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História Americana 01

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Caderno de 
Referência de 
Conteúdo
INTRODUÇÃO1. 
Seja bem-vindo(a) à disciplina História da América I. Neste 
livro-texto, você poderá acompanhar como ocorreu o desenvolvi-
mento da vida humana no território americano. Para muitos au-
tores, essa é uma história que teve seu início há mais ou menos 
40.000 anos, mas existem mais dúvidas do que certezas quanto a 
essa data. A única convicção é de que os homens que chegaram à 
América antes mesmo de ela receber esse nome desenvolveram 
uma vida em sociedade, a qual nos deixou um infinito número de 
indícios ao longo de todo o continente.
Naquela época, a vida em sociedade não ocorreu de manei-
ra uniforme; ela se deu ao longo de todo o nosso território e em 
diferentes graus de complexidade social e desenvolvimento tecno-
lógico. Apesar disso, de toda a vasta extensão do continente ame-
ricano, duas regiões aglomeraram um número maior de pessoas 
do que em outras localidades, apresentando-nos sociedades mais 
complexas e vestígios arqueológicos mais abundantes. 
© História da América I
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Uma dessas faixas se localiza, genericamente, na região do 
atual México e América Central, chamada de Zona Nuclear Me-
soamericana. A outra faixa se situa na região que compreende as 
cadeias de montanhas dos Andes e o litoral do Pacífico, numa faixa 
de terra que se estende do Equador ao Chile, a qual chamamos de 
Zona Nuclear Andina Central.
Nessas duas zonas nucleares, povos como os maias, os as-
tecas e os incas construíram organizações sociais que nos enchem 
de fascínio e dúvidas até os dias de hoje, e, com eles, vários outros 
povos também ergueram casas, prédios e templos. Mais do que 
construções e vestígios arqueológicos, é preciso saber que, nesses 
locais, viveram homens capazes de conduzir sua própria história, 
dar significado à sua realidade e explicá-la, bem como produzir di-
ferentes tipos de sociabilidades.
Como na Europa, na Ásia ou em qualquer outro lugar, esses 
homens construíram relações sociais ao longo do tempo e, como 
tais, merecem atenção. Por isso, você os estudará nesta discipli-
na.
Conforme indicamos, nosso enfoque está voltado para a 
compreensão dos povos que se constituíram ao longo das duas zo-
nas nucleares mencionadas. Entretanto, outras referências a res-
peito da história de outras comunidades também serão abordadas 
neste estudo.
Antes mesmo de Colombo chegar com suas caravelas à Amé-
rica, em 12 de outubro de 1492, esses povos já possuíam uma in-
tensa vida e uma fascinante história. Vamos conhecê-las!
Ao iniciar esta disciplina, você precisará acompanhar as 
etapas de aprendizagem com dedicação e interagir constante-
mente com seus professores e colegas de curso para, assim, ficar 
atualizado(a) não só com o conteúdo da disciplina, mas também 
com as discussões travadas no Fórum ou na Lista.
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Dessa maneira, se ficar atento(a), participar e interagir, será 
mais fácil acompanhar o prosseguimento do conteúdo e, com isso, 
beneficiar-se do alargamento de ideias que trazem as discussões e 
os debates. Você se sentirá estimulado(a) a desenvolver mais este 
projeto em sua vida.
ORIeNTAÇões PARA O esTUDO DA DIsCIPLINA2. 
Abordagem Geral da Disciplina
Bem- vindos à disciplina de História da América I. Nesta 
disciplina, vocês verão as principais características da ocupação 
e desenvolvimento da vida humana no continente Americano e 
poderão acompanhar as principais características das sociedades 
americanas que habitaram nosso continente até a chegada dos eu-
ropeus em 12 de outubro de 1492.
Não quero dizer que a “descoberta” da América fez com que 
esses agrupamentos humanos simplesmente desaparessem. Ao 
contrário, muito de sua cultura e de suas tradições são a base da 
identidade atual de povos americanos, como os peruanos, mexi-
canos e bolivianos, por exemplo. O que quero dizer é que, com a 
chegada dos homens vindos do outro lado do Atlântico, a dinâmica 
da vida de tais sociedades mudou completamente. A sua forma 
de produzir, de cultuar seus deuses, de se alimentar, de trabalhar, 
entre tantas outras coisas, foram definitivamente remodeladas, 
dando fim à antiga organização que dava uma lógica própria a sua 
vida cotidiana. 
É verdade que muitas tribos, etnias e aldeias simplesmen-
te viram seus herdeiros morrerem uns após outros, vítimas de 
doenças, de guerras, da escravidão, da não adaptação aos novos 
conceitos de vida e trabalho e por tantos outros motivos. Porém, 
muitos permaneceram vivos e participaram da construção de um 
novo mundo, de novas sociabilidades e modalidades de trabalho, 
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mesmo que isso tenha custado um alto preço. Para que vocês te-
nham uma noção precisa disso, tanto o México como o Peru pos-
suem mais de 80% de sua população de origem indígena.
Contudo, o nosso objetivo não é falar sobre o encontro en-
tre os dois continentes. Queremos falar sobre como ocorreu e se 
desenvolveu a vida dos homens na América, muito antes dela re-
ceber este nome, muito antes de ser encontrada pelas caravelas 
de Cristóvão Colombo. Esclarecendo, aqui, nosso assunto é sobre 
a história das sociedades antes de Colombo: a América pré-colom-
biana.
Com certeza vocês já ouviram ou leram alguma coisa a res-
peito das sociedades que habitavam o nosso continente antes da 
chegada dos barcos comandados pelo Genovês. Existem muitos 
livros, muitas teorias, muitas lendas e mitos que povoam o ima-
ginário popular e que se remetem a essas sociedades. No caso do 
Brasil, temos, por exemplo, as lendas Tupi sobre Yara (a rainha das 
águas), as Lágrimas eternas de Potyra e sobre Tucumã e a forma-
ção da noite. 
Já para o restante da América, as histórias mais conhecidas 
falam sobre os povos que tiveram um nível de organização social 
e material mais complexo, entre eles, os Maias, os Astecas e os 
Incas. 
Os Maias e os Astecas viveram onde hoje se localizam os 
territórios do México e de boa parte da América Central, à exceção 
do Panamá e das Ilhas do Caribe. Esta região é chamada Meso-
América. 
A história dos Maias prolongou-se por vários séculos, desde 
dois milênios antes da Era Cristã, até meados do século 16. Porém, 
o seu apogeu se deu por volta do século oitavo. Recentemente, 
os Maias voltaram a ganhar espaço na literatura, principalmente 
aquela de cunho místico-religioso. Muito se comenta sobre a pro-
fecia e o calendário Maia, que preveem o fim do mundo para o ano 
de 2012. Vocês verão mais sobre isso no decorrer desta disciplina.
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Já os Astecas possuem uma história mais curta. Provavel-
mente, a organização de sua sociedade ocorreu por volta dos sé-
culos 12 e 13, sendo que o seu apogeu foi atingido rapidamente 
no século 15. Donos de um poderio militar e de uma ampla fama 
de violência, os Astecas foram também excelentes construtores. 
Prova disso foi a construção de sua capital, Tenochtitlan. Localiza-
da em uma ilha pantanosa no centro do lago Texcoco, Tenochtitlan 
possuiu um complexo de pirâmides, aquedutos, ilhas artificiais de 
plantação e várias outras obras arquitetônicas. 
Diferentemente dos Astecas e dos Maias, os Incas viveram 
na parte sul de nosso continente e ocuparam uma grande faixa 
de terra que vai da região do atual Equador, passando pelo Peru, 
Bolívia, noroeste da Argentina e norte do Chile. É a chamada Zona 
Andina Central. No entanto, assim como os Astecas, a organização 
de sua sociedade foi rápida e seu apogeu ocorreu por volta do sé-
culo 15. 
Sem sombras de dúvida, a cidade de Machu Picchu é o ele-
mento mais conhecido e divulgado sobre os Incas. Muitas vezes, 
ao falarmos sobre os Incas, imediatamente a cidade de Machu 
Picchu se torna um paralelo inevitável em nossas conversas. O in-
teressante é que,para a organização do grandioso império Inca, 
Machu Picchu não possuiu uma posição de destaque. Porém, a sua 
importância para nós é realmente merecida. Sabem por quê? 
O seu descobrimento recente, no início do século 20, permi-
tiu que a cidade fosse encontrada intacta. Sem a intervenção espa-
nhola na época colonial, Machu Picchu pôde manter a sua organi-
zação urbano arquitetônica original, o que nos permite aproximar 
com mais segurança do estudo desse povo.
Aliás, quanto à ocupação espanhola na América, este é um 
grande problema que encontramos no estudo da história da Amé-
rica Pré-Colombiana. Muito de nossas fontes de estudo foram 
completamente destruídas durante a época da colonização. Outras 
tantas foram danificadas ou reapropriadas para o uso espanhol.
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A cidade de Tenochtitlan mencionada anteriormente foi 
completamente destruída pelos espanhóis durante a colonização. 
As pedras de seus templos foram utilizadas para a construção de 
edifícios administrativos e igrejas coloniais. O próprio lago Texcoco 
foi totalmente drenado. Em cima da antiga capital asteca hoje se 
encontra a capital mexicana, a cidade do México.
Justamente por isso, atualmente, naquela cidade, durante 
escavações para a construção de edifícios ou para a expansão de 
linhas de metro, é comum que as máquinas encontrem restos ar-
queológicos da majestosa cidade de Tenochtitlan.
