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A NATUREZA JURÍDICA DA LEGITIMIDADE DAS PARTES E DO INTERESSE DE AGIR NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

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UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE
CURSO DE DIREITO
LUCAS ANDRÉ TERHORST FONTES
A NATUREZA JURÍDICA DA LEGITIMIDADE DAS PARTES E DO INTERESSE DE AGIR NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
LAGES
2016
LUCAS ANDRÉ TERHORST FONTES
A NATUREZA JURÍDICA DA LEGITIMIDADE DAS PARTES E DO INTERESSE DE AGIR NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Trabalho de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade do Planalto Catarinense – UNIPLAC, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob a orientação da Professora Esp. Fernanda Xavier de Souza. 
LAGES
2016
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
Declaro, para todos os fins de direito e que se fizerem necessários, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Planalto Catarinense, a Supervisão de Trabalho de Conclusão de Curso, a Coordenação do Curso de Direito e o(a) Orientador(a) de todo e qualquer reflexo acerca da monografia. 
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico. 
Lages, .............................................., 2016
________________________________________
LUCAS ANDRÉ TERHORST FONTES
UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE - UNIPLAC 
CURSO DE DIREITO 
O Trabalho de Curso elaborado por Lucas André Terhorst Fontes, sob o título “A natureza jurídica da legitimidade das partes e do interesse de agir no novo Código de Processo Civil”, foi submetido à avaliação mediante exposição oral e, posterior arguição promovida pela Banca Examinadora abaixo nominada, resultando: 
( ) APROVADO, sendo julgado adequado para o cumprimento do requisito legal previsto no artigo 10 da Resolução n° 9/2004 do Conselho Nacional de Educação (CNE), bem como se encontra de acordo com o Regulamento de Monografia do Curso de Graduação em Direito; 
( ) REPROVADO, pelo descumprimento das regras que regem o Trabalho de Curso/Monografia. 
Lages, _______ / ________ / 2016 
______________________________________________
Presidente: Prof. Esp. Fernanda Xavier de Souza
________________________________ ____________________________ 
Avaliador(a) Convidado(a) Avaliador(a) Convidado(a) 
_____________________________________________________ 
Coordenadores do Curso de Direito
Prof. Esp. José Ezequiel Carneiro
Prof. Esp. Pablo Adriano Antunes
Dedico àqueles que estiveram do meu lado, me apoiaram nos meus objetivos e acreditaram em mim apesar das adversidades.
Aos meus pais, por uma vida de ensinamento, amor, carinho e compreensão, e por me mostrarem um caminho de luz em meio a tanta escuridão.
À minha irmã, pelos anos de companheirismo, brincadeiras, risadas e compaixão, e por ser uma fonte de admiração e respeito.
Aos meus amigos, pela fraternidade nos bons e maus momentos.
"Um leitor vive mil vidas antes de morrer, o homem que nunca lê vive apenas uma."
George R. R. Martin
RESUMO 
Este estudo analisa qual a natureza jurídica da legitimidade das partes e do interesse de agir a partir das mudanças legislativas advindas da Lei nº 13.105/15, que instituiu o novo Código de Processo Civil, especialmente no tocante à omissão do termo condições da ação. Para tanto, examina conceitos básicos do direito processual civil, como a jurisdição, a ação e o processo, de modo a estabelecer claras distinções entre os integrantes deste trinômio, bem como suas características e conceitos básicos. Em seguida, aprofunda-se no tema, investigando a teoria eclética do direito de ação e as implicações decorrentes de sua aplicação, como a existência da categoria jurídica das condições da ação, descrevendo detalhadamente cada uma, quais sejam, a legitimidade das partes, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido, que não é mais considerada como condição autônoma. Também estuda a teoria da asserção e suas implicações na sentença de mérito, e os pressupostos processuais de existência e requisitos de validade. Já no âmbito do Código de Processo Civil de 2015, discorre sobre a aparente extinção da possibilidade jurídica do pedido e os impactos da carência de ação na sentença de mérito. Finalmente, traça um paralelo entre as mudanças legislativas do novo Código e seus impactos nos temas relacionados à legitimidade das partes e do interesse de agir, de modo a definir qual sua natureza jurídica na vigência do Código de Processo Civil 2015.
PALAVRAS-CHAVE: Condições da ação. Código de Processo Civil de 2015. Legitimidade das partes. Interesse de agir. Natureza jurídica.
	
ABSTRACT 
This paper analyses what is the judicial nature of litigants’ legitimacy and juridical interest following the changes in Brazilian legislation brought by Law nº 13.105/15, that established the new Brazilian Civil Procedure Code, particularly regarding the absence of the term action’s condition. It will examine basic concepts from civil procedure Law, like jurisdiction, action and process, looking to set clear distinctions between this triad’s integrants, as well its characteristics and basic concepts. Right after, it delves in the topic, investigating the eclectic theory of action and the implications regarding its application, like the existence of the juridical category of the conditions of actions, describing every one of them, litigants’ legitimacy, juridical interest and demand’s judicial possibility, no longer considered as an independent condition of action. It also studies the theory of proposition and its implications in the sentence of merit, and procedure requisites. Under the influence of the Brazilian Civil Procedure Code of 2015, it describes the apparent extinction of demand’s judicial possibility and the impacts of the lack of action in the sentence of merit. Finally, it traces a parallel between the legislative changes of the new code and its impacts in themes related to litigants’ legitimacy and juridical interest, aiming to establish which is its juridical nature in the Brazilian Civil Procedure Code of 2015.
PALAVRAS-CHAVE: Action’s conditions. Brazilian Civil Procedure Code of 2015. Litigant’s legitimacy. Juridical interest. Juridical nature.
	
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO	10
CAPÍTULO 1 DA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS POR MEIO DA JURISDIÇÃO, DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE AÇÃO E DO EMPREGO DO PROCESSO	14
1.1 Da resolução de conflitos por meio da jurisdição	14
1.2 Do direito de ação, sua natureza, características e evolução histórica	22
1.3 Do processo como instrumento de resolução de conflitos	27
CAPÍTULO 2 DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO E DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973	35
2.1 Da legitimidade das partes, do interesse de agir e da possibilidade jurídica do pedido no Código de Processo Civil de 1973 	35
2.2 Da teoria da asserção e seus impactos na sentença com resolução de mérito	42
2.3 Dos pressupostos processuais 	46
CAPÍTULO 3 DA NATUREZA JURÍDICA DA LEGITIMIDADE DAS PARTES E DO INTERESSE DE AGIR FRENTE AO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL	54
3.1 Da supressão da possibilidade jurídica do pedido pelo Código de Processo Civil de 2015	54
3.2 Da carência de ação e seu impacto na análise do mérito da demanda	60
3.3 Da natureza jurídica da legitimidade das partes e do interesse de agir no Código de Processo Civil de 2015	64
CONSIDERAÇÕES FINAIS	72
REFERÊNCIAS	78
INTRODUÇÃO
No presente trabalho será pesquisada a natureza jurídica da legitimidade das partes e do interesse de agir no âmbito do novo Código de Processo Civil, instituído pela Lei nº 13.105 de 2015, analisando o conceito e características destes institutos, de modo a identificara qual categoria pertencem com a vigência da nova legislação, seja como questões de mérito, pressupostos processuais ou condições da ação.
O tema foi escolhido em razão do extenso histórico de controvérsias das condições da ação no Direito brasileiro, desde sua inclusão no ordenamento brasileiro, notadamente após previsão expressa no Código de Processo Civil de 1973, cuja influência, na matéria, foi a teoria eclética do direito de ação, do processualista italiano Enrico Tullio Liebman, primeiro a propor esta classificação jurídica.
Segundo esta teoria sobre o direito de ação, é necessário o preenchimento de três requisitos, chamados de condições da ação, sendo eles a legitimidade das partes, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido, sem os quais é impossível adentrar no mérito.
Basicamente, a legitimidade das partes traduz-se na pertinência subjetiva do direito invocado, o autor da ação deveria ser seu titular e o réu aquele contra o qual se exigiria sua prestação. O interesse de agir, por outro lado, divide-se no trinômio necessidade (o processo é o único meio para atingir o objetivo almejado), utilidade (o processo deve resultar em possível proveito à parte ativa) e adequação (o meio processual eleito deve ser apto a satisfazer a demanda). Salienta-se que não há consenso quanto a este método de subdivisão, eis que frequentemente observam-se doutrinadores defendendo a exclusão de determinado aspecto do interesse de agir. A possibilidade jurídica, por sua vez, é satisfeita quando o pedido é permitido ou não defeso pelo Direito. Vale lembrar que a teoria foi atualizada pelo próprio Liebman, retirando este último item do rol das condições da ação.
Todavia, várias são as críticas à teoria eclética do direito de ação, principalmente em virtude da insatisfação de alguns autores ao condicionamento da existência da ação aos preenchimento de requisitos, por entenderem que o direito de ação é incondicionado.
Igualmente, critica-se as condições da ação como categoria jurídica, eis que, tradicionalmente, o magistrado exerce somente dois juízos, o de admissibilidade, em que se encontram os pressupostos processuais, e o de mérito, em que analisa o cerne do pedido, de modo que não haveria espaço para a apreciação das condições da ação, definidas como questões intermediárias.
