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Trabalho Social com as Famílias_04

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AN02FREV001/REV 4.0 
 68 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
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CURSO DE 
TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO IV 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MÓDULO IV 
 
 
4 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A FAMÍLIA 
 
 
A Política Nacional de Assistência Social é uma política que considera as 
desigualdades socioterritoriais, focando seu enfrentamento na garantia dos mínimos 
sociais, e a universalização dos direitos sociais à sociedade. O seu público é 
composto por cidadãos que se encontram em situação de risco, ou aqueles que dela 
necessitam, sem contribuição prévia. 
A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), nos dias de hoje tem um 
caráter inovador, pois avança no sentido de se consumar como política pública, 
porém já esteve ancorada em práticas clientelistas, e a partir da Constituição 
Federal de 1988, essa política passou a ser um modelo protetivo que elege a família 
para a centralidade das suas ações, objetivando a sustentabilidade dos direitos dos 
seus membros. 
Uma das funções da PNAS é a vigilância social que consiste em um sistema 
de informações sobre a realidade dos usuários de um determinado território, 
devendo ser organizado em âmbito municipal, estadual e federal, sendo de grande 
importância para a elaboração de diagnósticos e avaliações. 
A PNAS coloca a necessidade de garantir a família condições de 
sustentabilidade, a fim de prevenir situações de risco. A sua proposta está em 
assegurar a assistência social como uma política pública, tendo como forma de 
proteção e objetivo principal a proteção social básica e especial a indivíduos e 
famílias. 
Podemos considerar a família como provedora de cuidados, apoio e 
proteção aos seus membros, porém a mesma precisa ser cuidada e protegida. 
A PNAS (2004, p. 29), ressalta que: 
 
 
 
 
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[...] são funções básicas da família: prover a proteção e a socialização de 
seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e 
sociais; de identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus 
membros com outras instituições sociais e com o Estado. 
 
Quando esta família encontra dificuldade de cumprir com sua função social, 
surgem as demandas para os assistentes sociais. Essas demandas surgem das 
famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade, risco social, famílias que 
vitimizam por meio de maus-tratos ou outros tipos de violência suas crianças e 
adolescentes, famílias com dificuldades de aceitação dos membros portadores de 
necessidades especiais, violência intrafamiliar contra a mulher, famílias com jovens 
em conflito com a lei, essas e muitas outras demandas aparecem para o assistente 
social e exigem uma intervenção. 
O Assistente Social deve ser transformador, buscando sempre a 
emancipação e o autodesenvolvimento da família. As demandas institucionais que 
são demandas objetivas, imediatas, devem ser respondidas com o desenvolvimento 
e a utilização de instrumentos (meios) para atingir seus objetivos, estes instrumentos 
podem ser: os bens, serviços, benefícios, programas e projetos. O Assistente Social 
deve ter o papel articulador, com o objetivo de criar meios para que a família crie 
condições para cumprir a sua função social, garantindo o provimento das crianças 
para que elas na idade adulta exerçam atividades produtivas para a própria 
sociedade. 
Cabe ressaltar que a família brasileira, mesmo com as evoluções das 
legislações que vieram para protegê-la na área da assistência social, ainda está em 
uma situação carente e fragilizada de proteção por parte do Estado. 
 
 
4.1 A PNAS E SUA DIRETRIZ RELATIVA À FAMÍLIA 
 
 
A Política Nacional de Assistência Social realiza-se de forma integrada às 
políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos 
sociais, ao provimento de condições para atender à universalização dos direitos 
 
 
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sociais (PNAS, 2004, p. 31). Concebendo a assistência social como dever do 
Estado, fixa como diretrizes: 
 
I – Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as 
normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos 
programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades 
beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações 
em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as 
características socioterritoriais locais; 
II – Participação da população, por meio de organizações representativas, 
na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; 
III – Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de 
Assistência Social em cada esfera de governo; 
IV – Centralidade na família para concepção e implementação dos 
benefícios, serviços, programas e projetos (PNAS, 2004, p. 31). 
 
