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AN02FREV001/REV 4.0 68 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 69 CURSO DE TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 70 MÓDULO IV 4 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A FAMÍLIA A Política Nacional de Assistência Social é uma política que considera as desigualdades socioterritoriais, focando seu enfrentamento na garantia dos mínimos sociais, e a universalização dos direitos sociais à sociedade. O seu público é composto por cidadãos que se encontram em situação de risco, ou aqueles que dela necessitam, sem contribuição prévia. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), nos dias de hoje tem um caráter inovador, pois avança no sentido de se consumar como política pública, porém já esteve ancorada em práticas clientelistas, e a partir da Constituição Federal de 1988, essa política passou a ser um modelo protetivo que elege a família para a centralidade das suas ações, objetivando a sustentabilidade dos direitos dos seus membros. Uma das funções da PNAS é a vigilância social que consiste em um sistema de informações sobre a realidade dos usuários de um determinado território, devendo ser organizado em âmbito municipal, estadual e federal, sendo de grande importância para a elaboração de diagnósticos e avaliações. A PNAS coloca a necessidade de garantir a família condições de sustentabilidade, a fim de prevenir situações de risco. A sua proposta está em assegurar a assistência social como uma política pública, tendo como forma de proteção e objetivo principal a proteção social básica e especial a indivíduos e famílias. Podemos considerar a família como provedora de cuidados, apoio e proteção aos seus membros, porém a mesma precisa ser cuidada e protegida. A PNAS (2004, p. 29), ressalta que: AN02FREV001/REV 4.0 71 [...] são funções básicas da família: prover a proteção e a socialização de seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais; de identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o Estado. Quando esta família encontra dificuldade de cumprir com sua função social, surgem as demandas para os assistentes sociais. Essas demandas surgem das famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade, risco social, famílias que vitimizam por meio de maus-tratos ou outros tipos de violência suas crianças e adolescentes, famílias com dificuldades de aceitação dos membros portadores de necessidades especiais, violência intrafamiliar contra a mulher, famílias com jovens em conflito com a lei, essas e muitas outras demandas aparecem para o assistente social e exigem uma intervenção. O Assistente Social deve ser transformador, buscando sempre a emancipação e o autodesenvolvimento da família. As demandas institucionais que são demandas objetivas, imediatas, devem ser respondidas com o desenvolvimento e a utilização de instrumentos (meios) para atingir seus objetivos, estes instrumentos podem ser: os bens, serviços, benefícios, programas e projetos. O Assistente Social deve ter o papel articulador, com o objetivo de criar meios para que a família crie condições para cumprir a sua função social, garantindo o provimento das crianças para que elas na idade adulta exerçam atividades produtivas para a própria sociedade. Cabe ressaltar que a família brasileira, mesmo com as evoluções das legislações que vieram para protegê-la na área da assistência social, ainda está em uma situação carente e fragilizada de proteção por parte do Estado. 4.1 A PNAS E SUA DIRETRIZ RELATIVA À FAMÍLIA A Política Nacional de Assistência Social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender à universalização dos direitos AN02FREV001/REV 4.0 72 sociais (PNAS, 2004, p. 31). Concebendo a assistência social como dever do Estado, fixa como diretrizes: I – Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as características socioterritoriais locais; II – Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III – Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de Assistência Social em cada esfera de governo; IV – Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos (PNAS, 2004, p. 31). A família é um principal agente de socialização para o desenvolvimento da cidadania, da proteção e do cuidado de seus membros e para assumir esse papel que lhe é socialmente atribuído faz-se necessário a primazia da atenção do Estado. A PNAS estabelece a centralidade da família e a convivência familiar, colocando como foco as necessidades e peculiaridades das famílias, entendendo-as como sujeito coletivo. Segundo Sposati (1997), a família vem enfrentando a