Ainda, o Código de Processo Civil de 1973 autorizava a verificação da ausência das condições da ação em qualquer momento e grau de jurisdição, enquanto não resolvido o mérito, mesmo que o processo já estivesse completamente instruído e pronto para julgamento, dando margem ao desperdício de anos de embates processuais, sem a resolução definitiva do conflito.
Surge, entretanto, a Lei n.º 13.105/15, que instituiu o Novo Código de Processo Civil, que, ao invés de coletar as questões já pacificadas pela jurisprudência e dar-lhes previsão expressa na legislação, sequer mencionou o vocábulo "condições da ação". Além disso, elenca apenas a falta de legitimidade das partes ou de interesse de agir como causas de um julgamento sem resolução de mérito, excluindo a possibilidade jurídica do pedido.
Tal atitude do legislador acaba por levantar diversas dúvidas sobre a natureza jurídica das condições da ação na sistemática do Novo Código de Processo Civil, inclusive levando doutrinadores de renome, muitos deles ávidos e antigos críticos da teoria de Liebman, a defender a extinção da categoria do ordenamento jurídico brasileiro, classificando a legitimidade das partes e o interesse de agir como pressupostos processuais ou como questões de mérito.
A ausência da possibilidade jurídica do pedido ao lado das demais condições da ação também é digna de nota, e, embora a interpretação mais simples leve a crer que houve apenas uma adaptação às mudanças da doutrina de Liebman, alguns juristas defendem sua persistência no ordenamento brasileiro, seja como condição da ação isolada ou inserta no interesse de agir.
Diante do exposto, demonstra-se imprescindível o estudo das condições da ação no Novo Código de Processo Civil, tanto para a comunidade acadêmica do Direito quanto aos profissionais do Direito, eis que o tema, apesar de antigo, sofreu mudanças significativas, que podem impactar de sobremaneira a teoria geral do processo civil. Ademais, salienta-se que o momento é de transição e turbulência dentro do Direito brasileiro, e que as mudanças do novo Código, se bem aplicadas, podem auxiliar a prestação jurisdicional e garantir um processo justo. Do contrário, o próprio objetivo da mudança legislativa, de dar celeridade e efetividade às decisões judiciais, pode ser deturpado, pondo em risco a defesa dos direitos de todos os brasileiros.
Para o entendimento completo do tema, é necessário se aprofundar nas raízes dos conceitos mais básicos da teoria geral do processo, como a jurisdição, a ação e o processo, bem como estudar as condições da ação e os pressupostos processuais na vigência do Código de Processo Civil de 1973, para que só então, munido de tais informações, adentre-se nas modificações advindas com o Código de Processo Civil de 2015 para descobrir quais serão seus impactos na legitimidade das partes e no interesse de agir.
 Destarte, o presente trabalho será dividido em três capítulos: "Da resolução dos conflitos por meio da jurisdição, do processo e do exercício do direito de ação"; "Das condições da ação e dos pressupostos processuais na vigência do Código de Processo Civil de 1973"; e "Da natureza jurídica da legitimidade das partes e do interesse de agir frente ao Código de Processo Civil de 2015".
Inicialmente, serão apresentados os conceitos básicos de teoria geral do processo, buscando entender como foi a evolução histórica da resolução de conflitos até o surgimento da jurisdição como poder, dever e função do Estado em fazê-lo, bem como as teorias sobre o direito de ação, as características e conceito do processo, e as diferenças e relações entre esta tríade do processo civil.
Em seguida, será analisado o processo civil brasileiro criado e desenvolvido a partir de 1973, data do antigo Código de Processo Civil, especialmente em relação às condições da ação, as teorias a respeito do momento de sua análise e os pressupostos processuais, tentando estabelecer diferenças e paralelos entre conceitos.
Finalmente, serão analisados os impactos que a carência de ação tem na sentença de mérito, com enfoque especial nas críticas à falta de efetividade da teoria eclética do direito de ação, bem como as modificações legislativas trazidas pelo Código de Processo Civil de 2015, especialmente no tocante ao aparente desaparecimento da possibilidade jurídica do pedido e à omissão quanto ao termo condições da ação, buscando opiniões e posicionamentos contrastantes em relação ao tema, para que, analisando os conceitos e históricos colhidos nos capítulos anteriores, seja possível determinar os motivos e resultados destas mudanças.
O método de pesquisa adotado será o dedutivo, partindo de uma ideia geral em busca de resposta particularizada a fim de resolver a problemática de pesquisa, e a técnica de pesquisa a ser utilizada será documental e bibliográfica, por meio de consulta a doutrina, jurisprudência e legislação.
CAPÍTULO 1
DA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS POR MEIO DA JURISDIÇÃO, DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE AÇÃO E DO EMPREGO DO PROCESSO
Primeiramente, embora o objetivo deste trabalho seja a análise das mudanças legislativas advindas a partir da vigência do Código de Processo Civil de 2015 que afetam a natureza jurídica da legitimidade das partes e do interesse de agir, é imprescindível, para compreensão completa do tema, o estudo de três elementos básicos da Teoria Geral do Processo.
São eles a jurisdição, a ação e o processo, institutos básicos de todo o ordenamento jurídico brasileiro moderno, e que garantem a resolução dos conflitos de interesse, comuns à sociedade, de maneira justa e equitativa. Deste modo, a pesquisa agora foca não apenas nas características desta trindade, mas também em suas diferençasinternas, origens e evoluções históricas, de modo que, ao compreender o passado, seja possível desvendar o presente e prever o futuro.
Salienta-se, desde já, que os conceitos ora apresentados serão repetidos no terceiro e último capítulo, cujo objeto é o tema central deste trabalho, e, com isso, busca-se demonstrar que a divergência doutrinária surgida com a novel lei não é rasa e desimportante, mas possui profundas raízes históricas, com argumentos jurídicos válidos por praticamente todas as visões apresentadas.
Da resolução de conflitos por meio da jurisdição
Primeiramente, para compreensão completa da legitimidade das partes e do interesse de agir, e como as mudanças trazidas pelas inovações legislativas da Lei nº 13.105/15, que instituiu o Novo Código de Processo Civil, afetarão o tema, necessário um breve retrospecto às origens do estudo sobre o direito de ação e o processo judicial, e, por isso, remonta-se à época em que o Estado tomou para si o poder-dever de solucionar conflitos de interesses.
A sobrevivência do ser humano pressupõe a posse de certos bens, assim entendidos como as coisas capazes de lhes saciar suas necessidades primárias, bem como aquelas, apesar de não serem imprescindíveis para que continue vivo, causam-lhe, bem estar ou felicidade. Entretanto, considerando que os bens não são ilimitados, e que o ser humano passou a conviver, com seus pares, em sociedades organizadas, logo surgiram conflitos, entre as pessoas, acerca da titularidade dos bens (SILVA, 1997).
Isto porque o homem tornou-se um ser insaciável, sempre que uma necessidade é atendida, outra toma, então seu lugar. Assim, o ser humano nunca estará plenamente satisfeito, eis que seus interesses continuam se renovando, ao passo que os bens, em tese capazes de satisfazer estas reivindicações, tem número restrito, e nem todos podem deles desfrutar simultaneamente (WEBER; CHEDID, 1999).
Sobre as querelas típicas das sociedades humanas, comenta José de Albuquerque Rocha (2001, p. 88):
Acontece, porém, que o direito nunca é totalmente efetivo, não conseguindo evitar que a ordem seja violada pelo conflito, situação que ocorre com frequência nas sociedades modernas, marcadas por uma constante oposição de interesses, desembocando, quase sempre, no conflito. E quando a ordem é violada, surge a necessidade de ser restaurada, evitando-se sua destruição, o que é alcançado mediante a imposição do direito, tornando efetivos os valores que expressa.
Desta forma, considerando que nas sociedades humanas não há como evitar o surgimento de conflito, eis que o choque entre as pretensões de dois ou mais indivíduos é natural deste tipo de organização, em que os bens da vida, embora desejados por muitos, não são suficientes para todos, criou-se a necessidade de restauração da paz social, quebrada pela contenda, por meio do Direito. 
Embora vários modos de resolver os conflitos tenham sido criados pelas sociedades humanas ao longo da História, isto não quer dizer que, com o surgimento de um novo meio de pacificação, o modelo até então utilizado é completamente extinto. Com o desenvolvimento da humanidade, vários foram os avanços e retrocessos, de modo, que, nem sempre, os meios mais bárbaros de solucionar contendas tenham surgido antes dos mais civilizados (ROCHA, 2001).
De fato, o primeiro modo de resolução dos conflitos a ser estudado é o da autotutela. Também chamada de autodefesa, surgiu no início das sociedades humanas, em que não havia um Estado organizado capaz de regular a ordem social, portanto, o único meio do qual os indivíduos possuíam para dirimir o conflito era a força, a imposição da vontade de um sobre o outro, em suma, justiça com as próprias mãos. Deste modo, por ser unilateral, apenas uma das partes adquire o benefício da "solução", cabendo à outra apenas conformar-se (SILVA, 1997).
