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CASO CONCRETO 4 DIREITO CIVIL EM CONSTRUÇÃO

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CASO CONCRETO 5
1 -a) Não. O Art. 9º da lei 9434/97 diz o seguinte " É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea " . Conforme escrito no artigo que regulamenta a prática de transplantes inter vivos, a doação só pode ser feita de maneira gratuita; vender tecidos, orgãos, partes do corpo humano é configurado crime regulamentado no artº 15 da mesma lei.
b) Sim. As características são absolutas pois dão ao seu titular o direito ao respeito e são relativamente indisponíveis pois não pode se transmitir direitos da personalidade a terceiros.
QUESTÃO OBJETIVA = LETRA B
JURISPRUDÊNCIA:
HABEAS CORPUS Nº 431.316 - MG (2017/0334982-0) RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA IMPETRANTE : ALEXSANDRO VICTOR DE ALMEIDA ADVOGADO : ALEXSANDRO VICTOR DE ALMEIDA - MG061934 IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS PACIENTE : RONALDO ARAÚJO ABREU DECISÃO Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso especial, com pedido de liminar, impetrado em favor de RONALDO ARAÚJO ABREU, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, no julgamento da Revisão Criminal n. 1.0000.17.032154-1/000. Narram os autos que a defesa do paciente ajuizou revisão criminal de sua condenação à pena de 3 anos de reclusão, substituída por restritiva de direitos, pela prática do delito tipificado no art. 14, § 1.º, da Lei n. 9.434/1997 (remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições legais). O pedido foi julgado improcedente, em acórdão assim ementado: EMENTA: REVISÃO CRIMINAL - REDISCUSSÃO DE MATÉRIA PROBATÓRIA - INVIABILIDADE - INDEFERIMENTO DO PEDIDO. Nos termos do disposto no Enunciado n. 66 do Grupo de Câmaras Criminais, vedada rediscussão de matéria meritória já deslindada em ação penal, mormente se não instruído o pedido com nenhum novo elemento de prova apto a alterar a convicção condenatória emanada do Acórdão rescindendo (e-STJ fl. 166) No presente writ, o impetrante repisa os argumentos da ação revisional, aduzindo a inaplicabilidade do art. 14, § 1º, da Lei n. 9.434/1997, uma vez que dispõe de remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, o que não é o caso dos autos, pois a denúncia e a descrição dos fatos no próprio acórdão revelam tráfico de cadáver e órgãos para fins de docência ou material didático. Aduz, de outra banda, que a figura qualificadora do § 1º do art. 14 da Lei n. 9.434/1997 está absorvida pelo delito previsto no art. 333 do Código Penal, razão pela qual requer a aplicação do princípio da consunção e a desclassificação da conduta para o caput do artigo 14 da referida Lei. Por isso, requer, liminarmente, a suspensão dos efeitos da sentença condenatória e, no mérito, a absolvição do paciente ou, subsidiariamente, a consunção da qualificadora ou, ainda, a desclassificação do delito para a conduta prevista no caput do art. 14 da referida Lei. O pedido liminar foi indeferido pela Presidente desta Corte Superior Ministra Laurita Vaz , às e-STJ fls. 178/179, e as informações prestadas às e-STJ fls. 183/194. O Ministério Público Federal, em parecer exarado às e-STJ fls. 198/202, pela extinção do processo sem resolução do mérito ou pela denegação da ordem. É o relatório. Decido. De início, o presente habeas corpus não comporta conhecimento, pois impetrado em substituição a recurso próprio. Entretanto, nada impede que, de ofício, seja constatada a existência de ilegalidade que importe em ofensa à liberdade de locomoção do paciente. Pretende o impetrante, em síntese, a absolvição do paciente, ou, subsidiariamente, a consunção da qualificadora prevista no § 1º do art. 14 da Lei n. 9.434/1997 pelo delito insculpido no art. 333 do CP ou, ainda, a desclassificação da conduta. Ao julgar a apelação