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Prévia do material em texto

1 
 
AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E A SAÚDE MENTAL 
DO TRABALHADOR: Burnout: uma resposta ao estresse laboral.1 
 
Natividade dos Santos Pereira2 
Prof.ª Dr.ª Ilara Nogueira da Cruz3 
 
RESUMO 
 
A síndrome de burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio psíquico, 
caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de 
trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. Este artigo busca investigar a relação 
existente entre a síndrome de burnout e a contemporaneidade do trabalho. 
 
Palavras-Chave: Burnout. Estresse. Esgotamento profissional. Estafa. Saúde mental. 
Exaustão emocional. Trabalho. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
1.1. Apresentação do tema, objetivos e natureza do trabalho 
 
O presente trabalho apresenta uma investigação, pesquisa bibliográfica, a respeito 
do esgotamento profissional, suas causas, consequências e contemporaneidade com o 
trabalho. 
O artigo tem como objetivo geral descrever a relação entre a síndrome de burnout 
e a contemporaneidade do trabalho. 
Os objetivos específicos do artigo são: 
 Apresentar um breve percurso histórico sobre as transformações do 
mundo do trabalho; 
 Identificar as possíveis consequências da contemporaneidade do 
trabalho sobre a subjetividade do trabalhador; 
 
1 Paper apresentado em 2015 à disciplina Psicologia Organizacional da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco 
– UNDB. 
2 Aluno do 3º Período do Curso de Ciências Contábeis da UNDB. 
3 Professora da Disciplina Psicologia Organizacional do Curso de Ciências Contábeis da UNDB. 
2 
 
 Relacionar as transformações do mundo do trabalho com a saúde 
mental do trabalhador; 
 Apresentar as principais causas do esgotamento profissional; 
 Apresentar as consequências do esgotamento profissional para o 
indivíduo e a organização em que trabalha. 
O desenvolvimento deste artigo se deu, principalmente, com base em informações 
obtidas através de pesquisa realizada em materiais disponíveis na Internet, materiais estes 
provenientes prioritariamente de fontes acadêmicas de reconhecida qualidade e 
confiabilidade, particularmente obtidas no banco de teses da Universidade de São Paulo. 
O estabelecimento da Internet como principal canal para obtenção de informações 
para desenvolvimento do artigo se deu pela necessidade de dar dinamismo ao processo de 
pesquisa. 
 
1.2. Contextualização e justificativa 
 
Nota-se que atualmente as pessoas tem trabalhado cada vez mais, e, por extensão, 
tem tido menos tempo para si mesmas (VEIGA, 2000 apud VASCONCELOS, 2001, p. 2)4. 
O problema teria começado quando transformamos o tempo em uma mercadoria, 
quando passamos a comprar o tempo das pessoas em nossas empresas ao invés de comprar a 
produção (HAND, 1995, p. 25, apud VASCONCELOS, 2001, p. 2)5. 
 Artigo publicado em julho de 2007 pela Revista Época Negócios (SEGALLA, 
2007) apresentou resultados de um estudo concluindo que 84 de cada 100 altos executivos 
brasileiros são infelizes no trabalho. O estudo foi elaborado com base em pesquisa realizada 
junto a 263 presidentes, vice-presidentes e diretores de grandes empresas nacionais e outros 
965 altos executivos, indicando que: 84% dos executivos são infelizes no trabalho; 76% deles 
acessam e-mail profissional fora do horário de trabalho; 58% acham que os cônjuges estão 
descontentes com o ritmo excessivo de trabalho deles; 55% vivenciam uma mudança radical 
no trabalho; 54% estão insatisfeitos com o tempo dedicado à vida pessoal; e 35% apontam 
problemas com o chefe como a crise mais marcante de suas vidas. 
 
4 VEIGA, Ainda – Tempos modernos. Revista Veja, edição 1643, ano 33, nº 34, p. 122-129. Editora Abril, São 
Paulo, 2000. 
5 HANDY, Charles – A era do paradoxo. Dando um sentido para o futuro. Makron Books, São Paulo, 1995. 
3 
 
Segundo Segalla (2007, p. 1), o estudo em questão aponta a globalização6 como 
uma das principais responsáveis pelo aumento da tensão no mundo corporativo. Segundo o 
autor: 
[...] A globalização desponta no estudo como uma das principais vilãs responsáveis 
pelo aumento da tensão no mundo corporativo. Com a competição disparando de 
todos os lados, as empresas correm atrás de aumento de produtividade para brigar 
em condições de igualdade com a concorrência mais e mais voraz. Legiões de 
profissionais foram demitidas nesse processo. Quem antes fazia apenas o seu 
trabalho passou a realizar o de três pessoas. Quem chefiava um único departamento 
assumiu o comando de vários setores. Os que sobreviveram tiveram de provar sua 
competência de forma quase obsessiva. "O acirramento da competição globalizada 
representou uma virada no mundo corporativo brasileiro", afirma Betânia. Metas 
cada vez mais ambiciosas foram estabelecidas. A tecnologia também teve um papel 
decisivo na aceleração do ritmo de trabalho nos últimos anos. 
 
