que eles 
acabaram sendo repetidos pelas demais 
Constituições Brasileiras, sendo que, na atual, 
estão previstos no inciso LV do artigo 5º, com a 
seguinte formulação: 
Art. 5º. [...] 
LV – aos litigantes, em processo judicial ou 
administrativo, e aos acusados em geral são 
assegurados o contraditório e ampla defesa, 
com os 
meios e recursos a ela inerentes; 
A ampla defesa deve ser entendida como uma 
garantia que é dada “ao réu de condições que 
lhe possibilitem trazer para o processo todos 
os elementos tendentes a esclarecer a 
verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se, 
se entender necessário” (MORAES, 2005, p. 
93). Para que se efetive, ela acaba por se 
desdobrar em outros princípios. 
Em primeiro lugar, podemos lembrar o direito de 
o réu ser assistido por defensor com 
conhecimentos técnico-jurídicos, mesmo que 
não tenha recursos suficientes para tal. Nesse 
particular, importante é a previsão constante em 
nossa Constituição, no artigo 5º, inciso LXXIV. 
Também engloba o conceito de ampla defesa, a 
possibilidade de o réu recorrer das decisões que 
lhes sejam desfavoráveis. 
Já o Princípio do Contraditório é, de forma 
clássica, definido entre nós como a “ciência 
bilateral dos atos e termos processuais e a 
possibilidade de contrariálos” (FERNANDES, 
2005, p. 61). 
Diante de sua formulação, o contraditório tem, 
como primeiro aspecto, o direito de informação. 
A estrutura do processo acarreta a necessidade 
de a defesa ser inicialmente informada do exato 
conteúdo dos fatos ilícitos atribuídos ao réu bem 
como das consequências jurídicas a que este 
estará sujeito em caso de condenação. 
Em nossa legislação processual, essa função é 
desempenhada pela citação que, em geral, é 
acompanhada de cópia da denúncia ou da 
queixa (no processo penal) ou da petição inicial 
(no processo civil). 
Citação é um dos primeiros atos do processo. 
Por meio dela, o juiz informa ao réu os motivos 
pelo qual foi iniciado o processo, dando-lhe 
ciência sobre os termos da acusação que contra 
ele recai. 
Esse direito à informação não se esgota com a 
citação; também ele deverá ser observado 
durante todo o processo, sendo

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