questão social, nesse sentido a PNAS assegura o direito à convivência familiar e aos mínimos sociais que, constituem padrões básicos de inclusão e garantem: [...] sobrevivência biológica, isto é, o limite de subsistência no limiar da pobreza absoluta; condições de poder trabalhar, isto é algumas condições para poder ser empregado e poder manter-se; qualidade de vida, isto é, o conjunto de acesso a um padrão de vida por meio de serviços e garantias; desenvolvimento humano, isto é, a possibilidade de desenvolver as capacidades humanas, o que coloca em evidência o padrão educacional adotado em uma sociedade e a universalização do acesso a todos; [e] necessidades humanas, isto é, atender não só as necessidades gerais, mas incluir as necessidades especiais, garantindo tanto a igualdade como a equidade (SPOSATI, 1997, p. 15). Para assegurar os mínimos sociais da família, é importante compreendê-la como unidade relacional, cujos seus aspectos são resultantes da desigualdade social, de transformações ocorridas no mundo do trabalho e nas relações de gênero e do fortalecimento da lógica individualista. Podemos considerar que a família não é homogênea, ao contrário, é plural e contempla contradições advindas da singularidade de seus membros e de sua AN02FREV001/REV 4.0 73 relação com a sociedade e, por conseguinte, são heterogêneas, emergindo daí importantes desafios para a gestão e execução dos serviços e benefícios sociais. A família é pensada como núcleo de resistência e produto de uma realidade dura, expressa não só pelos crescimentos econômicos, políticos e sociais, mas pelos elementos subjetivosde sua forma de resistência a esses carecimentos. Desse modo, os processos de exclusão socioeconômicos que geram sobre as famílias, torna-se imprescindível ao assistente social aproximar-se do cotidiano delas para conhecer de perto e de dentro as implicações dos riscos sociais nesses sujeitos de direitos. Diante deste quadro, levanta-se a indagação se os profissionais do Serviço Social têm condições físicas, materiais e humanas de operacionalizar dignamente os serviços nos CRAS e CREAS, os eixos fundantes da PNAS, embora conheçam e reconheçam as diretrizes que a norteiam. Podemos ressaltar a importância da atuação do profissional de Serviço Social, no trabalho com as famílias, aproximando-se de sua realidade cotidiana e desvendando possibilidades e limites no embate com as expressões da questão social. No Serviço Social, o sujeito da intervenção profissional guarda unidade indissociável com o objeto de atuação da profissão, a questão social. Lidar com as expressões da questão social materializadas na vida dos sujeitos – no caso, as famílias –, que são os demandadores dos serviços sociais, exige proximidade com a dinâmica que envolve suas vivências, para melhor apreensão da realidade que a cerca e para a efetividade de uma prática pensada. Emerge daí a importância de o assistente social atuar com consciência e conhecimento, uma vez que tem sua prática balizada na “defesa intransigente dos direitos humanos e na recusa do arbítrio e do autoritarismo”, no “posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais [...]”, além do “empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”, entre outros princípios eticopolíticos que norteiam o fazer profissional (CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL, 1993, p. 1). AN02FREV001/REV 4.0 74 Enfim, reconhecer que as famílias são sujeitos de direitos, que merecem ter assegurada sua condição protetiva e ser respeitados em suas formas de composição e de organização. 4.2 DA CONCEITUAÇÃO AO CONHECIMENTO DA FAMÍLIA A família deve ser entendida a partir do seu contexto e de sua historicidade tendo sua inserção no meio social, pois em nosso cotidiano há um desafio de como desempenhar os papéis que lhe são atribuídos como: gênero, etnia e classe social, papéis esses que expressam a configuração e organização de uma família. Os profissionais dos serviços de proteção social identificam a família como agrupamento formado por um dos pais e seus filhos, e ainda aqueles constituídos por pais e mães em segunda união conjugal, cujos laços são afetivos e não consanguíneos, e que têm entre si uma história própria de laços culturais e proteção. Para Sarti (2005, p. 34), a família é um grupo social que concretiza vínculos de parentesco de consanguinidade entre irmãos, de descendência entre pai e filho e mãe e filho, e de afinidade, por meio do casamento. Podemos considerar que a família é uma unidade de convivência, formada a partir de vínculos de parentesco, afinidade, união por afeto e com objetivos de vida comuns, com