criminal e consignar pela condenação do paciente na imputação prevista no art. 14, § 1º, da Lei n. 9.434/1997, assim consignou o relator do voto condutor do acórdão (e-STJ fls. 132/138, destaquei): [...] A materialidade do delito está demonstrada pelos documentos acostados aos autos, em especial, fotos de cadáveres e peças anatômicas localizados no laboratório da Faculdade de Medicina da UNIVAÇO, autos de entrega de cadáver, relatórios de necropsia, declaração de óbitos, ACD's, inventário dos cadáveres e peças anatômicas existentes no laboratório Faculdade do Medicina da UNIVAÇO, laudo de vistoria e constatação de ossada, exame de ossada, certidões cartorárias, fotos diversas da Faculdade de Medicina da UNIVAÇO, notas fiscais da Funerária Vale do Aço, fotos diversas do IML de Ipatinga, relação de cadáveres encaminhados pelo IML de Governador Valadares para a UNIVAÇO, relação de cadáveres desconhecidos que deram entrada no IML do Governador Valadares sem identificação de registros de ocorrências policiais (f. 27-35; 54-65; 68; 71, 75-79;82-85; 97; 109; 111-114; 117-119; 122; 125; 291-301; 554-558; 560; 1268-1275; 1285-1295, 1304; 1317; 135-1337; 1353; 135; 1377; 1389; 1404; 1421; 1436; 1451; 55-56; 66-67; 69-70; 76-77: 80-81; 83-84; 110-112; 113/-115; 116-118; 120-121-123-124; 127; 362-405; 723; 88-96; 98-108; 269-290; 163-164; 210-213: 264-268; 406-477: 278-516; 527-533; 535-542; 525-526; 562-569; 668-678; 708-726; 822-826; 1136-1137; 1254; 1934;1946; 2009-202ÜV.; 5066-5067; 5339-5340; 5342; 5344; 53646; 5348; 5350/ 5352; 5354: 5362-5364; 1947; 1959; 2027; 2031; 5062; 5068-5069; 5071-5074; 5130; 5132; 5337- 5338; 5341; 5343; 5345; 5347; 5351; 5353, respectivamente). Há nos autos também provas suficientes da autoria. É certo que, em Juízo (f. 1823-1824), Nilton de Oliveira negou a prática delitiva: ...que não forneceu órgãos humanos à Faculdade de Medicina; [...] que nos cadáveres desconhecidos que posteriormente poderia preencher os requisitos legais para ser doados, o depoente tirava o cérebro e cerebelo e colocava no balde contendo formol, garantindo a integridade dessa peça, para que fosso remetido à escola juntamente com o cadáver, uma vez que tais peças anatômicas apodrecem com muita facilidade, dessa maneira alguns cadáveres eram remetidos à escola e o cérebro acompanhava dentro de um balde, favorecendo o trabalho da escola, dentro da formalidade legal; [...] que alguns cadáveres foram já encaminhados à Faculdade de Medicina já m abertura craniana e os respectivos já dentro do balde; que jamais encaminhou à Faculdade cérebro avulso, sem que estivesse acompanhado do cadáver; [...] que jamais fez qualquer doação de órgãos humanos avulsos ou cadáveres para qualquer pessoa ou faculdade... Entretanto, sua negativa restou isolada nos autos, sendo a remessa de órgãos avulsos à Faculdade de Medicina de Ipatinga - Univaço, em especial, cérebros e cerebelos devidamente comprovada pelo restante do conjunto probatório. Conforme confessado pelo próprio Nilton de Oliveira, "em 1999 foram doados para a Faculdade de Medicina nove cadáveres e duas ossadas, em 2000 quatro cadáveres e em 2001 dois cadáveres" (f. 1823), o que eqüivale, segundo a versão do próprio apelante, a um total de quinze (15) cadáveres. Entretanto, as fotografias de f. 27; 29; 34 e 35 relevam a existência de uma quantidade de cérebros e cerebelos no laboratório de anatomia da UNIVAÇO incompatível com a quantidade de cadáveres doados, posto que, por óbvio, para cada cadáver doado só poderia existir um cérebro e um cerebelo. Inclusive, consta da foto de f. 39 a seguinte "legenda": ...foto de cerebelos encontrados no Laboratório de Anatomia, aproximadamente 80 (oitenta). Sabe-se que cada encéfalo contém somente um cerebelo e cada ser humano só contem um encéfalo. Com isso, gostaríamos que fosse apurado de onde procedem esses cerebelos, uma vez que, a cada semestre, são usados seis cadáveres (seis cerebelos) e esta faculdade