A família é um principal agente de socialização para o desenvolvimento da 
cidadania, da proteção e do cuidado de seus membros e para assumir esse papel 
que lhe é socialmente atribuído faz-se necessário a primazia da atenção do Estado. 
A PNAS estabelece a centralidade da família e a convivência familiar, 
colocando como foco as necessidades e peculiaridades das famílias, entendendo-as 
como sujeito coletivo. 
Segundo Sposati (1997), a família vem enfrentando a questão social, nesse 
sentido a PNAS assegura o direito à convivência familiar e aos mínimos sociais que, 
constituem padrões básicos de inclusão e garantem: 
 
[...] sobrevivência biológica, isto é, o limite de subsistência no limiar da 
pobreza absoluta; condições de poder trabalhar, isto é algumas condições 
para poder ser empregado e poder manter-se; qualidade de vida, isto é, o 
conjunto de acesso a um padrão de vida por meio de serviços e garantias; 
desenvolvimento humano, isto é, a possibilidade de desenvolver as 
capacidades humanas, o que coloca em evidência o padrão educacional 
adotado em uma sociedade e a universalização do acesso a todos; [e] 
necessidades humanas, isto é, atender não só as necessidades gerais, 
mas incluir as necessidades especiais, garantindo tanto a igualdade como 
a equidade (SPOSATI, 1997, p. 15). 
 
Para assegurar os mínimos sociais da família, é importante compreendê-la 
como unidade relacional, cujos seus aspectos são resultantes da desigualdade 
social, de transformações ocorridas no mundo do trabalho e nas relações de gênero 
e do fortalecimento da lógica individualista. 
Podemos considerar que a família não é homogênea, ao contrário, é plural e 
contempla contradições advindas da singularidade de seus membros e de sua 
 
 
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relação com a sociedade e, por conseguinte, são heterogêneas, emergindo daí 
importantes desafios para a gestão e execução dos serviços e benefícios sociais. 
A família é pensada como núcleo de resistência e produto de uma realidade 
dura, expressa não só pelos crescimentos econômicos, políticos e sociais, mas 
pelos elementos subjetivosde sua forma de resistência a esses carecimentos. 
Desse modo, os processos de exclusão socioeconômicos que geram sobre 
as famílias, torna-se imprescindível ao assistente social aproximar-se do cotidiano 
delas para conhecer de perto e de dentro as implicações dos riscos sociais nesses 
sujeitos de direitos. 
Diante deste quadro, levanta-se a indagação se os profissionais do Serviço 
Social têm condições físicas, materiais e humanas de operacionalizar dignamente os 
serviços nos CRAS e CREAS, os eixos fundantes da PNAS, embora conheçam e 
reconheçam as diretrizes que a norteiam. 
Podemos ressaltar a importância da atuação do profissional de Serviço 
Social, no trabalho com as famílias, aproximando-se de sua realidade cotidiana e 
desvendando possibilidades e limites no embate com as expressões da questão 
social. 
No Serviço Social, o sujeito da intervenção profissional guarda unidade 
indissociável com o objeto de atuação da profissão, a questão social. Lidar com as 
expressões da questão social materializadas na vida dos sujeitos – no caso, as 
famílias –, que são os demandadores dos serviços sociais, exige proximidade com a 
dinâmica que envolve suas vivências, para melhor apreensão da realidade que a 
cerca e para a efetividade de uma prática pensada. 
Emerge daí a importância de o assistente social atuar com consciência e 
conhecimento, uma vez que tem sua prática balizada na “defesa intransigente dos 
direitos humanos e na recusa do arbítrio e do autoritarismo”, no “posicionamento em 
favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens 
e serviços relativos aos programas e políticas sociais [...]”, além do “empenho na 
eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, 
à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”, 
entre outros princípios eticopolíticos que norteiam o fazer profissional (CÓDIGO DE 
ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL, 1993, p. 1). 
 
 
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Enfim, reconhecer que as famílias são sujeitos de direitos, que merecem ter 
assegurada sua condição protetiva e ser respeitados em suas formas de 
composição e de organização. 
 