Do ponto de vista psicológico, o trabalho provoca diferentes graus de motivação e 
satisfação, principalmente, quanto à forma e ao meio no qual se desempenha a tarefa 
(KANAANE, 1994 apud SILVA, 2000, p. 1)7. 
 Mesmo o trabalho que motiva e gratifica, quando realizado com afinco, exige 
esforço, capacidade de concentração, de raciocínio, implica desgaste físico e/ou mental, 
atuando na qualidade de vida (KANAANE, 1994 apud SILVA, 2000, p. 1), podendo levar ao 
estresse. 
Segundo Silva (2000, p. 1), foi Hans Selye8 em 1926 que utilizou o termo estresse 
pela primeira vez, e que denominou de estresse um conjunto de reações que um organismo 
desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige um esforço para a ela se adaptar. 
França e Rodrigues (1997 apud SILVA, 2000, p. 1)9 afirmam que o estresse se 
constitui de uma relação particular entre a pessoa, seu ambiente e as circunstâncias as quais 
está submetida, que é avaliada como uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas 
próprias habilidades ou recursos e que põe em perigo o seu bem-estar. 
Com relação ao estresse profissional, Silva (2000, p. 1) ressalta que: 
[...] estes mesmos autores, consideram-no como aquelas situações em que o 
indivíduo percebe seu ambiente de trabalho como ameaçador, quando suas 
necessidades de realização pessoal e profissional, e/ou sua saúde física ou mental, 
prejudicam a interação desta com o trabalho e este ambiente tenha demandas 
excessivas a ela, ou que ela não contenha recursos adequados para enfrentar tais 
situações. 
 
6 A globalização é um dos processos de aprofundamento internacional da integração econômica, social, cultural e 
política que teria sido impulsionado pelo barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países no 
final do século XX e início do século XXI. (Fonte: Wikipédia). 
7 KANAANE, R. – Comportamento humano nas organizações: o homem rumo ao século XXI. Editora 
Atlas, São Paulo, 1994. 
8 Hans Selye (1907 -1982), endocrinologista de etnicidade húngara, nascido na antiga Áustria-Hungria, foi o 
primeiro a pesquisar seriamente o stress na década de 1930. (Fonte: Wikipédia). 
9FRANÇA, A. C. L.; RODRIGUES, A. L. – Stress e trabalho: guia básico com abordagem psicossomática. 
Editora Atlas, São Paulo, 1997. 
4 
 
 
Nem sempre o estresse é prejudicial, no entanto, o estresse prolongado é uma das 
causas do esgotamento, que pode levar ao burnout (FRANÇA; RODRIGUES 1997 apud 
SILVA, 2000, p. 1). 
A síndrome de burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio 
psíquico, descrito em 1974 por Freudenberger10, sendo sua principal característica o estado de 
tensão emocional e estressecrônicos provocado por condições de trabalho físicas, emocionais 
e psicológicas desgastantes (VARELLA, 2011, p. 1). 
Dadas as características da síndrome do esgotamento profissional e o contexto em 
que ela se se desenvolve e se manifesta, ou seja, o contexto do trabalho, se apresenta relevante 
estudar a relação existente entre este distúrbio e o ambiente a que está associada. Assim sendo 
este artigo busca responder a seguinte questão: qual é a relação existente entre a síndrome de 
burnout e a contemporaneidade do trabalho? 
 
1.3. Estruturação do artigo 
 
O artigo ora apresentado foi estruturado contemplando os seguintes tópicos: 
 
1. Introdução – Nesta parte do artigo é tratada da problemática analisada no 
estudo, apresentando os motivos que levaram a escolha do tema, seu objetivo e 
a relevância de sua discussão. Também é apresentada a estruturação de tópicos 
contemplada no artigo, indicando ao leitor, de modo simples e sucinto, o que 
será abordado em cada tópico. 
 
2. Fundamentação teórica – Nesta parte do artigo são apresentados os 
principais conceitos e definições que norteiam a discussão sobre o tema do 
Paper. Será apresentada uma breve descrição sobre a evolução do mundo do 
trabalho, abordando os impactos destas transformações na saúde mental do 
trabalhador e apresentando a síndrome de burnout, juntamente com suas 
causas e principais consequências para o indivíduo e a organização em que 
está inserido. 
 
 
10 Herbert J. Freudenberger (1926 -1999), médico alemão, naturalizado americano, foi um dos primeiros autores 
a descrever os sintomas da exaustão profissional. (Fonte: Wikipédia). 
5 
 
3. Discussão do tema – Nesta parte do artigo será descrita a identificação, ou 
não, da relação existente entre a síndrome de burnout com a 
contemporaneidade do trabalho. 
 
4. Conclusão – Nesta parte do artigo são retomados os principais pontos 
abordados durante o artigo, ressaltando os elementos que descrevam a relação 
existente entre síndrome de burnout e a contemporaneidade do trabalho. 
 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
2.1. Definição de trabalho 
 
A palavra “trabalho”, de origem etimológica latina, “tripalium”, corresponde a 
denominação de um instrumento de tortura formado por três (tri) paus (paliu). Desse modo, 
originalmente, trabalhar significa ser torturado no tripalium (AMARAL, 2008, p. 11). 
Segundo Amaral (2008, p. 11), quem eram torturados naquela época eram os escravos e os 
pobres que não podiam pagar os impostos e “Assim, quem “trabalhava”, naquele tempo, eram 
pessoas destituídas de posses”. 
Amaral (2008, p. 11) ressalta que: “essa ideia de trabalhar como ser torturado 
fortaleceu a compreensão não só do fato da tortura em si, como também, por extensão, das 
atividades físicas produtivas realizadas pelos trabalhadores em geral: camponeses, artesões, 
agricultores, pedreiros, etc.”. 
Ainda segundo Amaral (2008, p. 11), 
Com a especialização das atividades humanas, imposta pela evolução cultural 
(especialmente a Revolução Industrial) da humanidade, a palavra trabalho tem hoje 
muitos e diferentes significados, de tal modo que o verbete, no Dicionário do 
“Aurélio”, dedica-lhe vinte acepções básicas e diversas expressões idiomáticas.11 
 
