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Conceito de Constituição e Direito Constitucional

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Direito Constitucional I
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
Teoria da Constituição é o conjunto de categorias dogmático-científicas que possibilitam o estudo dos aparelhos conceituais e dos métodos de conhecimento da Lei Fundamental do Estado.
A palavra “constituição” pode ser empregada com vários significados: (i) conjuntos de elementos essenciais de alguma coisa – constituição dos corpos sólidos; (ii) temperamento ou compleição do corpo humano – constituição robusta; (iii) Organização ou formação – constituição de uma comissão; (iv) ato de estabelecer juridicamente – constituição de uma renda; e (v) a lei fundamental de um Estado.
Constituição = Lei Fundamental e Suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo, aquisição de poder de governo, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos. É um organismo vivo delimitador da organização estrutural do Estado, da forma de governo , da garantia das liberdades púbicas, do modo de aquisição e exercício do Poder. 
Segundo VIRGÍLIO JESUS MIRANDA CARVALHO, “que melhor se definirá a Constituição como o estatuto jurídico fundamental da comunidade, isto é, abrangendo, mas não se restringindo estritamente ao político e porque suposto este, não obstante a sua hoje reconhecida aptidão potencial para uma tendencial totalização, como tendo, apesar de tudo, uma especificidade e conteúdo material próprios, o que não autoriza a que por ele (ou exclusivamente por ele) se defina toda a vida da relação e todas as áreas de convivência humana em sociedade e levará à autonomização do normativo-jurídico específico (neste sentido, total – e não apensas tendencialmente – é o Direito), bem como à distinção, no seio da própria Constituição, entre a sua intenção ideológica-política e a intenção jurídica stricto sensu. Com este sentido, também poderemos, então, definir a Constituição como a lei fundamental da sociedade”.[2: 	 Os Valores Constitucionais Fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora, 1982, p. 13]
Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA a Constituição do Estado é “um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado”. [3: 	 Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 1998, 15ª ed. Pp. 39/40]
As constituições são lídimos organismos vivos, verdadeiros documentos abertos, em íntimo vínculo dialético com o meio circundante, com as forças de transformação da sociedade, com as crenças e as convicções, as aspirações e os anseios populares etc. 
Uma constituição é o reflexo da sociedade de determinado momento, é o fruto de conjunturas políticas. Mas possui um caráter dinâmico.
CONSTITUIÇÃO: (i) sentido sociológico (Ferdnand Lassalle): soma dos fatores reais do poder que regem nesse país, sendo real e efetiva (constituição escrita é mera folha de papel); (ii) sentido político (Carl Schmitt): decisão política fundamental, decisão concreta de conjunto sobre o modo e a forma da existência da unidade política; (iii) sentido jurídico (Kelsen): é uma norma pura, puro dever-ser. No sentido lógico jurídico ela é a norma fundamental hipotética, enquanto no sentido lógico positivo é a norma positiva suprema.
As constituições formais surgem através da forma escrita (EUA, 1787).
Hierarquia Constitucional: Caso Marbury X Madison (EUA, 1083), que decidiu que uma lei posterior inferior não prevalece sobre lei anterior superior: SUPRALEGALIDADE. A constituição está acima de todas as leis, sendo que as leis infraconstitucionais não poderão ser contrárias a ela.
Direito Constitucional: Segundo José Afonso da Silva, “o direito constitucional configura-se como um direito público fundamental por referir-se, diretamente, à organização e funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política”. O Direito Constitucional, na visão de Bulos, abrange aspectos multifacetários, dividindo-se, didaticamente, em diversos objetos de estudo:
Direito Constitucional Positivo: É também chamado de Direito Constitucional Particular ou Interno, é a ciência prática que tem por escopo o estudo, a interpretação, a sistematização e a crítica da ordem jurídica vigente de determinado Estado;
Direito Constitucional Comparado: É uma ciência descritiva e auxiliar, pois se busca no cotejo de constituições estrangeiras o significado dos institutos constitucionais;
Direito Constitucional Geral: Constituí um capítulo específico da Teoria Geral do Direito. Pelo seu estudo busca-se desvendar as categorias típicas, os conceitos, os princípios genéricos e específicos, essenciais ao conhecimento íntimo das instituições e institutos do ordenamento constitucional positivo. 
Direito Constitucional Material e Formal (alguns autores tratam esta matéria juntamente com os sentidos das Constituições). A Constituição Material se refere às normas fundamentalmente constitucionais e a Constituição Formal estão ligadas ao ideal jurídico de Kelsen, em que se considera norma Constitucional todas as normas formalmente inseridas na Lei Fundamental. 
Direito Constitucional Internacional.
Direito Constitucional Comunitário.