Entretanto, se a cidade foi totalmente devastada, como é 
que sabemos detalhes sobre a sua construção, bem como os pré-
dios que nela existiam? Como podemos saber se ela era, de fato, 
majestosa?
A resposta é simples. Logo que chegaram à América, os colo-
nizadores espanhóis começaram a anotar, desenhar e escrever so-
bre tudo aquilo que viam. O próprio Colombo foi o primeiro a fazer 
isso em seus diários de viagem. Porém, grande parte dos relatos 
foi feito por padres que, durante o processo de evangelização dos 
povos americanos, descreveram o modo de vida dos nativos, suas 
práticas religiosas, suas formas de plantar, cultivar, comer, festejar, 
enfim. Além disso, outros cronistas leigos descreveram as riquezas 
e grandiosidades que encontraram ao longo de sua peregrinação 
no novo mundo.
Por meio da leitura dessas crônicas é que podemos imaginar 
como eram as casas, os templos e a vida dos homens que habita-
vam a América antes da chegada de Colombo. 
Um exemplo disso é que um dos mais conhecidos cronistas 
que descreveu a cidade de Tenochtitlan foi Bernal Diaz del Catillo. 
Vejamos o que ele nos conta sobre Tenochtitlan: 
Nesta grande cidade... as casas se erguiam separadas uma das 
outras, comunicando-se somente por pequenas pontes levadiças 
e por canoas, e eram construídas com tetos terraceados. Obser-
19© Caderno de Referência de Conteúdo
vamos, ademais, os templos e adoratórios das cidades adjacentes, 
construídas na forma de torres e fortalezas e outros nas estradas, 
todos caiados de branco e magnificamente brilhantes. O burburi-
nho e o ruído do mercado... podia ser ouvido até quase uma légua 
de distância... quando lá chegamos, ficamos atônitos com a multi-
dão de pessoas e a ordem que prevalecia, assim como com a vasta 
quantidade de mercadorias... cada espécie tinha seu lugar particu-
lar, que era distinguido por um sinal. (MEGGERS, 2001, p. 21-22).
Reparem que o autor, ao descrever Tenochtitan, deu um 
enfoque especial ao seu comércio e ao número de pessoas que 
dele participavam. Além disso, utiliza recursos linguísticos como 
“ordem, grande, atônito”, para enfatizar a sua surpresa diante da 
cidade. Em outro ponto da crônica, ele chega a dizer que esta cida-
de poderia ser mais bela do que a Roma Antiga fora.
Apesar dos relatos desses cronistas serem extremamente 
importantes para construirmos nossa história sobre os povos pré-
colombianos, é preciso que tenhamos muito cuidado. Ao realizar-
mos a leitura de uma crônica, devemos fazer com o sinal de alerta 
ligado o tempo todo. O próprio relato de Bernál Diaz é um exemplo 
disso. Mas por que tanto cuidado?
Os cronistas escreviam aquilo que viam, porém, segundo 
uma ótica europeia. Assim, descreviam sobre as práticas sociais 
locais, mas utilizando-se de conceitos, referenciais e paradigmas 
cristãos ocidentais. Assim, quando viam um governante, o chama-
vam de “rei”. Quando viam o filho de um administrador local, o 
chamavam de “fidalgo”. Quando viam uma mulher vivendo em um 
templo sacerdotal, a chamavam de “freira”. Ora, é evidente que 
não existiam freiras entre os povos pré-colombianos, bem como 
“reis” ou “fidalgos”. Esses são referenciais europeus para descre-
ver algo que viam aqui e que se assemelhava com o que tinham 
lá. 
Muitas vezes esses conceitos importados tiveram resultados 
mais prejudiciais à descrição da vida local. A religião é um exemplo 
claro disso. A religiosidade dos povos americanos e suas práticas 
ritualísticas foram, invariavelmente, descritas como demoníacas. 
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Ora, o demônio é um elemento exclusivo de nossa religiosidade ju-
daico-cristã, como poderiam os nativos adorar o demônio se nem 
ao menos sabiam de sua existência?
O referencial europeu não afetou somente a escrita das crô-
nicas dos descobrimentos. Até mesmo o desenho e a ilustração do 
cotidiano nativo sofreram essa influência. 
Nesse sentido, é importante conhecermos as crônicas e có-
dices escritos por espanhóis logo que chegaram à América. Elas 
são de suma importância. Mesmo porque se configuram como a 
quase totalidade de fontes escritas que possuímos para o estudo 
da América Pré-Colombiana. Como vocês verão ao longo de nos-
sa disciplina, muitos povos que habitaram o nosso continente há 
séculos não possuíam qualquer tipo de escrita. Na realidade, uma 
minoria dominou algum tipo de escrita hieroglífica ou iconográfi-
ca, como foi o caso dos Maias. 
No entanto, o pouco que foi escrito por povos nativos, como 
os livros de desenho dos Maias, foi destruído por padres espanhóis 
que relacionaram a sua confecção a práticas de adoração ao diabo. 
Hoje, somente quatro códices Maias encontram-se dispostos em 
sua íntegra. Eles fazem parte do pequeno número de quarenta có-
dices pré-colombianos da zona mesoamericana que se encontram 
ainda preservados.
Se, por um lado, temos dificuldades com a análise de fontes 
escritas, uma vez que elas estão deturpadas por conceitos euro-
peus ou pelo número reduzido de fontes nativas, por outro, tam-
bém não temos vida fácil quando partimos para a análise de fontes 
materiais, as chamadas fontes arqueológicas.
Da mesma forma que os livros maias, muitas obras, pintu-
ras, prédios e templos pré-colombianos foram destruídos ou re-
apropriados pelos colonizadores. O templo do sol, o chamado 
Qoricancha em Cuzco, é um exemplo disso. Sobre as pedras que 
edificavam o Qoricancha é possível encontrar heranças coloniais e 
arquiteturas contemporâneas edificadas. 
21© Caderno de Referência de Conteúdo
Além disso, a falta de cuidados e a ação do tempo sobre as 
construções provocam erosões que destroem os restos arqueoló-
gicos e deturpam a sua organização original.Ademais dos efeitos 
da colonização e da ação do tempo sobre os restos arqueológicos, 
outro tipo de ação predatória e que prejudicam os nossos estudos 
é a existência de caçadores de tesouros ou ladrões de túmulo que 
atuam até os dias de hoje em busca de riquezas como ouro, prata 
e pedras preciosas. A prática de saques nos túmulos pré-históricos 
é algo comum em todo mundo, justamente por isso, quando se 
encontra algum túmulo antigo, são raras as chances de achá-lo in-
tacto. Muitas múmias foram decapitadas ou tiveram membros de-
cepados para a retirada de joias, por exemplo. Os ladrões não rou-
bam somente o ouro, mas prejudicam a compreensão do passado, 
uma vez que tambémalteram a disposição de objetos e artefatos 
que possuíam um significado cultural em sua disposição. 
Como vocês podem reparar, possuímos uma série de difi-
culdades para o trabalho de pesquisa da História da América Pré-
Colombiana. Como vimos, relatos e achados arqueológicos nem 
sempre nos apresentam informações seguras. Porém, são essas as 
principais fontes que possuímos e, por isso, é preciso classificá-
las. As principais fontes utilizadas para o estudo da América Pré-
Colombiana são: as fontes arqueológicas e as fontes escritas.
 Além desses dois tipos de fontes, resta-nos apresentar ou-
tro tipo de fonte que nos é bastante útil: as fontes etnológicas e 
antropológicas . As fontes etnológicas derivam do trabalho de et-
nólogos que se aproximam de tribos remanescentes para o estudo 
da memória coletiva de seus habitantes. A antropologia, por sua 
vez, trabalha na perspectiva da análise dos significados culturais 
dos objetos encontrados e a sua possível função dentro de uma 
sociedade antiga. Muitas vezes, a antropologia contribui para a 
aproximação de grupos de trabalhos de etnólogos às culturas re-
manescentes ou aos herdeiros dos antigos povos, na tentativa de 
descobrir relatos orais que permitam uma melhor análise dos ob-
jetos, hábitos e costumes de seus antepassados.
 
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O trabalho da antropologia e da etnologia é extremamente 
importante, mas precisa ser feito com rigor metodológico e cien-
tífico, uma vez que se corre o risco de se atribuir a elementos do 
passado significações e interpretações ocidentais, assim como fize-
ram os primeiros europeus. A mesma advertência serve aos histo-
riadores que podem recorrer às concepções contemporâneas para 
compreender o passado, cometendo, assim, o temido equívoco do 
anacronismo.
 Assim como os cronistas de antigamente, poderíamos in-
correr em interpretações do passado de acordo com a nossa visão 
do mundo atual. Um dos equívocos principais resultantes dessa 
análise está na subestimação da capacidade inventiva e criativa 
daqueles povos. Poderíamos analisá-los como atrasados, em rela-
ção ao nosso tempo e achar que tudo o que fizeram era impossível 
sem o auxílio de nossas tecnologias atuais. 
Um dos principais equívocos no trabalho de história da Amé-
rica Pré-Colombiana está no fato de olharmos para o passado com 
os olhos do presente. Olhamos para as construções do passado, as 
pirâmides Maias, os grandes blocos de pedra Inca e nos pergun-
tamos: como isso era possível sem os cálculos da física moderna, 
sem o avião, sem os guindastes, sem a dinamite?