 Atualmente atribuímos um sentido mais genérico ao trabalho: “aplicação das 
forças e faculdade (talentos, habilidades) humanas para alcançar um determinado fim” 
(Amaral, 2008, p. 11). 
Mises (1995, p. 133 apud AMARAL, 2008, p. 35) define trabalho da seguinte 
forma: 
Denomina-se trabalho o emprego das funções e manifestações fisiológicas da vida 
humana por um meio. O homem trabalha ao usar suas forças e habilidades como um 
 
11 Grande Dicionário de Língua Portuguesa. Cândido de Figueiredo (Org.). Lisboa: Editora Bertrand, 1996. 
25.. ed. V II. 
6 
 
meio para diminuir seu desconforto, e ao substituir o escoamento espontâneo de suas 
faculdades físicas e tensões nervosas pela exploração propositada de sua energia 
vital. O trabalho é um meio e não um fim em si mesmo.12 
 
Na concepção marxista, “o trabalho é, para o homem, condição de sua existência 
social e meio para construção de sua identidade” (ROIK, 2010, p. 21). 
Com relação a posição que o trabalho ocupa em nosso mundo, Mises (1995, p. 
134 apud AMARAL, 2008, p. 35) aponta que: 
A posição singular que o fator trabalho ocupa no nosso mundo se deve ao seu 
caráter não específico. Todos os fatores de produção primários obtidos na natureza – 
isto é, todas as coisas e forças naturais que o homem pode usar para melhorar seu 
bem-estar – tem poderes e virtudes específicos. Existem fins para cuja obtenção tais 
fatores são mais adequados, fins para as quais são menos adequados e fins para os 
quais são totalmente inadequados. Mas o trabalho humano é ao mesmo tempo 
adequado e indispensável para a realização de qualquer processo ou sistema de 
produção que se possa imaginar. 
 
Morin (2001 apud AMARAL, 2008, p. 54)13, através de pesquisa realizada com 
administradores de Quebec e da França, definiu algumas características inerentes a um 
trabalho que faz sentido, como se segue: 
[...] um trabalho que tem sentido é feito de maneira eficiente e leva a alguma coisa; é 
intrinsicamente satisfatório; é moralmente aceitável; é fonte de experiências de 
relações humanas satisfatórias; garante segurança e autonomia; mantém ocupado; e 
finalmente, permite encontrar pessoas com quem os contatos podem ser francos, 
honestos, com quem se pode ter prazer de trabalhar, mesmo em projetos difíceis. 
 
A mesma pesquisa identificou que os entrevistados procuravam essencialmente: 
um trabalho interessante, com muita autonomia; a possibilidade de se realizar e desenvolver 
seus talentos, de exercer a sua criatividade e se completar; boas condições de trabalho; e 
finalmente, poder dar um sentido à vida (MORIN, 2001 apud AMARAL, 2008, p. 54). 
 
2.2. Transformações do mundo do trabalho 
 
A atividade essencial da Idade Média, período compreendido entre os séculos V e 
XV, era a agricultura, sendo que as três invenções que mais modificaram a atividade agrícola 
ocorreram nos fins do século IX, ou início do X, de forma simultânea: a moderna coelheira 
para cavalo, a atrelagem de animais em fila e a ferradura. ” (AMARAL, 2008, p. 68). 
De acordo com WHITTE JR (1985, p. 96 apud AMARAL, 2008, p. 69)14: 
“Tomadas em conjunto, estas três invenções deram à Europa um novo suprimento de força 
 
12 MISES, Ludwig Von. Ação Humana: Um tratado de economia. Tradução de Donald Stewart Jr. Rio de 
Janeiro: Instituto Liberal, 1995, 2ª ed. 
13 MORIN, Estelle M. Os Sentidos do Trabalho. ERA: Revista de Administração de Empresas, São Paulo, 
ERA Livros/FGV. v. 41, n. 3, jul./set. 2001. 
7 
 