Leciona José de Albuquerque Rocha (2001, p. 30-31):
É modo de tratamento dos conflitos em que a decisão é imposta pela vontade de um dos sujeitos envolvidos no conflito. A autotutela repousa, pois, no poder de coação de uma das partes. Serve, assim, à parte mais forte. Nela o critério da justiça intrínseca da decisão é sacrificado, uma vez que o fator predominante é a força (grifos no original).
A decisão resultante desse conflito, definida pelo mais forte, era precária e podia ser modificada a qualquer momento. Isto porque, na ausência de terceiro para fazer valer a decisão, tão logo a situação de superioridade e inferioridade das partes se invertesse, o conflito seria novamente reaberto, com a parte que ganhou poder impondo nova solução, desta vez em seu favor (SCHLICHTING, 2002).
Observa-se, pois, que a autotutela é o meio de resolução de conflitos mais rudimentar, na medida em que surgiu antes da organização da sociedade, logo, sem um Estado forte para realmente dirimir o conflito, criava-se uma situação de injustiça, em que a razão ficava sempre em segundo plano, e a força era determinante, razão pela qual, atualmente, não se concebe mais a autotutela como o melhor meio de resolução de conflitos.
Comenta José Manoel de Arruda Alvim Netto (2013, p. 406) sobre a impossibilidade de, na sociedade brasileira atual, o interessado fazer valer os direitos com as próprias mãos:
Se é violado o direito de propriedade de alguém, ou quando o devedor não paga, quer o proprietário, quer o credor - que não podem agir manu militari, mesmo na defesa dos seus direitos, pois isso é crime (art. 345 do CP) - necessitam da intervenção do poder público (atualmente Poder Judiciário) para restaurar-lhes a lesão sofrida, ou para aplicar a norma que já incidiu.
	
Existem casos excepcionais, no direito brasileiro, em que é permitida a autotutela para a resolução do conflito, geralmente em virtude da urgência da situação, sem que isso caracterize ato ilícito, mesmo porque previstos expressamente na legislação. Como exemplo, citam-se o desforço imediato, o direito de cortar raízes e ramos e o penhor legal, previstos nos arts. 1.210, §1, 1.283 e 1.467, I, do Código Civil, respectivamente:
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido.
Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de convenção:
I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito;
Posteriormente, a autotutela foi substituída pela autocomposição. Apesar de a solução para o conflito partir das próprias partes, trata-se de um método mais seguro, eis que é obtida através de acordos entre as partes e concessões, de uma ou de ambas. Diz-se que houve autocomposição, pois, quando o agente da pretensão a renuncia ou quando aquele que resiste à pretensão a aceita, bem como quando ambas as partes fazem concessões mútuas, atingindo uma transação (SCHLICHTING, 2002).
Assim, contrariamente à autotutela, em que a decisão era forçada sobre uma das partes sobre a outra, na autocomposição é utilizada a persuasão, advindo, dela, um consenso. Logo, por originar-se da vontade das partes, via de regra a solução encontrada é cumprida (ROCHA, 2001).
Prossegue Arno Melo Schlichting (2002, p. 19) sobre as desvantagens desta forma de dirimir conflitos:
Esses três métodos de solução das lides, ainda que mais modernos que a autotutela, não apresentam consistência na medida em que podem estar ocultando simulações de verdadeiras rendições, dissimulandoatos de autodefesa em que o litigante de menor resistência capitula ou cede.
Destarte, ao passo em que deve ser reconhecida a efetividade deste meio de resolução dos conflitos, eis que a solução advém das próprias partes, livrando-se do caráter impositivo da autotutela, pode ser usada para mascarar situações de injustiça, razão pela qual a autocomposição ainda não se mostra, por si só, o melhor meio de pacificação social.
Diante das falhas da autotutela e da autocomposição, tornou-se evidente a necessidade de que a solução do conflito fosse dada por alguém alheio à relação inicial, e que, por ser imparcial, desinteressado na contenda, pudesse apresentar solução que garantisse justiça não somente às partes, mas também à sociedade. Para tanto, criou-se a arbitragem, por meio da qual as partes escolhiam um terceiro, da confiança de ambos, com conhecimento suficiente acerca do objeto do litígio, para que apresentasse solução adequada (SILVA, 1997).
Passou-se, pois,à ideia de que a efetiva solução do conflito dependia de sua apreciação por terceira pessoa, distante de qualquer vantagem possivelmente obtida na satisfação da pretensão de alguma das partes. O árbitro, pois, deve ser alguém da confiança das partes e com avançada sapiência sobre o bem da vida em conflito, de modo que sua decisão seria justa e tecnicamente correta. Em suma, nas palavras de José de Albuquerque Rocha (2001, p. 31): "A arbitragem é modo de tratamento dos conflitos em que a decisão é tomada por um terceiro designado pelas partes em conflito" (grifos no original).
Finalmente, com a criação dos Estados organizados, especialmente dos Estados da Era Moderna, estes começaram a criar, por meio de órgãos especiais, normas de conduta, tomando, para si, a função de manter a ordem social, por meio de leis e outros atos afins (ROCHA, 2001).
Se, antes da criação de sociedades organizadas, eram os próprios envolvidos em determinada relação jurídica que solucionavam os litígios dela decorrentes, portanto, na maioria dos casos, não se obtinha a solução dos conflitos de maneira justa, nem pacífica. Com a criação e fortalecimento do Estado, foi transferido a este, exclusivamente, o poder-função de resolver tais querelas, eis que, além de não participar da relação originária e não ter interesse no conflito, é mais poderoso que as partes, podendo fazer valer suas decisões (GONÇALVES, 2014).
Sobre as origens históricas da jurisdição, remontam ao direito romano, no ano de 367 a.C., quando foi criado o cargo de magistrado patrício, ou pretor, que ficava encarregado de criar leis, protegê-las e aplicá-las, ou seja, estabelecer e dizer o direito. Quanto à nomenclatura deste poder estatal, pode ser traduzida como a função de dizer (dictio) o direito (juris), aplicando-o, pois, ao caso concreto (SCHLICHTING, 2002).
A jurisdição surge como o melhor meio de resolução dos conflitos de interesse, na medida em que as decisões do Estado, emitidas a partir do Poder Judiciário, são finais e imodificáveis, e a elas devem os jurisdicionados, ou seja, os indivíduos em conflito, completa e total obediência, eis que, por trás de uma sentença existe todo o arcabouço da ordem jurídica, com direitos e garantias a todas as partes envolvidas (FUX, 2008).
Afastam-se, portanto, todas as falhas e defeitos que possuíam as outras formas de dirimir contendas já explicitadas anteriormente, como a imposição da vontade de uma das partes sobre a outra, típica da autotutela e da autocomposição, esta, por vezes, mascarada por um falso acordo de vontades. Difere-se, ainda, da arbitragem, pelo fato de a jurisdição, poder e função estatal, ser fruto da soberania do Estado, que detém as condições necessárias para fazer valer suas decisões. 
Para manter estas características, a jurisdição necessita de certas garantias, que, no Brasil, encontram-se expressas na lei ou na Constituição da República de 1988, ou, ainda, caracterizam princípios informadores de todo o processo.
Dito isso, uma das razões pela qual a jurisdição é superior, é justamente o julgamento por terceiro imparcial, o juiz, órgão do Poder Judiciário, distante da relação jurídica que causou o conflito de interesses (SANTOS, 2003). 
O próprio Código de Processo Civil de 2015 lista, em seus arts. 144 e 145, as situações que causam impedimento ou suspeição do juiz, impondo-lhe o dever de afastar-se do julgamento da lide, e, se não o fizer de ofício, são fundamentos que permitem que a parte pugne pelo afastamento do magistrado do processo, obstando o julgamento possivelmente imparcial. [1: Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo:I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo;VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório;IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.][2: Art. 145.  Há suspeição do juiz:I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.]
Ainda, a imparcialidade não serve somente às partes, que, para obterem uma solução justa do litígio, necessitam que o julgamento seja feito por terceiro imparcial, mas principalmente à sociedade e ao Estado, eis que o objetivo da jurisdição é a manutenção da ordem jurídica, com o cumprimento daquilo que for de direito.
Neste sentido afirma José de Albuquerque Rocha (2001, p. 92):
Com efeito, se a finalidade da jurisdição é garantir a eficácia do próprio ordenamento jurídico e, só indiretamente, o interesse das partes, então o juiz tem a posição de um terceiro em face das partes e dos interesses em conflito, os quais só merecerão a tutela jurisdicional na medida estabelecida pelo próprio ordenamento jurídico e enquanto com ele compatíveis.
Outra característica digna de nota a respeito da jurisdição como forma de resolver conflitos de interesse é a definitividade das decisões, ou seja, a imutabilidade de seu conteúdo, a sujeição e obediência das partes e de terceiros, àquilo que foi decidido. Nenhum outro poder estatal tem esta característica, por isso, o Poder Judiciário pode rever os atos emanados dos outros poderes, mas o contrário é inadmissível. A própria Constituição da República de 1988, em seu art. 5º, XXXVI, reconhece a imutabilidade da coisa julgada material, reservada às sentenças em que há resolução de mérito (DINAMARCO, 2005).
