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Análise econômica 1, análise incremental (TIR e razão B/C) 1 Análise incremental 1: utilizando o critério da TIR para escolher entre mais de dois projetos 1.1 Procedimento geral É incorreto utilizar o critério de maior TIR para selecionar um dentre pelo menos dois projetos de investimento. Contudo, há um procedimento que habilita a TIR a ser utilizada para selecionar projetos, denominado análise incremental. Conforme definido por Newnan et al (cap.81) trata-se da “análise das diferenças entre alternativas”. O termo “incremental” é, portanto, utilizado como sinônimo de “diferencial”. Como afirmam os autores, a ideia é básica é determinar se “os custos diferenciais são ou não justificados pelos benefícios diferenciais.” E é esclarecedor tomar a equação básica por eles apresentada: Alternativa de maior custo = alternativa de menor custo + diferenças entre as duas alternativas. No que segue, o procedimento de análise incremental para a TIR é descrito para o caso de mais de dois projetos. Antes, cabe definir o conceito de “taxa mínima atrativa de retorno” (TMAR), que corresponde à taxa de referência para aplicações financeiras. 1. Ordenar os projetos em ordem crescente de investimento inicial, C0, (despesa que ocorre em t = 0); 2. Considerar como primeiro par de projetos a ser analisado aquele composto pelo cenário sem projetos (investimento à TMAR) e pelo projeto de menor C0. 3. Denominar o CSP por “defendente” e o projeto de menor C0 por “desafiante”; 4. Calcular a TIR para o projeto “desafiante”: a. Se TIR < TMAR, o desafiante é eliminado da sequencia ordenada; b. Caso contrário, o CSP é eliminado da sequencia ordenada. 5. Tomar como segundo par aquele composto pela alternativa não eliminada no passo anterior e pelo projeto com C0 imediatamente maior. Agora, o defendente é o projeto de menor C0 ou o CSP. Já o desafiante é o projeto de maior C0; 6. Caso o CSP componha o par, calcular a TIR para o segundo membro (desafiante) do par; a. Se TIR < TMAR, o desafiante é eliminado da sequencia ordenada; b. Caso contrário, o CSP é eliminado da sequencia ordenada. 7. Caso o CSP não componha o par, realizar os passos: a. Obter o fluxo de caixa incremental, correspondente à Fdesafiante(t) – Fdefendente(t), para todos os períodos “t” de tempo; b. Calcular a TIR para o fluxo de caixa incremental c. Se TIR < TMAR, o desafiante é eliminado da sequencia ordenada; d. Caso contrário, o defendente é eliminado da sequencia ordenada. 1 É recomendada a leitura deste capítulo aos interessados em análise incremental, especialmente por conta da análise gráfica bastante esclarecedora. laranjinha Highlight laranjinha Highlight laranjinha Highlight 8. Repetir passos 5 a 7 até que apenas uma alternativa seja selecionada. Notar que, para isso, é preciso avançar na ordem da sequencia, com pares em que o desafiante sempre corresponde ao projeto com C0 imediatamente superior ao desafiante do par anterior. 1.2 Exercício A empresa Caterpillar considera quatro localizações para instalar uma nova fábrica. Conforme se vê na tabela abaixo, tanto o custo de instalação (custo inicial) bem como o fluxo de caixa anual líquido variam espacialmente em função de diferenças regionais salariais, de custos de transporte, preço do terreno. Assumindo que a empresa não se satisfaz com um retorno financeiro inferior a 10%, usa a análise de TIR incremental para determinar qual localização é economicamente superior. A B C D Taxa de juros (TMAR) 0,1 Custo inicial 20.000,00 275.000,00 190.000,00 350.000,00 Fluxo de caixa anual 22.000,00 35.000,00 19.500,00 42.000,00 Vida útil 30 30 30 30 A resolução pode ser encontrada na planilha “TIR_incremental”. No que segue apenas o essencial é comentado. Passo 1: ordenação das alternativas em função de C0: C, A, B, D Passo 2: análise do primeiro par: CSP vs C É preciso elaborar uma tabela com o fluxo de caixa líquido da alternativa C para 30 anos. E então, utilizar a função TIR(.) do Excel, tendo como argumento o fluxo de caixa líquido elaborado. Há dois cuidados a tomar: (i) o custo inicial, C0, deve fazer parte do fluxo de caixa líquido, (ii) custos (ou despesas) devem ter sinal negativo no fluxo de caixa, o mesmo valendo para fluxos líquidos compostos por receitas inferiores à despesas. Os demais fluxos devem ter sinal positivo. É obtido um valor 0,091 < TMAR. Logo, a alternativa C é eliminada da sequencia de projetos. Passo 3: análise do segundo par: CSP vs A Com base no fluxo de caixa líquido da alternativa A, a função TIR reporta um valor de 0,1044 > 0,1. Desta feita, o CSP (defendente) é eliminado e a alternativa A mantida. Passo 4: análise do terceiro par: A vs B Tendo sido eliminado o CSP, é necessário calcular, a partir de agora, o fluxo de caixa incremental, Fdesafiante(t) – Fdefendente(t). No caso, a alternativa A é a defendente e a B a desafiante. A TIR incremental é de 0,172 > TMAR e, pois, a alternativa de maior custo do par, B, se mostra economicamente justificada. O que é equivalente a eliminar A da sequencia. Passo 5: análise do quarto par: B vs D A alternativa B agora é a defendente e D a desafiante. A TIR calculada a partir de Fdesafiante(t) – Fdefendente(t), i.e, FD(t) – FB(t) é de 0,085 < TMAR. A desafiante não é economicamente justificada, sendo, pois eliminada. A alternativa B, conclusivamente, é mantida. Ela é a melhor opção do ponto de vista econômico. 