motriz não-humana, sem acréscimo de despesas ou trabalho; fizeram pelos séculos XI e XII o 
que a máquina a vapor fez pelo século XIX”. 
A mão-de-obra humana intensamente disponível na Idade Antiga, período 
compreendido entre cerca de 4.000 a.C. até 476 d.C. explica-nos o motivo pelo qual o 
economizar esforço humano por meio da técnica não ocorreu antes, na Idade Antiga 
(BLOCH, 1985, p. 66-67 apud AMARAL, 2008, p. 69)15. 
A aplicação da técnica à produção iniciada fortemente na Europa moderna é um 
dos fatores que dá início ao período moderno, período este compreendido de 1453 até 1789, e 
que afetou e transformou o trabalho de nossas mãos e mentes e o sentido que o trabalho 
passou a ter para o homem moderno (BURKE, 2003, p. 19 apud AMARAL, 2008, p. 69)16. 
A utilização da imprensa,criada como negócio em 1445-1455, alterou 
profundamente o trabalho produtivo e influenciou as ocupações produtoras e disseminadoras 
de conhecimento, dando origem a duas novas realidades: o mundo dos homens letrados, 
mundo este que irá lidar principalmente com o produto e divulgação do conhecimento da 
técnica e a sua abrangência; e o mundo dos operários (AMARAL, 2008, p. 70-71). 
Para Amaral (2008, p.80), “a utilização da técnica da imprensa, o movimento 
humanista associado ao Renascimento, a Reforma Protestante e os seus desdobramentos no 
mundo religioso no século XVI e posteriores, representam uma grande transformação para o 
mundo do trabalho”. 
O texto a seguir pode nos ajudar a compreender melhor a influência da reforma 
protestante na transformação do mundo do trabalho: 
O protestantismo, ao deixar o crente em dúvidas acerca de sua salvação, embora 
acenando com a possibilidade da graça, encoraja-o a agir como se já fosse um eleito 
– sério, zeloso, trabalhador incansável. O seu código moral faz dele um permanente 
calculista – o homem de negócios ideal. Na terra e para além dela, enfrenta o risco 
com fortaleza de ânimo, ao mesmo tempo em que adota todas as precauções 
maduramente pensadas, O católico, em comparação, é um acomodado, paga seu 
conforto espiritual com “obras” simbólicas, que, em sua grande maioria, não tem 
qualquer efeito prático na terra. Em vez de exaltar o trabalho como virtude, o 
católico vê-o como a maldição de Adão. Sua igreja condena como usura qualquer 
pedido de juros sobre empréstimos. É o homem modelo não é aquele que se realiza 
por meio do seu sucesso material; pelo contrário, pobreza e humildade são a marca 
da santidade. ” (BARZUN, 2002, p. 60 apud AMARAL, 2008, p. 82)17. 
 
 
14 WHITE JR, Lynn. Tecnologia e invenções na Idade Média. Tradução de Sylvia Ficher e Ruy Gamma. In: 
GAMA, Ruy (Org.). História da Técnica e da Tecnologia. São Paulo: Edusp, 1985. 
15 BLOCH, Marc. Advento e Conquistas do Moinho D’agua. Tradução de Maria Amélia Mascarenhas Dantas. 
In: GAMA, Ruy (Org.). História da Técnica e da Tecnologia. São Paulo: Edusp, 1985. 
16 BURKE, Peter. Uma História Social do Conhecimento: De Guntenberg a Diderot. Tradução de Plínio 
Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 
17 BARZUN, Jacques. Da Alvorada à Decadência: a história da cultura ocidental de 1500 aos nossos dias. 
Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Campus, 2002. 
8 
 
Assim como a Reforma Protestante, a Revolução Cientifica, que começou 
no século XVI e prolongou-se até o século XVIII, também exerceu importante influência na 
transformação do mundo do trabalho. 
Amaral (2008, p. 84) explica o que foi a Revolução Cientifica da seguinte 
maneira: 
A Revolução Cientifica é denominada desta forma porque tenta incorporar 
conhecimentos alternativos ao conhecimento estabelecido. Ou seja, tenta atuar nas 
ciências a partir do conhecimento tradicional, mas superando-o. Desta forma, a 
química devia muito à tradição artesanal da metalurgia, a botânica aos jardineiros e 
outras ciências aos saberes estabelecidos pelas competências de artesãos anteriores. 
A palavra ciência é aqui utilizada na acepção que lhe atribuímos como hoje. 
 
Para Burke (2003, p. 42 apud AMARAL, 2008, p. 84), a Revolução Cientifica 
“foi um processo mais autoconsciente de inovação intelectual do que o Renascimento, pois 
envolvia a rejeição tanto da tradição clássica quanto medieval”. 
Durante o período que compreende a Idade Média e a Idade Moderna, o sistema 
econômico baseou-se intrinsecamente no modo de produção feudal, o chamado feudalismo, 
em que a riqueza de uma sociedade e os modos de produção estavam ligados à terra 
MIRANDA, 2012). 
Segundo Miranda (2012, p. 1), “com a evolução técnica das sociedades humanas, 
principalmente no continente europeu, novas tecnologias foram sendo criadas, em maior 
velocidade na Idade Moderna, que culminou com a Revolução Industrial ocorrida na 
Inglaterra no final do século XVIII.”. 
A Revolução Industrial foi a revolução que mais alterou o mundo trabalho 
(AMARAL, 2008, p. 90). 
A substituição da habilidade e do esforço humano por máquinas, a substituição de 
fontes animadas por fontes inanimadas de força e a utilização de novas matérias-primas são 
princípios subjacentes à abundancia e à variedade das inovações que permitiram as intensas 
alterações da Revolução Industrial (LANDES, , apud AMARAL, 2008, p. 91-92)18. 
Antes de existir a fábrica, a vida em geral era regida por um trabalho tradicional 
que gerava uma vida bem pacata (WEBER, Max, 2004 apud AMARAL, 2008, p. 96)19. 
De acordo com Amaral (2008, p. 97), “No momento em que se instaura o mundo 
da fábrica, a realidade da vida cotidiana é outra, as novas técnicas necessitam de operários 
diferentes e o empresário que entra primeiro no mercado recebe grandes lucros.”. 
 