só tem dois anos e meio (isso indicaria trinta cerebelos). Acerca das fotografias, o douto defensor alega: As provas documentais alegadas (fotografias), referentes ao número de cérebros e cerebelos encontrados na UNIVAÇO, documentados pelas fotografias acostadas, e que serviram de base à condenação, é corto que tais fotografias não prestam para fundamentar o decreto condenatório, pcis as mesmas foram descaracterizadas pelas provas periciais que apontaram um número de peças incompatíveis com as alegadas nas fotografias"(f. 5507). Razão não lhe assiste. Conforme bem observado pelo Ministério Público em suas alegações finais (f. 5212), Durante todas as investigações e mesmo na fase processual, não se levantaram indícios de que as fotografias tenham sido" montadas ". Pelo contrário, todas os provas e evidências carreadas para estes autos indicam que as fotografias mostram a realidade do que havia na UNIVAÇO. Do mesmo modo, o fato de o laudo realizado pelo perito Elias Nascente Coelho ter constatado uma quantidade menor de encéfalos adultos não retira a validade da prova fotográfica. É que, conforme satisfatoriamente comprovado nos autos, referido inventário foi feito em 06.06.2001, tendo o laboratório de anatomia da UNIVAÇO permanecido sem qualquer vigilância entre os dias 31.05.2001 a 04.06.2001, tempo suficiente para que sofresse as necessárias alterações a fim de se ocultar a prova do crime. A vulnerabilidade do laboratório de anatomia da Univaço foi relatada por Nilton da Silva Júnior (f. 1479): ...que a propósito da interdição, o declarante acredita que, ao menos poucas horas antes de tal ocorrer, pessoas da UNIVAÇO foram alertadas que tal viria ocorrer, pois o Dr. Ronaldo Abreu e outras pessoas, inclusive técnicos, se trancaram no laboratório e lá permaneceram até mesmo depois da chegada da policia; que durante o tempo em que tais pessoas se encontravam trancadas no laboratório, o declarante, vários alunos e ato mesmo alguns policiais, ouviram barulho semelhante ao de serra elétrica sendo que ao que tudo indica cadáveres apresentavam indícios de morte violenta; que tal suspeita estava sendo levantada pelos 'desafetos' dele Dr. RONALDO ABREU; que o declarante alertou ao Dr. RONALDO que os tais" desafetos "poderiam levar tais suspeitas ao conhecimento das autoridades; que o Dr. RONALDO ABREU então disse ao declarante que" não tem problema não porque estes corpos serão queimados "; que o declarante rebateu dizendo ao Dr. RONALDO que se assim procedesse, os seus" desafetos "poderiam acusá-lo de ocullação ou destruição de cadáver: que o Dr. RONALDO disse que isso era com ele e terminou a conversa... Ademais, a prova oral coligida aos autos reforça a autenticidade das fotografias, comprovando a existência de um grande número de cérebros no laboratório de anatomia da UNIVAÇO. A esse respeito cumpre trazer à colação excerto das declarações de Albertino Gualberto Oliveira Júnior (fl. 5004-5006): ...o declarante fazia o transporte dos cadáveres há mais ou menos 3 (três) meses do IML de Governador Valadares para a Faculdade de Medicina de Ipatinga, bem como baldes fechados do IML de Ipatinga para a Faculdade, supondo que no interior desscs baldes havia partes de órgãos humanos, que vez que havia reclamações por parte de familiares dos mortos de"eles quando morriam eram gordos e saíam de lá magros"; [...] que o declarante dirigia-se à cidade de Vespasiano. quando próximo à ponte de Hematita. o Dr. Ronaldo de Souza fez uma ligação ao Gula, por celular, pedindo que os mesmos retornassem à cidade de Ipatinga, porque" havia mais coisa para levar ". Após chegarem à Faculdade de Medicina de Ipatinga, o declarante e o Guta pegaram em torno de quatro baldes, que continham em seu interior órgãos e cerca de