2 Critério da razão benefício/custo (B/C): princípios básicos 2.1 Conceitos e convenções Há um critério de tomada de decisão alternativo aos três critérios financeiros, denominado por razão benefício-custo. Este é mais adequado para projetos de investimento público, pois estes devem ser analisados da perspectiva da sociedade como um todo, diferentemente dos projetos privados (os quais tendem a ser executados ou não em grande medida em função estritamente dos resultados de uma análise financeira). Por benefício se entende toda e qualquer contribuição do projeto de investimento para a ampliação do bem-estar social e, por custo, toda a contribuição no sentido de redução do bem-estar (em consonância com o tópico de análise de impactos). Do que decorre que, da perspectiva social, a execução de um projeto vale a pena caso o benefício agregado (aumento do bem-estar) se equipare ou supere o custo agregado (redução do bem-estar). O que significa que o benefício líquido proporcionado pelo projeto à sociedade é nulo ou positivo. É comum considerar uma terceira classe de impacto, denominada “desbenefits” ou “desbenefícios” para descrever impactos negativos exteriores (comercializados ou não) causados pelo projeto. Por exemplo, o deslocamento dos residentes da área compreendida pela ampliação de rodovias ou ferrovias, a poluição sonora causada pelas obras, a degradação da paisagem e de ecossistemas, são exemplos de “desbenefícios”. Já impactos exteriores positivos (mesmo não sendo visados) devem ser incorporados como benefícios, tendo de ser, para tanto, expressos em unidades monetárias. São exemplos (CE, p.61) a economia de tempo de deslocamento (projetos de transporte), o aumento da expectativa ou qualidade de vida (projetos de saúde e saneamento básico), morbidade ou mortalidade evitadas, redução de risco de acidentes de transporte, melhoria da paisagem, redução de ruído e aumento da capacidade de adaptação (resiliência) à mudança climática. Para a análise de custo-benefício, embasada na teoria econômica, os desbenefícios são simplesmente custos, conforme já argumentado no tópico de análise de impactos. Contudo, para o método a ser ora discutido, é necessário distinguir custos interiores (despesas), C, e desbenefícios, D. Benefícios serão indicadospor B. Outra convenção do método é a de não utilizar sinal negativo para C e D. Seja assumido por hora que é possível e viável expressar custos, benefícios e desbenefícios em termos monetários e, o que é mais importante, de forma a que tais valores monetários mensurem variações (positivas ou negativas) de bem-estar social - no próximo tópico será discutido como valorar economicamente impactos não-comercializados. laranjinha Highlight Há pelo menos três indicadores de razão B/C O indicador mais comum é B/C = (B – D)/C. Neste caso os “desbenefícios” são subtraídos dos benefícios (o que justifica o nome dado aos primeiros). O critério de decisão embasado neste indicador é o de, havendo apenas um projeto de investimento em questão, se B/C >= 1, realizar o projeto, do contrário, não, uma vez que há redução do bem-estar social. Optar, pois, pelo cenário sem projetos. Este critério será referido como “critério da razão B/C”. Um segundo indicador seria B/C = (B – D – custo operacional)/investimento inicial. Há, ainda, um terceiro indicador, mais intuitivo, talvez, dado por B – C - D. Uma das vantagens deste terceiro indicador está em ser robusto à ambiguidade, que surge na prática, quanto ao tratamento dos “desbenefícios”: pode fazer sentido tanto subtraí-los dos benefícios como soma-los aos custos. Essas duas possibilidades são equivalentes apenas para um indicador aditivo como o último, levando a valores diferentes para o primeiro indicador, por exemplo. Na análise custo-benefício fundamentada na teoria do bem-estar, o indicador aditivo é mais comum. Ele será retomado mais a frente. Por hora o primeiro indicador será utilizado. 