 
4.2 DA CONCEITUAÇÃO AO CONHECIMENTO DA FAMÍLIA 
 
 
A família deve ser entendida a partir do seu contexto e de sua historicidade 
tendo sua inserção no meio social, pois em nosso cotidiano há um desafio de como 
desempenhar os papéis que lhe são atribuídos como: gênero, etnia e classe social, 
papéis esses que expressam a configuração e organização de uma família. 
Os profissionais dos serviços de proteção social identificam a família como 
agrupamento formado por um dos pais e seus filhos, e ainda aqueles constituídos 
por pais e mães em segunda união conjugal, cujos laços são afetivos e não 
consanguíneos, e que têm entre si uma história própria de laços culturais e proteção. 
Para Sarti (2005, p. 34), a família é um grupo social que concretiza vínculos 
de parentesco de consanguinidade entre irmãos, de descendência entre pai e filho e 
mãe e filho, e de afinidade, por meio do casamento. 
Podemos considerar que a família é uma unidade de convivência, formada a 
partir de vínculos de parentesco, afinidade, união por afeto e com objetivos de vida 
comuns, com trocas de cuidado mútuo, além da transmissão de tradições de um 
indivíduo para outro. 
Cabe ressaltar que o trabalho com famílias na proteção básica significa 
superar preconceitos, desmistificar a ideologia de família como núcleo natural e 
padronizado, é aprofundar o conhecimento de sua realidade social, adentrando em 
suas diversidades, configurações, vulnerabilidades e potencialidades. Este trabalho 
com famílias deve considerar novas referências para a compreensão dos diferentes 
arranjos familiares, superando o reconhecimento de um modelo único baseado na 
família nuclear (PNAS, 2004, p. 29). 
Segundo Carloto (2006), o SUAS reconhece que as: 
 
[...] novas feições da família estão intrínseca e dialeticamente condicionadas 
às transformações societárias contemporâneas, ou seja, às transformações 
 
 
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econômicas e sociais, de hábitos e costumes, e ao avanço da ciência e da 
tecnologia’ [...] e tem o mérito de superar a referência de tempo e lugar para 
a compreensão do conceito de família (CARLOTO, 2006, p. 152). 
 
Devemos considerar a família como sujeito de direito, devendo ter o foco na 
promoção da cidadania, protagonismo social, autonomia e equidade, transformando 
a cultura de caridade na concepção da assistência social como um direito. 
É necessário um olhar diferente no momento da formulação de políticas, 
projetos e programas sociais, para que não estejam voltados somente para o 
indivíduo, mas para os diversos arranjos familiares. Desse modo, disponibilizando 
meios para que consigam o bem-estar e o alcance da promoção social. 
É importante que a família seja estruturada, para que o relacionamento de 
seus integrantes seja pautado na harmonia, pois a família é a base e o início do 
processo de socialização dos indivíduos. Logo, ao pensar na família enquanto grupo 
não se trata aqui de fazer uma apologia ao modelo do passado ou ao do presente, 
mas de propor a reflexão quanto aos desdobramentos de suas transformações, uma 
vez que suas características refletem a sociedade de seu tempo, o que faz dela (da 
família) um fenômeno social. 
Por fim, é trabalhar pelos direitos das famílias na perspectiva de ampliação 
do universo informacional e encaminhá-los aos recursos em seu território, no âmbito 
de diversas políticas de forma a buscar a inserção das mesmas na rede de 
segurança social. 
 
 
 
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4.3 MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR: DA NOMEAÇÃO À OPERACIONALIDADE 
NA PRÁTICA PROFISSIONAL 
 
 
A partir da Constituição de 1988, o atendimento à família passa ater a 
centralidade na Política Nacional de Assistência Social, por meio do Princípio da 
Matricialidade Sociofamiliar: 
 
A Matricialidade Sociofamiliar se refere à centralidade da família como 
núcleo social fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços 
da política de assistência social. A família, segundo a PNAS, é o conjunto 
de pessoas unidas por laços consanguíneos, afetivos e ou de solidariedade, 
cuja sobrevivência e reprodução social pressupõem obrigações recíprocas e 
o compartilhamento de renda e ou dependência econômica (BRASIL, MDS, 
2009, p. 12). 
 