18 LANDES, David S. A Riqueza e a Pobreza das Nações: por que algumas são tão ricas e outras tão 
pobres. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Elsevier, 1998. 9. Ed. p. 206. 
19 WEBER, Max. A ética protestante e o espirito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004) 
9 
 
O novo momento industrial teve que ser acolhido pelos artesões, camponeses e os 
trabalhadores que passaram a contar com uma nova perspectiva de viver, sendo que algumas 
profissões, como a tecelão manual, deixaram de existir (AMARAL, 2008, p. 97). Amaral 
(2008, p.97) ressalta que: “As condições de trabalho eram precárias. Os salários eram baixos 
e as jornadas de trabalho chegavam até 80 horas semanais. Os trabalhadores estavam 
sufocados por uma vida extenuante, dedicada ao trabalho.”. 
Com a industrialização, começam a surgir novas técnicas de gestão, conhecidas 
hoje como Teoria da Administração Cientifica. Frederick Taylor20 é um dos estudiosos mais 
conhecidos deste movimento (AMARAL, 2008, p. 97) e é considerado o pai da administração 
científica e um dos primeiros sistematizadores da disciplina científica da administração de 
empresas. 
O texto a seguir introduz o sistema de administração de Taylor: 
Taylor baseou seu sistema de administração no estudo de tempos nas linhas de 
produção. Ao invés de confiar em métodos tradicionais de trabalho, ele analisou e 
cronometrou os tempos dos movimentos dos operários siderúrgicos realizando uma 
série de trabalhos. Usando como base o estudo de tempos, ele dividiu cada função 
em seus componentes e projetou os métodos melhores e mais rápidos para executar 
cada um desses componentes. Com isso Taylor estabeleceu quanto os trabalhadores 
deveriam ser capazes de produzir com o equipamento e materiais disponíveis. 
Também encorajou os patrões a pagar para os empregados mais produtivos uma 
tarifa (taxa de pagamento por unidade produzida) mais alta que para os demais. A 
tarifa mais alta era cuidadosamente calculada e baseada no maior lucro que 
resultaria da maior produção. Assim, os trabalhadores eram incitados a ultrapassar 
seus padrões de desempenho anteriores para ganhar mais. Taylor chamou seu plano 
de sistema de tarifas diferenciadas. Ele acreditava que os trabalhadores que 
alcançassem os padrões mais elevados não precisariam ter medo de ser despedidos, 
porque as empresas se beneficiariam de sua maior produtividade. Pagamentos 
maiores eram assegurados porque as tarifas eram “cientificamente corretas”, 
estabelecidas num nível que era melhor para a empresa e para o trabalhador. Ele 
insistia em quem ninguém seria prejudicado pelo sistema diferenciado, porque os 
trabalhadoresque produzissem abaixo do padrão encontrariam outro trabalho em 
“um ou dois dias” por causa da falta de mão de obra. (STONER; FREEMAN, p. 24 
apud AMARAL, 2008, p. 98-99)21. 
 
Segundo Amaral (2008, p. 104), “ o exemplo mais impressionante de alteração no 
acesso da sociedade de consumo às novas tecnologias verifica-se no pioneirismo de Henry 
Ford na indústria automobilística” 22. 
 
20 Frederick Taylor (1856-1915), engenheiro mecânico estadunidense, é considerado o "Pai da Administração 
Científica" por propor a utilização de métodos científicos cartesianos na administração de empresas. Seu foco era 
a eficiência e eficácia operacional na administração industrial. (Fonte: Wikipédia). 
21 STONER, James A. F,; FREEMAN, R. Edward. Administração. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e 
Científicos Editora S.A., 199. 5. Ed. 
22 Henry Ford, (1863-1947), foi um empreendedor estadunidense, fundador da Ford Motor Company e o 
primeiro empresário a aplicar a montagem em série de forma a produzir em massa automóveis em menos tempo 
e a um menor custo. (Fonte: Wikipédia). 
10 
 
Ford utilizou técnicas modernas de produção, inclusive os métodos de Frederick 
Taylor, com o objetivo de massificar o consumo de veículos. Ford introduziu a linha de 
montagem na indústria automobilística obtendo, com isso, baixos custos de produção 
(AMARAL, 2008, p. 104-105). 
Com Ford, consolidava-se a produção em massa percursora do consumo em 
massa e toda uma nova realidade se impôs ao homem comum (AMARAL, 2008, p. 105). 
“A base da organização do trabalho foi até o início dos anos setenta, o padrão 
taylorista/fordista de produção” (ROIK, 2010, p. 16). 
Segundo Roik (2010, p. 33), “o aumento do preço da força de trabalho 
conquistado no período pós-45 e a intensificação das lutas que objetivavam o controle social 
da produção levaram a uma redução de produtividade do capital e, consequentemente, à queda 
da taxa de lucro. ”. 
Ainda de acordo com Roik (2010, p. 36), 
A nova divisão do trabalho gerada pelo pós-fordismo evidencia a necessidade do 
capital buscar, cada vez mais, a adesão dos trabalhadores para assegurar a 
produtividade e, também, permitir o acumulo de mais-valia. Emergem nesse 
contexto, os modelos alternativos ao binômio taylorismo/fordismo, destaque para o 
toyotismo ou modelo japonês. 
 
A projeção universal do toyotismo deve-se ao sucesso da indústria japonesa em 
face da concorrência mundial (Alves, 2000 apud ROIK, 2010, p. 36)23. 
“No toyotismo, o operário não era mais um apêndice da máquina, mas também 
um ser pensante, consciente e integrado ao processo produtivo” (CRUZ, [2015?], p. 10). 
De acordo com Batista (2008 apud CRUZ, [2015?], p. 1), taylorismo, fordismo e 
o toyotismo são expressões particulares para o mesmo fenômeno: o controle do processo de 
trabalho pela dinâmica da acumulação capitalista. 
 