Durante a década de 1960, a incompreensão da capacidade 
inventiva e construtiva desses povos fez que uma boa parte da lite-
ratura mundial acreditasse na interferência alienígena para a edifi-
cação dos prédios. O livro que melhor expressou essas teorias foi a 
obra Eram os deuses astronautas? , de Erich von Däniken. Sobre as 
civilizações pré-colombianas, uma que chamou a atenção especial 
do autor foram os Nazcas e suas intrigantes linhas desenhadas no 
atual vale de Ica no Peru. 
Von Däniken afirmou que a obra Nazca somente poderia ser 
feita orientada por um observador que estivesse no céu, no espa-
ço: os extraterrestres. Além disso, sustentou que as linhas retas que 
acompanham e marcam os desenhos e boa parte da região eram, 
23© Caderno de Referência de Conteúdo
na realidade, pistas de pouso para aeronaves extraterrestres. Para 
compreender melhor o assunto, assista ao documentário inspira-
do em seu livro e que fala sobre essas linhas, que se encontra dis-
ponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=FepZlcFrX4Y>. 
Acesso em: 21 maio 2010.
Durante o documentário organizado pelo próprio autor, vá-
rias vezes ele recorre a expressões como essas: “sem a utilização 
do avião isso seria impossível de ser feito” ou “sem os recursos tec-
nológicos que temos hoje, isto seria impossível de ser construído”. 
Seu livro e o documentário, que facilmente pode ser localizado no 
youtube, estão repletos de concepções etnocêntricas. Versa sobre 
uma infinidade de povos da antiguidade mundial. Na América, fala 
dos Maias, dos Astecas, dos Incas, dos Tiahuanacos, dos Nazca e 
dos habitantes da ilha de Páscoa. Sempre para afirmar a mesma 
coisa, o passado pré-colombiano nada mais foi do que uma espé-
cie de laboratório alienígena.
Particularmente, não vejo como acreditar nas hipóteses de 
Von Däniken. Primeiro, pois a existência de extraterrestres, ou de 
viagem no tempo, como ele presume ainda não são cientificamen-
te comprovadas. Depois, porque vários indícios arqueológicos con-
firmam que os povos das civilizações antigas da América eram sim 
capazes de realizar tais fatos. Para tanto, possuíam uma capacida-
de tecnológica diferente da nossa. Possuíram a sua própria manei-
ra de construir e de inventar, pautada em outros preceitos lógicos. 
Ou seja, não eram nem mais atrasados, nem mais evoluídos do 
que nós, nem melhores e nem piores, mas sim diferentes. 
Como eles faziam, quais eram suas técnicas talvez jamais sai-
bamos. Mas a busca pela sua compreensão dentro de preceitos 
científicos, seja arqueológico ou historiográfico, essa sim deve ser 
a inspiração de nossas pesquisas. 
Um exemplo disso são os chamados quipus, utilizados pelos 
wari e pelos Incas. Da mesma forma que os Wari, os Incas não 
possuíam qualquer tipo de escrita. Não desenvolveram tipos ico-
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nográficos, alfabéticos ou hieroglíficos para registrar seus aconte-
cimentos, realizar cálculos ou regularem sua imensa sociedade de 
quase um milhão de km2. Porém, existe um objeto que nos leva a 
acreditar que, diferentemente do que fizeram outros povos ao re-
dor do mundo, como nós mesmos, eles conseguiram desenvolver 
uma técnica de registro que tornou a escrita simplesmente inútil, 
justamente os quipus. 
Os quipus são compostos por uma espécie de corda maior, 
amarrada em volta do pescoço, com várias outras cordas menores 
de tamanhos e cores diferentes que saem desse tronco. A cada dez 
unidades contadas se realiza um nó em uma das cordas ramifica-
das sinalizando sua contagem. Justamente por isso, acreditou-se, 
durante muito tempo, que os quipus serviam somente para a con-
tagem e o controle de estocagem. 
No entanto, estudos mais recentes apontam para a possibi-
lidade de que os quipus também servissem como uma forma de 
escrita. O indício parte das próprias crônicas. Muitas vezes, os cro-
nistas, quando queriam obter informações sobre o passado dos 
incas, recorriam aos quippucamayos (homens que dominavam a 
técnica dos quipus), e eles lhes contavam com detalhes a história 
de seus antepassados. Dessa forma, seriam não apenas contado-
res, mas verdadeiros escribas do império.
Agora, se tomarmos apenas a nossa escrita como exemplo 
de forma de registro correto, como melhor e mais efetivo, jamais 
conseguiremos aceitar que os quipus possam ter sido algo que su-
primiu a necessidade da escrita entre os Incas. Mais uma vez es-
taríamos olhando para o passado tendo o presente como modelo 
ideal e, na história, isto é um grande equívoco.
Na história da América Pré-Colombiana, não podemos nos 
perguntar: “Eles eram capazes de fazer isso?”, mas sim, “Por que 
eles não eram capazes de fazer isso?”.
Dessa maneira, o que nos importa não é saber como edifi-
caram tais construções, mas sim por que o fizeram. Qual o sentido 
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cultural dessas obras? Qual a utilidade dessas obras para a sua or-
ganização social e política? Quais as relações de poder que levam 
homens a construir edifícios como tais? Como se fundamentava 
sua religião? Enfim, perguntas que nos permitem solucionar uma 
antiga questão da história: como viveram os homens ao longo do 
tempo?
Um dos capítulos dessa históriaque mais guarda divergên-
cias e que é responsável por discussões geológicas, paleontológi-
cas, arqueológicas e historiográficas é justamente o primeiro capí-
tulo: a chegada do homem ao território americano. Não, não estou 
falando da chegada dos europeus com seus navios, mas sim da 
chegada dos primeiros povos que deram início ao povoamento do 
continente americano. 
Logo no primeiro dia de Colombo nas ilhas do caribe, ele já 
encontrou-se com os nativos. Para ele isso não era problema ne-
nhum. Até então, pensava que tinha chegado na parte oriental da 
Ásia, provavelmente uma das ilhas do atual arquipélago do Japão. 
Passados anos, quando descobriram que a faixa de terra descober-
ta por ele não compunha o território asiático, mas sim um novo 
continente, começou-se a especular: mas de onde teriam vindo 
esses homens? Eram realmente nativos? 
Quando as teorias evolucionistas começaram a ganhar corpo 
no século 19, as perguntas começaram a ser feitas da seguinte for-
ma: houve na América um tipo de evolução natural das espécies 
ou os homens que aqui estavam são resultado de migrações feitas 
de outras partes do mundo? Sendo a segunda verdadeira, esses 
homens seriam de uma mesma evolução ocorrida em outra parte 
do mundo.
Aceitando essa especulação, como teriam eles chegado, se 
não existe nenhum tipo de ligação terrestre entre o continente 
americano e os demais continentes? Difícil pergunta! Por mais in-
crível que pareça, a resposta é um tanto simples: eles vieram a pé. 
Isso mesmo, caminhando.
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Ao longo desta disciplina, vocês verão que existe uma série 
de teorias que estabelecem explicações sobre a chegada dos ho-
mens no continente americano. Algumas especulam sobre viagens 
transpacíficas realizadas por pequenas embarcações entre o litoral 
japonês ou chinês e a costa equatoriana; outras apontam para a 
migração por meio de sistemas de cabotagem entre o sul do con-
tinente americano e a Oceania; outras mais ousadas apostam na 
ocorrência de viagens transatlânticas que ligariam a África ao lito-
ral brasileiro. 
Além dos diferentes caminhos que os homens poderiam ter 
tomado para adentrar ao continente americano, outras divergên-
cias dizem respeito ao período e à data quando isso teria ocorrido. 
Não queremos discorrer sobre cada uma aqui, nem tampouco des-
cartar a sua validade. Pensamos que todas devem ser considera-
das dentro de suas possibilidades científicas.
Contudo, entre todas as teorias e todas as hipóteses de ocu-
pação do continente americano há uma que é apontada como 
unânime. Se existem outras rotas e datas para a ocupação, ainda 
carecemos de maiores informações. No entanto, esta é uma infor-
mação extremamente segura.
Como especulamos anteriormente, de fato, a vida humana 
na América não teve início aqui. Ela tem suas origens remontadas 
ao continente asiático e aos grupos nômades que lá viviam. Du-
rante o Período geológico denominado Pleistoceno, que vai de 1,5 
milhões de anos até 10.000 anos a.C, as temperaturas da Terra 
eram muito baixas, uma vez que foi aí que tivemos o início das 
glaciações e a formação atual do relevo. 
Nesta época, a alimentação dos grupos humanos era feita 
por intermédio da caça e da coleta. A agricultura ainda não havia 
sido desenvolvida. Assim, muito provavelmente, por volta do ano 
10.000 a.C, em busca de animais para garantir a sua sobrevivên-
cia, os homens teriam passado de um continente para o outro por 
meio de uma faixa terrestre localizada no estreito de Bering, que 
fica entre o Norte do Continente Americano e o Continente asiá-
tico. 
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Dessa maneira, incentivados pelo instinto de sobrevivência 
os homens entraram em nosso continente e, a partir daí, teriam 
dado início a sua ocupação e povoamento. Mas esperem um mo-
mento. Acabamos de afirmar anteriormente que não há nenhum 
tipo de ligação terrestre entre o continente americano e os demais 
continentes. Assim, como é que eles passaram caminhando de um 
continente ao outro?