A matricialidade sociofamiliar tem papel de destaque na Política Nacional de 
Assistência Social, pois o objetivo é a centralidade na família, garantindo sua 
sobrevivência, o acolhimento de suas necessidades e interesses no convívio familiar 
e comunitário, enfim, a proteção social. 
A partir da PNAS surgiram novos debates a fim de compreender a família, 
pois ela deixa de ser sujeito das ações assistencialistas e passa a ser o foco da 
política pública de assistência social. 
O trabalho matricial com as famílias vem exigindo cotidianamente uma nova 
estratégia de enfrentamento das expressões da questão social, de forma integrada 
aos serviços socioassistenciais, garantindo sujeitos de direitos, agentes sociais, bem 
como revendo as metodologias de modo a ultrapassar o forte caráter moralista e 
disciplinador que intervém nas formas de pensar a família. 
A não materialização, no cotidiano, do entendimento da questão social pode, 
por vezes, fomentar a tendência de impor que as demandas relativas à proteção 
social sejam assumidas somente na esfera privada, como se fossem uma 
responsabilidade individual, e não reflexos da força motriz do modo de produção 
capitalista. 
A partir da Constituição Federal de 1988, o Estado passoua ver a família 
como substitutivo privado do Estado no prover de bens e serviços básicos. Com 
 
 
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isso, o Estado passa a transferir a responsabilidade total dos problemas para a 
própria família, se excluindo de qualquer dever ou responsabilidade. 
Nesse sentido, é possível verificar que as famílias estão fragilizadas, assim 
comprometendo o desempenho das funções que lhe são atribuídas. Diante disso, é 
necessário que os representantes dos serviços públicos analisem a situação sem 
culpabilizar ou imputar deficiências às pessoas, mas, ao contrário, reconhecendo 
que elas assumem as contingências decorrentes do modo de produção capitalista 
que sobrecarregam a família em suas atribuições. 
Lembra Mioto (2008, p. 136) que: 
 
[...] nos Estados de Bem-Estar de caráter familista existe uma explícita 
parceria entre Estado e família, e o quantum de proteção assumido pelo 
Estado e pela família é que caracteriza maior ou menor grau de familismo. 
Enquadrados nesse modelo estão países da Europa do Sul que configuram 
um modelo próprio de bem-estar, denominado “modelo mediterrâneo” ou 
“modelo católico”, à medida que a ênfase institucional na regulação e na 
organização da proteção social recai muito mais na família que no mercado 
ou no Estado. Assim, ela se constitui em fonte principal de provisão das 
necessidades sociais. Nesse modelo, a ação pública tende a ocorrer 
mediante a falência na provisão de bem-estar e na sua impossibilidade de 
compra de bens e serviços, no mercado (Ibid., p. 136). 
 
Cabe ressaltar que a economia distancia essas famílias da inserção no 
mercado formal de trabalho, pois as mesmas não têm condições de fazer frente às 
vulnerabilidades sociais. A situação econômica atual forja uma família que, do ponto 
de vista socioeconômico, é frágil, o que torna difícil cumprir o papel protetor que lhe 
é imposto. 
Contudo, é necessário um olhar para a família como sujeito de direitos, 
devendo os profissionais das políticas públicas assumirem um planejamento de 
estratégias ao enfrentamento das expressões da questão social a partir de suas 
realidades, com ênfase no reconhecimento de suas possibilidades e fragilidades e 
na contextualização socioeconômica e cultural dos conflitos que cercam o mundo 
familiar, uma vez que para a família proteger e cuidar, ela deve ser amparada, pois 
não podemos exigir algo de quem não tem condições objetivas para tanto. 
Contudo, pode-se dizer que, os profissionais que operacionalizam a política 
pública de assistência social colocam que a família está sobrecarregada frente às 
questões sociais e, portanto, tem dificuldade de cumprir as funções a ela 
socialmente definidas. 
 