Deve-se reconhecer, entretanto, que nem sempre é necessária a intervenção do Estado nas relações jurídicas. Segundo José Manoel de Arruda Alvim Netto (2013, p. 406): "Na vida social, são infinitamente mais comunsas hipóteses de respeito aos direitos (interesses) alheios do que de violação desses". Ainda há hipóteses em que, mesmo que efetivamente haja a violação de determinado direito, o indivíduo lesado opta por não submeter a situação ao Estado.
Neste mesmo sentido afirma Ernane Fidélis dos Santos (2003, p. 6):
Na vida social, as relações jurídicas que se estabelecem entre as pessoas normalmente se formam e se extinguem, sem criar nenhum litígio. O comprador recebe a coisa e paga o preço; o locatário goza do bem e paga o aluguel; o devedor paga o que deve; o pai cuida do filho e o ampara; o casal cumpre seus deveres conjugais, e assim por diante.
Ainda sobre esta faculdade do indivíduo em buscar solução para o conflito, sustenta Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2014, p. 132-133):
O Judiciário não tomará, de ofício, nenhuma providência. Caberá ao próprio prejudicado decidir se deseja, ou não, ingressar em juízo, para postular a tutela jurisdicional. Afinal, há sempre a possibilidade de que ele prefira abrir mão das suas pretensões e conformar-se, sem as ver satisfeitas. Mas, se preferir, pode sempre ir a juízo, e, como contrapartida da exclusividade atribuída ao Estado de solucionar os conflitos de interesses, ele terá o poder-dever de se pronunciar sobre aquela pretensão.
Trata-se da inércia, outra característica da jurisdição, presente sempre no direito processual e que profundamente relacionada ao princípio da demanda. A jurisdição é, portanto, inerte, cabendo ao interessado provocar sua atuação, a fim de que seja resguardado seu direito (SCHLICHTING, 2002).
Ainda, leciona José Milton da Silva (1997, p. 72-73):
Os ensinamentos doutrinários são assentes em afirmar que a iniciativa da ação por parte do juiz comprometeria seriamente a sua imparcialidade, pois liga-lo-ia psicologicamente ao interesse objeto da demanda.
Daí por que a característica jurisdicional da inércia induz o entendimento de que a iniciativa da instauração da ação deve ser da parte interessada, ou seja, do titular da pretensão, e jamais do órgão de jurisdição.
Em busca de resoluções mais justas e igualitárias, o Estado tomou para si, como guardião da paz social e da ordem jurídica, o poder, dever e função de solucionar os conflitos de interesse, tão comuns em agrupamentos humanos. O objetivo, portanto, não é a supremacia do interesse do Estado sobre os jurisdicionados, mas a própria garantia de que as leis e outras normas de conduta, que possibilitam a vida em sociedade, sejam devidamente respeitadas, garantindo o direito e a justiça, não somente às partes diretamente ligadas ao conflito, mas também a todas as pessoas pertencentes àquele grupo.
Por isso mesmo, a jurisdição deverá permanecer inerte, até que o interessado, ao sentir que a ordem jurídica foi violada e que direito seu merece proteção do Estado, invoque sua interferência no conflito, mesmo porque, geralmente, é incapaz de solucioná-lo por si só. Não cabe, portanto, ao Estado a interferência na vida do particular se este não quiser a resolução judicial do conflito, com todas as suas implicações. A invocação da tutela jurisdicional caracteriza-se também, portanto, como um direito do cidadão, a ser exercido da forma que melhor lhe convir.
Do direito de ação, sua natureza, características e evolução histórica
Surge, pois, o conceito de ação, eis que, a jurisdição - o poder-dever do Estado em solucionar conflitos de interesse - é, em regra, inerte, devendo o indivíduo que entender ter sido lesado na esfera jurídica, provocar sua atuação e receber a tutela jurisdicional por meio do Estado-juiz. Desta provocação, surge o processo, com o estabelecimento da relação processual triangular entre autor, juiz e réu (GONÇALVES, 2014).
Neste mesmo sentido leciona Luiz Rodrigues Wambier, Flávio Renato Correia de Almeida e Eduardo Talamini (2002, p. 126-127) a respeito da ação como direito do indivíduo lesado em obter, do Estado, resposta à sua pretensão:
Cabe, portanto, ao titular da afirmação de direito (ou da pretensão) que deva ser submetida à solução do Judiciário ou, ainda, por outras palavras, da lide que dependa de resolução, buscar a tutela estatal, acionando, por assim dizer, o aparelho jurisdicional, com observância de regras de competência, sob a forma de pedido de providência que lhe satisfaça. Essa provocação se faz por meio do exercício do direito de ação.
Frequentemente os conceitos de jurisdição, ação e processo são confundidos, devido à sua extensa inter-relação e similitudes. Não pode se negar, entretanto, que os três tem características únicas, que os diferem uns dos outros e, por isso, que qualquer estudo, mesmo focado em apenas um deles, deve abranger, mesmo que reflexamente, os demais. Vista a evolução e surgimento da jurisdição como forma de resolução dos conflitos de interesse, volta-se a atenção à ação.
Sobre a relação intrínseca entre jurisdição, ação e processo, leciona Luiz Fux (2008, p. 151):
As noções de jurisdição e processo induzem à de ação. Isto porque o Estado, substituindo a solução privada, resolve os conflitos intersubjetivos, exercendo a jurisdição. Por seu turno, a jurisdição é prestada através do processo, que não é senão aquele conjunto de atos necessários praticados com o objetivos de obter a resposta judicial.
O direito de ação está positivado no Código de Processo Civil de 2015, em seu art. 2º:
Art. 2º. O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei.
Deste modo, considerando que o Estado se organizou e tomou para si a função de resolução de conflitos de interesse caracterizados por pretensões resistidas, proibindo aos cidadãos a execução coercitiva do suposto direito, imprescindível que se atribua ao indivíduo a capacidade de invocar a atuação do Estado no litígio. Do contrário, se a resolução da lide fosse ato discriminatório do Estado, estar-se-ia suprimindo a própria ordem jurídica por ele estabelecida, pois os titulares do direito não teriam como exigir sua tutela. Sendo o único titular do exercício jurisdicional, o Estado toma não o direito de resolver conflitos, mas o dever de fazê-lo, no momento em que o jurisdicionado exercer o direito de ação (SILVA; GOMES, 2002).
Do conceito e origem do direito de ação podem ser extraídas algumas informações e características essenciais para sua total compreensão. Por exemplo, na lição de José Milton da Silva (1997, p. 97) considerando que se trata de "uma função pública, posto que desempenhada pelo Estado para manutenção da paz social, o direito de ação tem natureza pública" (grifos no original).
O direito de ação tem natureza pública, eis que envolve matérias de direito constitucional e processual, ambas reguladas pelo direito público, e por traduzir relação, primeiramente, entre o indivíduo, pessoa natural ou jurídica, e o Estado, exigindo-lhe a prestação jurisdicional. O direito de ação, além de público, é subjetivo, na medida em que, como já dito, sua titularidade cabe a qualquer pessoa, natural ou jurídica, inclusive o próprio Estado, em situações em que não pode executar automaticamente sua vontade (FUX, 2008).
A criação da teoria do direito de ação como direito subjetivo público será abordada posteriormente, quando será estudada a evolução histórica do instituto.
A jurisdição e a ação tem relação profunda e extensa. Enquanto aquela permite que o Estado, e somente ele, resolva os litígios dos jurisdicionados, o direito de ação lhe impõe o dever de fazê-lo, garantindo e protegendo o direito material afirmado pelo indivíduo. Nítido, portanto, que a ação seja direito subjetivo público, eis que o Estado é o sujeito passivo da exigência de determinada pessoa, seja ela física ou jurídica.
O direito de ação, entretanto, sofreu várias mudanças no decorrer da História, com doutrinadores de renome criando diversas teorias, muitas vezes em sentidos diametralmente opostos, sobre sua natureza e vinculação com o direito material em comento. Merece estudo esta evolução de conceito, para queos fundamentos deste instituto sejam compreendidos e sua incorporação ao direito brasileiro seja abordada.
Perdurou, pela maior parte do Direito moderno, desde o Direito Romano até o século XX, a teoria de que o direito da ação não existia senão em dependência do direito material. Mais que isso, nas concepções mais clássicas, era considerado apenas a reação do próprio direito substantivo em virtude de sua violação (THEODORO JÚNIOR, 2001).
Deste modo, na tradição romana deste instituto, o direito de ação era o ius persequendi in iudicio quod sibi debeatur, o que pode ser traduzido como o direito de perseguir em juízo aquilo que é devido. Sem distinção, se decidido pela inexistência do direito postulado, o direito de ação também não existiria, pois ambos eram a mesma coisa (FUX, 2008).
No direito moderno, o principal defensor da teoria de que a ação é o direito se auto-realizando foi Savigny, que, por sua vez, inspirou o Código Civil de 1916 (SANTOS, 2003). Sobre o tema, afirma Humberto Theodoro Júnior (2001, p. 45): "Assim, entendia-se que não podia haver ação sem direito, nem direito sem ação, como ensinava Savigny, e como ficou constando do art. 75 do nosso Código Civil".
Salutar esclarecer que, como a citada obra foi publicada em 2001, ainda era vigente o Código Civil de 1916, instituído pela Lei nº 3.071/1916, hoje revogado pelo Código Civil de 2002, Lei nº 10.406/2002.