Estudos geológicos nos apontam que, por volta de 50.000 
a 40.000 anos a.C, ainda no Pleistoceno, as baixas temperaturas 
levaram ao congelamento de partes consideráveis das águas dos 
oceanos. Por conta disso, o nível do mar encontrava-se cerca de 
100 metros mais baixo do que nos dias atuais e, em alguns territó-
rios, a distância do mar para a costa era cerca de 150 quilômetros 
maior do que nos dias de hoje. Essas condições climáticas e geo-
lógicas permitiram a existência de uma conexão terrestre entre os 
atuais territórios do Alasca e da Sibéria.
Este quadro resultou na formação de uma grande ponte for-
mada por partes de terra e camadas de gelo. Desse modo, não 
somente homens como grandes animais puderam passar por este 
vasto caminho. 
Um dado interessante é que esta mesma estrutura também 
se apresentou entre os anos 28.000 e 10.000 a.C, sendo essa últi-
ma data a mais provável para a entrada do homem no continente 
americano. Um dos indícios que permitem termos tanta certeza da 
presença humana no continente nesta data se dá pelo número alto 
de achados arqueológicos referentes a esse período, representa-
dos, principalmente, pela existência de artefatos de pedra talhada 
em várias partes de nosso continente datadas de 10.000 a.C. 
A partir daí, em busca de melhores condições de vida e ali-
mento, o homem foi desbravando o continente americano e ocu-
pando diferentes áreas até formarem pequenos bandos, tribos, 
chefias, aldeias, estados e civilizações. 
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Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápi-
da e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom 
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co-
nhecimento dos temas tratados na disciplina História da América 
I. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos desta discipli-
na:
Ayllus1) : são os agrupamentos familiares que expressam o 
conjunto social básico da sociedade andina e, por conse-
quência, incaica.
Carbono 142) : “A datação por carbono 14 é uma maneira 
de determinar a idade de certos artefatos arqueológicos 
de origem biológica com até 50 mil anos. Ela é usada 
para datar objetos como ossos, tecidos, madeira e fibras 
de plantas usados em atividades humanas no passado 
relativamente recente” (BRAIN in HOW STUFF WORKS 
BRASIL, 2011).
Chicha3) : bebida alcoólica fermentada andina feita à base 
de milho. Além da chicha alcoólica, é produzida no Peru 
uma espécie de chicha sem álcool e de variados tipos de 
milho; do milho roxo, sai a chicha morada (morena), por 
exemplo. É consumida no cotidiano, e há lugares pró-
prios para isso: são as chamadas “chicherias”, que reme-
tem ao período colonial.
Coivara4) : sistema de plantio que “consiste em plantar os 
grãos com ajuda do bastão de semear (huctli) numa cla-
reira ganha à selva cortando as árvores e queimando a 
vegetação menor. Depois que varia segundo a qualidade 
do solo, mas nunca é muito longo, o rendimento começa 
a diminuir, o que conduz ao abandono da terra plantada, 
para que se reconstitua o bosque e se regenere o solo; 
uma nova clareira deve então ser conquistada à vegeta-
ção natural” (CARDOSO, 1990, p. 59). 
El Niño5) : é um fenômeno atmosférico-oceânico de aque-
cimento anormal das águas do oceano Pacífico tropical. 
Tal fenômeno, cuja atuação sobre as temperaturas mun-
diais ainda é motivo de estudo, foi reconhecido por pes-
29© Caderno de Referência de Conteúdo
cadores da costa oeste da América do Sul, que notaram 
o fato de o fenômeno normalmente ocorrer no fim do 
ano, associando-o ao Natal (Menino Jesus) (FREITAS in 
BRASIL ESCOLA, 2011).
Huacas6) : são consideradas “lugares sagrados” para os 
povos da região andina central. Podemse apresentar 
em forma de templos, mas também como cavernas ou 
rochas.
Mitmaq7) : deslocamento forçado de tribos rebeldes para 
outras áreas para o exercício de trabalhos compulsó-
rios.
Oaxaca8) : quer dizer “ao sul”, “meridional”.
Pachacútec (ou pachacuti)9) : em quíchua, significa “revi-
rar a terra” ou “a inversão do mundo”. Por conta disso, 
muitos autores acreditam que o próprio imperador civi-
lizador do império inca, Pachacuti Yupanqui, tenha rece-
bido esse nome por ter invertido o sentido desse impé-
rio, que, sob seu comando, viveu uma reestruturação e 
um remodelamento de todo o seu sistema de crenças e 
organização social, com a incorporação de novos tipos 
de trabalhadores e sistemas compulsórios de trabalho.
Paqarina10) : espécie de matriz tribal da qual um povo se 
origina. Toda sociedade andina possui uma paqarina à 
qual remete suas origens.
Peruanista11) : estudioso da história do Peru que não tem 
nacionalidade peruana, como o caso de Peter Kláren, 
que é americano. Esse tipo de terminologia pode ser 
aplicado para outros casos, como, por exemplo, ameri-
canista, brasilianista etc.
Pleistoceno12) : é a época geológica que antecede o Holo-
ceno, época em que vivemos. Seu período de duração 
vai de, aproximadamente, 1,5 milhão a.C. a 10.000 a.C. 
Geologicamente, é uma época que se localiza no éon Fa-
nerozoico, era Cenozoica, período Quaternário. Na Amé-
rica, o Pleistoceno teve seu final tardiamente, por volta 
de 8.000 a.C. Para saber mais sobre essa época, consulte 
a tabela disposta na ferramenta Material de Apoio.
© História da América I
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30
Qoricancha13) : em quíchua, significa “campo de ouro” (qori 
= ouro; cancha = campo), porém, é chamado, também, 
de Templo do Sol. Hoje, no local onde se encontrava o 
Qoricancha, em Cuzco, se localiza o Convento de São 
Domingo. No início da colonização andina, os espanhóis 
construíram uma igreja em cima do antigo Templo do 
Sol. Aliás, essa é uma das características da coloniza-
ção: substituir os templos e lugares sagrados dos incas 
(as chamadas huacas) por igrejas e locais santos do ca-
tolicismo. Nesses lugares, viveriam deuses locais, que 
atuariam apenas ali. Assim, essas construções católicas 
“neutralizariam” tais divindades. Além disso, uma das 
penalidades impostas aos quíchuas rebeldes era o mit-
maq; por meio dele, perderiam o contato com essas di-
vindades.
Quinoa14) : palavra de origem quíchua, é o fruto de uma 
árvore chamada “quino”. É uma fruta seca, com muitas 
sementes em formato elipsoidal.
sambaquis15) : são os restos arqueológicos dos povos que 
viveram em costas marítimas e desenvolveram sua vida 
tendo o mar como subsistência, seja pela pesca rudi-
mentar, seja pelo consumo de moluscos. Assim, todos os 
restos de utensílios, esqueletos ou conchas amontoadas 
por tribos litorâneas são denominados “sambaquis”.
sazonalidade16) : “relativo a sazão ou estação” (Dicionário 
Aurélio). 
Virilocal17) : “relativo a regra, ou costume institucionaliza-
do, ou ao padrão de residência a eles associado, segundo 
o qual, após o casamento, o novo casal passa a viver na 
localidade (casa, aldeia, acampamento etc.) do homem” 
(Dicionário Aurélio). 
esquema dos Conceitos-chave
Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo, apresentamos o Esquema dos Conceitos-
chave desta disciplina (Figura 1). O mais aconselhável é que você 
mesmo faça seu esquema ou seu mapa mental. Esse exercício tam-
31© Caderno de Referência de Conteúdo
bém é uma forma de construir seu conhecimento, ressignificando 
as informações obtidas com base em suas próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos 
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações 
existentes entre os conceitos por meio de palavras-chave, partin-
do dos termos mais complexos para os mais simples. Esse recurso 
pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada 
dos conteúdos de ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em 
esquemas e em mapas mentais, o indivíduo pode construir seu 
conhecimento de maneira mais produtiva e, assim, obter ganhos 
pedagógicos significativos em seu processo de ensino e aprendi-
zagem.
Aplicado em diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar – tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas 
em Educação –, o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, 
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos 
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, 
uma vez que há pontos de ancoragem, novas ideias e informações 
são aprendidas.
Tem-se de destacar que “aprendizagem” não significa reali-
zar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno apenas; sobretudo, 
é preciso estabelecer modificações para que ela se configure como 
uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante conside-
rar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de 
aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos conceitos 
devem ser potencialmente significativos para o aluno, dado que, 
ao fixar esses conceitos em suas já existentes estruturas cogniti-
vas, outros serão relembrados também.
Nessa perspectiva, partindo do pressuposto de que é você o 
principal agente da construção de seu próprio conhecimento por 
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e 
© História da América I
Centro Universitário Claretiano
32
externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tornar 
significativa sua aprendizagem, transformando seu conhecimento 
sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabelecendo uma 
relação entre aquilo que acabou de conhecer e o que já fazia parte 
de seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponível em: 
<http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapasconceituais/utilizama-
pasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).
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Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave da disciplina História da América I.
Como você pode observar, esse esquema lhe dá, conforme 
dito anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais importan-
tes deste estudo. Ao segui-lo, poderá transitar entre um e outro 
conceito desta disciplina e descobrir o caminho para construir seu 
processo de ensino-aprendizagem.
33© Caderno de Referência de Conteúdo
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de 
aprendizagem que se somam àqueles disponíveis no ambiente 
virtual, por meio de suas ferramentas interativas, e àqueles rela-
cionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presencial-
mente, ou seja, no polo. Lembre-se de que você, aluno da EAD, 
deve valer-se de sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento.