 
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4.4 SUAS: DESAFIO DA REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL COM AS FAMÍLIAS 
 
 
O Brasil nos últimos 20 anos tem experimentado mudanças de paradigmas 
na assistência social. A Constituição Federal de 1988 inaugura um novo conceito de 
família, fundamentado no afeto, na solidariedade entre os seus membros e no 
compartilhamento de projetos de vida (Artigo 229, p. 131): “Os pais têm o dever de 
assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e 
amparar os pais na velhice, na carência ou enfermidade”. 
A Constituição Federal endossa o Artigo 16 da Declaração dos Direitos 
Humanos que define a família como núcleo natural e fundamental da sociedade e do 
Estado (CF 1988 Art. 226, p. 130): “A família, base da sociedade, tem especial 
proteção do Estado”. Esse reconhecimento reafirma-se, ainda, nas legislações 
específicas da assistência social: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o 
Estatuto do Idoso e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). 
A LOAS apresentou em 1993 um novo modelo de assistência social como 
uma Política de Proteção Social que, em 2005, se materializou em todo o País por 
meio do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Esse novo modelo de gestão 
da política de assistência social supõe um pacto federativo, com definição de 
competências entre as três esferas de poder, sendo construído por meio de uma 
nova lógica de organização das ações, em que os programas, projetos e benefícios 
são estruturados e hierarquizados por níveis de complexidade, considerando o tipo 
de proteção social, sendo: proteção social básica e proteção social especial de 
média e alta complexidade para as situações de vulnerabilidade e risco social, 
respeitando o porte dos municípios. 
 
A proteção social de Assistência Social consiste no conjunto de ações, 
cuidados, atenções, benefícios e auxílios ofertados pelo SUAS para 
redução e prevenção do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo 
de vida, à dignidade humana e à família como núcleo básico de sustentação 
afetiva, biológica e relacional (BRASIL/PNAS, 2005, p. 90) 
 
Conforme a PNAS, a proteção social básica é destinada à população que 
vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, busca prevenir 
 
 
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situações de riscos por meio do desenvolvimento de potencialidades do indivíduo e 
da família, bem como fortalecer os vínculos familiares e comunitários. Prevê a oferta 
de serviços, programas e projetos de acolhimento, convivência e socialização de 
famílias e seus membros em seu contexto comunitário. 
Fazem parte da proteção social básica: Programa de Atenção Integral às 
Famílias (PAIF); Programa de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da 
pobreza; Centros de convivência para idosos; Serviços para crianças de 0 a 6 anos, 
que visem o fortalecimento dos vínculos familiares; Serviços socioeducativos para 
crianças, adolescentes e jovens na faixa etária de 6 a 24 anos, visando sua 
proteção, socialização e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; 
Programas de incentivo ao protagonismo juvenil, e de fortalecimento dos vínculos 
familiares e comunitários; Centros de informação e de educação para o trabalho 
voltado para jovens e adultos. 
Quanto à proteção social especial, esta é dividida em: proteção social 
especial de média complexidade e proteção social especial de alta complexidade. 
Segundo a PNAS, proteção social especial é a modalidade de atendimento 
assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco 
pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus-tratos físicos e, ou, psíquicos, 
abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento medidas 
socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras (BRASIL, 
PNAS, 2005). 
Conforme a PNAS, na proteção social especial de média complexidade são 
realizados atendimentos às famílias com seus direitos violados, mas cujos vínculos 
familiares e comunitários ainda não foram rompidos, em que requer atenção 
especializada e mais individualizada, tais como: abordagem de rua; cuidado no 
domicílio; plantão social; serviço de orientação e apoio sociofamiliar; serviço de 
habilitação e reabilitação na comunidade das pessoas com deficiência; medidas 
socioeducativas em meio-aberto (Prestação de Serviços à Comunidade - PSC e 
Liberdade Assistida-LA). Estes atendimentos envolvem o Centro de Referência 
Especializado de Assistência Social (CREAS). 
Na proteção social especial de alta complexidade atendem-se os casos em 
que os direitos da família ou do indivíduo já foram violados e rompidos, o que 
garante proteção integral, tais como: casa-lar; atendimento integral institucional; 
 