CONSTITUCIONALISMO
Conceito: Teoria ou ideologia que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade. Nesse sentido, o constitucionalismo moderno representará uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos. O termo em questão possui dois sentidos: amplo e estrito. 
Constitucionalismo em sentido amplo: é o fenômeno relacionado ao fato de todo estado possuir uma constituição em qualquer época da humanidade, independente do regime político adotado;
Constitucionalismo em sentido estrito: é a técnica jurídica de tutela das liberdades, surgida no fim do século XVIII, que possibilitou aos cidadãos exercerem, com base em constituições escritas, os seus direitos e garantias fundamentais, sem que o Estado lhes pudesse oprimir pelo uso da forçar e do arbítrio. Possui caráter jurídico, social, político e ideológico:
Jurídico: Propôs a regulamentação legal do poder por intermédio das Constituições escritas, cuja superioridade implica subordinação de todos os atos governamentais aos seus dispositivos;
Social: Porque estimulou o povo a lutar contra a hegemonia do poder absoluto;
Ideológico: Uma vez que exprimiu a ideologia liberalista, baseada na implantação de um governo de Leis e não dos homens;
Político: pois bradou contra a opressão e o arbítrio, em nome da defesa dos direitos e garantias fundamentais. 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789): Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Movimentos constitucionais:
Constitucionalismo Primitivo: Apresentava-se em sua manifestação mais singela, sob a forma das organizações consuetudinárias, em que os chefes familiais ou os líderes dos clãs traçavam as normas supremas que deveriam nortear a vida em comunidade, estabelecendo a estrutura mestra, a essência, o cerne da ordenação jurídica daqueles povos; 
Constitucionalismo durante a Antiguidade: surgiu entre os hebreus, estabelecendo-se no Estado teocrático limitações ao poder político ao assegurar aos profetas a legitimidade para fiscalizar os atos governamentais que extrapolassem os limites bíblicos. Mais tarde, a experiência das cidades-estados gregas foram um importante exemplo de democracia constitucional, na medida em que a democracia direta, particular a elas, consagrava o único exemplo conhecido de sistema político com plena identidade entre governantese governados, no qual o poder político está igualmente distribuído entre todos os cidadãos. 
Constitucionalismo durante a Idade Média: a Carta Magna de 1215 representa o grande marco do constitucionalismo medieval, estabelecendo, mesmo que formalmente, a proteção a importantes direitos individuais;
Constitucionalismo durante a Idade Moderna: destacam-se o Petition of Rights, de 1628, o Habeas Corpus Act, de 1679, o Bill of Rights, de 1689 e o Act of Settlement, de 1701. Além dos pactos, há o que a doutrina chamou de forais ou cartas de franquia, também voltados para a proteção dos direitos individuais. Diferenciam-se dos pactos por admitir a participação dos súditos no governo local; 
Constitucionalismo norte-americano: os chamados contratos de colonização foram marcantes na história das colônias da América do Norte. Onde os peregrinos fixaram, por mútuo consenso, as regras por que haveriam de governar-se.
Constitucionalismo Moderno (durante a Idade Contemporânea): onde predominam as constituições escritas como instrumentos para conter qualquer arbítrio decorrente do poder. Possui dois marcos históricos e formais, a Constituição norte-americana de 1787 e a francesa de 1791. O período do constitucionalismo moderno coincide com a fase do pós-positivismo jurídico, por alguns chamados de neopositivismo, que promoveu a superação do normativismo exacerbado. A partir da segunda metade do século XX, questões de cunho ético passaram a ser discutidas, rompendo os grilhões do conhecimento convencional, que procurava reduzir o Direito à sua dimensão absolutamente normativa. A grande novidade do constitucionalismo moderno não foi propriamente especificar os princípios que deveriam integrar as constituições escritas, mas sim reconhecer-lhes a dimensão normativa que lhes encontra subjacente. Tal fato permite, no constitucionalismo contemporâneo, que os magistrados se afastem do aspecto meramente formal do direito, proferindo decisões cujos arrimos são os vetores da legalidade, da igualdade, da dignidade da pessoa humana entre outros. São algumas características do constitucionalismo moderno: 
As constituições passaram a ser escritas;
Os textos constitucionais são procriados pelo poder constituinte originário;
Processo legislativo solene para a reforma das constituições;
Nascimento da doutrina do poder constituinte decorrente;
Diferenciação entre constituição dogmática (escrita e sistematizada) e histórica (obra dos costumes).
Primado da supremacia formal e material da constituição;
Surgimento do Controle de Constitucionalidade;
Limitações das funções estatais (e de todas elas);
Primazia do princípio da separação de poderes;
Tutela reforçada dos direitos e garantias fundamentais;
Aparecimento do princípio da força normativa da constituição;
Reconhecimento normativo da dimensão principiológica do direito. 
