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1 MATERIAIS METÁLICOS CURSO: Engenharia Mecânica – 4º Semestre Prof. Francisco Nascimento UNIDADE II: NOTA DE AULA – 05 1. LIGAS FERROSAS As ligas ferrosas são, em principio, divididas em dois grupos: • Aços, com teores de carbono até 2,0% • Ferros fundidos, com teores de carbono acima de 2,0%, e raramente superior a 4,0%. Considerando, entretanto, os elementos de liga que podem estar presentes e as estruturas que caracterizam alguns tipos desses, os grupos acima considerados, com as respectivas definições, compreendem as seguintes ligas: � Aço-carbono – liga ferro-carbono contendo geralmente de 0,008% até cerca de 2,11% de carbono, além de certos elementos residuais (Mn, Si, P e S) resultantes dos processos de fabricação. � Aço-liga – aço-carbono que contém outros elementos de liga ou apresenta os elementos residuais em teores acima dos que são considerados normais. � Ferro fundido cinzento – liga ferro-carbono-silício, com teor de carbono acima de 2,0% e silício presente em teores de 1,2 a 3,0%; a quantidade de carbono é de tal ordem que, conjuntamente com o relativo teor de silício elevado, promove a formação parcial de carbono livre, na forma de lamela ou “veios de grafita”. Nessas condições, o ferro fundido cinzento apresenta fratura com coloração escura (donde se origina a sua denominação). � Ferro fundido branco - liga ferro-carbono-silício, com teor de silício menor que o cinzento e que, devido ao silício com menor quantidade e às condições de fabricação, apresenta o carbono quase que inteiramente combinado, resultando numa fratura de coloração clara (donde se origina a sua denominação). � Ferro fundido mesclado - liga ferro-carbono-silício, caracterizada por composição e condições de fabricação de tal ordem que resulta uma fratura de coloração mista entre branca e cinzenta (donde se origina a sua denominação). � Ferro fundido maleável - liga ferro-carbono-silício caracterizada por apresentar grafita na forma de “nódulos” (em vez de veios), devido a um tratamento térmico especial (maleabilização) a que se submete um ferro fundido branco. � Ferro fundido nodular - liga ferro-carbono-silício caracterizada por apresentar grafita na forma esferoidal, resultante de um tratamento térmico realizado no material ainda no estado líquido (nodulização). A melhor compreensão das propriedades desses materiais e dos tratamentos térmicos a que comumente são submetidos obtém-se pelo estudo do diagrama de equilíbrio ferro-carbono. 2 2 – DIAGRAMA DE EQUILÍBRIO FERRO-CARBONO A figura abaixo mostra o diagrama metaestável da liga binária Fé-C. O diagrama é chamado de “equilíbrio metaestável” porque, na realidade ocorrem modificações com o tempo, que afastam as reações de equilíbrio estável. Como se vê na figura, o diagrama abrange uma faixa de teores de carbono relativamente estreita, de 0 a 6,7%, teor este último que corresponde à composição química do carboneto de ferro Fe3C. A rigor, o referido diagrama poderia ser considerado como um “diagrama Fe-Fe3C” e quando se diz que o mesmo é de equilíbrio metaestável, é porque pode ocorrer eventualmente decomposição do Fe3C em ferro e carbono, este último na forma de grafita. O diagrama abrange a faixa completa das ligas Fe-C comerciais: “aços”, entre 0 e 2,11% de carbono e ferros fundidos, com carbono acima de 2,11%. O diagrama mostra um “eutético” – ponto C (1148ºC) correspondente a um teor de carbono de 4,3 %. 3 Por outro lado, na faixa correspondente aos aços, o ponto S (727ºC) correspondente a um teor 0,77% de carbono, e tem características semelhantes ao ponto C (eutético na faixa dos ferros fundidos). Por essa razão, o ponto S é chamado “eutetoide”, conforme mostra o diagrama abaixo. Em função desses dois pontos, costumam-se agrupar, teoricamente, os aços e ferros fundidos da seguinte maneira: � Aço Eutetoide – com teor de carbono correspondente ao ponto eutetoide, ou seja 0,77%. � Aço Hipoeutetoide – com teor de carbono entre 0 e 0,77% � Aço Hipereutetoide – com teor de carbono entre 0,77 e 2,11%. � Ferro fundido eutético – com o teor de carbono correspondente ao ponto