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontraráalgumas questões 
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem 
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como 
relacioná-las com a prática do ensino de História, pode ser uma 
forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re-
solução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará 
se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além 
disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhe-
cimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profis-
sional.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus 
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias apresentadas no Plano de Ensino e no tópico Orientações 
para o estudo da unidade.
Figuras (ilustrações, quadros...)
Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustrativas, 
pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. 
Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos 
© História da América I
Centro Universitário Claretiano
34
da disciplina, pois relacionar aquilo que está no campo visual com 
o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.
Dicas (motivacionais)
O estudo desta disciplina convida você a olhar, de forma 
mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser 
humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, 
práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-
ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, 
ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, per-
mite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a 
ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, 
portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno do curso de Licenciatura em História na 
modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e 
consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a dis-
tância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus 
colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize 
as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em 
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie 
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os 
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos 
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, 
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
35© Caderno de Referência de Conteúdo
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na 
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando 
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a 
esta disciplina, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto 
para ajudar você.
Centro Universitário Claretiano – Anotações
eA
D
1
As Origens Humanas 
da América: Ocupação 
do Continente e as Primeiras 
Organizações Sociais 
do Continente 
Americano
OBjeTIVOs1. 
Apresentar as dificuldades e limitações no estudo da his-•	
tória da América pré-colombiana.
Conhecer e discutir as principais teorias sobre a ocupa-•	
ção do continente americano e o desenvolvimento das 
primeiras sociedades americanas.
CONTeúDOs2. 
Ocupação do território americano.•	
Pré-história americana.•	
Nômades, tribos e aldeias: caçadores e coletores na Amé-•	
rica.
Sociedades agrícolas pré-urbanas.•	
© História da América I
Centro Universitário Claretiano
38
ORIeNTAÇões PARA O esTUDO DA UNIDADe3. 
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
Tenha sempre à mão o Esquema de Conceitos-chave e o 1) 
significado dos termos explicitados no Glossário de Con-
ceitos desta disciplina.
Pesquise museus, buscando vestígios sobre tais socieda-2) 
des: a internet está repleta de imagens. Também bus-
que entender a cartografia do continente americano e 
de seu relevo, clima, hidrografia e vegetação originais, 
visto que essas sociedades viviam em harmonia com o 
meio ambiente e estabeleceram atividades econômicas 
e culturais consoantes com as condições naturais
No Tópico 5, ao falarmos a respeito dos primeiros euro-3) 
peus na América, é importante que você saiba que há 
controvérsias: os vikings já haviam chegado às regiões 
Sudeste do Canadá e Nordeste dos Estados Unidos por 
volta do ano 1.000 d.C., e há indícios de expedições eu-
ropeias notadamente italianas anteriores à 1492. 
Consideramos importante destacar a você desde já que, 4) 
sobre as migrações humanas do continente asiático para 
a América, alguns antropólogos sustentam que, pelo Es-
treito de Bering, teriam ocorrido duas ondas de migra-
ção. A primeira – e mais antiga – teria acompanhado as 
Ilhas Aleutas e, ao chegar à América, seguido pela via li-
torânea em direção ao Sul. Vestígios dessa rota estariam 
submersos pelo aumento do nível do mar ao final do de-
gelo ártico. A segunda onda migratória, mais recente, te-
ria adentrado a América pelo interior do Alasca, cruzan-
do o Estreito de Bering. Por meio dessa onda, teria sido 
ocupado o interior do Canadá e dos Estados Unidos. 
Sobre o número de migrações e viagens ocorridas en-5) 
tre a Ásia e a América na Pré-história, você deve saber 
que existe uma polêmica, estendida até os dias atuais. 
Recentemente, uma pesquisa liderada por cientistas 
brasileiros (envolvendo o Departamento de Genética da 
USP de Ribeirão Preto), com a colaboração de pesqui-
39© As Origens Humanas da América: Ocupação do Continente e as Primeiras Organizações Sociais do Continente Americano
sadores peruanos, chegou a uma conclusão que reto-
ma um dos pontos mais controversos da ocupação do 
território americano. Segundo eles, a migração ocorreu 
em uma única viagem, feita por grupos de mongoloi-
des. Você pode encontrar a pesquisa completa no site 
disponível em: <http://www.revistapesquisa.fapesp.
br/?art=1853&bd=1&pg=1&lg=>. Acesso em: 8 dez. 
2008.
Previamente, adiantamos a você que muitos dos animais 6) 
que habitavam nosso continente na Pré-história não re-
sistiram a uma série de mudanças climáticas. Entre os 
animais de grande porte que viveram na América no pe-
ríodo Pleistoceno, na idade do Paleolítico, e que foram 
extintos em nosso continente, encontrava-se o famoso 
mamute (10.000 a.C.). Na América, existiu uma espécie 
de cavalo até o Mesolítico e início do Holoceno, aproxi-
madamente em 5.500 a.C., a qual se extinguiu. Somente 
com a chegada dos espanhóis é que a América voltaria 
a ter cavalos.
Durante muito tempo, a terminologia utilizada para de-7) 
limitar os bandos, assunto que abordaremos no Tópico 
6, foi o conceito de “horda primitiva”, de origem marxis-
ta. Baseado nos trabalhos de Friedrich Engels, o termo 
comparava essa organização social a um tipo primitivo 
de socialismo. Ao longo do século 20, o conceito foi mui-
to criticado, dando lugar ao termo bando. 
Estudaremos, no decorrer desta unidade, o contato 8) 
entre os povos pré-colombianos e os demais povos do 
mundo; por isso, é pertinente que você já reflita sobre 
algumas questões: será que a recusa em acreditarmos 
que grupos da costa pacífica da Ásia e da América possu-
íam contato frequente não nasce de nosso etnocentris-
mo,que concebe essas culturas como mais atrasadas do 
que nós? Será que eles eram tão atrasados como supõe 
o preconceito ocidental? Da mesma forma, por falta de 
estudos mais aprofundados, não sabemos quão desen-
volvidos eram os povos asiáticos do mesmo período. 
Será que eles não teriam uma tecnologia suficientemen-
te desenvolvida para chegarem aqui com mais frequên-
cia do que supomos? 
© História da América I
Centro Universitário Claretiano
40
Par9) a que você acompanhe melhor as idades da Pré-his-
tória e o ciclo de desenvolvimento das sociedades não 
só na América, como também no mundo, apresentamos 
o Quadro 1, bastante esclarecedor, organizado por Ciro 
Flamarion Cardoso.
Quadro 1 As grandes etapas da Pré-história (simplificado).
Fase subfase Características
Cronologia no 
Velho Mundo
Cronologia na 
América 
Paleolítico
Inferior
1ª parte: Só a África é 
povoada; ao Homo habilis 
atribui-se a chamada 
Pebble culture, com seus 
toscos talhadores de pedra. 
O homem é caçador-
coletor não-especializado e 
não conhece o fogo.
2ª parte: O homem povoa 
a África, a metade sul da 
Eurásia e a Indonésia. 
Ao Homo erectus, ou 
Pitecantropo, associa-se 
a fabricação de artefatos 
de pedra com duas faces 
trabalhadas e, mais tarde, 
de artefatos de lascas. 
Mais dados a partir de 
meio milhão de anos atrás, 
quando possivelmente 
surge o controle do fogo. 
Do aparecimento 
do Homem (5 
milhões de anos 
atrás, segundo R. 
Leakey) até um 
milhão de anos 
antes do presente; 
os vestígios se 
tornam mais 
abundantes a partir 
de uns 2 milhões 
de anos atrás. De 
um milhão de anos 
atrás a 100000 anos 
antes do presente, 
aproximadamente. 
Na América, talvez 
a partir de 40000 
a. C., penetram 
caçadores-
coletores não-
especializados, 
com instrumental 
lítico tosco, mas já 
pertencentes ao 
tipo Homo sapiens 
sapiens (que 
começa no Velho 
Mundo no máximo 
há uns 50000 
anos).
Médio
Ao Homo sapiens 
neanderthalensis e outros 
tipos humanos seus 
contemporâneos atribui-
se uma industria lítica 
chamada Musteriense, 
mais aperfeiçoada e 
diversificada do que as do 
Paleolítico Inferior. Têm 
inicio a caça direta de 
animais grandes, a vida em 
cavernas (com a glaciação), 
os enterros organizados e o 
culto a crânios de ursos. 
De 100000 a 
40000 anos atrás, 
aproximadamente. 
41© As Origens Humanas da América: Ocupação do Continente e as Primeiras Organizações Sociais do Continente Americano
Fase subfase Características
Cronologia no 
Velho Mundo
Cronologia na 
América 
Superior 
Ao Homo sapiens sapiens 
se associa uma série de 
indústrias líticas de alta 
qualidade e diversificação, 
incluindo pontas de 
projétil e uma industria 
de osso e marfim (arpões, 
agulhas, etc.). Apogeu da 
grande caça especializada. 
Primeira arte conhecida. 
De 40000 anos 
atrás a entre 
11000 e 9000 a. C., 
aproximadamente. 
Aproximadamente 
entre 11000 a. C. 
(talvez bem antes: 
ponta de Muaco) e 
8800/6000 a. C.