Fredie Didier Jr. (2012, p. 207), por sua vez, salienta que ainda hoje existem referências à esta teoria: "Esta vinculação do direito de ação ao direito material ainda é bastante visível nas leis civis, que vez por outra falam que alguém 'tem ação contra' outrem. Fala-se, por exemplo, em 'ação regressiva', como sinônimo de direito de reembolso".
Apesar de parte da nomenclatura utilizada persistir em nosso ordenamento, tal fato decorre apenas do longo período de tempo em que este ponto de vista sobre o direito de ação predominou, e não reflete sua aplicabilidade atualmente. Como já foi anteriormente demonstrado, o direito de ação é exercido contra o Estado, não contra aquele que causou a lesão jurídica, e consiste na invocação do poder-dever daquele em solucionar determinado conflito de interesses, por meio da jurisdição. Não faz qualquer sentido, portanto, restringir a ação simplesmente ao direito material em movimento, eis que os sujeitos de ambas as relações jurídicas são distintos.
Posteriormente, as escolas germânicas passaram a estudar a ação desvinculada do direito postulado, eis que, ao lado da figura romana clássica, a actio, entendida como o direito defendendo a si próprio, criou-se a figura da klage, entendida como o direito de pedir a tutela jurisdicional. Esta concepção criou choque entre dois doutrinadores germânicos, Windscheid e Muther. Embora ambos defendessem que, pelo fato de a ação ser um direito, era necessária uma obrigação correspondente, Windscheid entendia que o sujeito desta obrigação era o adversário, enquanto Muther ensinava que a ação era dirigida contra o Estado. Da doutrina do segundo, pois, extrai-se a natureza de direito público subjetivo à ação. Somente no início do século passado parte da doutrina começou a interpretar de maneira diferente a ação, dotando-a de autonomia em relação ao direito substancial. Nesta acepção, entende-se que a ação cria simultaneamente, ao lado da relação jurídica que lhe dá causa, dois direitos públicos, o primeiro do prejudicado de ter sua pretensão satisfeita pelo Estado, e o segundo, deste, de restabelecer a ordem jurídica (THEODORO JÚNIOR, 2001).
Desta acepção, por sua vez, surgiram várias correntes, divergindo entre si principalmente na inter-relação entre o direito de ação e o direito material.
A primeira delas, em ordem cronológica, é chamada de teoria concretista, visto que a razão da existência do direito de ação era, obrigatoriamente, vinculado à existência do próprio direito material invocado, chegando ao ponto de seus defensores lecionarem que apenas haveria ação se a sentença final fosse de procedência do pedido, ou seja, reconhecendo o direito ao autor. Caso contrário, se fosse o processo julgado extinto sem resolução de mérito, ou pela improcedência do pedido inicial, não existira ação. Era, portanto, a razão no pedido, condição da ação (GONÇALVES, 2014).
Esta teoria foi desenvolvida por Adolph Wach, que, contribuindo extensivamente para a autonomia do direito processual como um todo, afirmou que não há ponto em comum entre o direito material postulado e o direito de ação, eis que nas ações declaratórias negativas o objetivo é, justamente, a obtenção de pronunciamento do Estado acerca da inexistência do direito, como, por exemplo, o caso de um suposto devedor que postula a tutela jurisdicional para uma declaração de inexistência de débito (SANTOS, 2003).
Chiovenda seguiu a mesma linha de pensamento, sustentando, que o direito de ação derivava do direito material supostamente lesado, exercido perante o Estado para que este impusesse a vontade da lei, eis que o obrigado deixara de cumprir, espontaneamente, sua obrigação. Ainda segundo o autor, a ação caracterizava-se como direito potestativo, na medida em que o Estado é posto em situação de sujeição em relação ao titular do direito. Todavia, tanto Wach quanto Chiovenda atribuíam este poder apenas ao titular do direito material, enfraquecendo a autonomia da ação, por eles mesmo defendida, em contraposição à teoria abstrata do direito de agir (FUX, 2008).
Seguindo a linha do tempo, prossegue Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2014, p. 134-135) sobre as teorias abstratistas puras do direito de ação:
No oposto extremo das teorias concretistas, surgiram as 'abstratistas puras'. Para seus defensores, havia ação em sentido estrito, independentemente do tipo de resposta dada pelo Judiciário, fosse a sentença de procedência, improcedência ou extinção sem julgamento de mérito. Para essa corrente, não havia diferença, portanto, entre ação em sentido amplo e ação em sentido estrito; entre ação em sentido estrito e o direito de acesso à justiça, garantido constitucionalmente.
Percebe-se, novamente, as incompatibilidades desta corrente com o Direito brasileiro. Se, por um lado, finalmente o direito de ação foi desvinculado do direito material violado, por outro, sua definição foi, de certo modo, alterada. Embora se reconheça que o art. 5º, XXXV, da Constituição da República de 1988 garante a todos os brasileiros o acesso à Justiça, permitindo que qualquer um leve qualquer pretensão ao Poder Judiciário, não é o direito ao acesso à Justiça equivalente do direito de ação. Como já se explanou anteriormente, o direito de ação garante que o indivíduo que teve seu direito material violado busque a jurisdição, poder-dever do Estado de resolver conflitos. Desta forma, apesar de ser autônomo ao direito material, o direito de ação guarda, com ele, relação íntima, portanto, é muito mais restrito que o direito ao acesso a justiça.
Por fim, ainda segundo Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2014), tem- se a teoria abstratista eclética, cuja influência, no Brasil, ocorreu pela estadia do doutrinador italiano Enrico Túlio Liebman no país. Os defensores desta corrente afirmam, em suma, que a ação é o direito a obter uma resposta de mérito, ou seja, o direito de ter o pedido inicial analisado pelo Estado-juiz, resolvendo o conflito de interesses definitivamente. Salienta-se que, nesta teoria, o direito de ação não está vinculado ao fato de o autor ter ou não razão sobre sua pretensão, muito pelo contrário, sustenta que haverá a ação sempre que houver decisão quanto ao cerne da questão, seja ela positiva ou negativa ao autor.
Deste modo, o direito de ação não encerra somente o direito de acessar o Poder Judiciário, sem quaisquer condições: a este, Liebman chamava de direito de petição, e decorria exclusivamente do direito constitucional. A ação, destarte, acompanhava o direito de petição, eis que, ao passo que é abstrato e autônomo, somente se exercita com a apreciação do mérito (FUX, 2008).
A influência de Liebman no Brasilresultou na adoção da teoria abstratista eclética pelo Código de Processo Civil de 1973, portanto, ao menos na vigência deste Código, o direito de ação somente é exercido quando houver possibilidade de um julgamento com resolução de mérito, e, para isso, necessário o preenchimento de certos requisitos, nomeados pelo doutrinador italiano como condições da ação - são elas a legitimidade ad causam, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido (DIDIER JR., 2012).
Prova-se tal afirmação apenas destacando alguns artigos do Código de Processo Civil de 1973, especialmente o art. 3º, segundo o qual é necessário, para propor ou contestar ação, a legitimidade e o interesse, e o art. 267, VI, que elenca a falta das condições da ação (possibilidade jurídica, legitimidade das partes e interesse processual) entre as causas em que o processo deve ser extinto sem resolução de mérito.
As condições da ação serão posteriormente estudadas, eis que a legitimidade das partes e o interesse de agir são o tema central deste trabalho, bem como a possibilidade jurídica do pedido, reflexamente. No momento, entretanto, necessário o estudo a respeito do processo, que, como visto, guarda íntima relação com a jurisdição e ação, e, considerando que frequentemente seus conceitos são confundidos, necessário apontamentos sobre suas distinções.
1.3 Do processo como instrumento de resolução de conflitos
O processo pode ser visto de três maneiras diferentes, que, embora relacionadas, tratam-se de acepções completamente distintas. Não são propriamente antagônicas entre si, todavia, na medida em que todas coexistem harmonicamente, mas, de modo geral, apresentam a mesma nomenclatura - processo. 
Inicialmente, tem-se o processo como sinônimo de direito processual, caracterizando-se, nas palavras de Cândido Rangel Dinamarco (2005, p. 23), como: "um sistema de técnicas instaladas no plano do direito, coordenadas por uma ciência específica e destinadas a pacificar pessoas ou grupos de pessoas envolvidos em conflitos jurídicos". 
O processo também pode ser entendido de forma concreta, caracterizando-se como o fenômeno ocorrido com a apresentação de determinado conflito ao Estado-juiz, e todas as implicações posteriores, ou de maneira abstrata, como um modelo definido por leis e princípios, a ser seguido para que haja o correto exercício da jurisdição, ou seja, diretrizes gerais para a resolução de conflitos de interesse, que deverão ser respeitadas pelas partes e pelo Estado-juiz (DINAMARCO, 2005).
A última acepção do termo processo é a que prevalece neste estudo, na medida em que o objetivo da apresentação do tema é a demonstração da relação entre o processo, a jurisdição e a ação, bem como a demonstração de suas distinções, como forma de introduzir ao estudo das condições da ação e dos pressupostos processuais.