 
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família substituta; casa de passagem; albergues, etc. Na proposta da NOB/SUAS, os 
serviços que integram a proteção social especial serão ofertados por municípios de 
maior porte ou por consórcios intermunicipaisde assistência social. 
Os dois tipos de proteção social são efetivados por meio de serviços e ações 
socioassistenciais, operadas em rede, que devem atender idosos, jovens, adultos, 
crianças e adolescentes, resgatando a capacidade de convívio, construindo 
autonomia. Desse modo, a assistência social legitima as demandas de seus 
usuários e configura-se como espaço de ampliação de protagonismo. 
Nessa perspectiva, os serviços de proteção social básica e especial devem 
ser organizados de forma que garantam aos seus usuários o pleno acesso ao 
conhecimento dos direitos socioassistenciais e da sua defesa. 
O desafio histórico de superar “a perversa tradição de estigmatizar os pobres 
e de excluir qualquer possibilidade de implantação de uma política assistencial 
voltada à família, seja nuclear ou monoparental”, exige que o SUAS, de maneira 
imediata, efetive a Rede de Proteção Social que atenda os três princípios 
fundamentais: 
 
1. O princípio da MATRICIALIDADE FAMILIAR que resgata a família como núcleo 
social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo 
social. Supera o conceito de família como unidade econômica, mera referência de 
cálculo de rendimento per capita, e a entende como núcleo afetivo, vinculada por 
laços consanguíneos, de aliança ou afinidade, onde os vínculos circunscrevem 
obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e ter 
acesso a condições para responder ao seu papel de sustento, na guarda e na 
educação de suas crianças e adolescentes, bem como na proteção de seus idosos e 
portadores de deficiência. 
 
2. O princípio da TERRITORIALIZAÇÃO, que reconhece a presença de múltiplos 
fatores sociais e econômicos que levam a uma situação de vulnerabilidade, risco 
pessoal e social, exigindo um novo modelo de gestão social que se fundamente na 
descentralização e intersetorialidade. 
 
 
 
 
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3. O princípio da HIERARQUIZAÇÃO dos serviços por grau de complexidade: 
3.1 Proteção Social Básica 
3.2 Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade 
 
QUADRO 1 - VISUALIZADOR DA REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL – SUAS 
 
PROTEÇÃO SOCIAL – BÁSICA 
 O contexto familiar Prevenção Ações 
 
• Cumpre as funções 
parentais e cuidados; 
• Grupo de referência 
afetiva/moral; 
• Vínculos preservados; 
• Vulnerabilidade social 
(ausência de renda mínima e 
precariedade de acesso aos 
serviços públicos). 
 
 
Primária 
 
Promocional 
 
Programa: Programa de 
Atenção Integral às 
Famílias: ações 
socioeducativas com 
crianças, adolescentes, 
adultos e idosos; ações 
socioassistenciais; inclusão 
produtiva; e programas de 
transferência de renda. 
Quem: CRAS e a Rede 
Socioassistencial 
 
 
 
PROTEÇÃO SOCIAL – MÉDIA COMPLEXIDADE 
 O contexto familiar Prevenção Ações 
• Ameaça/violação dos 
direitos (Artigo 98 do ECA); 
• Dificuldades em cumprir as 
funções parentais de 
proteção e cuidados; 
• Grupo de referência 
afetiva/moral; 
• Fragilidade dos vínculos; 
• Vulnerabilidade social 
(ausência de renda mínima e 
precariedade de acesso aos 
serviços públicos) 
Secundária 
 
 
Restaurativa 
• Programa: Orientação e 
Apoio Sociofamiliar (Artigo 
90, I ECA): estudo 
diagnóstico; atendimento 
psicossocial individual e 
grupal inclusive com 
orientação sociojurídica; 
atendimento psicossocial 
domiciliar. 
Quem: CREAS, CRAS, 
Rede Socioassistencial e 
serviços especializados. 
 
