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trabalho civil lei do esquecimento

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FACULDADE CAMBURY
 
MÔNICA ATAIDES BATISTA
DISCIPLINA:DIREITO CIVIL I
PROFESSOR:CAROLINE VARGAS
ATIVIDADE PRÁTICA CAMBURY
Aplicabilidade do direito ao esquecimento e ponderação de princípios fundamentais na horizontalização de direitos fundamentais ou constitucionalização do Direito Civil.
Goiânia
2018
O caso da Chacina da Candelária 
	Trata-se de um fato ocorrido na cidade do Rio de Janeiro em 23 de julho de 1993, na Igreja de Nossa Senhora da Candelária, especificamente, nas escadarias de acesso a Igreja onde dormiam vários desabrigados. Na ocasião, oito menores desabrigados foram assassinados e outros tantos ficaram feriados.
	O caso em tela teve grande repercussão nacional e internacional, ficando conhecido como Chacina da Candelária. Após investigações, um grupo de policiais militares e um serralheiro de nome Jurandir Gomes de França, foram acusados pelo cometimento do crime e foram presos.
	Jurandir, que era acusado como partícipe do crime, após 3 anos presos, no tribunal do júri “foi absolvido por negativa de autoria pela unanimidade dos membros do Conselho de Sentença.” Em 2006, o programa Linha Direta Justiça, da TV Globo, procurou o inocentado para que fosse realizada uma entrevista. Dessa forma, trouxe a tona todo o sofrimento vivido pelo serralheiro.
	O fato de o referido programa ter reaberto o episódio acontecido, fez com que Jurandir passasse a ser visto em seu convívio como assassino. Isso acabou causando-lhe, no entender do STJ, violação a direitos da personalidade, a saber: direito a paz, privacidade e intimidade. (STJ, REsp. 1.334.097, 2013, p. 6).
Diante do exposto, Jurandir Gomes, buscou na justiça do Rio de Janeiro uma indenização por danos morais por todo o ocorrido. Em primeiro grau teve seu pedido indeferido, entretanto em apelação a decisão foi reformada, condenando a TV Globo ao pagamento da indenização no importe de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Opostos embargos infringente e embargos de declaração, ambos foram rejeitados. (STJ, REsp. 1.334.097, 2013, p. 6-9).
A rede Globo alegou em recurso especial que era “incabível o acolhimento de um direito ao esquecimento ou o direito de ser deixado em paz” e “que não seria possível retratar a trágica história dos homicídios da Candelária sem mencionar o recorrido, porque se tornou, infelizmente, uma peça chave do episódio e do conturbado inquérito policial”. (STJ, REsp. 1.334.097, 2013, p. 10).
O STJ, no entanto, entendeu que era perfeitamente possível a exibição do programa de fazer um resgate histórico, sem identificar Jurandir. Dessa forma, em síntese, ficou evidente a aplicação do direito ao esquecimento no caso da Chacina da Candelária. Jurandir que foi absolvido teve claramente prejuízo e não teve seu direito de ser deixado em paz ou ser deixado de lado, tendo sua imagem explorada e sua privacidade violada pelo programa de TV.
Registra-se que, no entender do STJ, ao julgar o REsp 1.334.097/RJ, é pacífica a jurisprudência do Tribunal no sentido de reconhecer o direito ao esquecimento daqueles que foram condenados ou daqueles absolvidos:
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. FOLHA DE ANTECEDENTES. CANCELAMENTO DE REGISTRO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO PROVIDO. 1. O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento no sentido de que, por analogia aos termos do art. 748 do Código de Processo Penal, devem ser excluídos dos terminais dos Institutos de Identificação Criminal os dados relativos a inquéritos arquivados, a ações penais trancadas, a processos em que tenha ocorrido a reabilitação do condenado e a absolvições por sentença penal transitada em julgado ou, ainda, que tenha sido reconhecida a extinção da punibilidade do acusado decorrente da prescrição da pretensão punitiva do Estado. 2. Recurso provido para que sejam canceladas as anotações realizadas pelo Instituto de Identificação Ricardo Glumbenton-IIRGD relativas ao Processo-Crime 240/92, em que ocorreu o trancamento da Ação Penal nº 240/05. (RMS 24099/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 08/05/2008, DJe 23/06/2008).(grifei).
Ainda no mesmo contexto, encontra-se na doutrina de Gilmar Mendes entendimento no mesmo sentido:
Se a pessoa deixou de atrair notoriedade, desaparecendo o interesse público em torno dela, merece ser deixada de lado, como desejar. Isso é tanto mais verdade com relação, por exemplo, a quem já cumpriu pena criminal e que precisa reajustar-se à sociedade. Ele há de ter o direito a não ver repassados ao público os fatos que o levaram à penitenciária. (MENDES, 2007, p. 374).
Em igual sentido pondera Greco (2013, p. 761):
Não somente a divulgação de fatos inéditos pode atingir o direito de intimidade das pessoas. Muitas vezes, mesmo os fatos já conhecidos publicamente, se reiteradamente divulgados, ou se voltarem a ser divulgados, relembrando acontecimentos passados, podem ferir o direito à intimidade. Fala-se, nesses casos, no chamado direito ao esquecimento.
Extrai-se das palavras dos doutrinadores o reconhecimento do direito ao esquecimento mostrando assim tamanha importância do tema e sua aplicação.
Caso Lampião
	Ação movida pela família Curi contra a TV Globo Ltda. Aida Curi foi vítima de homicídio no ano de 1958 e, à época, o fato ganhou destaques a nas mídias.
Após anos do referido caso, o programa de televisão, denominado Linha Direta-Justiça, exibiu um episódio, sem autorização dos parentes, contando toda a história do homicídio de Curi.
Diante dos fatos os irmãos de Curi procuraram a Justiça pleiteando indenização à título de danos morais pelos acontecimentos expostos. Em primeiro grau foi negado o requerimento e em seguida a decisão foi mantida pelo Tribunal. Em grau de recurso especial contra a TV Globo, a turma do STJ manteve a decisão. (STJ, REsp. Nº 1.335.153, 2013, p. 4).
Observa-se neste caso que a aplicação do Direito ao Esquecimento requerido pela família Curi, foi improcedente, pois pelo entendimento do STJ, é pouco provável que os familiares tenham se sentidos chocados com a reedição do fato após 50 anos da morte de seu familiar. Além disso, de acordo com o STJ, a família não foi colocada em situação vexatória uma vez que não foram os parentes que estiveram expostos no programa.
Caso Xuxa
Um dos casos mais famosos é o da ação movida pela apresentadora de televisão Maria das Graças - Xuxa Meneguel, contra a sociedade GOOGLE Brasil Internet Ltda., perante a justiça do Estado do Rio de Janeiro.
O foco desta ação, movida por Xuxa em 2010, era a exclusão dos sistemas de pesquisas do GOOGLE do nome “xuxa pedófila” ou quaisquer palavras de buscas relativas ao nome da apresentadora nas quais os resultados encontrados associassem sua imagem ao cometimento de prática criminosa qualquer. (STJ, REsp. Nº 1.316.921 – RJ, 2012, p. 5).
Na descisão de primeiro grau, o juiz deferiu a antecipação da tutela determinando que a empresa GOOGLE não mais apresentasse qualquer resultado para uma pesquisa quando utilizada a expressão “xuxa pedófila” ou qualquer outra que associasse o nome da apresentadora a uma prática criminosa. Interposto o recurso cabível, o Tribunal reformou a decisão restringindo as pesquisas no site para algumas imagens apresentadas nos autos. (STF, 2014).
Em sede de recurso especial, o STJ cassou a decisão do Tribunal que deferia a antecipação dos efeitos da tutela sob o argumento de que “os provedores de pesquisa não podem ser obrigados a eliminar do seu sistema os resultados derivados da busca de determinado termo ou expressão, tampouco os resultados que apontem para uma foto ou texto específico”. (STJ, REsp. Nº 1.316.921 – RJ, 2012, p. 1).
O STJ ainda entendeu que não se poderia reprimir o direito da coletividade à informação, uma vez que é possível identificar os sites específicos mediante do endereço da página. Assim, não haveria motivos para demandar contraaquele que apenas facilita o acesso a referida página que está publicamente disponível na rede, in casu, contra o GOOGLE. (STF, 2014).
Nesse contexto, o Min. Luis Felipe Salomão menciona no REsp. 1.334.097 - RJ que, “em recente palestra proferida na Universidade de Nova York, o alto executivo da Google Eric Schmidt afirmou que a internet precisa de um botão de delete. Informações relativas ao passado distante de uma pessoa podem assombrá-la para sempre, causando entraves, inclusive, em sua vida profissional”. (2013, p. 26).
Percebe-se assim, por este caso, em síntese, que a apresentadora buscava o direito de ser esquecida, em decorrência de, no passado, ter feito parte de filme no qual se envolvera com um adolescente e em conseqüência teve sua imagem em formato de vídeo e fotografias espalhadas em diversos domínios da internet.

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