Neste sentido, o processo deve ser visto como o conjunto de atos que tem, por fim, o exercício da jurisdição, como poder-dever de compor litígios, prestando, portanto, como instrumento para resolução de conflitos, ou para dar efetividade ao direito já declarado ou, ainda, acautelar outro processo (SANTOS, 2003).
Similar é o conceito apresentado por José de Albuquerque Rocha, (2001, p. 217):
Pois bem, essa atividade ou prática habitual e repetida de atos que o Judiciário realiza para concretizar o direito em última instância é, exatamente, aquilo que denominamos processo. Daí dizer a doutrina que o processo é o instrumento da jurisdição, exatamente porque é através do processo que se cumpre a função jurisdicional.
[...]
Precisando melhor o conceito, diremos que o processo é a sequência de atos, praticados pelos órgãos judiciários e pelas partes, necessários à produção de um resultado final, que é a concretização do direito, ou seja, sua realização no caso concreto e em última instância (grifos no original).
Destarte, considerando que a jurisdição é poder, dever e função de resolver conflitos de interesse, cuja atuação é invocada por iniciativa direta das partes, por meio do exercício do direito de ação, o processo é imprescindível como instrumento para a efetivação da jurisdição e satisfação do direito de ação utilizado pelo Estado, mais especificamente, pelo Poder Judiciário.
Literalmente, a palavra processo, em sua forma latina pro-cessus, significa caminhada adiante, eis que é um percurso que vai da provocação da jurisdição até a resolução do conflito. O processo não se confunde com procedimento, pois, ao passo que aquele é a série de atos, interligados e coordenados, que prestam ao cumprimento da jurisdição, este é definido como os próprios atos interligados e coordenados (DINAMARCO, 2005).
Às normas que disciplinam esta série de atos contínuos dá-se o nome de procedimento, devendo ser respeitadas ao longo de todo o desenvolvimento da atividade processual pelas partes, juiz, auxiliares e intervenientes. O procedimento define, portanto, o padrão de comportamento dentro do processo, ditando quais atos cada um destes sujeitos deve praticar, bem como o seu momento e local (ROCHA, 2001).
Analisando as definições de ambos, percebe-se que o processo existe somente pra sua finalidade, ou seja, subsiste apenas como o ideal de servir como meio de exercício, pelo Estado, da jurisdição. Por outro lado, o procedimento é muito mais visível fisicamente, traduzindo-se como a forma material com a qual o processo existirá. 
Neste mesmo sentido leciona Luís Fux (2008, p. 231):
O procedimento, por seu turno, revela a não-instantaneidade da jurisdição e indica a forma pela qual os atos processuais se sucedem na busca da solução judicial. Por isso, cada processo tem os seus procedimentos. Assim, a definição dos direitos tem itinerários diversos, que variam conforme a pretensão de direito material e, por vezes, consoante o valor econômico do objeto mediato do pedido que se pretende tutelar.
Demonstra-se, portanto, a imprescindibilidade do procedimento para que haja, de fato, um processo, pois, para que este cumpra seu fim, necessário que haja normas determinando quais atos devem ser praticados, por quem e quando, na medida em que a jurisdição não pode ser exercida de forma instantânea, e exige que todo os interesses em conflito sejam completamente compreendidos. Igualmente, considerando que as pretensões dos jurisdicionados são múltiplas e diversas, vários procedimentos, ou seja, vários modos de agir devem existir, para que aquele que melhor se amolda ao direito tutelado seja usado. 
Todavia, em virtude das profundas raízes históricas do processo, sua natureza jurídica mudou ao longo das eras. Inicialmente, no direito romano, era considerado um contrato, na medida em que o magistrado elaborava, ao ouvir as pretensões das partes, uma fórmula. Assim, por haver uma aceitação das partes sobre o modelo de processo a ser seguido, considerava-se o processo como de natureza contratual, aplicando-lhe os princípios contratuais privados (SANTOS, 2003).
 Como não havia acordo de vontades no processo, característica básica de qualquer contrato, a teoria não foi mantida, e, posteriormente, houve a tentativa de caracterizá-lo como um quase-contrato, formado por um fato lícito, apto a gerar obrigações, sem convenção sobre o conteúdo (SANTOS, 2003).
Por fim, Oskar von Bülow, jurista alemão, defendeu que o julgamento envolve dois momentos: inicialmente, o juiz aprecia as matérias processuais, para só posteriormente analisar o mérito da pretensão. Esta teoria, ao lado da teoria de Windscheid e Muther sobre ação, contribuiu significativamente para a autonomia do direito processual, permitindo que o processo fosse visto como uma relação jurídica independente, com sujeitos, objeto e pressupostos próprios (DINAMARCO, 2005).
Observa-se, pois, que, ao passo que o procedimento regula os atos que serão realizados no processo, a relação jurídica processual orienta os direitos e deveres das partes dentro dele, por essa razão, clara é a formação do processo pela junção de ambos, procedimento e relação jurídica processual. Neste sentido,consoante lição de Cândido Rangel Dinamarco (2005, p. 26): "Cada ato do procedimento pode ser realizado porque o sujeito que quer realizá-lo tem a faculdade ou o poder de fazê-lo; ou deve ser realizado porque ele tem um dever ou um ônus". (grifos no original).
Quanto aos sujeitos que participam da relação processual, tem-se que são todos aqueles que participam do processo, seja em defesa dos interesses de quaisquer dos pólos da relação, caso em que serão considerados sujeitos parciais, ou em razão da Justiça, visando a preservação do Direito, denominados, pois, sujeitos imparciais (SCHLICHTING, 2002).
Inicialmente, nomeiam-se como partes os indivíduos diretamente envolvidos no litígio em discussão, desta forma, considera-se como parte ativa aquele que invoca a tutela jurisdicional, inicialmente requerendo a atuação do Estado, mas com a intenção de produzir efeitos em relação a outrem, chamado de parte passiva. São estas pessoas que serão atingidas pela coisa julgada, eis que integrantes da lide (FUX, 2008).
Este é o conceito puro, processual em essência, encerrando-se somente na ideia de que se alguém, inserto em uma relação processual, está defendendo algum interesse, e, portanto, é parcial, trata-se de uma das partes. Igualmente, o resultado do processo, com a efetiva prestação da tutela jurisdicional, importará em benefício a uma das partes, em sacrifício da outra, respectivamente, parte vencedora e parte vencida. Salienta-se que o esquema autor-réu é mínimo para qualquer processo de conhecimento, bem como exequente-executado no processo de execução, mas a definição de parte pode ser expandida para outros que não constem desta dicotomia básica, abrangendo a intervenientes posteriores, como no litisconsórcio ulterior ou intervenção de terceiros (DINAMARCO, 2005).
Sobre a diferença entre parte no sentido material e processual afirma Ernane Fidélis dos Santos (2003, p. 57): "Partes, no sentido processual, serão sempre autor e réu; partes, no sentido material, os sujeitos da lide, aqueles cujos interesses se conflitam, com pretensão de um e resistência de outro".
Neste sentido, há casos extraordinários em que pessoas diversas das titulares dos interesses postulam, em nome próprio, direito de outrem. Da mesma forma, não importa a identidade física do indivíduo, que pode, em determinado processo, atuar como parte, mas, como representante desta. Aprofundando-se no conceito, percebe-se que o inverso também é verdadeiro, eis que pode haver identidade de parte, mesmo com a modificação de sua identidade física, como é o caso da sucessão processual (FUX, 2008).
Por tudo que foi exposto, fica claro que não se pode confundir parte com o titular do interesse tutelado, eis que, embora haja, na grande maioria dos caso, coincidência entre ambos, o conceito de parte restringe-se àqueles sujeitos do processo que defendem interesse na lide, caracterizando-se, pois, por sua parcialidade. Desta forma, parte existe somente no processo, como integrante da relação processual, e, por isso, não se pode conceber sua existência fora dele. 
Por fim, sobre as diferenças com outro dos protagonistas do processo, o juiz, afirma Cândido Rangel Dinamarco (2005, p. 246-247): "Nisso elas se diferenciam do juiz, que é estranho ao conflito, paira sobre ele e, nessa condição, é um sujeito desinteressado. O juiz é sujeito processual sem ser parte" (grifos no original).
O alcance da relação processual foi muito discutida ao longo da história, especialmente em relação à participação do juiz. Inicialmente, muitos defendiam a linearidade da relação, restringindo-a às partes ativa e passiva, entretanto, pelo fato de, dentro do processo, o juiz participar ativamente, com deveres e direitos, bem como a missão principal de fazer valer o Direito, esta teoria não se sustentou. Outra corrente caracteriza a relação processual como angular, ou seja, reciprocidade de deveres somente entre autor e juiz, e réu e juiz. De maneira semelhante à anterior, também não se mostrou correta, na medida em que autor e réu tem também deveres um para com o outro, especialmente em relação à lealdade entre ambos. Predomina, portanto, a noção de que a relação processual é triangular, envolvendo relações recíproca entre autor, réu e juiz (SANTOS, 2003).