Mesolítico 
No Velho Mundo, 
aparecimento de 
microlitos (instrumentos 
de pedra de dimensões 
muito reduzidas), 
difusão do arco e flecha, 
primeiras embarcações 
arqueologicamente 
comprovadas. Na América 
as industrias líticas são 
diferentes. Mas o mais 
importante é, no mundo 
todo, uma diversificação 
dos modos de vida, 
conduzindo em certos 
casos aos primórdios da 
agricultura.
Começa entre 
11000 e 9000 a. C. 
aproximadamente, 
mas sua cronologia 
é muito variável 
segundo as regiões, 
havendo até hoje 
grupos ainda 
mesolíticos no seu 
modo de vida. 
Na América, 
começa entre 
8800 e 6000 a. C. 
aproximadamente; 
também neste 
caso a cronologia 
é variável segundo 
as regiões. 
Neolítico 
Difusão da vida agrícola 
e as das aldeias. 
Aparecimento ou difusão 
da cerâmica, da tecelagem 
e do polimento da pedra. 
Nos casos mais favoráveis, 
os grupos humanos 
neolíticos se tornam 
sedentários (coisa rara 
entre os grupos caçadores, 
coletores ou pescadores). 
No antigo Oriente 
Próximo asiático 
já havia aldeias 
plenamente 
neolíticas por volta 
de 7000 a. C. 
O surgimento 
de um modo de 
vida plenamente 
neolítico na 
América foi 
muito gradual. 
Nas regiões mais 
avançadas, a 
generalização das 
aldeias agrícolas 
sedentárias se da 
por volta de 2000 
a. C. 
Fonte: adaptado de Cardoso.
Além desse quadro, apresentamos a Tabela 1, com a es-10) 
cala do tempo geológico, que está disponível na Unidade 
© História da América I
Centro Universitário Claretiano
42
1 do livro-texto Fundamentos da Geologia, do curso de 
Licenciatura em Geografia na modalidade EaD do Clare-
tiano. Essa unidade está disponibilizada para você em sua 
Sala de Aula Virtual, ferramenta Material de Apoio.
43© As Origens Humanas da América: Ocupação do Continente e as Primeiras Organizações Sociais do Continente Americano
INTRODUÇÃO à UNIDADe4. 
Para dar início aos estudos da disciplina História da América 
I, apresentamos uma questão: você sabe como se deu o desenvol-
vimento das sociedades e dos grupos humanos que viveram na 
América antes da chegada dos europeus? Essa não é uma questão 
muito fácil de ser respondida, em virtude das dificuldades no estu-
do da América pré-colombiana. Talvez não tanto pela complexida-
de do assunto, mas, sim, pelas fontes documentais que possuímos 
para sua averiguação. Há algumas peculiaridades que cercam a 
história das sociedades pré-colombianas, que dificultam a conso-
lidação de teorias unânimes sobre a origem, a vida e os costumes 
desses homens “americanos”.
Na realidade, este é um campo de estudo que possui mais 
controvérsias e dúvidas do que certezas. Como dissemos, várias 
dessas dúvidas levantadas nos são impostas pelo tipo e pela qua-
lidade de documentação que possuímos. Como você sabe, a prin-
cipal fonte utilizada pela Historiografia para a análise do tempo 
passado em qualquer área é o registro escrito, como cartas, livros, 
insígnias nas paredes, entre outras. Ocorre que as sociedades pré-
colombianas, à exceção de alguns povos mesoamericanos, não de-
senvolveram nenhum tipo de escrita.
Os maias, importante civilização localizada na Mesoamé-
rica, constituíram um tipo de escrita iconográfica associada a 
desenhos e espécies de hieróglifos. Muitos desses escritos são 
encontrados em templos ou organizados em forma de códices 
(espécie de livros). Temos, nas Figuras 1 e 2, exemplos de códices 
de origem colonial e maia, respectivamente.
© História da América I
Centro Universitário Claretiano
44
Figura 1 Códice Mendoza, de origem colonial.
Figura 2 Códice de Dresden, de origem maia.
45© As Origens Humanas da América: Ocupação do Continente e as Primeiras Organizações Sociais do Continente Americano
O grande problema é que boa parte dos códices maias foi 
queimada pelos colonizadores espanhóis durante o processo de 
conquista da América. Hoje, somente quatro códices maias se en-
contram dispostos em sua íntegra. Eles fazem parte do pequeno 
número de 40 códices pré-colombianos da zona mesoamericana 
que ainda se encontram preservados.
Outros documentos escritos que nos servem de fonte de pes-
quisa historiográfica são os relatos de viajantes, cronistas e padres 
espanhóis, que anotavam e descreviam o estilo de vida e os deta-
lhes do cotidiano dos povos descobertos. Por autores mestiços, 
ainda foram confeccionados outros livros, seguindo, porém, uma 
tradição nativa, que nos servem de orientação para a interpretação 
de artefatos e objetos encontrados em escavações arqueológicas. 
Esses relatos e anotações escritos por padres e mestiços, 
também chamados de “códices”, nos impõem alguns problemas 
que devemos levar em consideração. Uma vez que foram elabo-
rados posteriormente à chegada dos espanhóis, não é possível 
certificarse os acontecimentos descritos são fiéis à tradição da 
comunidade nativa ou se estariam influenciados por uma menta-
lidade europeia difundida ou por uma interpretação da realidade 
segundo referenciais europeus.
Um exemplo claro disso são as chamadas “virgens do Templo 
do Sol” na sociedade inca, que, para os espanhóis, não passavam 
de freiras. Ora, é evidente que não existiam freiras no império inca, 
mas, ao verem as várias mulheres enclausuradas em um prédio de 
caráter religioso e fechado para o mundo exterior, os espanhóis 
associaram o local a um convento e as mulheres a freiras. Esse é 
apenas um dos milhares de exemplos de interpretações da realida-
de indígena feita segundo referenciais do mundo europeu.
Além dos documentos escritos, outras documentações que 
muito nos auxiliam na averiguação do passado americano são as 
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valiosas descobertas arqueológicas. Esses achados vão desde res-
tos de cerâmicas, pontas de lança feitas de pedra e utensílios coti-
dianos de caça ou de uso doméstico até urnas funerárias, templos 
religiosos e grandes construções administrativas.
O grande problema dessas fontes é que muitas foram cor-
rompidas. Várias construções pré-colombianas foram destruídas e 
tiveram suas pedras utilizadas para a construção de novos monu-
mentos, igrejas e prédios coloniais. A magnífica capital do impé-
rio asteca, Tenochtitlán, por exemplo, narrada por vários cronistas 
– como Bernal Díaz del Castillo – como uma cidade tão ou mais 
bela do que Roma ou Atenas, foi inteiramente devastada para a 
construção do que hoje é a Cidade do México. Até mesmo o lago 
Texcoco, que circundava Tenochtitlán, foi completamente drenado 
pelos espanhóis. 
Dos resquícios do império inca, os prédios e as casas da ca-
pital Cusco hoje servem de base para edificações modernas. Sobre 
as pedras do Qoricancha (ou Templo do Sol cusquenho), que signi-
fica “campo de ouro”, sendo que, em quíchua, qori é ouro e cancha 
é campo, localiza-se, por exemplo, o Convento de São Domingo, 
que foi construído pelos espanhóis em cima do antigo Templo do 
Sol no início da colonização andina. Aliás, essa é uma das caracte-
rísticas da colonização: substituir os templos e lugares sagrados 
dos incas (as chamadas huacas), em que viveriam os deuses locais, 
que atuavam apenas ali, por igrejas e locais santos do catolicismo, 
impondo como penalidade aos quíchuas rebeldes o mitmaq, isto 
é, o deslocamento forçado das tribos revoltas para outras áreas, 
para que perdessem o contato com suas divindades.
É possível, portanto, por meio desses traços da colonização, 
encontrar heranças coloniais e arquiteturas contemporâneas edi-
ficadas, como você verá na Figura 3, que traz o templo localizado 
na cidade de Cusco. Observe que, à frente, temos uma arquitetura 
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colonial; atrás, uma arquitetura inca; e, ao fundo, as janelas de 
vidro, que representam as arquiteturas contemporâneas.
Fonte: acervo pessoal.
Figura 3 Antigo Templo do Sol.
Sobre o Qoricancha, Cieza de León, importante cronista es-
panhol, narrou que era possível ver blocos feitos de ouro, lhamas 
e outros animais típicos, também feitos de ouro e em tamanho 
natural. Evidentemente, todos esses objetos, que seriam valiosís-
simos para a reconstrução do passado pré-colombiano, foram der-
retidos pelos próprios colonizadores ou por ladrões. 
Outra forma de roubo que prejudica a compreensão do pas-
sado americano era realizada pelos famosos “ladrões de túmulo”. 
A prática de saques nos túmulos pré-históricos é algo comum em 
todo o mundo, e, justamente por isso, quando se encontra algum 
túmulo antigo, são raras as chances de achá-lo intacto. Muitas mú-
mias, por exemplo, foram decapitadas ou tiveram membros dece-
pados para a retirada de joias.
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Os ladrões não roubam somente o ouro, mas, como dito, 
prejudicam a compreensão do passado, uma vez que também al-
teram a disposição de objetos e artefatos que tinham um significa-
do cultural em sua organização.
Por isso, achados como o Senhor de Sipán, feito ocorrido em 
1987 graças ao arqueólogo Walter Van, na região do litoral norte 
peruano, são muito comemorados, pois, além de raros, permitem-
nos uma melhor compreensão da cultura encontrada. No caso do 
Senhor de Sipán, trata-se da cultura Moche (400 d.C.). 