2.2 Análise B/C para dois projetos Para aplicar o critério da razão B/C para dois ou mais projetos, procurando, pois, escolher um deles, é preciso recorrer à análise incremental. O método de análise incremental, no caso, é praticamente equivalente ao empregado para o critério da TIR. Há duas diferenças: (a) não há fluxos com sinais negativos, (b) as alternativas devem ser ordenadas em ordem crescente de VP dos custos sem considerar, para isso, desbenefícios como parte dos custos, (c) as diferenças entre as alternativas são medidas na forma de valor presenta e não de diferenças de fluxos instantâneos. Atenção: notar que não se deve considerar apenas o custo inicial, mas sim o valor presente de todo o fluxo de custos (despesas). O procedimento de análise B/C incremental para duas alternativas é o seguinte: (1) Calcular o VP do custo total, VP(C), para todas as alternativas; (2) Calcular, para cada alternativa e para cada ano o benefício líquido do desbenefício, B – D. Obter o valor presente, VP(B-D); (3) Aplicar o critério da razão B/C para eliminar alternativas com B/C < 1; (3.a) Caso as duas alternativas sejam eliminadas, optar pela não-implementação de projetos de investimento (optar pelo cenário sem projetos, CSP); (3.b) Caso apenas uma alternativa seja eliminada, a remanescente deve ser implementada; (3.c) Se nenhuma das duas alternativas for eliminada, seguir os passos adiante; laranjinha Highlight laranjinha Highlight laranjinha Highlight laranjinha Highlight laranjinha Highlight laranjinha Highlight laranjinha Highlight laranjinha Highlight (4) Ordenar as alternativas em ordem crescente de VP(C) e calcular o custo incremental (diferencial) da seguinte maneira: VP(C)maior custo - VP(C)menor custo (subtrair a alternativa de maior custo da alternativa de menor custo); (5) Calcular o benefício incremental como VP(B-D)maior custo - VP(B-D)menor custo; (6) Calcular a razão entre os resultados de (4) e (5), como segue: ΔB/C = [VP(B-D)maior custo - VP(B-D)menor custo]/ [VP(C)maior custo - VP(C)menor custo] (5) Selecionar a alternativa de maior custo apenas se ΔB/C ≥ 1, caso contrário, selecionar a alternativa de menor custo. Notar que a razão B/C incremental é uma razão de diferenciais. Especificamente, uma razão do diferencial de benefício pelo diferencial de custo. Mais precisamente, trata-se do excedente de benefício proporcionado pela alternativa de maior custo dividido pelo excedente de custo que tal alternativa requer. O princípio básico inerente ao critério de decisão é simples: caso o excedente de custo imposto pela alternativa de maior custo não venha acompanhado de um excedente de benefício que o compense, optar por tal alternativa não é economicamente justificável. O dispêndio de recursos seria ampliado em maior magnitude do que o bem-estar social, caso a alternativa de maior custo fosse implementada, comparativamente à situação em que a alternativa de menor custo fosse implementada. Gastaria-se mais do que se receberia. Caso B/C > 1, tem-se que, para cada R$1 adicional investido, obtém-se mais do que R$1 adicional. Do ponto de vista da otimização do recurso faz sentido que a vantagem econômica a ser colocada em questão seja aquela referente à alternativa de maior custo. Apenas é justificado despender mais caso se tenha evidência clara de que isso aumentaria o bem-estar social pelo menos na mesma magnitude. Caso contrário, a alternativa de menor custo, a qual tende a corresponder à alternativa de menor esforço, deve ser implementada. 2.3 Análise B/C para mais de dois projetos O procedimento é praticamente equivalente ao já visto, com a particularidade de que é necessário repetir múltiplas vezes a comparação para pares de alternativas, seguindo uma sequência específica, até que uma única alternativa seja selecionada. É recomendável, para evitar eventuais erros na aplicação do procedimento, empregar os termos “defendente” e “desafiante” para, respectivamente, as alternativas de menor e de maior custo de um dado par. Segue o procedimento. (1) Calcular VP(C) e VP(B-D), para todas as alternativas. (2) Aplicar o critério da razão B/C para eliminar alternativas com B/C < 1; (3.a) Caso todas as alternativas sejam eliminadas, optar pela não-implementação de projetos de investimento (optar pelo cenário sem projetos, CSP); (3.b) Caso apenas uma alternativa passe no teste (não seja eliminada), ela deve ser selecionada; (3.c) Caso mais de uma alternativa passe no teste, realizar os próximos passos; (4) Ordenar as alternativas (remanescentes) em ordem crescente de VP(C). O primeiro par de alternativas a ser examinado contém a primeira e a segunda alternativas da sequência (ou seja, trata-se da alternativa de menor custo dentre todas e a alternativa com o segundo menor custo). (5) A alternativa de menor custo, dentro do par, é denominada por “defendente” e a de maior custo por “desafiante”. Calcular, dentro do par: ΔB/C = [VP(B-D)desafiante - VP(B-D)defendente]/ [VP(C)desafiante - VP(C)defendente] (razão do diferencial de benefício pelo diferencial de benefício) (6) Eliminar da sequência de alternativas a defendente do par se ΔB/C ≥ 1, caso contrário, eliminar da sequência de alternativas a alternativa que no par é a desafiante; (7) A sequencia de alternativas deve ser atualizada em função de (6), dela sendo retirada a alternativa eliminada; (8) Repetir os passos 5 a 7 para o par de alternativas composto pela alternativa não eliminada no passo (6) e a alternativa subsequente na sequência de alternativas atualizada em (7). Atenção: notar que o próximo par de alternativas a ser considerado contém uma das alternativas do par já analisado.
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