Sobre a atuação do juiz no processo, leciona Arno Melo Schlichting (2002, p. 145):
Sendo o funcionário público imbuído de Jurisdição, sua função é atender aos pedidos de tutela jurisdicional, concedendo aquelas amparadas pela lei e reprimindo as repelidas, não podendo se eximir de sentenciar, alegando lacuna ou obscuridade na lei, cabendo-lhe, no julgamento da lide, aplicar as normas legais, e, não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípio gerais do Direito (CPC, art. 126), só decidindo por equidade nos casos previstos em lei (CPC, art. 127).
Apesar de comumente se afirmar que o juiz é um dos sujeitos da relação processual, trata-se concepção errada, usada somente como forma de facilitar a compreensão, eis que, tecnicamente, é o Estado o real sujeito, único apto a resolver o conflito de interesses pelas partes apresentado, de modo que o juiz é um agente estatal, qualificado para exercer a jurisdição de maneira impessoal, em nome do Estado. Para enfatizar a atuação do Estado como julgador, costumeiramente se diz que o sujeito da relação processual, ao lado das partes, é o Estado-juiz (DINAMARCO, 2005).
Ainda a respeito das diferenças entre o Estado-juiz e o juiz, segundo Cândido Rangel Dinamarco (2005, p. 221):
Pertencendo ao Estado e não propriamente ao juiz a condição de sujeito processual, mas sendo ela efetivamente ocupada por aquele, a disciplina da vida dos processos varia entre regras referentes aos poderes e deveres do Estado, dos quais o juiz é mero executor, e regras relacionadas ao próprio juiz. As primeiras incluem todos os atos a serem praticados no processo pelo juiz, ou seja, pelo Estado-juiz (despachos, decisões, sentenças, direção geral do processo); as segundas dizem respeito ao comportamento desse agente público que é o juiz, de quem se exige dedicação ao cargo, compostura e, de um modo muito especial, imparcialidade (grifos no original).
Deste modo, enquanto as partes atuam no processo exercendo seu direito de ação, compreendido aqui como o direito de obter do Estado a resolução efetiva de determinado conflito de interesses, o juiz é representante da Jurisdição na relação processual. 
Para garantir a imparcialidade no julgamento, o Estado criou regras que impedem ou dificultam que o juiz venha a resolver conflito no qual tenha interesse, como o preceito constitucional do juiz natural, evitando manipulações para favorecimento de determinado indivíduo, bem como normas infraconstitucionais que afastam o juiz da apreciação da causa, como os impedimentos. Aliadas a estas medidas preventivas, o Estado impõe sanções ao juiz que julgar processo sem que haja garantia de sua imparcialidade ou em casos em que for demonstrada sua atuação parcial, como, por exemplo, cometendo os crimes de concussão e prevaricação (DINAMARCO, 2005).
Denota-se, pois, que a relação triangular do processo, entre autor, réu e juiz, atribuídos, a cada um destes sujeitos, direitos e deveres executáveis uns contra os outros e definem atos que deverão executar, somados ao procedimento, que ditam a forma com a qual estes atos deverão se desenvolver, molda o processo como o meio mais seguro, prático e participativo de resolver conflitos de interesse.
Finaliza-se, pois, a trindade do direito processual civil, assim como a parte inicial deste estudo, que mostrar-se-á imprescindível para a total compreensão da legitimidade das partes e do interesse de agir. Passa-se agora à análise de ambos na vigência do Código de Processo Civil de 1973, no qual, junto com a possibilidade jurídica do pedido, eram caracterizadas como condições da ação.
Como já dito, as condições da ação são parte integrante da teoria eclética do direito de ação, fundada por Enrico Tullio Liebman, que defende que ação é o direitode se obter, do Estado, uma sentença que aprecie a matéria de fundo do processo, e que teve influência direta no direito brasileiro. Também serão analisados os pressupostos processuais, decorrentes de todos os aspectos do processo já estudados, eis que alguns autores defendem que a categoria abrange, na vigência do Código de Processo Civil de 2015, a legitimidade das partes e o interesse de agir.
 
CAPÍTULO 2
DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO E DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973
Anteriormente, foi demonstrado, por meio de análises históricas e buscando as raízes de cada um dos elementos, que a jurisdição, a ação e o processo tornaram-se imprescindíveis para a resolução de conflitos de interesse caracterizados por pretensões resistidas, eis que o Estado proíbe, na maioria dos casos, a pacificação social por qualquer outro meio.
Assim, na falta de qualquer forma de o indivíduo lesado buscar a atuação do Estado, para que este diga o direito, ou de instrumento com o qual este possa, no plano material, aplicar a justiça, os cidadãos ficariam desamparados, permitindo-se, então, a instauração de caos e desordem. 
Como já dito, a teoria que prevalece a respeito do direito de ação é a abstrata eclética, cujo principal difusor foi Enrico Tullio Liebman, doutrinador italiano que, por muito tempo, residiu no Brasil. Uma das características mais marcantes no ordenamento jurídico que a adoção desta teoria acarreta é a existência de uma categoria chamada de condições da ação, que, no contexto do Código de Processo Civil de 1973, abrangia a legitimidade das partes, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido.
Igualmente, ao processo e a relação jurídica processual também são necessários alguns requisitos para sua criação e desenvolvimento válido, chamados de pressupostos processuais, razão pela qual passa-se à análise de ambas categorias, estudando individualmente cada um de seus integrantes, aproximando-se do tema central deste estudo.
2.1 Da legitimidade das partes, do interesse de agir e da possibilidade jurídica do pedido no Código de Processo Civil de 1973
Não há dúvida de que as condições da ação estavam presentes no Código de Processo Civil de 1973, tampouco que a legitimidade das partes, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido integravam esta categoria, eis que o referido diploma legal, em seus arts. 3º e 267, VI, permitia que houvesse a extinção do processo sem resolução do mérito caso faltasse qualquer das condições. 
Deste modo, na lição de Liebman, o direito de ação não pertence a qualquer um, indiscriminadamente, afastando, portanto, o caráter concreto, defendendo que esta não possui conteúdo genérico, mas depende, sim, de um caso específico e individualizado, e, por isso, condicionada a alguns requisitos, e, na falta de qualquer um deles, a ação não terá sido verdadeiramente exercida, nem ter sido prestada a tutela jurisdicional (FREIRE, 2001).
Passando à análise de cada uma das condições da ação, individualmente, inicia-se pela legitimidade das partes. Para sua análise, deve se levar em conta os sujeitos da relação jurídica que deram causa à ação, devendo haver identidade entre estes e os sujeitos da relação processual, tanto ativa quanto passivamente. Fala-se, portanto, em pertinência subjetiva, porque se verifica o vínculo do autor e do réu em relação ao objeto do litígio (DIDIER JR., 2012).
A legitimidade das partes tem efeito duplo, portanto, eis que tanto a parte passiva quanto a ativa devem ser destinatários da sentença de mérito, de forma que não basta o autor da ação ser o credor no plano material se o réu não for o devedor correspondente (FUX, 2008).
Vale dizer que em virtude da autonomia do direito de ação em relação ao direito material, a legitimidade das partes não pode se tornar análise de mérito, eis que, de tal forma, autor e réu somente seriam parte legítimas se o pedido inicial fosse procedente. O autor terá legitimidade para agir mesmo que seu pedido seja improcedente, desde que seja ele titular daquilo que pleiteia. Neste sentido leciona Humberto Theodoro Júnior (2001, p. 52): "A legitimação ativa caberá ao titular do interesse afirmado na pretensão, e a passiva ao titular do interesse que se opõe ou resiste à pretensão".
O próprio art. 6º do Código de Processo Civil de 1973 é claro ao definir que é defeso formular pretensão em nome próprio, do direito de outrem, salvo quando expressamente autorizado por lei. Percebe-se, portanto, que deve se observar a legitimidade considerando o pedido do autor, analisando quem, em tese, é o titular do direito e quem o violou.
Quanto à ressalva trazida pelo artigo, é permitido que alguém postule, em nome próprio, direito alheio, mas apenas quando expressamente autorizado por lei. Não se trata de exceção à regra da legitimidade, pois apenas introduz uma nova espécie - a legitimidade extraordinária - em contraponto à ordinária, regra geral anteriormente definida.
Desta forma, o legitimado extraordinário, também chamado de substituto processual, recebe da lei a autorização para que postule direito alheio, em nome próprio, figurando, portanto, como parte, o que o difere do representante, que somente supre a incapacidade processual de determinada pessoa (DINAMARCO, 2005).
Sobre a legitimidade extraordinária, conceitua Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2014, p.139):
Na legitimidade extraordinária, aquele que figura como parte postula ou defende direito alheio. É o que ocorre, por exemplo, se a lei autorizar X a ajuizar uma demanda, em nome próprio, mas na defesa de interesses de Y. Haverá uma dissociação: aquele que figura como parte (X) não é o titular do direito; e o titular do direito (Y) não é quem figura como parte.
Esta permissão, que deve ser sempre legislativa, e não meramente judicial, submissa ao arbítrio do magistrado, não é concedida em vão, na medida em que seu destinatário sempre deve ser beneficiário, mesmo que indiretamente, correspondente à eventual propositura de demanda visando a proteção daquele interesse (DINAMARCO, 2005).