eutético, ou seja 4,3 %. � Ferro fundido Hipoeutetoide – com teor de carbono entre 2,11% e 4,3%. � Ferro fundido Hipereutetico – com teor de carbono acima de 4,3%. As principais considerações a serem feitas a respeito do diagrama binário Fe-C, das reações que ocorrem em equilíbrio e das estruturas resultantes, são as seguintes: � O ponto A corresponde ao ponto de fusão do ferro puro (1538ºC) e o ponto D, impreciso ao ponto de fusão do Fe3C. � Na parte superior esquerda do diagrama, numa faixa estreita, ocorre uma reação especial chamada “peritética”, na passagem do estado líquido ao sólido, em torno de 1495ºC, a qual, contudo, não apresenta importância sob o ponto de vista prático. Nesse trecho, ao solidificar, o ferro adquire a estrutura CCC – chamada nesse caso, de δ (delta), passando, entretanto, quase a seguir, à estrutura CFC, chamada nessa caso de � (gama), que caracteriza o ferro a alta temperatura. A 912 ºC há a passagem de CFC para CCC até a temperatura ambiente, na forma alotrópica α (alfa). � Na faixa de temperatura em que o ferro está na forma alotrópica gama, ele tem capacidade de dissolver o carbono presente. 4 � Entretanto, essa solubilidade do carbono do ferro gama não é limitada: ela é máxima a 1148ºC e corresponde a um teor de carbono de 2,11%. � As linhas JE e ECF correspondem à linha “SÓLIDUS” do diagrama. � A solução sólida do carbono no ferro gama, chama-se “AUSTENITA” (zona limitada pelas linhas JE, ES, SG e GNJ) denominada de zona austenitíca. Esta austenita é um constituinte estrutural de boa resistência mecânica e apreciável tenacidade e não magnético. O nome é originado do metalurgista inglês Roberts Austen. � A zona limitada pelas linhas SE, ECF e SK existe simultaneamente austenita e carbono, este último na forma de Fe3C (um carboneto de ferro contendo 6,7% de carbono, muito duro e frágil). Esse constituinte é denominado de cementita. � As linhas que marcam o inicio e o fim das transformações chamam-se “linhas de transformação” e elas limitam zonas denominada de “zonas críticas”. 2.1. Reações que ocorrem na faixa de composições correspondentes aos aços No instante que a liga atinge a temperatura correspondente a 727ºC, têm-se, portanto, em equilíbrio, dois constituintes estruturais: ferro puro alfa (α) e uma solução sólida de 0,77% de carbono no gama (�) ou seja, austenita com 0,77% de carbono. Neste momento, todo o ferro gama remanescente transforma-se bruscamente em ferro alfa. Essa transformação resulta em um constituinte de forma lamelar formado por lâminas delgadas e muito próximas uma das outras, de Fe-α e Fe3C, dispostas alternadamente. Esquematicamente o aspecto dessa estrutura (aço eutetoide) está apresentado na figura abaixo. Esse constituinte, devido a algumas particularidades do processo de fabricação é chamado de “PERLITA”. Suas propriedades são intermediárias entre as do ferro puro (pouco resistente, mole e muito dúctil) e a cementita (pouco resistente, muito dura e muito frágil). O ferro puro (fig. Abaixo), na forma alotrópica alfa (α), corresponde a uma estrutura chamada “FERRITA” (do latim – ferrum). A ferrita pode manter em solução sólida até 0,008% de carbono. 5 Os aços hipoeutetoides, com teor de carbono entre 0,008% e 0,77%, apresentam, a temperatura ambiente, uma estrutura composta de ferrita e perlita, como mostra esquematicamente a figura abaixo. A quantidade de perlita aumenta e a de ferrita diminui,à medida que a composição do aço cresce em direção ao ponto eutetoide. Para os aços hipereutetoides (fig. abaixo), entre 0,77 e 2,11% de carbono, podemos observar as reações em equilíbrio de duas fases: uma representada pela austenita que vai se empobrecendo em carbono e outra, pelo carbono paulatinamente expulso na forma de Fe3C (cementita). Assim, em resumo, para os aços a temperatura ambiente (abaixo da linha A1), têm-se as seguintes estruturas: � Ferro comercialmente puro – (ferrita): mole, dúctil e pouco resistente. � Aços Hipoeutetoides – (ferrita + perlita): cuja resistência e dureza vão aumentando e cuja ductilidade vai diminuindo, à medida que se caminha na direção ao teor de 0,77% de carbono. � Aços hipereutetoides – (perlita + cementita): a quantidade desta, disposta nos contornos de grãos, aumenta a medida que se caminha para teores mais elevados de carbono. Essa estrutura é dura, resistente e pouco dúctil, características que se acentuam à medida que aumenta o teor de carbono. 