2.3. Transformações do mundo do trabalho e a saúde mental do trabalhador 
 
Ao longo do desenvolvimento do capitalismo, a concepção do que seja saúde do 
trabalhador vem passando por várias mudanças, passando da visão de preocupação com a 
sobrevivência do corpo para a preocupação com a saúde mental do trabalhador 
(VASCONCELOS; FARIA, 2008 apud CARNEIRO, 2010, p. 10). 
 
23 ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do 
sindicalismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2000. 
11 
 
No final da década de 90, os transtornos mentais em trabalhadores formais já 
ocupavam o terceiro lugar entre as causas de afastamento do trabalho e aposentadoria por 
invalidez (JACQUES, 2003 apud CARNEIRO, 2010, p. 23) 24. 25 
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001 apud CARNEIRO, 2010, 
p. 24)26, os transtornes mentais e do comportamento relacionados ao trabalho são resultados 
dos contextos de trabalho em interação com o corpo e a estrutura psíquica dos trabalhadores. 
Segundo Carneiro (2010, p.24), entre os fatores predisponentes do sofrimento, 
podemos relacionar: 
a falta de trabalho ou ameaça de perda do emprego; o trabalho desprovido de 
significado, sem suporte social, não reconhecido; situações de fracasso; acidente de 
trabalho ou mudança da posição hierárquica; ambientes que impossibilitem a 
comunicação espontânea; manifestações de insatisfações e sugestões dos 
trabalhadores em relação à organização; tempo, ritmo e turno de trabalho; longas 
jornadas de trabalho, ritmos intensos ou monótonos, submissão por parte do 
trabalhador ao ritmo das máquinas; pressão por produtividade; níveis altos de 
concentração somada ao nível de pressão exercida pela organização do trabalho e 
vivencias de acidentes de trabalho traumáticos. 
 
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, o trabalho tem importância fundamental 
na constituição da subjetividade, no modo de vida e na saúde física e mental das pessoas 
(BRASIL, 2001, p. 161). 
Com relação a essa importância, o Ministério da Saúde, através de seu relatório de 
doenças relacionadas ao trabalho, o afirma que: 
Em nossa sociedade, o trabalho é mediador de integração social, seja por seu valor 
econômico (subsistência), seja pelo aspecto cultural (simbólico), tendo, assim, 
importância fundamental na constituição da subjetividade, no modo de vida e, 
portanto, na saúde física e mental das pessoas. A contribuição do trabalho para as 
alterações da saúde mental das pessoas dá-se a partir de ampla gama de aspectos: 
desde fatores pontuais, como a exposição a determinado agente tóxico, até a 
complexa articulação de fatores relativos à organização do trabalho, como a divisão 
e parcelamento das tarefas, as políticas de gerenciamento das pessoas e a estrutura 
hierárquica organizacional (BRASIL, 2001, p. 161). 
 
O trabalho nem sempre possibilita realização profissional, podendo, ao contrário, 
causar problemas desde insatisfação até exaustão (DEJOURS, 1992 apud TRIGO et al, 2006, 
p. 224)27. 
O trabalhador, quando em situações que lhe exigem um grande esforço constante, 
pode desenvolver reações emocionais negativas como o medo e a angustia, podendo instalar 
disfunções psíquicas e comportamentais, tornando-se um candidato a problemas de saúde 
 
24 JACQUES, M. G. C. Abordagens teórico-metodológicas em saúde/doença mental e trabalho. Psicol. Soc. 
Vol. 15 n.1 jan./Jun. de 2003. Belo Horizonte: 2003. 
25 Segundo informações do INSS colhidas no final da década de 90 por Jaques. 
26 BRASIL – Ministério da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os 
serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde. OPAS/OMS, 2001. 
27 DEJOURS, C.– A loucura do trabalho. São Paulo, 1992. 
12 
 
(DEJOURS, 1997; RYAN; OESTREICH, 1993 apud BERTANI; PESSALACIA, 2004, p 
2006).28 29 
A relação natural do homem com o seu trabalho profissional, considerando como 
campo de possível realização criadora de valores e da realização única e plena de si mesmo, 
sofre muitas vezes um desvio em virtude das circunstâncias dominantes no trabalho 
(FRANKL, 2003, p. 162 apud AMARAL, 2008, p. 47)30. 
Uma das circunstâncias importantes no ambiente de trabalho está relacionada as 
relações do trabalho. De acordo com Bertani e Pessalacia (2004. p. 206), chamamos de 
relações do trabalho todos os laços humanos criados pela organização, como as relações com 
a hierarquia, com a supervisão e com outros trabalhadores. 
Relações de trabalho são muitas vezes desagradáveis e até insuportáveis 
representando fontes de ansiedade que até se superpõem ao ritmo do trabalho imposto e 
mesmo às tarefas repetitivas e desinteressantes (BERTANI; PESSALACIA,2004, p. 206). 
Com relação a possibilidade de desenvolver doenças em ambientes de trabalho 
opressivos, Bertani e Pessalacia (2004, p. 205-206) esclarece que: 
Diante de um ambiente de trabalho opressivo, insatisfatório, o trabalhador tem mais 
chances de desenvolver doenças físicas ou psíquicas decorrentes do estresse que 
essas situações podem causar, pois necessita lidar por um longo período com cargas 
emocionais que passam a ser maciças e tensionantes. 
 