vinte sacos prelos, daqueles usados para por lixo, que segundo o declarante eram órgãos dissecados; que ato contínuo, o depoente e Gula dirigiram-se à cidade de Vespasiano, na faculdade de Medicina, local onde deixaram os corpos e os baldes e sacos pretos... (grifei). O fisioterapeuta Nilton da Silva Júnior ratificou sob o crivo do contraditório (f. 2583-2584) suas declarações prestadas perante a Promotoria de Justiça de Ipatinga (f. 1475-1480), onde relatou: ... desde que iniciou suas atividades na referida escola, o declarante, lá estando todos os dias, constatou que o acervo do laboratório de Anatomia, utilizado para tanto pelos alunos de Medicina quanto de Fisioterapia possuía uma enorme quantidade de cadáveres e peças, fato que lhe causou estranheza, principalmente por se tratar de uma escola nova, bem como pelas conhecidas dificuldades de obtenção de cadáveres para fins de estudo e pesquisa; que a propósito, já na manhã seguinte a aula inaugural do curso coordenado pelo declarante, aula esta ministrada pelo Dr. Nivaldo Antônio Parizotto, professor-convidado oriundo da UFSCAR (São Carlos), ao mostrar ao citado mestre as dependências do laboratório de anatomia, lá se encontrava o Professor Ronaldo Abreu, coordenador do curso de Medicina, o qual, apresentando o anatômico ao visitante, mostrou várias peças do sistema nervoso central, ocasião em que afirmou que, juntamente com um médico do Rio de Janeiro, havia desenvolvido uma técnica de conservação de tais peças em acrílico, sendo que pretendia comercializá-las; que, estupefato, o professor Parizotto, até com certa ironia, chegou a perguntar ao Dr Ronaldo Abreu:" mas isso pode? "; que naquela ocasião, o Dr. Ronaldo Abreu teria respondido: que a venda de peças" não teria problema algum "; que na seqüência da conversa, o declarante se recorda de ter ouvido o Dr. Ronaldo Abreu falar para o Dr. Parizotto que, para chegar onde havia chegado, havia trabalhado muito e perdido muitas peças, vez que as resina as queimava; que ainda naquela oportunidade, o Dr. Ronaldo Abreu chegou a dizer que pelo trabalho que linha, tais peças não poderiam ser doadas, mas tinham, sim, que ser vendidas; [...] que quanto a imensa quantidade de cérebros e cerebelos, o declarante também as viu no a anatômico; que, evidentemente, cada cérebro ou cerebelo corresponde n um cadáver, sendo certo que concluir que, além de muitos cadáveres inteiros, dezenas de outros tiveram cérebros e cerebelos retirados e enviados ao laboratório da escola... (grifei). O médico legista Francisco de Assis Simões, perante a Promotoria de Justiça afirmou que" ...o Dr. RONALDO ABREU solicitou a colaboração do declarante no sentido de fornecer material para o laboratório de anatomia da UNIVAÇO, tais como cadáveres inteiros e órgãos avulsos... "(f. 698 - ratificado em juízo - f. 2692- grifei). [...] O fornecimento de órgãos avulsos à Univaço pelo IML de Ipatinga também vem exposto em juízo (f. 3207), pela testemunha Benedito Aparecido de Toledo: [...] Enfim, como bem concluiu o i. juiz sentenciante não restam dúvidas de que Nilton de Oliveira, aproveitando a ausência de fiscalização sobre suas funções no IML local, e acreditando que tal conduta nunca seria notada, em razão do imediato sepultamento dos corpos, extraiu diversos órgãos avulsos de cadáveres periciados, especialmente cérebros, os quais eram utilizados por Ronaldo Araújo Abreu em sua pesquisa de inclusão de encéfalos em lâminas de acrílico. [...] Assim, tenho que restou devidamente comprovado nos autos que o apelante Nilton de Oliveira removeu órgão do corpo de cadáver, em desacordo com as disposições da Lei 9.434/97, agindo em comunhão de vontades o unidade de desígnios com Ronaldo Araújo Abreu, na medida em que foi este quem solicitou a Nilton a retirada dos cérebros, bem como eram os órgãos destinados à sua pesquisa (de Ronaldo) realizada na Univaço. Noutro giro, aduz a i. defesa do apelante Ronaldo Araújo Abreu:"... Se os fatos não encontram previsão na lei 9434/97, que dispõe de remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, não há que se falar em crime previsto no artigo 14 da mesma lei". O artigo 1º da Lei 9.434/97 estabelece: A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou post