trocas de cuidado mútuo, além da transmissão de tradições de um indivíduo para outro. Cabe ressaltar que o trabalho com famílias na proteção básica significa superar preconceitos, desmistificar a ideologia de família como núcleo natural e padronizado, é aprofundar o conhecimento de sua realidade social, adentrando em suas diversidades, configurações, vulnerabilidades e potencialidades. Este trabalho com famílias deve considerar novas referências para a compreensão dos diferentes arranjos familiares, superando o reconhecimento de um modelo único baseado na família nuclear (PNAS, 2004, p. 29). Segundo Carloto (2006), o SUAS reconhece que as: [...] novas feições da família estão intrínseca e dialeticamente condicionadas às transformações societárias contemporâneas, ou seja, às transformações AN02FREV001/REV 4.0 75 econômicas e sociais, de hábitos e costumes, e ao avanço da ciência e da tecnologia’ [...] e tem o mérito de superar a referência de tempo e lugar para a compreensão do conceito de família (CARLOTO, 2006, p. 152). Devemos considerar a família como sujeito de direito, devendo ter o foco na promoção da cidadania, protagonismo social, autonomia e equidade, transformando a cultura de caridade na concepção da assistência social como um direito. É necessário um olhar diferente no momento da formulação de políticas, projetos e programas sociais, para que não estejam voltados somente para o indivíduo, mas para os diversos arranjos familiares. Desse modo, disponibilizando meios para que consigam o bem-estar e o alcance da promoção social. É importante que a família seja estruturada, para que o relacionamento de seus integrantes seja pautado na harmonia, pois a família é a base e o início do processo de socialização dos indivíduos. Logo, ao pensar na família enquanto grupo não se trata aqui de fazer uma apologia ao modelo do passado ou ao do presente, mas de propor a reflexão quanto aos desdobramentos de suas transformações, uma vez que suas características refletem a sociedade de seu tempo, o que faz dela (da família) um fenômeno social. Por fim, é trabalhar pelos direitos das famílias na perspectiva de ampliação do universo informacional e encaminhá-los aos recursos em seu território, no âmbito de diversas políticas de forma a buscar a inserção das mesmas na rede de segurança social. AN02FREV001/REV 4.0 76 4.3 MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR: DA NOMEAÇÃO À OPERACIONALIDADE NA PRÁTICA PROFISSIONAL A partir da Constituição de 1988, o atendimento à família passa ater a centralidade na Política Nacional de Assistência Social, por meio do Princípio da Matricialidade Sociofamiliar: A Matricialidade Sociofamiliar se refere à centralidade da família como núcleo social fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços da política de assistência social. A família, segundo a PNAS, é o conjunto de pessoas unidas por laços consanguíneos, afetivos e ou de solidariedade, cuja sobrevivência e reprodução social pressupõem obrigações recíprocas e o compartilhamento de renda e ou dependência econômica (BRASIL, MDS, 2009, p. 12). A matricialidade sociofamiliar tem papel de destaque na Política Nacional de Assistência Social, pois o objetivo é a centralidade na família, garantindo sua sobrevivência, o acolhimento de suas necessidades e interesses no convívio familiar e comunitário, enfim, a proteção social. A partir da PNAS surgiram novos debates a fim de compreender a família, pois ela deixa de ser sujeito das ações assistencialistas e passa a ser o foco da política pública de assistência social. O trabalho matricial com as famílias vem exigindo cotidianamente uma nova estratégia de enfrentamento das expressões da questão social, de forma integrada aos serviços socioassistenciais, garantindo sujeitos de direitos, agentes sociais, bem como revendo as metodologias de modo a ultrapassar o forte caráter moralista e disciplinador que intervém nas formas de pensar a família. A não materialização, no cotidiano, do entendimento da questão social pode, por vezes, fomentar a tendência de impor que as demandas relativas à proteção social sejam assumidas somente na esfera privada, como se fossem uma responsabilidade individual, e não reflexos da força motriz do modo de produção capitalista. A partir da Constituição Federal de 1988, o Estado passoua ver a família como substitutivo privado do Estado no prover de bens e serviços básicos. Com AN02FREV001/REV 4.0 77 isso, o Estado passa a transferir a responsabilidade total dos problemas para a própria família, se excluindo de qualquer dever ou responsabilidade. Nesse sentido, é possível