Pessoas que vivem em situações de tensão, sendo lhes exigido mais do que 
conseguem absorver, que se sentem sem saídas e em ameaças constantes, são 
levadas a desenvolver uma resposta orgânica. 
 
De acordo com Sontag (1994 apud BERTANI; PESSALACIA, 2004, p. 206)31, 
Há pessoas que vivem em permanente estado de tensão, rivalidade e competição, 
muitas vezes bloqueando a manifestação física desses estados. Com a repetição dos 
bloqueios interiores esses sujeitos se tornam vulneráveis e predispostos à ocorrência 
de doenças como a hipertensão arterial, enxaquecas, hipertireoidismo, artrite, 
sincopes, diabetes, doenças cardiovasculares e tantas outras mais. 
 
Contextos de trabalho particulares têm sido associados a quadros psicopatológicos 
específicos, aos quais são atribuídas terminologias específicas, como é o caso do burnout e de 
síndromes pós-traumáticas que se referem a vivências de situações traumáticas no ambiente 
de trabalho (BRASIL, 2001. p. 162). 
 
28 DEJOURS, C. – A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez, 1997. 
29 RYAN, K.; OESTREICH, D. K. – Eliminando o medo no ambiente de trabalho. São Paulo: Makron Books, 
1993. 
30 FRANKL, Viktor E. Psicoterapia e sentido da vida: fundamentos da Logo terapia e análise existencial. 
Tradução de Alípio Maia de Castro. São Paulo: Quadrante, 2003, 4ª ed. 
31 SONTAG, S. A doença como metáfora. Rio de Janeiro: Graal, 1984. 
13 
 
Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde – OMS32, os transtornos 
mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos 
mentais graves, cerca de 5 a 10% (BRASIL, 2001, p. 161). 
A seguir é apresentada a relação de transtornos mentais e do comportamento 
relacionados ao trabalho reconhecidos pelo Ministério da Saúde do Brasil, de acordo com a 
portaria/ms n.° 1.339/1999 (BRASIL, 2001, p. 164): 
 Demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais; 
 Delirium, não-sobreposto à demência, como descrita; 
 Transtorno cognitivo leve; 
 Transtorno orgânico de personalidade; 
 Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado; 
 Alcoolismo crônico (relacionado ao trabalho); 
 Episódios depressivos; 
 Estado de estresse pós-traumático; 
 Neurastenia (inclui síndrome de fadiga); 
 Outros transtornos neuróticos especificados (inclui neurose 
profissional); 
 Transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não-orgânicos; 
 Sensação de estar acabado (síndrome de burn-out, síndrome do 
esgotamento profissional). 
Como pode ser verificado na relação acima, a síndrome de burnout já é uma 
doença reconhecida pelo Ministério da Saúde do Brasil como uma doença relacionada ao 
trabalho. 
 
2.4. Síndrome de burnout – causas e consequências 
 
A síndrome de burnout é consequente a prolongados níveis de estresse no trabalho 
e compreende exaustão emocional, distanciamento das relações pessoais e diminuição do 
sentimento de realização pessoal (TRIGO et al, 2006, p. 223). Ainda segundo os autores, ao 
 
32 Organização Mundial da Saúde (OMS), World Health Organization em inglês, é uma agência especializada 
em saúde, subordinada à Organização das Nações Unidas. A OMS tem por objetivo desenvolver ao máximo 
possível o nível de saúde de todos os povos. (Fonte: Wikipédia). 
 
14 
 
longo dos anos a síndrome de burnout tem se estabelecido como uma resposta ao estresse 
laboral crônico, integrado por atitudes e sentimentos negativos. 
O burnout foi reconhecido como um risco ocupacional para profissões que 
envolvem cuidados com saúde, educação e serviços humanos (GOLEMBIEWSKI, 1999, 
MASLACH, 1998; MUROFUSE et al, 2005 apud TRIGO et al, 2006, p. 224).33 34 
Inicialmente relacionada a profissões ligadas à prestação de cuidados e assistência 
a pessoas, especialmente em situações economicamente críticas e de carência, o burnout vem 
sendo estendida a outras profissões (SELIGMANN SILVA, 1995 apud BRASIL, 2001, p. 
162)35. Segundo Seligmann Silva (1995 apud BRASIL, 2001, p. 162), estas outras profissões 
seriam aquelas que envolvem alto investimento afetivo e pessoal, em que o trabalho tem como 
objeto problemas humanos de alta complexidade e determinação fora do alcance do 
trabalhador, como dor, sofrimento, injustiça e miséria. 
Os efeitos desta síndrome podem prejudicar o profissional nos níveis individual, 
profissional e organizacional (TRIGO et al, 2006, p. 1). Segundo os autores, o prejuízo a nível 
individual se dá nas dimensões física, mental e profissional. O prejuízo a nível profissional, se 
dá através de atendimento negligente e lento ao cliente e de contato impessoal com colegas de 
trabalho e ou clientes/pacientes. Já o impacto a nível organizacional se apresenta através de 
conflitos com membros da equipe, rotatividade, absenteísmo e diminuição da qualidade dos 
serviços. 
 
3. DISCUSSÃO DO TEMA 
 
É na busca do seu bem-estar que o homem delibera, escolhe, age, cria e 
transforma a sua realidade, sem se dar conta das implicações positivas e negativas que a nova 
realidade impõe (AMARAL, 2008, p. 13). 
Passamos a viver em um mundo em que a engrenagem e a máquina aceleram a 
produção, aceleram o tempo e por isso provocam novos comportamentos no homem e na 
sociedade em geral e nesta nova sociedade industrial um homem é visto como parte da 
produção (AMARAL, 2008, p. 45-46). 
 