Observe, na Figura 4, a réplica do túmulo do Senhor de Si-
pán, disposta no Museu de la Nación, em Lima, no Peru.
Fonte: acervo pessoal.
Figura 4 Réplica do túmulo do Senhor de Sipán.
Perceba desde já que as fontes para a análise do passado 
pré-colombiano são de natureza escrita e restos da cultura mate-
rial de povos encontrados por escavações e analisados em sítios 
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arqueológicos. Justamente por isso, é necessário afirmar que as 
fontes não são apenas de característica histórica, mas também 
pré-histórica.
Nesse sentido, o estudo da “história” do passado de nosso 
continente somente é possível ser feito com a utilização de méto-
dos e técnicas de pesquisa próprios da Arqueologia e da Antropo-
logia ou Etnologia.
Os achados arqueológicos são estabelecidos em suas data-
ções por meio do emprego primordial do carbono-14. Aos arque-
ólogos, cabem a datação dos locais e a averiguação dos períodos 
geológicos ou das idades pré-históricas de cada achado. Vale res-
saltar, porém, que o carbono-14 não estabelece uma data exata, 
mas aproximações gerais de idade, e somente serve para a datação 
de vestígios que tenham em sua composição o elemento químico 
carbono. Há métodos semelhantes para a datação de outros tipos 
de compostos.
A Antropologia, por sua vez, trabalha na perspectiva da aná-
lise dos significados culturais dos objetos encontrados e sua possí-
vel função em uma sociedade antiga. Muitas vezes, a Antropologia 
contribui com a aproximação de grupos de trabalhos etnológicos 
às culturas remanescentes ou aos herdeiros dos antigos povos na 
tentativa de descobrir relatos orais que permitam uma melhor 
análise dos hábitos e costumes de seus antepassados.
O trabalho da Antropologia e da Etnologia é extremamente 
importante; por isso, precisa ser feito com rigor metodológico e 
científico, uma vez que se corre o risco de atribuir a elementos do 
passado significações e interpretações ocidentais, assim como fi-
zeram os primeiros europeus. A mesma advertência serve aos his-
toriadores, que podem recorrer às concepções contemporâneas 
para compreender o passado, cometendo, assim, o temido equí-
voco do anacronismo.
Outra importante colaboração às análises das culturas pré-
colombianas é dada pelos linguistas. Como nos lembra a arqueólo-
ga Meggers (1979, p. 19):
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Sendo a linguagem menos suscetível às pressões adaptativas do que 
outros aspectos da cultura, modelos de distribuição de linguagem 
podem revelar antigas conexões entre grupos amplamente separa-
dos, permitindo a reconstrução de movimentos populacionais.
Segundo essa perspectiva, a construção de uma pirâmide em 
várias sociedades não é um sinal de que estas tenham tido conta-
to, uma vez que o símbolo cultural desempenhado por essa cons-
trução pode ter significados que variam entre elas. No entanto, a 
adoção de algarismos ou letras em alfabetos, que são muito mais 
particulares a cada sociedade do que as construções, garantiria a 
aproximação entre distintos povos.
Com essas informações prévias, é possível afirmar que a His-
tória trabalha em conjunto com muitas outras ciências na averi-
guação e interpretação das informações colhidas.De outra forma, precisamos esclarecer que as fontes de 
variados tipos e distintas abordagens não estão dispostas unifor-
memente ao longo de todo o continente. Quanto maior o desen-
volvimento tecnológico de uma região ou de um povo, maior sua 
densidade populacional e, consequentemente, mais numerosos 
são os vestígios e tipos de fontes deixados para trás.
Muitas sociedades de baixa tecnologia e que tinham acesso 
a produtos de composição perecíveis (como cordas, ossos de ani-
mais ou fibras vegetais) jamais serão estudadas, uma vez que seus 
produtos já podem ter se deteriorado. Assim, os tipos de fontes 
disponíveis mudam de acordo com o volume populacional da re-
gião estudada e, também, com as tecnologias desenvolvidas por 
cada povo.
Por conta disso, Cardoso (1996), importante historiador bra-
sileiro, aponta-nos que as fontes de estudos das sociedades pré-
colombianas, segundo os tipos, estão dispostas em nosso conti-
nente da seguinte forma: 
Para toda a América:•	
Restos arqueológicos, os textos em línguas européias redigidos por 
conquistadores, cronistas, missionários, funcionários reais dos pri-
51© As Origens Humanas da América: Ocupação do Continente e as Primeiras Organizações Sociais do Continente Americano
meiros tempos de colonização. [...] O próprio mapa lingüístico da 
época da conquista, quando é possível reconstituí-lo, torna-se fon-
te de grande interesse (p. 9-10).
Para a Mesoamérica e zona andina central (Peru, partes •	
do Chile, Argentina, Equador e Bolívia):
Textos em línguas indígenas, provenientes da tradição oral, fixados 
com caracteres latinos depois da conquista. Merece atenção es-
pecial, neste ponto, o imenso trabalho de Bernardino Sahagún jo 
México (p. 9-10).
Para a Mesoamérica (o México, quase que em sua totali-•	
dade; porções de Honduras, da Nicarágua, da Costa-Rica, 
da Guatemala e de El Salvador):
Códices ou livros de pintura, dos quais só quarenta são pré-colom-
bianos, e outros do século 16, mas feitos segundo a tradição indíge-
na; e inscrições, principalmente na zona maia, ainda não totalmen-
te decifradas na atualidade (p. 9-10).
São essas as ferramentas, os objetos e métodos de análise 
que utilizamos para nos acercar das possíveis origens de nosso 
território. Entretanto, como já dissemos, mesmo esses esforços e 
investimentos acadêmicos e científicos não nos permitem possuir 
muitas certezas sobre esse passado. A América pré-colombiana 
é um campo em que os pontos pacíficos são poucos e as diver-
gências são enormes. Talvez, a principal e mais antiga divergência 
nesses estudos seja a seguinte: de onde vieram os primeiros “ame-
ricanos”?
 TEORIAS DE ORIGEM DO HOMEM PRÉ-COLOM-5. 
BIANO
Você deve estar um tanto irrequieto com a pergunta que 
apresentamos anteriormente. Aliás, pode estar, até mesmo, for-
mulando novas perguntas, do tipo: mas o homem pré-colombiano 
não era nativo da América? Não eram os indígenas que se encon-
travam aqui quando os europeus chegaram? As respostas para tais 
questões são não e sim, respectivamente. 
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De fato, inúmeras etnias indígenas encontravam-se aqui 
quando os primeiros europeus chegaram à América, em outubro 
de 1492. No entanto, estudos zoológicos e paleontológicos apon-
tam para o fato de que os esqueletos humanos mais antigos já 
encontrados no continente são de Homo sapiens; assim, não seria 
possível a ocorrência de uma evolução da espécie humana em ter-
ritório americano. Talvez essa seja uma das poucas concordâncias 
que todos os estudiosos possuem: a vida humana na América é 
oriunda de fora do continente.
Resolvido esse primeiro dilema, deparamo-nos com outras 
duas questões também inquietantes: de onde e como vieram es-
ses homens? Quando eles chegaram aqui? Essas perguntas conti-
nuam sem respostas consensuais até os dias de hoje, mas vamos 
abordá-las para averiguar as possibilidades existentes.
A chegada dos primeiros homens na América
A teoria mais aceita a respeito da chegada dos primeiros ho-
mens na América é aquela que escreve sobre a passagem de grupos 
oriundos da Ásia, que teriam entrado no continente americano por 
uma via terrestre existente entre os dois continentes, no denominado 
“Estreito de Bering”.
Uma das primeiras teorias a desenvolver essa hipótese foi 
feita por Alex Hrdlicka (1869-1943), quando ele dirigia a seção 
de Antropologia do Museu Nacional de Washington. Para ele, a 
origem e ocupação do território americano tiveram as seguintes 
características, delimitadas pelo pesquisador brasileiro Giordani 
(1990, p. 62-63) assim: 
1) Os índios americanos foram uma raça única [...] 2) A origem racial 
dos índios é a mongolóide [...] 3) Os índios procedem das regiões 
setentrionais da Ásia Oriental [...] 4) O Estreito de Bering consti-
tuiu o caminho pelo qual se processaram as invasões mongolóides 
acompanhando a migração da rena [...] 5) A data da entrada dos 
mongolóides no Continente Americano é relativamente recente 
[...] 6) As migrações não se processaram de uma só vez [...].
Contudo, se observarmos atentamente a Figura 5, que traz 
o mapa-múndi em um recorte aproximado dos continentes ame-
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ricano e asiático, veremos que não há uma faixa terrestre que una 
as duas porções de terra. Essa observação é verdadeira, mas nem 
sempre foi assim.
Figura 5 Mapa-múndi – em destaque, o Estreito de Bering.
Estudos geológicos apontam que, entre 50.000 a.C. e 40.000 
a.C., ainda no período Pleistoceno, antecessor à época na qual vi-
vemos, denominada Holoceno – que, por sua vez, está localizada 
no éon Fanerozoico, na era Cenozoica, no período Quaternário, e 
que vai de 1,5 milhão a.C. a 10.000 a.C., aproximadamente –, as 
baixas temperaturas levaram ao congelamento de partes consi-
deráveis das águas dos oceanos. Por conta disso, o nível do mar 
encontrava-se cerca de 100 metros mais baixo do que nos dias atu-
ais, e, em alguns territórios, a distância do mar à costa era mais ou 
menos de 150 quilômetros, maior do que atualmente. Essas condi-
ções climáticas e geológicas permitiram a existência de uma cone-
xão terrestre entre os atuais territórios do Alasca e da Sibéria.