 
 
 
 
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PROTEÇÃO SOCIAL – ALTA COMPLEXIDADE 
 O contexto familiar Prevenção Ações 
Violação dos direitos (Artigo 
98 do ECA) com riscos de: 
sérios danos físicos, 
emocionais, cognitivos ou 
de morte de 
criança/adolescente; 
• Não é grupo de referência 
afetivo/moral; 
• Ruptura dos vínculos; 
• Não cumpre as funções 
parentais de proteção e 
cuidados; 
• Vulnerabilidade social 
(ausência de renda mínima 
e precariedade de acesso 
aos serviços públicos). 
Terciária 
Reparadora: 
evitar que os 
danos sejam 
irreparáveis ou 
de difícil 
reparação 
• Programa: Programa de 
Orientação e Apoio 
Sociofamiliar. 
(Ver Média Complexidade) 
 
Quem: CREAS, 
Rede Socioassistencial, 
CRAS, 
Serviços Especializados e 
Serviços de Acolhimento 
 
 
No Brasil, foi necessário um longo processo de construção social para que a 
criança e o adolescente passassem a ser considerados sujeitos de direitos conforme 
estabelece a Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 227: 
 
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao 
adolescente com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar, além de colocá-
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, p. 130). 
 
Este dispositivo está regulamentado pela Lei Federal 8.069 de 13 de julho de 
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) que consolidou, na ordem 
jurídica interna, os princípios da Doutrina da Proteção Integral preconizada pela 
ONU. 
É uma nova concepção da criança e do adolescente: concepção universal e 
integral. Não há “menor”, como categoria para se referir à criança e ao adolescente 
pobre, mas sim criança e adolescente, “como pessoas em desenvolvimento físico, 
mental, moral, espiritual e social”, que gozam de todos os direitos fundamentais 
inerentes à dignidade humana. 
 
 
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O ECA reconhece a família como espaço natural e imprescindível na vida da 
criança e do adolescente, considerando o processo de proteção integral. A ordem de 
apresentação das medidas estabelecidas nos artigos 101 e 129 do ECA aponta para 
uma precedência na aplicação das medidas de proteção: primeiro, aquelas que 
visem ao fortalecimento dos vínculos familiares por meio de programas de auxílio e 
proteção das famílias. 
Tais programas podem lograr a superação de crise familiar e restauração 
dos direitos violados ou ameaçados, sem necessidade de aplicação da medida 
prevista no Inciso VII, do Artigo 101, do ECA – abrigo de crianças e adolescentes em 
entidades (Acolhimento Institucional). 
Os programas de auxílio e proteção à família previstos no Inciso IV, do 
Artigo 101 e no Inciso I, do Artigo 129 do ECA são o Programa de Atenção Integral à 
Família e o Programa de Orientação e Apoio Sociofamiliar. Ambos devem ser 
considerados “âncoras” da Rede de Proteção Social: o primeiro da Proteção Social 
Básica e o segundo da Proteção Social Especial. 
Daí, os dois programas são prioritários na implementação da Rede de 
Proteção Social. Por outro lado, é preciso considerar as diferenças que há entre 
ambos: O Programa de Atenção Integral à Família tem por objetivo o fortalecimento 
dos vínculos familiares e comunitários, desenvolve ações socioassistenciais e 
socioeducativas e atua numa perspectiva de abrangência territorial e de amplitude 
de cobertura de “famílias referenciadas”. 
O Programa de Orientação e Apoio Sociofamiliar, por sua vez, visa às 
famílias e aos indivíduos que requerem uma atenção especializada e mais 
individualizada por meio de uma intervenção psicossocial. No caso de crianças e 
adolescentes cujos direitos estão ameaçados ou violados, a intervenção psicossocial 
pretende restaurar as funções parentais de proteção a cuidados, bem como a 
modificar padrões comportamentais que criaram a situação de direitos ameaçados 
ou violados. 
 
 
 
FIM DO MÓDULO IV

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