Constitucionalismo Contemporâneo (durante a Idade Contemporânea) – constitucionalismo globalizado: está centrado em um totalitarismo constitucional, onde os textos sedimentam um importante conteúdo social que estabelece normas pragmáticas. São características do constitucionalismo contemporâneo:
Fase marcada pela existência de documentos constitucionais amplos, analíticos, extensos, consagrando uma espécie de totalitarismo constitucional;
Destaque dos direitos e garantias fundamentais como respostas às angústias por uma sociedade melhor, justa igualitária; 
Advento de novos arquétipos de compreensão constitucional.
Constitucionalismo do futuro: terá que consolidar os chamados direitos humanos de terceira dimensão, incorporando à ideia de constitucionalismo social os valores do constitucionalismo fraternal e de solidariedade, avançando e estabelecendo um equilíbrio entre o constitucionalismo moderno e alguns excessos do contemporâneo. 
Assim, o futuro do constitucionalismo deve buscar a verdade, solidariedade, consenso, continuidade, participação, integração e a universalidade.
NEOCONSTITUCIONALISMO
A Doutrina passa a desenvolver, a partir do século XXI, uma nova perspectiva em relação ao constitucionalismo, denominada neoconstitucionalismo, visando, dentro dessa nova realidade, a eficácia da Constituição, deixando o texto de ter um caráter meramente retórico e passando a ser mais efetivo, sobretudo diante da expectativa de concretização dos direitos fundamentais.
Pontos marcantes do neoconstitucionalismo: Constituição:
Estado constitucional de direito: a constituição passa a ser o centro do sistema, marcada por uma intensa carga valorativa. A Lei e, de modo geral, os Poderes Públicos, devem não só observar a forma escrita na Constituição, mas, acima de tudo, estar em consonância com o seu espírito, o seu caráter axiológico e seus valores;
Norma jurídica: imperatividade e superioridade;
Conteúdo axiológico da constituição: conjunto de valores e opções políticas que promovem, sobretudo, a dignidade humana e os direitos fundamentais.
Eficácia irradiante em relação aos Poderes e mesmo aos particulares;
Concretização dos valores constitucionais e garantias de condições mínimas dignas mínimas: independentemente se a Constituição adotar uma visão substancialista, impondo um conjunto de decisões valorativas que se considerem essenciais e consensuais, ou o procedimentalismo, garantindo o funcionamento adequado do sistema de participação democrático, deverá resguardar as condições mínimas de dignidade.
Resumo
Origem: ligada às constituições escritas e rígidas dos EUA (1787) e da França (1791)
Dois traços marcantes: Organização do Estado e limitação do Poder Estatal por meio de direitos e garantias individuais.
Direito Constitucional – Ramo do Direito Público. Essencial para organização e funcionamento do Estado. Estabelece a sua estrutura. Estudo sistemático das normas que integram a constituição do estado.
Conteúdo Científico do Direito Constitucional: (i) Direito Constitucional Positivo ou particular; (ii) Direito Constitucional Comparado; e (iii) Direito Constitucional Geral.
Constituição = Produto legislativo máximo do Direito Constitucional.
Estado = lenta e gradual evolução organizacional do poder.
Segundo PONTES DE MIRANDA o Estado é “o conjunto de todas as relações entre os poderes públicos e os indivíduos, ou daqueles entre si”.[4: 	 Comentários à Constituição, 1946, vol. 1, p. 39]
O Constitucionalismo surge com a necessidade de racionalização e humanização do Estado. É a submissão de todos ao Estado de Direito.
Constituição Francesa de 1848: liberdade, igualdade e fraternidade, tendo como base à família, o trabalho, a propriedade e a ordem pública, competindo ao Estado a proteção do cidadão.
Constituição de Weimar (Alemanha, 1919): democracia liberal e consagração do Estado Social de Direito, incluído no seu texto diversos direitos sociais.
Duas grandes qualidades do Estado Constitucional: Estado de Direito e Estado Democrático.
ESTADO DE DIREITO: (i) primazia da lei; (ii) sistema hierárquico de normas: segurança jurídica; (iii) observância da legalidade pela administração pública; (iv) separação dos poderes; (v) personalidade jurídica do Estado que se relacional com os cidadãos; (vi) garantias e direitos fundamentais na ordem constitucional; (vii) controle de constitucionalidade; e (viii) supremacia da legalidade (“The Rule of Law” – devido processo legal, predominância das leis, sujeição ao parlamento e igualdade de acesso aos tribunais – Magna Carta, 1215).
ESTADO DEMOCRÁTICO: o Estado se rege por normas democráticas, com eleições periódicas, honestas e livres, com a participação popular, respeito às autoridades públicas e garantias individuais. Exige-se a participação de todos na vida política com a finalidade de garantir o respeito à soberania popular.
Constitucionalismo: legitimação e limitação do poder (garantia da democracia).

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