6 Em função dessas propriedades das estruturas, os aços têm suas propriedades modificadas, à medida que o teor de carbono aumenta, conforme mostra o gráfico abaixo. 2.2. Reações que ocorrem na faixa de composição correspondentes aos ferros fundidos Para facilitar o entendimento dessas reações, convém verificar inicialmente qual a estrutura do eutético (ponto C) solidificado, porque, a partir desse eutético, podem ser facilmente determinada as estruturas dos ferros fundidos hipo e hipereutéticos. No ponto C, estão em equilíbrio duas fases: de um lado, à esquerda, a austenita com 2,11% de carbono, o máximo que pode ser mantido em solução sólida. Do outro lado, à direita, o Fe3C (cementita) que corresponde à extremidade do diagrama. Esse eutético (austenita + cementita) é denominado de “LEDEBURITA”. Sua constituição estrutural corresponde a um fundo de cementita, com 6,67% de carbono e cristais dendríticos de austenita contendo 2,11% de carbono, conforme mostra a figura abaixo. No caso de um ferro fundido hipoeutético (entre 2,11 e 4,30% de carbono), na faixa de temperatura “sólidus” e A1, estão em equilíbrio as seguintes fases: de um lado a austenita que se empobrece paulatinamente de carbono até, ao atingir a linha A1, se transformando em perlita. Do outro lado, a 7 ledeburita, constituída agora de glóbulos de perlita sobre um fundo de cementita, conforme mostra a figura abaixo. No caso de um ferro fundido hipereutético (entre 4,30 e 6,67% de carbono), entre as linhas “sólidus” e A1, nada ocorre com a cementita separada durante o resfriamento na fase líquida. Mas a ledeburita sofre transformações, porque a sua austenita tem o teor de carbono decrescendo paulatinamente, à medida que, no resfriamento, se aproxima da linha A1, onde a austenita, se transforma em perlita. Assim, abaixo de A1 até a temperatura ambiente a estrutura dos ferros fundidos hipereutéticos, é constituída de cristais alongados de cementita e um fundo de ledeburita (glóbulos de perlita + cementita), conforme mostra a figura abaixo. Essas estruturas correspondem aos ferros fundidos brancos, em que não existe qualquer carbono na forma livre de grafita. Tais ferros fundidos são relativamente pouco comerciais, devido a sua elevadíssima dureza e fragilidade, portanto de baixa usinabilidade. 8 2.3. Ligas Ferro-Carbono-Silício Os ferros fundidos mais usados são os cinzentos, caracterizados pela presença de silício, geralmente em teores superiores a 2,0%. A presença desse elemento, além de outros fatores a serem considerados, produz uma decomposição do Fe3C, em Fe e C, este último na forma de grafita. Por essa razão, o silício é freqüentemente chamado de elemento “grafitizante”. A figura abaixo mostra a forma como a grafita se apresenta nos ferros fundidos cinzentos. Assim, à medida que o teor de carbono aumenta, tornam-se mais moles, menos resistentes e mais usináveis. Entretanto, sua ductilidade, qualquer que seja o teor de carbono, é praticamente nula, devido à presença de carbono livre, em veios de grafita. Na faixa de composições correspondentes aos ferros fundidos, o efeito mais importante é o do silício. A tendência grafitizante desse elemento altera totalmente as propriedades desses materiais. Outros elementos podem atuar em sentido contrário, em particular o manganês, que é um dos mais importantes estabilizadores da cementita, ou seja, dificulta ou impede sua decomposição. Em resumo, as propriedades das ligas ferro-carbono são influenciadas pelas suas estruturas. Estas dependem das reações que ocorrem no diagrama de equilíbrio, onde os elementos de liga atuam diretamente nas linhas de transformação, na faixa austenitíca e na temperatura e composição do eutetóide, no caso dos aços, e na capacidade grafitizante (silício) ou estabilizante (manganês) da cementita.
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