33 MASLACH, C.G.J. - Preventivo off burlou: new perspectives. Amplie Preventive Psychology 7: 63-74, 
1998. 
34 MUROFUSE, N.T.; ABRANCHES, S.S.; NAPOLEÃO, A.A. - Reflexões sobre estresse e burnout e a 
relação com a enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem 13: 255-261, 2005. 
35 SELIGMANN-SILVA, E. Psicopatologia e psicodinâmica no trabalho. In: MENDES, R. (Ed.). Patologia do 
trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995, p. 287-310. 
15 
 
Na grande maioria dos casos, mas não exclusivamente, é por intermédio do 
trabalho que o homem realiza o seu sentido de vida, pois em “particular, o trabalho pode 
representar o campo em que o ‘caráter de algo único’ do indivíduo se relaciona com a 
comunidade, recebendo assim o seu sentido e o seu valor” (FRANKL, 2003, p. 160 apud 
AMARAL, 2008, p. 47). 
O grande vilão do mundo moderno não é o trabalho como meio e sim o fato de ele 
ter sido tornado “fim” na e da vida: o vácuo existencial (AMARAL, 2008, p. 48). Segundo 
Amaral (2008, p. 48), este vácuo existencial também é fruto da “incompetência” humana de 
lidar com o seu tempo livre. 
O vácuo existencial é o principal mal dos tempos modernos associados ao 
trabalho e se vê muitas vezes configurado na “neurose dominical” (AMARAL, 2008, p. 48). 
Frankl (2003, p. 168 AMARAL, 2008, p. 48) explica a neurose dominical da 
seguinte forma: 
A plenitude de trabalho profissional não é idêntica à plenitude de sentido da vida 
criadora. De quando em quando, aliás, o neurótico tenta fugir da vida pura e simples, 
da vida em toda a sua grandeza, refugiando-se na vida profissional. O certo é que o 
verdadeiro vazio e, afinal, a pobreza de sentido da sua existência, vêm a luz do dia 
logo que sua laboriosidadeprofissional se paralisa por certo lapso de tempo: quando 
chega o domingo. 
 
Associada ao trabalho sem sentido e ao desemprego, a “neurose dominical” pode 
deixar o homem sem respostas para o sentido da vida (AMARAL, 2008, p. 48). 
“O homem, pouco a pouco, perde a sensação da importância do tempo livre e 
deixa-se envolver pela urgência do trabalho. Ao envolver-se no trabalho intensamente, 
esquece-se de si mesmo e tem uma percepção alterada da realidade’ (AMARAL, 2008, p. 
119). 
Segundo a OMS (1998 apud TRIGO et al, 2006, p. 224) o burnout pode ser 
considerado um grande problema no mundo profissional da atualidade. 
Ao longo dos anos a síndrome de burnout tem se estabelecido como uma resposta 
ao estresse laboral crônico, integrado por atitudes e sentimentos negativos (TRIGO et al, 
2006, p. 223). 
 
4. CONCLUSÃO 
 
O processo evolutivo do mundo trabalho no decorrer do tempo, desde a 
Antiguidade até os dias atuais, é resultado de transformações complexas da própria sociedade, 
resultando em impactos na subjetividade e na saúde mental do trabalhador. 
16 
 
Percebe-se que o trabalho, inicialmente associado a sobrevivência, adquiriu novos 
contornos e passou a ocupar uma nova posição em nosso mundo, representado para muitos o 
principal sentido da vida. 
A utilização da técnica da imprensa, a Reforma Protestante e a Revolução 
Cientifica, e seus desdobramentos, entre outros eventos ocorridos principalmente nas idades 
moderna e contemporânea, implicaram em uma grande transformação do universo do 
trabalho. 
O foco na produtividade e a alta competividade empresarial e pessoal, típicos do 
momento em que vivemos, impõem, muitas vezes, um ritmo de trabalho alucinante e até 
mesmo insuportável, favorecendo a possibilidade de doenças relacionadas ao trabalho, como é 
o caso do estrese e do burnout, entre outras. Relações de trabalho conflituosas, desagradáveis 
e até insuportáveis, muitas vezes resultantes da alta competitividade, também contribuem para 
o desenvolvimento de moléstias. 
 Particularmente no caso da síndrome de burnout, dadas as causas desta doença e 
o contexto em que ela se desenvolve, é possível verificar a sua relação com a 
contemporaneidade do trabalho, inicialmente em atividades profissionais relacionadas a 
saúde, mas agora em outras atividades profissionais. 
O ambiente altamente competitivo e estressante das organizações, associado a 
subjetividade com relação a importância do trabalho na nossa sociedade, se apresentam em 
campo fértil para o desenvolvimento de doenças mentais, entre elas o burnout. 
Neste contexto percebesse a importância da citação de Amaral (2008, p. 110): 
É na disposição do mundo em que tem que atuar que o homem deve achar um novo 
equilíbrio para aquilo que está desordenado – excesso de consumo, excesso de 
trabalho, excesso de especialização, excesso de racionalização, excesso de 
possibilidades inúteis de diversão que fazem com que a vida passe como em um 
campo de concentração disfarçado diante das várias facilidades e possibilidade que 
nos colocam às mãos. 
17 
 
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