Além disso, vale lembrar que as partes mais setentrionais e 
meridionais do planeta se congelariam primeiro. Assim, o Estreito 
de Bering teria, além do rebaixamento do nível dos oceanos, con-
tado com o congelamento de porções restantes de água. Um dado 
interessante é que essa mesma estrutura também se apresentou 
entre os anos 28.000 a.C. e 10.000 a.C.
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Na Figura 6, observe a união entre os continentes americano 
e asiático no Estreito de Bering, que é denominada “Beríngia”.
Figura 6 Estreito de Bering.
O que parece um dado curioso para nós, para os cientistas, 
é motivo de mais especulações. Para eles, essa informação sobre 
a existência de dois momentos de congelamento do oceano e a 
formação da faixa terrestre entre a Ásia e a América gera uma po-
lêmica em torno de nossa segunda discussão: a data da entrada do 
homem no continente.
Quando chegaram os primeiros homens na América?
Para alguns estudiosos, o homem teria entrado na América 
somente no segundo período de geleiras nos oceanos, ou seja, en-
tre 28.000 a.C. e 10.000 a.C.
Um dos indícios que permitem termos tanta certeza da pre-
sença humana no continente nesse período se dá pelo número alto 
de achados arqueológicos referentes a tal período, representados, 
especialmente, pela existência de artefatos de pedra talhada em 
várias partes de nosso continente, datados de 10.000 a.C.
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Noentanto, para outra linha de pesquisa, a abundância de 
achados referentes a esse período é, tão somente, resultado da 
adoção e confecção de artefatos de pedra por parte dos povos 
ameríndios. Em outras palavras, as pontas de pedra seriam apenas 
indícios seguros da existência de uma idade de Paleolítico superior 
(marcada pelo domínio de indústria lítica de elevada qualidade) na 
América, mas não a exclusão de vida anterior a esse período.
A polêmica ganhou novo fôlego com pesquisas posteriores 
(ainda sem resultados conclusivos), que apontam para a existência 
de restos arqueológicos produzidos por seres humanos de tempos 
anteriores aos convencionados anteriormente. Sobre essas diver-
gências, Meggers (1979, p. 23) esclarece que:
As discordâncias surgem das informações esporádicas inconclusi-
vas da presença do homem no Novo Mundo entre 40.000 e 12.000 
anos passados, datação que algumas autoridades aceitam e outras 
não. O consenso tem sido gradualmente modificado nos últimos 
anos e as datas mais antigas tendem a ser consideradas com ambi-
valência, embora não de todo rejeitadas.
Mesmo que controvertidos, esses achados impõem limita-
ções às teorias desenvolvidas anteriormente; entre elas, aquela 
feita por Hrdlicka, uma vez que, por volta de 40.000 a.C., não exis-
tiram grupos de mongoloides, e, sim, somente espécies de proto-
mongoloides – “um estoque racial menos especializado, do qual 
mais tarde evoluíram os mongolóides atuais” (CARDOSO, 1992, p. 
18).
De outra maneira, essas teorias apontariam para um fluxo 
migratório de várias etnias em vários períodos diferentes, e não 
para um único grupo ou uma única viagem, como foi sustentado 
desde o princípio. 
Independentemente do período de entrada do homem no 
continente, ainda se sustenta que, a partir do Estreito de Bering, 
ele teria se espalhado por todo o território ao longo de milênios, 
e essa ampla difusão teria sido facilitada pelas características ge-
ográficas do continente. Ao contrário do Velho Mundo, que pos-
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sui uma grande extensão territorial e acidentes geográficos que 
impõem barreiras naturais aos fluxos migratórios, o Novo Mundo 
tem uma área mais compacta e sem maiores acidentes geográfi-
cos, facilitando a locomoção humana por toda a sua extensão.
Contudo, não são todos que aceitam a teoria do Estreito de 
Bering como caminho exclusivo para a ocupação da América.
Migrações alternativas para a América
Para alguns autores, como o antropólogo francês Paul Rivet 
(1876-1958), o homem não teria chegado ao continente apenas 
pelo Estreito de Bering, mas teria feito, também, outras rotas. 
Como escreveu Giordani (1990, p. 63), o autor francês “explica o 
povoamento da América por quatro correntes migratórias: migra-
ção australiana, migração malaio-polinésia, migração mongolóide 
e migração esquimó”.
A concepção de Rivet apud Cardoso (1992, p. 19), sustentada 
por uma análise de fontes linguistas, explicaria o fato de que:
Em poucas dezenas de milênios, se formaram as duas mil e seis-
centas línguas, pertencentes a diversos grupos lingüísticos (alguns 
já residuais), que existiam no continente americano ao começar a 
conquista européia.
Assim como Rivet, autores como o antropólogo português 
António Mendes Correia (1916) acreditavam em outros caminhos 
para o povoamento da América. Além dessas hipóteses, não está 
descartada, nem mesmo, a de contatos marítimos transatlânticos 
de grupos europeus ou africanos. Um dos achados que alimentam 
essa hipótese ocorreu aqui no Brasil. O fóssil de hominídeo encon-
trado em terras brasileiras pelo arqueólogo Walter Alves Neves (o 
esqueleto de uma mulher, apelidada de “Luzia”, na região de Belo 
Horizonte) apresenta características de uma negroide, fato que 
levantou questionamentos a respeito de uma suposta migração 
africana. 
Veja, na Figura 7, a restituição do rosto de Luzia.
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Figura 7 Restituição do rosto do esqueleto hominídeo encontrado no Brasil (Luzia).
No entanto, das diversas teorias de migrações alternativas, 
hoje, aquela que mais possui certa sustentação teórica é a malaio-
polinésia, mas apenas se considerada com uma data mais recente, 
acerca de 3.000 a.C.
Segundo tal teoria, grupos humanos teriam atingido o conti-
nente americano pela parte ocidental da costa sul-americana. Para 
tanto, teriam utilizado pequenas embarcações e beneficiado-se da 
zona de arquipélagos que se forma na parte sul do oceano Pacífico, 
entre a Oceania e a América do Sul. Dessa maneira, as migrações 
teriam seguido uma espécie de “cabotagem”, que permitiu aos 
grupos migrarem pelas várias ilhotas existentes na região.
Não queremos excluir todas as possibilidades. Ao contrário, 
achamos que elas são extremamente importantes para fomentar 
novas pesquisas na área. Contudo, diante de tantos questiona-
mentos e dúvidas e das diferentes datas e rotas que expusemos ao 
longo desta unidade, as únicas hipóteses unânimes e inquestioná-
veis são as de que o homem chegou à América por volta de 10.000 
a.C., tendo como caminho o Estreito de Bering. Já as demais supo-
sições carecem de maior fundamentação.
Mas o que traz tanta certeza a essa datação apresentada? 
Os principais indícios que garantem uma data mínima para a ocu-
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pação do território americano entre 11.000 a.C. e 7.000 a.C. são 
os artefatos líticos encontrados no continente, tais quais as lanças 
feitas com ponta de pedra, como já mencionamos anteriormente. 
Considerando a hipótese de que o homem entrou no conti-
nente numa data próxima à dos achados de ponta de pedra, fica 
no ar outra dúvida: não seria possível que ele tenha trazido consi-
go o domínio dessa tecnologia? Ou ele a teria desenvolvido já em 
solo americano?
A existência de um Paleolítico Superior na Ásia entre os anos 
40.000 a.C. e 9.000 a.C., ou seja, anteriormente ao Paleolítico Su-
perior americano, indicaria que, de fato, os homens poderiam ter 
entrado no continente já de posse dessa nova tecnologia. No en-
tanto, a singularidade dos artefatos achados aqui nos leva para a 
aceitação da segunda hipótese levantada anteriormente.
Existiu uma indústria lítica de pontas de pedra de uma tra-
dição chamada “Llano” e, até mesmo, variações dela que só en-
contramos na América. Para Cardoso (1992), a ideia mais aceitável 
é a de que a produção de pontas de pedra em nosso continente 
é uma indústria genuinamente americana. Segundo o autor, essa 
afirmação se sustenta:
[...] por razões tipológicas e cronológicas, em particular para as 
pontas altamente especializadas da tradição chamada Llano (Clo-
vis, Folsom, Scottsbluff, etc.), podendo-se admitir uma origem asiá-
tica para o tipo mais generalizado (ou seja, menos especializado) e 
aparentemente mais antigo de pontas, ligados à tradição chamada 
Plano (CARDOSO, 1992, p. 25-26).
A Figura 8 representa os objetos líticos do Paleolítico Supe-
rior americano: (1) Ponta Clovis; (2) Ponta Folsom; (3) Ponta Scot-
tsbluff; (4) Ponta Eden; (5) Faca Cody.
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Fonte: Cardoso (1992, p. 25).
Figura 8 Pontas de pedra da tradição Llano.
As pontas de pedra, além de nos assegurarem a existência 
de um Paleolítico Superior na América, apontam para o desenvol-
vimento de uma forma de subsistência humana mais elaborada. 
Esses artefatos, importantes fontes de estudo, foram confecciona-
dos pelos homens para que fosse possível a realização de caça de 
animais da forma direta, o que permitia uma maior segurança na 
obtenção do alimento em épocas de congelamento da flora e da 
vegetação.
Com a utilização

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