verificar que as famílias estão fragilizadas, assim comprometendo o desempenho das funções que lhe são atribuídas. Diante disso, é necessário que os representantes dos serviços públicos analisem a situação sem culpabilizar ou imputar deficiências às pessoas, mas, ao contrário, reconhecendo que elas assumem as contingências decorrentes do modo de produção capitalista que sobrecarregam a família em suas atribuições. Lembra Mioto (2008, p. 136) que: [...] nos Estados de Bem-Estar de caráter familista existe uma explícita parceria entre Estado e família, e o quantum de proteção assumido pelo Estado e pela família é que caracteriza maior ou menor grau de familismo. Enquadrados nesse modelo estão países da Europa do Sul que configuram um modelo próprio de bem-estar, denominado “modelo mediterrâneo” ou “modelo católico”, à medida que a ênfase institucional na regulação e na organização da proteção social recai muito mais na família que no mercado ou no Estado. Assim, ela se constitui em fonte principal de provisão das necessidades sociais. Nesse modelo, a ação pública tende a ocorrer mediante a falência na provisão de bem-estar e na sua impossibilidade de compra de bens e serviços, no mercado (Ibid., p. 136). Cabe ressaltar que a economia distancia essas famílias da inserção no mercado formal de trabalho, pois as mesmas não têm condições de fazer frente às vulnerabilidades sociais. A situação econômica atual forja uma família que, do ponto de vista socioeconômico, é frágil, o que torna difícil cumprir o papel protetor que lhe é imposto. Contudo, é necessário um olhar para a família como sujeito de direitos, devendo os profissionais das políticas públicas assumirem um planejamento de estratégias ao enfrentamento das expressões da questão social a partir de suas realidades, com ênfase no reconhecimento de suas possibilidades e fragilidades e na contextualização socioeconômica e cultural dos conflitos que cercam o mundo familiar, uma vez que para a família proteger e cuidar, ela deve ser amparada, pois não podemos exigir algo de quem não tem condições objetivas para tanto. Contudo, pode-se dizer que, os profissionais que operacionalizam a política pública de assistência social colocam que a família está sobrecarregada frente às questões sociais e, portanto, tem dificuldade de cumprir as funções a ela socialmente definidas. AN02FREV001/REV 4.0 78 4.4 SUAS: DESAFIO DA REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL COM AS FAMÍLIAS O Brasil nos últimos 20 anos tem experimentado mudanças de paradigmas na assistência social. A Constituição Federal de 1988 inaugura um novo conceito de família, fundamentado no afeto, na solidariedade entre os seus membros e no compartilhamento de projetos de vida (Artigo 229, p. 131): “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, na carência ou enfermidade”. A Constituição Federal endossa o Artigo 16 da Declaração dos Direitos Humanos que define a família como núcleo natural e fundamental da sociedade e do Estado (CF 1988 Art. 226, p. 130): “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. Esse reconhecimento reafirma-se, ainda, nas legislações específicas da assistência social: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Estatuto do Idoso e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). A LOAS apresentou em 1993 um novo modelo de assistência social como uma Política de Proteção Social que, em 2005, se materializou em todo o País por meio do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Esse novo modelo de gestão da política de assistência social supõe um pacto federativo, com definição de competências entre as três esferas de poder, sendo construído por meio de uma nova lógica de organização das ações, em que os programas, projetos e benefícios são estruturados e hierarquizados por níveis de complexidade, considerando o tipo de proteção social, sendo: proteção social básica e proteção social especial de média e alta complexidade para as situações de vulnerabilidade e risco social, respeitando o porte dos municípios. A proteção social de Assistência Social consiste no conjunto de ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios ofertados pelo SUAS para redução e prevenção do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo de vida, à dignidade humana e à família como núcleo básico de sustentação afetiva, biológica e relacional (BRASIL/PNAS, 2005, p. 90) Conforme a PNAS, a proteção social básica é destinada à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, busca prevenir AN02FREV001/REV 4.0 79 situações de riscos por meio do desenvolvimento de potencialidades