mortem, para fins de transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei. Já artigo 14 da referida lei prevê como conduta criminosa: Remover tecidos, órgãos ou parles do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições desta Lei (grifei). [...] Por conseguinte, as remoções dos órgãos não se destinavam a transplante ou fins terapêuticos, razão pela qual, repita-se, estão em desacordo com a legislação vigente e sim para que fossem submetidos à técnica realizada por Ronaldo de Abreu e, posteriormente, vendidas. Assim, conforme já demonstrado linhas acima, restando comprovado que os apelantes realizaram a remoção de órgãos de corpo de pessoas para fins diversos dos autorizados Lei 9.434/97, não há dúvidas de que incidiram no disposto no artigo 14 da referida lei. Do mesmo modo, a qualificadora do § 1.º do artigo 14 da Lei 9.434/97 - se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe - também restou comprovada nos autos, não havendo como se acolher a tese desclassificatória. O apelante Ronaldo de Abreu, coordenador e professor da Faculdade de Medicina Univaço, desenvolvia trabalhos de pesquisa lendo por objetivo principal uma técnica de inclusão de cortes de cérebro em resina plástica, de modo a garantir maior durabilidade e qualidade das amostras, que seriam vendidas a outras instituições de ensino. Ora, não há como se negar o motivo torpe consistente na remoção de órgãos para serem inseridos em resina plástica e posteriormente vendidos. [...] Cumpre também transcrever novamente trecho das declarações do fisioterapeuta Nilton da Silva Júnior (f. 1475-1480 - ratificadas f. 2583-2584): ...lá se encontrava o Professor Ronaldo Abreu, coordenador do curso de Medicina, o qual, apresentando o anatômico ao visitante, mostrou várias peças do sistema nervoso central, ocasião em que afirmou que, juntamente com um médico do Rio de Janeiro, havia desenvolvido uma técnica de conservação de tais peças em acrílico sendo que pretendia comercializá-las; que, estupefato, o professor Parizotto, até com certa ironia, chegou ; perguntar ao Dr. Ronaldo Abreu:" mas isso pode? "; que naquela ocasião, o Dr. Ronaldo Abreu teria respondido: que a venda de peças"não teria problema algum... (grifei). [...] É que restou demonstrado que Nilton de Oliveira tinha plena ciência de que o apelante Ronaldo de Abreu visava a venda das peças, na medida em que a remoção dos órgãos foi devidamente combinada entre eles, ficando acordado a remessa de órgãos avulsos, em especial cérebros, com a finalidade de propiciar o desenvolvimento das pesquisas realizadas por Ronaldo de Abreu, com a posterior venda das placas a outras instituições de ensino. [...] Melhor sorte não assiste à i. defesa do apelante Ronaldo de Araújo Abreu quanto a aplicação do principio da consunção entre a figura qualificada do artigo 14, § 1.º, da Lei 9.434/97 e o artigo 333 do Código Penal (Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício). [...] No caso sob exame, não há que se falar que o "motivo torpe" qualificador do crime do artigo 14 da Lei 9.434/97 foi meio para a prática do crime do artigo 333 do Código Penal. Do mesmo modo, não há que se falar na existência dois fatos típicos (art. 333 e art. 14, § 1.º) que se realizam de modo continuativo, dentro de um mesmo contexto, de modo que a primeira infração caracterize legítimo ante factum impunível. Ao contrário, estamos diante de dois delitos autônomos, não sendo possível a aplicação do princípio consunção. Enfim, conforme bem concluiu o Ministério Público em suas contrarrazões recursais, "...no caso dos autos, o crime tipificado no § 1.