Outro tipo de legitimidade passou a ser admitida pelo ordenamento jurídico brasileiro a partir do surgimento da necessidade de proteção de direitos difusos e coletivos, criados com a massificação da sociedade e novos direitos sociais, eis que a legitimação individual dos lesados por determinado ato era insuficiente para a restauração da ordem jurídica. Legitimou-se, portanto, o Ministério Público e outros órgãos intermediários entre o cidadão e o Estado para a defesa de seus interesses institucionais, como, por exemplo, o meio ambiente saudável, a moralidade administrativa e a proteção ao consumidor (FUX, 2008).
Cândido Rangel Dinarmaco (2005, p. 311-313) afirma que esta espécie também se trata de caso de substituição processual, observando que: "É crescente o emprego da técnica da legitimidade extraordinária para causas referentes a direitos e interesses supra-individuais".
Como a primeira condição da ação ora estudada, denota-se que a legitimação das partes guarda íntima relação com o direito material postulado, entretanto, seus reflexos ocorrem somente em matéria processual, e, por isso, familiariza-se também com o conceito de partes como sujeitos da relação processual.
Analisando-a sobre o aspecto da teoria eclética do direito de ação, não haverá julgamento de mérito, portanto, se a parte não tiver qualquer relação com o direito material em discussão, salvo permissão expressa em lei, nem terá sido exercido o direito de ação, justamente por não ser possível a prestação da jurisdição, isto é, a resolução do conflito de interesses, se o interesse sequer é da pessoa que o postula. 
Passando à possibilidade jurídica do pedido, cumpre esclarecer que, em que pese não conste ao lado da legitimidade das partes e do interesse de agir no art. 3º do CPC/73, o legislador a incluiu na categoria de condições da ação, como se observa no já citado art. 267, VI. Ademais, também a inclui no art. 295, parágrafo único, III, quando tratadas hipóteses de inépcia da petição inicial, portanto, ao menos no Código de 1973, a possibilidade jurídica do pedido possui o status de condição da ação.
Seria preenchida esta condição da ação quando o pedido do autor não viole o ordenamento jurídico. Não é imprescindível, pois, que o pedido seja expressamente autorizado pela legislação, apenas que não haja proibição (ALVIM NETTO 2013).
Negar a prestação jurisdicional é exceção ao sistema jurídico, na medida em que não se pode afastar da apreciação pelo Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito de maneira indiscriminada, e, por isso, são infinitamente inferiores as causas de impossibilidade jurídica do pedido em relação àquelas de possibilidade (DINAMARCO, 2005).
Tem-se, aqui, corolário do princípio da legalidade expresso no art. 5º, II, da Constituição da República de 1988, segundo o qual somente a lei pode obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer algo. Aplicado ao Direito Processual, denota-se que o pedido será juridicamente possível sempre que não encontrar barreiras legais.
Desta forma, o pedido será juridicamente impossível sempre que contrariar norma legal superior, de forma que, se for o caso, sequer será apreciado se as partes são legítimas para figurar ativa e passivamente na demanda ou se há interesse na prestação jurisdicional, muito menos será apreciado se o autor tem razão naquilo que pede, eis que jamais será permitido que perdido antijurídico seja admitido (DINAMARCO, 2005).
Assim como as demais condições da ação, a possibilidade jurídica do pedido deve ser encarada de maneira abstrata, examinando-a exclusivamente em seu caráter processual. Dito isso, o processo é instrumento para resolução de conflitos de interesse, de forma que é totalmente inepto o exercício de ação sendo o pedido vedado pelo ordenamento (SANTOS, 2003).
Lembrando que nem sempre a impossibilidade jurídica é restrita ao pedido, mas também à causa de pedir ou à parte, Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2014, p. 143-144) exemplifica:
Por exemplo, em ação de cobrança, não basta verificar o que, e quanto o autor pede, é preciso examinar a causa de pedir. Pode ser que ele fundamente a sua pretensão no fato de ter vencido o réu em um jogo. Ora, o nosso ordenamento jurídico não admite a cobrança de uma dívida, quando fundada em jogo.
Por fim, cumpre lembrar-se da mais comum crítica à possibilidade jurídica do pedido, segundo a qual, por determinar que o juiz analise o pedido para que haja a conclusão de que é vedado pelo ordenamento jurídico, aproxima-se demasiadamente do mérito, quase tornando-se situação de improcedência de plano (GONÇALVES, 2014).
Por isso, na doutrina clássica, não se admite o exercício da ação sendo o pedido vedado pelo ordenamento jurídico, ora, se não há possibilidade de acolher a demanda do autor, também será inviável a resolução de qualquer conflito de interesse por meio da jurisdição. 
Os motivos que levaram à aparente extinção da possibilidade jurídica do pedido do Direito brasileiro a partir do Código de Processo Civil de 2015, com sua retirada das causas que permitem o julgamento sem resolução de mérito pelo juiz, serão posteriormente estudados, quando analisadas as principais mudanças do novo Código nesta seara.
No tocante à condição da ação remanescente, o interesse de agir, tem-se que deve ser encarado como interesse processual ao invés de interesse substancial, eis que se relaciona com a necessidade e utilidade do provimento judicial para resolver o conflito. O interesse de agir é verificado, portanto, por meio de duas circunstâncias, a utilidade e a necessidade do provimento judicial para que seja satisfeito o interesse material (DIDIER JR., 2012).
Nesta senda, não se pode confundir o interesse de agir com o interesse substancial protegido pelo direito material, observada a autonomia do direito processual e da ação, conforme leciona Rodrigo da Cunha Lima Freire (2001, p. 121):
[...] em face da autonomia da ação, onde esta é concebida como um direito subjetivo processual, distinto dos direitos subjetivos, materiais, não se pode concordar com aquele que confundem o interesse de agir, condição da ação, com o interesse substancial, núcleo de um direito subjetivo material. 
Com efeito, é o interesse de agir uma condição para o exercício regular da ação, de ordem exclusivamente processual, que não determina a existência ou não existência do interesse substancial juridicamente protegido, mas, se estiver presente juntamente com as demais condições da ação e os pressupostos processuais, possibilita ao juiz o exame do meritum causae, e, pois, a verificação sobre a presença de um interesse substancial juridicamente protegido, núcleo do direito subjetivo material.
Prossegue o autor sobre o interesse-utilidade: "Há utilidade da jurisdição toda vez que o processo puder propiciar ao demandante o resultado favorável pretendido" (DIDIER JR., 2012, p. 226). Novamente deve-se distanciar tal conceito da vinculação à necessidade de procedência do pedido, impondo a verificação da condição do ponto de vista abstrato. Por isso, não é necessário que o autor tenha razão na demanda, mas sim que o provimento judicial seja, em tese, capaz de lhe propiciar aquilo que é pedido. Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2014, p. 144), em contrapartida, critica o interesse-utilidade como característica autônoma do interesse de agir, afirmando que: "Há os que incluem a utilidade, como elemento do interesse de agir, mas parece-nos que é absorvido pela necessidade, pois aquilo que nos é necessário certamente nos será útil".
O interesse-necessidade, por sua vez, decorre da característica da jurisdição como o último meio para solução dos conflitos de interesse, ou seja, que a pretensão só possa ser satisfeita com ingresso no Poder Judiciário (GONÇALVES, 2014). Fredie Didier Jr. (2012, p. 226) lembra que o interesse em alguns pedidos decorre de sua própria natureza, e exemplifica: "a interdição de uma pessoa somente pode ser decretada pelo Poder Judiciário; a ação de interdição é, por isso, uma ação necessária".
Só haverá interesse-necessidade, por conseguinte, se o autor for incapaz de conseguir atingir seus interesses sem a intervenção estatal, por meio do processo e da prestação da tutela jurisdicional. Exemplo muito utilizado, mas pouco observado na prática, é o do pedido de condenação do devedor que já pagou seu débito ao credor (DINAMARCO, 2005).
Há ainda o interesse-adequação, cuja natureza como aspecto do interesse de agir é discutida. Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2014, p. 144), que defende sua inclusão, a explica:
Também é necessário que haja adequação entre a pretensão do autor, e a demanda por ele ajuizada. Por exemplo: faltará interesse de agir para ação de cobrança, se o credor tiver título executivo. Ao escolher a ação inadequada, o autor está se valendo de uma medida desnecessária ou inútil, o que afasta o interesse de agir.
Desta forma, o interesse-adequação decorre da existência de diversas espécies de procedimentos no direito brasileiro, cada um utilizável para a satisfação de determinado tipo de demanda, e, portanto, mesmo que a tutela jurisdicional seja necessária para atingir o bem da vida buscado, faltará interesse quando for pedida medida incompatível com o modelo adequado prescrito em lei (DINAMARCO, 2005).
Fredie Didier Jr. (2012, p. 228), por outro lado, afasta completamente a adequação:
Não há erro de escolha do procedimento que não possa ser corrigido, por mais discrepantes que sejam o procedimento indevidamente escolhido e aquele que se reputa correto. Um exemplo talvez sirva para expor o problema: se o acaso não é de mandado de segurança, pôr o magistrado determinar a emenda da petição inicial, para que o autor providencie a adequação do instrumento da demanda ao procedimento correto.
Deixando de lado as divergências doutrinárias a respeito das facetas do interesse de agir como condição da ação, deve-se lembrar do básico, ou seja, se, no caso concreto, for verificada sua ausência, não será possível a

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