do indivíduo e da família, bem como fortalecer os vínculos familiares e comunitários. Prevê a oferta de serviços, programas e projetos de acolhimento, convivência e socialização de famílias e seus membros em seu contexto comunitário. Fazem parte da proteção social básica: Programa de Atenção Integral às Famílias (PAIF); Programa de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza; Centros de convivência para idosos; Serviços para crianças de 0 a 6 anos, que visem o fortalecimento dos vínculos familiares; Serviços socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa etária de 6 a 24 anos, visando sua proteção, socialização e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; Programas de incentivo ao protagonismo juvenil, e de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; Centros de informação e de educação para o trabalho voltado para jovens e adultos. Quanto à proteção social especial, esta é dividida em: proteção social especial de média complexidade e proteção social especial de alta complexidade. Segundo a PNAS, proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus-tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras (BRASIL, PNAS, 2005). Conforme a PNAS, na proteção social especial de média complexidade são realizados atendimentos às famílias com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiares e comunitários ainda não foram rompidos, em que requer atenção especializada e mais individualizada, tais como: abordagem de rua; cuidado no domicílio; plantão social; serviço de orientação e apoio sociofamiliar; serviço de habilitação e reabilitação na comunidade das pessoas com deficiência; medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestação de Serviços à Comunidade - PSC e Liberdade Assistida-LA). Estes atendimentos envolvem o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Na proteção social especial de alta complexidade atendem-se os casos em que os direitos da família ou do indivíduo já foram violados e rompidos, o que garante proteção integral, tais como: casa-lar; atendimento integral institucional; AN02FREV001/REV 4.0 80 família substituta; casa de passagem; albergues, etc. Na proposta da NOB/SUAS, os serviços que integram a proteção social especial serão ofertados por municípios de maior porte ou por consórcios intermunicipaisde assistência social. Os dois tipos de proteção social são efetivados por meio de serviços e ações socioassistenciais, operadas em rede, que devem atender idosos, jovens, adultos, crianças e adolescentes, resgatando a capacidade de convívio, construindo autonomia. Desse modo, a assistência social legitima as demandas de seus usuários e configura-se como espaço de ampliação de protagonismo. Nessa perspectiva, os serviços de proteção social básica e especial devem ser organizados de forma que garantam aos seus usuários o pleno acesso ao conhecimento dos direitos socioassistenciais e da sua defesa. O desafio histórico de superar “a perversa tradição de estigmatizar os pobres e de excluir qualquer possibilidade de implantação de uma política assistencial voltada à família, seja nuclear ou monoparental”, exige que o SUAS, de maneira imediata, efetive a Rede de Proteção Social que atenda os três princípios fundamentais: 1. O princípio da MATRICIALIDADE FAMILIAR que resgata a família como núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social. Supera o conceito de família como unidade econômica, mera referência de cálculo de rendimento per capita, e a entende como núcleo afetivo, vinculada por laços consanguíneos, de aliança ou afinidade, onde os vínculos circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e ter acesso a condições para responder ao seu papel de sustento, na guarda e na educação de suas crianças e adolescentes, bem como na proteção de seus idosos e portadores de deficiência. 2. O princípio da TERRITORIALIZAÇÃO, que reconhece a presença de múltiplos fatores sociais e econômicos que levam a uma situação de vulnerabilidade, risco pessoal e social, exigindo um novo modelo de gestão social que se fundamente na descentralização e intersetorialidade. AN02FREV001/REV 4.0 81 3. O princípio da HIERARQUIZAÇÃO dos serviços por grau de complexidade: 3.1 Proteção Social Básica 3.2 Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade QUADRO 1 - VISUALIZADOR DA REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL – SUAS PROTEÇÃO SOCIAL – BÁSICA O contexto familiar Prevenção Ações • Cumpre as funções parentais e cuidados; • Grupo de referência afetiva/moral; • Vínculos preservados; • Vulnerabilidade social (ausência de renda mínima e