º da Lei 9434/97 não configura exaurimento da conduta descrita no art. 333 do CP, não constituindo, portanto, conseqüência natural e necessária da segunda ação" (f. 5816). Dessarte, ante a prova coligida aos autos, não há como acolher os pleitos de absolvição e tampouco o decote da qualificadora prevista no § 1.º, do artigo 14 da Lei 9.434/97. Pela leitura do excerto acima, verifica-se que a conclusão obtida pelas instâncias ordinárias sobre a condenação do paciente no tipo penal que lhe foi imputado art. 14, § 1º, da Lei n. 9.434/1997 , foi lastreada no vasto acervo probatório carreado aos autos. O mesmo se diga em relação à desclassificação para o delito tipificado no art. 14, caput, da referida Lei e à pretendida consunção da conduta perpetrada pelo crime previsto no art. 333 do CP. Entendimento contrário, como pretendido, demandaria a reanálise da moldura fática e probatória delineada nos autos, providência incabível na via processual eleita. Ilustrativamente: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. ARTIGO 16, PARÁGRAFO ÚNICO, IV, DA LEI N. 10.826/2003. AUSÊNCIA DE LESIVIDADE DA CONDUTA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. POSSE DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO E NUMERAÇÃO RASPADA. TIPICIDADE. ABOLITIO CRIMINIS. INAPLICABILIDADE. CONDUTA PRATICADA NO ANO DE 2009. ARTIGO 311 DO CÓDIGO PENAL. SUPRESSÃO DO SINAL DE IDENTIFICAÇÃO DE VEÍCULO. TIPICIDADE. NEGATIVA DE AUTORIA. REVOLVIMENTO DE PROVAS. INVIABILIDADE. ÔNUS DA PROVA. INVERSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. [...] 7. "O habeas corpus, como é cediço, não é meio próprio para pretensão absolutória, porque trata-se de intento que demanda revolvimento fático-probatório, não condizente com os estreitos lindes do writ" (THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, julgado em 17/12/2015, DJe 2/2/2016). 8. "Inexiste inversão do ônus da prova quando a acusação produz arcabouço probatório suficiente à formação da certeza necessária ao juízo condenatório" (AgRg nos EDcl no REsp 1292124/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 14/09/2017, DJe 20/09/2017). 9. Writ não conhecido. (HC n. 405.337/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Quinta Turma, julgado em 3/10/2017, DJe 11/10/2017) PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. NEGATIVA DE AUTORIA. REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. EXCESSO DE PRAZO. TEMA NÃO ENFRENTADO NA ORIGEM. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. JULGAMENTO DO HC. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO DEFENSOR. CERCEAMENTO DE DEFESA. INSTRUÇÃO DEFICIENTE. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. QUANTIDADE E DIVERSIDADE DA DROGA APREENDIDA. ILEGALIDADE. NÃO VERIFICADA. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A estreita via do recurso em habeas corpus não comporta aprofundada dilação probatório o que inviabiliza a análise de tese concernente à negativa de autoria que será analisada no cerne da ação penal. [...] 5. Habeas corpus denegado. (HC n. 388.711/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Sexta Turma, julgado em 26/9/2017, DJe 16/10/2017) Assim, a pretensão formulada pela impetrante encontra óbice na jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça, sendo manifestamente improcedente. Ante o exposto, com base no art. 34, XX, do RISTJ, não conheço do habeas corpus. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 28 de fevereiro de 2018. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA Relator
(STJ - HC: 431316 MG 2017/0334982-0, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Publicação: DJ 02/03/2018)

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