precariedade de acesso aos serviços públicos). Primária Promocional Programa: Programa de Atenção Integral às Famílias: ações socioeducativas com crianças, adolescentes, adultos e idosos; ações socioassistenciais; inclusão produtiva; e programas de transferência de renda. Quem: CRAS e a Rede Socioassistencial PROTEÇÃO SOCIAL – MÉDIA COMPLEXIDADE O contexto familiar Prevenção Ações • Ameaça/violação dos direitos (Artigo 98 do ECA); • Dificuldades em cumprir as funções parentais de proteção e cuidados; • Grupo de referência afetiva/moral; • Fragilidade dos vínculos; • Vulnerabilidade social (ausência de renda mínima e precariedade de acesso aos serviços públicos) Secundária Restaurativa • Programa: Orientação e Apoio Sociofamiliar (Artigo 90, I ECA): estudo diagnóstico; atendimento psicossocial individual e grupal inclusive com orientação sociojurídica; atendimento psicossocial domiciliar. Quem: CREAS, CRAS, Rede Socioassistencial e serviços especializados. AN02FREV001/REV 4.0 82 PROTEÇÃO SOCIAL – ALTA COMPLEXIDADE O contexto familiar Prevenção Ações Violação dos direitos (Artigo 98 do ECA) com riscos de: sérios danos físicos, emocionais, cognitivos ou de morte de criança/adolescente; • Não é grupo de referência afetivo/moral; • Ruptura dos vínculos; • Não cumpre as funções parentais de proteção e cuidados; • Vulnerabilidade social (ausência de renda mínima e precariedade de acesso aos serviços públicos). Terciária Reparadora: evitar que os danos sejam irreparáveis ou de difícil reparação • Programa: Programa de Orientação e Apoio Sociofamiliar. (Ver Média Complexidade) Quem: CREAS, Rede Socioassistencial, CRAS, Serviços Especializados e Serviços de Acolhimento No Brasil, foi necessário um longo processo de construção social para que a criança e o adolescente passassem a ser considerados sujeitos de direitos conforme estabelece a Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar, além de colocá- los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, p. 130). Este dispositivo está regulamentado pela Lei Federal 8.069 de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) que consolidou, na ordem jurídica interna, os princípios da Doutrina da Proteção Integral preconizada pela ONU. É uma nova concepção da criança e do adolescente: concepção universal e integral. Não há “menor”, como categoria para se referir à criança e ao adolescente pobre, mas sim criança e adolescente, “como pessoas em desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social”, que gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à dignidade humana. AN02FREV001/REV 4.0 83 O ECA reconhece a família como espaço natural e imprescindível na vida da criança e do adolescente, considerando o processo de proteção integral. A ordem de apresentação das medidas estabelecidas nos artigos 101 e 129 do ECA aponta para uma precedência na aplicação das medidas de proteção: primeiro, aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares por meio de programas de auxílio e proteção das famílias. Tais programas podem lograr a superação de crise familiar e restauração dos direitos violados ou ameaçados, sem necessidade de aplicação da medida prevista no Inciso VII, do Artigo 101, do ECA – abrigo de crianças e adolescentes em entidades (Acolhimento Institucional). Os programas de auxílio e proteção à família previstos no Inciso IV, do Artigo 101 e no Inciso I, do Artigo 129 do ECA são o Programa de Atenção Integral à Família e o Programa de Orientação e Apoio Sociofamiliar. Ambos devem ser considerados “âncoras” da Rede de Proteção Social: o primeiro da Proteção Social Básica e o segundo da Proteção Social Especial. Daí, os dois programas são prioritários na implementação da Rede de Proteção Social. Por outro lado, é preciso considerar as diferenças que há entre ambos: O Programa de Atenção Integral à Família tem por objetivo o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, desenvolve ações socioassistenciais e socioeducativas e atua numa perspectiva de abrangência territorial e de amplitude de cobertura de “famílias referenciadas”. O Programa de Orientação e Apoio Sociofamiliar, por sua vez, visa às famílias e aos indivíduos que requerem uma atenção especializada e mais individualizada por meio de uma intervenção psicossocial. No caso de crianças e adolescentes cujos direitos estão ameaçados ou violados, a intervenção psicossocial pretende restaurar as funções parentais de proteção a cuidados, bem como a modificar padrões comportamentais que criaram a situação de direitos ameaçados ou violados. FIM DO MÓDULO IV
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